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Revista Interamericana de Bibliotecología

Print version ISSN 0120-0976

Rev. Interam. Bibliot vol.35 no.2 Medellín May/Aug. 2012

 

INVESTIGACIÓN

 

Informação e conhecimento: análise da rede apl têxtil de americana/sp-Brasil*

 

Information and knowledge: an analysis in the context of business network

 

 

Cibele Roberta Sugahara*; Waldomiro de Castro Santos Vergueiro **

*Doutoranda em Ciência da Informação, Universidade de São Paulo, desde 2008 Professora e Diretora da Faculdade de Administração, Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas. Campinas, Brasil cibele.sugaharaa@gmail.com

**Professor Titular e Vice-chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil wdcsverg@usp.br

 


Resumo

Este artigo apresenta uma análise do processo de construção de conhecimento no contexto de rede de empresas, mais propriamente na Rede APL Têxtil de America- na/SP-Brasil (Arranjo Produtivo Local). Para isso foi empregado o Estudo de Caso a Àm de analisar a troca de informação para o desenvolvimento de ações conjuntas na Rede APL Têxtil que incorpora os vários elos da cadeia produtiva têxtil (Fiação, BeneÀciamento, Tecelagem, Confecção) situados no entorno de Americana. Apoiando- se em estudo anterior sobre o processo de construção de conhecimento elaborado por Nonaka e Takeuchi (1997), foi aplicado um questionário com 07 (sete) questões aos especialistas que compõem a rede de empresas APL Têxtil, totalizando 37 par- ticipantes da rede de um universo de 51 empresas. A partir desse instrumento, foi possível levantar dados para subsidiar a pesquisa quanto à troca de informação e socialização de conhecimento para o desenvolvimento de atividades conjuntas entre os integrantes do estudo de caso. O trabalho destaca a importância da partilhada do conhecimento tácito que permite reconstruir e explorar o conhecimento de forma mais ampla. Por isso, no ambiente em rede, a exteriorização do conhecimento tácito em conhecimentos explícitos também se faz necessária.

Palavras-chave: Informação; Conhecimento Tácito; Conhecimento Explícito; Rede de Empresas; Arranjo Produtivo Local. Gestão da informação, Troca de informações

Cómo citar este artículo: SUGAHARA, Cibele Roberta, VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Informação e conhecimento: análise da rede apl têxtil de Americana/SP- Brasil. Revista Interamericana de Bibliotecología, 2012, vol. 35, n°2. pp. 163–171.


Abstract

This paper reports on the analysis knowledge building process in the context of networked companies, more specifically in the American Textile Network APL/SP-Brazil (Local Productive Arrangement). To do so, a case study was used to analyze the information exchange for the development of joint activities in the Textile Network APL that incorporates several links of the textile supply chain (Spinning, Processing, Weaving and Tailoring), located in the surrounding of Americana,Sao Paulo. Based on earlier studies regarding the process of knowledge construction developed by Nonaka and Takeuchi (1997), a questionnaire with 7 (seven) questions was applied to the experts making up the APL Textile network. The study involved 37 participant companies out of 51. From this instrument, it was possible to collect data to support the research regarding information exchange and knowledge sharing for the development of joint activities among the case study members. The work highlights the importance of sharing tacit knowledge that allows reconstructing and exploiting knowledge more broadly. That is why the externalization of tacit knowledge into explicit knowledge is also required in a networked environment.

Keywords: Information; Tacit Knowledge, Explicit Knowledge, Network Business; Local Productive Arrangement, Information management, information exchange.

How to cite this article: SUGAHARA, Cibele Roberta; VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Information and knowledge: an analysis in the context of business network. Revista Interamericana de Bibliotecología, 2012, vol. 35, n°2. pp. 163–171.


 

1. Introdução

No campo da Ciência da Informação, particularmente no que diz respeito aos estudos sobre a Gestão da Informação e a Gestão do Conhecimento, as reflexões apontam para o entendimento da dinâmica da sua construção considerando as interações entre as pessoas que dela fazem parte.

De modo mais específico, entende-se que a Gestão da Informação não está dissociada de questões sociais, culturais e políticas, podendo ser orientada por crenças, ações, necessidades e interesses próprios de cada organização.

Na área da Ciência da Informação, os estudos sobre a Gestão da Informação e a Gestão do Conhecimento em ambientes organizacionais têm sido desenvolvidos com o propósito de apresentar princípios teóricos que possam colaborar para a construção de conhecimento individual e coletivo (TARAPANOFF 2001 e 2006; CHOO 2006; VALENTIM 2006 e 2010; PONJUÁN-DANTE 2007). A fim de elucidar aspectos relacionados a essa temática, recorre-se, neste artigo, aos postulados teóricos desses autores para a abordagem de uma questão importante, referente ao processo de construção do conhecimento: a troca de informação para o desenvolvimento de atividades conjuntas entre empresas em rede.

O objetivo deste artigo é o de discutir a troca de informação e socialização de conhecimento entre empresas em rede. Nesse sentido, retoma tema trabalhado anteriormente em artigo desta revista, no qual foram estudadas as densidades das relações de troca de informação e colaboração entre os elos, por meio da Metodologia de Análises de Redes Sociais (ARS), na rede Arranjo Produtivo Local Têxtil de Americana/SP Brasil (APL) (SUGAHARA, VERGUEIRO, 2011). Tal como no artigo citado, o levantamento de dados realizado teve como base o estudo de caso dessa rede, que abrange a seguinte cadeia produtiva: indústrias de beneficiamento, fiação, tecelagem, malharia, acabamento e confecção.

 

2. Processo de construção do conhecimento

Em estudos sobre o processo de construção do conhecimento Polanyi (1983), Hayek (1989), Nonaka e Takeuchi (1997) e Choo (2006) o classificam em conhecimento tácito e conhecimento explícito.

Na visão de Polanyi (1983) o conhecimento tácito é pessoal, intransferível e específico ao contexto, enquanto o conhecimento explícito é aquele que pode ser compartilhado por todos. Hayek (1989) esclarece que o conhecimento tácito está disperso na mente dos indivíduos e esses não têm plena consciência de todo seu conhecimento; por sua vez, o conhecimento explícito é definido pelo autor como exato e mensurável. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito pode ser definido como sendo pessoal e de difícil formalização, transmissão e compartilhamento. Choo (2006), por seu lado, caracteriza o conhecimento tácito como sendo difícil de formalizar ou comunicar a outros, por ser constituído de know-how subjetivo, enquanto o conhecimento explícito é conceituado como formal e fácil de transmitir entre indivíduos.

A fim de compreender os aspectos que envolvem o processo de construção de conhecimento, Choo (2006, p.37) o define como oriundo de um relacionamento sinérgico entre o conhecimento tácito e o explícito em ambientes organizacionais. Segundo Choo (2006, p. 192), o conhecimento tácito é difícil de transferir e verbalizar por estar 'incorporado às habilidades de um indivíduo ou às práticas compartilhadas de um grupo.' O autor oferece um contexto no qual a construção de conhecimento está baseada em regras, sendo disseminado entre múltiplos participantes e grupos que agem de maneira coordenada, a partir de regras e rotinas.

O conhecimento pode apresentar-se, por um lado, a partir da relação entre informação e conhecimento explícito e, por outro, da relação entre know-how e conhecimento tácito. Para melhor esclarecer essa relação, Oliveira Júnior (2001, p. 134) afirma que:

Se a informação é baseada em regras sintáticas, significa que está codificada e, por isso, explicitada de forma compreensível e socialmente acessível na empresa. À medida que o know-how é uma habilidade 'acumulada', significa que nem sempre essa habilidade de 'como fazer' é facilmente explicável, o que estabelece nexos com a noção de conhecimento tácito.

Com esse foco de análise, acredita-se que o indivíduo inserido em ambientes socioculturais recebe influência desse espaço no processo de construção de conhecimento individual e coletivo. Como destaca Valentim (2006, p. 20), a construção de conhecimento coletivo é resultado natural do conhecimento individual construído no espaço da organização. Desse ponto de vista, a autora relata que as interações entre as pessoas representam ação-chave para a construção do conhecimento coletivo, que se efetiva por meio do compartilhamento e socialização do conhecimento individual. A autora esclarece que é nesse espaço de interações desordenadas que a Gestão do Conhecimento pode realizar diversas atividades, visando organizar as construções individuais e, por conseguinte, disponibilizar o conhecimento coletivo no ambiente organizacional, a partir de atividades vinculadas à Gestão da Informação.

O que torna possível a construção do conhecimento, segundo Valentim (2008, p.19) é a internalização de diversas informações e percepções de um sujeito cognitivo que elabora ou reelabora seu 'novo' conhecimento. Para a autora, o conhecimento constitui-se, portanto, por um indivíduo que alimenta a construção do conhecimento coletivo e esse, por assim dizer, alimenta a construção do conhecimento individual.

Além disso, como esclarece Valentim (2006, p.20-21), o ambiente exerce influência nas pessoas de forma particularizada. Dessa forma, o indivíduo constrói significado a partir da percepção individual, retirada da percepção coletiva. A condição da construção de conhecimento coletivo é resultado natural do conhecimento individual construído no espaço corporativo.

Pode-se dizer que, apesar de a própria noção de conhecimento ser, por vezes, polissêmica, observa-se, na atualidade, que a construção do mesmo acontece de maneira variada, atrelada à experiência ou ambiente organizacional.

 

3. Gestão da Informação e Gestão do

 

Conhecimento

Nos dias atuais, a Ciência da Informação tem um papel importante para esclarecer como as organizações podem lidar com o processo de construção de conhecimentos bem como orientar a gestão da informação e do conhecimento em contextos organizacionais diversos.

Sob o ponto de vista da informação em ambientes organizacionais, Valentim (2008, p. 20) destaca que a informação 'não é óbvia, não é transparente, não é compreendida por todos os sujeitos que nela atuam'. Diante dessa afirmação, pode-se dizer que o critério de definição do que é informação para o sujeito se realiza por meio de um processo individual e subjetivo, sofrendo influência do ambiente no qual ele se insere.

Moraes e Fadel (2006, p. 107) destacam que a necessidade de gerenciar a informação propiciou o surgimento de uma área que se configura como campo de estudos consolidada nos Estados Unidos e na Europa. Originalmente denominada Information Resources Management, foi traduzida para o Brasil como Gerenciamento de Recursos Informacional, sendo hoje conhecida como Gestão da Informação.

Em se tratando da informação em ambientes organizacionais, Tarapanoff (2006, p. 23) ressalta a importância da informação na melhoria de processos, produtos e serviços, destacando seu valor estratégico. Segundo a autora, a concepção da informação como recurso estratégico evoluiu depois da mudança da Gestão da da Informação, que ampliou seu foco inicial, de gestão de documentos e dados, para recursos informacionais, destacando resultados em relação à eficiência operacional, ao evitar desperdício e automatizar processos. Essa abordagem se espalhou por grandes corporações privadas, que passaram a instituir uma estrutura formal, muitas vezes ligada à área estratégica da organização, para zelar pelos recursos informacionais.

Valentim (2008, p. 29) chama a atenção para as diferenças conceituais e ambiguidades entre Gestão da Informação e Gestão do Conhecimento. A autora alerta que algumas abordagens fundem os dois modelos de gestão e ainda há confusão conceitual entre um modelo e outro. Sendo assim, é comum encontrar em diferentes ambientes empresariais pessoas afirmando que fazem Gestão do Conhecimento nas empresas, quando de fato fazem Gestão da Informação.

Na visão de Valentim (2004), a Gestão da Informação é definida como um conjunto de estratégias para criar, adquirir, compartilhar e utilizar ativos de conhecimento, bem como estabelecer fluxos que garantam a informação necessária no tempo e formato adequados, a fim de auxiliar na geração de ideias, solução de problemas e tomada de decisão.

Nesse sentido, percebe-se que na Gestão da Informação o estabelecimento de fluxos que garantam a informação necessária no tempo e formato adequados à tomada de decisão depende, entre outros fatores, de um conjunto de seis processos distintos, mas inter-relacionados, como proposto por Choo (1998): identificação de necessidades informacionais; aquisição de informação; organização e armazenagem de informação; desenvolvimento de produtos informacionais e serviços; e distribuição da informação e uso da informação. A essência desse processo cíclico é a realimentação constante.

Ao discutir o processo de Gestão da Informação em ambientes organizacionais, Ponjuán-Dante (2007, p. 19) ressalta que esse é o processo mediante o qual se obtém, se desenvolve, ou se utilizam recursos básicos (econômicos, físicos, humanos, materiais) para o manejo da informação no âmbito e para a sociedade a qual serve. Tem como elemento básico a gestão do ciclo de vida desse recurso, e ocorre em qualquer organização. É própria, também, de unidades especializadas que manejam esse recurso de forma intensiva, chamadas de unidades de informação. Esse processo de gestão da informação deve ser valorizado sistematicamente em diferentes dimensões e o domínio de suas essências permite sua aplicação em qualquer organização (PONJUÁN-DANTE, 2007, p.19).

Em relação à manipulação da informação e para a sociedade à qual serve, não se pode deixar de destacar a importância das pessoas para a Gestão da Informação. Para Ponjuán-Dante (2007), as organizações precisam tratar seus colaboradores como sujeitos na sua totalidade e complexidade, visto que suas potencialidades devem ser incentivadas e valorizadas, pelo fato de essas pessoas participarem da cadeia informacional e comunicacional.

Entretanto, como alertam Moraes e Fadel (2006, p. 110), o processo de Gestão da Informação pode se efetivar de várias maneiras e em diferentes etapas, não existindo um único caminho ideal para organizá-lo.

Pelas palavras de Tarapanoff (2001, p. 44), a Gestão da Informação teria o seguinte objetivo: 'identificar e potencializar os recursos informacionais de uma organização e sua capacidade de informação, ensiná-la a aprender e adaptar-se às mudanças ambientais'. As proposições da autora em relação à Gestão da Informação voltam-se ao Ciclo Informacional, contemplando a geração, aquisição, armazenamento, análise e uso. Esse Ciclo Informacional dá suporte ao crescimento e desenvolvimento das organizações na medida em que cria condições para que estas se adaptem às exigências e novidades da ambiência em que se encontram.

Nas concepções de Tarapanoff (2006, p. 22), o ciclo de Gestão da Informação identifica-se, em grande parte, com o ciclo informacional utilizado pela Ciência da Informação. Por sua vez, a autora define Gestão da Informação como 'a aplicação do ciclo da informação (processo da ciência da informação) às organizações'. A Figura 2 a seguir mostra o esquema clássico do Ciclo da Informação:

 

 

Segundo Tarapanoff (2006, p. 23), o início do ciclo informacional ocorre com a 'identificação de uma necessidade informacional, um problema a ser resolvido, uma área ou assunto a ser analisado'. A necessidade de buscar a solução de um problema é decorrente de fatores, como 'as fontes e o acesso, a seleção e aquisição, registro, representação, recuperação, análise e disseminação da informação, que, quando usada aumenta o conhecimento individual e coletivo'.

Na tentativa de esclarecer o equívoco conceitual entre Gestão da Informação e Gestão do Conhecimento, Valentim (2004) ressalta que a Gestão da Informação tem como ponto focal os fluxos formais (conhecimento explícito) e a Gestão do Conhecimento apoia-se nos fluxos informais (conhecimento tácito). Lembra, ainda, que a Gestão do Conhecimento se ocupa da inserção do conhecimento tácito no ambiente do conhecimento explícito. Dito de outra forma lida com os fluxos informais de informação.

 

 

Nas concepções da autora, a Gestão da Informação trabalha no âmbito do registrado, não importando o tipo de suporte: papel, CD-ROM, Internet, Intranet, entre outros, constituindo-se em ativos informacionais tangíveis. A Gestão do Conhecimento, por sua vez, trabalha no âmbito do não registrado: reuniões, eventos, valores, crenças, experiências práticas, entre outros, constituindo-se em ativos intelectuais intangíveis. (VALENTIM, 2004).

Por essas particularidades, de forma complementar Cavalcanti e Valentim (2008, p. 124) alertam que a Gestão da Informação se ocupa com a informação desde a busca até o uso propriamente dito e, a Gestão do Conhecimento se ocupa com 'os meios que propiciam a explicitação e construção de conhecimento, para dele extrair os ativos intelectuais necessários à organização'. Nesse contexto, a construção do conhecimento inicia com os indivíduos que dispõem de 'algum insight ou intuição para realizar melhor suas tarefas. Esse know-how tácito pode ser partilhado com outros por meio da socialização' (CHOO, 2006, p. 40).

 

4. A rede Arranjo Produtivo Local (APL Têxtil)

A Rede Arranjo Produtivo Local Têxtil em Americana/ São Paulo – Brasil foi escolhida como estudo de caso considerando que essa região concentra subsetores de toda a cadeia produtiva têxtil e está estruturada a partir de interesses comuns entre os participantes da rede.

O estudo de caso como estratégia de pesquisa segundo Yin (2001, p.33) pode abranger tanto estudos de caso único quanto estudos de caso múltiplos. Esta pesquisa, ao analisar a troca de informação para o desenvolvimento de ações conjuntas na rede APL Têxtil situada em Americana/SP – Brasil, caracteriza-se como estudo de caso único e significativo, visto que a rede estudada destaca-se por incorporar vários elos da cadeia produtiva têxtil (Fiação, Beneficiamento, Tecelagem, Confecção) situados no entorno de Americana.

Neste estudo adotou-se a metodologia de Análise de Estudo de Redes Sociais (ARS) que é usualmente aplicada em pesquisas que objetivam estudar as ligações entre atores sociais em rede. Para Marteleto (2001, p.72), a Análise de Redes Sociais permite 'realizar uma análise estrutural cujo objetivo é mostrar em que a forma da rede é explicativa dos fenômenos analisados'. O uso dessa metodologia na Ciência da Informação pode, por exemplo, ajudar a compreender como ocorre a troca de informação e socialização de conhecimento entre as empresas em rede.

Quanto à técnica de coleta de dados, optou-se pelo método denominado por Hannemann (2001) como rede ego com conexões 'amigas'. Com essa técnica seleciona-se um ator ou atores e em seguida é realizada a identificação de atores que pertencem à sua rede. Posteriormente, identificam-se quais atores estão conectados entre si. Nesse sentido, primeiramente foram selecionados os atores que fazem parte da Rede APL Têxtil envolvendo os segmentos de Fiação, Tecelagem, Malharia, Acabamento e Confecção, e, em seguida identificou-se quais estavam conectados entre si para a troca de informação.

Wasserman e Faust (1994) ressaltam que com a metodologia Análise de Redes Sociais é possível aplicar diferentes tipos de questionário, denominados: lista; identificação livre; escolha livre; escolha fixa; e avaliação ou classificação completa. Na pesquisa optou-se pelo questionário denominado escolha fixa – neste tipo de questionário estabelece-se uma quantidade máxima de atores que o respondente pode nomear. .A coleta de dados com o questionário 'escolha fixa' permite aos participantes identificar um número fixo de indivíduos com os quais têm laços, como observa Hanneman (2001); por outro lado, acredita-se que esse critério pode permitir melhor compreensão sobre a direção do fluxo de informação na rede. Na pesquisa foi solicitado a cada participantes que identificasse três indivíduos com os quais troca informação na rede.

Para tanto, aplicou-se o questionário aos especialistas que compõem a rede de empresas APL Têxtil. No primeiro momento da coleta de dados foram obtidas 28 respostas e, posteriormente, no período de maio a junho de 2010, obteve-se a participação de mais 09 especialistas, totalizando 37 participantes da rede de um universo de 51 empresas. A partir desse instrumento, foi possível levantar dados para subsidiar a pesquisa quanto à troca de informação entre os integrantes da rede e suas práticas para o desenvolvimento de atividades nas empresas.

Em 2003, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresentou o conceito de Arranjo Produtivo Local como sendo uma concentração geográfica de empresas e instituições que se relacionam em um setor particular. Inclui, em geral, fornecedores especializados, universidades, associações de classe, instituições governamentais e outras organizações que provêm, educação, informação, conhecimento e/ou apoio técnico e entretenimento.

A Rede Arranjo Produtivo Local da região de Americana, criada em 2006, surgiu como projeto de desenvolvimento econômico e social da cadeia produtiva do setor têxtil e de confecção dessa região, com apoio do Polo Tecnológico da Indústria Têxtil e de Confecção situado em Americana. Por meio de lei estadual, criou-se o projeto de desenvolvimento econômico e social para a cadeia produtiva do setor têxtil e de confecção da região de Americana.

O recorte deste trabalho é a troca de informação e socialização de conhecimento para o desenvolvimento de atividades conjuntas entre os integrantes do estudo de caso. Nesse sentido, utilizou-se a proposta de construção de conhecimento elaborada por Nonaka e Takeuchi (1997), que ressaltam quatro maneiras de trabalhar o conhecimento: (1) por meio de um processo de socialização, que converte conhecimento tácito em conhecimento tácito; (2) por exteriorização, que converte conhecimento tácito em conhecimento explícito; (3) por combinação, que converte conhecimento explícito em conhecimento explícito; e (4) por internalização; que converte conhecimento explícito em conhecimento tácito.

Para os autores, a socialização é o processo pelo qual se obtém conhecimento tácito compartilhando experiências. Tal situação acontece, por exemplo, da mesma maneira que o aprendiz aprende o ofício com seu mestre ao observá-lo, e por meio da imitação, da prática e do treino. É nesse contexto que o autor relata ser possível desenvolver e aprender novas capacidades. Em complemento Santana et al. (2011) ressaltam que a socialização é um processo que se realiza entre as pessoas, sendo importante a relação de simpatia, vontade, confiança, entre outros aspectos.

A exteriorização, por sua vez, consiste num processo no qual o conhecimento tácito é traduzido em conceitos explícitos com o uso de metáforas, analogias e modelos. Na concepção de Choo (2006, p.39), essa atividade é essencial à construção do conhecimento e se dá principalmente com a 'fase de criação de conceito no desenvolvimento de um novo produto. A exteriorização é provocada pelo diálogo ou pela reflexão coletiva'. A partir da pesquisa foi possível identificar na Rede APL Têxtil que a interação material representada pela informação cumpre o papel essencial de unir polos, estabelecendo o que Musso (2004) denominou de vínculo de lugares.

Já o processo combinação leva em conta a construção de conhecimento explícito, reunindo aqueles oriundos de várias fontes. Como exemplo, Choo (2006, p. 39) relata que 'a informação existente em bancos de dados pode ser classificada e organizada de várias maneiras, para produzir novos conhecimentos explícitos'.

Já a internalização é o processo que se manifesta quando o conhecimento explícito é incorporado ao conhecimento tácito. Choo (2006, p. 39) menciona que, para isso, 'as experiências adquiridas em outros modos de construção de conhecimento são internalizadas pelos indivíduos na forma de modelos mentais ou rotinas de trabalho comuns'. O autor esclarece que a internalização é promovida quando o conhecimento 'é captado em documentos ou transmitidos na forma de histórias, de modo que os indivíduos possam reviver indiretamente a experiência de outros' (CHOO, 2006, p.39).

Nesse contexto, foi solicitado aos especialistas da Rede APL Têxtil que indicassem as empresas com as quais desenvolvem atividades conjuntas e troca de informação e experiências, tendo em vista as seguintes atividades: compra de insumos e/ou matérias-primas; participação em feiras e/ou exposições; desenvolvimento de tecnologia; e desenvolvimento de fornecedores comuns. Os resultados indicaram que a troca de informação entre os integrantes da rede ocorre principalmente para a realização de feiras e exposições (14 empresas). A troca de informação para compra de insumos e/ou matérias-primas também é notória entre os integrantes desse ambiente (8 empresas). Isso pode ser explicado pela necessidade de melhor condição de negociação que é estabelecida por uma ordem social própria da rede.

Em relação às atividades que requerem a troca de informações voltadas ao desenvolvimento de tecnologia e de fornecedores comuns (2 empresas), observou-se que a disseminação desse tipo de informação entre pares não é uma prática comumente utilizada.

Em relação ao contexto da troca de informação para o desenvolvimento de ações conjuntas voltadas para feiras e exposições, manifesta-se por meio da relação de confiança e interesse dos integrantes em rede neste tipo de atividade. Por isso a socialização de conhecimentos é praticada a partir da realidade, fundada na horizontalidade das interações, no diálogo e na vivência como processo partilhado de experiências, o que torna possível a construção de conhecimentos.

Verifica-se que as empresas da rede estudada procuram criar conhecimento num processo de interação social como, por exemplo, ao participar de feiras e exposições conjuntas. A troca de experiências na realização desse tipo de atividade promove a criação de conhecimento tácito, levando-se em consideração os modelos mentais compartilhados e habilidades técnicas físicas e cognitivas. A partir da abertura à interação, as pessoas podem lidar com o comportamento de profissionais mais experientes e seu conhecimento pode ser validado pelas pretensões de criação de conhecimento, como proposto por Nonaka e Takeuchi (1997).

De certo modo, a rede APL Têxtil apresenta elementos de interação e interconexão dinâmica visto que os participantes reúnem informações de acordo com suas práticas orientadas por uma determinação social e econômica.

Com esse foco de análise, a construção do conhecimento tácito adquire caráter explícito e pode ser 'acionada pelo diálogo e quase sempre durante uma reflexão coletiva' (CHOO, 2006). Em associação, entende-se que a exteriorização de conhecimentos tácitos em conhecimento explícito no âmbito da troca de informações ocorre por meio da relação gerada pela interação entre as pessoas. Percebe-se, na rede estudada, que a troca de informação voltada para ações conjuntas com foco no desenvolvimento de tecnologias e fornecedores são práticas incipientes. Isso pode indicar que nem sempre existe a abertura ao saber do outro. A partir dessa realidade é importante destacar que o Polo Tecnológico Têxtil situado em Americana/SP é uma organização de comando e representante social reconhecida pelos pares da rede e poderá, a partir dos dados da pesquisa, repensar as práticas e o desenvolvimento de ações com foco na construção e socialização de conhecimentos.

Nesse sentido, recorrendo ao exposto por Choo (2006), sabe-se que o ato de partilha do conhecimento tácito permite reconstruir e explorar o conhecimento de forma mais ampla. Por isso, no ambiente da rede APL Têxtil, a exteriorização do conhecimento tácito em conhecimentos explícitos também se faz necessária.

Tendo como base o processo de Gestão da Informação proposto por Choo (1998), pode-se dizer que a necessidade informacional, no que tange, principalmente, à aquisição e distribuição de informação, pode levar à interação entre os integrantes em rede. Isso abre caminho para práticas coletivas das mais diversas formas, servindo a necessidades socioeconômicas e culturais. Tais práticas influenciam o direcionamento, evolução e socialização de conhecimentos no ambiente em rede.

Partindo dessa perspectiva, acredita-se que, nos ambientes em rede de empresas, a disposição para compartilhar informação pode orientar o processo de novos conhecimentos, promovendo dinamismo nos espaços sociais e recriando relações entre diferentes sujeitos.

 

5. Considerações finais

A construção de conhecimentos em ambientes organizacionais revestese de importância pelo resultado que produz levando em consideração o seu compartilhamento para a sociedade. Novamente remetese à questão dos fluxos formais, cujo objeto é a construção de conhecimento explícito, e dos fluxos informais, que resultam em conhecimento tácito construído e compartilhado dentro de um contexto social. Acredita-se que o conhecimento é renovado à medida que é externalizado e compartilhado no ambiente organizacional. Ele reconfigura-se numa dinâmica que propicia a construção de novos conhecimentos.

Em certa medida, as interações entre os indivíduos contribuem para o acesso à informação, que pode ou não estar registrada em suportes (papel, digital, eletrônico). Dessa forma, por ser a informação algo que se desenvolve no indivíduo, e por esta circular em diferentes meios (formais ou informais), o ambiente em rede é profícuo à socialização e obtenção de conhecimento tácito por meio do compartilhamento de experiência.

Por sua vez, cabe à Ciência da Informação propor reflexões sobre o processo de construção de conhecimentos a partir do ambiente em que os conhecimentos estão inseridos e as flreas a que correspondem.

 


Notas

* Este artigo é parte da pesquisa de doutoramento Fluxos de Informação em Rede: Dinâmica e Interação, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Brasil


 

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