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Cuestiones Teológicas

Print version ISSN 0120-131X

Cuest. teol. vol.46 no.106 Bogotá July/Dec. 2019

https://doi.org/10.18566/cueteo.v46n106.a01 

Artículos

SALMO 121: YHWH ESTÁ SEMPRE A ME GUARDAR! POR ISSO VOU CANTAR! ANÁLISE RETÓRICA: TECENDO UMA "COSTURA" QUE ENLAÇA E UNE

Salmo 121: ¡YHWH siempre me guarda! ¡Por eso voy a cantar! Análisis retórico: tejiendo una "costura" que enlaza y une

Psalm 121: YHWH is always saving me! That's why I'm going to sing! Rhetorical Analysis: weaving a "seam" that binds and unites

Alessandra Serra-Viegas1 

Waldecir Gonzaga2 

1 Doutora em Teologia (área bíblica) pela PUC-Rio (2017) e em História Comparada pela UFRJ (2018). Professora na rede estadual de educação do Rio de Janeiro e no Seminário Metodista Cesar Dacorso Filho. E-mail: <aleviegas33@yahoo.com.br>, Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7074740062362701 e.

2 Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma e Pós-Doutorado pela FAJE, Belo Horizonte, MG. Diretor e Professor de Teologia Bíblica do Departamento de Teologia da PUC-Rio e do Instituto Superior de Ciências Religiosas da Arquidiocese do Rio de Janeiro. E-mail: <waldecir@hotmail.com>, Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9171678019364477 e.


Resumo

O Salmo 1211 é uma canção dos peregrinos para ir a Jerusalém, pertencente a um conjunto de quinze salmos (120-134) nos quais aparece o título: "Cântico das subidas" ou "Cântico dos degraus". Deste conjunto, e em relação aos "degraus", os salmos utilizam frequentemente o ritmo gradual: as mesmas palavras ou expressões são retomadas em eco de um verso para o outro. Esta característica marcante na poesia hebraica, presente no livro dos Salmos e muito bem marcada no Salmo 121, possibilita o prazer de estudá-lo conforme os pressupostos e a metodologia da Análise Retórica Semítica Bíblica, percebendo semelhanças e contrastes em seus versos, paralelismos e antíteses, além de quiasmos internos - até mesmo em um único verso - e outros elementos encontrados na beleza do ritmo do salmo. Ligando poesia à atividade cotidiana, a imagem de uma costura que enlaça menores e maiores pontos em um mesmo tecido, ou o une a outro, vem à mente e aponta que YHWH tece, socorre e guarda a vida daquele que busca nele forças para continuar sua caminhada na íngreme subida dos degraus da vida.

Palavras-chave: Salmo 121; Análise Retórica; Guardião; "Costura".

Resumen

El Salmo 121 es una canción de los peregrinos para ir a Jerusalén, perteneciente a un conjunto de quince salmos (120-134) en los que aparece el título: "Cántico de las subidas" o "Cántico de los escalones". De este conjunto, y en relación con los "escalones", los salmos utilizan frecuentemente el ritmo gradual: las mismas palabras o expresiones son retomadas en eco de un verso al otro. Esta característica marcante en la poesía hebrea, presente en el libro de los Salmos y muy bien marcada en el Salmo 121, posibilita el placer de estudiarlo según los presupuestos y la metodología del Análisis Retórico Bíblico Semítico, percibiendo similitudes y contrastes en sus versos, paralelismos y antítesis, además de quiasmos internos - incluso en un solo verso - y otros elementos encontrados en la belleza del ritmo del salmo. Ligando poesía a la actividad cotidiana, la imagen de una costura que enmarca menores y mayores puntos en un mismo tejido, o lo une a otro, viene a la mente y apunta que YHWH teje, socorre y guarda la vida de aquel que busca en él fuerzas para continuar su caminata en la vida cotidiana el empalado ascenso de los escalones de la vida.

Palabras clave: Salmo 121; Análisis retórico; Guardián; "Costura"

Abstract

Psalm 121 is a song of the pilgrims to Jerusalem, belonging to a set of fifteen psalms (120-134) in which the same title appears: "Song of the Ascents" or "Song of the steps". From this set, and in relation to the "steps", the psalms often use the gradual rhythm: the same words or expressions are echoed from one verse to another. This remarkable characteristic in the Hebrew poetry present in the book of Psalms and very well marked in Psalm 121 makes it possible to study it according to the presuppositions and methodology of Semitic Biblical Rhetoric Analysis, perceiving similarities and contrasts in its verses, parallels and antitheses, besides of inner chiasms - even in a single verse - and other elements found in the beauty of the rhythm of the psalm. Linking poetry to daily activity, the image of a seam that ties smaller and larger points in the same fabric or unites it to another comes to mind and points out that YHWH weaves, helps and saves the life of the one who seeks in him the strength to continue his journey in the steep climb of the steps of life.

Keywords: Psalm 121; Rhetorical Analysis; Guardian; "Seam".

Introdução

O Sl 121 é, para utilizarmos metaforicamente o universo da costura, uma reunião de laçadas e pontos menores e maiores bem marcados num mesmo tecido: seja em cada verso, nas relações entre os versos; em dois ou mais tecidos diferentes que são unidos: seja nas relações com os Salmos 120 e 122 - "pontos" mais próximos -, ou com os outros salmos do conjunto de que faz parte na tecitura (isto é, as várias linhas e tramas do tecido) do livro de Salmos. O Sl 121 é um canto dos peregrinos para ir a Jerusalém (cf. Sl 84,7; Is 30,39), pertencente a um conjunto de quinze salmos (120-134), cujo grupo é denominado "Cântico das subidas" ou "Cântico dos degraus". Insistimos na imagem da costura, porque um texto nada mais é que um tecido, como a própria etimologia latina do vocábulo demarca, vindo do latim textus, particípio passado de texere, e significa tecer, entrelaçar, fazer algo através da justaposição de fios.

Dentro da poética semítica, com exceção do Sl 132, neste conjunto, todos os salmos são formados de versos elegíacos2, com estíquios3 desiguais, e utilizam frequentemente o ritmo gradual: as mesmas palavras ou expressões são retomadas em eco de um verso para o outro, conforme podemos ler na edição da Bíblia de Jerusalém (2017, p. 997, n. b.). Esta característica é acentuada na poesia hebraica presente no livro dos Salmos e está bem assinalada no Sl 121, o que possibilita utilizar os pressupostos e a metodologia da Análise Retórica Semítica Bíblica para o seu estudo, percebendo as repetições (primeira figura de retórica que marca a função de insistência) (cf. Meynet, 1993, p. 392; Ballarini; Reali, 1985, p. 19), as relações entre os membros, as semelhanças e contrastes em seus versos, os paralelismos e antíteses (cf. Gonzaga, 2018, p. 159), além de um quiasmo interno perfeito - em um único verso (v. 6a-b) - e outros elementos poéticos e retóricos encontrados na beleza do ritmo do salmo. Aliás, Weiser afirma que "até os dias de hoje este salmo produz profunda impressão pela simplicidade de sua linguagem e por sua piedade" (1994, p. 580) e que do mesmo brota uma firmeza interior que "extravasa para o leitor", vistas as várias afirmações de confiança que encontramos nos vv. 2-8. Segundo Ravasi, o gênero do Sl 121 "seguramente é o da confiança" (1997, p. 521).

Texto, tradução4 e notas:

Notas e termos em destaque:

O aparato crítico da BHS não apresenta nenhuma variante na tradução do Sl 121 que traga argumentos e critérios para questionamentos. Apesar disso, houve, sim, pelos estudiosos (cf. Alonso Schökel; Carniti, 1996, p. 1460-1461; Kraus, 1995, p. 591-592), algumas tentativas de harmonização no salmo através da substituição dos sufixos de primeira e segunda pessoas que fazem o diálogo entre os vv. 1b-2 e 3-8 em uma única pessoa. Essas tentativas tinham o objetivo de criar um monólogo do salmista e afastar o caráter dialógico do salmo que, exatamente pelo fato de ali estar, dá-lhe cor e movimento poético e pode, também, manifestar na forma, a própria voz e presença de YHWH junto ao que clama pelo socorro, não só no Sl 121, mas ao longo do conjunto dos salmos graduais, esteja o peregrino longe de casa e de seu povo (cf. Sl 120,5-6) ou servindo durante as noites no templo (cf. Sl 134,1), é e será sempre "uma presença especial" (Allen, 1983, p. 154).

Após o título (שִׁ֗יר לַֽמַּ֫עֲל֥וֹת šȋr lammáălot: canção para as subidas), o Sl 121 inicia com uma afirmação com sentido suplicante: "Ergo meus olhos para os montes" (v. 1b) que se complementa "de onde virá meu socorro" (v. 1c), indicando que "contemplo as maravilhas do Senhor", pois dele vem o meu auxílio (cf. Oden, 2017, p. 460), indicando não um conhecimento acerca da origem e sim um gesto de confiança em YHWH (cf. Kraus, 1995, p. 631), pois sabe que somente dele pode vir seu "consolo" (Weiser, 1994, p. 582). Se pontuarmos o v. 1c como uma oração afirmativa, traduzindo e analisando morfologicamente מאֵַיןִ (de onde) como pronome relativo, pareceria ficar sem sentido a força das afirmações que vão sendo ditas num crescendo ao longo dos vv. 3-8. Se, por outro lado, pontuarmos com interrogação (de onde?), parece fazer sentido o pronome interrogativo, como defendem Joüon e Muraoka (2006), interpretam מ֜אֵַ֗יןִ como pronome interrogativo em pergunta indireta feita pelo salmista (§ 161 g, p. 652), tanto diante da amplitude de YHWH, que criou o que está acima e abaixo dos montes (em todo lugar), quanto das afirmativas da segunda voz que traz ao salmista respostas cada vez mais amplas do socorrista e guardador, não só do que lhe suplica e pergunta (v. 1b-c), mas de todo Israel (v. 4c).

O salmista faz a pergunta e ele mesmo responde acerca do lugar de onde vem seu auxílio, sua ajuda, seu socorro, pois sabe que "tudo procedeu das mãos de Deus" (Weiser, 1994, p. 582). Faz-se uma espécie de ampliação quanto aos elementos da natureza no espaço entre a pergunta e a resposta: ergo meus olhos para os montes, de onde vem meu socorro? Meu socorro íveml de YHWH, que faz (o particípio aponta "o fazedor" não só dos montes!) céus e terra! Enquanto a pergunta é sobre "de onde vem o socorro", a resposta é não de onde e sim de "quem vem o socorro" (Oden, 2017, p. 460), conduzindo o salmista a uma confiança não no monte e sim no fazedor do monte, naquele que dá todas as bênçãos para o ir e o voltar da caminhada cotidiana (cf. Kraus, 1995, p. 632).

Chama atenção no Salmo Sl 121 a repetição da raiz שׁמר com três particípios nos vv. 3-5, e três yiqtol nos vv. 7-8. Todas estas ocorrências acerca do guardião que guarda a vida do salmista (v. 7b) e de todo o Israel (v. 4b) soa e ressoa na memória do povo como címbalo que retine. Com essa certeza marcada pela repetição e pela ênfase, o(a) peregrino(a) e/ou o(a) ouvinte-leitor(a) do salmo é fortalecido(a) pelo pensamento de que o guardião me guarda a vida, de dia, à noite, a saída, a chegada, agora até sempre, pois o Senhor é "vigilante e bondoso" (Ravasi, 1997, p. 531). Ou seja, "Deus será o guia contínuo de seu povo, de modo que, estendendo sua mão para eles, os conduzirá segundo o desejo de seu coração, do princípio ao fim" (Calvino, 2009, p. 333).

Entre os salmos graduais (120-134), excetuando-se o Sl 121 em estudo, a raiz שׁמר ocorre como imperfeito singular no Sl 130,3 referindo-se a YHWH como o não guardador das iniquidades תּשְִׁמרָ־יהָּ֑ no sentido de observar, levar em conta, em consideração: "Se tu, YHWH, guardares as iniquidades, quem subsistirá?". Pelo contrário, YHWH é aquele que, mesmo diante das iniquidades humanas, age com misericórdia no julgar, pois não as leva em conta. No Sl 130,6 como particípio plural, referindo-se aos guardas שׁ ֹ מ רְִ֥ים que anseiam para que a manhã logo chegue: "minha alma te anseia, mais do que os guardas...". E, ainda, no Sl 132,12 ocorre como verbo plural, com o sentido de manter e cumprir ישְִׁמרְוּ֬ a parte determinada no pacto com YHWH: "se os teus filhos guardarem a minha aliança...".

Digno de nota, ainda, é o alcance temporal presente nos verbos do Sl 121, bem como a quantidade de verbos com semântica correspondente a YHWH socorrista e guardião do salmista e do seu povo. Os verbos precedidos da negativa (vv. 3a.b; 4a.b), bem como os "positivos" (2x) (vv. 7a.b; 8a) no yiqtol, isto é, com ação imperfeita, não acabada, apontam, gramatical e morfologicamente, para a certeza de que a ação de YHWH como aquele que não permite que os pés vacilem, não cochila [mesmo!] (2x), não dorme, guarda de todo mal, guarda a alma, guarda a saída e a chegada não acabou, não foi para a ocasião da subida a Jerusalém do(s) ano(s) passado(s), mas é para hoje, para amanhã e para cada ano de celebração e culto no tempo que virá. Tudo isso só é possível, porque YHWH é aquele que "sempre mantém vigilância sobre nós" (Calvino, 2009, p. 334).

Nesta costura, o yiqtol (no hiphil) presente em לאֹֽ־יכֶַּ֗כָּה (v. 6a) aponta que YHWH não deixa que sol nem lua molestem o(a) peregrino(a) em tempo algum. Importante pensar na força do calor do sol e no medo ou o frio da noite - a força da lua - em contraste com a força e a intensidade do aspecto verbal presentes no hiphil, como temos na realidade do Oriente Médio, desconhecidos por nós.

Duas ações acompanham o "yiqtol de YHWH": a primeira delas são os verbos no yiqtol relacionados à ação do salmista אשֶָּׂא֣ - ergo (v. 1b) e à sua pergunta - vem (v. 1c). O movimento de erguer os olhos é algo que acompanha o peregrino no tempo da adversidade ou do perigo e em busca de auxílio da divindade, já que esta sempre esteve e estará acima do plano espacial daquele que lhe clama por socorro.

E já que a busca do salmista é constante, acompanha-se-lhe no tempo difícil de necessidade de socorro a sua inquietação, que o leva a questionar de onde vem tal auxílio em cada vez que ele clamar. Interessante perceber que o próprio salmista responde à pergunta e subentende-se a mesma temporalidade verbal, pois o salmo a suprime, numa elipse que poderia caber no adágio popular brasileiro de que "para quem sabe ler um pingo é letra": o meu socorro [vem] de YHWH!

Quanto à segunda ação, concentra-se de novo em YHWH, agora não mais com yiqtol, mas com particípios masculinos, iniciando com chave de ouro no fim da resposta como afirmação de fé do salmista à sua própria pergunta: que faz céus e terra (v. 2b: ואָָרֶֽץ עשֵֹׂ֜֗ה שָׁמַי֥םִ). Retornando ao Gn 1,1, o salmista não somente ergue os olhos para os montes, mas àquele que criou tudo muito além dos montes: o "fazedor" de céus e terra, indicando os dois extremos, então, na verdade, ele quer afirmar "o fazedor de tudo aqui que está contido neles" (Oden, 2017, p. 460).

Encerra-se a primeira parte do salmo, ao mesmo tempo em que a costura faz duas laçadas e um ponto no meio que vão à repetição de três particípios do mesmo verbo: dois deles (as "laçadas") determinados com sufixo de segunda pessoa - o teu guardião que não cochila (v. 3b) / o teu guardião é YHWH (v. 5a); e um no meio (o "ponto") acompanhado do determinante - o guardião de Israel não cochila (v. 4b). Infira-se a morfologia e semântica do alcance temporal do particípio para pensar na ação de YHWH guardião: sua proteção é contínua - não é finita em um tempo. É livre das amarras de passado, presente e futuro. Acontece todo o tempo. Riqueza gramatical e perícia na pena do salmista e na agulha do que costura. Obra de mãos de artista!

Estrutura

O Sl 121 faz parte do conjunto dos 15 salmos conhecidos com "Salmos das subidas" (Weiser, 1994, p. 580) ou "Salmos dos degraus" (Meynet, 2017a), que compreende os Salmos 120 a 134, num conjunto de 15 salmos. Segundo Jean Michel David, em sua obra Les Chants des Montées6, estes 15 salmos têm uma estrutura e uma organização que nos permitem ver onde estaria o centro de todo o conjunto, ou seja, no Sl 127, sendo o único dos 15 salmos onde aparece o título com atribuição a Salomão (Cantos das subidas. De Salomão). Nos salmos 120; 123; 125; 126; 128; 129; 132 e 134, nós temos apenas o título "comum", sem nenhuma atribuição (Cânticos das subidas), como encontramos também no Sl 130, embora ele seja "cabeça" de subdivisão de uma série de 4 salmos. Nos salmos 122; 124; 131 e 133, nós encontramos o título de atribuição a Davi (Cânticos das subidas. De Davi). No Sl 121, nós temos a única ocorrência do título com uma preposição diferente: enquanto todos os demais salmos deste pequeno saltério contam com o título de "Salmos das Subidas" (שִׁ֥יר הַֽמַּעֲל֗וֹת), o Sl 121 traz o título de "Salmo para as subidas" שִׁ֗יר לַֽמַּ֫עֲל֥וֹת Mas ele é também o primeiro título de uma série de 4 salmos: 121 a 124. O segundo título da outra série de 4 salmos, nós o encontramos no Sl 130, que também conta com apenas o título "comum", ou seja, "Cântico das subidas".

Se o Sl 127 é o centro deste "Pequeno Saltério", vejamos o movimento estrutural harmônico que acontece ao redor dele. Olhando, do centro para fora, seja à esquerda, seja à direita, temos dois salmos de cada lado (Sl 125-126 e Sl 128-129), e, em seguida, temos dois blocos de quatro salmos de cada lado (Sl 121-124 e Sl 130-133), sendo aberto e concluído com apenas um salmo em cada uma de suas extremidades (Sl 120 e Sl 134). O Sl 121, objeto de nosso estudo, abre a primeira das duas séries (Sl 121-124), e o Sl 130, abre a segunda série (Sl 130-133).

Se o "Grande Saltério" conta com seus 150 salmos, este "Pequeno Saltério" conta com apenas 15 salmos, um para cada 10 salmos do inteiro saltério (cf. Gonzaga, 2018, 157). Vejamos na tabela a seguir como ficaria a estrutura destes 15 salmos e onde se encontra o nosso Sl 121, como "cabeça" da primeira série de 4 salmos, logo após da abertura deste conjunto.

Quando entramos para a organização/estrutura do Sl 121, que conta com apenas 8 versos, podemos ver inclusive alguns aspectos estruturais e estruturantes desta magnífica oração que tem sido amplamente usada pela tradição judaico-cristã (cf. Gonzaga, 2018, p. 156), percebendo como o mesmo foi e pode ser usado nas liturgias ainda hoje, nas diversas tradições, coletiva e ou individualmente. Segundo Meynet (2017), o Sl 121 é formado por 3 partes, com 5 segmentos organizados em 3 passos, sendo que a parte central é a mais desenvolvida (vv. 3-6), e as outras duas contam com apenas dois segmentos cada (vv. 1b-2 e vv. 7-8) (p. 338).

Visto em seu conjunto, à luz da Análise Retórica Bíblica Semítica, o Sl 121 nos possibilita constatar que o mesmo se constitui em forma concêntrica, tendo seu ponto central no v. 5a.

v. la: título

O título Cântico das subidas (dos degraus ou da ascensão), que é comum para os demais 14 salmos desta coleção de 15 salmos, chamada pequeno saltério, dentro do Grande Saltério, ou, no caso do Sl 121, que traz o título com uma preposição diversa dos demais, por isso vem intitulado Cântico para as subidas (para os degraus), está presente no conjunto dos salmos que eram entoados pelos peregrinos que se dirigiam em caravanas para ir ao Templo em Jerusalém (cf. Fernandes; Grenzer, 2013, p. 159). De fato, ele pode ter "servido para animar as viagens dos peregrinos a Jerusalém, fato que deve ter condicionado sua inserção no livro dos cânticos de peregrinação (Sl 120-134)" (Weiser, 1994, p. 580). O olhar para o alto se justifica pelo fato de que o Templo se erguia sobre uma colina de aproximadamente 770 metros acima do nível do mar Mediterrâneo, delimitada a oriente pelo vale do Cedron e a ocidente pelo vale de Ben-Enon. Neste sentido, graduais apresenta semântica geográfica, pois quem vai a Jerusalém deve subir "seus degraus". Segundo Agostinho, o(a) peregrino(a) quer subir não simplesmente na forma física, mas quer estar na presença de Deus, pois o que ele(a) deseja mesmo é "subir para a Jerusalém celeste" (1998, p. 573).

Liturgicamente, a expressão salmos graduais pode significar, ainda, salmos para cantar em voz alternada (cf. Fernandes; Grenzer, 2013, p. 159). Poeticamente, os salmos que possuem o ritmo gradual são aqueles cujas mesmas palavras ou expressões são retomadas em forma de eco de um verso para outro (cf. vv. 2-3.5.6.7), conforme lemos na edição da Bíblia de Jerusalém (2017, p. 997), o que é nítido na forma e estrutura deste salmo imediatamente após o título.

É interessante pensar que o título com a preposição לְ (para) no Sl 121, apontando-o como um cântico para as subidas, está integrado ao restante de todo o salmo, tornando-o uma canção para o caminho, para as subidas onde se encontram, ao mesmo tempo, o lugar do desafio, do enfrentamento de perigos, bem como da ascensão e aproximação de YHWH, representado pelos montes para onde o salmista ergue os olhos, pois sabe que ele conta com a presença daquele que é o fazedor de tudo (cf. Agostinho, 1998, p. 555). Assim, esse "salmo para o caminho que olha para o alto" inicia e finaliza o percurso do caminhante, pois YHWH guardião está subindo junto, desde agora até sempre, seja este caminhante o salmista, o(a) peregrino(a) que vai a Jerusalém, ou o(a) ouvinte-leitor(a) que precisa enfrentar as vicissitudes da estrada e dos degraus da vida, mas sempre caminha com o olhar erguido.

vv. lb-2: primeira voz (meus olhos, meu socorro)

A primeira voz das que se alternam no salmo é a voz do salmista e tem como determinante o sufixo de primeira pessoa singular em meus olhos( v. 1b) e em meu socorro ( v. 1c-2a). Ele não responde exatamente de onde vem o socorro e a ajuda, porque não é de um lugar que vem (não é um local transformado em divindade), mas é de alguém que vem - de YHWH -, e esse alguém é o fazedor da metáfora/metonímia de todos os lugares, como dispostos em ordem idêntica no Gn 1,1: céus e terra. Pode-se identificar céus e terra como metáfora, porque representam de modo figurado ao mesmo tempo as primeiras coisas criadas, bem como o ambiente para tudo que seria criado posteriormente e, ainda, aquilo que em si carrega a imagem não só de céus e terra, mas de todo o universo criado e tudo que nele se contém (cf. Sl 24,1). Também se pode perceber céus e terra como um "mistério metonímico" de toda a criação, que pode ser entendido como metonímia das partes pelo todo - céus e terra são partes que representam tudo que foi criado; ou do todo pelas partes - céus e terra já contêm em si o todo que fora criado. Ao indicar de onde vem o socorro (do Senhor), o que na verdade se quer afirmar é que não se deve ter dúvida de qual Senhor se está falando, ou seja, do verdadeiro Senhor, aquele que tudo fez: céus e terra, e tudo o que ambos contêm (cf. Oden, 2017, p. 461).

Os vv. 1-2 podem funcionar também como uma pergunta e uma posterior informação do salmista à voz de uma segunda pessoa presente no salmo (cf. Alonso Schökel; Carniti, 1996, p. 1460) - voz que o interpelará a partir do v. 3 com as afirmações acerca daquele que não somente faz os céus e a terra, mas continua exercendo seu poder de socorrista e guardião.

Essa sensação de uma companhia contínua para o salmista - na elaboração de uma canção de duas vozes - que traz por dez vezes o sufixo de segunda pessoa pode querer dizer que o socorrista e guardião está sempre ali, ao lado do salmista, quando ele se pergunta, nos momentos de perigo, de onde vem esse socorro e essa proteção de quem lhe guarda. Tal interpelação com sufixo de segunda pessoa também ocorre no Sl 91,3-13. A expressão מֵ֜אַ֗יִן יָב֥אֹ עֶזְִרֽי ( ךָ) ( ךָ) (de onde vem meu socorro?), que encontramos no v. 1c, normalmente é vista como uma interrogativa, por causa do meayin inicial. Alguns pensam em um pronome interrogativo e outros em um pronome relativo, antecedendo "os montes/as montanhas". Segundo Meynet (2017), "a escolha é determinada para a interpretação geral do salmo" (p. 35) e não apenas pela questão linguística, visto que é justamente a interpretação que vai dar a tônica por onde devemos caminhar, em suas várias possibilidades (cf. Allen, 1983, p. 151; Kraus, 1995, p. 630). Assim sendo, a questão permanece ainda em aberto, para ulteriores estudos.

O salmista não tem dúvida em encorajar o(a) peregrino(a) que vai empreender o caminho para subir até à presença de Deus, na Cidade Santa, sobre a colina de Sião, de que será preciso não olhar para lado algum, para nenhum outro monumento a não ser para a morada do guardião: o monte (cf. Calvino, 2009, p. 328). Ele sabe que mesmo os mais crentes podem se desviar de seu caminho. Por isso, seu conselho vai na linha de que os olhos fixos em seu objetivo é o que vai ajudá-lo(a) ao longo da caminhada, para que consiga chegar até sua meta: estar na presença daquele que é seu socorro e guardião: YHWH. Para o salmista, o(a) peregrino(a) quer estar diante da sekínah divina e dela alimentar-se para o seu retorno e vida. Para tanto, é preciso dirigir-se "exclusivamente para Deus" (Calvino, 2009, p. 331), visto que YHWH é a única fonte realmente segura para o nosso caminhar.

Enfim, os dois segmentos dos vv. 1-2 se correspondem, como que num espelho, de termo em termo, visto seus "termos médios": "meu socorro" e "de YHWH" correspondem a "de onde virá"; os "montes" correspondem aos "olhos que se elevam"; o "eu" do salmista parece corresponder à "terra", de onde se olha em direção ao céu; o salmista se encontra na terra, que é o oposto do céu. O segundo segmento responde à questão do primeiro segmento. A questão é saber de quais montanhas se tratam e o que elas representam.

Segundo Meynet (2017, p. 339), teríamos duas opões: a) visão negativa: obstáculos e perigos ao longo do caminho em direção a Jerusalém ou lugares altos onde se praticam cultos aos ídolos, representando uma tentação aos israelitas; b) visão positiva: as montanhas de Israel são os lugares altos, de onde os peregrinos poderiam avistar um socorro em vista do perigo, ao longo do caminho em direção à Jerusalém; para outros, pensando ao retorno das planícies da Mesopotâmia, onde se encontram exilados, tratar-se-ia das montanhas de Israel, de onde viria o socorro para os filhos de Israel, especialmente aquelas do Monte Sião, onde se encontra o Santuário ou Templo de Jerusalém (cf. Kraus, 1995, p. 631), para onde os israelitas vão partir em peregrinação. Encontrado e definido seu contexto, se a partir da visão positiva ou da negativa, isso vai ser privilegiado na interpretação (cf. Allen, 1983, p. 151; Weiser, 1994, p. 581).

vv. 3-8: segunda voz (teu pé,...)

Segundo Meynet (2017), "o gênero deste salmo é determinado pela situação social e sociológica em que ele foi gerado" (p. 35) e nele nós temos as bênçãos e as promessas divinas pronunciadas pelo sacerdote ou oficial do templo, possivelmente num diálogo entre um sacerdote e um leigo (cf. Kraus, 1995, p. 628-630). Nos v. 3-8, temos o domínio do uso da segunda pessoa singular: "teu" e "tua", como podemos conferir inclusive em nossa tradução. Se na primeira parte temos a descrição do caminhar de um peregrino que está chegando em Jerusalém, inclusive mencionando seu retorno (ir e vir), na segunda parte, temos como que a resposta de um "oficial" do templo, que encoraja e abençoa o(a) peregrino(a), indicando ser uma liturgia de bênção, "onde o salmista parece ser um líder ou um representante do Templo de Israel, ou mesmo um pai ou um oficial do templo" (Meynet, 2017b, p. 337; cf. Allen, 1983, p. 152; Kraus, 1995, p. 629; Weiser, 1994, p. 581).

A segunda voz, que apresenta o salmo como um diálogo, tendo como determinante o sufixo de segunda pessoa singular (sendo 9 ocorrências com o sufixo - ka e uma vez com nun enérgico לאֹֽ־יכֶַּ֗כָּה em 6a), é a voz que conversa com o salmista e que prevalece no salmo (teu pé: v. 3a, teu guardião: v. 3b. 5a, tua sombra: v. 5b, tua mão: v. 5b, não te molestará: v. 6a, te guardará: v. 7a, tua alma: v. 7b, tua saída: v. 8a, tua chegada: v. 8a).

Essa voz que interpela o salmista pode ter alguns rostos: um sacerdote que ministra a liturgia de exaltação a YHWH (por ser um texto litúrgico), segundo lemos: "Se supusermos execução litúrgica, a voz anônima será de um levita ou sacerdote que pronuncia um oráculo assegurando ao orante. Se se tratar de desdobramento interno do orante, as palavras são ditas ou sugeridas em silêncio por Outrem" (Alonso Schökel; Carniti, 1996, p. 1460; cf. Allen, 1983, p. 152); um levita do templo ou o profeta que traz um oráculo de salvação mostrando quem é o salvador-guardador - YHWH - àquele(a) que necessita de fortalecimento em sua fé para continuar peregrinando (por falar de YHWH como "o guardião" por quatro vezes); o mestre judeu que inicia seu ensinamento a partir da pergunta de um discípulo (expressa em v. 1c e respondida em vv. 3a-8b); o pai que dá palavras de encorajamento e conforto ao filho que iniciará sua peregrinação fora do lar, isto é, expor-se-á aos perigos ao redor e no caminho, dia e noite (a proteção garantida daquele que não dorme em vv. 3b-5a; daquele que protege e acompanha assim como a própria sombra e todo o tempo em vv. 5b-8b) (cf. Kraus, 1995, p. 591-593).

Segundo Calvino (2009), o salmista quer despertar a confiança no(a) peregrino(a) e o sentido da expressão "não dorme, nem cochila" poderia ser:

"como Deus nunca cochila, nem mesmo no menor grau, não precisamos ter medo de que qualquer dano nos sobrevenha, enquanto dormimos" (p. 332). Antes, o salmista indica que Deus "está sempre vivo e vigilante" (Kraus, 1995, p. 632).

Outra hipótese é a de que o Sl 121 pode ser uma conversa entre o salmista e sua alma - ainda que o vocábulo não surja claramente nos vv. 1-2, e seja mencionado no v. 7 - נפֶֶשׁ no entanto é melhor atribuída semanticamente à vida em si. Não obstante isso, conversas entre o salmista e sua alma ocorrem na literatura bíblica do Antigo Testamento, em Sl 42,5.11; 43,5; 103,1.22; 104,35; 116,7; 146,1; Jr 4,19; Lm 3,24, e do Novo Testamento, em Lc 12,19. Há, ainda, ocorrências desta "conversa" na literatura do Antigo Oriente Próximo: a mais conhecida é o texto egípcio Diálogo do desesperado com sua alma7.

Pensando nas palavras da alma (vv. 3-8) ao salmista acerca do socorrista e guardião do salmo, isto é, o próprio YHWH, pode-se notar que este, como SENHOR que é, possui amplitude espacial, pois não é somente aquele que socorre e o guarda o salmista, mas todo o seu povo, Israel (cf. v.4b) e, como ETERNO que é, possui também amplitude temporal, pois é aquele que socorre e guarda todas as saídas e chegadas de todos os dias e tempos - de agora até sempre. Neste sentido, Kraus (1995) defende que o Sl 121 poderia muito bem ser "um cerimonial de despedida do peregrino, aludindo à despedida e chegada do peregrino ao santuário" (p. 632).

Segundo Meynet (2017), os vv. 3 e 6 são de desideratum, expressão de desejos do peregrino (p. 38). Eles são paralelos: os primeiros membros invocam a proteção divina, de dia, no marchar sob o sol (correspondem-se os v. 3a e v. 6a), e de noite, no caminhar sob os perigos do surgir da lua, escuridão, sob a guarda vigilante de YHWH (corresponde-se os v. 3b e v. 6b). Nos vv. 4-5, em os dois últimos segmentos (v. 5a e 5bc), temos frases nominais que exprimem suas afirmações. Os vv. 7 e 8, no primeiro segmento, são idênticos e, no que diz respeito ao complemento, há uma oposição, pois YHWH se entrepõe entre o "mal" e a "alma/vida" do salmista. E no segundo segmento, temos um complemento que concerne ao movimento, ao tempo e ao espaço. YHWH está presente no início dos dois versos; "ir e vir" e "agora e para sempre" são merismas (de μέρος, parte: forma de indicar a totalidade de alguma coisa, mencionando seus dois componentes), marcando as "polaridades" (Ravasi, 1997, p. 526), que indicam a totalidade e correspondência com o "todo" do primeiro membro (cf. Meynet, 2017b, p. 340; Kraus, 1995, p. 632), visto que o merisma "reduz em duas metades uma totalidade" (Alonso Schökel, 1989, p. 105).

O Sl 121, do início ao fim, está marcado de forma acentuada por merismas. Logo em seu início, por exemplo, temos "céus" e "terra" (v. 2b). E alguns merismas evocam ou reforçam outros. O merisma "dia" e "noite" é reforçado pelo merisma "sol" e "lua" (v. 6). O merisma "ir" e "vir" (v. 8a), do final do salmo, reenvia ao merisma "céu" e "terra", que está em seu início (v. 2a), visto serem merismas concernentes à totalidade do espaço, com seu "paradigma simbólico" (Ravasi, 1997, p. 526); o merisma "agora" e "sempre", do v. 8b, invoca o merisma presente no v.6, com duas duplas: "dia e noite" e "sol e lua", indicando a totalidade do tempo (cf. Meynet, 2017a, p. 39); ainda, o merisma "saída" e "chegada" "abarca e impregna toda a vida da pessoa" (Kraus, 1995, p. 632). O merisma traz como essencial o fato de que "dois membros representam a totalidade" (Alonso Schökel, 1989, p. 105; Ballarini; Reali, 1985, p. 19), visto seu valor de esquema binário. Interessante aqui no Sl 121 é justamente o fato de que o merisma aparece em série, como em outros textos bíblicos, a exemplo de Is 2,11-12. Além disso, nome de YHWH aparece ao longo de todo o Sl 121, num total de 5 vezes: v. 2a; v. 5a e 5b; v. 7a e 8a (cf. Meynet, 2017b, p. 342; Allen, 1983, p. 153).

O termo "guardião" está fortemente presente no Sl 121 (v. 3b; v. 4b; v. 5b) e o verbo da mesma raiz ("guardar") aparece três vezes no final do salmo (v. 7a; v. 7b; v. 8a) (Allen, 1983, p. 153). O livro do Deuteronômio conta com um grandíssimo número de ocorrências do verbo da raiz "guardar" (smr) e seu sujeito, normalmente, é o povo de Israel, como em Dt 5,1; mas em Ex 32 o Senhor se apresenta como aquele que guarda seu povo (snr é sinônimo de smr). E em Is 27,2-5, Deus é visto como o guardião de sua vinha (Meynet, 2017a, p. 42).

As duas ocorrências do termo "socorro" acontecem logo no início do salmo (v. 1c; v. 2a). A lista dos membros do corpo que atravessam o salmo: "meus olhos" (v. 1b), "teu pé" (v. 3a), "tua mão direita" (v. 5c), e, enfim, "a tua alma/vida" (v. 7b).

Estruturalmente, segundo Meynet, o unimembro central e centro de todo o Sl 121, é o v. 5a: "YHWH é teu guardião", e o mesmo é precedido e seguido de 8 membros (2017, p. 342). Ceresko chega a afirmar que o v.5a é o centro matemático do inteiro Sl 121, precedido e seguido de 58 sílabas (1989, p. 499), sendo que nele encontramos o "símbolo dominante" de todo este salmo: "o guardião de Israel" (Ravasi, 1997, p. 529). Segundo Ceresko (1989), o Sl 121 pode ser tanto uma oração de um guerreiro como o hino de um peregrino (p. 501-509). O "guardião de Israel" é o mesmo que encontramos no Sl 23,1 e no Sl 80,2, como "pastor de Israel" (Kraus, 1995, p. 632; Weiser, 1994, p. 582), que dá ao(à) peregrino(a) uma presença protetora. Aliás, Ravasi afirma que no Sl 121, o salmista faz um caminho teológico, de uma experiência de Deus criador a um Deus protetor de Israel (1997, p. 521).

Enfim, um caminho de fé iniciado desde o Sl 1 continua com o Sl 121: tudo começa por uma questão que nos é colocada pelo salmista: "de onde vem meu socorro?" O salmista não tem dúvida em responder que "ele vem de YHWH... daquele que fez o céu e a terra", continua a lhes conservar e não vai parar de conservá-los para o bem de seus filhos e filhas, visto que "ele protege tua vida" (Kraus, 1995, p. 632). Por isso YHWH guarda seus filhos de dia e de noite, não cochila e nem dorme; aliás, o salmista sabe que "todo homem dorme e dormita", mas ele confia que nunca "dormitará, nem dormirá aquele que o guarda" (Agostinho, 1998, p. 558). Toda meditação culmina com a proclamação central do salmista: "YHWH [é] teu guardião" (v. 5a: uma frase nominal), sendo como que a bússola norteadora para ler e entender todo o texto deste belíssimo salmo (cf. Meynet, 2017a, p. 42).

O Deus no qual o salmista crê é o Deus que criou o céu e a terra, que a abraça dia e noite com seu socorro, que protege o peregrino de dia e de noite ao longo do seu caminhar em direção a ele, aliás, o próprio YHWH virá em seu socorro e o protegerá, tanto na ida como no retorno, mais ainda: será para sempre em seu peregrinar sobre a terra até que passe da Jerusalém terrestre e chegue à Jerusalém celeste (cf. Meynet, 2017b, p. 345).

Análise Retórica do Sl 121

A perícia na composição do Sl 121 permite elencar uma série de elementos nos quais é possível aplicar a metodologia da Análise Retórica Bíblica Semítica, com todas as suas figuras e frutos para efetuar a análise de um texto bíblico (cf. Gonzaga, 2018, p. 160-162). Vejamos alguns exemplos:

Dísticos e bimembros que desembocam uns nos outros

O Sl 121 é todo estruturado em dísticos ou bimembros, com membros que vão sendo "costurados" uns aos outros, dentro do próprio dístico ou fora dele, permitindo o eco que se forma ao longo do "movimento da agulha" no interior do salmo (Kraus, 1995, p. 628). A maior parte dos comentadores divide a estrutura do Sl 121 em duas partes: vv. 1-2 e vv. 3-8, baseando-se sobretudo na mudança de pronomes: uma mudança brusca da primeira singular (vv. 1-2) para a segunda singular (vv. 3-8): começa na primeira e bruscamente vai até o final na segunda (cf. Allen, 1983, p. 152); mas há outros autores que dividem em três partes: vv. 1-2.3-5.6-8 (cf. Allen, 1983, p. 153). E uma Análise Retórica pode nos ajudar a melhor compreender a lógica seguida pelo salmista. Pois esta mudança não significa obrigatoriamente uma mudança de interlocutor, visto que existem solilóquios em "tu" (ato de alguém conversar consigo próprio, monólogo) (cf. Meynet, 2017a, p. 36). Neste sentido, há comentadores que optam por um monólogo (Allen, 1983, p. 152), um estilo presente na literatura bíblica (cf. Alonso Schökel, 1989, p. 215). Vejamos algumas relações / "laçadas":

Relações de gradação ascendente

O Sl 121 apresenta por três vezes o que chamamos de gradação ascendente no que se refere às relações semânticas. A intensidade do significado daquilo que YHWH realiza vai num ritmo crescente para fortalecer a fé daquele(a) que clama por ele ou do(a) ouvinte-leitor(a) que percebe o aumento do alcance do auxílio de YHWH e guarda na memória pela repetição o que lhe pode dar esperança (cf. Lm 3,21). Aliás, o salmista sabe que "se é que alguém pode ajudar, esse alguém é Deus" (Weiser, 1994, p. 581). Imageticamente, seguindo a metáfora da costura, é um movimento da agulha que é ampliado a cada ponto.

Dois pontos:

Três pontos [e um reforço 3b-4a]:

Três pontos:

Relações antitéticas

Até mesmo as relações antitéticas que ocorrem no Sl 121 corroboram o alcance do socorro, auxílio e proteção de YHWH para com o salmista, o(a) peregrino(a), o(a) ouvinte-leitor(a). O(a) viajante em nada precisa temer, pois tem consciência de estar "sob o patrocínio de Deus" (Weiser, 1994, p. 583). Diante da laçada maior, que é perceber YHWH como o teu guardião (v. 5a), estas relações são "laçadas menores", que se encontram dentro dos membros e/ou dos bimembros:

Negativas de positividade

Paradoxalmente, o Sl 121 apresenta quatro negativas de positividade em relação direta ao "comportamento" de YHWH nos vv. 3a-4b e faz uma "laçada" até o v. 6a para mostrar o poder de YHWH sobre os elementos que ele mesmo criou - sol e lua (nos céus do v. 2b). O salmista, o(a) peregrino(a) não sofrerá nenhum mal justamente porque está sob a proteção do Senhor (cf. Agostinho, 1998, p. 568). Isso para mostrar que o salmista pode até descuidar e dormir, mas YHWH socorrista não dorme e não deixa nenhum mal lhe acontecer:

Os vv. 3-4 conferem um tom noturno ao poema. O resvalar ou vacilar encaixa-se bem na noite, quando o escuro acrescenta o perigo e o guardião conduz seguramente. Aquele que transcende montes e céus, transcende também a vigília e o sono. Todos podem dormir porque um não dorme (cf. Alonso Schökel; Carniti, 1996, p. 1461).

O quiasmo em YHWH - aquele que é, que faz, que tem domínio sobre tudo

No bimembro 6a-b encontra-se um quiasmo interno perfeito:

Durante o dia

o sol

NÃO te MOLESTA

a lua

à noite

Mas parece haver a tentativa de um quiasmo nos membros que envolvem o v.6, apontando, antes, quem é YHWH socorrista e guardião (v. 5a-b) e, depois, o que faz YHWH socorrista e guardião (vv. 7a-8b), pois se trata do mesmo e único Senhor (cf. Oden, 2017, p. 462): é o mesmo que criou sol e lua (céus e terra do v. 2b) e tem domínio sobre estes para não terem poder de molestar o salmista, o(a) peregrino(a), o(a) ouvinte-leitor(a):

Individualidade e coletividade

O guardião do salmista e/ou do(a) ouvinte-leitor(a) a quem é direcionado o sufixo de segunda pessoa precisa ser reforçado a fim de lhe garantir, pela repetição, a ação individual de YHWH guardião de todo o tempo. Sua ação coletiva também se faz presente. Importa observar, ainda, que o desdobrar de um crescendo ocorre: o teu guardião (ainda não revelado, mas subtendido) é também o guardião de Israel (ainda não revelado): o teu guardião é YHWH (revelado e identificado), aquele que guarda o(a) peregrino(a) na caminhada, como guarda Israel qual um pastor zeloso a seu rebanho (cf. Kraus, 1995, p. 632).

Em todo o salmo se trata de um diálogo, mas "não é claro que se trate de um diálogo entre várias pessoas ou de um monólogo, de uma meditação pessoal" (Meynet, 2017a, p. 35), por exemplo. Ainda segundo Meynet (2017b), "da resposta a esta questão vai depender a opção na tradução, sempre delicada, do modo e do tempo dos verbos" (p. 337). Alguns colocam quase todos os verbos no presente (indicando a essência de Deus: ele é assim), com exceção de 2b, em que alguns optam por uma tradução no passado: "que fez o céu e a terra"; outros colocam no futuro (indicando o agir de Deus: ele fará isso); outros ainda, conservam o optativo, especialmente os dois últimos versos (vv. 7-8)

Espacialidade e Temporalidade

Inicia-se o Sl 121 com a procura de um espaço de onde vem o socorro. Como visto, este espaço está além do acidente geográfico que media céus e terra: os montes. Mas o socorro vem de YHWH, "fazedor" de céus e terra. A questão é que YHWH não está no teísmo, criando tudo e deixando o salmista, o(a) peregrino(a), o(a) ouvinte-leitor(a) à própria sorte. Nós podemos até dormir e cochilar, mas YHWH permanece como o guardião que não dorme nem cochila (cf. Oden, 2017, p. 460), ou "não dorme, nem dormita", como prefere a tradução do texto de Agostinho (1998, p. 557). Os pontos e laçadas da costura ficam cada vez maiores e o que era espacial se abre em temporal. O socorro não está em um lugar. O socorro, além de estar em todo lugar, está em todo tempo. O socorro é sombra que acompanha, da luz do sol ou da lua. O socorro é desde agora - até sempre!

Para não concluir... porque o guardião continua a guardar agora até sempre

As palavras de interpelação dirigidas ao salmista podem muito bem servir ao(à) peregrino(a) que sobe os degraus a Jerusalém no século VI a.C., ao bom samaritano que parte de Jericó para Jerusalém no século I, nos tempos de Jesus, conforme lemos na parábola em Lc 10,25-37, ou ao(à) morador(a) de locais perigosos no século XXI, sejam estes no Brasil ou fora dele. A força destas palavras (cf. vv. 3-8) assegura qualquer pessoa de que o socorro está em todo lugar e em todo o tempo e traz refrigério e conforto individuais a todo(a) peregrino(a) que enfrentasse os perigos de subir a Jerusalém nos tempos das festas ou em qualquer outro tempo em que precisasse se ausentar de casa. As palavras deste salmo "asseguram três promessas divinas: 1) Yhwh é o Criador do céu e da terra [...]. 2) Yhwh é 'o guardião de Israel' [...]. 3) Yhwh é o guardião de cada um dos membros do povo de Deus" (Kraus, 1995, p. 632).

Palavras que também fortalecem, hoje, aqueles e aquelas que precisam acordar de madrugada, sair de casa ainda no escuro - a lua de noite não te molestará - e seguir um caminho de enfrentamento das lutas diárias pelo sustento e pela manutenção da sua vida e de sua família - o sol de dia, no suor da lida, igualmente não te molestará. Como recorda Weiser, "a sua 'partida' e 'chegada' está sob proteção divina; que ele vá com Deus e, guiado por Deus, seja feliz e volte para casa!" (1994, p. 583). A proteção do guardião coletivo de Israel e individual do salmista se dá, ainda, no retorno a casa e ao aconchego da família, depois de passar pelos riscos que possam se apresentar bem depois do sol poente. Porém, como nos recorda Calvino (2009), o salmista "não promete aos fiéis uma condição de felicidade e conforto que implica isenção de toda dificuldade" (p. 332), mas sim que YHWH nos sustentará sempre, pois ele é o nosso guardião.

Os autores têm uma relação especial com a leitura orante do Sl 121, para saída de casa e retorno a ela em meio à cotidiana violência de uma grande cidade como o Rio de Janeiro, recitando diariamente este salmo por ocasião dos compromissos externos (a saída de casa), como pedido de proteção, utilizando os verbos no presente e no futuro, e no retorno dos mesmos compromissos (chegada em casa), como agradecimento, empregando os verbos no passado, porque a palavra de Deus não está apenas nas linhas e entrelinhas do papel, mas nos caminhos e (por que não?) nos descaminhos da vida. Paulo afirma que "ao teu alcance está a palavra, em tua boca e em teu coração; a saber, a palavra da fé que nós pregamos" (cf. Rm 10,7). O autor da carta aos Hebreus corrobora esta proximidade alegrando-nos com o poder efetivo desta palavra: "Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes..." (cf. Hb 4,12).

O guardião que nos guarda o faz hoje, aqui e agora: graças, pois, a YHWH, que guardou, guarda e sempre guardará. Aliás, como afirma Weiser "quando é Deus quem ajuda, a ajuda é duradoura, pois ele é o guarda em todos os caminhos agora e para sempre" (1994, p. 583). Enfim, Agostinho, em sua releitura cristológica do Sl 121, afirma que é a fé em Cristo que possibilita ao peregrino continuar sua caminhada e também a manter-se vigilante, sem cochilar ou dormir, apesar de todas as intempéries da vida (1998, p. 555).

Referências

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2Os versos elegíacos: conhece-se como dístico elegíaco ou bimembros — que são o caso do Sl 121 — uma estrofe de dois versos. Nas elegias, o primeiro verso ou membro é um hexámetro (seis pés poéticos) e o segundo, um pentámetro (cinco pés). Este é um tipo de métrica poética bastante frequente na poesia épica e, em particular, nas elegias tanto gregas quanto latinas da antiguidade. Dois exemplos são de dísticos elegíacos de seis pés (hexâmetros) são a Odisseia de Homero e a Eneida de Virgílio.

3Estíquios são um sinônimo de membros ou de versos. O vocábulo estíquio é sempre utilizado em relação às suas possibilidades de serem divididos. A palavra mais comum que se encontra em versificação e métrica é hemistíquio, isto é, cada metade em que se divide um estíquio, um membro, verso, de modo coerente e relacionado.

4A visualização do método de diferenciação de fontes permite, ao primeiro e simples olhar, a percepção das relações que são construídas ao longo de todo o salmo, além de demonstrar a riqueza poética do mesmo.

6Esta estrutura, com a tabela, nós a encontramos no site do autor, na página http://www.hebrascriptur.com, com seus comentários acerca do conjunto dos salmos das subidas, também chamados de salmos dos degraus ou da ascensão.

7O "Diálogo do desesperado com seu ba" foi traduzido, reunido a outros textos egípcios, para a tese de doutoramento em História (História Antiga) de Telo Ferreira Canhão, A literatura egípcia do Império Médio: espelho de uma civilização (2010), pela Universidade de Lisboa. O diálogo é composto de seis discursos com quatro estrofes cada. Segundo o tradutor e pesquisador "Este texto representa a introspecção de um homem vivo que se debate entre as opções de continuar a viver ou morrer, assumindo o homem a defesa da morte e o ba a defesa da vida. Não é um texto religioso. O homem, anônimo, está num dualismo — tão típicos na cultura egípcia — em que procura uma saída pelo suicídio, sendo confrontado pela sua própria alma, se quisermos, consciência, que o tenta dissuadir de levar avante os seus intentos. Nenhuma destas palavras é inteiramente correta para definir ba, um dos complexos princípios espirituais da personalidade humana ou divina que constituíam a totalidade espiritual de cada indivíduo, que, inclusive, compreendia uma componente física ao nível da personalidade e, até, do desejo sexual, através do qual a pessoa se manifestava em vida ou na morte. Mas uma vez que o homem fala consigo próprio, com o seu eu, embora redutoras, talvez nenhuma delas seja totalmente inusitada, tendo nós particular inclinação para a segunda" (CANHÃO, 2010, p. 310). Este recorte sobre o diálogo está em http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2461/9/ulsd059259_td_vol.2_6.%20Dialogo.pdf. A tese completa encontra-se em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2461/18/ulsd059259_td_vol.1_p.1_302.pdf.

Cómo citar este artículo: Serra Viegas, Alessandra & Gonzaga, Waldecir (2019). Salmo 121: YHWH está sempre a me guardar! Por isso vou cantar! Análise Retórica: tecendo uma "costura" que enlaça e une. Cuestiones Teológicas, 46 (106), 196-222. doi: http://doi.org/10.18566/cueteo.v46n106.a01

1 Este escrito é parte da parceria nos estudos, discussões e reflexões realizados mensalmente na PUC-Rio, nas atividades do grupo de pesquisa de Análise Retórica Bíblica Semítica, constante no CNPq.

5preposição לְ permite traduzir “Canção para as subidas”. Note-se que apenas o Sl 121 possui לְ em seu título, subentendendo a presença do artigo, que a gramática hebraica permite que não apareça por escrito, diferenciando-o de todo o bloco dos “cânções das subidas”, com os outros 14 salmos, que trazem apenas o artigo /

Recebido: 20 de Maio de 2019; Aceito: 18 de Agosto de 2019

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