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Revista Historia de la Educación Latinoamericana

versão impressa ISSN 0122-7238

Rev.hist.educ.latinoam.  no.15 Tunja jul./dez. 2010

 

RESEÑAS DE LIBROS Y REVISTAS

BENTO, Fábio Régio. (2010): Maquiavel pré-sociólogo e outros ensaios.
Jundiaí, SP, Editora Paco Editorial, 1º edição.


Muitas opiniões podem ser despertadas no leitor ao ler o livro Maquiavel pré-sociólogo, do professor Dr. Fábio Régio Bento. Opiniões que variam entre a concordância de suas idéias e a divergência de visões podem passar pelas cabeças de seu público. Lançado este ano pelo Paco Editorial, o livro na verdade é uma coletânea de cinco ensaios escritos pelo doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade San Tommaso, e busca de forma bastante acessível expor sobre diversos assuntos relacionados à sociologia acadêmica, desde a geral até as específicas, como é o caso da sociologia no direito.

Sua obra começa com o Ensaio Maquiavel e Durkheim - alguns pontos em comum entre o príncipe e as regras do método sociológico (capitulo no qual dá nome ao livro), analisando as semelhanças e diferenças entre o repertório teórico de Maquiavel e a teoria positivista do francês Émile Durkheim, considerado o pai da sociologia acadêmica, no que se refere à análise dos fenômenos sociais. Fábio consegue de modo rápido e direto desconstruir a imagem do autor de O Príncipe como o teórico da baixa moral da vida política e do autoritarismo. Como o próprio professor escreveu:

Maquiavel não recomendou maldades, expressão que representa ações humanas indesejadas, mas prováveis. Ele descreveu maldades reais praticadas na política (...). Crueldades 'maquiavélicas' foram recomendadas (e encomendadas) por tiranos, e não por Maquiavel (...)1

Ao longo do ensaio, fica bastante clara a explicação de Fábio Bento sobre o conceito por detrás da idéia difundida por séculos no mundo. Em nenhum momento Maquiavel propôs a condução de uma amoralidade como a prática que o político deve seguir, mas apenas descreveu a realidade do mundo, isto é, desmistificou um padrão de comportamento dos donos do poder em uma conjuntura pré-revolução burguesa e do advento da democracia.

É aí que mora a semelhança teórica do italiano com Émile Durkheim. O segundo, no século XIX, estabeleceu os métodos de análise e estudo sociológicos usando de elementos, como o realismo metodológico (descritivo), que oprimeiro já fazia usoséculos antes. Por isso o autor nos apresenta um Maquiavel como precursor da sociologia política, ao apontar que "Maquiavel estuda as relações de poder entre o vértice (príncipes) e a base (súditos)" 2

Mas o livro não se resume a esta polêmica. Vários assuntos são abordados, como a questão do papel do positivismo no direito e a concepção legalista do mesmo. Com uma linguagem até mesmo um pouco didática, Fábio explica o papel do direito enquanto ciência ao expor que "o direito é a ciência social dos conflitos e das soluções normativas aptas a resolver tais conflitos de interesses entre as partes (...)"3

Mas o que mais chama a atenção ao livro é a recusa do autor em considerar o marxismo, chamado por ele de maximalista, como um projeto de construção de uma nova sociedade. Usando de argumentos sérios e de um conhecimento bastante profundo na teoria de Marx, ele coloca a proposta revolucionária de luta de classes como incapaz de continuar as transformações políticas e sociais iniciadas durante a Revolução Francesa.

Como alternativa Fábio apresenta a adoção de uma orientação política de cunho reformista, proposto por Eduard Bernstein (1850-1932) e que se tornou ao longo dos anos um fenômeno bastante característico nos movimentos sociais (sindical, etc.) e em organizações políticas ditas de esquerda atingidas pelo vendaval oportunista no final do século XX.

É aqui que o autor expõe a sua profunda rejeição a concepção política marxista e na proposta de revolução socialista. Mas mesmo divergindo em algumas opiniões, a obra de Fábio Bento transforma-se em uma interessante análise da sociologia acadêmica. Lê-la poderá clarear muitas zonas obscuras que normalmente encontramos em muitos cursos universitários pelo Brasil, ao ponto que o livro pode se tornar em um importante instrumento argumentativo a ser usado na sala de aula.


1 BENTO, Fábio Regio. (2010): Maquiavel pré-sociólogo e outros ensaios. Jundiaí, SP, Editora Paco Editorial, 1º edição, p 14.

2 BENTO, Fábio Régio, op.cit.

3 Ibidem.


Cássio Diniz
Universidade Nove de Julho -PPGE/Uninove
Brasil