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Avances en Enfermería

versão impressa ISSN 0121-4500

av.enferm. vol.31 no.1 Bogotá jan./jun. 2013

 

av.enferm., XXXI (1): 170-176, 2013

Reporte de Caso

Adolescente e Sexualidade: as possibilidades de um projeto de extensão na busca de uma adolescência saudável.

Adolescente y Sexualidad: las posibilidades de un proyecto de extensión en busca de una adolescencia saludable.

The Adolescent and Sexuality: the possibilities for an extension project in seeking healthy adolescence.

Christine Baccarat De Godoy Martins1, Solange Pires Salomé De Souza2

1Enfermeira. Pós-Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP–São Paulo)–Faculdade de Saúde Pública. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá- MT, Brasil. Área saúde da criança e do adolescente. E-mail: leocris2001@terra.com.br.

2Enfermeira. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP–Ribeirão Preto)–Escola de Enfermagem. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá-MT, Brasil. Área saúde da criança e do adolescente. E-mail : solps2@gmail.com.

Recibido: 24/06/2010 Aprobado: 15/02/2013


Resumo

Introdução: Devido ao conjunto de transformações sofridas na adolescência, que se traduz em um campo de descobertas e experimentações, essa fase está frequentemente ligada a uma maior vulnerabilidade, vinculada ao fenômeno da descoberta da sexualidade, da gravidez não planejada, da Aids e das doenças sexualmente transmissíveis, da exposição a drogas, da violência, da marginalidade, entre outros eventos negativos. Frente a esta nova demanda, a área da saúde precisa desenvolver um referencial específico para abordar as questões da sexualidade na adolescência.

Objetivo: Neste sentido, o presente artigo relata a experiência de um projeto de extensão de educação sexual para adolescentes em Cuiabá- MT.

Considerações finais: Destaca-se a importância de se articular extensão, ensino e pesquisa, em que a Universidade e a comunidade compartilhem esforços para a redução de riscos e promoção de uma adolescência saudável. A experiência abre novas perspectivas de produção científica num novo campo de pesquisa que ainda necessita ser melhor compreendido.

Palavras-chave: adolescente, sexualidade, educação em saúde, oficinas de prevenção, vulnerabilidade. (Fonte: DeCS, BIREME).


Resumen

Introducción: Debido al conjunto de transformaciones sufridas en la adolescencia, traducidas en un campo de descubrimientos y experimentaciones, dicha fase frecuentemente está ligada a una mayor vulnerabilidad, vinculada al fenómeno de descubrimiento de la sexualidad, del embarazo no planeado, del SIDA y de las enfermedades de transmisión sexual, así como a la exposición a sustancias psicoactivas, a la violencia, la marginalidad, entre otros hechos negativos. Frente a esta nueva demanda, el área de la salud necesita desarrollar un referencial propio para abordar las cuestiones de la sexualidad en la adolescencia.

Objetivo: En este sentido, este artículo relata la experiencia de un proyecto de extensión de educación sexual para adolescentes en Cuiabá-MT.

Consideraciones Finales: Se destaca la importancia de la vinculación y articulación de las acciones en extensión, enseñanza e investigación, de manera que la Universidad y la comunidad compartan los esfuerzos para reducir los riesgos y promover una adolescencia saludable. La experiencia abre nuevas perspectivas de producción científica en un nuevo campo de investigación.

Descriptores: adolescente, sexualidad, educación en salud, vulnerabilidad en salud. (Fuente: DeCS, BIREME)


Abstract

Introduction: Due to the set of changes undergone in adolescence, which renders it a field of discoveries and experimentation, this period is often linked to a greater vulnerability related to the phenomenon of discovery of sexuality, unwanted pregnancy, AIDS and sexually transmitted diseases, the exposure to drugs, violence, marginality, among other negative events. In order to face this new demand, the health area needs to develop its own referential to approach the issues of sexuality in adolescence.

Aim: This article reports the experience of an extension project in sexual education for adolescents in Cuiabá-MT.

Final considerations: It underlines the importance of articulating extension, teaching and research, in which the University and the community share efforts to reduce risks and further healthy adolescence. The experience opens up new prospects for scientific production in a new research field that still needs to be better understood.

Keywords: adolescence, sexuality, health education, prevention workshops, vulnerability. (Source: DeCS, BIREME)


Introdução

A saúde do adolescente tem se mostrado um novo e desafiador campo de prática para os profissionais de saúde em função das transformações inerentes à adolescência, vinculadas ao fenômeno da sexualidade, da gravidez não planejada, da Aids e das doenças sexualmente transmissíveis (1-6).

Frente à vulnerabilidade resultante do processo da adolescência, sobretudo no que diz respeito a não adoção das práticas seguras relacionadas à sexualidade, torna-se necessário priorizar ações programáticas voltadas para esse segmento populacional e desenvolver estratégias de educação em saúde que possibilitem vincular a informação à reflexão, permitindo que o jovem exponha as suas ideias, sentimentos e experiências (7), a fim de que possa exercer uma visão crítica e uma práxis transformadora (8), com possibilidades de mudança de atitude e de comportamentos que reduzam os riscos próprios desta fase.

Desde o final da década de 1980, há iniciativas para se instituir programas de atenção à saúde do adolescente, como o Programa de Saúde do Adolescente – PROSAD (9), e estabelecer seus direitos por intermédio do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que preconiza que: “A educação sexual deve acontecer, pois a criança e o adolescente devem conhecer seu próprio corpo a fim de que possam cuidar melhor dele” (10), reconhecendo em lei a importância de assegurar às crianças e adolescentes a efetivação de seus direitos fundamentais nas áreas de educação e saúde.

Visando impregnar a prática educativa com as questões da orientação sexual, os Parâmetros Curriculares Nacionais (11) incluíram a orientação sexual dentre os temas transversais.

Através da Lei n. 8.642, de 31 de março de 1993, foi criado o PRONAICA (Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente), coordenado pelo MEC, dentro do EPI (Educação Preventiva Integral). Em 1994, o PRONAICA publicou a cartilha “Diretrizes para uma política educacional em sexualidade”, preconizando que “A Educação Sexual está voltada para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo e da coletividade” (12), o que se complementa com a declaração do Ministério da Saúde, em 1997, de que a educação sexual é mais efetiva quando administrada antes de se iniciar o envolvimento sexual, pois, na maioria das vezes, retarda o início da atividade sexual, diminuindo o número de DST / Aids, o número de parceiros sexuais e a gravidez não planejada.

No ano 2000, a Associação Brasileira de Enfermagem, em parceria com o Ministério da Saúde, lançou o “Projeto Acolher” (13) que incentiva os profissionais de enfermagem a implementarem e divulgarem suas práticas e reflexões sobre a saúde do adolescente.

Atento para essas necessidades de atenção à saúde do adolescente, os profissionais de saúde tem se alertado para a questão e grande parte dos currículos de graduação estão se adaptando a esta realidade, visando à formação de profissionais envolvidos com as questões da adolescência.

Ao enfermeiro e demais profissionais da saúde competem, portanto, desenvolver este campo de conhecimento. Frente a esta nova demanda, a enfermagem precisa refletir sobre sua prática a fim de desenvolver um referencial próprio para abordar as questões da sexualidade na adolescência.

Nesse contexto, percebemos o ambiente escolar como o local mais adequado para a prática dessas ações. A escola representa um lugar ideal para se trabalhar conhecimentos, habilidades e mudanças de comportamento, pois é para onde os adolescentes levam suas experiências de vida, suas curiosidades, fantasias, dúvidas e inquietações sobre a sexualidade, além de ser o local onde permanece o maior tempo de seu dia-a-dia (14-15).

Neste sentido, o presente artigo visa relatar a experiência de um Projeto de Extensão piloto de educação sexual para adolescentes do ensino médio das escolas públicas de Cuiabá – MT.

Metodologia

Trata-se de um relato de experiência de um Projeto de Extensão da Universidade Federal de Mato Grosso, intitulado “ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO E CONHECIMENTO COMPARTILHADO”, que teve como objetivo implementar e avaliar uma experiência piloto de educação sexual nas escolas para adolescentes do ensino médio, desenvolvendo ações de educação em saúde no que diz respeito à sexualidade humana, vulnerabilidade e riscos próprios desta fase de vida.

O projeto de extensão foi desenvolvido em cinco escolas da rede estadual do município de Cuiabá – MT, de março a novembro de 2009, cuja população alvo se constituiu de alunos do primeiro ano do ensino médio (13 a 15 anos de idade). A faixa etária escolhida deve-se ao período de transformação biopsicossocial, momento em que a sexualidade aflora e desperta para novas descobertas, dúvidas e ansiedades.

As oficinas foram desenvolvidas segundo metodologia participativa, baseada em técnicas lúdicas, vivências e dinâmicas de grupo. O que define uma oficina é sua proposta de aprendizagem compartilhada, por meio de atividade grupal, face a face, com o objetivo de construir coletivamente o conhecimento, tornando-se um espaço de reflexão, o que permite trabalhar, simultaneamente, os aspectos cognitivos e afetivos da sexualidade, lidando, de modo articulado, com ideias, valores, práticas e comportamentos (16).

As oficinas pressupõem o trabalho em pequenos grupos e a utilização de técnicas expressivas para estimular a descoberta e o uso de recursos pessoais, a fim de ampliar as possibilidades de cada um exercer sua sexualidade com o menor risco possível. Qualquer que seja a técnica facilitadora, o objetivo é desenvolver uma prática de reflexão e fortalecimento interno, a partir da qual possa ocorrer um processo de desconstrução/reconstrução do relacionamento do adolescente consigo mesmo, com sua sexualidade e com o outro, possibilitando- lhe a adoção de medidas de prevenção (2).

As oficinas se deram com grupos pequenos de 5 a 6 adolescentes, durante o horário escolar, e foram aplicadas por acadêmicos de Enfermagem, denominados “facilitadores”, previamente treinados e supervisionados pelas docentes do projeto.

O projeto foi autorizado pela Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) e diretorias das escolas. Os alunos foram convidados a participar de forma voluntária das oficinas e assinaram o Termo de Consentimento, resguardando- os quanto ao sigilo absoluto das informações e conhecimentos compartilhados. A autorização dos pais foi providenciada pelas escolas participantes da pesquisa.

A avaliação pelo público deu-se por instrumento previamente elaborado, entregue aos adolescentes participantes para preenchimento ao final das oficinas, constituindo-se de um questionário de questões fechadas e abertas sobre a opinião dos adolescentes acerca das técnicas utilizadas nas oficinas e o desempenho dos facilitadores.

Relato da experiência e discussão

Foram atendidas 22 turmas do primeiro ano do ensino médio, totalizando 1.320 adolescentes, com os quais se trabalhou as seguintes temáticas: O corpo que sente prazer; O corpo que se reproduz; O corpo que adoece – doenças sexualmente transmissíveis/Aids (com foco nas formas de transmissão e prevenção); Sexo mais seguro (uso do preservativo masculino e feminino); Tabus e mitos em relação à sexualidade; Vulnerabilidade (drogas e violência); Projeto de vida (expectativas para o futuro e condições facilitadoras / dificultadoras).

Destaca-se que a adesão dos alunos foi total, não havendo recusa em participar das atividades.

As dinâmicas utilizadas permitiram ampliar as discussões para além do aspecto biológico ou puramente preventivo. Ao contrário, além do conhecimento sobre o próprio corpo e importância da prevenção de DST e gravidez, foi possível proporcionar discussões sobre valores e questões de gênero/tabus, ampliando os conceitos dos adolescentes e possibilitando sua autonomia no exercício de sua sexualidade sem riscos. A importância da discussão sobre as questões de gênero e mitos relativos à sexualidade é também reforçada por outros autores, uma vez que estas questões exercem grande influência na formação dos adolescentes, aumentando a vulnerabilidade destes a fatores de risco à saúde (17).

Uma pesquisa nos EUA (18) avaliou os temas considerados importantes pelos professores das escolas públicas da Flórida para se trabalhar a sexualidade com adolescentes e constatou que não apenas as consequências negativas da sexualidade ganham importância, mas também os aspectos positivos desta, como: o prazer, fantasias, tomada de decisão, entre outros. Para outros autores (19), discutir a sexualidade com adolescentes significa permitir que estes possam se expressar, refletir, discutir, questionar e optar livre e responsavelmente sobre sua vida sexual, não se reduzindo à transmissão de crenças, verdades absolutas ou valores e preconceitos sexuais.

Visando atender a estas necessidades de discutir a sexualidade de forma mais ampla, as oficinas possibilitaram discutir com os adolescentes, de forma dinâmica e participativa, as transformações corporais que ocorrem na adolescência, prevenção de DST/Aids e gravidez não planejada; visão histórico-cultural da sexualidade, identidade e papéis sexuais, aborto, preconceitos, mitos e crendices, família, cidadania, violência, drogas, dimensões do amor e projetos de vida.

Observamos que a ação de extensão possibilitou promover a construção de conhecimentos, em que cada participante colaborou com suas experiências, valores, práticas e comportamentos. Foi possível estimular a descoberta e o uso de recursos pessoais, com o intuito de ampliar as possibilidades dos adolescentes exercerem sua sexualidade sem riscos.

A integração com as escolas foi fundamental para o desenvolvimento do projeto. Neste sentido, estudiosos (20-22) afirmam que o entrosamento entre as áreas da saúde e educação é primordial para uma significativa prevenção e qualidade da vida sexual dos adolescentes. Entretanto, para isto é preciso ter professores para tratar a questão de forma libertária e não como uma “domesticação” do jovem.

Além do objetivo inicial do projeto de atender os adolescentes nas escolas, também foi possível promover oficinas de capacitação para Agentes Comunitários do Programa Saúde da Família (PSF), no sentido de instrumentalizá-los para que possam dar continuidade à ação na escola de sua área de abrangência, trabalhando a sexualidade na adolescência conforme os objetivos do presente projeto. Após o treinamento, observou-se que o projeto foi incorporado pelas Equipes Saúde da Família como prática de atenção ao adolescente na comunidade.

Muitos autores trazem a importância da Atenção Básica incorporar ações programáticas para o adolescente. No estudo de Ferrari et al (8), por exemplo, que caracteriza as ações programáticas de atenção aos adolescentes realizadas pelas Equipes Saúde da Família, os próprios profissionais da equipe destacam a necessidade de implantação de um serviço sistematizado de atenção ao adolescente, bem como a urgência de capacitar os profissionais, reestruturar os recursos materiais e humanos, inserir outros profissionais e articular os diversos segmentos sociais.

A avaliação realizada pelo público atendido mostrou a ação como um importante espaço de reflexão sobre assuntos relacionados à sexualidade e vulnerabilidade desta fase de vida, temas dificilmente discutidos com a família ou na escola, ampliando o campo de conhecimento dos adolescentes, favorecendo a expressão de suas dúvidas, medos e sentimentos, fornecendo subsídios para práticas seguras quanto à sexualidade.

O material utilizado nas oficinas (ilustrações e jogos) foi avaliado como “ótimo” e a sugestão mais apontada pelos adolescentes foi que houvesse sempre as oficinas nas escolas, pois foi o único momento em que eles puderam conversar abertamente sobre os temas propostos.

A experiência proporcionou a integração entre a área de Saúde e Educação, promovendo a interdisciplinaridade e otimizando o espaço da escola para ações de saúde.

Destacamos a importância de ações articuladas não apenas entre o setor Saúde e Escola, mas, principalmente, entre família, escola e serviços de saúde, pois muitos autores apontam o importante papel da família na transmissão de valores e atitudes, repercutindo na vida sexual do adolescente (23-26), além da falta de afeto, diálogo e apoio familiar com relação às questões sexuais (27). Klosinski (28) ainda destaca que o comportamento educativo dos pais, muitas vezes pautado em suas convicções religiosas e rigidez de formação, podem ocasionar insegurança nos jovens, que se encontram confusos sobre a sexualidade ou sentem-se reprimidos em consequência da dificuldade da família em abordar o tema. Somado a este fator, há que se considerar, ainda, que muitos pais consideram a escola uma importante fonte de apoio na orientação sexual dos adolescentes (21), delegando à escola o papel da orientação sexual. Frente a isto, ações que englobem a família tornam-se primordiais.

Além da família, autores ainda reforçam a necessidade da articulação entre os serviços de saúde e os diferentes segmentos sociais, uma vez que a baixa idade nas primeiras relações sexuais, o número de parceiros e as atitudes de proteção contra DST/Aids estão, em grande parte, relacionados com a influência do grupo, nível socioeconômico, pouca escolaridade, envolvimento com drogas e violência (29).

A metodologia adotada apresentou-se como um excelente instrumento de prevenção e de promoção da saúde do adolescente, podendo ser operacionalizada e incorporada pelas escolas envolvidas. Outros trabalhos também apontam as oficinas com grupos como um dos recursos mais utilizados na área da saúde para atender clientelas específicas, pois consideram os participantes como sujeitos ativos, propiciando mudanças de atitudes através da informação e reflexão (2, 30).

Experiências similares à presente proposta de extensão têm mostrado resultados positivos na redução da gravidez na adolescência, como, por exemplo, o Projeto “Adolescência e Sexualidade”, desenvolvido nas escolas de um município no Norte de Minas Gerais, onde a gravidez de adolescentes teve redução de 40% no período de um ano, após a implantação de oficinas que propiciam informação, reflexão e expressão de ideias e sentimentos, resultando em mudanças de atitude por parte dos adolescentes (2).

Entretanto, para alcançar estes resultados é preciso garantir a discussão da sexualidade não somente com foco na reprodução, mas garantir também espaço para a discussão de planejamento familiar, sexualidade e DST/ Aids, drogas, visão histórico-cultural da sexualidade, identidade e papéis sexuais, disfunções e desvios, preconceitos, mitos e crendices, família, cidadania, dimensões do amor e projetos de vida, abordando o tema com estratégias metodológicas coerentes, estimulando a participação ativa, utilizando técnicas lúdicas e dinâmicas, trabalhando em pequenos grupos e construindo conhecimentos a partir das vivências individuais do próprio adolescente (7).

O projeto também possibilitou ao acadêmico de Enfermagem uma experiência extracurricular, o que contribui para sua formação frente às atuais necessidades de atenção ao adolescente.

Conclusões e perspectivas

Este trabalho, envolvendo os setores de educação e saúde, através da Universidade, procurou ampliar o acesso do adolescente às informações e propiciar a reflexão e expressão sobre sexualidade, na perspectiva de motivar mudanças de atitudes em favor de sua qualidade de vida.

Os atuais índices de gravidez / DST / Aids na adolescência em nosso país, além da violência, envolvimento com drogas, abandono escolar, entre outros indicadores negativos, reafirmam a necessidade de projetos que ampliem o acesso dos adolescentes à estas reflexões, bem como demanda mudanças nas práticas dos profissionais de saúde, priorizando as ações preventivas e promocionais, com ações de baixo custo e que possam resultar em impacto positivo no perfil epidemiológico de nossos adolescentes.

Desta forma, propostas de extensão podem contribuir para a prevenção e preencher uma lacuna vivida atualmente pelas escolas, além de oferecer subsídios para reflexão dos profissionais que atuam na área.

Destaca-se a importância de atividades que articulem extensão, ensino e pesquisa, operacionalizando teoria e prática num cenário em que a Universidade e a comunidade compartilhem esforços e conhecimentos para a transformação da realidade de nossos adolescentes, na redução de riscos e na promoção de uma adolescência saudável.

Uma parceria maior entre a escola e a Equipe Saúde da Família (ESF) torna-se essencial para a implantação de trabalhos similares a este, fazendo com que uma aproximação maior entre estas instituições e os adolescentes favoreça o fortalecimento desse vínculo. A participação dos professores juntamente com a ESF seria uma das estratégias a serem utilizadas para a formação do vínculo, já que os professores são os mais próximos do público adolescente.

Destaca-se a necessidade dos profissionais de saúde, em especial a equipe Saúde da Família, conhecerem bem as especificidades da adolescência para prestarem uma assistência integral aos adolescentes. As práticas educativas dos enfermeiros da saúde da família, somadas à capacitação dos profissionais da educação, podem auxiliar na construção de estratégias mais efetivas visando o desenvolvimento saudável dos adolescentes.

É preciso investir na formação de profissionais de saúde e educadores, compreendendo as dificuldades encontradas pelos professores em abordar estes temas com seus alunos, pois sabemos que a participação e envolvimento da escola vão além da liberação do espaço físico.

Espera-se que esta experiência possa embasar novos trabalhos de atenção à saúde dos adolescentes e sugere-se a introdução do tema nos cursos técnicos, de graduação e pós-graduação na área da saúde, visando à formação de profissionais conforme os parâmetros do MEC e recomendações do ECA.

A experiência abre novas perspectivas de produção científica num novo campo de pesquisa que ainda necessita ser melhor compreendido. Conhecer o contexto de vida dos adolescentes, suas necessidades de saúde e o modo como vivem sua sexualidade, é imprescindível no sentido de prevenir agravos e promover sua saúde sexual e reprodutiva, com consequente melhora na qualidade de vida.

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