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Forma y Función

versão impressa ISSN 0120-338X

Forma funcion, Santaf, de Bogot, D.C.  n.19 Bogotá jan./dic. 2006

 

 

A metáfora como factor de textualidade em Ensaio Sobre a Lucidez
de José Saramago

The Metaphor as a Textuality Factor in Ensaio Sobre a Lucidez by José Saramago

 

Olívia Maria Figueiredo

Universidade Do Porto - Portugal
Faculdade De Letras E mail. oliviaf@letras.up.pt



Resumo

A Metáfora como Factor de Textualidade é uma reflexão sobre o modo como o sistema da língua se operacionaliza no discurso. Neste caso concreto, como é que na obra literária Ensaio sobre a Lucidez as expressões idiomáticas (expressões compósitas) são transformadas de novo em expressões metafóricas (expressões componenciais). A incidência da análise focaliza-se na apreciação de como a expressão idiomática reganha a sua energia criadora e o impulso primeiro que a pôs em circulação. Tendo por fundamento as teorias da anáfora (ampliada) e da reconceptualização, mostra-se que tal reconversão se vai fazendo ao longo da obra num processo de ampliação do enfoque cognitivo de que o recurso às implicaturas é um traço necessário para a compreensão das explicaturas. O que é preciso é que o leitor seleccione o contexto oportuno para pertinentemente entender o sentido comunicado. E o sentido comunicado não é mais do que a questionação da relação do homem com o mundo por meio da amplitude de cenários metafóricos que só a língua permite instaurar.

Palavras chaves: Metáfora; Expressão idiomática; Anáfora; Reconceptualização.


Abstract

The Metaphor as a Textuality Factor is a reflection on how the language system is made operational in discourse. In this case the way idiomatic expressions (compound expressions) are transformed again into metaphoric expressions (componential expressions) in the literary work Ensaio sobre a Lucidez is studied. The analysis focuses on the assessment of how an idiomatic expression recovers its creative power or its original drive which brought it into being. Within the framework of the (expanded) theory of anaphora and reconceptualization, it is shown that such a restructuring takes place throughout the literary work in a process of cognitive widening, whereby recourse to implicatures is a necessary feature to understand explicatures. What is required is for the reader to choose the right context to understand the conveyed sense. And the conveyed sense is but the questioning about the relation between man and the world by the widening of metaphoric scenarios which can only be established through language.

Key Words: Metaphor, Idiomatic Expression, Anaphora, Reconceptualization.


Senhor comissário, eu não passo de um inspector da polícia,
que talvez não chegue nunca a comissário, mas aprendi da
experiência deste ofício que as meias palavras
existem para dizer o que as inteiras não podem
,
(Saramago, 2004: 274)

Ensaio Sobre a Lucidez é um romance de ditos, de palavras meias e inteiras, de ecos, de vozes. De vozes e de pontos de vista de instâncias que não têm o mesmo ângulo de visão nem o mesmo olhar de consciência sobre os factos que estão a decorrer sob os seus olhos num certo país imaginário, num dia de eleições e para os quais cada um, personagens e narrador, procura referenciar e avaliar à sua maneira.

Primeiro, porque "não havia na sala um só eleitor", (Saramago, 2004: 13); depois, porque quando os eleitores se resolveram a ir votar, houve uma significativa votação em branco. Oitenta e três por cento dos votos brancos pôs o poder político em alvoroço e a pensar actuar repressivamente contra aqueles que tiveram o atrevimento de tal loucura, culpando-os da situação "Vós, sim, sois os culpados, vós, sim, sois os que ignominiosamente haveis desertado do concerto nacional para seguirdes o caminho torcido da subversão […] (Saramago, 2004: 97).

Romance de tese sobre a fragilidade dos regimes democráticos para resolver situações imponderáveis, como a da grande percentagem dos votos em branco, esta obra, em termos linguísticos, discursivos e estilísticos, espelha de forma original a relação entre tópico das conversas dos vários actores em presença, com destaque para as reflexões de tipo argumentativo e irónico, e as zonas discursivas, lugares de percepções, de pensamentos representados, de crenças e enunciações.

Se é verdade prever que um contexto referencial, aqui a odisseia de um dia de eleições com um resultado surpreendente do voto branco, influi na construção do modelo mental do enunciado, também é razoável esperar que tal contexto possibilite proporcionar a compreensão imediata e mediata das ideias dos enunciadores. Mas é necessário considerar que o contexto linguístico imediato apreende uma só parte do contexto; o contexto cognitivo, situacional, ideológico necessitam, então, de um processamento adicional, no geral de tipo inferencial, de forma a o leitor apreender a outra parte da representação conceptual do enunciado.

A novidade deste romance, em termos discursivos, é o papel de excelência dado às redes metafóricas que pontuam todo o texto. As metáforas apresentam-se como os amplificadores cognitivos que incrementam o perfil de fenómenos cognoscíveis. O recurso original que assegura a progressão romanesca assenta na reavaliação da identidade dos referentes por meio da ênfase na metáfora conceptual e na imagem metafórica como instrumento para conformar a consciência individual. A utilização da metáfora como veículo do tópico, cuja informação só é em parte codificada na informação lexical e sintáctica no enunciado, significa que o processamento metafórico não depende da activação de associações pré-existentes entre os termos do enunciado, mas que tais associações se recriam em virtude da integração de cada nova informação. Isto quer dizer que há sempre uma tensão metafórica entre o tópico e o veículo (por exemplo na metáfora a mulher é uma rosa, "mulher" é o tópico e "rosa" é o veículo"), dada a sua incompatibilidade semântica. Mas se a propriedade de incompatibilidade provoca tensão entre o tópico e o veículo, a propriedade de cancelamento pacifica o jogo entre ambos, facilitando a inteligibilidade da metáfora de acordo com o campo de referência inerente à comunidade semântica. De facto, as regras do jogo semântico indicam que só algumas propriedades do veículo são aplicáveis ao tópico, enquanto outras características resultam irrelevantes para a compreensão da metáfora. No exemplo dado, no veículo "rosa" interessam algumas propriedades como "a beleza, o cheiro, a cor" e não outras como "os espinhos, as folhas". A hipótese do cancelamento sustenta que a metáfora é consequência da aplicação parcial de alguns atributos semânticos do veículo ao tópico, enquanto outros atributos são cancelados (Cohen, 1979). Saramago acantona-se nestes dois postulados para daí tirar dividendos: cancela nas metáforas solidificadas alguns atributos já socialmente partilhados e activa e selecciona outros com diferentes graus de proeminência, de acordo com o contexto.

Como pensa D. E. Rumelhart (1979), outorga-se à informação contextual um papel decisivo, mas também aos conhecimentos e crenças de cada um. Sendo que, para G. Achard-Bayle (2001), os universos de crença, ao inscreverem-se na teoria dos mundos possíveis, são uma interpretação subjectiva que resulta da assimilação e categorização da experiência na constituição dos conceitos abstractos. Outros autores, como G. Lakoff e M. Johnson (1980, 1999), já tinham assumido mostrar como boa parte da nossa experiência quotidiana do mundo e das nossas relações sociais estão estruturadas metaforicamente.

Sem pretender teorizar sobre a metáfora, apenas aqui se destaca a ideia de U. Eco (1984: 88) quando diz que a linguagem é por natureza e originariamente metafórica e que é este potencial metafórico que define o homem como animal simbólico. Esta simbologia nos há-de levar a pensar que a linguagem não se limita a reflectir a realidade, mas possibilita a cada um a apreensão de uma variedade de formas de representação recriada e recreada do mundo.

Vejamos então, e tendo por pano de fundo o ambiente romanesco de Ensaio Sobre a Lucidez, como é alinhado o fio condutor da narrativa quando sabemos que este romance não se sustenta nas tensões em jogo das coordenadas clássicas das categorias da narrativa (acção, tempo e espaço). Sendo um romance de tese de um postulado de ideias, e dada a presença de crenças que se cruzam e de enunciações que se encadeiam, resta ao leitor-interpretante captar as intenções que estão por detrás de cada enunciação, seja ela expressa de modo directo, indirecto ou irónico. A teoria da intencionalidade de J. Searle (1983), de que o comportamento linguístico humano é intrinsecamente "intencionalista" e de que nos estados mentais se distinguem um conteúdo proposicional e uma força ilocutória, vem na sequência de posições anteriores (Searle, 1979) quando uma década antes afirmava ser o significado linguístico determinado pelo sistema da língua e o significado comunicativo determinado pelo contexto em que se utiliza esse sistema. No essencial, o que se deverá destacar é o significado que o enunciador confere às suas expressões linguísticas concretas em circunstâncias particulares de uso, de acordo com as condições de sinceridade e de satisfação.

Estes princípios pragmáticos vão orientar o leitor no jogo da descoberta de um sistema de implicações que muitas vezes não se baseia no conteúdo semântico da categoria léxica correspondente, mas num sistema de tópicos ligados ao referido, numa atitude de compreender o que é que as personagens e o narrador querem dizer, o que dizem, se dizem mais, ou dizem diferente, do que as suas palavras expressam. Isto vale tanto para as expressões metafóricas Em geral como para as expressões metafóricas convencionais (idiomáticas), expressões irónicas, actos de fala indirectos.

Confinaremos a análise do corpus às expressões idiomáticas, sendo entendidas estas como primitivos semânticos que não se regem pelo princípio da composicionalidade semântica, mas que resultaram de metáforas que, semelhantemente a elas, poderão ter uma interpretação literal ou metafórica se enquadrada nos contextos adequados.

A este processo de "retorno às origens" de uma expressão idiomática em expressão metafórica (após ter sofrido um processo de lexicalização e de assimilação ao sistema da língua, reganha a sua energia criadora e o impulso primeiro que a pôs em circulação), chama Kittay (1987) de processo de reconceptualização. Para em contexto, se determinarem os critérios de identidade referencial transconceptual, critérios que permitam afirmar que o referente se mantém inalterável, recorre este mesmo autor às teorias da referência anafórica para concluir que a expressão metafórica está em relação directa e vicária com a expressão antecedente ou que a expressão metafórica se relaciona com aquilo que o enunciador pensa ou crê. O conjunto de crenças pertinentes para a interpretação de um referente pode considerar-se como um texto ampliado, isto é, como um conjunto de expressões que, sem serem proferidas, determinam o âmbito pragmático referencial no qual se inscreve a expressão enunciada. A referência metafórica sempre é, segundo esta autora, referência anafórica, quer a sua resolução se faça num espaço intralinguístico ou se faça por indução a partir de inferências acerca dos saberes partilhados e das crenças do enunciador. O que é necessário é que haja o domínio do conjunto de tópicos partilhados pela comunidade leitora sobre o particular.

Os excertos seguintes, retirados da obra em análise, exemplificam esse modo criativo de, a partir da unidade fixa, lexicalizada, convertê-la em expressão metafórica conceptual ou simplesmente em imagem metafórica. Este processo de reconceptualização implica que a expressão deixa de ter uma estrutura compósita e um significado socialmente fixado para passar a requerer o conhecimento do significado dos seus elementos componentes, de acordo com o contexto de uso.

Em termos cognitivos, e baseados na teoria de relevância de Sperber y Wilson (1986), que consideram a metáfora como um caso extremo de uso interpretativo, podemos ver neste processo transformacional a repercussão na criação de um conceito ad hoc que contribui para a explicatura do enunciado em termos de quantidade de informação que agora é permitido incrementar por meio de inferências:

    Ainda meia hora não tinha passado quando o presidente, inquieto, sugeriu a um dos vogais que fosse espreitar a ver se vinha alguém, se calhar apareceram eleitores, mas deram com o nariz na porta que o vento havia fechado, e logo se foram dali a protestar (Saramago, 2004: 14)

A expressão "dar com o nariz na porta", como expressão convencionalizada que é, tem um sinónimo no sistema da língua que se pode parafrasear como "não encontrar alguém ou alguma coisa no lugar onde era suposto estar". O pronome relativo "que" ao retomar como antecedente não toda a expressão idiomática mas somente o segmento "porta" para o fazer figurar como objecto directo da oração relativa, desestrutura o compósito da expressão idiomática que assim deixa de o ser, transformando-a novamente numa expressão de raiz metafórica. Com este procedimento, está aberto, de forma mais ampla, o enfoque cognitivo da comunicação humana.

    é este o meu plano, disse, submeto-o ao vosso exame e à vossa discussão, mas escusado seria dizê-lo, conto que seja aprovado por todos, os grandes males podem grandes remédios, e se é verdade que o remédio que vos proponho é doloroso, o mal que nos ataca é simplesmente mortal. (Saramago, 2004: 78)

A expressão "os grandes males pedem grandes remédios" sendo uma variante da expressão idiomática "para grandes males, grandes remédios" não deixa de ser também uma expressão idiomática devido à conexão directa e regular e ao grau de convencionalização. Também aqui se verifica a metaforização dos conceitos "remédio" e "mal" por meio da atribuição de uma estrutura semântica. Para captar estes atributos metafóricos a partir de expressões estereotípicas, o leitor terá de reconhecer a intenção comunicativa, a que Grice (1989) chamou significado do falante e Sperber y Wilson (1986) intenção comunicativa. O que é relevante destacar é que o intencionalmente comunicado comporta a combinação de três elementos sem os quais não se gera eficazmente comunicação: um significado linguístico, um contexto e um princípio, o da pertinência, que permitam seleccionar o contexto oportuno e obter o sentido comunicado.

    Mudar de lugar as palavras representa, muitas vezes, mudar-lhes o sentido, mas elas, as palavras ponderadas uma por uma, continuam, fisicamente, se assim posso exprimir-me, a ser exactamente o que haviam sido, e portanto, Nesse caso, permita-me que o interrompa, senhor primeiro-ministro, quero que fique claro que a responsabilidade das mudanças de lugar e de sentido das minhas palavras é unicamente sua, eu não meti para aí prego nem estopa. Digamos que pôs a estopa e eu contribuí com o prego, e que a estopa e o prego juntos me autorizam a afirmar que o voto em branco é uma manifestação de cegueira tão destrutiva como a outra. (Saramago, 2004: 176)

"Não meter prego nem estopa" tem por sinónimo, no sistema da língua "não ter responsabilidade no facto". Também neste caso, se subverteu o grau de convencionalidade do conceito histórico e cultural da expressão em apreço. Recupera-se da expressão idiomática os termos "estopa" e "prego" e, ao mesmo tempo que se suspende a sua função referencial, contrasta-se o seu significado metafórico. A conexão entre os dois termos deixou de ser directa entre ambos a passa agora a exigir a mediação de uma representação semântica mental (Bustos, 2000) entre aquilo que se diz e aquilo que se tem a intenção de dizer. Prova-se assim que o enunciado nunca está codificado e que só uma parte do que se comunica depende do significado linguístico dos enunciados. O restante depende da capacidade inferencial graças aos conhecimentos do mundo.

Também nesta obra se recorre a outros processos de desestruturação de expressões fixas. Agora já não da reconceptualização da expressão idiomática em metáfora, mas de retoma de partes de aforismos ou provérbios como se pode ver nos exemplos seguintes:

    Eu cumpro ordens, mas ele é o chefe, não pode estar a dar-nos sinais de desorientação, depois as consequências sofremo-las nós, quando a onda bate no rochedo, quem paga sempre é o mexilhão, Tenho muitas dúvidas sobre a propriedade dessa frase, Porquê, Porque os mexilhões parecem-me contentíssimos quando a água escorre por eles abaixo, Não sei, nunca ouvi rir os mexilhões, Pois não só riem, como dão gargalhadas, o barulho das ondas é que não deixa percebê-las, tem que se lhes chegar bem o ouvido, (Saramago, 2004: 245, 246).

Neste aforismo, de origem popular e que tem por sentido "a parte mais fraca é a que fica sempre mais prejudicada" não se pode falar de reconceptualização porque não se trata de decompor, metaforizando, uma unidade linguística compósita. Trata-se antes de retomar os termos de uma unidade que, embora fixa, se rege pelo princípio da composicionalidade semântica. O resultado, no entanto, não deixa de ser perlocutivamente metafórico, dado o convite ao leitor para fazer ver uma realidade (os grandes precisam dos mais pequenos – os mexilhões) em termos de outra para sobreviver (os pequenos - os mexilhões – são sempre os prejudicados). O destaque e a ênfase em determinados segmentos linguísticos do provérbio proporcionam um determinado significado de processamento, não só em função da obtenção das explicaturas e implicaturas do enunciado onde se inserem estas formas, mas também em termos de determinação da relação do processo descrito aqui como os outros processos descritos no discurso romanesco em geral.

    […] veremos se neste caso se confirma o antigo ditado Quem fez a panela fez o testo para ela, De panelas se trata então, senhor comissário, perguntou em tom irónico a mulher do médico, De testos, minha senhora, de testos, respondeu o comissário ao mesmo tempo que se retirava, aliviado por a adversária lhe ter fornecido a resposta para uma saída mais ou menos airosa. Tinha uma leve dor de cabeça (Saramago, 2004: 238)

Também aqui, o recurso ao provérbio serve para, a partir de um significado literal aberto, universal e enunciado com um valor de verdade, canalizar um uso específico metafórico que as retomas "panelas" e "testos" deixam adivinhar. Embora surja como imagem metafórica isolada a um contexto muito específico (o da mulher que durante a epidemia geral de cegueira branca de há quatro anos, não ter cegado, enquanto toda a gente cegou), a projecção metafórica não deixa de se alimentar de crenças dentro de um sistema culturalmente partilhado. Só assim o leitor conseguirá reconstruir a intencionalidade comunicativa através do enunciado linguístico para aceder ao extralinguístico, isto é, ao conhecimento das realidades relacionadas entre si. Estes enunciados ecóicos onde se inserem os provérbios, os aforismos apresentam-se nesta obra como representações de estados mentais atribuídos a um enunciador colectivo mas que se reproduzem literalmente para depois daí enfatizar pertinente e metaforicamente casos específicos que o contexto actualiza.

Estes processos de reconceptualização e retoma metafórica que atravessam todo o texto saramagueano não se podem conceber fora de uma teoria da referência e fora de uma teoria da anáfora (Brandom, 1984). Se comummente se aceita o princípio de que as expressões metafóricas não têm uma relação referencial directa com a realidade então há que prever que a resolução para a compreensão da metáfora, em situação intralinguística, passa pela suasubordinação e ligação a outras formas de referência, no caso presente à referência literal.

Os exemplos seguintes mostram como a interpretação da metáfora é anafórica e a sua forma de referir é vicária:

Além da humidade que tornava mais espessa a atmosfera, já de si pesada por ser interior a sala […], empregando a comparação vernácula, cortava-se à faca. (Saramago, 2004: 11)

O segmento "cortava-se à faca", embora seja uma expressão idiomática conectada com o sentido literal de "susceptível de causar melindres", de "ferir sensibilidades várias", aqui assume foros de metaforicidade uma vez que a sua anaforização com o segmento "cortava-se à faca" se substitui ao antecedente "tornava espessa a atmosfera". Depois da retoma, "a espessura" torna-se ambígua e tanto se pode enquadrar numa atmosfera psicológica ou física ou em ambas. Os dois segmentos linguísticos "tornava mais espessa a atmosfera" e "cortava-se à faca" quando considerados isoladamente, integrados no sistema da língua ou contextualizados no discurso, têm um determinado significado. Quando relacionados entre si por um processo de ligação antecedente-consequente o esquema semântico enriquece-se contextualmente por meio de implicaturas que, como se sabe, o que conta não são as condições de verdade, mas o que intencionalmente é comunicado.

O código genético disso a que, sem pensar muito, nos temos contentado em chamar natureza humana, não se esgota na hélice orgânica do ácido desoxirribonucleico, ou adn, tem muito mais que se lhe diga e muito mais para nos contar, mas essa, por dizê-lo de maneira figurada, é a espiral complementar que ainda não conseguimos fazer sair do jardim-de-infância, apesar da multidão de psicólogos e analistas das mais diversas escolas e calibres que têm partido as unhas a tentar abrir-lhes os ferrolhos, (Saramago, 2004: 31)

Das expressões metafóricas "a espiral complementar", "fazer sair do jardim-de-infância" e "psicólogos e analistas […] têm partido as unhas a tentar abrir-lhes os ferrolhos" só se retiram os seus efeitos interpretativos se assumirmos que tais expressões se referem metaforicamente ao que se refere literalmente "a natureza humana" em virtude dessa relação anafórica que os une. Convém notar, e estas citações são exemplo de que essa relação anafórica se faz com um antecedente expresso e que esse antecedente é um referente literal. No primeiro caso "espessa atmosfera" e no segundo "a natureza humana". Em ambos os casos, a metáfora anafórica recobra a sua interpretação directamente do termo literal antecedente. Mas também o termo antecedente pode ser a expressão metafórica e o termo consequente, como se pode apreciar nos exemplos a seguir, surgir a expressão codificada, literal, em anaforização com ela.

    Pois é como lhe digo, este volante ensina muito. Depois de semelhante revelação o comissário achou mais prudente deixar cair a conversa. Só quando o motorista parou o carro e disse, Cá estamos, se animou a perguntar se aquilo do espelho retrovisor e da alma se aplicava a todos os carros e a todos os condutores (Saramago, 2004: 299)

    Peço-lhe desculpa de o ter feito esperar tanto, mas tinha um assunto entre mãos e não podia deixá-lo a meio (Saramago, 2004: 301)

    Lamento, meu caro, que as circunstâncias o tenham metido neste beco sem saída. Alguma saída terá, mas é certo que neste momento não a vejo (Saramago, 2004: 198)

Aqui nestes enunciados as expressões anafóricas, neste caso numa relação de associação, "se animou a perguntar", "deixá-lo a meio" e "Alguma saída terá" ligam-se às expressões idiomáticas "deixar cair a conversa", "tinha um assunto entre mãos" e " metido neste beco sem saída" respectivamente. Este processo coesivo por meio da anáfora que retoma em parte e em associação o antecedente, parece não validar a linha de raciocínio para que aponta o processo inverso – o antecedente é a expressão literal e a anáfora é a expressão metafórica. Esta evidência parece comprovar que, se o antecedente é literal, mesmo que seja uma expressão idiomática, e o consequente que o retoma é também literal, eles mantêm-se recursivamente literais, sem marcas de metaforização. Isto terá a ver com a maximização da conduta comunicativa em termos de equilíbrio entre custo e rendimento cognitivos. A metáfora, em termos cognitivos, é de mais complexo processamento que a anáfora de acordo com o princípio da relevância (Sperber y Wilson, 1986). O contrário, como se viu nos exemplos dados, se o antecedente é literal, o consequente pode ter marcas metafóricas porque o antecedente tem essa capacidade de contextualizar os mundos possíveis espoletados pela anáfora.

Quando a referência se produz num espaço referencial explícito, tenha ela a forma de antecedente ou anáfora, a interpretação pode ser literal ou anafórico-metafórica, dependendo, neste caso, das premissas implicadas. Em qualquer caso a interpretação tem de ser induzida do conjunto relevante das crenças do enunciador. Estas crenças determinam o âmbito pragmático referencial no qual se inscreve a anáfora. Kittay (1987) chama a esta relação da referência metafórica, anáfora ampliada. Ampliada, no sentido de não depender só da explicatura mas também das implicaturas.

    O enunciado seguinte é ainda exemplo disso:

    Curiosamente sentia-se leve, desanuviado, como se lhe tivessem extraído de um órgão vital o corpo estranho que pouco a pouco o vinha carcomendo, a espinha na garganta, o prego no estômago, o veneno no fígado. Amanhã todas as cartas do baralho estarão em cima da mesa, o jogo do esconde-esconde terminará porquanto não tem a menor dúvida de que o ministro, no caso de a notícia chegar a sair à luz, e, mesmo não saindo, lhe seja comunicada, saberá contra quem apontar imediatamente o dedo acusador. (Saramago, 2004: 308)

O mundo hipotético introduzido com a expressão como se coloca as metáforas "corpo estranho", "espinha na garganta", "o prego no estômago", "o veneno no fígado" ao nível não da verdade ou falsidade da proposição, mas ao nível das intenções e desejos daquele que as produziu. Desta forma, o leitor tem de inferir, por um lado, as premissas implicadas que tais metáforas geram e, por outro, considerar contextualmente a informação expressa para que possa reconstituir um processo interpretativo para uma conclusão implicada. Sendo que essa conclusão passa pela avaliação de um antes pressuposto ("agora sentia-se leve") de um agora inferido ("como se…") e de um amanhã expresso ("amanhã… o jogo do esconde…esconde terminará").

A conjugação entre a pressuposição, a implicatura e a explicatura aliados ao conhecimento do contexto prévio da enunciação ajudam a orientar a interpretação correcta e a estabelecer o princípio da relevância, princípio este que regula a comunicação em termos de custo e de rendimento cognitivos de uma interpretação.

Se o princípio da relevância regula a comunicação, isto significa que as expressões metafóricas podem denotar, referir e conotar, de acordo com os usos que delas se pretende fazer. Questionar a relação do homem com o mundo, em vez de questionar a estrutura do mundo, é o que se outorga à anáfora ampliada em geral e à metáfora em particular. Usos específicos como a argumentação e a ironia cabem nesta apartado.

De facto, nesta obra, o uso da metáfora ao serviço da argumentação põe de manifesto, de forma particularmente relevante, as conexões ou desconexões existentes numa linha de pensamento.

Senão vejamos:

    Os votantes do meu partido são pessoas que não se amedrontam por tão pouco, não é gente para ficar em casa por causa de quatro míseros pingos de água que caem das nuvens. Na verdade não eram quatro pingos míseros, eram baldes, eram cântaros, eram nilos, iguazús e iangtsés, mas a fé, abençoada seja ela para todo o sempre, além de arredar montanhas do caminho daqueles que do seu poder se beneficiam, é capaz de atrever-se às águas mais torrenciais e sair delas enxuta. (Saramago, 2004: 12)

Neste excerto é patente a tensão entre dois pólos. De um lado, a justificação de que não são "quatro míseros pingos de água" que levam a que as pessoas não vão votar; do outro, a replicação de que não eram só "esses míseros pingos de água", mas muito mais do que isso. Enumeram-se, num crescendo, por meio de expressões metafóricas que remetem a sistemas de coisas (baldes, cântaros, nilos, iguazús, iangtsés) em que a persuasão se fundamenta mais no desencadeamento de emoções que na mobilização de razões. Para daí se concluir que mesmo com "águas torrenciais" aqueles que beneficiam da fé podem sair daí enxutos.

O recurso à imagem metafórica permite a todo o momento a elaboração de objectos construídos com palavras. Em Saramago, a expressão idiomática reganha a sua novidade, a sua energia criadora, o impulso original que primitivamente a pôs em circulação. E assim, o significado convencional da expressão ganha novas e mais excitantes matizes de acordo com os seus usos, neste caso argumentativo:

    Garantiram-nos que poderíamos passar sem problemas, e aqui está o brilhante resultado, o governo pôs-se na alheta, foi para férias e deixou-nos entregues aos bichos, e agora que tínhamos a oportunidade de sair daqui não tem vergonha do nos fechar a porta na cara. (Saramago, 2004: 158).

O efeito contextual do emprego da expressão idiomática em contextos argumentativos é o incremento da quantidade de informação que permite inferir e a amplitude de cenários metafóricos que permite instaurar. Assim é neste exemplo da página 158. Parafraseando. O governo prometeu e não cumpriu porque: primeiro "pôs-se na alheta" e "deixou-nos entregues aos bichos"; depois "fecha-nos a porta na cara". Logo é um governo que não serve.

Embora seja pacificamente aceite que a expressão idiomática releva de um grau maior ou menor de convencionalidade, em contexto literário, como é o caso deste romance, a expressão idiomática é uma ferramenta que cumpre as funções para as quais foi desenhada por Saramago. Como temos vindo a ver, a expressão idiomática assenta bem numa estrutura que tem a argumentação-persuasão como uma finalidade. Como ainda podemos ver nos dois exemplos seguintes:

Antes que o caso chegue à polícia ainda terão de passar alguns dias, e entretanto o tipo dá com a língua nos dentes, conta à mulher, aos amigos, capaz mesmo de falar com um jornalista, em suma, entorna-nos o caldo (Saramago, 2004: 192).

    […] quando toda a gente na cidade andava por aí aos tombos e a dar com o nariz nos candeeiros da rua, e antes que me responda que uma coisa nada tem a ver com a outra, eu digo-lhe que quem fez um cento fará um cento, pelo menos é esta, ainda que expressada noutros termos, a opinião do meu ministro […] (Saramago, 2004: 251).

Não é difícil de reconhecer a linha argumentativa que está desenhada por detrás destes enunciados e o valor acrescido, em termos inferenciais, trazido pelas expressões metafóricas.

As inferências que tais expressões desencadeiam e espoletam balizam-se nos conhecimentos cultural e socialmente partilhados. é aqui que reside a estabilidade e a fidelidade das conclusões a extrair e que têm de ser consistentes com o princípio da relevância. Da ironia, um dos outros usos da metáfora neste romance, também se ocupou a teoria da pertinência, ao considerar ser a ironia um caso especial da representação do outro. Na verdade, a característica da ironia reside na consciente e voluntária renúncia do autor à transparência comunicativa. Apreciemos nos exemplos seguintes como é que a metáfora desemboca na ironia:

    […] estamos aqui como náufragos no meio do oceano, sem vela nem bússola, sem mastro nem remo, e sem gasoil no depósito (Saramago, 2004: 16)

Aqui o enunciador subverte a sua própria enunciação ao acrescentar, na mesma linha de raciocínio, às expressões metafóricas genéricas "sem vela nem bússola" e "sem mastro nem remo" a expressão literal "sem gasoil no depósito". Há como que uma espécie de ruptura entre o que começa e o que acaba realmente por ser enunciado. O equívoco reside na ambiguidade entre o que é assumido e o que é rejeitado pelo enunciador. E o leitor tem de ter consciência disso.

A força subversiva da ironia, que tem como resultado o bloqueamento do princípio de antecipação que sempre se desencadeia no acto de ler, obriga o leitor a, sempre que isso acontece, rectificar a sua leitura.

Vejamos nos dois exemplos seguintes como as expressões metafóricas, dada a sua maior ou menor fixidez, são a condição prévia para o sucesso do jogo irónico:

    Votar em branco é um direito irrenunciável, ninguém vo-lo negará, mas, tal como proibimos à crianças que brinquem com o lume, também aos povos prevenimos de que vai contra a sua segurança mexer na dinamite. […] Sim senhor, o homem falou bem, resumiu o mais velho da família, e há que reconhecer que tem toda a razão no que disse, as crianças não devem brincar com o lume porque depois é certo e sabido que mijam na cama (Saramago, 2004: 99, 100)

A minha vontade seria ir aí e dar-lhe um puxão de orelhas, Já não estou na idade, senhor ministro, Se alguma vez vier a ser ministro do interior, saberá que puxões de orelhas e outras correcções nunca houve limite de idade, Que não o ouça o diabo, senhor ministro, O diabo tem tão bom ouvido que não precisa que lhe digam as coisas em voz alta, Valha-nos então deus, Não vale a pena, esse é surdo de nascença. (Saramago, 2004:111)

A ironia permite operar uma superposição de dois semantismos. De um lado, o sentido mais ou menos fixo e conveniente da expressão ("brincar com o lume" no sentido de "se expor ao perigo"; "dar um puxão de orelhas" significando "chamar a atenção"); do outro, o da sequência manipulada, não fixa, individual ("Que não o ouça o diabo" que significa exprimir um desejo – o de que "tal coisa não aconteça") e por conseguinte original, essencialmente irónica e alusiva e, por isso, mais rica, mais abrangente e mais carregada de sentidos (no exemplo da página 111, da expressão idiomática "Que não o ouça o diabo" resulta a sequência irónica e mesmo sarcástica de que se "o diabo tem bom ouvido", "deus é surdo de nascença").

Colocado o fenómeno da ironia no quadro da polifonia, verifica-se que há subversão que se situa na fronteira entre o que é colectivamente dito e aceite e o que é individualmente desqualificado. A ironia resulta, assim, da paródia entre uma instância e outra, onde são encenadas rupturas e onde a metaforicidade é erigida como traço definitório.

O processo de configuração simbolizante do mundo faz-se através de sistemas de signos. Estes signos conformam-se num jogo de enunciados que significam os factos e os gestos dos seres do mundo. Saramago inicia o jogo colocando no tabuleiro da intriga narrativa enunciados idiomáticos que circulam na comunidade social, sendo aí objecto de partilha e de constituição de um saber comum, particularmente de um saber de crenças e de representações sócio-discursivas. No romance, estes enunciados activam um jogo continuado e que não se esgota porque novos aspectos e novas experiências introduzidos recriam os enunciados dotando-os de âmbitos significativos. Apoderar-se destes enunciados idiomáticos que circulam na comunidade social e deles criar um vasto feixe de intertextos num jogo entre constrangimento e liberdade enunciativa é assumirem-se os enunciadores da intriga ao mesmo tempo como um eu social, mas também como um eu individual. Neste espaço de estratégia, mobilizam-se processos como os de reconceptualização e de anaforização ampliada.

Estes procedimentos de retoma permitem activar a proeminência de novos atributos que, à partida, não faziam parte da estrutura compósita do enunciado parémico ou metafórico. Tudo isto em resultado da actividade inferencial, concitada pelo universo de crença disponível na situação em que os sujeitos se encontram e que, dependente da sua subjectividade, tem de ser fundado por eles. Obtidos outros efeitos de sentido por um processo de implicatura, verifica o leitor que a calibragem das emoções, sendo parte integrante da competência comunicativa, discursiva e estética nos processos de codificação e de descodificação impõem directrizes aos planos e estratégias de comportamento dos actores em presença.

Ao criar novas analogias entre o tópico e o veículo, recriam-se novas representações mentais semânticas e, a par disto, percorre-se o caminho inverso: o retorno do idiomático ao metafórico. Esta observação vem confirmar a ideia de que a característica da expressão metafórica não reside na sua natureza semântica especial, mas no uso especial que se faz dela. E no romance Ensaio Sobre a Lucidez, o uso da metáfora amplia-se e alarga a projecção dos seus temas, forçando os limites expressivos da linguagem na construção de novos conhecimentos culturalmente não convencionalizados, de acordo com o grau de criatividade accionado.

E esta capacidade de criatividade e de permanência das palavras e das expressões mudarem na continuidade é também uma marca de consciência dos interlocutores da narrativa em questão:

é interessante observar, disse [o ministro dos negócios estrangeiros], como os significados das palavras se vão modificando sem que nos apercebamos, como tantas vezes as utilizamos para dizer precisamente o contrário do que antes expressavam e que, de certo modo, como um eco que se vai perdendo, continuam ainda a expressar, Esse é um dos efeitos do processo semântico, disse lá do fundo o ministro da cultura. (Saramago, 2004:63).


Referencias

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