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Apuntes: Revista de Estudios sobre Patrimonio Cultural - Journal of Cultural Heritage Studies

versão impressa ISSN 1657-9763

Apuntes v.23 n.1 Bogotá jan./jun. 2010

 

Recuperação o plástico e o potencial técnico da aparência colonial

Universidad Externado de Colombia

comunicacionesuec@uexternado.edu.co



Resumo

Durante onze anos (1998-2009), a Faculdade de Estudos do Patrimônio cultural da Universidade Externado de Colômbia empreendeu a restauração de 42 peças do presépio que pertence ao Museu de Arte Colonial de Bogotá. Um exemplo do conhecimento posto ao serviço do acervo da Colômbia e a humanidade.

Palavras chave: Restauração, preservação de obras de arte, preservação de bens culturais, patrimônio cultural, bem cultural, arte antiga.

Palabras chave descritor: Conservação e restauração de obras de arte, protecção do património cultural, arte antiga.


Poucas mostras artísticas resgatam-se do período colonial da Nova Granada. Uma destas é o presépio do Museu de Arte Colonial de Bogotá como testemunho da arte de Quito, característico por seus presépios ou nascimentos do século XVIII. Consistindo em 73 figuras de madeiras cinzeladas e policromias, de propriedade da senhorita Inés Rubio Marroquín,foi comprado pelo museu em 1944 pela soma de 800 pesos.

A riqueza artística deste trabalho é baseada na possibilidade de descobrir os diferentes personagens da colônia e, assim, apresentar nova informação sobre este período de tempo. Segundo diretora do Museu, María Constanza Toquica Clavijo, "mais especificamente, eu acho que é no contexto da festa barroca, natalina neste caso, que devem ser lidas estas figuras que carnavalescamente representam e parodiam aos habitantes marginais das urbes coloniais andinas: indígenas, afro-descendentes e mestiços".

Após várias décadas de exibição e traslados próprios do presépio, como parte da tradição centenária do catolicismo, as peças apresentavam sinais de deterioração da madeira - rachaduras, fragmentação, infecção biológica, entre outros -, devido ao envelhecimento natural dos níveis ou por causas da externas -levantamentos da policromia, fissuras, sujeira-. Devido a seu significado, por ser considerada como uma das poucas mostras da Colónia de Granada no país, em 1998 a Faculdade de Estudos do Património Cultural da Universidade Externado da Colómbia assumiu a restauração de 42 peças artísticas, por meio de um projeto de trabalho interdisciplinar entre estudantes e investigadores dos Programas de Conservação e Restauração de bens moveis, o Laboratório de Ciências Naturais e as áreas de Construção Social e Conservação do Património Cultural da Universidade

Este trabalho, de reconhecimento internacional, cruzou fronteiras para exibir sua impecabilidade e reconhecer o trabalho da "Alma Mater", única na Colómbia nesta área, cometida à preservação do património, reviver a história e construir futuro.


1. Um presépio à altura

As diferentes figuras que compõem o presépio, além de pertencer em um sentido geral à mesma escola, correspondem a vários períodos e discipulados, pelo que possuem um tratamento técnico diverso que é evidenciado nos diferentes níveis de detalhe e decoração das imagens. Esta característica demonstra o funcionamento dos discipulados coloniais, nos quais diversas mãos intervinham na construção de uma única parte.

Nos estudos realizados pela Faculdade de Estudos do Património Cultural, a madeira usada para a elaboração das trinta peças do presépio é "latifoliada", própria das zonas tropicais. Na maioria das representações predomina o talhado a partir de um único bloco, o que explica a dimensão dos volumes e o movimento limitado das figuras. Igualmente, mostra um esboço detalhado das roupas e os cabelos, um lixado da madeira enfatizando o lustro meticuloso das pernas, mãos, braços e caras e uma colagem na base de sustentação das figuras.

De acordo com o estudo estratigráfico, realizado nos laboratórios da Faculdade, o patrão das esculturas do presépio é: uma base de preparação constituída por gesso e aglutinante de origem protéico, possivelmente cola animal, seguida por um estrato de material relativo à filmografia constituído unicamente por cola e, finalmente, uma camada pictórica.

Do interesse especial é o processo da ornamentação, apresentado nos cavalos dos Reis Magos, feitos de tela de material têxtil entrelaçada, colado mais tarde e engessado.

0 processo policromo foi realizado usando duas técnicas principais: a encarnação, uma técnica dirigida à imitação da pele e o refogado que se refere à mimese das telas das roupas. Igualmente, dão conta da utilização de óleos de secagem como aglutinante e a implementação de pigmentos diversos, tais como a resina de cobre para a cor verde , o vermelhão e a laca do Brasil para os vermelhos, o índigo para os azuis, "oropimente" e amarelo índio para os amarelos e o branco de chumbo e preto para o carvão vegetal. Em outros exemplos, as análises científicas determinaram a presença de "cochinilla", um pigmento vermelho de origem natural apreciado pelos artistas da Europa.

A ampla variedade de materiais e técnicas empregadas na elaboração das peças revelam os diferentes períodos e discipulados, constituindo um exemplo importante da riqueza e conhecimento dos artífices locais.


2. Estudos científicos para o Patrimônio

O estudo estratigráfico permite a identificação das características dos materiais compositivos, suas propriedades e as transformações geradas nos contextos e tempos diferentes. O Programa de Conservação e Restauração de Bens Moveis da Universidade Externado da Colómbia tomou pequenas mostras das esculturas e através de técnicas microscópicas e microquímicas, analisou a composição dos materiais de cada camada e algumas de suas propriedades.

A estratigrafia transformou-se uma necessidade máxima quando uma escultura policroma é submetida para a restauração, porque permite determinar o número de estratos que apresenta a obra sua espessura, a técnica da execução da obra e as intervenções feitas durante sua trajetória. A comparação de cortes estratigráficos consente localizar um objeto no tempo, discipulado escultórico e inclusive aporta fundamentos para aproximar-se à autoria do mesmo. Esta técnica é uma ferramenta impagável para compreender trabalhos que foram sujeitados a intervenções sucessivas e desta maneira, estabelecer a trajetória de uma escultura a respeito das camadas pictóricas e preparações.

As análises microscópicas eletrónicas realizados em algumas figuras do presépio, permitiram a corroboração que a preparação baixa está feita do gesso. O sulfato de cálcio hidratado (CAS042H20) foi anotado no espectro; enxofre (s) e cálcio (Ca), componentes principais do gesso. Igualmente foi possível determinar que a bacia esta composta por minerais argilosos, rico no ferro, esclarecendo sua cor avermelhada.

A restauração do presépio do Museu de Arte Colonial foi uma oportunidade única para a formação de estudantes e a maturação do processo docente em constantemente mudança. Além disso, deu a possibilidade de observar uma evolução na valoração e apresentação do mesmo, como resultado das descobertas técnicas, estéticas, históricas e iconográficas que permitiram ao Museu ter uma segunda olhada da coleção e estabelecer uma forma de apresentação museográfica mais dinâmica, apropriada com a nova imagem recuperada após do processo de intervenção.

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