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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.1 Medellín Jan./Apr. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

O trabalho em equipe como competência do enfermeiro em Unidades de Terapia Intensiva

 

El trabajo en equipo y la experiencia de las enfermeras en Unidades de Cuidado Intensivo

 

 

Silvia Helena Henriques Camelo1; Lucieli Dias Pedreschi Chaves2

 

1Enfermeira, Doutora, Professora. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), Universidade de São Paulo (USP), Brazil. email: shcamelo@eerp.usp.br.

2Enfermeira, Doutora, Professora. EERP-USP, Brazil. email: dpchaves@eerp.usp.br dpchaves@eerp.usp.br.

 

Fecha de Recibido: 22 de mayo de 2012. Fecha de Aprobado: 19 de septiembre de 2012.

 

Subvenciones: FAPESP- Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Camelo SHH, Chaves LDP. Teamwork as a nursing competence at Intensive Care Units. Invest Educ Enferm. 2013;31(1): 107 - 115.

 


RESUMO

Objetivo. Este estudo teve como objetivo identificar a percepção das enfermeiras na Unidade de Cuidados Intensivos da concorrência o trabalho em equipe profissional. Metodologia. Estudo qualitativo com enfoque exploratório, do tipo de estudo de múltiplos casos. A mostra esteve conformada por 24 enfermeiras de Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) de dois grandes hospitais. Para a tomada de informação se empregou a observação direta e a entrevista -estruturada, não estruturada e participante-. Resultados. O 96% dos participantes eram mulheres, um 79% tinha menos de 40 anos, o 63% tinha menos de cinco anos de experiência de trabalho em UCI. A análise dos dados permitiram identificar três categorias de estudo: o trabalho em equipe como ferramenta de gestão da enfermagem, melhorando o trabalho em equipe, e a comunicação interpessoal para o trabalho em equipe. Conclusão. Na UCI, lugar de atuação de enfermeiras, observa-se uma estratégia de trabalho em equipe, que exige a cooperação e participação de outras disciplinas.

Palavras chaves: unidades de terapia intensiva; enfermeiras; relações interpessoais.


RESUMEN

Objetivo. Identificar la percepción de las enfermeras en la Unidad de Cuidados Intensivos de la competencia el trabajo en equipo profesional. Metodología. Estudio cualitativo con enfoque exploratorio, del tipo de estudio de múltiples casos. La muestra estuvo conformada por 24 enfermeras de Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) de dos grandes hospitales. Para la toma de información se empleó la observación directa y la entrevista -estructurada, no estructurada y participante-. Resultados. El 96% de los participantes eran mujeres, un 79% tenía menos de 40 años, el 63% tenía menos de cinco años de experiencia de trabajo en UCI. El análisis de los datos permitieron identificar tres categorías de estudio: el trabajo en equipo como herramienta de gestión de la enfermería, mejorando el trabajo en equipo, y la comunicación interpersonal para el trabajo en equipo. Conclusión. En la UCI, lugar de actuación de enfermeras, se observa una estrategia de trabajo en equipo, que exige la cooperación y participación de otras disciplinas.

Palabras clave:unidades de cuidados intensivos; enfermeras; relaciones interpersonales.


 

 

INTRODUÇÃO

No contexto atual, qualidade, produtividade e atenção à clientela são temas dominantes que visam o progresso e sobrevivência da organização hospitalar. Na busca por melhor assistência, faz-se necessário o cumprimento das diretrizes e princípios do Sistema único de Saúde (SUS).1 A integralidade do cuidado - um desses princípios - é indispensável à qualidade da atenção à saúde e deve ser o eixo central na organização do trabalho nos serviços de saúde, particularmente nos hospitais. A integralidade do cuidado na intervenção hospitalar pode acontecer mediante a combinação de tecnologias duras, leve-duras e leves, ao buscar a adesão equilibrada entre a racionalidade instrumental e comunicativas e entendê-las como determinantes nas ações de saúde.2 Assim, torna-se fundamental articular as ações realizadas no interior da instituição hospitalar, de modo que ocorra a integração do trabalho dos diversos profissionais de uma mesma área e, também, entre equipes de trabalhadores de diferentes áreas. O adequado atendimento a pessoas em situações críticas/potencialmente críticas de saúde está no contexto da atual política de saúde do Brasil,3 entretanto, em razão da insuficiente estruturação da rede de serviços de saúde (primária, secundária), esse serviço vem se constituindo, nos últimos anos, em uma das mais problemáticas áreas do Sistema de Atenção à Saúde. Tal deficiência resulta da crescente demanda por esse nível de atenção, que tem como razão central de sua existência o atendimento a pacientes em situações extremas, críticas e/ou graves, exigindo dos trabalhadores qualificação profissional específica.4

Partindo dessas reflexões, o processo de trabalho em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) merece destaque, tendo em vista a complexidade das atividades ali realizadas e a necessidade de atuação coletiva, dinâmica e integrada, a fim de possibilitar qualidade no cuidado prestado ao usuário desse serviço, bem como melhorar a satisfação do profissional com o objeto do seu trabalho. O enfermeiro enquanto membro da equipe de saúde, no contexto da UTI, tem o papel de obter a história do paciente, realizar exame físico, executar tratamento, aconselhando e ensinando a manutenção da saúde e orientando os enfermos para a continuidade do tratamento e medidas. Eles devem, ainda, aliar à fundamentação teórica a capacidade de liderança, o trabalho, o discernimento, a iniciativa, a habilidade de ensino, a maturidade e a estabilidade emocional.5

Nesse sentido, o enfermeiro tem diversas possibilidades de atuação, sendo necessárias competências não apenas sob o aspecto técnico, mas o adicional de competências relacionais que lhes permitam desenvolver suas funções eficazmente, aliando conhecimento técnico-científico, domínio da tecnologia, humanização e individualização do cuidado. A temática 'competência profissional' tem se constituído, ao longo dos anos, foco de atenção dos enfermeiros, bem como dos administradores dos serviços de saúde, pois o pessoal de enfermagem representa, em termos quantitativos, parcela significativa dos recursos humanos alocados nessas instituições e, portanto, interferem diretamente na eficácia, na qualidade e custo da assistência à saúde prestada. A competência pode ser definida como a aquisição de habilidades apropriadas para a realização de uma tarefa particular, ou capacidade para decidir, utilizando habilidades necessárias e conhecimentos adquiridos, para conduzir uma situação particular.6 Para esse autor a competência profissional pode ser descrita como combinação articulada e complexa de habilidades e capacidades que são o resultado da síntese conceitual e funcional de aspectos teóricos, ligados particularmente aos conteúdos disciplinares e à experiência atual.

Dessa forma, o exame das competências impõe atenção especial ao contexto operativo e, ao mesmo tempo, ao desenvolvimento da reflexão sobre a evolução de conteúdos disciplinares e sua relação entre elas. No Brasil, vários estudos vêm sendo realizados sobre competência profissional do enfermeiro,7 sendo que estudos mais recentes destacam habilidades e competências que devem ser desenvolvidas nos enfermeiros que atuam em UTI8,9 e, dentre elas, destaca-se a competência profissional para o trabalhar em equipe.9

Esse estudo reafirma o conceito de que o trabalho em equipe é uma modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre intervenções técnicas e a interação dos agentes.10 O trabalho em equipe pode ser considerado como estratégia privilegiada de reverter processos de fragmentação, individualização, competição e quebras de alianças coletivas no trabalho.11 é identificado como um dispositivo para a efetivação da integralidade em saúde.12 Na UTI, o trabalho em equipe mostra-se como uma das competências necessárias ao enfermeiro na organização do seu trabalho. Apresenta-se como estratégia para o gerenciamento do cuidado realizado, articulando ações e saberes de diversas categorias profissionais em busca de consenso que se traduz em qualidade na atenção às necessidades de saúde do paciente. A organização do trabalho, baseada na formação de equipes, certamente tem sido a forma mais democrática, produtiva e humanizada de se realizar o trabalho em saúde.13

Assim, considerando a complexidade do trabalho do enfermeiro em uma UTI, cujas atividades de enfermagem representam mais de 50% das ações desenvolvidas nesse local, e o desafio de qualificar esse profissional para o trabalho em equipe, questiona-se: existem estratégias para integrar a equipe de saúde e de enfermagem? Qual a importância das habilidades de comunicação e relacionamento para o trabalho em equipe? O enfermeiro intensivista percebe o trabalho em equipe como uma das competências necessárias para a sua atuação? O enfermeiro está preparado para o trabalho em equipe? Este estudo teve como objetivo identificar a percepção de enfermeiros atuantes em UTIs sobre o trabalho em equipe, enquanto competência profissional, destacando as habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal no desenvolvimento dessa competência.

A relevância deste estudo consiste na possibilidade de identificar a percepção dos enfermeiros que atuam em um setor de alta complexidade quanto à necessidade de desenvolver a competência do trabalho em equipe, bem como provocar reflexão dos gestores de enfermagem sobre essa competência profissional, entendendo a sua utilização como estratégia na reestruturação das atividades de assistência, com impacto na organização das práticas profissionais, visando a qualidade na atenção integral à saúde, prestada em âmbito hospitalar.

 

METODOLOGIA

Trata-se de estudo de delineamento exploratório, de abordagem qualitativa. O desenho metodológico da pesquisa é o estudo de caso, considerado um método de pesquisa de natureza empírica, que investiga um fenômeno, geralmente contemporâneo, dentro de um contexto 14 Para este trabalho, definiu-se o estudo de caso múltiplo. Esse tipo de estudo envolve a análise de dois ou mais casos que podem ser comparados ou não. Neste trabalho, realizou-se estudo com dois casos, não comparativos, referentes a duas UTI(s) de pacientes adultos, pertencentes a um hospital de ensino do interior paulista, público, de grande porte, referência para o atendimento de alta complexidade, realidade essa que pode ser reproduzida em contextos similares. O propósito do estudo de caso foi a generalização analítica.

A população deste estudo foi constituída por 24 enfermeiros e os critérios de inclusão foram: enfermeiros assistenciais atuantes nas unidades selecionadas, exercendo suas atividades há mais de seis meses. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a abril de 2011. Para a coleta de dados, foram utilizadas duas fontes de evidências: observação e entrevistas semiestruturadas gravadas com a população de estudo. As observações foram estruturadas e ocorreram por ocasião das visitas aos campos para as entrevistas. Os dados da observação registrados em diários de campo foram agregados aos dados das entrevistas para que fossem considerados conjuntamente no processo de análise. à partir da identificação das regularidades e diferenças dos dados foram organizadas as categorias. Dessa forma, o corpus da análise deste estudo foi composto pelo material transcrito das gravações das entrevistas combinado com os registros das observações realizadas.

Assim, para a análise dos dados deste estudo foi utilizado o método de análise de conteúdo, centrado na técnica de análise temática. Nessa modalidade de análise, busca-se o núcleo do sentido de uma comunicação, cuja presença ou frequência signifique algo para o objeto de 15 Para proceder à análise temática, o conteúdo das questões foi organizado seguindo as fases sequenciais propostas por Minayo: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados.15 Este projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, sob Protocolo n°9951/2010. Antes do início da coleta de dados, os sujeitos foram orientados quanto aos objetivos da pesquisa e aqueles que concordaram em participar, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.16

 

RESULTADOS

Os resultados deste estudo permitiram traçar o perfil de enfermeiros de UTIs segundo as variáveis: 95.8% dos participantes eram mulheres, 79.2% tinha 40 e menos anos de idade, 66.7% se havia graduado depois de 2001, 33.5% possuíam até quatro anos de trabalho na instituição e 37.5% possuíam entre um e quatro anos de trabalho nas UTIs. A análise dos dados possibilitou a construção de três categorias relacionadas ao trabalho em equipe: o trabalho em equipe como ferramenta gerencial do enfermeiro na UTI; aprimoramento para o trabalho em equipe; a comunicação e relacionamento interpessoal no trabalho em equipe.

Em relação a primeira categoria, nesta investigação, primeiramente, os enfermeiros destacaram a necessidade de se trabalhar em equipe, tendo em vista a complexidade do cuidado prestado na UTI, conforme discursos a seguir. [...] a UTI não funciona sem trabalho em equipe, sempre há divergências, a equipe é muito grande [...] (E14) [...] o trabalho em equipe é essencial, principalmente aqui na UTI, porque não dá, como que se atende uma parada um enfermeiro sozinho, um auxiliar sozinho, um médico sozinho, não dá, aqui tem que preconizar o trabalho em equipe [...] (E 39). [...] a gente tem que trabalhar em equipe, tem que trabalhar tanto com a equipe médica, a equipe de enfermagem, os pacientes são muito grave [...] (E22).

As observações em campo, bem como, os discursos revelaram ainda o trabalho em equipe como parte do trabalho do enfermeiro. [...] a questão do trabalho em equipe é eminentemente parte do enfermeiro, o enfermeiro que sabe administrar o relacionamento entre o profissional médico e o profissional do auxiliar de enfermagem, é ele quem sabe por o andamento do serviço em harmonia [...] (E 32). [...] o enfermeiro tem que saber trabalhar em equipe, se o enfermeiro for individualista ele não vai conseguir trabalhar, um depende do outro [...] (E 12) [...] trabalho em equipe que aqui acho que é o que mais prevalece mesmo, um trabalho multidisciplinar, médico, fisioterapeuta... essa é uma competência que desenvolvi mais aqui [...] (E 09).

Em relação ao aprimoramento para o trabalho em equipe, os depoimentos revelaram que os enfermeiros que atuam nas unidades investigadas, aprimoraram seus conhecimentos em relação à competência para o trabalho em equipe após a sua formação, na rotina diária de trabalho. Tinha uma noção de como trabalhar em equipe que se acentuou aqui... antes eu tinha uma visão, mas agora como enfermeiro mesmo, se não trabalhar em equipe as coisas não andam, eu tenho que cobrar isso da equipe (E01). O trabalho em equipe é muito maior aqui dentro, eu já tinha trabalhado um pouco em CTI também antes, então eu já tinha um contato médico 24 horas, o fisioterapeuta, mas não era tanto, aqui desenvolvi bem mais, às vezes se vê que é mais difícil, às vezes é melhor, é bom, então você aprende a lidar com as diferenças, com as diferentes profissões, isso também eu aprendi, desenvolvi bem mais aqui (E05). O trabalho em equipe eu desenvolvi totalmente aqui, com quatro anos que eu estava aqui... que eu tinha conseguido dominar realmente a equipe com quem eu trabalhava, porque você tem que trazer a equipe para trabalhar junto com você (E06).

A comunicação e o relacionamento também foram destacados nos resultados como peça fundamental para o trabalho em equipe, conforme sugerem os discursos a seguir. [...] tem que ter trabalho em equipe e eu acho que para ter, tem que ter comunicação, que é fundamental e clara, uma comunicação clara, porque senão não adianta, faça isso, quem faz isso (E 24). [...] a comunicação com os médicos, é preciso estar atento a isso, porque as condutas mudam muito rápido, temos que pegar com os médicos e passar para a equipe, e saber orientar a equipe de enfermagem (E10.) [...] uma das coisas mais importantes que eu acho é ter um bom relacionamento, porque na UTI tem um envolvimento de muitas áreas, então se você não tiver um bom relacionamento e um jogo de cintura bem legal o negócio empaca (E 27). [...] trabalhar em equipe... trabalhar de uma forma interdisciplinar hoje em dia também, se você não consegue trabalhar com fisioterapeuta, com nutricionista, com o médico, não ter uma relação harmônica com todos esses profissionais, incluindo o pessoal técnico e auxiliar, você não consegue fazer nada; se você não tiver um bom relacionamento interpessoal, às vezes isso é até mais importante (E20). [...] o bom relacionamento entre os profissionais das diversas áreas, saber até onde vai o seu dever e o seu direito e onde começa o do outro, porque por mais que a gente trabalhe todo mundo junto cada um tem sua função, o enfermeiro é um gerente de tudo isso... então quanto mais alinhada estiver a equipe, melhor vai ser para o trabalho render (E31).

 

DISCUSSÃO

Os resultados evidenciam uma amostra com 79% dos participantes na faixa etária entre 23 e 33 anos, constatando, assim, uma população de enfermeiros jovens. São em sua maioria feminina, sendo essa predominância na enfermagem compartilhada por outros autores,17 reproduzindo a característica histórica da enfermagem, profissão exercida quase que exclusivamente por mulheres desde os primórdios. Nos hospitais, essa predominância também ocorre entre os trabalhadores, principalmente na enfermagem, que pode ser explicada em função do arquétipo, atribuído às mulheres.18

Em relação ao ano de conclusão da graduação em enfermagem, a grande maioria concluiu o curso nos últimos 10 anos. O tempo decorrido após a graduação pode ser indicativo de tempo de experiência do enfermeiro no mercado de trabalho e de relativa maturidade.19 O bacharelado revela as competências e habilidades do enfermeiro, assim como o tempo de formação, em uma dada época, reflete o conhecimento e aptidão valorizados em um determinado 20

Quanto ao tempo de trabalho na instituição, vale destacar que oito (33.5%) enfermeiros possuíam até quatro anos de trabalho na instituição e nove (37.5%) enfermeiros possuíam entre um e quatro anos de trabalho nas UTIs. Esses dados se assemelham a outro estudo, onde 54% dos enfermeiros contavam com até cinco anos na instituição.19 A experiência profissional, o envolvimento institucional e a estabilidade adquirida pelo tempo de serviço são fatores que estimulam nos profissionais a permanência em uma organização, e, ainda, o tempo de trabalho em uma instituição pode estar associado à proposta de trabalho da instituição e satisfação individual.19

Os resultados deste estudo mostraram grande proporção de enfermeiros trabalhando nas unidades há menos de três anos, entretanto quando se olha para a formação desses trabalhadores, verifica-se que 16 (66,5%) enfermeiros tinham algum tipo de especialização, sendo oito (50%) destes em cuidados intensivos. Vale destacar que quatro (25%) dos enfermeiros com algum tipo de especialização possuíam a titulação de mestrado acadêmico. Esses dados se assemelham a outro estudo, por meio do qual se relatou a existência de enfermeiros com pós-graduação stricto sensu mestrado (13%), doutorado (2%) e mestrandos (5%).20 Esses resultados parecem indicar preocupação dos enfermeiros em buscar outras experiências, além daquelas proporcionadas pelo ensino de graduação, que lhes possibilitem melhor preparo e maior segurança na prestação de assistência aos pacientes gravemente enfermos.

O trabalho em equipe como estratégia do enfermeiro na UTI

O trabalho em equipe é uma estratégia de organização do trabalho na instituição hospitalar, e, na Unidade de Terapia Intensiva, deve contemplar a articulação das ações e dos saberes de diversas categorias profissionais em busca da atenção integral às necessidades de saúde de sua clientela. A estratégia de trabalhar em equipe não pressupõe abolir as especificidades dos trabalhos, pois as diferenças técnicas expressam a possibilidade de contribuição da divisão do trabalho para a melhoria dos serviços prestados, à medida que a especialidade permite aprimoramento do conhecimento e do desempenho técnico, em determinada área de atuação, bem como maior produção.10

O trabalho do enfermeiro em uma UTI é caracterizado por atividades assistenciais e gerenciais complexas que exigem competência técnica e científica, cuja tomada de decisões e adoção de condutas seguras estão diretamente relacionadas à vida e morte das 21 Nesse contexto, é de suma importância que o enfermeiro desenvolva conhecimentos, habilidades e atitudes coerentes para o cuidado de qualidade e, neste estudo, verificou-se que a estratégia do trabalho em equipe é considerada uma das competências necessárias ao enfermeiro, para o alcance de resultados esperados em um setor onde se desenvolve assistência de enfermagem de alta complexidade. O enfermeiro, ao ter a competência para o trabalho em equipe consegue construir uma visão global de cada situação mediante a interlocução entre os diferentes profissionais envolvidos no seguimento terapêutico, contribuindo para alcançar melhor prognóstico para os pacientes hospitalizados.

Aprimoramento para o trabalho em equipe

A análise dos dados dos entrevistados e das observações realizadas nas UTI(s) possibilitou dizer que a organização do trabalho do enfermeiro na UTI é um processo sistêmico e desencadeia relações de apoio e colaboração, produzindo a articulação do seu trabalho com o de outros profissionais para a qualidade do cuidado, tais como: auxiliar e técnico de enfermagem, médico, fisioterapeuta, nutricionista. Esse fato exige não somente dos enfermeiros, mas, também, dos demais profissionais o desenvolvimento da competência para o trabalho em equipe. Profissionais com formação e tempo de experiência diferentes podem contribuir de forma diversa para o desenvolvimento do trabalho em equipe.22 O desenvolvimento do profissional enfermeiro pode acontecer na rotina diária de trabalho, por meio dos treinamentos pontuais ou de cursos de especialização e pós-graduação. Um programa de preparação e treinamento de recursos humanos em saúde deve ser um investimento a ser realizado pelas escolas formadoras, bem como, pelos gestores das instituições de saúde, como importante instrumento para desenvolver profissionais diante das transformações ocorridas nesse cenário de trabalho. Sabe-se que o processo de treinamento permite a aquisição de habilidades motoras ou intelectuais, bem como o desenvolvimento de estratégias cognitivas e atitudes, que podem tornar o indivíduo mais competente para desempenhar vários papéis na organização.23

A comunicação e o relacionamento interpessoal no trabalho em equipe

Considerando o processo de trabalho em equipe no contexto da UTI, a comunicação favorece interações adequadas e produtivas. Para a integração de diferentes categorias profissionais e ramos do conhecimento, em torno de um objetivo comum, é essencial a comunicação eficaz entre os membros da equipe, no sentido de identificar as dificuldades e promover o melhor plano para a solução dos impasses. Nesse sentido, a comunicação pode ser visualizada como ferramenta de mudança e melhoria do cuidado. Avaliar, planejar e comunicar são processos presentes no cotidiano de trabalho na UTI, necessários para qualquer ação ou decisão.24

A comunicação é considerada um ponto-chave na assistência de enfermagem e deve ser usada como meio de informação, na qual há esclarecimentos de dúvidas, orientações e essas devem ser claras e objetivas. Ela se torna fator primordial para melhorar o vínculo entre as pessoas influenciando o relacionamento interpessoal entre os profissionais de uma equipe, principalmente em uma unidade fechada, como a UTI. Os discursos mostraram que o relacionamento interpessoal entre os diversos membros da equipe pode ser decisivo para que o trabalho de equipe nessas unidades aconteça. O bom relacionamento entre as pessoas envolvidas no cuidado de enfermagem é imprescindível para as equipes prestarem auxílio mútuo na assistência e também nos momentos em que os próprios profissionais necessitam de apoio emocional, diante da dificuldade para lidar com a dor e a perda de um cliente.24

Apesar de as discussões acerca do trabalho em equipe serem comuns nos ambientes de trabalho, na área da saúde, muitos profissionais ainda têm dificuldades para compreendê-lo e executá-lo na prática, mesmo sabendo que, só por meio da articulação das ações e interação entre os membros da equipe, é que se caminha para um trabalho que consiga atender as necessidades multidimensionais dos indivíduos dos quais se cuida.25

Conclusão. O trabalho em uma UTI exige novas competências dos profissionais, que se deparam com mudanças tecnológicas e exigências de sua clientela, provocando, muitas vezes, transformações no seu processo de trabalho. Os resultados deste estudo mostraram enfermeiros predominantemente do sexo feminino, jovens, considerando a necessidade do desenvolvimento de competências apoiadas em conhecimento científico, para que possam conduzir o atendimento do paciente de alta complexidade, com segurança e qualidade. Os enfermeiros participantes deste estudo perceberam o trabalho em equipe como uma competência essencial para o desempenho de suas funções, reconhecendo a necessidade de desenvolvê-la e aprimorá-la na rotina diária do seu trabalho. As instituições empregadoras têm corresponsabilidade e compromisso com o desenvolvimento de seus colaboradores e devem avaliar o retorno de seu investimento em termos da qualidade dos serviços e da assistência à clientela.

Na UTI, a estratégia do trabalho em equipe torna-se proposta que enfatiza a cooperação e incorpora a participação dos profissionais, fortalecendo o trabalho multiprofissional, podendo interferir na assistência integral prestada, tornando, assim, estratégia imperiosa para a gestão das pessoas. Nesse sentido, acredita-se que a discussão acerca do trabalho em equipe como uma competência do enfermeiro que atua em unidades críticas/intensivas, permite analisar aspectos relevantes da formação desse profissional acerca das competências e habilidades necessárias enquanto agente que deve reconhecer as múltiplas dimensões envolvidas nesse nível assistencial e interdisciplinar.

 

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