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Investigación y Educación en Enfermería

versão impressa ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.2 Medellín maio/ago. 2014

 

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE/ ARTÍCULO ORIGINAL

Úlcera venosa: fatores de risco e classificação dos resultados de enfermagem

Venous ulcer: risk factors and the Nursing Outcomes Classification

Úlcera venosa: Relación entre los factores de riesgo y la clasificación de los resultados de enfermería

Ana Beatriz de Almeida Medeiros1; Cecília Maria Farias de Queiroz Frazão2; Jéssica Dantas de Sá Tinôco3; Maria das Graças Mariano Nunes de Paiva4; Marcos Venícios de Oliveira Lopes5; Ana Luisa Brandão de Carvalho Lira6

1Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte -UFRN-, Brasil. email: abamedeiros@gmail.com.

2Enfermeira, Doutoranda. UFRN, Brasil. email: ceciliamfqueiroz@gmail.com.

3Enfermeira, Mestranda. UFRN, Brasil. email: jessica.dantas.sa@hotmail.com.

4Enfermeira, Mestranda. UFRN, Brasil. email: gracinhamariano@hotmail.com.

5Enfermeiro, Doutor. Professor, Universidade Federal de Ceará, Brasil. email: marcos@ufc.br.

6Enfermeira, Doutora. Professora, UFRN, Brasil. email: analuisa_brandao@yahoo.com.br.

Fecha de Recibido: Abril 9, 2013. Fecha de Aprobado: Junio 3, 2014.

Artículo vinculado a investigación: Integridade tissular de pacientes com úlceras venosas: um estudo baseado na Classificação dos Resultados de Enfermagem

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Medeiros ABA, Frazão CMFQ, Tinôco JDS, Paiva MGMN, Lopes MVO, Lira ALBC. Venous ulcer: risk factors and the Nursing Outcomes Classification. Invest Educ Enferm. 2014; 32(2): 252-259.


RESUMO

Objetivo. Explorar a relação entre os fatores de risco para o desenvolvimento das úlceras venosas e os indicadores de integridade tissular da classificação de resultados de enfermagem. Metodologia. Estudo transversal realizado em 2013 num hospital universitário de Natal / RN (Brasil. Participaram 50 indivíduos selecionados por amostragem consecutiva, foi feita entrevista e exame físico. Resultados. Os fatores de risco mais importantes foram: 44% apresentavam hipertensão arterial, 26% alergia, 20% Diabete Mellitus, 4% realizava alguma atividade física, 6% eram fumantes e 14% bebiam álcool. Teve associação estatisticamente significativa entre a Diabete Mellitus com a textura da lesão (p=0.015) e a perfusão tissular (p=0.026), a alergia e a textura (p=0.034), a atividade física e a hidratação (p=0.034), o tabagismo e a gordura (p=0.018); e o alcoolismo e o exsudado da úlcera (p=0.045). Conclusão. A relação entre alguns fatores de risco e os indicadores de resultado de enfermagem gera informação relevante para a elaboração de diretrizes para o seguimento e tratamento das úlceras venosas.

Palavras chaves: úlcera venosa; enfermagem; fatores de risco; avaliação em enfermagem.


ABSTRACT

Objective. To explore the relationship between the risk factors for the development of venous ulcers and the indicators of tissue integrity from the Nursing Outcomes Classification. Methodology. A cross-sectional study conducted in 2013 in a university hospital in Natal/RN (Brazil). Fifty individuals selected by consecutive sampling participated in an interview and physical examination. Results. The most important risk factors were: 44% presented with arterial hypertension, 26% allergy, 20% diabetes mellitus, 4% participated in some physical activity, 6% were smokers and 14% drank alcohol. There was a statistically significant association between diabetes mellitus and the texture of the lesion (p=0.015) and tissue perfusion (p=0.026); allergy and texture (p=0.034); physical activity and hydration (p = 0.034); smoking and thickness (p = 0.018); and alcoholism and exudate of the ulcer (p=0.045). Conclusion. The relationship between risk factors and the nursing outcome indicators generated information relevant to the development of guidelines for the monitoring and treatment of venous ulcer information.

Key words: venous ulcer; nursing; risk factors; nursing assessment


RESUMEN

Objetivo. Explorar la relación entre los factores de riesgo para el desarrollo de las úlceras venosas y los indicadores de integridad tisular de la clasificación de resultados de enfermería. Metodología. Estudio transversal realizado en 2013 en un hospital universitario de Natal / RN (Brasil). Participaron 50 individuos seleccionados por muestreo consecutivo; se les hizo entrevista y examen físico. Resultados. Los factores de riesgo más importantes fueron: 44% presentaba hipertensión arterial; 26%, alergia; 20%, Diabetes Mellitus; 4% realizaba alguna actividad física; 6%, fumadores y 14% bebía alcohol. Hubo asociación estadísticamente significativa entre la Diabetes Mellitus con la textura de la lesión (p=0.015) y la perfusión tisular (p=0.026), la alergia y la textura (p=0.034), la actividad física y la hidratación (p=0.034), el tabaquismo y el grosor (p=0.018); y el alcoholismo y el exudado de la úlcera (p=0.045). Conclusión. La relación entre algunos factores de riesgo y los indicadores de resultado de enfermería genera información relevante para la elaboración de directrices para el seguimiento y tratamiento de las úlceras venosas.

Palabras clave: úlcera venosa; enfermería; factores de riesgo; evaluación en enfermería.


INTRODUÇÃO

A grande representatividade das úlceras venosas (UV), no contexto atual, instiga-nos a estudá-la de um modo mais aprofundado, no âmbito dos fatores de risco que interferem no seu processo de cicatrização. Esse tipo de lesão tem se tornado um preocupante problema de saúde pública, não apenas por sua prevalência, mas também pelos custos econômicos e sociais decorrentes do tratamento, da incapacidade e da dependência a ela associadas. A principal causa do desenvolvimento de úlceras venosas é a Insuficiência Venosa Crônica (IVC), a qual pode ser resultado de um distúrbio congênito ou ser adquirida. A doença em questão pode atingir o sistema venoso superficial, o sistema venoso profundo ou ambos, ocasionando a úlcera venosa ou úlcera varicosa.1

Se há falha desse sistema em um dos seus componentes, o resultado é uma hipertensão venosa de longa duração e ou obstrução venosa, que causa distensão e alongamento das alças capilares, provocando edema e, consequentemente, a úlcera venosa.2 Outras doenças associadas, além da IVC, que podem interferir no processo de cicatrização tecidual, são comuns entre os clientes com úlcera venosa crônica. Predominam entre elas, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus, além de alguns hábitos sociais como o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo.3

Tais doenças são consideradas como fatores de risco para a IVC, e consequentemente, para UV, tendo em vista que podem ser conceituados como os componentes que levam à doença ou que contribuem para o risco de adoecimento e manutenção dos agravos de saúde. Ressalta-se que os fatores de risco comuns e modificáveis, como obesidade, sedentarismo, tabagismo e alcoolismo, estão na base das principais doenças crônicas.4 Diante disso, é importante controlar esses fatores, a fim de promover uma cicatrização eficaz de sua lesão, por meio de dieta, controle da pressão arterial e da glicemia, realização de atividades físicas, evitar o álcool e o tabaco, controlar fatores externos que provocam agressão ao tecido lesionado, além de outros fatores fisiológicos.1

A caracterização do estado de saúde dos membros inferiores de paciente com úlcera venosa e a relação deste com os fatores de risco para o desenvolvimento de úlcera venosa são prioritárias no cuidar em enfermagem dessa clientela, já que induzirá o enfermeiro a realizar um planejamento da assistência de enfermagem condizente com a realidade e direcionada às necessidades da clientela em questão. No intuito de caracterizar o estado de saúde desses pacientes, um referencial próprio da profissão foi utilizado, a Classificação dos Resultados de Enfermagem (Nursing Outcomes Classification - NOC). Neste estudo, o resultado de enfermagem escolhido foi "Integridade tissular: pele e mucosas", que tem como definição: integridade estrutural e função fisiológica normal da pele e das mucosas. Tal resultado se enquadrou nesse contexto por se tratar de um artifício para avaliar a real condição do paciente portador de úlcera venosa.5

Os indicadores do resultado em questão considerados para a clientela com úlcera venosa, com base no estudo de Santos,6 foram: Temperatura da pele, sensibilidade, elasticidade, hidratação, textura, espessura, perfusão tissular, quantidade de pelos, pigmentação anormal, lesões cutâneas, tecido cicatricial, descamação cutânea, eritema, necrose, enduração, prurido, dor e exsudato. Assim, o presente estudo objetiva estabelecer relação entre os fatores de risco para o desenvolvimento de úlcera venosa e os indicadores do resultado "Integridade tissular: pele e mucosas" da classificação dos resultados de enfermagem.

METODOLOGIA

Tratou-se de um estudo quantitativo, transversal e descritivo realizado no ambulatório de clínica cirúrgica de um hospital universitário localizado no Nordeste do Brasil. A amostra foi composta por 50 indivíduos, recrutados através de amostragem consecutiva, calculada a partir da aplicação da fórmula7 n = (z*s/e)2, onde z é o nível de confiança, s é o desvio padrão da média da escala NOC e, o erro amostral absoluto em relação a média da escala NOC. Sendo considerado para a amostra em questão z= 95% (1.96), a normalidade da média da escala NOC de 3 e um erro de 0.83 ponto.

Os critérios de inclusão foram: apresentar úlcera venosa, atestada pela caracterização e pelo valor de Índice Tornozelo/Braquial (ITB) superior a 0.8, o qual representa comprometimento venoso; estar em consulta referenciada no ambulatório de clínica cirúrgica do Hospital Universitário de Natal-RN; ter idade acima de 18 anos. Os critérios de exclusão: pacientes portadores de úlcera venosa e com transtornos psiquiátricos ou psíquicos, caracterizado por condições de anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou cognitiva; apresentar ferida oncológica, arterial ou de etiologia mista, porque tais feridas apresentam características diferenciadas das úlceras venosas típicas. A coleta dos dados aconteceu através de um formulário de entrevista e exame físico, construído com base no roteiro desenvolvido em tese de doutorado no Nordeste brasileiro.6 Utilizou-se também um instrumento de definições operacionais para indicadores do resultado Integridade Tissular aplicado aos pacientes com UV, construído com base na escala da NOC e validado pela mesma autora.6

A escala proposta pela NOC, mais especificamente no que diz respeito às variáveis de indicadores do resultado Integridade Tissular: pele e mucosas, apresentam como códigos cinco valores da escala de Likert quanto ao comprometimento: 1- Grave; 2- Substancial/muito; 3- Moderado; 4- Leve; 5- Não/Nenhum. Para a mensuração dos indicadores do resultado Integridade Tissular: pele e mucosas, fez-se uso dos métodos propedêuticos da inspeção e palpação, entretanto dois dos indicadores foram mensurados através de instrumentos específicos: a temperatura, por meio de um termômetro infravermelho MT-305 da marca Minipa®, calibrado com a emissividade de 0.98, específica para a pele humana, mensurada incindindo-se a onda infravermelha a uma distância de 10 cm da lesão; e a sensibilidade tátil da área perilesional e dorso do pé, por meio dos monofilamentos de Semmes-Weinstein ou estesiômetros da marca Sorry®, segurando o cabo do aparelho de modo que o filamento fique perpendicular à superfície da pele do paciente e a pressão feita deve atingir uma força suficiente para curvar o filamento.

Os fatores de risco pessoais para o desenvolvimento de úlceras venosas, codificados como ausente e presente, abrangeram as doenças de base (Distúrbios cardíacos, Diabetes Mellitus, Dislipidemias, Hipertensão Arterial Sistêmica, Alergias, Outros); antecedentes cirúrgicos (Cirurgias prévias, Revascularização, Enxerto, Desbridamento cirúrgico da lesão, Outras) e obstétricos (N° de gestações, N° de partos). Quanto aos fatores de risco familiares, foram consideradas como variáveis: Distúrbios cardíacos, Diabetes Mellitus, Dislipidemias, Hipertensão Arterial Sistêmica, úlceras venosas, Outros.

Os hábitos de vida: atividade física, tabagismo e etilismo, foram considerados por influenciar no desenvolvimento de úlceras venosas. Foram caracterizados como etilistas aqueles pacientes que relataram ingerir bebida alcoólica em quantidade e frequência sistemáticas, ou seja, em uso excessivo e continuado. Aqueles que nunca ingeriram ou não ingerem qualquer bebida alcoólica, exceto em raras ocasiões sociais, foram considerados não etilistas. Já como tabagistas, considerou-se aqueles participantes que relataram fazer uso do tabaco no momento da pesquisa. O período de coleta ocorreu entre os meses de fevereiro e junho de 2012. Os dados foram tabulados e armazenados em planilhas do software Excel, sendo posteriormente analisados estatisticamente no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 16.0, através da estatística descritiva e testes não paramétricos. A partir dessas análises, as variáveis categóricas foram apresentadas por meio de frequências absolutas e relativas, e para as variáveis quantitativas foram geradas medidas de tendência central e dispersão.

Com o objetivo de avaliar a distribuição dos dados quantitativos quanto a sua normalidade, realizou-se o teste de Shapiro-Wilk, o qual compara escores de uma amostra a uma distribuição normal modelo.7 A fim de verificar a correlação entre as variáveis, fez-se uso do teste de Correlação de Spearman, e no intuito de analisar as associações estatísticas foi utilizado o teste de Mann-Whitney, para dois grupos, e Kruskal-Wallis, quando a comparação envolveu três ou mais grupos.7,8 Para significância estatística dos testes especificados adotou-se um nível de 5% (p<0.05)

A pesquisa atendeu à Resolução n°466/12 do Ministério da Saúde com aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário (protocolo n° 608/11) e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética n° 0038.0.294.000-11.9 Os pacientes manifestaram sua aceitação em participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Os pacientes que participaram do estudo tinham UV em membros inferiores com uma média de 13,15 (±11,09) anos de tempo de úlcera, apresentaram idade média de 59,72 (±12,57) anos, a maioria era do sexo feminino (66%), com uma média de 4,98 (±3,32) anos de estudo e a maior parte era aposentado (48%).

Os resultados do estudo, quanto à caracterização dos pacientes com UV segundo fatores de risco, evidenciaram que do total de participantes da pesquisa, 33 eram mulheres (66%) e apenas uma delas não havia engravidado até o dia da coleta dos dados. Apresentou-se, portanto, mediana de 5 gestações e 4 partos.

Quanto às cirurgias anteriores, 70% dos pacientes já havia realizado algum tipo de cirurgia, sendo que 22% deles relataram já ter se submetido à cirurgia de revascularização, 6%, à cirurgia de enxerto e 6% ao desbridamento cirúrgico da lesão. Com relação ao antecedente familiar de UV, o mesmo se fez presente em 46% dos participantes da amostra.

Como doenças de base mais prevalentes, identificou-se a HAS (44.0%), seguida das alergias (26.0%). O Diabetes Mellitus e as dislipidemias apresentaram-se em 20.0% da amostra, cada, e em menor destaque estavam os distúrbios cardíacos e outras doenças (12.0%). Constatou-se, ainda, como média do Índice de Massa Corporal (IMC) o valor de 30.29 kg/m2.

Houve associação entre o Diabetes Mellitus e os indicadores textura (p=0.015) e perfusão tissular (p=0.026); dislipidemia e o indicador eritema (p=0.020); e alergia e textura (p=0.034). O IMC e a HAS não apresentaram associação, com nenhum dos indicadores do resultado Integridade tissular: pele e mucosas,

No que diz respeito aos hábitos sociais, identificou-se que 4% da amostra realizava algum tipo de atividade física, fato que evidencia o sedentarismo em 96% dos indivíduos pesquisados, 6% apresentavam o hábito de fumar e 14% consumiam bebidas alcoólicas.

Os dados mostram a associação estatisticamente significativa entre atividade física e hidratação (p=0.034); tabagismo e espessura (p=0.018); e etilismo e exsudato (p=0.045).

DISCUSSÃO

A hipertensão arterial e o diabetes mellitus interferem no processo cicatricial da lesão, por gerarem complicações vasculares que ocasionam a má circulação, produzindo uma cicatrização deficiente das feridas, fato este que justifica sua associação estatisticamente significante com o indicador perfusão tissular.10,11 A associação dessas duas afecções acarreta a progressão para o desenvolvimento da insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular, tendo em vista que a hipertensão aumenta o risco para as lesões macro e microvasculares, exacerbando os eventos cardíacos e o aparecimento de lesões em membros inferiores.11

O diabetes apresenta alta prevalência e morbi-mortalidade. Entre as complicações do diabetes relacionadas às lesões de membros inferiores, está a neuropatia periférica, a qual ocasiona, além da perda da sensibilidade protetora dos pés, alterações biomecânicas e perda da sudorese que protege a pele contra o ressecamento,11 tendo, portanto, relação com o indicador textura do resultado de enfermagem estudado, como pode ser verificado pela significância estatística entre as duas variáveis. Evidencia-se, ainda, que a perda de sensibilidade dos pacientes diabéticos influencia no aparecimento e na evolução de lesões como fissuras, úlceras, infecções.2

A prevalência de HAS na amostra corrobora com os dados de uma pesquisa realizada em ambulatório do Rio de Janeiro, no qual foram identificados 55% dos pacientes com esta afecção, estando 22% também associados ao Diabetes Mellitus.3 Ressalta-se que 22% da amostra do estudo em questão não referem outra doença crônica associada à IVC, o que apresenta a probabilidade do reparo tecidual ocorrer em menor tempo.10

No que diz respeito à alergia, tal fator pode ser ocasionado pela utilização de antibióticos locais, os quais podem desenvolver a resistência bacteriana e ainda, induzir as reações de hipersensibilidade que retardam o processo de cicatrização.10 Para tanto, faz-se necessário investigar quanto aos eventos alérgicos desenvolvidos pelos pacientes pela utilização de algum tipo de produto em sua lesão ou pele perilesional, a fim de evitar um possível processo alérgico. A alergia pode também ter relação com o eczema, já que o mesmo é consequência de uma possível reação autoimune contra bactérias infectantes e se apresenta como dermatite eritematosa que tende a ocorrer em pessoas com alergias. A erupção cutânea é geralmente eritematosa, provoca prurido e produz descamação, o que evidencia modificações na textura da pele perilesional, justificando a significância estatística apresentada entre a alergia e o indicador textura.12

Os hábitos sociais também interferem no processo de cicatrização de lesões. O tabagismo atua nesse processo reduzindo a hemoglobina funcional, predispondo à privação da oxigenação nos tecidos. A nicotina, componente encontrado no cigarro, induz o estado protrombótico, através da ativação plaquetária e produz vasoconstrição, o que aumenta o risco de necrose e úlceras periféricas.2,13 Diante de um estado de necrose, há perda progressiva de tecido, o que influencia na espessura da lesão, ou seja no comprometimento da profundidade da lesão, fundamentando a associação estatística entre o tabagismo e o indicador espessura.2

O etilismo também prejudica a integridade da pele, além de atuar na bainha de mielina, podendo causar neuropatias. O álcool etílico tem a capacidade de saciar a fome e diminuir a ingestão de nutrientes, acarretando maior fragilidade cutânea, acelerando a taxa de descamação, diminuindo a sensibilidade tátil, superficial e profunda, e diminuindo a oxigenação tecidual.2 O álcool etílico consome, para sua metabolização, grandes quantidades de vitaminas que influenciam a cicatrização. Este fato, acrescido da diminuição da oxigenação tecidual, retarda o processo de cicatrização, fazendo com que a fase inflamatória da lesão dure um tempo maior, ocasionando uma maior presença de exsudato, tendo em vista que este é um processo fisiológico presente na fase inflamatória.2 Tal fato justifica a associação estatística verificada neste estudo entre o etilismo e o indicador exsudato. Estudo realizado no Nordeste do Brasil demonstrou associação do tabaco e do álcool como fatores de risco na ocorrência dos eventos tromboembólicos. O uso do álcool foi associado com a ocorrência de trombose, aumentando em cinco vezes as chances de desenvolvê-la.13

A obesidade, definida pela Organização Mundial da Saúde como índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 30 kg/m2,14 tem sido reconhecida em todo mundo como um problema de saúde pública, estando associada a muitas doenças dermatológicas, não só em relação à prevalência como também à intensidade dos sintomas.15 A obesidade é reconhecidamente um fator de risco para IVC, tanto em homens, quanto em mulheres, pois o aumento da pressão intra-abdominal causa maior resistência ao retorno venoso.16 Em acréscimo a isso, o indivíduo obeso tem dificuldade em sua mobilização e deambulação, levando-o ao sedentarismo, o que pode provocar transtornos como a hipertensão venosa, interferindo na cicatrização de feridas. A obesidade atua também como doença imunossupressora, o que pode causar inibição da reação inflamatória e, consequentemente, alteração da cicatrização.2

Nesta perspectiva, a realização de exercícios físicos regulares para pessoas com úlcera venosa são importantes, pois melhoram a sua circulação, diminuem a glicemia, colaboram no controle de peso corporal e da hipertensão arterial, e na redução de colesterol e triglicerídeos.11 Destarte, o sedentarismo interfere negativamente em todos esses aspectos. A prática de exercício físico aumenta o tônus muscular dos membros inferiores, podendo melhorar sua ação no sistema venoso, já que com a contração do músculo da panturrilha, a pressão no sistema venoso profundo diminui, fazendo com que o sangue flua do sistema superficial até as veias profundas, por meio das veias comunicantes.17

Entretanto, a presença da úlcera provoca dores frequentes e perda da mobilidade funcional, afetando a capacidade do indivíduo para o trabalho, fato que gera aposentadorias por invalidez, além de restringir as atividades da vida diária e de lazer. O que explica que, no estudo em questão, o sedentarismo em pacientes com úlcera venosa apresentou uma frequência de 96%.

A hereditariedade ou a tendência familiar é considerada, também, fator predisponente para varizes e, consequentemente, para o desenvolvimento de úlceras venosas.18 O antecedente familiar de úlcera venosa apresentou-se em 46% dos pacientes pesquisados, corroborando com dados de outra pesquisa, a qual identifica o antecedente familiar de úlcera venosa relevante para o desenvolvimento da mesma.19 Durante a gravidez novas veias varicosas podem aparecer ou as já existentes podem aumentar, predispondo-as ao desenvolvimento de lesões de origem venosa. Aproximadamente 20% das gestantes desenvolvem veias varicosas ao longo da gestação. Costumam regredir depois do parto, porém com gestações subsequentes, costumam regredir menos. O uso de meias elásticas podem ser úteis no controle da sintomatologia e como profilaxia.20

A adoção de procedimentos cirúrgicos por médicos vasculares são comuns e têm a finalidade de reparar ou otimizar a circulação venosa do membro e, consequentemente, contribuir para uma cicatrização mais efetiva.21 No tratamento cirúrgico das varizes de membros inferiores, procura-se extirpar todas as veias varicosas e eliminar os pontos de refluxo do sistema profundo para o superficial.20 No estudo em questão, 22% dos pacientes já haviam se submetido a esse tipo de tratamento cirúrgico, consoante aos dados de outro estudo realizado em ambulatório de rede pública e no domicílio dos pacientes no Nordeste do Brasil. O enxerto e o desbridamento cirúrgico da lesão tinham sido realizados em apenas 6% da amostra, cada, o que mostra que, por vezes, o acesso aos serviços de especialidade vascular são restritos no Brasil.21

Alguns fatores de risco, apesar de estatisticamente significantes, não apresentaram associação clinicamente lógica com os indicadores do resultado de enfermagem estudado. Foram eles: dislipidemia em relação à eritema; e atividade física em relação à hidratação, não sendo encontrado na literatura respaldo para tal. As correlações e associações verificadas entre os fatores de risco de pacientes com úlcera venosa e o resultado de enfermagem em estudo geram informações relevantes para o desenvolvimento de novas diretrizes no tratamento de úlceras venosas, contribuindo para a redução do tempo de tratamento, do incômodo, das restrições, dos gastos, aumentando a qualidade de vida dos indivíduos e seus familiares.

O conhecimento e a utilização de um referencial próprio da profissão, como é o caso dos resultados de enfermagem da NOC, aprimoram a conduta dos profissionais de enfermagem e os orienta a realizar uma assistência capaz de atender às necessidades desta população em um período que demanda atenção tão singular. Neste estudo, apresenta-se como limitação o fato de ter sido realizado apenas com pacientes portadores de lesões de origem venosa, já que o instrumento utilizado se direcionava a estes pacientes. Propõe-se, a fim de comparar com os resultados encontrados, a realização de novos estudos que contemplem lesões de outras origens, no intuito de promover intervenções específicas e o alcançar resultados para uma melhor qualidade de vida dos pacientes com qualquer tipo de lesão.

A identificação e caracterização dos fatores de risco em pacientes com úlcera venosa e o estabelecimento de associações entre estes e o resultado de enfermagem em estudo geram informações relevantes para o desenvolvimento de orientações para o acompanhamento e tratamento de úlceras venosas. Nesse contexto, faz-se imprescindível que a equipe de saúde, principalmente o enfermeiro, tomando por base os dados de estudos a exemplo deste, desenvolva novos processos de ensino-aprendizagem, potencializando as ações de educação em saúde e, dessa forma, contribuindo para a melhoria e maior resolutividade da assistência prestada aos pacientes com úlcera venosa.

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