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Revista Lasallista de Investigación

Print version ISSN 1794-4449

Rev. Lasallista Investig. vol.4 no.2 Caldas July/Dec. 2007

 

Artículo original

O desenvolvimento psicossocial do jovem adulto em Erik Erikson

El desarrollo psicosocial del joven adulto en Erik Erikson

Psycho-social development of young adults in Erik Erikson's theory

Nelso Antonio Bordignon1, fsc


1 Magíster de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul. Director Presidente de la Unión Brasileña de Educación y Cultura UBEC Mantenedora de la Universidad Católica de Brasilia. Brasil.
Correspondencia: E-mail: nelso@ubec.edu.br

Fecha de recibo: 07/06/2007; fecha de aprobación: 12/06/2007



Resumo

Introdução. A pesquisa teve como universo um grupo de professores, que à luz da abordagem do desenvolvimento psicossocial de Erikson, com um enfoque de análise quali-quantitativa, em nível pessoal e profissional. Envolveu oito escolas particulares de confissão católica de Ensino Fundamental e Médio da Grande Porto Alegre/RS - Brasil, no ano de 2001. Objetivo. Averiguar a internalização dos conteúdos psicossociais - forças sintônicas e distônicas de cada um dos estágios a partir dos significados que estes têm para cada um dos professores em sua vida pessoal e a influência em sua atuação educativa. Materiais e métodos. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário de 18 questões para cada um dos oito estágios psicossociais, com as alternativas de respostas: 1. (nunca), 2. (raras vezes), 3. (com certa freqüência), 4. (muitas vezes) e 5. (sempre) e foram analisados com a ajuda do programa SPSS 10.0, que trabalha a partir de um arquivo de dados tabulados. Resultados. A pesquisa permitiu observar a validade da teoria dos Estágios Psicossociais de Erik Erikson no desenvolvimento cultural e afetivo dos professores e a influência das forças sintônicas e distônicas em sua ação educativa; elas interagem de forma dinâmica, num equilíbrio/ desequilíbrio sistêmico na vida pessoal e profissional do educador. As crises psicossociais atuam em todos os momentos da vida, independente da seqüencialidade tanto na dimensão pessoal, familiar como profissional. A dialética das crises psicossociais, tanto nas pessoas como nos organismos sociais, faz nascer o desejo de superálas para manter um equilíbrio positivo entre elas e a emergência das forças que dão impulso ao crescimento e o desenvolvimento das virtudes positivas da vida. Conclusão. O desempenho positivo deste grupo de professores comprova a acertiva de que no desenvolvimento normal da pessoa a extensão das forças sintônicas é maior do que das fraquezas e das forças distônicas. Importa dar continuidade ao esforço e à diligência para a permanência dos valores da confiança, da autonomia até a integridade, buscando, também, suas aplicações sociais e, principalmente, no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras chaves: Desenvolvimento. Psicossocial. Adulto. Estágio de vida. Formação.



Resumen

Introducción. La investigación, que tiene como universo un grupo de profesores, realiza el abordaje del desarrollo psicossocial de Erikson, con un enfoque de análisis cuali-cuantitativo, a nivel personal y profesional. Involucra ocho escuelas particulares confesionales católicas de Educación Fundamental y Media de Grande Porto Alegre/RS - Brasil, en el año 2001. Objetivo. Averiguar la internalización de los contenidos psicosociales y de las fuerzas sintónicas y distónicas de cada una de las prácticas, a partir de los significados que éstas tienen para cada uno de los profesores en su vida personal y la influencia que ejercen en su actuación educativa. Materiales y métodos. Para la recolección de la información fue utilizado un cuestionario de 18 preguntas para cada una de las ocho prácticas psicosociales, con opciones de respuesta: 1. (nunca), 2. (raras veces), 3. (con cierta frecuencia), 4. (muchas veces) y 5. (siempre), y fueron analizados con la ayuda del programa SPSS 10.0, que trabaja a partir de un archivo de datos tabulados. Resultados. La investigación permitió observar la validez de la teoría de las Prácticas Psicosociales de Erik Erikson en el desarrollo cultural y afectivo de los profesores y la influencia de las fuerzas sintónicas y distónicas en su acción educativa; ellas interaccionan de forma dinámica, en um equilibrio/desequilibrio sistemático dentro de la vida personal y profesional del educador. Las crisis psicosociales actúan en todos los momentos de la vida, independiente de la secuencialidad tanto en la dimensión personal, familiar como profesional. La dialéctica de las crisis psicosociales, tanto en las personas como en los organismos sociales, hace nacer el deseo de superarlas para mantener un equilibrio positivo entre ellas y la emergencia de las fuerzas que dan impulso al crecimiento y el desarrollo de las virtudes positivas de la vida. Conclusión. El desempeño positivo de este grupo de profesores comprueba la premisa de que en el desarrollo normal de la persona, la extensión de las fuerzas sintónicas es mayor que las debilidades y fuerzas distónicas. Es importante dar continuidad al esfuerzo y a la diligencia para la permanencia de los valores de la confianza, de la autonomía hasta la integridad, recogiendo, también, sus aplicaciones sociales y, principalmente, en el proceso de enseñanza-aprendizaje.

Palabras Clave: Desarrollo. Psicosocial. Adulto. Estadío de vida. Formación.



Abstract

Introduction. This research, which has as universe a group of teachers, approaches to Erikson's theory of psycho social development with a cualitative- cuantitative analytic focus, including both the personal and professional levels. It involves eight particular schools, with a catholic orientation, of fundamental and high school education from Porto Alegre, Brasil, in 2001. Objective. To find out how psycho social contents and syntonic and dystonic strengths are internalized in each particle, departing from the meaning of these for each teacher in their personal lives and their performances in the education field. Materials and methods. To collect the information a survey was made, with 18 questions concerning each one of the 8 psycho social practices, with different options to answer: 1-Never, 2-Rarely, 3-With a certain frequency, 4- Very often and 5- Always. The data were analysed with a SPSS 10.0 program, which works from an archive raof tabulated data. Results. The research shows that Erkison's theory on psycho social practices is valid in the personal and affective development of the teachers and the influence of syntonic and dystonic forces in their educational performances. They interact in a dynamic way, in a systematic balance /unbalance equilibrium in the personal and professional life of teachers. Psycho social crisis act during all of the life time, disregarding any sequential line in the family, personal or professional dimensions. The dialectics of psycho social crisis, for both people or society, gives birth to a desire of getting over them and keep a positive balance between them and the appearance of the forces that boost growth and positive virtues of life. Conclusion. The positive performance of this group of teachers is a proof of the premise that says that, in the normal development of a person, the extension of syntonic forces is bigger than weaknesses and dystonic forces. Is very important to go on with the efforts to keep the values of confidence, autonomy and integrity, collecting, also, their social applications and, mainly, in the teaching-learning process.

Key words: Development. Psycho social. Adult. Life stage. Formation.



Introdução

O texto apresenta conclusões da pesquisa1 realizada com um grupo de professores à luz da abordagem de Erikson2. A pesquisa teve um enfoque de análise quali-quantitativa dos professores, em nível pessoal e profissional. A coleta dos dados da pesquisa utilizou o questionário de múltipla escolha sobre cada um dos oito estágios psicossociais para averiguar a internalização de cada um dos itens, sempre "a partir dos significados que estes têm para a pessoa"3 do professor em seu estágio de jovem adulto (VI), adulto (VII) conforme denominação de Erikson.


Materiais e métodos

A pesquisa foi realizada em oito escolas particulares de confissão católica de Ensino Fundamental e Médio da Grande Porto Alegre, no ano de 2001. Os questionários foram respondidos por 64 professores que atuam, especialmente no Ensino Médio, mas também no Ensino Fundamental destas escolas, sendo 35,4% homens e 64,6% mulheres. O método utilizado para coleta de dados foi a pesquisa com a aplicação de um questionário de 18 questões para cada um dos oito estágios psicossociais, com as alternativas de respostas: 1. (nunca), 2. (raras vezes), 3. (com certa freqüência), 4. (muitas vezes) e 5. (sempre).

O caminho metodológico da pesquisa. A pesquisa foi realizada a partir dos conteúdos dos estágios psicossociais de Erikson, tendo como enfoque a análise qualitativa e quantitativa da dimensão pessoal e profissional de um grupo de professores. Como pesquisa qualitativa, por seu tema e concepção, ela busca compreender e analisar a realidade do professor em seus "aspectos subjetivos- compreensivistas"4, tendo como base a percepção, a compreensão e a vivência, por parte dos professores, de cada um dos conteúdos dos oito estágios psicossoais. Para fins de coleta dos dados da pesquisa utilizamos o questionário de múltipla escolha sobre os oito estágios psicossociais para averiguar a compreensão e a internalização de cada um dos itens, sempre "a partir dos significados que estes têm para a pessoa"3 do professor em seu estágio de jovem adulto (VI), adulto (VII) conforme denominação de Erikson que corresponde à idade dos professores entrevistados.

Análise dos dados. Os dados coletados na pesquisa forma analisados com a ajuda do programa SPSS10.0, que trabalha a partir de um arquivo de dados tabulados. Com este procedimento estatístico, foram organizadas as tabelas de cada um dos estágios psicossociais e obtivemos as freqüências (simples e relativas), as medidas de tendência central (média, mediana e moda), os máximos e mínimos; as medidas de dispersão (desvio padrão, variância e coeficiente de variação), o coeficiente de correlação e determinação e os gráficos. Todos estes dados serviram de base para a análise qualitativa e quantitativa do conteúdo da pesquisa.

Informações sobre o ciclo de vida completo. Tabela 1 - CICLO DE VIDA COMPLETO5 apresenta uma visão geral dos estágios psicossociais. As colunas (da tabela) apresentam os aspectos abordados pela teoria, enquanto que as linhas (da tabela) apresentam os estágios de desenvolvimento. As idades são flexíveis para cada estágio atendendo, principalmente, ao desenvolvimento psicossexual e psicossocial da pessoa.

Tabela 1

Coluna A: estágios e modos de desenvolvimento psicossexuais;

Coluna B: estágios psicossociais;

Coluna C: apresenta o raio social em expansão para cada estágio, iniciando com a mãe, até o 'gênero humano' como um todo;

Coluna D: a resolução da crise existencial resulta na emergência da potencialidade e de uma força básica, ou qualidade da pessoa, da esperança (I) à sabedoria (VIII);

Coluna E: por sua vez, dialeticamente, à força sintônica (simpática) opõe-se uma força distônica (antipática), de fraqueza, de desamor que vai desde a desconfiança e retraimento (I) à desesperança e desdém (VIII);

Coluna F: as forças sintônicas potenciais da pessoa e da sociedade "influenciam os modos e costumes, atitudes e idéias morais, éticos, estilo e visão de mundo, tecnologias, filosofias de vida, influenciam sistemas religiosos e são transmitidos na vida cotidiana através de ritualizações específicas para cada idade e adequadas aos estágios"5;

Coluna G: relação das ritualizações vinculantes - integrantes, como internalização e vivência das forças sintônicas (Instituições); e

Coluna H: representa as ritualizações das forças distônicas e antipáticas (Sistemas Sociais).


Resultados

A pesquisa foi realizada em oito escolas particulares de confissão católicas de Ensino Fundamental e Médio da grande Porto Alegre - Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, no segundo semestre de 2001. Os questionários foram respondidos por 64 professores que atuam especificamente no Ensino Médio e alguns, também, no Ensino Fundamental destas escolas, sendo 35,4% homens e 64,6% mulheres. Destes 62,5% são casados, 23,4% são solteiros e 4,7% divorciados e outras alternativas são 6,3%. Sua idade varia de 24 a 61 anos, sendo a 75% deles entre 30 e 50 anos. Atuando como professores em todas as disciplinas, com destaque para Língua Portuguesa (12,5%) e Química (12,5%).

A partir do conteúdo dos estágios psicossociais e da pesquisa realizada, apresentamos algumas reflexões sobre a pesquisa. (Ver tabelas 2A e 2B).

Tabela 2a

Tabela 2b

A educação é um processo de relação dialógica entre sujeitos que se educam, num duplo sentido das relações, e para tal são significativas as qualidades psicossociais que se estabelecem entre os sujeitos. Se, por vezes, se diz que o professor tem a função de ensinar e ao aluno aprender, o processo dialético da relação entre as pessoas do professor e do aluno faz que ambos ensinam e aprendem. Ambos são educador e educando. Cabe, no entanto, ao professor a maior responsabilidade do processo, pois ele já tem um período de formação pessoal e profissional e deve ter adquirido as habilidades profissionais necessárias para desempenhar melhor esta missão.

Pelos dados levantados na pesquisa, observamos que os professores, em sua maioria, são pessoas que, além das competências acadêmicas, apresentam as forças básicas - virtudes, abordados pelo estudo, da confiança à integridade. Percebem-se como pessoas com as virtudes sintônicas da confiança, da autonomia, da iniciativa, da produtividade e da integridade, como forças pessoais e qualidades profissionais integradas na sua atividade educativa. A avaliação demonstra que esta tendência se mantém com certa força positiva nos outros estágios. Isto fortalece a auto-estima e a auto-imagem destes professores em relação a si mesmos, estendendo seus efeitos para as experiências familiares e profissionais. Observamos que, pelo princípio epigenético, as virtudes e qualidades têm uma relação de integração entre as diversas etapas da vida, isto é, cada uma delas está intimamente ligada com as outras, de uma forma hierárquica e seqüencial, fortalecendo-se umas às outras de maneira que a pessoa sinta que cada potencialidade sustenta, fortalece e qualificam as outras de forma integrada.

Também se interligam nos diversos aspectos e níveis de afetos, pensamentos e atitudes da pessoa. A confiança e a autonomia que os professores têm como força pessoal se estendem ao seu desenvolvimento físico, psíquico e intelectual, bem como nas relações que estabelecem consigo mesmo, com os alunos e a sociedade. São pessoas confiantes e autônomas que agem com segurança e fortalecem estes mesmos sentimentos em todo seu entorno. Observamos, também, que paralelamente às forças sintônicas, as forças distônicas da desconfiança até a desesperança também estão presentes como conteúdos e processos na vida pessoal e profissional dos educadores entrevistados, estendendo suas conseqüências na formação pessoal e no exercício da missão destes educadores.

Acompanhando cada uma destas qualidades podemos observar que estes professores alimentam uma boa confiança básica em si, em suas capacidades pessoais e profissionais; desenvolvem uma significativa autonomia para decidir fortificando sua vontade em função dos valores pessoais, sociais e religiosos que conhecem e vivenciam; são capazes de tomar iniciativas importantes e significativas em função da criatividade e da produtividade de seu trabalho fortificando a vontade de ser, de fazer e conviver; são diligentes e competentes em seus compromissos pessoais, familiares e profissionais; apresentam uma identidade pessoal e profissional que lhes garantem a fidelidade aos valores sociais e religiosos, nos quais vale a pena crer para construir a vida; sentem-se individualmente como pessoas fortalecidas para os compromissos familiares e sociais do amor e da solidariedade; demonstram uma capacidade produtiva e criativa na profissão que exercem expressos pelo cuidado e zelo que manifestam, principalmente na educação que realizam; e manifestam capacidade de viver a integridade como síntese dos estágios anteriores expressos na sabedoria de vida. Percebe-se, em menor intensidade, as forças distônicas de cada um dos estágios psicossociais: uma certa desconfiança de si, dos outros, alimentam sentimentos de vergonha e dúvida sobre si, sobre suas competências e habilidades, acompanhado de medos e culpas próprios; manifestam algum grau de inferioridade e de insegurança em sua identidade pessoal e profissional, bem como demonstram algumas atitudes de isolamento afetivo, acompanhado com pequena parcela de narcisismo e fechamento e de momentos de desesperança frente aos valores transcendentes e futuros.


Discussão

Cada estágio psicossocial envolve uma crise e um conflito centrado num conteúdo antropológico específico. A crise é considerada uma oportunidade para o desenvolvimento do indivíduo, um momento de escolha, ou ainda um momento de regressividade. Da resolução positiva da crise entre as forças sintônicas e distônicas emerge uma potencialidade (forças básicas), que passa a fazer parte da vida da pessoa. Da não resolução da crise emerge uma patologia básica que, por sua vez, também passa a fazer parte da vida da pessoa. A resolução da crise entre a confiança e a desconfiança gera a esperança. A resolução da crise entre a autonomia e a vergonha, gera a vontade. E assim por diante até a sabedoria que nasce da resolução positiva da crise entre integridade e o desespero. Os professores entrevistados relatam que percebem e sentem essas crises em suas vidas. Eles a percebem como realidade significativa e profunda em suas vidas. Ela se faz presente nas relações familiares, profissionais, sociais e religiosas. Também sentem esta dialética na assunção das ritualizações sociais e religiosas, nas associações e grupos sociais dos quais participam; na formulação dos princípios de ordem social que devem estabelecer para si e na atividade educativa; na assunção dos valores e práticas pedagógicas.

Sentem esta dicotomia e dialética, como profundamente humana, profissional e social. Vivem estas crises e se sentem seguidamente frágeis diante delas, com certa dificuldade e impossibilidade para conseguir superá-las e fazer nascerem as potencialidades com todo seu vigor. Mesmo com estas fragilidades, os professores manifestam boas condições para superarem as forças distônicas e a tendência é a resolução positiva em favor das forças sintônicas, manifestando, assim, condições de vivência das potencialidades, desde a virtude da esperança, passando pelas outras até a sabedoria.

Embora sabemos que cada força tenha o seu próprio período de crise, de aparecimento e desenvolvimento, num momento específico da vida, as experiências anteriores preparam o caminho para a emergência da força seguinte e as experiências posteriores podem, até certo ponto, ajudar na resolução das crises anteriores. Assim cada crise está ligada a cada uma das outras tanto no sentido prospectivo como retrospectivo. Também tem efeitos sobre os outros conteúdos dos estágios psicossociais, tanto sobre as forças como sobre os defeitos. Pelos coeficientes de correlaçãoa observamos relações, entre as forças e as fraquezas nos diversos estágios. Entre elas destacamos, para este estudo, a relação significativa que existe entre a força desenvolvida na Idade Escolar: 'Eu sou o que posso aprender para realizar trabalho', que expressa a capacidade de aprender as primeiras normas e orientações para o trabalho, aspecto específico da criança na idade escolar, com o conteúdo do quinto estágio, da Adolescência: 'Eu sou o que posso crer fielmente', força a ser desenvolvida na idade da adolescência. O que observamos é que há um grau significativo de relação entre as duas forças, e também um certo grau de explicação e casualidade. Isto é, podemos afirmar que as variações da expressão da adolescência: 'Eu sou o que posso crer fielmente', são explicadas ou causadas, em parte, pelas variações do conteúdo da expressão, 'eu sou o que posso aprender para realizar trabalho', da idade escolar. Em outras palavras, os professores que se dedicaram a aprender as orientações e normas para realizar trabalho na idade escolar, acreditaram em suas capacidades como adolescentes para exercer a profissão que estavam iniciando e, como adultos são eficientes em sua profissão.

Outra conseqüência que decorre da resolução positiva das crises básicas é a capacidade de estabelecer relações positivas com outras pessoasb desde os membros de sua família (estágios 1, 2 e 3) e com os outros membros de grupos sociais e de trabalho (estágios 4 a 6) e com a sociedade e a humanidade como um todo (estágios 7 e 8).

Estas relações estabelecidas de forma consistentes são importantes para que os professores possam construir relações de cooperação, partilha e integração entre as pessoas, principalmente entre eles e seus alunos e estabelecer novas relações de solidariedade entre as pessoas. Tornam- se, assim, sementes dos valores do amor, da fraternidade e da solidariedade entre os homens. Aqui também temos um bom desempenho dos professores que participaram da amostra. Desde a infância, sentiram-se participativos e integrados nas relações familiares. Sentem-se responsáveis por si, por seus familiares e estendem estes sentimentos para os seus alunos. Manifestam interesse em participar de associações e instituições onde possam expressar sua solidariedade e o cuidado de outras pessoas.

Ainda como conseqüência destas qualidades e virtudes que os professores adquiriram, bem como da capacidade de resolução positiva das crises psicossociais, decorre a capacidade positiva para a construção dos princípios de ordem social c desde os princípios cósmicos, legais e tecnológicas até os ideológicos. Cada fase ou crise do ciclo de vida da pessoa tem relação com os empreendimentos institucionais básicos do homem. A evolução institucional se dá de forma integrada com o desenvolvimento da pessoa humana, desde o primeiro estágio, da criança com o princípio relacionado da ordem cósmica, da infância com a lei e a ordem e assim por diante, até a velhice com os princípios da sabedoria. A cada etapa corresponde um conjunto de princípios que estabelecem a vinculação do indivíduo com a sociedade. Tanto para cada indivíduo como para a sociedade, esses conteúdos são importantes e determinativos para um perfeito entrosamento dos indivíduos na sociedade. Assim é importante que a criança seja educada nas normas e limites que deve atender quando inicia seu exercício de autonomia muscular, curiosidade cultural e experiência afetiva, dos 2 aos 3 anos. Neste momento, necessita desenvolver o desejo de fazer por si, de forma autônoma as coisas, como elementos decisivos para a formação da vontade e da capacidade de decidir, mas também deve aprender os limites que o fato de viver em sociedade deve respeitar para adquirir uma boa aceitação dos outros e inserir-se com tranqüilidade na sociedade. Estes conteúdos devem fazer parte dos programas curriculares para ajudar as crianças e jovens na aquisição dos princípios em cada um dos estágios em vista de sua formação integral. Diante das inseguranças de ordem social, ideológicas e religiosas pelas quais passa a humanidade, é muito significativo que os professores, como pessoas formadoras de novas gerações sejam pessoas que tenham uma sustentação teórica e prática para introduzir as crianças e jovens em cada um dos estágios da vida, os conteúdos correspondentes destes princípios. Assim percebemos que os professores são pessoas que, mesmo que manifestem alguma fragilidade, têm condições de desenvolver estes princípios de forma confiante e segura. Salientamos que os professores se manifestaram, em todos os níveis, de forma positiva em relação a estes princípios desde os cósmicos até os filosóficos. Possuem uma confissão religiosa, conhecem seus princípios e práticas, que se convertem em qualidade de sua fé, de sua esperança e de sua caridade, virtudes centrais do desenvolvimento humano. Têm consciência dos princípios legais e os exige com eqüidade, liberdade e autonomia e dentro dos padrões éticos e morais, aspectos importantes para a formação dos valores éticos dos alunos que educa. Também se expressam dizendo que sabem integrar os princípios ideológicos, filosóficos tanto em sua vida pessoal como profissional. Este aspecto também se torna um aspecto importante na formação das ideologias e dos princípios filosóficos que os alunos devem adquirir para constituir sua identidade pessoal.

Um dos aspectos que destacamos na pesquisa foi a dimensão religiosa e como se dá o desenvolvimento da fé dos entrevistados. O que observamos é que, em sua maioria, em todos os estágios, os professores expressam que vivenciam os valores religiosos relacionados com cada estágio. Qualitativa e quantitativamente os professores são, em sua maioria, consistentes quanto aos valores religiosos abordados. Desde a qualidade da confiança e esperança em Deus, no primeiro estágio, até a capacidade de viver e trabalhar como expressão de um amor universal que tem em vista o bem da humanidade e todos os homens, podemos dizer que eles buscam a experiência religiosa livremente e como expressão de sua fé pessoal e a expressam na comunidade.

Encontram na religião os princípios éticos e religiosos para sua vida pessoal e profissional. Também estendem estes princípios em sua prática educativa, nas relações sociais e de trabalho. Deixam transparecer certa busca de compensação, complacência e gratificação em suas manifestações religiosas. Este fato pode fazer com que os professores usem estas mesmas dinâmicas de compensação, complacência e gratificação no estudo destes temas com os alunos, bem como em sua prática educativa. O confronto consigo mesmo à luz dos princípios e valores religiosos sempre traz certo temor e ansiedade para as pessoas. Para estes professores isto também é verdade. Manifestam certo temor deste confronto com Deus, como avaliação existencial. Mesmo assim, sentem que esta relação com Deus lhes dá confiança, segurança e fortaleza para sua vida pessoal e profissional e se dispõem a colaborar para a implantação do amor, da verdade e da justiça entre os homens, principalmente por sua ação educativa juntos aos seus alunos.

As crises psicossociais, mesmo que sejam apresentadas de forma seqüencial, elas atuam em todos os momentos da vida independente da seqüencialidade. As forças sintônicas agem concomitantemente com as forças distônicas. No percurso da vida, elas interagem de forma dinâmica, num equelíbrio/desequelíbrio de modo a dar continuidade à vida da pessoa. Pelas qualidades intrapsíquicas psicossociais fortalecidas pelo ambiente, algumas pessoas desenvolvem com mais realce algumas forças distônicas que outras, alguns são mais confiantes, outros mais autônomos, outros mais audazes e tomam facilmente iniciativa, e assim por diante; superando as forças distônicas dialéticas. Outros, por sua vez, não conseguem superar significativamente a dialética, deixando aflorar mais as patologias básicas, ora a desconfiança, ora a vergonha e a dúvida, outros a culpa ou a inferioridade e, assim por diante, cada um conforme sua dinâmica intrapsíquica e disposição psicossocial.

A dialética das crises psicossociais, tanto nas pessoas como nos organismos sociais, faz nascer o desejo de superá-las para manter um equilíbrio positivo entre elas e a emergência das forças básicas. Também a educação é perpassada por este processo dialético de crises entre conceitos existentes e novos paradigmas; uma educação mais centrada no desenvolvimento das virtudes e qualidades ou preocupada com a correção dos defeitos e a superação das fragilidades, das forças distônicas. Este esforço contínuo entre conteúdos e processos diferentes deixa aceso o interesse pelo estudo e a pesquisa para a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem.

O desempenho positivo deste grupo de professores comprova a acertiva de que no Desenvolvimento normal da pessoa a extensão das forças sintônicas é maior do que das fraquezas e das forças distônicas. Percebemos o esforço dos professores para viver os valores e virtudes sintônicos e garantir suas conseqüências positivas na vida pessoal, nas relações sociais e no trabalho. Importa, pois, dar continuidade a este esforço e diligência para a permanência dos valores da confiança, da autonomia até a integridade, buscando, também, suas aplicações sociais e, principalmente, no processo de ensinoaprendizagem.


Conclusão

O desempenho positivo deste grupo de professores comprova a acertiva de que no desenvolvimento normal da pessoa a extensão das forças sintônicas é maior do que das fraquezas e das forças distônicas. Importa dar continuidade ao esforço e à diligência para a permanência dos valores da confiança, da autonomia até a integridade, buscando, também, suas aplicações sociais e, principalmente, no processo de ensino-aprendizagem.


Pie de página

aO coeficiente de correlação (r) fornece o grau de relação entre os temas que estão sendo analisados, isto é, as virtudes e os defeitos psicossociais. Trata-se de uma medida importante de relação entre temas que permite comparações válidas da intensidade ou de força entre eles. Neste trabalho consideramos os coeficientes de correlação positivos e negativos, no intervalo de - 0,6 < | r | < + 06 (de menos zero vírgula 6, até mais zero vírgula seis). A correlação positiva significa que os temas crescem ou decrescem num mesmo sentido, enquanto que a correlação negativa significa que o sentido de crescimento dos temas é contrário, isto é, enquanto um cresce, o outro decresce e vice-versa. O coeficiente de determinação (r²) fornece o percentual de variações totais do segundo tema que são explicadas (ou causadas) por sua relação com o primeiro, onde o 100. r² é a percentagem da variação total das variações do segundo tema que são explicadas (ou causadas) por sua relação com o primeiro.
bVer Tabela No. 01 - Ciclo de Vida Completo, Coluna C - Relações Sociais Significativas.
cVer Tabela No. 01 - Ciclo de Vida Completo, Coluna F - Princípios Relacionados de Ordem Social.


Referências

1. BORDGINON, Nelso Antonio. Dissertação de Mestrado: "O professor, percursos de vida e seu reflexo na prática educativa: Um olhar psicanalítico-cultural". Porto Alegre: UFRGS, 2002.        [ Links ]

2. BORDGINON, Nelso Antonio. El desarrollo psicosocial de Eric Erikson. El diagrama epigenético del adulto. En: Revista Lasallista de Investigación. Vol. 2, No. 2 (jul.-dic. 2005); p. 50-63.        [ Links ]

3. TRIVINOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1987. P.121.        [ Links ]

4. Ibid., p.117.        [ Links ]

5. ERIKSON, Erik O Ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artmed, 1998. p.70.        [ Links ]

6. Ibid., p .32-34.        [ Links ]

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