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La Palabra

versión impresa ISSN 0121-8530

La Palabra  no.38 Tunja jul./set. 2020  Epub 23-Nov-2020

 

Editorial

EDITORIAL

Witton Becerra Mayorgaa 

aEditor


Pensar com Borges, título deste número de La Palabra, procura ser uma contribuição, ou melhor ainda, repensar Borges e voltar a ele e aos problemas que persistem hoje, fundados por sua vasta obra. Neste número, convidamos Daniel Balderston à participação, já que há dois anos seu livro How Borges Wrote foi publicado e a versão em espanhol está prestes a aparecer. Daniel, com muita amabilidade, partilha conosco um artigo acerca do caderno de contabilidade, marca Carabela, no qual Borges reescreveu alguns dos seus contos. O tema dos manuscritos é uma novidade para o estudo da obra do escritor argentino e apresenta-se como uma nova maneira de ver um autor de tal envergadura. Contamos, então, com o privilégio de publicar esse artigo.

Daniel recorre à crítica genética para estudar o caderno, pois compara o observado no manuscrito com o publicado antes e após deste. Nesta ocasião, o manuscrito faz referência a um caderno de contabilidade no qual Borges reescreveu, nas páginas do Haver, a maior parte dos contos do "Jardim das bifurcações". Ele o estuda a profundidade, depois de fazer um rastreamento das formas das segundas versões, "Exame da obra de Herbert Quain". Graças ao exame em detalhe desse conto, pode-se esclarecer a data do manuscrito. A precisão com que o autor percorre o manuscrito e nos apresenta a forma como Borges escrevia e reescrevia confirma a posição permanente do escritor argentino acerca de que não existem versões definitivas e que a correção e a autocorreção são uma proposta viva na obra e nos manuscritos que dele se conhecem.

Este artigo nos dá uma oportunidade para pensar sobre o lugar onde repousam os manuscritos dos grandes escritores latino-americanos, dentre eles Borges, é claro. O debate está aberto, dado que podem se observar, a partir do trabalho apresentado por Daniel Balderston, várias discussões, dentre delas a de pensar a apropriação cultural das potências econômicas e a sua hegemonia também no campo do pensamento e da arte. O fato de que os países mais ricos se apropriam dos manuscritos dos escritores porque possuem o capital, a infraestrutura e os processos adequados para conservá-los, o que talvez não acontece nos seus países de origem, e que ao considerar seu déficit de infraestrutura e capacidade para cuidar desses manuscritos poderiam conduzi-los ao esquecimento ou à perda. Essa situação se reflete, por exemplo, no fato de que na Biblioteca Nacional Argentina não há um só manuscrito de Borges, paradoxo associado a um autor que agiu por quase vinte anos como diretor daquela instituição. Outro caso, mais recente, é o dos arquivos de Gabriel García Márquez, cujos herdeiros preferiram vender à Universidade do Texas e rejeitar a proposta do Ministério da Cultura da Colômbia. Uma pergunta que gostaria de me fazer, neste ponto, é saber, por exemplo, onde irão ficar os arquivos de Fernando Vallejo. Por enquanto, este artigo não fala além do fascinante percurso das páginas do Haver de um livro de contabilidade no qual Borges reescreveu alguns contos.

Um pouco próximo à crítica genética da obra de Borges, temos, também neste número da nossa revista, o artigo de Leandro Bohnhoff sobre o ensaio "A poesia gauchesca". Embora tenha sido reiterado por vários críticos, o duplo lugar que ocupa a universalidade de Borges entendida, por um lado, pela sua compreensão geral da filosofia antiga e moderna e de outros temas que o colocam como um escritor que compreende o pensamento de maneira universal; por outro lado, está seu constante apego à localidade, ao bairro, à tradição poética argentina, ao tango, à milonga e à vida local. Tal confluência é exposta no artigo, no qual o autor apresenta um tipo de arqueologia sobre o ensaio e como se deu sua construção até o resultado final. Destas linhas me chama a atenção o debate entre Lugones e Rojas diante de Borges pela individualidade de Hernández e de Martín Fierro ao insinuar que não corresponde a uma tradição. Isto contrasta com o que pode ser tomado de Os três gaúchos orientais, em que Borges cita umas décimas de Lussich que proporiam a outra visão que tem a ver com as formas da payada e da reivindicação de uma tradição na poesia gauchesca. Isto me interessa porque, junto com Néstor Espitia, apresentamos uma revisão acerca dos trabalhos sobre Borges e o tango, que não pretende ser algo definitivo, mas uma aproximação que queremos fazer para entender, em um próximo trabalho, a relação de Borges com a música a partir do estudo das relações interartísticas e da músico-literatura.

O trabalho que apresentamos neste número nos dirige a confirmar a conturbada colaboração de 1965 entre Borges e Piazzolla no álbum Tango. No entanto, nessa mesma revisão, pelo apego de Borges à tradição, respeito à evolução que vai da payada e da milonga até o tango, é visto que falta uma confirmação do seu apego por esta tradição que também se assentou em outras formas culturais e outros gêneros musicais como a gaita venezuelana, o ponto cubano, o seis porto-riquenho ou a poesia improvisada do Caribe Colombiano. A conclusão que nos é apresentada na revisão nos confirma que Borges entendia de outra maneira a formação da música popular argentina e que a sua defesa da tradição se relaciona com o mesmo espírito que anima a sua aproximação à tradição ensaística da poesia gauchesca. Aqui, há uma confluência certeira neste número da nossa revista que o leitor poderá ampliar no que tange às confluências entre os temas que sobre Borges são tratados.

Nesta mesma linha vão direcionados os argumentos do artigo de Néstor Espejo, estudante do nosso programa de Mestrado em Literatura, pois os objetos, a memória e a intensidade presentes na obra de Borges correspondem também à tradição local argentina, no caso do punhal e, mais universais, o espelho e o livro. Eu tinha nomeado esse fenômeno que o artigo expõe como a reiteração do breve, mas é de ressaltar que o conceito de intensidade está suportado de forma inovadora com os conceitos de Jean Baudrillard, a respeito das dimensões do objeto numa obra de arte, e de Gilles Deleuze acerca do conceito de intensidades na arte; daí surge o que o autor denomina a intensidade poética dos objetos na obra de Jorge Luis Borges, que poderia ser ampliada a outros objetos e a outros trechos e versos em relação também à memória.

No mesmo campo de construção estética da obra de Borges, a partir da tradição argentina, se enquadra o artigo de Frank Orduz a respeito do tango em Fervor de Buenos Aires. Neste se apresenta, mais uma vez, tal como no artigo de Luis Fernando Abello (que completa este número da nossa revista), definições sobre a metafísica tomadas da obra de Borges. Propõe-se que existe um tipo de "metafísica tanguista", pois haveria uma semelhança com temas metafísicos desse livro de poemas e de obras como Nova refutação do tempo. Assim, segundo o autor do artigo, a metafísica em Fervor de Buenos Aires se suporta na vida do bairro e nas ruas nas quais o tango define também as mesmas fontes de reflexão filosófica. O artigo de Luis Fernando Abello, por outro lado, levanta que, em Borges, a ironia e o humor adquirem um valor metafísico.

Dessa forma ficam apresentados os artigos que compõem o número 38 de La Palabra. Agradecemos aos pareceristas dos artigos pelo seu trabalho de crítica e revisão dos textos que foram submetidos a este número e agradecemos muito especialmente a Daniel Balderston pelo seu artigo, que, sem dúvida, abre novas possibilidades de interpretação da obra de Borges a partir do estudo dos seus manuscritos, artigo que se transforma em um convite à leitura de How Borges Wrote e de sua versão em espanhol.

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