Objetivo/contexto:

O texto tem como objetivo desenvolver e comparar as noções filosófico-antropológicas de perspectivismo, canibalismo e metamorfose, presentes na Metafísicas Canibais, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, e em diversos ensaios e romances do poeta-ensaísta Severo Sarduy. Ambos descrevem universos habitados por corpos e afetos, nos quais um único plano de imanência se dobra (Deleuze) multiplicando as perspectivas. A travessia intertextual visa revisar criticamente as categorias binárias do pensar, lançar as bases para a formulação de um método neobarroco de leitura/reescrita e propor uma cosmopolítica como estrutura afetiva de humanos, não-humanos, artefatos e coisas.

Metodologia:

Os textos foram abordados a partir de uma hermenêutica de imanência, material e produtiva.

Conclusões:

A noção de perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro é consistente com a disseminação dos pontos de vista de Sarduy. Nas duas abordagens, os planos se convergem sem um centro guia (neobarroco). Também desaparece a figura de um ponto de vista neutro e externo para as respectivas tramas. No canibalismo ameríndio, a divisão no interior do eu é realizada pela absorção do outro em um ritual de devoção. Na antropofagia literária, a destituição é dada pela potência de uma trama narrativa que engole o autor e faz dele um personagem. Em um caso, o corpo inimigo que é devorado para engolir sua posição relativa e fissurar o eu em sua unidade, no outro, o corpo textual é o que absorve e divide. Ambas as posições derivam de uma cosmopolítica: transformações narrativas intersocietárias.

Originalidade:

A originalidade deste trabalho reside na aplicação do método de contraponto, inspirado no escritor cubano José Lezama Lima, cuja aplicação permite o surgimento de diferenças e semelhanças nos textos que contrastam entre si por sua origem e registro.

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