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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.1 Medellín Jan./Apr. 2015

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

Estudo comparativo da qualidade de vida entre idosos que vivem em condomínio e na comunidade

 

Comparative study of quality of life of elderly living in condominiums versus community dwellers

 

Estudio comparativo de la calidad de vida de ancianos residentes en condominios versus la de los residentes en la comunidad

 

 

Elen Ferraz Teston1; Sonia Silva Marcon2

 

1Enfermeira, Doutoranda pela Universidade Estadual de Maringá –UEM-, Brasil. email: elen-1208@hotmail.com.

2Enfermeira, Doutora. Professora, UEM, Brasil. email:sonisilva.marcon@gmail.com.

 

Fecha de Recibido: Septiembre 22, 2013. Fecha de Aprobado: Agosto 25, 2014.

 

Artículo vinculado a investigación: Condomínio para idosos: implicações para a saúde e o cuidado de enfermagem nessa nova modalidade habitacional

Subvenciones: Bolsa de maestria por la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

Conflicto de intereses: Ninguno

Cómo citar este artículo: Teston EF, Marcon SS. Comparative study of quality of life of elderly living in condominiums versus community dwellers. Invest Educ Enferm. 2015; 33(1): 53-62.

 


RESUMO

Objetivo. Comparar a qualidade de vida de idosos residentes em uma instituição geriátrica contra aqueles que residem em sua casa. Metodologia. Estudo quantitativo sobre a qualidade de vida dos 50 idosos que vivem em condomínios com 173 residentes na comunidade foram comparados. Para avaliar a qualidade de vida das ferramentas WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD foram aplicados. Os dados foram coletados a partir de novembro de 2011 a fevereiro 2012. Resultados. Os grupos diferiram significativamente em relação aos domínios: físico, ambiental, funcionamento e participação dos sentidos, que foram melhores nos moradores do condomínio; enquanto domínio privacidade foi maior nos moradores mais antigos. Conclusão. Vários fatores podem interferir na qualidade de vida dos idosos, incluindo o local de residência, o que indica a necessidade de maior apoio dos profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, a fim de desenvolver estratégias que visem manutenção da qualidade de vida dos idosos.

Palavras chave: qualidade de vida; enfermagem; idoso; habitação para idosos.


ABSTRACT

Objective. To compare the quality of life of elderly living at a geriatric institution with that of elderly living in the community. Methodology. Quantitative study in which the quality of life of 50 elderly living in condominiums was compared with that of 173 community dwellers. To assess the quality of life, the instruments WHOQOL-BREF and WHOQOL-OLD were applied. The data were collected between November 2011 and February 2012. Results. The groups differed significantly with regard to the domains: physical, environment, functioning of the senses and participation, which were better in the condominium residents; while the community dwellers scored higher in the domain intimacy. Conclusion. Different factors can interfere in the elderly’s quality of life, including the place of residence, which indicates the need for further monitoring by health professionals, especially nurses, with a view to outlining strategies to maintain the elderly’s quality of life

Key words: quality of life; nursing; aged; housing for elderly.


RESUMEN

Objetivo. Comparar la calidad de vida de ancianos residentes en una institución geriátrica –condominios- versus la de los que son residentes en su hogar –en la comunidad-. Metodología. Estudio cuantitativo en el que se comparó la calidad de vida de 50 ancianos que vivían en una institución geriátrica  con la de 173 residentes  en su hogar. Para evaluar la calidad de vida se aplicaron los instrumentos WHOQOL-BREF y WHOQOL-OLD. Los datos se recolectaron de noviembre de 2011 a febrero de 2012. Resultados. Los grupos difirieron significativamente en relación con los dominios: físico, medio ambiente, funcionamiento de los sentidos y participación, que fueron mejores en los residentes en el condominio; mientras que el dominio intimidad fue mayor en los ancianos residentes en la comunidad. Conclusión. Existen diversos factores que pueden interferir en la calidad de vida del anciano, incluso el lugar de residencia, lo que indica la necesidad de un mayor acompañamiento de los profesionales del área de la salud, en especial del enfermero, con el fin de trazar estrategias tendientes al mantenimiento de su calidad de vida.

Palabras clave: calidad de vida; enfermería; anciano; viviendas para ancianos.


 

 

INTRODUÇÃO

Fenômeno inicialmente de país desenvolvido, o envelhecimento populacional é observado em todo o mundo, em decorrência da interação dinâmica das taxas de mortalidade e fecundidade.1 No Brasil, idoso é toda pessoa com 60 anos ou mais2 e corresponde a 11.3% da população. No estado do Paraná a proporção de idosos é de 11.6%.3 Essas estimativas evidenciam a necessidade de se desenvolver pesquisas com o intuito de compreender a dinâmica do envelhecimento populacional para melhor organização da atenção à saúde do idoso.  Um grande desafio que a longevidade impõe é o de agregar qualidade aos anos a mais vividos. Assim, são necessárias políticas públicas que permitam o envelhecimento digno e saudável à população.4 Dentre os direitos fundamentais constantes no Estatuto do Idoso, o Capítulo IX, dedicado à Habitação, estabelece a prioridade do idoso para aquisição de moradia própria e, para tanto, prevê reserva de 3% das unidades residenciais para seu atendimento.  No entanto, 43.2% da população idosa brasileira possui renda mensal de um salário mínimo,3 o que lhe dificulta desfrutar do direito à casa própria.

No intuito de minimizar esse problema, os Condomínios dos Idosos surgem como uma nova modalidade de habitação para idosos de baixa renda, constituindo-se em estratégia de garantia do direito à moradia, principalmente para os que vivem em condições precárias. Diferentemente de asilos e casas de repouso, os moradores dos condomínios são independentes, pagam aluguel (simbólico) por sua moradia e têm autonomia para sair e entrar quando bem entendem, além de decidirem sobre a organização do condomínio de forma coletiva.5,6 Os condomínios existem na América do Norte, Austrália e Nova Zelândia há mais de 60 anos, onde se tornaram uma escolha de habitação muito popular. Estima-se que 5% dos idosos americanos vivam nesses condomínios.7O condomínio, além de proporcionar o direito de uma habitação digna  ao idoso, preza pela manutenção da sua qualidade de vida (QV) que depende de muitos elementos em interação constante ao longo da vida.

A expressão QV tem recebido vários conceitos ao longo dos anos e no presente estudo foi adotado o elaborado pelo grupo de estudiosos da Organização Mundial de Saúde (OMS), dada suas características de subjetividade, multidimensionalidade e bipolaridade,8 e ainda por abranger o estado físico, social e o meio ambiente, a saber: a saber: ''percepção do indivíduo de sua  posição na vida no contexto da cultura e  sistema de valores nos quais ele vive e em relação  aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações''.8:1405 A presente pesquisa pretende responder a seguinte questão: Idosos residentes nessa nova modalidade de habitação apresentam alguma diferença quanto à QV em relação àqueles que residem na comunidade? Em quais aspectos? Sob essa ótica, a presente investigação pretendeu ampliar o conhecimento sobre essa temática e favorecer a proposição de ações aos residentes nesses condomínios e na comunidade, a fim de promover melhorias na atenção que lhes é dispensada no âmbito da saúde coletiva e na QV. Assim, o estudo objetivou descrever e comparar a QV em idosos residentes no condomínio e os residentes na comunidade.

 

METODOLOGIA

O presente estudo constitui um recorte de uma pesquisa matricial sobre as condições de vida e saúde de idosos residentes em um Condomínio para Idoso. Trata-se de um estudo exploratório de abordagem quantitativa, realizado junto a residentes do primeiro e único Condomínio do Idoso do município de Maringá, Paraná.  A proporção de idosos do presente município corresponde a 12,2% da população, e há poucos serviços e oportunidades de apoio à população idosa. Em 2006 teve início a política de incentivo à adoção de hábitos saudáveis com implantação das academias da terceira idade (ATI) e hoje existem 47 delas instaladas em diversos bairros da cidade. Há, ainda, 10 Instituições de Longa Permanência para Idosos, três Centros Dia, 31 Centros de convivência e um Condomínio do Idoso em atividade desde Agosto de 2010, com 50 residentes.9

A população do estudo foi dividida em dois grupos: G1, constituído pela totalidade dos idosos residentes no Condomínio do Idoso (n=50) e G2, composto por um número três vezes maior do que o do G1, acrescido de 20% para possíveis perdas, resultando em uma amostra por conveniência constituída de 180 idosos. A definição de um número três vezes maior se deve a crença de que isto seria suficiente para representar as características dos idosos residentes na comunidade. Para a constituição do G2, pesquisou-se, junto aos idosos, o bairro em que eles moravam antes de se mudarem para o condomínio, identificando-se, também, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de referência, constatando-se que esses idosos eram oriundos de bairros atendidos pelas 23 UBS localizadas na zona urbana do município.  Assim, considerando-se o local de residência de cada idoso antes de sua mudança para o condomínio, definiu-se, proporcionalmente, o número de idosos residentes na área de abrangência de cada uma das UBS localizadas na zona urbana do município. Para a definição dos idosos da comunidade que fariam parte do estudo, realizou-se sorteio aleatório proporcional, utilizando-se uma listagem, fornecida pelos diretores das UBS, dos idosos ali cadastrados.

Nessa inclusão adotaram-se os seguintes critérios: ter idade superior a 60 anos, aceitar participar do estudo e ter atingido a pontuação mínima de 13 pontos na avaliação cognitiva realizada por meio da aplicação do Miniexame do Estado Mental (MEEM), versão reduzida validada pelos pesquisadores do projeto SABE.10 Dos 180 idosos da comunidade sorteados, 173 foram incluídos no estudo, pois cinco não aceitaram participar e dois não alcançaram a pontuação mínima no MEEM. Portanto, 223 idosos (G1 e G2) fizeram parte do estudo. Os dados foram coletados nos domicílios, no período de novembro 2011 a fevereiro de 2012, por meio de entrevista semiestruturada individual. As características sociodemográficas foram obtidas a partir da seção I do instrumento BOAS (BRAZIL OLD AGE SCHEDULE), traduzido e validado no Brasil11 devido à aplicação deste instrumento no estudo matricial. A QV foi mensurada a partir dos instrumentos WHOQOL-BREF12  e o módulo WHOQOL-OLD,13 ambos validados no Brasil, os quais devem ser utilizados em concomitância, possibilitando a coleta de dados mais abrangente.14

O WHOQOL-BREF é constituído de 26 questões e os domínios de QV avaliados por ele são: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. As respostas a cada questão são apresentadas em uma escala do tipo likert de cinco pontos com escores totais variando entre 38 a 118 pontos. Vale lembrar que na avaliação dos resultados as questões 03, 04 e 26 devem ser interpretadas de forma inversa. Esse processo é necessário para não haver problemas na interpretação dos escores, pois o instrumento avalia QV e suas variáveis de maneira positiva e crescente.12 O WHOQOL-OLD por sua vez é constituído de 24 pontos e as facetas avaliados por ele são: funcionamento dos sentidos, autonomia, atividades passadas, presentes e futuras; participação social; morte e morrer e intimidade. As respostas a cada questão também são apresentadas em uma escala de likert variando de 1 a 5, sendo sete questões com interpretação negativa: 1, 2, 6, 7, 8, 9, e 10.13,14 Os escores totais variam entre 52 e 102. Ambos os instrumentos não preconizam ponto de corte para classificar QV, como ótima, boa, ou ruim, sendo definido apenas que quanto mais alto o escore de QV melhor a percepção desta.8

Os instrumentos de QV são autoaplicáveis, porém, em razão da possível dificuldade de leitura, problemas visuais e analfabetismo entre os idosos, optou-se por realizar entrevista direta com todos os participantes, os quais foram orientados a responder as perguntas do questionário tomando como base as duas semanas anteriores à data da realização da coleta dos dados, conforme orientação de uso dos dois instrumentos. Após a aplicação dos instrumentos mencionados as pesquisadoras formularam uma questão com vistas a conhecer a autopercepção do idoso com relação a sua QV: Como o senhor (a) avalia sua QV no geral: 1. Ruim; 2.Boa; 3.Ótima.

Os resultados obtidos foram registrados em planilha eletrônica, no programa EXCEL 2007 e digitados em dupla entrada, verificando-se a consistência entre os campos. Nos casos de inconsistência, a conferência foi realizada a partir da consulta ao dado bruto. Os dados sociodemográficos foram descritos e analisados por meio de tabela de contingência (teste qui-quadrado ou Fisher). Cada domínio WHOQOL-BREF e faceta do WHOQOL-OLD foram isoladamente consolidados no Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 16), com as respectivas sintaxes. Como os dados não seguem distribuição normal utilizou-se a mediana para representá-los, e estatística não-paramétrica para comparar a QV entre os dois grupos por meio do teste Mann Whitney. Para todas as análises foi considerado os percentis 2,5% e 97,5% para apresentar os limites inferior e superior da distribuição dos dados, ou seja, os escores inferior e máximo respectivamente do intervalo de 95% de confiança.  

O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com o preconizado pela Resolução 466/2012 do Ministério da Saúde, e o projeto foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá (Parecer nº. 709\2011). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias.

 

RESULTADOS

Observa-se na Tabela 1, que quando comparadas as características sociodemográficas dos idosos pertencentes ao grupo 1 com a dos idosos do grupo 2, algumas se assemelham: predomínio do sexo feminino (62% e 69% respectivamente), renda mensal de até 1 salário mínimo (90% e 78%) e religião católica (68% e 75%). Com relação a faixa etária, 44% dos idosos do grupo 1 possuem idade entre 70 a 79 anos, enquanto 42% dos idosos do grupo 2 possuem idade entre 60 e 69 anos, porém a diferença de idade entre os grupos não foi significativa. Os grupos diferiram significativamente com relação a variável escolaridade sendo que os níveis de ensino primário e ginásio ou primeiro grau, foram os que mais influenciaram nesta diferença. Houve predomínio do estado civil casado\morando junto para os idosos dos dois grupos no G1 44% e no G2 56%, ainda assim foi observada diferença significativa entre os grupos e após análise de resíduo, constatou-se que a resposta nunca se casou exerceu maior influência na diferença entre os grupos.

Dentre os 223 idosos entrevistados, 79% relatam ter algum tipo de morbidade sendo as de maior ocorrência a hipertensão arterial (70% no G1 e 57% no G2) e Diabetes Mellitus (16% no G1 e 22% no G2).

Tabela 1. Frequência de variáveis sociodemográficas dos idosos, Maringá, 2012

Tabela 1.

Quando questionados especificamente sobre a autopercepção de sua QV, a maioria dos idosos (62% no G1 e 56% no G2) referiu considera-la boa. O escore total de QV avaliado pelo WHOQOL-BREF foi o mesmo para ambos os grupos e não esteve associado a nenhum dos dois locias de moradia. Porém, observa-se associação estatisticamente significativa entre os escores de QV dos domínios físico e meio ambiente com o morar no Condomínio do idoso (G1), o que demonstra a influência positiva destas duas variáveis na QV destes idosos.

Já o escore total de QV avaliado por meio do WHOQOL-OLD, apresentou-se maior para os idosos residentes no Condomínio, porém não apresentou associação estatisticamente significativa com nenhum dos dois locais de moradia. Vale ressaltar que as variáveis funcionamento dos sentidos e participação social demonstraram influenciar positivamente o escore de QV dos idosos residentes no Condomínio, já a variável intimidade o dos idosos residentes na comunidade.

Tabela 2. Escores de QV de idosos segundo WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD, Maringá-Paraná, 2012.

Tabela 2.

 

DISCUSSÃO

Uma proporção considerável de idosos do Condomínio tem companheiro (44%), mas o que realmente chama a atenção neste grupo é o fato de 18% deles nunca terem constituído família enquanto esta condição é quase cinco vezes menor entre os idosos da comunidade, o que nos leva a inferir que não constituir família é uma condição indicativa de maior vulnerabilidade social na velhice e o fato de estar vivendo no condomínio confirma esta hipótese. Este fato aponta a necessidade destas pessoas serem identificadas e acompanhadas desde a vida adulta por diferentes setores sociais numa tentativa de minimizar os efeitos deletérios desta condição na velhice.

Por outro lado a proporção de idosos que vivem com companheiro identificado neste e em outros estudos,15,16 indica a necessidade de os profissionais de saúde dedicarem-se a investigar e a observar os fatores que influenciam a manutenção da QV do casal idoso, a fim de lhes fornecer auxílio quando necessário. Ainda em relação ao estado conjugal, o segundo maior percentual encontrado foi o de viúvos, o que corrobora os resultados de outro estudo.4 No caso dos idosos do Condomínio do Idoso, além de serem viúvos, a maioria deles não possui suporte familiar, e a análise de resíduo aponta que os idosos que nunca se casaram possuem maior propensão a morar no condomínio. A partir desses achados, sugere-se que os profissionais de saúde se tornem cada vez mais aptos e preparados para estimular o autocuidado, de modo que esses idosos possam manter e pelo maior tempo possível a máxima independência e capacidade funcional visto que esta é uma condição para conseguir uma casa e residir no condomínio. Além disso, é preciso que se elaborem estratégias que garantam ao atual morador do condomínio, caso se torne dependente, um lugar de referência para aonde ele possa ser encaminhado, considerando-se que um dos quesitos para morar no condomínio é a independência.

O analfabetismo entre idosos representa uma realidade nos países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, isto porque, no passado a educação escolar e em especial para os indivíduos do sexo feminino não era valorizada. Este fato justifica o porquê de muitas iniciativas públicas e ações não governamentais se voltarem à alfabetização e à educação continuada de adultos e idosos.17 Dados do Plano Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) revelam que 9.4% das pessoas entre 60 e 64 anos no Brasil são analfabetas e entre os idosos mais velhos esse percentual aumenta para 29.4%.18 No presente estudo quase metade dos idosos (49.7%), com maior proporção entre os da comunidade, estudou no máximo por quatro anos. A baixa escolaridade interfere no processo de adoecer, pois pode desencadear dificuldade de acesso aos serviços de saúde, de autocuidado e de adesão ao tratamento.19  Estudo realizado junto a idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF) em uma região domiciliar  predeterminada do Distrito de Sousas, Campinas, São Paulo, evidenciou que aqueles com um ou mais anos de estudos apresentam maior percepção de agravo à saúde em comparação com os sem escolaridade, levando os autores a concluírem pela necessidade de os serviços de saúde por meio de parcerias oferecer oportunidade de aprendizado e escolarização, no próprio Condomínio, de modo a proporcionar também a estes idosos melhorias nos aspectos relacionados ao autocuidado, saúde e QV.20

A maioria dos idosos, com maior proporção entre os do G1 apresenta uma boa autopercepção de QV, o que pode estar relacionada às inúmeras atividades que são oferecidas direta ou indiretamente pela Secretaria de Assistência Social (SASC) aos idosos do condomínio, entre as quais a possibilidade de realizar passeios assistidos pela cidade e participar de atividades culturais. Ademais o município disponibiliza um educador físico contratado pela prefeitura para realizar atividades de alongamento uma vez por semana e, além disso, o Condomínio é campo de estágio para o curso de fisioterapia de uma instituição de ensino privada e por isto, após avaliação individual os idosos podem realizar sessões de fisioterapia e praticar atividade física em grupo e assistida. No que se refere à QV, avaliada pelo WHOQOL-BREF observa-se que o domínio físico apresentou maior influência na QV dos idosos do G1, o que pode estar relacionado a um dos quesitos básicos para residir no condomínio: a independência na manutenção do próprio cotidiano. Entretanto, é a variável que também apresenta menor escore em ambos os grupos. Esse resultado pode estar relacionado ao número de morbidades entre os idosos desta pesquisa, que impactam o cotidiano, em decorrência da dor ou desconforto e redução da capacidade para o trabalho.10 Além disso, devemos considerar as limitações impostas pela própria idade.

A variável meio ambiente apresenta maior influência na QV dos idosos do G1, o que pode estar relacionada também à oferta de inúmeras atividades e também a estrutura física do condomínio, a qual é para o atendimento das necessidades específicas dos idosos.5 Estudo internacional apontou que os condomínios para idosos apresentam espaço físico planejado e adequado ao idoso, de modo a contribuir para a manutenção de sua autonomia e QV, além de proporcionar um estilo de vida positivo ao possibilitarem, ao mesmo tempo, oportunidades de companheirismo, privacidade e independência.21Ainda em relação à QV, obteve-se maior influência da variável funcionamento dos sentidos, na QV dos idosos residentes no condomínio, o que pode estar associado a um dos quesitos necessários para morar no condomínio — a independência para as atividades da vida diária. Em um estudo internacional21 que investigou a percepção dos moradores sobre a missão dos Condomínios foi identificado que para esses moradores um dos objetivos deste local é a manutenção da sua autonomia. Apesar da associação encontrada, vale ressaltar que os idosos de ambos os grupos apresentaram maior escore de QV na variável funcionamento dos sentidos, o que pode estar relacionado ao elevado percentual de idosos na faixa etária de 60 a 69 anos, nos quais as alterações das habilidades sensoriais são menos percebidas do que entre aqueles com idade mais avançada, considerando-se que estas são cumulativas.

A SASC promove o envolvimento dos idosos residentes no Condomínio por meio da oferta de inúmeras atividades. Esse fato contribuiu para a maior influência estatisticamente significativa da variável participação social na QV dos idosos do G1. Além disso, o simples fato de viver em um condomínio específico para idosos tem sido associado à maior possibilidade de interação social e bem-estar em termos de redução da solidão e ansiedade.22 Portanto, os condomínios favorecem o estabelecimento de uma rede social de convivência — estratégia facilitadora da manutenção da QV. Estudo realizado junto a idosos dependentes do município de Jequié (BA) apontou menor comprometimento da QV dos idosos em relação à faceta intimidade, em que são avaliadas questões relativas ao companheirismo, à capacidade de amar e ser amado.23 No presente estudo, encontrou-se maior influência da variável intimidade na QV dos idosos pertencentes ao G2, o que pode estar relacionado ao maior número de idosos deste grupo vivendo com companheiro.

O convívio social é fundamental para que a pessoa viva melhor em qualquer época, o que tem sido associado ao aumento do senso de bem-estar e à melhora no funcionamento físico.17No presente estudo, o segundo maior escore de QV encontrado em ambos os grupos (G1 e G2) foi no domínio relações sociais, o que indica a existência de relações satisfatórias construídas entre os idosos. Destarte, o convívio social exerce influência sobre as condições de saúde e mortalidade de forma positiva.12 Portanto, reforça-se aqui a necessidade de criação de programas de engajamento entre os idosos e envolvimento em atividades que lhe permitam cada vez mais a manutenção e o estimulo ao convívio social.

Embora também não tenha sido observada associação estatística com o local de moradia, menores escores de QV foram encontrados também na faceta autonomia, que envolve questões associadas à capacidade de tomar suas próprias decisões, demonstrando que de forma geral os idosos deste estudo estão insatisfeitos com sua autonomia e esta insatisfação foi relacionada à falta de respeito por parte das outras pessoas quanto à liberdade do idoso, não lhes permitindo tomar decisões acerca do que gostariam de fazer ou em relação ao planejamento futuro. Porém, acreditamos que esta percepção pode estar associada a experiências negativas vividas anteriormente. Em relação a esse aspecto, durante a consulta de enfermagem ou na visita domiciliar o enfermeiro poderá identificar os motivos que levam à perda da autonomia do idoso e traçar um plano de assistência individual que trabalhe a preservação e o apoio nas decisões do idoso22 considerando sua condição atual de vida bem como suas particularidades e desejos.

Conclusão. O escore total de QV avaliado por ambos os instrumentos, não apresentou associação com local de moradia, porém evidenciou-se maiores escores de QV avaliados pelo WHOQL-OLD para idosos residentes no Condomínio.  Os escores evidenciados nos domínios físico e meio ambiente, avaliados através do WHOQOL-BREF, e as facetas funcionamento dos sentidos e participação social, encontrados através do WHOQOL-OLD apresentaram associação estatisticamente significativa com o local de moradia, demonstrando a influência positiva destas duas variáveis na QV dos idosos residentes no Condomínio. Já os escores da faceta intimidade foi significativamente maior entre os idosos da comunidade, provavelmente em função da maior proporção de idosos com companheiros neste grupo. Portanto, ao se comparar a QV dos idosos residentes no Condomínio com a de idosos residentes na comunidade, observa-se que as variáveis que apresentaram associação estatisticamente significativa estão relacionadas diretamente com características desta nova modalidade habitacional, assim como as atividades que são promovidas e os critérios de inclusão para aquisição da moradia.

Acredita-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para ampliar o corpo de conhecimento sobre essa nova modalidade de habitação presente na realidade nacional e internacional, assim como evidenciar os aspectos influentes na QV destes idosos, o que subsidia ações de planejamento com vistas a promoção e manutenção da QV dos longevos. Entretanto, não se pode deixar de considerar as limitações deste estudo, como por exemplo, a forma de se planejar o tamanho amostral e de selecionar os sujeitos de forma intencional, o que não permite generalizar os resultados como na amostragem randomizada.

 

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