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Acta Colombiana de Psicología

versión impresa ISSN 0123-9155

Act.Colom.Psicol. vol.16 no.2 Bogotá jul./dic. 2013

 

EDITORIAL

UM OLHAR À PESQUISA ATUAL NA AMÉRICA LATINA SOBRE EQUIDADE E ESTUDOS DE GÊNERO

MARÍA DEL ROCÍO HERNÁNDEZ-POZO *

* Universidade Nacional Autônoma do México, Centro Regional de Pesquisas Multidisciplinares, Programa de Pesquisa de Equidade e Gênero, Cuernavaca, Morelos, México. Universidade Nacional Autônoma do México, Faculdade de Estudos Superiores Iztacala, Projeto Aprendizagem Humana, Estado do México, México. rochpoz@co-educa.org


A Revista Acta Colombiana de Psicología organizou para este número uma seção especial dedicada a difundir as pesquisas latino-americanas sobre equidade de gênero, desde diferentes perspectivas e enfoques metodológicos. Esta seção foi organizada com o objetivo central de difundir em uma revista indexada de circulação internacional e de prestígio como esta, pesquisas multidisciplinares sobre o tema dos estudos com perspectiva de gênero. Que estes temas de pesquisa sejam difundidos em uma revista geral de Psicologia é uma aposta com vistas a obter uma maior exposição e chegar a um público mais diverso.

Ainda que existam revistas especializadas sobre estudos de gênero e feminismo, foi particularmente atraente aceitar o convite por parte de Acta Colombiana de Psicología, por duas razões: a primeira, por ser uma revista de interesse geral, e a segunda, pelas bases bibliométricas de qualidade internacional em que está registrada.

Existem três fontes sobre revistas especializadas em temas de gênero e feminismo que apresentam de maneira organizada os títulos de revistas dedicadas ao tema por regiões. Em primeiro lugar, a Universidade de Michigan, através do Centro para o Gênero em Contexto Global, lista 112 revistas feministas estadunidenses (CGGC, 2013). Em segundo lugar, a Associação Universitária de Estudos das Mulheres, AUEM, proporciona uma listagem não exaustiva de seis revistas espanholas dedicadas ao tema (AUDEM, 2013), número que aumenta para dez títulos a partir de fontes adicionais. A terceira fonte é o LATINDEX, cuja sigla se refere ao Sistema Regional de Informação online para Revistas Científicas da América Latina, do Caribe, da Espanha e de Portugal, patrocinado pela UNAM , que lista 34 revistas latino-americanas vigentes sobre o tema e oito adicionais que deixaram de ser publicadas, organizadas em diferentes campos do saber (Latindex, 2013). A vantagem da última fonte, LATINDEX, é que ao contrário das outras duas, emprega critérios estritos de qualidade para a inclusão de um título em seu acervo.

Como exemplo da distribuição de revistas por áreas de conhecimento, as 112 revistas estadunidenses, de acordo com o CGCG, distribuem-se em 21 campos: Negócios (2), Estudos de comunicação (2), Justiça Criminal (2), Aspectos de desenvolvimento (3), Economia (1), Educação (3), Assuntos Étnicos (6), Homossexualidade, Transgênero e estudos Queer (13), Geografia (1), História (4), Interdisciplinar (37), Meios de comunicação (2), Medicina e temas de saúde (10), Música (1), Filosofia (1), Ciências Políticas (4), Psicologia (11), Trabalho Social (1), Estudos religiosos (5), Estudos tecnológicos (1) e Literatura de mulheres (2). O número de revistas de estudos de gênero por tema é um indicador que reflete, tanto as áreas de maior interesse para as instituições que as publicam, como a resposta do público ao que estão dirigidas.

Com o fim de comparar a produção intelectual registrada e visível em dois bancos de dados bibliométricos: SCOPUS, de alcance mundial, e REDALYC, de alcance regional para a América latina, a Espanha e Portugal, realizou-se uma busca usando duas palavras de alta probabilidade em estudos com perspectiva de gênero. Para isso escolheram-se os termos “gênero” e “feminismo” no título, no resumo, ou nas palavras chave dos artigos publicados desde seu primeiro registro até a data, sendo encontrada uma razão de 1.92 a favor do SCOPUS, em comparação com a REDALYC.

A partir dessa busca em revistas do mundo inteiro no SCOPUS, foram gerados 306.844 artigos concentrados em 158 revistas, das quais só 13 foram identificadas como revistas dedicadas exclusivamente, a temas de estudos de gênero e feminismo.

A partir da informação apresentada na Tabela 1, só 8.22% das publicações sobre esses temas correspondem a revistas dedicadas exclusivamente ao tema de estudos de gênero e feminismo. Além disso, nem todos os títulos dessas revistas aparecem listados no site da CGCG, de modo que aparentemente, até a data, não existe um registro atualizado exaustivo das revistas norte-americanas sobre feminismo e estudos de gênero que sirvam como referência aos especialistas.

Revistas SCOPUS especializadas sobre temas de gênero ou feminismo que publicaram artigos com essas palavras chave no seu título, no resumo ou nas palavras chave, organizadas em função de sua ordem de importância pelo número de artigos publicados sobre o tema assinalado e por sua inclusão na listagem da CGCG.

Uma busca com as mesmas palavras chave no banco de dados bibliométrico REDALYC mostrou 159.482 artigos, mas infelizmente o buscador dessa banco de dados bibliométrica não fornece a informação contabilizada e detalhada que possibilite classificar as fontes documentais de uma maneira tão eficiente como faz o SCOPUS.

Baseado nisso, observa-se que no panorama latino americano existe uma ampla produção intelectual sobre estudos de gênero e feminismo, ainda que não existam motores de busca que permitam organizar de maneira ágil e versátil a informação sobre estudos ibero-americanos de gênero ou feministas. Ainda que a REDALYC e o SCIELO-México estão desenvolvendo protocolos nesse sentido, precisam urgentemente de um apoio maior por parte das agências governamentais nacionais.

Uma análise comparativa preliminar nos conduz a afirmar que a maioria das pesquisas que publicadas em revistas especializadas sobre os temas de gênero, pelo menos a partir dos resultados internacionais obtidos através do SCOPUS, se publicam em revistas de temáticas gerais de diferentes campos do saber, e que essa tendência é a predominante. A segunda conclusão, talvez mais dolorosa, é que muitas das revistas latino-americanas que dedicam-se de maneira exclusiva aos temas de gênero, não cumprem com os requisitos explícitos das bases bibliométricas internacionais, nem dos catálogos bibliométricos regionais. Para ilustrar este último ponto, basta comparar as 49 entradas que aparecem no diretório do LATINDEX para revistas que abordam o tema de estudos de gênero, o qual inclui todos os títulos que existem na região, com o listado de 15 entradas dessas mesmas revistas que aparecem no catálogo; ou seja, que cumprem com um mínimo de critérios aprovados a partir de 33 requisitos de qualidade para revistas impressas e 36 requisitos para revistas digitais (Latindex, 2013).

Além disso, a maioria das pesquisas sobre estudos de gênero difunde-se em capítulos de livros de baixa circulação, ou que não estão disponíveis de maneira eletrônica, o que faz muito difícil seu acesso e consulta, e em termos práticos, os deixa invisíveis.

Este projet1o editorial patrocinado pela Revista Acta Colombiana de Psicología está dirigido a fazer uma pequena contribuição para reverter essa tendência, ao difundir em inglês e espanhol, estudos gerados por autores latino-americanos sobre pesquisas com perspectiva de gênero realizadas em seis países: Argentina, Colômbia, Equador, México, Peru e Porto Rico. Os trabalhos que apresentados neste número especial incluem artigos sobre os seguintes temas, a saber: reflexões conceituais sobre a teoria dos estudos de gênero; desigualdade epidemiológica associada a ser mulher ou homem; vulnerabilidade psicológica das mulheres que foram vítimas de violência; vulnerabilidade laboral feminina em quatro países; fatores que contribuem à marginalização da atividade feminina na criação científica, e tendências próprias da pesquisa com perspectiva feminista no mundo.

A autora do México, Úrsula Oswald-Spring, da Universidade Nacional Autônoma do México, mediante um estudo empírico misto, qualitativo e quantitativo, analisa o efeito que a mudança climática e a emigração aos EUA dos homens chefes de família de uma localidade rural, tem tido na vida de seus casais. O estudo propõe um índice de vulnerabilidade para medir os estragos, tanto a nível ambiental como social, produto da combinação desses fatores.

As pesquisadoras Rocío Hernández-Pozo do México e Lourdes Fernández-Rius de Cuba, da Universidade Nacional Autônoma do México e da Universidade da Havana, respectivamente, apresentam uma análise cienciométrica de estudos com perspectiva feminista publicados nos últimos 53 anos em revistas indexadas no SCOPUS. Elas fazem uma análise critica dessa produção a partir dos temas abordados, do seu impacto refletido no número de citas, e da preponderância de certos países na produção de conhecimentos desde essa orientação, assim como a liderança por gênero no interior das redes de autores que geraram os escritos.

As autoras colombianas Tania Pérez-Bustos e Andrea García-Becerra, da Pontifícia Universidade Javeriana, abordam, desde uma postura crítica, a homogeneidade aparente do trabalho científico feminino na América Latina. A partir de entrevistas feitas a mulheres cientistas colombianas indígenas, negras ou lésbicas, se propuseram identificar os elementos que, segundo relatam as autoras, os organismos patrocinadores empregam para marginalizar suas contribuições. As autoras destacam a adoção de uma prática ético-política que vincula o ensino à pesquisa e ao serviço, bem como a preocupação pelo futuro coletivo, como um denominador comum do foco desse setor científico marginalizado.

A autora mexicana Mercedes Pedrero-Nieto, da Universidade Nacional Autônoma do México, apresenta uma pesquisa que analisa a desigualdade no uso do tempo de trabalho remunerado e doméstico, em função do sexo, do estado civil, do parentesco e da idade, a partir dos dados de censos recentes no Equador, no Peru e no México. A autora enfatiza que a equidade na distribuição do tempo de trabalho doméstico é um primeiro passo necessário para atingir a igualdade nas diferentes áreas da vida cotidiana, e que esse objetivo deve ser considerado pelos criadores de políticas públicas desses países.

Por outro lado, Eréndira Serrano-Oswald, da Universidade Nacional Autônoma do México, apresenta um exercício conceitual em que vincula a teoria das representações sociais com a teoria com perspectiva de gênero para dar conta da forma em que a construção social das diferenças sexuais afeta as relações de poder, a condições de vida, o comportamento e a autoconsciência das pessoas.

Elena Rodríguez-Blanco, da Universidade Autônoma do Estado de Hidalgo no México, oferece um estudo com mulheres vítimas de violência que se tornaram resilientes como resultado de sua participação em grupos de autoajuda denominados Codependentes anônimos. A autora, baseando-se em entrevistas feitas a mulheres nessa condição, destaca o vínculo entre o alcoolismo e a violência intrafamiliar, e propõe um procedimento preventivo para desarticular essa rede causal.

A autora Olivia Tena, da Universidade Nacional Autônoma do México, apresenta um estudo empírico baseado na aplicação de uma metodologia mista, qualitativa e quantitativa, sobre as estratégias diferenciais de homens e mulheres em função de seu status laboral para distribuir o tempo que dedicam ao trabalho remunerado, e às atividades domésticas e às relações de casal, em uma ocupação tipicamente masculina. A autora discute as vantagens do emprego dessa metodologia para aprofundar e entender o efeito dessas variáveis na forma como conciliam-se as responsabilidades nessas esferas, e as consequências negativas que possui a adoção dessas estratégias sobre as pessoas com profissão policial.

Lucero Jiménez-Guzmán, da Universidade Nacional Autônoma do México, oferece uma análise comparativa entre a Argentina e o México, sobre a crise da masculinidade como resultado das transformações recentes que sofreu o emprego nesse países. Em seu artigo, a autora discute, desde um ponto de vista multidisciplinar, a partir de uma pesquisa empírica qualitativa, os efeitos individuais, familiares e sociais que possuem o desemprego e a precarização do trabalho na vida de homens com alta escolaridade, pertencentes às classes média e alta.

E finalmente, a pesquisadora da Porto Rico, Teresa Pedroso-Zulueta, da Universidade do Este-Carolina, a partir de uma análise de diferentes indicadores de mortalidade por sexo no seu país, discute, desde uma perspectiva de gênero, as causas sociais da mortalidade masculina, associada a doenças com origem relacionada à conduta, invalidez, lesões e morte prematura masculina, e enfatiza a necessidade de políticas públicas que restabeleçam uma equidade na brecha entre gêneros ao redor da expectativa de vida.

Com esta variedade de pesquisas teóricas e empíricas que apresentam diversas aproximações metodológicas, mostra-se um panorama superficial das inquietudes acadêmicas dos estudos de gênero nos campos da saúde, do trabalho, das relações familiares e da criação científica.

Parafraseando a Francesca Gargallo (2007), é preciso identificar e situar as contribuições dos estudos de gênero latino-americanos na ordem mundial, e detectar os motivos coletivos pelos quais as pessoas nesta região reinventaram seu imaginário de ser e de fazer pesquisa científica.

Conclui-se que uma maneira de proceder para aumentar a visibilidade dos estudos de gênero latino-americanos, é publicar em revistas gerais indexadas, de diferentes especialidades e áreas do conhecimento, fortalecer as revistas especializadas dedicadas exclusivamente a divulgar estudos de gênero de maneira que entrem nos índices de qualidade internacional, e fazer visível a produção de livros especializados sobre o tema.

Este número em particular é um esforço nesse sentido, já que responde à urgência de difundir entre os colegas e especialistas das ciências sociais, as inquietudes, temas e contribuições da pesquisa sobre estudos de equidade de gênero que se realizam nestas latitudes, com o objeto de colocar em perspectiva os avanços publicados por especialistas de outras regiões. Somente com um mapa claro do caminho se poderá avançar na viagem criativa do conhecimento.

Além dos nove artigos deste número especial, a revista publica outros três artigos livres, que se localizam nas áreas de psicometria, psicologia educativa e psicologia social.

A autora brasileira Ana Paula Porto Noronha, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, apresenta um estudo psicométrico sobre um instrumento que mede a habilidade viso-motriz em relação com a deficiência intelectual.

Por outro lado, as autoras colombianas Paula Andrea Botero Soto e Constanza Londoño Pérez, da Corporação Eccos, e da Universidade Católica da Colômbia, respectivamente, oferecem um modelo de equações estruturais que prediz a qualidade de vida em pessoas com necessidade físicas especiais, a partir de variáveis de doenças, saúde mental e outras variáveis psicossociais, medidas através da aplicação de questionários.

Finalmente, os pesquisadores colombianos Edwin Luna, Christian Zambrano e Freddy Hidalgo, da Universidade de Nariño, apresentam um estudo experimental sobre os efeitos de variações no nível de discriminação da autoridade na transgressão de normas explícitas, a partir de uma metodologia de Análise da Conduta.

Agradecemos ao Editor General da Revista Acta Colombiana de Psicología o convite para organizar este número especial, bem como aos revisores e ao corpo editorial, pelo seu trabalho esmerado e cuidadoso para criticar construtivamente os escritos e contribuir esses pontos de vista externos que ajudam a melhoram a comunicação de propostas conceituais e metodológicas originais.


Referências