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CS

versão impressa ISSN 2011-0324

CS  no.29 Cali set./dez. 2019

https://doi.org/10.18046/recs.i29.3186 

Artículos

O conhecimento situado e a pesquisa-ação como metodologias feministas e decoloniais: um estudo bibliométrico*

Situated Knowledge and Action Research as Feminist and Decolonial Methodologies: A Bibliometric Study

El conocimiento situado y la investigación-acción como metodologías feministas y decoloniales: un estudio bibliométrico

** Professora Adjunta do Departamento de Ciências Sociais, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa (Portugal). Mestra em Sociologia e Licenciada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil). Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero (NIEM/UFRGS) e do Grupo de Estudos Gênero, Cultura e Saúde (GEPACS/UFSM). Coordenadora do Projeto “Metodologia Feminista e Decolonial: possibilidades e desafios”. E-mail: marianaselister@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6837-9158

*** Acadêmica de Serviço Social na Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). Bolsista de Iniciação Científica no Projeto “Metodologia Feminista e Decolonial: possibilidades e desafios”. E-mail: dudinhaq2@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5990-0332

**** Acadêmica de Ciências Sociais na Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). Pesquisadora Voluntária de Iniciação Científica no Projeto “Metodologia Feminista e Decolonial: possibilidades e desafios”. E-mail: giovanaduarte66@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0993-2413


Resumo

A Sociologia, desde sua emergência no século XIX, foi aproximada das Ciências Naturais, na busca por sua cientificidade. Para isto, a objetividade e a neutralidade tornaram-se critérios fundamentais. A despeito dessa tradição, a Teoria Feminista tem argumentado em defesa de um posicionamento científico crítico, engajado e transparente. Neste cenário, emergem as propostas metodológicas em torno do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação. O presente artigo tem como objetivos: (1) descrever o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação; (2) analisar o quanto e como estas perspectivas estão sendo utilizadas nos Estudos de Gênero da América Latina; (3) fomentar o uso dessas metodologias. Para estes fins, utilizamos o Método de Pesquisa Bibliométrica. As conclusões demonstram um ínfimo número de artigos utilizando essas metodologias, ressaltando a necessidade de fortalecer e difundir este debate.

PALAVRAS-CHAVE: conhecimento situado; pesquisa-ação; feminismo; decolonialidade

Abstract

Sociology, since its emergence in the nineteenth century, was approximated to Natural Sciences in search for its scientificity. For this, objectivity and neutrality have become fundamental criteria. In spite of this tradition, Feminist Theory has argued in defense of a critical, engaged, and transparent scientific position. In this scenario, the methodological proposals around Situated Knowledge and Action Research emerge. The present paper aims to: (1) describe Situated Knowledge and Action Research; (2) analyze how these perspectives are being used in Latin American Gender Studies; (3) encourage the use of these methodologies. For these purposes, we use the Bibliometric Research Method. The conclusions show a small number of articles using these methodologies, thus emphasizing the need to strengthen and spread this discussion.

KEYWORDS: Situated Knowledge; Action Research; Feminism; Decoloniality

Resumen

La sociología, desde su aparición en el siglo XIX, fue aproximada a las ciencias naturales, en la búsqueda de su cientificidad. Para ello, la objetividad y la neutralidad se convirtieron en criterios fundamentales. A pesar de esta tradición, la teoría feminista ha argumentado en defensa de un posicionamiento científico crítico, comprometido y transparente. En este escenario, emergen las propuestas metodológicas en torno al conocimiento situado y la investigación-acción. Este artículo tiene como objetivos: 1) describir el conocimiento situado y la investigación-acción; 2) analizar cuánto y cómo estas perspectivas están siendo utilizadas en los estudios de género de América Latina; y 3) fomentar el uso de estas metodologías. Para estos fines, se utilizó el método de investigación bibliométrica. Las conclusiones demostraron un número muy pequeño de artículos que utilizaron las metodologías mencionadas, resaltando así la necesidad de fortalecer y difundir esta discusión.

PALABRAS CLAVE: conocimiento situado; investigación-acción; feminismo; decolonialidad

Introdução

A Sociologia (Giddens, 2005), desde sua emergência no século XIX, foi aproximada das Ciências Naturais, na busca por sua cientificidade. Para isto, a objetividade tornou-se um critério fundamental. August Comte (Aron, 1999) aquele que criou o termo Sociologia, propunha a observação empírica e neutra dos acontecimentos sociais e históricos, para a formulação de leis universais. Emile Durkheim, aquele que institucionalizou a Sociologia na Universidade, definiu as regras do método sociológico, propondo a análise dos Fatos Sociais como “coisas” externas ao indivíduo, iniciando o uso de metodologias estatísticas (Durkheim, 2001). Ainda referente aos clássicos fundadores, destaca-se a afirmação de Max Weber (1995) em torno da Política e da Ciência como duas vocações; desta forma, mesmo trazendo o enfoque na Ação Social e na compreensão dos sentidos dos agentes, fomentando a criação de metodologias que envolvem entrevistas e histórias de vida, Weber apresentou uma defesa da objetividade e da neutralidade.

A despeito dessa tradição de busca pela neutralidade e pela objetividade na ciência, a Teoria Feminista tem argumentado em defesa de um posicionamento científico crítico, engajado e transparente (Löwy, 2000). Nesse sentido, desde logo é importante posicionar este artigo alinhado a esta corrente, bem como, situarmo-nos como pesquisadoras feministas. Segundo essa perspectiva, as supostas características de neutralidade e de objetividade teriam servido para silenciar as vozes das mulheres e naturalizar o homem como sujeito do conhecimento. Já em 1948, Simone de Beauvoir evidenciou o quanto as Ciências reproduziram a inferiorização das mulheres e contribuíram para sua legitimação, através de uma suposta autoridade científica. Em sua crítica, Beauvoir (2009) incluiu a Biologia, a Psicanálise e o Materialismo Histórico. Seguindo a mesma perspectiva, na década de 1960, os movimentos em torno da New Left Rewieu denunciaram, além do machismo, também o racismo presente nos discursos científicos (Hall, 2006).

A partir dessas críticas teóricas, emergem as discussões epistemológicas e metodológicas, em defesa de uma produção de conhecimento científico contra-hegemônico, feminista e decolonial. Surgem, dessa forma, as discussões em torno do Conhecimento Situado (Haraway, 1995; Harding, 1998; Löwy, 2000) e da Pesquisa-ação (Ackerly; True, 2010; Fals-Borda, 1973; Noffke; Somekh, 2015; Tripp, 2005). Inserido neste debate, o presente artigo tem como objetivos: (1) descrever o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação; (2) analisar o quanto e como essas perspectivas estão sendo utilizadas nos Estudos de Gênero da América Latina; (3) fomentar o uso dessas perspectivas de conhecimento contra-hegemônicas como metodologias científicas. Como problema de pesquisa, parte-se da seguinte questão norteadora: os Estudos de Gênero, a Teoria Feminista e as Perspectivas Pós-Colonial e Decolonial já lograram reconhecimento internacional, contando com periódicos de relevância e eventos científicos; no entanto, as pesquisas publicadas nessa área estão fortalecendo novas metodologias engajadas ou estão apenas reproduzindo metodologias consagradas pelas Ciências Sociais hegemônicas?

Para atingir os objetivos e responder a questão norteadora, utilizamos o Método de Pesquisa Bibliométrica, buscando identificar (quantitativamente) quantas vezes o Conhecimento-Situado e a Pesquisa-ação foram utilizados nas revistas Cadernos Pagu (da Universidade Estadual de Campinas São Paulo) e Estudos Feministas (da Universidade Federal de Santa Catarina), durante os seis últimos anos (2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), na seção dos artigos; bem como analisamos (qualitativamente) como vem ocorrendo este uso. A escolha dessas duas revistas se deu a partir dos critérios da sua posição no Ranking SJR (Scientific Journal Rankings - SCImago) do Banco de Dados SCOPUS. Ao pesquisar as revistas indexadas como Social Sciences / Gender Studies / Latin America, apareceram quatro revistas: Cadernos Pagu, Estudos Feministas, Cadernos de Pesquisa e Revista de Estudios Sociales. No entanto, apenas as duas primeiras são específicas da temática Gênero, só publicam artigos relaciona- dos, de alguma forma, com as discussões de Gênero, e por isso, foram escolhidas. A revista Cadernos Pagu apresenta o índice 0.356 (SJR - ranking internacional) e está na posição A1 (a melhor posição do Qualis-Capes - ranking brasileiro). A revista Estudos Feministas apresenta o índice 0.208 (SJR - ranking internacional) e está na posição A1 (a melhor posição do Qualis-Capes - ranking brasileiro). Ambas, apesar de brasileiras, apresentam publicações de autores de toda a América Latina. Além das brasileiras, encontramos autoras colombianas, argentinas, chilenas, uruguaias, peruanas, mexicanas, e, também, europeias (portuguesas e espanholas), o que demonstra a pluralidade de nacionalidades representadas nas revistas selecionadas. Destacamos que os Estudos de natureza bibliográfica e bibliométrica (Kamler; Thomson, 2015) são de extrema relevância para que possamos conhecer e fortalecer um campo científico.

A seguir, na primeira seção, apresentaremos uma breve descrição da trajetória do Conhecimento Científico, destacando a emergência do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação. Emseguida, na segunda seção, apresentaremosedebateremososdados encontrados no Estudo Bibliométrico. Por fim, refletiremos sobre algumas conclusões.

Trajetória do Conhecimento Científico

A Ciência Moderna surge no Iluminismo configurada pelo eurocentrismo (Quijano, 2005) e pelo patriarcado (Pateman, 1993) que limitam e marcam o conhecimento científico até os dias atuais. Essa demarcação fez com que, por muitos anos, as mulheres se fizessem ausentes na produção de conhecimento, pois os únicos considerados detentores do conhecimento eram os homens, brancos, europeus e ricos, e, nesse meio, as mulheres eram vistas como seres irracionais, incapazes de produzir conhecimento. Até mesmo os teóricos Iluministas do Contrato Social (como Locke, Rousseau e Hobbes), como demonstra Pateman (1993), reproduziram esse discurso de inferiorização das mulheres, e conduziram-nas ao espaço privado, enquanto o “sujeito universal” era um homem. Nesse cenário, além do campo científico ser predominantemente masculino, “uma mulher que quer tornar-se “um homem de ciências” deve fazer um esforço suplementar de assimilação e de autotransformação” (Löwy, 2000: 28). Com as contribuições dos Clássicos fundadores da Sociologia, sobretudo Durkheim e Weber, a ideia de neutralidade eobjetividade foi sendo consolidada (Aron, 1999; Giddens, 2005), tornando invisível a crítica ao machismo presente na ciência.

Os anos 60 e 70 são considerados por Hall (2006) e Harding (1998) como o período em que surgem os Estudos Culturais e Pós-Coloniais, os quais, juntos com o movimento Feminista ressaltaram a importância das “diferenças” que, por um lado, auxiliaram nas reivindicações sociais e, por outro, proporcionaram novos paradigmas de análise social. Esses estudos destacaram que a cultura ocidental (incluindo a ciência) foi construída com uma forte demarcação de “raça” (entendida como um construto social do período colonial que marca o período pós-colonial) e de sexo / gênero (Scott, 1986).

Mais recentemente, surgem perspectivas interseccionadas entre racismo e sexismo, demonstrando o quanto estão sobrepostas essas dimensões, provocando violências, exclusões e visões essencialistas sobre os indivíduos, por meio de influências estruturais de poder e dominação, isto é, relações políticas, sociais e ideológicas. Segundo María Lugones (2008: 78):

El poder está estructurado en relaciones de dominación, explotación, y conflicto entre actores sociales que se disputan el control de los cuatro ámbitos básicos de la existencia humana: sexo, trabajo, autoridad colectiva y subjetividad/intersubjetividad, sus recursos y productos.

Nesse sentido, percebe-se que as mulheres e as populações negra e indígena estão historicamente sob uma herança sociopolítica deescravização, quepermanece enraizada na sociedade, gerando profundas discriminações em vários aspectos e esferas sociais, inclusive na ciência, mediante à “brutalización, el abuso, la deshumanización que la colonialidad del género implica” (Lugones, 2008: 82). Dessa forma, “as lutas políticas concretas em que o novo significado se fundava reconhecia diferenças culturais, mas buscava realizar a unidade política contra o racismo” (Brah, 2006: 335). Diante da perspectiva da Interseccionalidade, surge “um feminismo sensível às relações sociais e internacionais de poder” (Brah, 2006: 349). De acordo com Brah (2006: 343):

As relações de poder entre homens e mulheres são vistas como a principal dinâmica da opressão das mulheres, levando às vezes quase à exclusão de outros determinantes como classe e racismo (...) produzido e reproduzido através de mecanismos específicos e assumiu diferentes formas em diferentes situações.

Em termos de ciência, evidencia-se que o sujeito do conhecimento não era apenas homem, mas homem branco europeu e de elite. O objetivo dessa crítica era levar em conta as “diversidades e interesses sociais diversos (...) em torno da qual a vida social é constituída e experimentada” (Brah, 2006: 335). Os movimentos Feministas e Decoloniais1 serviram de base para se questionar o modelo proposto pela Ciência (exatas, humanas e biológicas) de metodologia que, até então, eram pautadas numa objetividade e numa suposta neutralidade. A objetividade está ancorada em uma perspectiva que busca na razão e na racionalidade sua base científica que, por sua vez, deixa de lado aspectos como as emoções e os compromissos sociais que o cientista deve ter perante os indivíduos e com a sociedade. Com isso, a ciência posterga as questões subjetivas dos pesquisadores e dos sujeitos pesquisados, ou dos objetos de estudo.

Além disso, por muitos anos, foi pautado o caráter neutro das ciências. Nas Ciências Humanas e Sociais, temos o sociólogo Max Weber (1986) que trabalha a ideia de neutralidade científica, a qual determina que o cientista deve ser neutro e apresentar um rigor científico que corresponda com a separação entre sujeito e objeto, ressaltando a ética científica como defesa da autovigilância do pesquisador, que deve se perceber e se enunciar sobre até que ponto “fala” o cientista e até que ponto “fala” o sujeito, deixando claro para si e para o leitor. Para Weber (1986), o cientista social não deve buscar a causa, mas uma das causas; ele abandona a ideia de totalidade, pois é o interesse do cientista que vai determinar a forma como ele vai abordar o fenômeno, ou seja, na seleção do objeto entra a percepção do sujeito, seus valores e suas subjetividades, na seleção de uma das múltiplas causas ocorre o mesmo processo. Mas, apesar de reconhecer essa parcialidade, Weber o faz na ideia de fomentar uma vigilância constante na pesquisa científica, a fim de atingir a neutralidade.

A ideia de neutralidade se baseia em princípios racionais e na razão. A emoção e a subjetividade não apresentavam relevância perante os cientistas que buscam nos seus objetos de estudo uma propensa objetividade. A objetividade, ao contrário da subjetividade, está construída no concreto, e não no abstrato, não implicando em empregar valores de forma ampla, e assim a objetividade não apresenta um corpo, apenas uma racionalidade. Isto é, o resultado de uma pesquisa pode convergir ou não com o que o pesquisador pensa, ou com seus valores; independentemente disso, ele deve se manter neutro, não podendo criar ou estimular suas crenças. Dessa forma, Weber (1986) destaca que a teoria não serve para defender o que o sujeito pensa ou acredita, mas para reproduzir uma certa realidade, sendo fiel a ela e não ao seu conhecimento subjetivo sobre o objeto estudado.

Para a autora Haraway (1995), existe uma dicotomia em relação à objetividade. A dicotomia se dá ao passo que existe uma “construção social de todas as formas de conhecimento” (Haraway, 1995: 8) e o outro polo se dá no marxismo humanista. A partir dessas ideias, Haraway mostra como a construção social do conhecimento é teorizada com base no poder e não na busca da verdade. Dessa forma, as perspectivas internas dos dominados não são privilegiadas nesse sistema tradicional de conhecimento científico. Com isso, ela descreve a existência de uma “doutrina ideológica da objetividade científica descorporificada” (Haraway, 1995: 11) mostrando como a objetividade ameaça o sentimento de subjetividade, a ideia de atuação histórica coletiva e as versões corporificadas da verdade. Ou seja, esta construção social do conhecimento a partir do poder, sendo este um poder invisível, escondido na ideia de neutralidade, esvazia o sentimento histórico de coletividade, a corporificação daquelas verdades, os sujeitos e suas subjetividades.

A ciência sempre teve a ver com a busca de tradução, convertibilidade, mobilidade de significados e universalidade - o que chamo de reducionismo quando uma linguagem (adivinhe de quem) é imposta como o parâmetro para todas as traduções e conversões. (Haraway, 1995: 16)

Por outro lado, temos a versão marxista humanista da objetividade. Tal visão não é vista como suficiente, pois está pautada na natureza da autoconstrução do homem, ou seja, o trabalho e o meio econômico. Dessa forma, deixa de teorizar a presença da mulher nesse meio econômico. Conforme Haraway (1995: 14):

O marxismo humanista foi poluído em sua origem pela sua teoria ontológica estruturante de dominação da natureza na autoconstrução do homem e pela sua, intimamente relacionada, impotência para historicizar qualquer coisa que as mulheres fizessem que não fosse por salário.

Contudo, é válido destacar sua importância para a elaboração de outras teorias que contribuíram para a construção de uma objetividade feminista pautada nos saberes localizados. Como é o caso das teorias de perspectivas que buscam trazer à tona as corporificações e críticas aos sistemas hegemônicos. A partir disso, podemos compreender que a ciência e sua objetividade e neutralidade acabam excluindo as subjetividades, bem como anulando e obscurecendo os corpos por detrás do conhecimento e visão dos objetos de pesquisa que, por sua vez, também são sujeitos que apresentam subjetividades. Nesse sentido, “na definição tradicional, em que a ciência é vista como um empreendimento autônomo, neutro e objetivo, não se discutem as relações entre ciência e poder” (Cabral, 2006: 34).

A partir disso, pretendemos compreender duas metodologias que se originam com as reflexões epistemológicas Feministas cunhadas na década de 60 que partem do princípio de saberes localizados e da transparência do cientista para com a análise do objeto de estudo. Nesse sentido, será abordado uma breve contextualização explicativa sobre as metodologias: Conhecimento situado e Pesquisa-ação, e logo após, traremos dos dados empíricos.

O Conhecimento Situado como Metodologia Científica

A partir da problemática da “neutralidade científica”, a autora Haraway (1995) propõe os “saberes localizados” como ciência, trazendo uma metáfora para compreendermos como a visão, que é particular e corporificada, se dá como forma de saberes localizados ou conhecimento situado. A visão é um elemento que apresenta um lugar, uma perspectiva, um olhar; e para compreendermos melhor a questão da visão, podemos pensar na fotografia e na sua importância. A fotografia possibilita que os sujeitos que estejam visualizando-a possam, de certa forma, pertencer e participar do momento em que a fotografia foi tirada. Com isso, a ideia da produção de conhecimento a partir de saberes localizados produziu um conhecimento transparente. Para compreendermos como essa relação de transparência seria possível durante o processo de construção do conhecimento, baseado na subjetividade do cientista, Haraway (1995: 21) descreve que:

Precisamos aprender em nossos corpos, dotados das cores e da visão estereoscópica dos primatas, como vincular o objetivo aos nossos instrumentos teóricos e políticos de modo a nomear onde estamos e onde não estamos, nas dimensões do espaço mental e físico que mal sabemos como nomear.

Logo, ao mostrarmos nosso lugar, quer de onde estamos falando, quer de onde estamos escrevendo, possibilitamos ao leitor(a) uma compreensão mais transparente do conhecimento elaborado. Dessa forma, assim como na fotografia, os saberes que passam a ser localizados, mostram de forma translúcida como esse local interfere na pesquisa e delimita a mesma, a partir da ideia perspectivista. Conforme Cupani (2004: 12): “nenhuma tentativa de conhecer a realidade pode escapar às suas próprias circunstâncias ou condições de existência, especialmente sociais”.

Nesse sentido, considerando o lugar de fala e realidade social do pesquisador como algo importante para a produção do conhecimento, Cabral (2006: 25) identifica o Conhecimento Situado como “uma análise crítica que procura encontrar o conhecimento científico como produto da inter-relação entre sujeito e objeto”, levando em conta o caráter e contexto social do sujeito cognoscente. Além disso, os saberes localizados buscam a compreensão da visão dos subjugados e inferiorizados na história da cientificidade. A ciência por muitos anos passou a se dedicar a assuntos relacionados com as perspectivas, como já descritas anteriormente, eurocêntricas e patriarcais, desinteressando-se por assuntos que não eram considerados hegemônicos, isto é, pelos interesses dos sujeitos invisibilizados e silenciados na sociedade, ancorada, portanto, no “empreendimento científico sexista, erigido sobre valores de dominação e controle tipicamente masculinos” (Cabral, 2006: 26). Nas palavras de Haraway (1995: 23):

As perspectivas dos subjugados não são posições “inocentes”. Ao contrário, elas são preferidas porque, em princípio, são as que tem menor probabilidade de permitir a negação do núcleo crítico e interpretativo de todo conhecimento. Elas têm ampla experiência com os modos de negação através da repressão, do esquecimento e de atos de desaparição - com maneiras de não estar em nenhum lugar ao mesmo tempo que se alega ver tudo. (...) As perspectivas dos subjugados são preferidas porque parecem prometer explicações mais adequadas, firmes, objetivas, transformadoras do mundo.

Com isso, a autora nega o universalismo totalizante, mas também o relativismo. Totalizar os saberes acaba por negar uma posição, uma corporificação e uma perspectiva parcial, resultando em uma visão que não apresenta objetividade e silencia a contestação e a desconstrução (Haraway, 1995). Dessa forma, devemos escapar de tudo que já está previsto, que está posto previamente, proporcionando “conhecimento potente para a construção de mundos menos organizados por eixos de dominação.” (Haraway, 1995: 24).

Assim como Haraway (1995), a autora Löwy (2000) também identifica o Conhecimento Situado como aquele que carrega em sua estrutura metodológica aspectos que transcendem a subjetividade do sujeito pesquisador, no qual o conhecimento é formado por meio da própria subjetividade do indivíduo, ou seja, mantém como foco a sua historicidade a partir de sua situação particular. De acordo com Löwy (2000), esse conhecimento baseado na própria experiência pode proporcionar saberes que tendem a beneficiar as pessoas que vivenciam uma realidade parecida com a analisada, “percebemos facilmente que cada fato carrega as impressões da comunidade científica que o produziu” (Löwy, 2000: 33). Nesse sentido, Haraway (1995: 16) argumenta que:

Não queremos uma teoria de poderes inocentes para representar o mundo, na qual linguagens e corpos submerjam no êxtase da simbiose orgânica. Tampouco queremos teorizar o mundo, e muito menos agir nele, em termos de Sistemas Globais, mas precisamos de uma rede de conexões para a Terra, incluída a capacidade parcial de traduzir conhecimentos entre comunidades muito diferentes - e diferenciadas em termos de poder.

O Conhecimento Situado seria, portanto, um novo método de abordagem científica. Os tradicionais métodos de abordagem (Severino, 1996) seriam: o método Indutivo (que parte dos dados empíricos para buscar compreender a realidade), o método Dedutivo (que parte da teoria para buscar explicar a realidade) e o hipotético-dedutivo (que parte da teoria, analisa os dados e volta para confirmar ou refutar a teoria). O novo método do Conhecimento Situado poderia partir da problematização da experiência do próprio sujeito que pesquisa, para, assim, dialogar com as teorias e com os dados empíricos, de maneira crítica e transparente.

Dessa maneira, levando em conta as experiências e vivências dos sujeitos atrelados a uma realidade específica, a seguir, abordaremos a Pesquisa-ação para que possamos observar que a partir de uma vivência e com base em questões subjetivas, podem surgir aspirações para transformar uma determinada realidade.

A Pesquisa-ação como Metodologia Científica

Assim como o conhecimento situado aponta para a importância de construir uma ciência relacionada à realidade social, a partir de vivências e experiências dos sujeitos, a Pesquisa-ação também carrega uma dimensão concreta e ativa. A Pesquisa-ação busca a produção de conhecimento atrelada a uma prática transformadora da realidade social (Noffke; Somekh, 2015) - ao mesmo tempo que se busca conhecer uma realidade, objetiva-se intervir na mesma. Essa forma de pesquisa engajada é reforçada como uma forma importante de fazer pesquisa feminista, como destacam Ackerly e True (2010).

Segundo Regina S. Barbosa e Karen Giffin (2007), a Pesquisa-ação se encontra sobreposta ao “novo paradigma” de ciência, “onde a produção de conhecimento está intrinsecamente conectada à construção do sujeito do conhecimento e à ação transformadora” (Barbosa; Giffin, 2007: 551). De acordo com David Tripp (2005), não se sabe quem deu origem a Pesquisa-ação, porém o que se constata é de que Lewin (1946 apud Franco, 2005: 487) utilizou pela primeira vez o termo, embora tivesse sido usado por outros autores e pesquisadores na época. Conforme Tripp (2005: 445):

É importante que se reconheça a Pesquisa-ação como um dos inúmeros tipos de investigação-ação, que é um termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela.

Dessa forma, nota-se que a Pesquisa-ação é um tipo de metodologia que pode ser caracterizada como aquela que intervém na realidade do objeto de estudo (transformação da prática). Parte-se de uma problemática inicial, que é tanto um problema científico, como um problema social. Em seguida, ao mesmo tempo em que o objeto é compreendido, a partir da inserção em campo e da pesquisa empírica, é proposta uma mudança com relação do problema detectado, objetivando promover um progresso ou solução do mesmo. A pesquisa pode ser desenvolvida por meio de interesses individuais ou por um grande grupo de sujeitos que compactuam dos mesmos interesses. À medida que a pesquisa vai se concretizando e tomando corpo de aplicação, ela pode ser direcionada, adaptada ou adotada por um órgão diretor para mediar a sua execução na prática. Segundo, Maria A. S. Franco (2005: 487):

A Pesquisa-ação deve partir de uma situação social concreta a modificar e, mais que isso, deve se inspirar constantemente nas transformações e nos elementos novos que surgem durante o processo e sob a influência da pesquisa.

Sendo assim, o propósito da Pesquisa-ação é estabelecer mecanismos de intervenções para com problemas sociais, possibilitando um progresso aos impasses enfrentados em um determinado local, região ou grupos de pessoas, ampliando conhecimentos sobre o local estudado, acrescentando informações ou promovendo uma intervenção inovadora. Logo, ela é estruturada mediante “(...) aplicações e desenvolvimentos diferentes do ciclo básico da investigação-ação, exigirão ações diferentes em cada fase e começarão em diferentes lugares” (Tripp, 2005: 446), atendendo às dificuldades, limitações e delicadeza do objeto de estudo. Portanto, o intuito é apontar para as consequências e soluções do problema, articulando relações entre eles. De acordo com Tripp (2005: 446): “A solução de problemas, por exemplo, começa com a identificação do problema, o planejamento de uma solução, sua implementação, seu monitoramento e a avaliação de sua eficácia”.

Segundo Liana F. Costa, Maria A. Ribeiro, Maria A. Penso e Tânia M. C. de Almeida (2018), é necessário que o cientista, além da familiaridade e conhecimento sobre o tema proposto e objeto de estudo, possa dispor do apoio de agentes sociais, entidades ou instituições, para melhor viabilizar a interlocução no transcorrer da pesquisa e aplicação do projeto, pois isso facilita maiores informações e possíveis reflexões inovadoras sobre o objeto, visto que, quanto mais informações melhor será o resultado final, ou seja, sua intervenção2.

O conjunto de entendimentos e o corpus da pesquisa devem decorrer das próprias informações do meio que se pretende realizar a intervenção, mediante o conhecimento do todo, levando em conta a objetividade e subjetividade que deve ser incorporada pelo cientista, isto é, há uma relação imediata quer pelo pesquisador e pesquisado, quer pela pesquisa empírica e intervenção. Franco (2005) aponta três dimensões que caracterizam de modo geral a Pesquisa-ação:

1) dimensão ontológica: referente à natureza do objeto a ser conhecido; 2) dimensão epistemológica: referente à relação sujeito-conhecimento; 3) dimensão metodológica: referente a processos de conhecimento utilizados pelo pesquisador. (Franco, 2005: 489)

Desse modo, de acordo com David Tripp (2005: 448): “a metodologia de Pesquisa-ação deve sempre ser subserviente à prática, de modo que não se decida deixar de tentar avaliar a mudança por não se dispor de uma boa medida ou dados básicos adequados”. Logo, “ela coleta evidências a respeito de suas práticas e pressupostos críticos, crenças e valores subjacentes a elas” (Elliot, 2000 apud Tripp, 2005: 449), com intuito de “gerar, com e pelos sujeitos pesquisados, novos conhecimentos e ações coletivas que buscam transformar uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades e injustiças sociais” (Barbosa; Giffin, 2007: 551). A Pesquisa-ação seria, portanto, um método de coleta de dados, análise de dados e intervenção na realidade social.

Cabe destacar a importância da Pesquisa-ação ou do Estudo-ação no cenário latino-americano. Fals-Borda (1973) destacou a atuação de sociólogos, antropólogos, economistas e historiadores colombianos para colocar em prática as teorias sociológicas, através de novas metodologias que aliassem pesquisa científica e transformação da realidade social. As propostas de Fals-Borda serviram para fortalecer a figura do pesquisador-militante, que mantém seu compromisso com a ciência, mas compromete-se, sobretudo, com os povos que estuda - os quais considera como sujeitos e interlocutores (e não meros objetos científicos). A contribuição do autor centra-se, sobretudo, na transformação social do ponto de vista da luta de classes, mas, pode servir de inspiração para a Pesquisa-ação do ponto de vista, também, feminista.

Análise dos Resultados

Etapas da Pesquisa

Ao realizarmos a pesquisa empírica, partimos da dedução de que o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação são considerados metodologias científicas. Para isto, buscamos de forma descritiva, pormenorizar as duas metodologias a partir de bases teóricas (o que foi apresentado anteriormente). Em seguida, realizamos um levantamento quantitativo bibliométrico para mapear quais são as metodologias utilizadas pelas/os estudiosos de gênero. Por fim, empreendemos reflexões qualitativas para compreender a forma como o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação vem sendo utilizados, cumprindo, dessa forma, com os objetivos de: (1) descrever o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação e (2) analisar o quanto e como essas perspectivas estão sendo utilizadas nos Estudos de Gênero da América Latina.

A partir da metodologia bibliométrica, empregamos alguns instrumentos que facilitaram a nossa compreensão. Inicialmente, a pesquisa bibliográfica forneceu o suporte para compreendermos as metodologias aqui estudadas, e para a execução da pesquisa. Em seguida, realizou-se o Estudo Bibliométrico nas revistas Cadernos Pagu (da Universidade Estadual de Campinas São Paulo) e Estudos Feministas (da Universidade Federal de Santa Catarina), durante os seis últimos anos (2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), na seção dos artigos. A escolha dessas duas revistas se deu a partir dos critérios da sua posição no Ranking SJR (Scientific Journal Rankings - SCImago) do Banco de Dados SCOPUS. Ao pesquisar as revistas indexadas como Social Sciences / Gender Studies / Latin America, essas duas destacaram-se. A revista Cadernos Pagu apresenta o índice 0.356 (SJR - ranking internacional) e está na posição A1 (a melhor posição do Qualis-Capes - ranking brasileiro). A revista Estudos Feministas apresenta o índice 0.208 (SJR - ranking internacional) e está na posição A1 (a melhor posição do Qualis-Capes - ranking brasileiro). Ambas, apesar de brasileiras, apresentam publicações de autores de toda a América Latina, incluindo colombianas, argentinas, chilenas, uruguaias, peruanas, mexicanas, entre outras, demonstrando a pluralidade de nacionalidades representadas nas revistas selecionadas. No levantamento bibliométrico foi possível quantificar quais eram as metodologias mais utilizadas e os temas com maior destaque.

Dessa forma, a pesquisa bibliométrica teve o intuito de gerar dados quantitativos sobre as publicações que utilizaram as variáveis escolhidas para a pesquisa. As variáveis em um estudo bibliométrico podem ser diversas, desde temas-chave dos artigos, áreas de conhecimento que são abordadas pelas revistas, quantidade de pesquisadores, os autores mais citados, bem como, as metodologias utilizadas- como é o caso da nossa pesquisa. Dessarte, a pesquisa bibliométrica proporciona um leque de opções para pesquisarmos e descobrirmos como e de que forma está sendo teorizado e pesquisado o conhecimento nas diversas áreas de conhecimento (Kamler; Thomson, 2015).

A partir disso, foi realizada a leitura de 188 artigos da revista Estudos Feministas e 107 artigos da revista Cadernos Pagu (publicados até o mês de agosto), totalizando 295 artigos. Nessa leitura, priorizou-se os resumos, a introdução e as seções metodológicas dos artigos, buscando-se a metodologia utilizada de forma mais explícita. Destacamos que muitos artigos, infelizmente, não apresentam sua metodologia de forma clara, o que dificultou este estudo bibliométrico, bem como, prejudica a própria legitimidade do conhecimento científico da área dos Estudos de Gênero. Entendemos que, mesmo com intuito de criticar as metodologias tradicionais e propor novas, precisamos estar em diálogo com a ciência para buscar reconstruir e debater epistemologias, teorias e metodologias, desde dentro.

Mesmo com alguma dificuldade em identificar de forma explícita a metodologia de alguns artigos, a leitura possibilitou que os classificássemos segundo as metodologias utilizadas. Desse modo, encontramos as seguintes metodologias: (a) Análise de Discurso/Conteúdo, incluindo análise de mídia, literatura, documentos históricos, focando em uma análise estrutural, analisando a partir da linguagem as relações sociais e de poder existentes (Lee; Petersen, 2015); (b) Análise de Percepções e Emoções, que analisa a percepção que os sujeitos pesquisados apresentam perante o tema, muitas vezes incluindo Análise de Conteúdo, mas com enfoque mais subjetivo; (c) Estudo de Caso, que foca em casos específicos como forma de exemplo de um todo maior e busca dar foco em fenômenos sociais mais complexos, como análises de políticas públicas (Chadderton; Torrance, 2015); (d) Pesquisa Bibliográfica, na qual estão incluídos os Ensaios Teóricos, as Revisões Bibliográficas e os Estudos Bibliométricos; (e) Etnografia, a qual apresenta uma perspectiva antropológica, visando compreender a agência dos sujeitos e da cultura na qual estão inseridos a partir de observações participantes (Frankham; Macrae, 2015); (f ) Survey, na qual classificamos todas as pesquisas estatísticas, baseadas em dados secundários ou primários; (g) História de Vida em que é relatada a história de um ou mais sujeitos; (h) Pesquisa Comparada, que compara duas variáveis, sobretudo no tempo; (i) Pesquisa-ação, que une a teoria com a prática de transformação social; (j) Conhecimento Situado, que parte da experiência do próprio pesquisador como forma de problematização; (k) Pesquisa Experimental, mais utilizada na área de Psicologia, sugere a observação de um experimento controlado; e, por fim, (l) elaboramos a categoria Multi-métodos para os artigos que utilizavam mais de uma metodologia.

Resultados Encontrados

Ao realizarmos a pesquisa, nos propomos a encontrar dados que fomentam a discussão sobre o uso de metodologias científicas, especificamente o Conhecimento Situado e Pesquisa-ação. Dessa forma, mediante a análise dos dados, e considerando a importância do uso de metodologias em pesquisas científicas, observamos que houve um baixíssimo uso do método de abordagem do Conhecimento Situado e do método de pesquisa (recolha e análise de dados) da Pesquisa-ação. A seguir, apresentamos os gráficos demonstrando o total de artigos (no eixo Y) encontrados com a metodologia (descrita no eito X).

Na revista Estudos Feministas, que apresentou no total 188 artigos, foram identificadas onze (11) metodologias diferentes. Ao visualizar o gráfico, veremos que a Análise de Discurso/Conteúdo apresentou 49 artigos e a Etnografia, 25 artigos, se configurando como as metodologias mais utilizadas. Entretanto, encontramos na revista um (1) artigo com a metodologia do Conhecimento Situado e três (3) artigos de Pesquisa-ação, os quais discutiremos na próxima seção.

Fonte: elaboração das autoras

CUADRO 1: Metodologias utilizadas na revista Cadernos Pagu 

Fonte: elaboração das autoras

CUADRO 2: Metodologias utilizadas na revista Estudos Feministas 

A revista Cadernos Pagu apresentou 107 artigos no total, os quais tiveram nove (9) metodologias de pesquisa. Assim como a revista anterior, Cadernos Pagu apresentou maior número de artigos com Análises de Discurso/Conteúdo (37 artigos) e Etnografia (23 artigos), porém não encontramos nenhum artigo com as metodologias do Conhecimento Situado e Pesquisa-ação.

Ressalta-se que a Análise de Conteúdo, conforme proposta por Bardin (2011) é um método que reforça a objetividade científica, propondo, inclusive, métricas de quantificação dos discursos, tendo sido bastante consagrado por sua cientificidade. No entanto, críticas recentes à Análise de Conteúdo vêm defendendo a Análise de Discurso, que incorpora às discussões de poder e ressalta o olhar do pesquisador na interpretação das mensagens (Rocha; Deusdará, 2005).

A Etnografia também é um método tradicional, central nas pesquisas antropológicas, tendo sido criada no período colonial para descrever, com objetividade, os nativos das coloniais. Por um lado, não se pode negar a origem colonialista de Etnografia (Frankham; Macrae, 2015); por outro lado, cabe destacar a emergência recente da Etnografia Feminista (entre outras etnografias críticas), que discute o olhar pretensamente neutro dos antropólogos clássicos (homens brancos que estudavam nativos) e investe na perspectiva situada, engajada e militante de antropólogas feministas que tratam suas interlocutoras como sujeitos e não meros objetos científicos (Gregório-Gil, 2014).

Entende-se, portanto, que a Etnografia e a Análise de Conteúdo, as metodologias mais utilizadas nas revistas pesquisadas podem ser enquadradas em uma perspectiva científica mais tradicional e consagrada - ainda que seja relevante destacar que ambas estão passando por processos de disputas e transformações.

Apenas a revista Estudos Feministas apresentou artigos com o uso da metodologia de pesquisa do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação. Neste momento, nos deteremos a analisar os artigos encontrados, mostrando suas características e peculiaridades que reforçam o seu caráter engajado e seu compromisso com a desmistificação da ciência neutra e racional.

Conhecimento Situado

O artigo “Uma “perspectiva parcial” sobre ser mulher, cientista e nordestina no Brasil” da autora Vivian Matias dos Santos, publicado na revista Estudos Feministas, no ano de 2016, apresenta como metodologia científica o Conhecimento Situado. A autora apresenta seu artigo com o seguinte resumo:

Este artigo propõe compreender como mulheres cientistas estão inseridas na produção de conhecimento científico e tecnológico em universidades públicas federais específicas da Região Nordeste do Brasil. A realização de entrevistas e observações diretas nos seus cotidianos de trabalho tornaram possível a construção de reflexões alicerçadas nas experiências sociais de mulheres cientistas pertencentes a dois grandes ramos de saberes: humanidades e as ciências supostamente “exatas”. Por meio desta abordagem, situada e parcial, sobre a inserção e permanência de mulheres nas ciências contemporâneas, pudemos observar a conservação de antigas questões que ainda se colocam como prementes na compreensão feminista e de gênero das ciências. (Santos, 2016: 801)

Dessa forma, a autora já deixa clara, em seu resumo, a abordagem situada e parcial que utiliza como meio de metodologia científica. Além disso, é visível durante o texto sua interferência situada na pesquisa, ao passo que ela faz parte do “ser mulher”, “ser nordestina” e “ser cientista”. Dessa forma, Santos (2016) parte da sua experiência pessoal e realiza entrevistas e observações diretas, buscando vozes de experiências distintas e de áreas científicas distintas, que compartilham do seu interesse de pesquisa. Dessa maneira, ela proporciona um diálogo com mulheres das Ciências Sociais, da Física, da Engenharia de Pesca, da Antropologia, Museologia, Ciência Política e Serviço Social.

Além disso, é válido destacar que a ideia de que o Conhecimento Situado não tem como princípio a busca pela generalização, ou como criar uma teoria em específico. Com isso, podemos compreender que a autora não busca criar teorias que vão ser lidas e aplicadas em outros contextos, mas apenas relatar experiências específicas e privilegiadas, como destaca Haraway (1995), no momento que estas são únicas e ditas por quem as vivenciou, deixando pistas ou reflexões para pensar outros contextos. Nesse sentido, Santos (2016: 804) descreve a sua pesquisa:

Por meio deste olhar, situado e parcial, não pretendemos edificar generalizações, pois as reflexões aqui construídas tomam como referência trajetórias de mulheres específicas, que não compõem uma amostragem estatisticamente representativa do universo de cientistas nordestinas.

Além desse artigo que explicitamente utiliza o Conhecimento Situado e foi contabilizado em nosso estudo bibliométrico, parece-nos interessante destacar outro artigo, que parece se referir ao Conhecimento Situado como método de abordagem. É o caso do artigo “Trabajo social y estudios de género. Vindicando un espacio científico propio” das autoras Belén Agrela Romero e Amalia Morales Villena, publicado também pela Estudos Feministas, no ano de 2017. Nesse artigo teremos um Pesquisa Bibliográfica, em que as autoras irão refletir sobre o Serviço social (Trabajo Social) como uma profissão generificada. Percebemos o Conhecimento Situado mencionado, de forma indireta, enquanto método de abordagem no primeiro parágrafo da Introdução, quando as autoras descrevem que “Este trabajo deviene de la experiencia de las autoras, profesoras universitarias españolas, quienes desde hace años trabajan a nivel docente y de investigación en los estudios de las mujeres, de género y feministas” (Romero; Villena, 2017: 1).

Dessa maneira, acreditamos que o Conhecimento Situado é uma metodologia e/ou um método de abordagem pouco valorizado e pouco utilizado, logo, buscamos ressignificar sua importância e demonstrar sua relevância para a ciência.

Pesquisa-ação

O artigo intitulado como “Vivenciando o ser mulher em uma mina de carvão” cujas autoras são Fernanda Santos Araujo e Bruna Mendes de Vasconcellos, publicado no ano de 2018, na revista Estudos Feministas, destaca no seu resumo a utilização da metodologia de Pesquisa-ação. Conforme descrito pelas mesmas:

Neste artigo exploramos a vivência de uma mulher engenheira durante um processo de Pesquisa-ação em uma mina de carvão autogestionária em Criciúma (SC). Construímos um relato que não se refuta a evidenciar a reprodução de padrões hierarquizados de gênero, mas cujo foco é situar cenas concretas através das quais complexificamos as relações de poder de gênero - permeadas pela classe e raça - e damos visibilidade às atitudes opositivas performadas pelas mulheres. Esse trabalho é fruto de um diálogo entre a engenheira que esteve nas minas e uma engenheira pesquisadora das relações de gênero, cujos caminhos se cruzam na militância por uma engenharia contra-hegemônica. Inspiradas pelas epistemologias feministas, lançamos luz aqui sobre margens e estratégias de resistência pouco visibilizadas e que, no entanto, contribuem na luta cotidiana de desconstrução de relações de poder”. (Araujo; Vasconcellos, 2018: 1)

Nesse sentido, as autoras procuram analisar os relatos de experiências das entrevistadas a partir de uma posição situada e como um ato político, no qual se coloca acima de tudo uma voz, uma identidade social, nacional e histórias particulares e expressivas das mulheres engenheiras. As autoras investigam os diferentes papéis de gênero incorporados no setor de mineração, assim como as relações de poder, “pela qual se propõe a interpretação conjunta do relato de experiência, incorporando nas análises a visão da entrevistadora e da entrevistada” (Araujo; Vasconcellos, 2018: 3).

De acordo com as entrevistas e considerando a realidade das mulheres, as autoras problematizam as próprias posições ocupadas por elas na mineração, as quais sofrem com a falta de reconhecimento e estigma ao estarem em um espaço predominantemente masculino. Essa relação se dava mediante entendimentos “androcêntricos sobre a suposta fragilidade natural feminina” (Araujo; Vasconcellos, 2018: 5). Dessa forma, baseadas na ideia construída de que as mulheres eram inferiores e realizavam os trabalhos mais “leves”, as autoras, a partir de suas experiências e através das vivências das entrevistadas, verificam que essa caracterização do trabalho feminino ocultava “com um véu as desigualdades socialmente moldadas entre os gêneros (Araujo; Vasconcellos, 2018: 6).

Nesse sentido, nota-se que essas observações se desenvolveram devido um interesse particular ponderado das autoras, mediante uma preocupação inerente às suas experiências enquanto engenheiras do setor pesquisado. Isso demonstra que a transformação social, articulada à Pesquisa-ação, nesse caso, foi além de um interesse social, mas de uma experiência pessoal, caracterizada como um problema social de desigualdades e violências, fruto “de uma masculinidade exacerbada, uma exaltação da coragem, da força, da virilidade ancoradas na figura do homem” (Araujo; Vasconcellos, 2018: 9). Para tanto, as autoras evidenciam a força e o poder feminino nesses setores, com intuito de interferir na percepção sobre a mão de obra feminina, reconhecendo nas mulheres a própria “resistência”, condigno “as mais recorrentes expectativas naturalizadas sobre o gênero” (Araujo; Vasconcellos, 2018: 17).

Além disso, temos o artigo “Redes de Enfrentamento da Violência contra Mulheres no Sertão de Pernambuco” das autoras Parry Scott, Fernanda Sardelich Nascimento, Rosineide Cordeiro e Giselle Nanes, publicado também na revista Estudos Feministas, no ano de 2016. O artigo apresenta o seguinte resumo:

Objetivamos analisar as redes institucionais e de interconhecimento acionadas pelas mulheres rurais para enfrentar a violência, em municípios do Sertão de Pernambuco, Brasil. Usando trabalho de campo, entrevistas e discussões em grupo, numa pesquisa colaborativa com o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central, apresentamos a existência de porosidade entre as redes, que repercute nas lógicas operacionais político-legais de enfrentamento. Ambas as redes mantêm posturas contraditórias, de ajuda/suporte e, também, de recusa de apoio/assistência para evitar e sair das situações de violência. Propostas de implementação de políticas para as mulheres do campo e da floresta devem atentar para esses elos de porosidade que vulnerabilizam e ferem possibilidades de garantia dos direitos humanos das mulheres. (Scott; Sardelich-Nascimento; Cordeiro; Names, 2016: 851)

As autoras abordam, através da Pesquisa-ação, como a violência contra as mulheres se configura no meio rural e como as mesmas buscam tratar isso, a partir de entrevistas e discussões grupais, onde foi possível analisar as percepções das mulheres perante o tema trabalhado, ao mesmo tempo em que buscou-se transformar essa realidade. O artigo se apresenta enquanto Pesquisa-ação, pois parte de uma ação que busca a compreensão e a transformação da prática. Assim, realizam uma busca pela “rede institucional” que ampara as mulheres vítimas de violência. Para isso, foi realizado uma análise que englobou “três conjuntos de dados produzidos na região do Sertão Central de Pernambuco” (Scott et al., 2016: 852), mediante encontros de grupos para discussões, entrevistas com profissionais próprios de redes institucionais e entrevistas com mulheres que sofrem com a violência. A partir das informações adquiridas, busca-se interferir na realidade estudada.

O terceiro artigo encontrado com a metodologia de Pesquisa-ação se chama: “Contando estórias e inventando metodologias para discutir a violência contra as mulheres” na autoria de Érika Cecília Soares Oliveira, publicado no ano de 2014, também na revista Estudos Feministas. O artigo apresenta o seguinte resumo:

Neste artigo discorro sobre a importância de se criar metodologias alternativas para trabalhar com a violência contra as mulheres dentro do campo da psicologia. Produções artísticas como a literatura, o teatro, a contação de histórias, entre outras, possibilitam o questionamento de identidades fixas e binárias na regulação de gênero e podem permitir a reconstrução de normas identitárias por meio de enunciados e gestos inéditos, ensejadores de novos mapas que abarquem as diferenças e refutem as normalizações. Trago a possibilidade de pensar a inserção do/a psicólogo/a nesse debate, amparada em dispositivos artísticos como estratégias de resistência e construção de subjetividades dissidentes, e exemplifico essa narrativa trazendo a estória de Branca e José Pássaro Volante, personagens da obra de Lídia Jorge em “O dia dos prodígios”. (Oliveira, 2014: 195)

Nesse sentido, as autoras tem como propósito, a partir de literaturas, teatros e narrativas, dar voz às categorias sociais marginalizadas que, majoritariamente foram silenciadas no contexto social. De acordo com Oliveira (2014), partindo desse mecanismo de interação, o propósito é tentar solucionar problemas referentes às identidades e às diferenças de gênero, por meio da “produção de uma linguagem que desconstrua as definições e conceitos que prendem as pessoas a uma subjetividade sujeitada” (Oliveira, 2014: 196). Dessa forma, mediante essa interação inovadora, a pesquisa buscou discutir questões como violência, resistência, identidade sexual, práticas opressoras, padrões, feminilidades, masculinidades, entre outros, fundamentado em vivências e experiências de personagens que compõem o artigo.

Podemos concluir que ao examinar 295 artigos, encontramos apenas três (3) artigos querealizaram uma Pesquisa-ação e um (1) que utilizou o Conhecimento Situado. Fato que demonstra a necessidade de divulgar, debater e fomentar o uso destas metodologias, que partem das rupturas teóricas e epistemológicas feministas e decoloniais.

Conclusões

Ao finalizarmos o presente artigo, evidenciamos a importância de aprofundar o debate sobre as metodologias do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação, bem como, a necessidade de fomentar a sua utilização, a fim de fortalecer os Estudos de Gênero, Feministas e Decoloniais Latino-americanos.

O Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação emergem, a partir das rupturas epistemológicas da década de 1960, como contraponto a uma ciência que se apregoava como neutra e objetiva, mas, ocultava um sujeito do conhecimento branco e europeu. Apesar dos inúmeros avanços na Teoria e Epistemologia Feminista e Decolonial, apresentadas no decorrer do artigo, observou-se que a prática da pesquisa permanece eurocentrada e patriarcal, utilizando os mesmos métodos tradicionais da Ciência Ocidental hegemônica.

Ao realizarmos um Estudo Bibliométrico, com a finalidade de analisar o quanto e como estas perspectivas metodológicas estão sendo utilizadas nos Estudos de Gênero da América Latina, encontramos um número realmente baixo de utilização destas metodologias. Foram mapeadas as revistas Cadernos Pagu (0.356 SJR) e Estudos Feministas (0.208 SJR), durante os seis últimos anos (2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), em suas seções de artigos. Os resultados apontaram que dos 107 artigos publicados na Pagu nos últimos anos, nenhum utilizou a Pesquisa-ação e o Conhecimento Situado como método (de forma explícita). Com relação a Estudos Feministas, dos 188 artigos analisados, três utilizaram a Pesquisa-ação e um o Conhecimento Situado (de forma explícita). Destacamos que é possível que autoras como Donna Haraway e Sandra Harding tenham sido citadas no transcorrer de algum artigo que não tenha sido identificado nesta pesquisa, pois, em nosso Estudo Bibliométrico, a leitura centrou-se na identificação metodológica dos artigos, focando-se em seus resumos, introdução e seção metodológica. Sendo assim, podemos afirmar que essas metodologias não foram utilizadas, de forma explícita, na revista Cadernos Pagu e foram pouco utilizadas na revista Estudos Feministas - a despeito da possibilidade ou não de ter havido alguma referência a essas autoras (Haraway e Harding) que possa ter passada despercebida em nossa metodologia bibliométrica.

Para além da evidência quantitativa da utilização dessas metodologias, empreendemos uma análise qualitativa acerca de como essas perspectivas metodológicas foram utilizadas. Nesse sentido, percebemos que o Conhecimento Situado aparece como um Método de Abordagem (substituindo outros métodos, como o Hipotético-dedutivo ou o Indutivo); enquanto a Pesquisa-ação aparece como um Método de Pesquisa (de recolha e análise dos dados). Ambos foram utilizados pelas autoras traduzindo um conhecimento científico engajado e comprometido com a transformação da realidade social. Ambos estão sendo subutilizados.

Por fim, reforçamos a importância de Estudos Bibliométricos que permitam realizar balanços das áreas dos Estudos de Gênero, Feministas e Decoloniais, para que assim seja possível conhecê-las melhor e fortalecê-las. Ressaltamos a relevância dessas áreas do conhecimento científico, tanto em termos epistemológicos, teóricos, metodológicos e empíricos, quanto, para a transformação da realidade social e para a construção de um mundo mais justo. Terminamos, reafirmando nosso posicionamento situado enquanto feministas, estamos situadas em grupos e projetos de pesquisa sobre gênero e feminismo, e, muitas vezes, encontramos barreiras para afirmarmos nossa legitimidade acadêmica, enfrentando discursos de neutralidade científica por parte de homens brancos.

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* Este artigo se insere no Projeto de Pesquisa intitulado “Metodologias de Pesquisa Feminista e Decolonial: possibilidades e desafios” (2018-2019), desenvolvido na e financiado pela Universidade Federal de Santa Maria (Brasil), coordenado pela Profª Drª Mariana Selister Gomes, o qual conta com a colaboração de oito alunas de iniciação científica, às quais manifestamos nosso agradecimento: Eduarda Racoski Cortelini, Kalyna Morais Dutra, Maria Eduarda Oliveira Dall’Áqua, Nuncia Gabriele Guimarães Escobar, Sabrina Chiuza e Sarue Klusener Vezaro. O projeto está realizando o levantamento bibliográfico de mais quatro periódicos internacionais, para além dos periódicos latino-americanos aqui analisados. Além de mapear o uso do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação (cujos resultados estão sendo apresentados neste artigo), este esse projeto está classificando as metodologias encontradas através da dicotomia clássica das Ciências Sociais - Estrutura versus Sujeito - com a finalidade de propor uma nova metodologia, que rompa com esta essa dicotomia e que seja feminista, decolonial, situada e de ação, a qual será debatida e divulgada em breve.

1O movimento Pós-Colonial surge em meados da década de 1960, a partir dos Estudos Culturais e da New Left Review, na Inglaterra, buscando analisar e denunciar a permanência de elementos culturais mesmo no período histórico pós-colonial. Um pouco mais tarde, surge na América Latina o movimento Decolonial, com uma crítica mais contundente a todas as marcas do colonialismo e uma busca pela superação.

2É fundamental que o cientista no decorrer da pesquisa leve em conta as percepções dos sujeitos acerca da realidade que pretendem modificar, para assim construir a “zona de sentido”, isto é, o conhecimento da realidade a partir de vivências e experiências de sujeitos que compõem o campo de estudo.

Cómo citar/How to cite: Selister-Gomes, Mariana; Quatrin-Casarin, Eduarda; Duarte, Giovana (2019). O conhecimento situado e a pesquisa-ação como metodologias feministas e decoloniais: um Estudo Bibliométrico. Revista CS, 29, 47-72. https://doi.org/10.18046/recs.i29.3186

Recebido: 15 de Outubro de 2018; Aceito: 26 de Julho de 2019

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