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Franciscanum. Revista de las Ciencias del Espíritu

Print version ISSN 0120-1468

Franciscanum vol.58 no.165 Bogotá Jan./June 2016

 

A Universidade deve estar ligada, exclusivamente, à autoridade da verdade

La Universidad debe estar vinculada exclusivamente a la autoridad de la verdad

The University should be linked exclusively to the authority of truth

Leonardo Agostini Fernandes*
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Río de Janeiro-Brasil

* Sacerdote da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro desde 2000. Doutor em Teologia com Especialização Bíblica (Pontifícia Universidade Gregoriana: 2008), Mestre em Teologia Bíblica (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: 2002), Teólogo (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: 1999), Bacharel em Catequese Missionária (Pontifícia Universidade Urbaniana: 1993). Diretor e Professor de Sagrada Escritura no Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e professor de Sagrada Escritura do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro da Associação Bíblica Brasileira (ABIB), da Associação Bíblica Italiana (ABI), da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), da Society of Biblical Literature (SBL), e integra o grupo de pesquisa tiat (Tradução e Interpretação do Antigo Testamento) junto ao CNPq: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9532244382229230. Contato: laf2007@puc-rio.br.

Para citar este artículo: Agostini Fernandes, Leonardo. «A Universidade deve estar ligada, exclusivamente, à autoridade da verdade». Franciscanum 165, Vol. LVIII (2016): 339-380.


Resumo

O presente artigo de reflexão baseia-se na alocução que o Papa Bento XVI faria por ocasião da abertura do ano acadêmico na Universidade Sapienza de Roma. Nesta, o Pontífice disse que, por sua natureza, a Universidade deve estar ligada, exclusivamente, à autoridade da verdade. Esta é o maior anseio do ser humano, porque quer conhecer não somente a teoria (homo theoreticus), mas quer a verdade como base e suporte para conhecer e praticar o bem (homo ethicus). Aí está o que aproxima e fundamenta a relação entre teoria e práxis; entre conhecimento e comportamento. Tal relação ajuda a perceber e a compreender a célebre frase de Jesus Cristo: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo 8,32). Este artigo, partindo da alocução que seria pronunciada pelo Santo Padre, apresentará e discutirá alguns elementos que fazem parte da natureza e da missão da Universidade na busca e na promoção da verdade que liberta o ser humano.

Palavras-chave: Bíblia, conhecimento, ética, universidade, verdade.


Resumen

El presente artículo de reflexión se basa en la alocución que el Papa Benedicto XVI haría en la inauguración del año académico en la Universidad Sapienza de Roma. En esta, el Pontífice dice que, por su naturaleza, la Universidad debe estar vinculada exclusivamente a la autoridad de la verdad. Este es el mayor deseo del ser humano, porque él quiere conocer no solo la teoría (homo theoreticus), sino la verdad como base y soporte para conocer y practicar el bien (homo Ethicus). Esto es lo que acerca y fundamenta la relación entre teoría y praxis; entre conocimiento y comportamiento. Esta relación ayuda a percibir y a comprender la célebre frase de Jesucristo: Conoceréis la verdad y la verdad os hará libres (Jn 8, 32). Este artículo, partiendo de la alocución que iba a ser pronunciada por el Santo Padre, presentará y discutirá algunos de los elementos que hacen parte de la naturaleza y de la misión de la Universidad en la búsqueda y promoción de la verdad que liberta al ser humano.

Palabras clave: Biblia, conocimiento, ética, universidad, verdad.


Abstract

This reflection paper is based in the speech that Pope Benedict XVI would do, at the opening of the academic year in the University Sapienza of Rome. In this speech, he says that the University must be directly linked only to the authority of the truth. This is the greatest desire of the human being, because he wants to know, not only the theory (homo theoreticus), but he wants the truth as a foundation and support to learn and practice the good (homo ethicus). This is what approaches and justifies the relationship between theory and praxis; between knowledge and behavior. This relationship helps to perceive and understand a famous phrase of Jesus Christ: you will come to know the truth, and the truth shall set you free (John 8, 32). This paper, starting from the speech that would be pronounced by Holy Father, will present and discuss some elements that are part of the nature and mission of the University in the pursuit and promotion of the truth that releases the human being.

Keywords: Bible, knowledge, ethical, university, truth.


Introdução

A alocução, que o Papa Bento XVI pronunciaria na Universidade Sapienza de Roma (desse momento em diante usa-se a sigla usr), deveria ter acontecido no dia 17 de janeiro de 2008, por ocasião da abertura do ano acadêmico 2008-2009. Entretanto, na tarde do dia 15 de janeiro de 2008, a Secretaria de Estado do Vaticano anunciou que a visita do Papa estava cancelada. Este cancelamento deveu-se, lamentavelmente, a um movimento de reação à pessoa do Papa e à Igreja Católica por parte de um grupo de aproximadamente 70 docentes, sobre um total de 4500, e de algumas dezenas de alunos, sobre um total de 135 mil alunos.

Tal fato provocou uma repercussão no mundo inteiro e as opiniões, de apoio ou de repulsa, se espalharam rapidamente. Assistiu-se, infelizmente, como o fechamento de poucos se sobrepôs à abertura e ao interesse de muitos. Revelou-se que na usr, que se define laica, existem também adeptos da ideologia favorável à intolerância, que fere a democracia, fomenta a prática da miopia intelectual, ofusca a mente e obscurece a razoabilidade à qual os acadêmicos estão chamados a ter, desenvolver e praticar.

Diga-se, logo de início, que o Papa não se ofereceu para proferir a aula magna, mas se dispôs a faze-la, aceitando o convite feito por Ruggero Guarini, Reitor da usr. Tal convite fora acolhido com grande alegria, visto que o Papa já tivera a oportunidade de se fazer presente no discurso de Regensburg1, na Alemanha, bem no início do seu pontificado2. Nesta ocasião, o Papa acolhera o convite, como acadêmico e como uma oportunidade, para falar e refletir com docentes e discentes sobre a fé, a razão e a Universidade no tocante à violência e à intolerância praticadas em âmbito religioso.

Em Regensburg, o Papa Bento XVI, com alegria, lembrou dos anos em que fizera parte do seu corpo docente e na sua reflexão colheu a oportunidade de mostrar que a Universidade é, sem dúvida, um espaço privilegiado, no qual a razão humana pode, devidamente, se interrogar não apenas sobre as realidades imanentes, mas também sobre as realidades transcendentes, como a fé em Deus, o seu modo próprio de existir e de se revelar, na história, ao ser humano como o Amor que vence o ódio e as divisões3.

Contudo, um forte estímulo aconteceu com o cancelamento da visita à usr, pois originou, por assim dizer, a Fundação Vaticana Joseph Ratzinger - Bento XVI. Esta foi erigida no dia 01 de março de 2010, com a finalidade de promover o conhecimento e o estudo da teologia, organizar e desenvolver congressos de alto valor cultural e científico, e premiar estudiosos que se distinguissem por méritos particulares na atividade de publicação e/ou na pesquisa científica4.

Parafraseando Santo Ambrósio5 e aplicando à referida aula magna que não aconteceu na usr, poder-se-ia dizer: Ó felix culpa que nos deu tão grande ocasião para, pela promoção do diálogo entre fé e razão, fazer com que acadêmicos de boa vontade passem a se encontrar com certa frequência e juntos busquem a verdade mais íntima e profunda sobre o ser humano, sobre o sentido da vida e sobre Deus.

O conteúdo dessa alocução não está disposto em partes, nem se desenvolve em tópicos ou subtópicos, mas está escrita em doze parágrafos devidamente concatenados, seguindo uma lógica metodológica muito pertinente: proposição - refutação - síntese. Tal conteúdo evolui em função do objetivo que o Papa Bento XVI desejou elucidar para os acadêmicos: mostrar em que sentido a Universidade, por sua natureza, está ligada, exclusivamente, à autoridade da verdade. Esta afirmação encontra-se no segundo parágrafo, no qual o Papa reconhece que é bom para a Universidade poder exercer, de forma livre, o seu papel, isto é, sem pressão ou constrangimentos6. É como o Papa afirma: «Na sua liberdade das autoridades políticas e eclesiásticas, a Universidade encontra a sua função particular, própria também para a sociedade moderna, que necessita de uma instituição desse modo7.

A referida alocução parte de uma pergunta: Que coisa o Papa pode e deve dizer no encontro com a Universidade da sua cidade? Esta se desdobra em outras duas questões: Qual é a natureza e a missão do papado? Qual é a natureza e a missão da Universidade? No fundo, em torno dessas questões, está o ponto de partida para que aconteça qualquer reflexão sobre alguém ou alguma coisa: a busca da verdade e como ser seu sinal no mundo. Parte-se da indagação sobre a identidade e a missão do sujeito e do objeto em foco, a fim de chegar a conclusões que sejam razoáveis e capazes de fazer refletir as partes interlocutoras. Nesse caso, o Papa e os acadêmicos da usr.

O presente artigo, partindo dessa alocução, apresentará e discutirá alguns dos seus argumentos e dos elementos que o Papa Bento XVI identifica como parte da natureza e da missão do Papa e da Universidade na busca e na promoção da verdade que liberta o ser humano. Dedica-se um espaço maior para a questão sobre a verdade e sobre o papel da Universidade na qual, docentes e discentes, são chamados a se conformar à verdade. Enfim, faço uma proposta quanto à religação dos saberes e o papel da teologia.

1. Quem é o Papa e qual a sua missão?

Bento XVI, inicialmente, «se apresenta», isto é, explica o que significa ser Papa, para, então, explicitar o seu papel na Igreja e na sociedade8. O argumento usado é de natureza filológica, evocando o sentido bíblico-catequético do termo episkopos: aquele que observa a realidade de um ponto de vista elevado para conduzir a comunidade cristã no caminho do bem, da justiça e da verdade9.

O epíscopo (bispo) é um pastor que tem o cuidado de conservar a comunidade dos fiéis unida e sobre o caminho que conduz a Deus. Esse caminho é Jesus Cristo, que se definiu «verdade e vida» (cf. Jo 14,6). A comunidade dos fiéis, porém, não vive isolada, mas inserida e atuante no mundo sem, contudo, ser do mundo (cf. Jo 15,19). Por isso, o Papa, por ser bispo de Roma e presidir a Igreja Católica na caridade, reconhece que é um formador de opinião, pois as suas palavras repercutem, através dela, in toto orbe terrarum. Atento ao mundo, à sua história e às mudanças, que nele ocorrem, a voz do Papa se torna uma voz da razão ética da humanidade e para a humanidade.

Nesse sentido, surgiria uma possível refutação: O que o Papa teria a dizer, como homem de fé, representante e condutor de pessoas de fé, possui validade para quem não professa a fé, mas segue, apenas, os critérios da razão que, por sua vez, influenciam, igualmente, no comportamento ético das demais pessoas a partir do saber que é produzido, ensinado e propagado através da Universidade?

Para responder a essa questão, outra se impõe: Que é a razão? Para os que têm fé, ela é um dom do Criador à sua sublime e amada criatura: o ser humano. É, igualmente, uma graça que torna o ser humano distinto e superior às demais criaturas. É uma aptidão que permite o ser humano adentrar e perscrutar a realidade de forma inteligível, a fim de conhece-la e dela extrair, com discernimento, o que é certo e o que é errado para a vida pessoal e social. Por esse dom, o ser humano trilha um caminho, encontra e se confronta com a verdade sobre si, sobre o próximo, sobre as demais criaturas e indaga sobre o que o circunda, elevando-se na indagação sobre Deus, o seu modo de ser, de existir e de agir. A definição da razão, como capacidade humana distintiva entre os demais seres vivos, é partilhada por qualquer ciência natural10.

Assim, quem sustentar que não há razoabilidade nos argumentos da fé deverá demonstrar, também pela razão, que não existe razoabilidade nos argumentos de quem sustenta a fé e os seus argumentos. Em outras palavras, deverá demonstrar a contradição da razoabilidade da fé e dos seus argumentos. Não se pode negar que na expressão e nos conteúdos da fé, presente nas grandes tradições religiosas, reside uma sabedoria que produziu um patrimônio histórico que, fortemente, influiu e se tornou relevante para toda a humanidade11. Não se pode negar, igualmente, que as Universidades históricas surgiram marcadas, profundamente, pela presença do cristianismo e pela contribuição racional que a fé cristã trouxe sobre o ser humano e sobre o sentido da vida.

A Igreja Católica, ao longo de quase dois milênios, herdou, elaborou, aperfeiçoou, conservou e propagou um conhecimento sapiencial judaico e greco-romano que fundamenta e representa uma razão ética, política e social na história da civilização ocidental12. Este conhecimento, igualmente, imprimiu e propagou, no mundo, uma consciência moral. Assim, a fé professada pela Igreja Católica é um conhecimento racional que não se escusa diante das crises e interrogações que lhe são suscitadas, principalmente diante da atual realidade fragmentada, que sorrateiramente vai tomando conta da vida e da missão das Universidades.

Por isso, o Papa, enquanto representante de uma comunidade religiosa, que possui e produz argumentos válidos e razoáveis, e que busca se comportar de acordo com os ditames da razão, não se sente constrangido, mas pode se fazer presente e discursar, com liberdade, em uma Universidade que se professa laica.

2. Que é a Universidade?13

A resposta exige um percurso e a consideração de que todo ser humano que vem ao mundo está dotado, segundo diferentes níveis, de capacidades sensitivas, intelectivas e volitivas. Por meio destas capacidades, ele entra em contato com a realidade que o circunda, deixa-se afetar por ela e a perscruta com interesse, pois quer conhecela em profundidade, a fim de obter a verdade que reside em si e em cada coisa. Neste sentido, é próprio do ser humano inquietar-se diante da realidade e fazer dela o objeto de sua atenção, de seu interesse e do seu estudo. Assim, a Universidade torna-se um meio excelente para o ser humano desenvolver suas aptidões e, por elas, adentrar na realidade com propriedade de causa, isto é, com ciência e consciência do que está fazendo.

O ser humano, graças às suas capacidades naturais e aos aprimoramentos técnico-científicos, que estão sempre em evolução, percebe que tem em si a possibilidade de crescer ou de decrescer, de se realizar ou de se frustrar, isto é, de se humanizar ou se desumanizar. Este dilema é uma crise positiva, pois ajuda o ser humano a reconhecer, a manter e a sempre promover a sua dignidade enquanto ser racional capaz de lutar contra a corrupção dos valores e da própria ciência.

A busca pelo sentido real de tudo o que existe é algo próprio do ser humano, pois, dentre todas as criaturas, é o único que pode refletir sobre as coisas e sobre si mesmo. Apenas o ser humano pode indagar, encontrar e oferecer um sentido para as suas ações. É assim que manifesta racionalidade, inteligibilidade e discernimento frente à realidade que tiver diante de si e que desejar investigar. É pela palavra, isto é, pelo Logos, que o ser humano afirma a realidade e interpreta o que acontece consigo e à sua volta.

Se numa primeira fase, as realidades, presentes no mundo, foram explicadas pelo ser humano de forma mítica14, na medida, porém, em que passou a adquirir um maior domínio sobre a realidade pelo conhecimento racional (filosofia), ele foi se libertando de antigas concepções e, pouco a pouco, começou a dar, pela lógica da razão e pela razão da lógica, um novo e mais aprimorado sentido para a realidade circunstante, para si mesmo e para as suas inquietações. Este verdadeiro progresso, porém, não significou abandono, renúncia ou negação da sua dimensão religiosa15.

Sócrates (470-399 a.C.), que inaugura um novo período na história da filosofia grega, indagou sobre a existência de todas as coisas de forma racional e, nem por isso, deixou de lado a sua religiosidade, pois nelas encontrava a presença divina. Pode-se dizer que, com Sócrates, a filosofia deu novo alento religioso ao ser humano e permitiu-lhe conquistar uma grande vitória sobre o mito e o sofismo16. Pelo exercício acadêmico e pelos seus escritos, Platão17, discípulo de Sócrates, procurou evidenciar o caminho que leva ao progresso do pensamento: uma via de mão dupla, do ser humano na direção de Deus e este na direção do ser humano (é o princípio da dupla navegação)18.

A evolução do ser humano e do seu conhecimento sobre a realidade passou a exigir que, cada vez mais, as suas conclusões sobre a natureza, sobre si mesmo e sobre o seu papel no mundo sejam fundamentadas com critérios e argumentos válidos e razoáveis19. Conjuga-se identidade e missão do ser humano na busca pelo ser das coisas e seu sentido último. Assim, cada ato realizado por ele está repleto de sentido e tende para um fim. Pode-se dizer que a assimilação do que é temporal e passageiro provoca a esperança pelo que é eterno. O que é imanente desponta orientado para o transcendente.

Este percurso de aceitação da plenitude do ser e do agir impede a alienação frente aos resultados obtidos pela ciência e, igualmente, impede que a fé seja descartada pela razão. Seria incoerente admitir a existência de uma verdade total e sublime, mas sem identidade. Isso decorre de uma certeza: a razão humana sozinha é relativa e inapta para conduzir à verdade plena. Esta exige que o ser humano, a partir e para além de suas capacidades, se abra para o que, no fundo, reside em cada realidade: um mistério, isto é, algo transcendente que aponta para uma Razão Absoluta.

A fé cristã, nessa argumentação, não compreende a Universidade como uma «religião racional» que só pode ser praticada por poucos doutos e escolhidos que, necessariamente, descartem a fé20. A aceitação de uma Razão criadora permite que o ser humano, pelo seu modo próprio de ser e de existir, aceite-a como Razão-Amor que se faz presente em tudo e a nada exclui de ser. Se, por um lado, o cristianismo herdou a riqueza do pensamento bíblico do Antigo Testamento, aprendeu também a se posicionar com abertura para o pensamento grego.

Desse encontro, gerou-se um diálogo cultural, plural e universal, algo que já havia sido iniciado pelos judeus da diáspora egípcia21. Percebe-se, nesse diálogo, o esforço em se demonstrar que a razão humana, quanto mais aberta estiver à verdade da realidade e à realidade da verdade, estará aberta ao Ser absoluto e ao conhecimento que advém da Revelação. Esse esforço, dentro do cristianismo, teve início com o período Patrístico, muito ligado ao neoplatonismo, e prosseguiu ao longo da Idade Média. Contudo, com o reingresso do aristotelismo na Europa, permitiu à escolástica não apenas aprofundar os campos do saber, mas mudar o paradigma do pensamento filosófico-teológico22.

Assim nasceu a Universidade, dentro de um contexto de grande abertura e redescoberta do espaço intelectual e do espaço da fé, pelos quais a busca e apreensão da verdade relativa de todas as coisas eram orientadas para a Verdade Absoluta23. Disse «eram», porque com o cartesianismo ocorreu uma nova mudança de paradigma. Esse tópico será tratado mais adiante.

O que define uma Universidade não é a repetição de experimentos pelo domínio e conhecimento de métodos científicos. Uma Universidade se define pela promoção do respeito e da integralidade do ser humano, das suas dimensões e dos seus potenciais na sua busca, pelo saber, da verdade que liberta de todas as formas de preconceitos e de intolerâncias. A Universidade é o local da abertura e expansão da razão, no qual o ser humano aprende a dialogar com realidade em sua pluralidade, sem exclusão do que, além do seu alcance, se pode admitir pela fé. Porque a Razão criadora é a Razão-Amor, a espiritualidade não é compatível apenas com a fé, mas principalmente com a razão24. Numa autêntica Universidade, a razão e a fé não são ações humanas rivais, mas potencialidades que se complementam, pois são «as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade»25.

3. Mas, que é a verdade?

Esta pergunta inquietou e tomou conta dos «amantes da sabedoria», isto é, dos filósofos que fizeram da verdade o motivo e o objetivo de todas as suas especulações e a razão do seu viver. A busca pela ἀλήθεια(de ἀληθής que significa não dissimular e não estar oculto) caracterizou o ser humano em confronto com a realidade e animou o pensamento grego26.

A ἀλήθεια foi concebida: a) como a correspondência entre uma ideia (uma proposição que a expressa) e a coisa à qual se refere; b) como o que caracteriza cada coisa em sua essência, mas que, para alcançá-la, precisa adentrar na aparência de cada coisa; c) como o caráter próprio das ideias, que possuem validade em si mesmas, independentemente da sua relação com as coisas (por exemplo, as ideias matemáticas). A verdade tornou-se, também, uma doutrina que o ser humano deve conhecer, aprender, apreender e que deve se tornar a sua norma de conduta e vida para que possa se realizar em plenitude. Por conseguinte, a verdade pode também ser atribuída às afirmações formuladas enquanto essas coincidem com o Logos presente em todas as coisas.

A questão sobre a verdade é uma indagação que se desdobra em três perguntas: Na realidade existe uma identidade estável? Se existe, esta pode ser individuada? E a razão humana consegue definir, com certeza e clareza, a realidade? Assim, a verdade é uma questão de identidade e de identificação que diz respeito tanto ao objeto como ao sujeito do conhecimento.

Nesse sentido, o real problema quanto à verdade para os antigos filósofos residia na relação entre o ser das coisas, a formulação do saber sobre o ser das coisas e o comportamento humano condizente com esse saber27. As implicações que resultam dessa relação são epistemológicas e éticas.

Isso foi um passo decisivo para a concepção de verdade como adequação à realidade: veritas est adaequatio rei et intellectus28. Dessa adequação resulta a razão ética do ser humano, que é verdadeiro se o seu comportamento condiz com a verdade conhecida. Na adequação está a virtude, porque, por esta, honra a verdade e aceita que a ciência é verdadeira se conduz ao reto agir, isto é, em conformidade com o bem e a justiça. Na antiguidade, então, o problema da verdade estava colocado em relação ao ser, ao fato, à realidade objetiva, à retidão e à integridade da conduta humana.

No Antigo Testamento, a concepção de verdade encontra-se ligada ao substantivo 'ĕmet, derivado do verbo 'āman, que caracteriza um objeto ou uma pessoa e equivale a ser firme, ser capaz de suportar um peso, ser fiel. Do verbo 'āman deriva «amém»29. Dessa concepção veterotestamentária resulta que: quanto à realidade, não se pensa a verdade de forma abstrata, mas realizada em cada realidade. Quanto ao ser humano, a verdade é vista como comportamento sólido, consistente, íntegro e reto. «Deste modo a fé em Deus surge como um apoiar-se em Deus, mediante o qual o homem consegue base sólida para a sua vida»30. Deus é verdade porque é fiel e vice-versa; nele não há possibilidade de mudança, pois a fé não pode negar a verdade: «Ter fé em Deus, apoiar-se em Deus, confiar em Deus, significa ganhar fundamento e consistência na vida»31.

A mesma pergunta - Que é a verdade? - tornou-se célebre nos lábios de Pôncio Pilatos, durante o interrogatório de Jesus, que se definiu como mártir da verdade (cf. Jo 18,37-38)32. Jesus pregou a verdade e não morreu por uma causa, mas pelo reino de Deus, cujo centro é a verdade, porque pela verdade vale a pena morrer33. A verdade de Jesus não faz mal ao ser humano, o liberta e para ele «não se impõe senão por força da própria verdade, que penetra de modo suave e ao mesmo tempo forte nas mentes»34.

Assim confirmou-se, por um lado, a coragem de Jesus e, por outro lado, a chance que deu a Pilatos, revelando o seu despropósito: «Quem é da verdade escuta minha voz». Em Jesus, a verdade divina torna-se acessível por meio do seu testemunho-martírio, porque Ele é a auto-manifestação da realidade divina, isto é, da Verdade Absoluta que, por Ele e n'Ele, entra no mundo35. Disso resulta que o sentido último de toda a realidade que existe é a Pessoa Divina Encarnada, Jesus de Nazaré, presença viva do Eterno Deus em cada pessoa e em cada coisa que há no mundo (cf. Jo 1,1-4; Cl 1,15-20). Pode-se citar a resposta de Pedro frente à incompreensão do discurso de Jesus sobre o pão da vida: «Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna, e nós temos acreditado e reconhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus» (Jo 6,68-69).

A pergunta do cético e pragmático Pilatos representava, ao contrário da afirmação crente de Pedro, a concepção grega sobre a verdade, enquanto conhecimento de uma coisa objetiva36. Por isso, ele não se deu conta de que estava diante da possibilidade da verdade se revelar enquanto Pessoa, embora pudesse ter sentido medo quanto à possibilidade de uma divindade estar se manifestando em forma humana (cf. Jo 19,8).

Muitas contemporâneos, como Pilatos, enfrentam a dificuldade para reconhecer e aderir à verdade, pois ela é exigente com todos os que dela se aproximam37. Por isso, em tantas pessoas e nas instâncias sócio-políticas instaurou-se a covardia diante da verdade. E a ausência de bem, que denominamos de mal, «encarnou-se», por assim dizer, em estruturas sociais através de pensadores cheios de determinismos e tirânicos, que distorcem e disfarçam a verdade38.

Apesar de tudo, no ser humano, que deseja a verdade, há uma correspondência entre o que impulsiona, o impulso e o impulsionado, porque ele quer conhecer e quer a verdade. As pessoas, por sua dignidade, são dotadas de razão e de livre arbítrio, mas isso não significa que estão preparadas e dispostas para conhecer e aderir à verdade, de modo que a veracidade torne-se o empenho por viver a verdade que liberta. Há um paradoxo: muitos ao conhecerem a verdade, próprio porque é verdade, não querem se unir a ela pela forma de viver. Assim, o conhecimento não determina o comportamento.

A razão disso está em que todo ser humano é responsável por suas ações e, como tal, está moralmente obrigado, em consciência, a procurar a verdade e a ela se adequar, permitindo que ela oriente a sua vida segundo as suas próprias exigências39. Quem encontra a verdade e a ela se adéqua, descobre que não é autônomo para estabelecer os seus próprios critérios ou para definir o que é certo e o que é errado, o que é bem e o que é mal. O conhecimento da verdade gera uma ruptura em todos os âmbitos da vida que não estejam conformados a ela. É assim que se nota o drama nas diferentes vertentes da ciência, cuja culpa não é da ciência em si, mas reside em cada pessoa que se encontra dividida entre a verdade que conhece e o bem que deve fazer, mas não se adéqua a essa verdade e não pratica o bem.

A verdade está presente em tudo que existe e concede existência a tudo que existe, mas sem receber existência de nada que existe. A verdade é a causa não causada que origina a verdade em todas as coisas40. Por esta relação se estabelece o conhecimento de cada coisa que ultrapassa a sua definição meramente teórica, pois passa a exigir, como seu escopo, a busca, o conhecimento do bem, a adesão à verdade e a sua execução.

Para a fé cristã, a verdade coincide, então, com o ato de crer que «significa compreender a existência como resposta à palavra, ao Logos que sustenta e conserva todas as coisas. Significa dizer sim, isto é, aceitar, o fato de ser-nos oferecido o sentido que não podemos criar, mas apenas receber, de tal modo que nos basta aceitá-lo e confiar-nos a ele»41. O ato de crer, portanto, não é uma ação cega, mas uma exigência profundamente racional de quem vê a realidade com os olhos abertos.

O melhor exemplo de execução da verdade, que mudou o curso da história da humanidade, aconteceu em Maria42. Ao receber o anúncio da encarnação, aderindo ao plano divino, Maria fez a razão da verdade e a verdade da razão agirem em sua vida: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38) e Verbum veritatis factum est (cf. Jo 1,18). O sim de Maria atesta e demonstra que o ser humano é imagem e semelhança de Deus quando faz uso da fé e da razão em plena sintonia com o Logos Criador43.

A aceitação do Logos pelo cristianismo foi uma base sólida para viabilizar o progresso do seu pensamento sobre a Verdade Encarnada em Jesus de Nazaré (cf. Jo 17,17) e para não se tornar uma religião exotérica, gnóstica e ausente do mundo. Deu-se o primado do Logos sobre o mito que, no fundo, favoreceu a experiência mística e salvífica44. Assim, crer em Deus é optar pelo Logos Eterno, origem de toda a realidade, razão que imprime verdade em tudo que existe, enquanto mediação que dá acesso a Deus. Renunciar a essa fé provoca danos imensos tanto para a ciência como para a religião.

«Entre o dizer e o fazer, o mar está no meio». É um ditado italiano que permite afirmar que muitos dizem e querem dizer a verdade, mas não conseguem porque não fazem a verdade. Esta inconsistência encontra-se na origem da dicotomia entre fé e razão. É o problema que o cristianismo enfrentou, em muitas das suas esferas, ao longo dos séculos e, em particular, na Modernidade, na Pós-modernidade e, principalmente, nessa mudança de época que não possui características claras que permitam defini-la e abarcá-la com teorias. «O mundo transformado já penetra no tempo presente e, até certo ponto, já está presente. Vemos como esse processo se desenvolve, sem que já possamos ter uma visão geral da sua orientação, do que dele resultará»45.

O ser humano descobre que existe no íntimo da sua consciência uma lei imutável: «faze o bem, evita o mal». Esta lei, ele não a deu a si mesmo. É um imperativo ético que lhe confere sentido e dignidade. Por esta lei, cada ser humano será julgado. «Se não temos respeito pela distinção entre verdadeiro e falso, podemos desde já nos despedir de nossa tão glorificada 'racionalidade»46.

No mundo hodierno, consegue-se dizer a verdade, mas não se consegue fazer a verdade, isto é, não se está conseguindo testemunhar a verdade pela vida e pelas obras com a mesma convicção que os mártires e os santos fizeram no seu total e pleno seguimento de Jesus Cristo.

Por isso, a busca da verdade e a adequação a ela podem unir os seres humanos de todos os credos, de todas as ciências e os partidários de todo reto pensar. Quando a verdade é investigada e alcançada, vence-se a ignorância e a reta consciência prevalece, o reto comportamento torna-se conforme as normas objetivas da moralidade e se superam os maus hábitos que cegam a consciência e maculam as ações47. Tudo com a verdade, nada sem a verdade e tudo pela verdade; não é uma utopia, mas é o sentido da vida de quem, em uma Universidade, busca o sentido último da realidade que percebe em si e à sua volta.

Então, é como afirma Bento XVI na alocução: «A verdade torna-nos bons e a bondade é verdadeira: este é o otimismo que vive a fé cristã, porque a ela foi concedida a visão do Logos, da Razão criadora que, na encarnação de Deus, se revelou como o Bem, como a própria Bondade»48.

Esta afirmação encontra uma forte fundamentação em Jo 1,1-3: «No princípio era o Logos e o Logos estava com Deus e o Logos era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito». Na acepção de São João, «Logos significa conjuntamente razão e palavra - uma razão que é criadora e capaz de se comunicar, mas, precisamente, enquanto razão»49. Esta percepção também foi aceita por São Paulo que, em Cl 1,15-17, afirma: «Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste».

Assim, sobre a verdade, na relação entre conhecimento e comportamento, tem-se o encontro entre a teoria e a praxis, pelo qual surge o axioma filosófico-ético, o agir segue o ser, que, por sua vez, «gera» o axioma teológico-moral: o conhecimento da verdade determina o comportamento conforme a verdade. Este axioma ajuda a interpretar a célebre frase de Jesus que gerou uma controvérsia quanto à liberdade: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo 8,32).

Portanto, o saber encontrado, produzido e desenvolvido em uma Universidade, exige e possui consequências éticas. É possível saber por saber, mas isso não deveria ser tolerável, visto que todo saber verdadeiro exige, por sua vez, um comportamento verdadeiro que faz o ser humano viver, sobreviver e conviver como homo sapiens e homo éthos.

Se há uma crise ética em todos os âmbitos da sociedade secularizada é porque existe uma crise quanto à busca do conhecimento e o consequente exercício da verdade no que se pensa, no que se fala, no que se escreve e no que se ensina. Essa crise se instala quando se instalam os interesses particulares em detrimento do bem comum50. Quando a verdade fica ausente ou é manipulada no debate público, acadêmico e até eclesiástico, perde-se a razão, isto é, a razoabilidade do discurso e com ela esvazia-se a razão ética. Tudo passa a ser lícito e os meios espúrios tornam espúrios «fins sublimes». A razão fica, então, escravizada pelo seu distanciamento da verdade que liberta.

3.1. A verdade e a Universidade

No passado, várias profissões, foram transmitidas de pai para filho e de mãe para filha, em uma cultura agrícola, pastoril ou artesã, comunicando uma verdadeira herança humana de valores. Do saber rudimentar e básico, simples e suficiente para se viver, passou-se para o saber aprimorado e científico. Contudo, com o advento da revolução industrial e com o avanço do progresso e das novas tecnologias, os conhecimentos passaram a ser exigidos em um nível mais técnico e superior, adequados às várias mudanças sociais.

A academia universitária, originada na Idade Média, ganhou um forte e novo impulso. Filosofia e Teologia eram os dois grandes pilares das Universidades que nasciam na Europa junto às escolas das Catedrais51. Duas ciências que, conservando o que é próprio de cada uma, caminhavam na mesma direção: a busca, o encontro e a promoção da verdade pela razão e pela fé. A verdade da teologia e da filosofia estava, nas Universidades, uma dimensionada para a outra, como a alma está para o corpo.

Um olhar atento para o percurso e desenvolvimento do pensamento humano, tanto na Filosofia como na Teologia, permite perceber que elas se relacionam «sem confusão e sem separação»52. Por isso, elas não podem se desligar uma da outra sem graves prejuízos. Santo Tomás de Aquino foi um ponto de intercessão e de equilíbrio entre Filosofia e Teologia. Ele soube imprimir no cristianismo acadêmico medieval a abertura e o diálogo entre os saberes53. Algo que urge nos dias atuais e que seja capaz de fazer, novamente, a religação («religião») dos saberes54.

Por um lado, a Filosofia e a Teologia possuem identidade própria, mas possuem também metodologia e campo específicos. Por outro lado, razão e fé interagem sem criar confusão quando, com liberdade e responsabilidade, o sujeito que conhece respeita o objeto do conhecimento, permitindo que seja este a determinar o método com o qual deve ser abordado. Nesta interação, o saber filosófico não exime o saber teológico, assim como a razão não substitui a fé, pois a verdade é a fonte inesgotável dessas duas áreas do saber.

Se a história do pensamento é a base para a Filosofia, a história da Revelação é a base para a Teologia. Para as duas a história humana é o húmus sobre o qual o saber é semeado e se desenvolve. Ambas se tornaram mais do que saberes interdisciplinares; foram, de fato, uma para a outra um contínuo e recíproco alimento. Não é porque muitos dos conteúdos da Teologia continuam inacessíveis à razão, que a Filosofia e as Ciências não devam considerar como válidos os critérios e os argumentos do conhecimento que provêm da Revelação, pois a fé ajuda a purificar a razão e a razão não permite que a fé se perca nos fundamentalismos55.

Na modernidade, deu-se o processo da racionalização através do cartesiano que foi promovido pelo Iluminismo e se instaurou na academia a dicotomia entre Filosofia e Teologia, entre fé e ciência, entre imanência e transcendência. Com isso, aconteceu uma mudança de paradigma filosófico que mudou a visão do ser humano e a verdade passou a ser cada vez mais relativizada56. A pura razão limitada às ciências naturais não consegue emitir respostas para as profundas questões existenciais do ser humano: De onde eu vim? Para onde eu vou? Quem sou eu? Que eu devo fazer? Que eu devo esperar? Por que razão eu vim à existência? Por que a dor e a morte?57.

De forma justa, porém, a Modernidade colocou novos questionamentos com base nos critérios que poderiam definir como verdadeira uma ideia e um pensamento sobre uma coisa que possui formas atuais, potenciais e virtuais. Para imprimir uma referência atendível à realidade, a experiência e a repetição metodológica passaram a ser os válidos procedimentos utilizados para aferir os graus de certeza sobre os objetos estudados. Somente o que pode ser controlado de forma cientifica pode ser qualificado como verdadeiro e as conclusões obtidas como verdade. Isso, porém, não é suficiente para desqualificar a racionalidade da fé cristã.

O desejo de que a razão humana fosse o critério definitivo do saber científico e da determinação do que é ou não verdade, fez com que a dicotomia se instalasse nas academias e as conexões, antes evidentes, começaram a se desfazer, causando enormes prejuízos tanto para a razão, que não é capaz de alcançar o sentido último da realidade, como para a fé, que precisa da razão para se livrar dos fundamentalismos, pois ela não é uma entrega cega à verdade58.

A crise da modernidade e dos seus mitos de progresso tornou-se, essencialmente, a crise da razão59 que presenciou a desumanização causada pelas duas Grandes Guerras, pela ambição do poder e pela corrida armamentista que se instaurou durante os anos da guerra fria. A exploração e o domínio na história levaram a razão, centro profícuo do ser humano e de seu orgulho, à escravidão de regras políticas totalitárias, militares e econômicas que passaram a vigorar tanto no sistema capitalista como comunista.

O poder deixou de estar a serviço da razão para que a razão ficasse a serviço do poder e de suas ideologias. Assim, a razão não atende mais às necessidades das pessoas, não se promove a liberdade, a justiça e o bem. O sonho de felicidade foi ficando cada vez mais distante60. A «verdade» que passou a ditar as regras tornouse um sistema que olha somente para o mercado ávido de lucro e de poder, gerando o consumo a partir do que se poderia chamar de novo axioma: «eu quero, eu posso e, se não posso, eu articulo para possuir»... até em nome de Deus.

É o que o Papa Bento XVI afirma na alocução: «Se a razão, porém, solícita da sua pretensa pureza, fica surda à grande mensagem que lhe chega pela fé cristã e da sua sabedoria, murcha como uma árvore cujas raízes não alcançam mais as águas que lhe dão vida. Perde a coragem pela verdade e assim não cresce, mas diminui»61.

As dimensões e as fronteiras do saber foram ampliadas com as novas possibilidades que surgiram com o advento e a força dos tempos modernos. Com isso, cresceu «a consciência e o reconhecimento dos direitos e da dignidade do homem»62, mas, nem por isso, ficou afastado e excluído o perigo da humanidade cair em grande desgraça e decadência. «No centro da discussão do problema da verdade está a problemática da vida humana e por isso a questão ganha sentido ético»63.

Se o saber científico e religioso não estiver a serviço da promoção humana e da sua dignidade, e se for usado em função de interesses espúrios e utilitários, a verdade descoberta ficará instrumentalizada, confinada e não se ocupará mais com o bem comum. Se isso acontece em uma Universidade é uma perversidade covarde que, longe de preparar as futuras gerações para a contínua busca da verdade, induzirá, sempre mais, ao erro e à falta de ética nas relações interpessoais e na pesquisa.

A verdade é amiga do homem, mas nem por isso dispensa de ser tratada de forma séria; antes, exige a seriedade para que certas coisas sejam ditas, sem medo de que retaliações físicas e morais aconteçam. Em muitos ambientes acadêmicos, porém, a lei do talião continua a fazer-se presente, a autoridade não vem mais da verdade, mas se esconde na tirania dos que disputam quem retalha mais e busca lograr atenções e fundos econômicos a seu favor.

Em contrapartida, instaura-se na Universidade a liberdade acadêmica de docentes e de sérios pesquisadores, quando a verdade é a sua regra e a ética o seu galardão. Só a busca e a promoção da verdade tornam a Universidade imune do erro, garantem a sua liberdade investigativa e não permite que docentes e discentes sejam tratados como consumidores ou escravos de um saber instrumentalizado64.

A globalização tem implicações especiais para as instituições ligadas à Igreja; a sua missão, universal e espiritual, entra muitas vezes em conflito com as forças do mercado global. Isso se torna perceptível na relação cada vez mais estreita entre ensino e prosperidade econômica, na passagem de uma sabedoria intrinsecamente valiosa para uma informação orientada para o proveito material; na ênfase dada à formação técnica e profissional, em detrimento da formação global da pessoa; na substituição de uma cultura humanista pela cultura da informação, que tende a limitar a sensibilidade social do ensino superior à sensibilidade do mercado65.

As questões mais relevantes dizem respeito à aplicação do axioma acima formulado: o conhecimento da verdade determina o comportamento conforme a verdade. Se, por um lado, na Universidade as disciplinas humanas têm a liberdade para usar seus princípios e seus métodos, por outro lado, essa mesma liberdade só acontece quando se preserva a dignidade da pessoa humana e a sua ordem moral. É um fato: sem liberdade não há responsabilidade e, por conseguinte, não existe razão ética e muito menos bioética66.

A verdade a ser perscrutada e obtida nos resultados não licita, ao mundo acadêmico, a utilização de meios espúrios e ambíguos em suas pesquisas. Por isso, cada docente pesquisador deverá estar atento para não negligenciar a verdade que procura e nem colocar a técnica acima da ética ou o desejo da descoberta e dos lucros acima da pessoa humana e da sua dignidade. A excelência de uma Universidade não é medida, somente, pelas conquistas e pelos prêmios recebidos, mas em particular pelas ações sociais que promove dentro e fora dos seus espaços acadêmicos67.

3.2. O papel da Universidade

Do ponto de vista antropológico, todo ser humano busca a sua própria realização e, no contexto familiar e social, vê surgir as exigências, os ideais e as inclinações pessoais que levam cada pessoa a se interessar por uma profissão. O discernimento é necessário e deve ser feito, a fim de ajudar o jovem a descobrir se a profissão escolhida é fruto de uma orientação vocacional, modismo, ou simples impulso. As razões e as motivações da escolha por uma profissão devem ser avaliadas com critério, seriedade e honestidade. O guia e a meta devem ser a verdade.

Quando a vocação precede a profissão ou a profissão escolhida é vocação, pode existir realização plena. Assim, o discernimento ajudará a enfrentar as dificuldades próprias de cada profissão, perseguindo os ideais, mesmo quando parecem distantes e até pouco rentáveis. O drama para muitas pessoas é: não se faz o que realiza, mas busca-se o que é bem pago. Por isso, há pessoas que até passaram a ganhar muito com os cursos que fizeram, mas estão frustradas no exercício da profissão.

Do ponto de vista de quem não se fecha para a fé e o seu papel na vida, acredita-se que toda profissão é uma vocação que nasce do amor de Deus para se realizar no amor humano, pois não se erra quando se faz uma opção de vida por amor humano em conformidade com a fé que broa do amor divino. Resistir à fé e ao amor é negar-se a possibilidade de uma total realização68.

Cabe ainda lembrar, que toda vocação-profissão comporta uma missão, a se realizar em cada pessoa não em função de si mesma, mas em função do próximo. É saindo de si mesmo que o ser humano volta plenamente a si mesmo. Viver na verdade é a melhor opção, pois significa receber a liberdade pela participação e exercício cotidiano da vida doada aos demais. Quando se é verdadeiro, aumentam as possibilidades de se viver o que proporciona a realização da felicidade: a alteridade.

A alteridade, como serviço, foi o que caracterizou a vida e a total entrega de Jesus: «E assim, a inversão cristã dos valores alcança a meta, tornando plenamente claro que quem se entrega completamente ao serviço dos outros, ao total altruísmo e ao despojamento, é verdadeiro homem, o homem do futuro, o ponto de junção entre homem e Deus»69.

Nesse sentido, as exigências de realização pessoal têm a ver com as exigências de realização do próximo. Os ideais pessoais surgem como comprometimento altruísta e as relações interpessoais se tornam a ocasião para a vocação-profissão e a missão se concretizarem de forma plena.

Em diversos setores da sociedade, percebe-se a nefasta difusão do liberalismo relativista, do cientificismo positivista e de certo pessimismo perante as perpectivas profissionais marcadas pela ênfase no aspecto econômico. Os jovens universitários veem-se continuamente expostos e confrontados com essas realidades e, nem sempre, encontram-se preparados para saber distinguir o «joio do trigo»70. Hoje, a «racionalidade» é pragmática e de acordo com o mercado. Disto resulta a importância e o papel que a Universidade deve dar à força da argumentação e do raciocínio lógico, desenvolvendo nos alunos o espírito crítico, para que sejam capazes de fazer a justa escolha do bem, promover a justiça e perseguir a verdade, evitando a ilusão e o fascínio do sucesso, do poder e da vida fácil.

Assim, por sua identidade e missão, uma Universidade não somente promove a pesquisa e a formação de cada geração que por ela passa, promove também e principalmente a humanização. Isso requer empenho e fadiga de docentes e discentes que desejam crescer reciprocamente. O saber dos docentes se alimenta e se percebe desafiado pelo desejo que os discentes manifestam pelo saber71.

Devido às novas exigências do saber, nota-se a multiplicação dos cursos superiores que surgiram nos últimos trinta anos. A academia universitária tornou-se o espaço formativo e informativo privilegiado para se desenvolver e se aprimorar os diversos tipos de vocação-profissão. Dentre os seus numerosos cursos, desde o seu surgimento, encontra-se a Teologia que, no dizer do Papa Bento XVI, possui um discurso dirigido à razão e não está confinada à esfera privada de alguns, sejam poucos ou muitos. É preciso insistir na grandeza da fé e na beleza do amor humano, fontes de satisfação e de realização para quem busca a verdade e a ela se conforma. O momento atual é propício para apresentar o que há de positivo e válido na proposta cristã72.

Ora, desde há muito tempo que o ocidente vive ameaçado por esta aversão contra as questões fundamentais da sua racionalidade, e desse modo, o único resultado é sofrer um grande dano. A coragem de abrir-se à vastidão da razão, e não a rejeição da sua grandeza - tal é o programa pelo qual uma teologia comprometida, na reflexão sobre a fé bíblica, entra no debate de nossa época73.

Pelo curso regular de Teologia, no nível de graduação, futuros clérigos, religiosos, religiosas, leigos e leigas adquirem conhecimentos e se preparam para atuar em diversos setores da Igreja e da sociedade com base sólida, em particular, atuando nas várias pastorais e no ensino religioso, seja ele confessional ou não.

A promoção do diálogo entre a fé e a razão encurta a distância entre Teologia e Ciência, e evita o divórcio entre práxis da fé e práxis da ciência, mostrando que, apesar de distintas pelos graus de certezas, podem ser próximas pelo objeto: a busca da verdade. Nesse sentido, os cursos de Teologia podem se orgulhar se estão prestando um serviço não só aos que tem fé, mas aos que têm procurado as razões da própria fé (cf. 1Pd 3,15). Através de suas diversas disciplinas, a Teologia propicia aos alunos a possibilidade de verificar a validade dos argumentos e dos critérios teológicos, a fim de que possam reconhecer que a fé não atrofia a razão, mas a liberta de preconceitos e de pensamentos espúrios, não conformes com o bem, a justiça e a verdade74.

3.3. A religação dos saberes

Como contribuição pessoal, gostaria de propor a necessária e tão urgente religação de diversos campos do saber75, como um caminho possível de ser percorrido em prol da promoção e da edificação de uma cultura em favor da verdade. Esta religação resulta da união de esforços entre os meios usados para produzir o saber científico e a sua finalidade específica: alcançar a verdade que liberta dos absolutismos. Não basta, porém, que a finalidade seja moralmente boa se os meios não forem, igualmente, bons e lícitos.

O ponto de partida dessa contribuição deriva da convicção de que uma real atividade científica, eclesial e social em uma Universidade precisa ser, inicialmente, interdisciplinar e, posteriormente, multidisciplinar. Nesse sentido, cada área do saber é chamada a marcar presença e a contribuir com o que possui e produz de específico, tendo a verdade como principal finalidade da pesquisa em prol da humanidade e do bem comum. Não tenho a pretensão de ser exaustivo, cito apenas alguns campos do saber, com o intuito de demonstrar que, com boa vontade e empenho, a tarefa de religar os saberes não é somente possível, mas indispensável e urgente nas Universidades.

Começo pela História, porque no que tange o tema da verdade, este saber lida com inúmeros registros que esperam ser novamente interpretados e reinterpretados. Por meio destes, a comunidade acadêmica recebe a base necessária para a elaboração das leituras e releituras a serem feitas, da forma mais objetiva possível, a fim de conseguir evitar cair nas ideologias ou subjetivismos. A história é responsável pela memória, sem a qual a identidade e a missão do ser humano facilmente se perderiam pela amnésia provocada com o prazer gerado pela busca desumana do sucesso e do poder.

Pelas Ciências Sociais e a Psicologia, alcança-se um estudo de grande envergadura e contribuição sobre a compreensão dos fenômenos essenciais, dos processos que decorrem da estruturação ou da desestruturação individual e social, das manifestações típicas da vida em sociedade e das suas transformações, que estão na origem dos fatores que impelem a busca ou não da verdade. Indivíduos e grupos são, continuamente, analisados em suas tendências psicossociais, porque estão pautadas em elementos que condicionam mais ou menos as relações capazes de influenciar a sua singularidade ou coletividade. O auxílio e interação desses dois saberes permite que sejam encontrados os meios necessários e eficazes para restabelecer o equilíbrio, sem o qual não se promove a primazia da verdade orientadora das diversas formas de saber.

Pelo exercício do Direito busca-se estabelecer ou restabelecer a verdade em nível individual ou social. Essa dimensão da vida humana institucionalizada tem como finalidade específica a promoção da cultura da paz entre os seres humanos pelo estabelecimento da verdade dos fatos, assegurando que a convivência seja o mais justa possível, ordenada ao bem comum e livre de conflitos e violências. Em qualquer cultura, a dimensão jurídica é imperiosa e necessária, porque é uma experiência antropológica fundamental que, no íntimo, aspira pelo bem, pela justiça e pela verdade.

Pela Comunicação Social, em suas diferentes áreas e formas de agir, proporciona-se o progresso das relações interpessoais e sociais. Por meio da comunicação, cada ser humano interage com a coletividade e vice-versa. A comunicação não é capaz apenas de formar opinião, mas de transformar experiências em vida e de promover encontros que ultrapassam as fronteiras mais distantes. A comunicação a serviço da vida é enorme promotora e veículo da verdade; quando não se deixa corromper por ideologias, mas, também comprometida com o bem e a justiça, suscita no indivíduo e na coletividade, em particular numa Universidade, o compromisso com a verdade da informação formadora de opinião.

Pela Educação, o ser humano tem a possibilidade de desenvolver as suas faculdades e de adquirir a capacidade necessária para se posicionar com critérios objetivos diante da influência cada vez maior que o progresso tecnológico impõe à sociedade. Na medida em que cada ser humano adquire uma consciência mais plena da sua dignidade, percebe o dever de se tornar cada vez mais ativo e participativo na vida social e, sobretudo, na vida econômica e política, ocupando o espaço privilegiado para ser sujeito gerador da unidade e dos vínculos que favorecem a promoção da verdade. A Educação, indispensável em uma Universidade, por ser onipresente em todos os saberes e por poder acontecer em espaços sociais formais e não formais, cotidianamente enfrenta o desafio da formação integral da pessoa humana, pela partilha de ideias, de ideais e de valores, razão pela qual, ordenada ao bem social, influencia, fortemente, na prática da verdade que salvaguarda e redimensiona os direitos e os deveres humanos.

Pela Economia, as normas da casa familiar e social se entrelaçam, e se percebe a sua natureza interdisciplinar e, ao mesmo tempo, a sua fisionomia transversal, pois não existe alguma atividade que dela possa prescindir. A sua finalidade está intimamente ligada a de seus atores que não devem apenas seguir as «leis do mercado», que têm diante de si papéis, números e cifras monetárias. «A área econômica não é nem eticamente neutra nem de natureza desumana e antissocial. Pertence à atividade do homem; e, precisamente porque humana, deve ser eticamente estruturada e institucionalizada»76. Nessa abertura, a Economia deve formar especialistas na medida em que se comprometem com a prática da verdade, certos de que o desenvolvimento econômico não deve acontecer pelas «leis da vantagem e do lucro», mas essencilmente pelo princípio da gratuidade, como forma de caridade e de fraternidade77.

Pela Filosofia, a questão fundamental sobre quem é o ser humano está sempre no centro dos debates na sua constante busca pela verdade. A resposta ou o impasse para essa questão essencial tem implicações em todas as áreas do saber. Se essa questão, desde a sua origem, já era complexa, a busca pela resposta ficou ainda mais complexa pela evolução e trajetória do pensamento humano ocidental78. Como definir um ser que, por natureza, se demonstra tão instável e complexo? A Filosofia, na sua tarefa de ajudar a refletir e a amadurecer o pensamento, desempenha o importante papel de bússola para a descoberta e apreensão da verdade, pela qual, com a justiça e o bem, apontam o caminho para a concretização de uma cultura da paz.

Enfim, se a perda da dimensão transcendente da vida implica em perda de qualidade na vida humana, um adequado conceito de verdade pressupõe a reconciliação do ser humano com ele mesmo, com o próximo, com todas as criaturas e principalmente com Deus, Verdade Absoluta. Sem essa reconciliação, os nexos entre os diversos tipos de saber não são capazes de lançar bases sólidas e de alcançar juntos resultados claros e objetivos, pois as crises sociais afundam as suas raízes em uma crise antropológica. Por certo, não pode haver busca da verdade se as relações entre todos os seres continuarem fraturadas em dualismos. O saber teológico desponta, ao lado dos demais, não como supremo saber ou dono da verdade, mas como mediador e como diaconia nessa sublime e fundamental tarefa de unir, novamente, os saberes universais, sem os quais o ser humano dificilmente terá uma formação completa, integral, ordenada e comprometida com a verdade que liberta.

Conclusão

O presente artigo partiu de uma situação concreta: a visita que o Papa Bento XVI iria fazer à usr, na qual pronunciaria a aula inaugural, mas que, por motivos alheios à sua vontade, acabou sendo cancelada. Essa alocução, porém, foi enviada ao Reitor da referida Universidade, que se comprometeu a refletir o seu conteúdo junto a docentes e discentes. Além disso, a sua publicação e difusão permitiram que o público em geral pudesse ter acesso ao que seria dito naquela ocasião, motivo que inspirou a sua retomada e estudo, percebendo o quanto o pensamento de Bento XVI tem a dizer aos acadêmicos.

Por essa alocução, ficou patente que a Universidade, por sua natureza, é uma realidade capaz de ajudar o pensamento a evoluir por suas diferentes dimensões e especializações. O papel da Universidade não se reduz apenas à aplicação rigorosa de métodos científicos para se obter a verdade do objeto estudado, mas deve, principalmente, ajudar no processo de humanização da sociedade, a fim de que o ser humano não perca a sua dignidade e a sua liberdade, distanciando-se do seu fim último.

A Universidade torna-se um espaço apto para que sejam formuladas as respostas para as questões importantes da vida que lhe são apresentadas, mas deve ser capaz de escutar e de formular critérios válidos, reconhecendo e permitindo que a fé, ao lado da ciência, continue sendo um princípio válido na vida de docentes e discentes que possuem o direito de não sofrer qualquer tipo de discriminação por manifestarem a sua religião. De certo, nesta dinâmica, com a qual a Universidade abriga e abre espaço, existe o contato contínuo de pessoas, idéias e ideais que permitem dizer que «A afirmação da verdade é o primeiro fardo e, talvez, o único fardo imediato numa apresentação acadêmica»79.

O ser humano nunca conseguiu, em época alguma, viver sem a autoridade, que se manifesta e deve se manifestar, principalmente, quando a verdade encontra-se ameaçada e a dignidade humana é menosprezada. Então, dizer que a Universidade deve estar ligada, exclusivamente, à autoridade da verdade é um convite à reflexão. É, também, um desafio a reconhecer e a aceitar que a verdade não se alcança somente através de repetições experimentais, mas é uma Razão-Amor que se encarnou, habitou entre nós e deixou-nos o seu legado sobre a verdade e sobre a liberdade: «Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará». É a verdade que se encontra unida à experiência bíblica e histórica, que vai de Abraão a Jesus Cristo e, por sua Igreja, até a parusia, rumo ao encontro definitivo com a Verdade Absoluta80.

A verdade dita deve corresponder à verdade praticada. A revelação da verdade, acontecendo como caminho histórico, permite que a fé e a razão promovam o sentido da existência do ser humano. Assim, a verdade de Jesus, que é fruto de sua pregação e do seu agir, e a verdade sobre Jesus, que é fruto da pregação e da ação da Igreja, não se chocam com as verdades alcançadas pelas ciências naturais. Fé e razão, juntas e abertas para as questões fundamentais do ser humano e da sua dignidade, podem, com coragem, ser desenvolvidas em parceria na Universidade, provocando debates, entre as diversas áreas do saber, que aumentem a qualidade da reflexão comprometida não apenas com a teoria sobre a verdade, mas com a práxis da verdade que liberta e humaniza a sociedade.


Notas

1 Regensburg, que antes se chamava Ratisbona, é uma cidade que remonta à época do Imperador e filósofo estóico Marco Aurélio Antonino (121-180 d.C.) e se encontra na região da Bavária. Cf. James V. Schall, «De Cambridge a Regensburg: Duas Conferências sobre a Coragem Intelectual», Communio 2, Vol. XXVI (2007): 254.
2 O discurso do Papa aos representantes da academia, em Regensburg, está disponível na internet: acesso em outubro 3, 2012, www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2006/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20060912_university-regensburg_it.html.
3 Na sua primeira encíclica à Igreja, o Papa Bento XVI proclama o Amor de Deus como Verdade-Amor: «A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor!», Bento XVI, Deus Caritas est (São Paulo: Paulinas, 2006), n. 39. Para um aprofundamento sobre os principais aspectos dessa encíclica, veja-se: Angelo Scola, «A Unidade do Amor e o Rosto do Homem: Um convite à leitura da Encíclica Deus Caritas Est de Bento XVI», Communio 2, Vol. XXVI (2007): 203-233.
4 Os dados sobre a Fundação Joseph Ratzinger sobre os quatro simpósios já realizados e sobre as várias premiações já concedidas encontram-se no site, Acesso em novembro 12, 2012, http://www.fondazioneratzinger.va/.
5 A frase pertence a Santo Ambrósio, mas tornou-se célebre com Santo Agostinho que a usou para se referir, positivamente, ao pecado original e passou a ser cantada no precônio da solene vigília pascal do Sábado Santo: o felix culpa qui talem et tantum meruit habere redemptorem.
6 Esta liberdade acadêmica surge «quando a Universidade de Paris recebeu um alvará escrito da Santa Sé em 1215, abriu-se uma nova dimensão não civilização europeia; agora as Universidades existiam como centros de cultura relativamente autônomos, dedicados à busca do conhecimento», Richard Tarnas, A Epopeia do Pensamento Ocidental (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011), 199.
7 Bento XVI, Alocução à Universidade Sapienza de Roma, 17 de janeiro de 2008, acesso em outubro 3, 2012. www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/january/documents/hf_ben-xvi_spe_20080117_la-sapienza_it.html.
8 Interessa ressaltar que tanto João Paulo II como Bento XVI foram entrevistados e procuraram elucidar sobre o papel do papado na Igreja e no mundo: Cruzando o Limiar da Esperança, por sua Santidade João Paulo II, entrevistado por Vittorio Messori. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994. No caso do Papa Bento XVI, o livro é anterior à eleição ao papado e intitula-se O Sal da Terra. O cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio [Saiz der Erde: Christentum und Katholische Kirche im 21 Jahrhundert Ein Gesprāch mit Peter Seewald. München: Deutsche Verlags-Anstalt GmbH, 1996], pelo Cardeal Joseph Ratzinger, entrevistado por Peter Seewald (Rio de Janeiro: Imago, 2005).
9 O vocábulo ἐπίσκοπος pertence a uma vasta família de vocábulos formada pela raiz σκεπτ e pelo prefixo ἐπί. Caracteriza-se pela ação de observar, examinar, tomar conhecimento, indagar ou experimentar o que está sendo feito. É a ação de quem se preocupa, de forma ativa e responsável, pelo objeto que está sendo observado. O vocábulo está atestado desde Homero e foi usado como atributo de uma divindade que vigia e protege o país e seus habitantes. A divindade era invocada como testemunha de pactos, contratos e negócios comerciais. Nesse sentido, era, também, atribuído a homens que exerciam a função de responsáveis pelo estado e por comunidades religiosas. Pode-se dizer que a grande função do ἐπίσκοπος era a de manter a ordem pública e religiosa como guardião. A LXX, para falar do olhar favorável e atento de Deus pelo seu povo usou ἐπίσκοπέω (cf. Dt 11,12). 1Pd 2,25 é um texto que resume bem o sentido do termo: Jesus é o Pastor e o Bispo dos que a Ele se converteram. De Jesus Cristo, como expressão máxima do serviço, é que se deve aprender o sentido que este conceito revela, enquanto preocupação pelo bem e pela salvação do ser humano. Cf. Lothar Coenen, «ἐπίσκοπος» em Dizionario dei Concetti Biblici del Nuovo Testamento, ed. Lothar Coenen, Erich Beyreuther e Hans Bietenhard (Bologna: edb, 1986), 1975-1979.
10 Cito apenas a definição adotada pela Psicologia que assume duas acepções, uma genérica e uma específica. Pela primeira, a razão está em referência ao Logos grego, que Herácilo usou para expressar o princípio racional que rege o Caos e que Cícero traduziu por ratio. Cf. Richard Tarnas, op. cit., 61. Pela segunda, a razão está em referência à diánoia grega, entendida como procedimento discursivo que se expressa na demonstração, em oposição ao nous que a escolástica medieval entendeu como intellectus, segundo a acepção aristotélica da intuição dos primeiros princípios. Cf. Umberto Galimberti, «Ragione», Dizionario di Psicologia (Bergamo: L'Espresso, 2006), 296-298.
11 A verdade crida e professada pelo cristianismo não anula o que de bom, válido e verdadeiro existe em outras expressões religiosas. É exatamente essa postura de tolerância e de compreensão que permite a verdade cristã entrar em diálogo inter-religioso e ecumênico. Por meio deste diálogo, pode-se promover, no mundo, a paz, a justiça, o bem e, principalmente, a luta por salvaguardar a dignidade humana, grande objeto do amor de Deus. Cf. Mario de França Miranda, «Verdade cristã e pluralismo religioso», Atualidade Teológica 13, Vol VII (2003), 47-49.
12 Lembra, oportunamente, Samuel Greg, «Europa, Cristianismo e Secularização: Insights de Joseph Ratzinger - Bento XVI», Communio 2, Vol. XXVI (2007), 339: «A Europa é o continente, onde primeiro emergiu o cristianismo como religião dominante, e o cristianismo exerceu uma influencia incomparável na história e na identidade européias. Mas a Europa também é o berço da modernidade e o cenário de choques entre determinadas ideologias do iluminismo e do catolicismo».
13 Cf. Leonardo Agostini Fernandes, «A Bíblia no Contexto da Universidade», em Exegese, Teologia e Pastoral: relações, tensões e desafios, ed. Isidoro Mazzarolo, Leonardo Agostini Fernandes e Maria de Lourdes Corrêa Lima (Rio de Janeiro/São Paulo: Editora puc-Rio/Academia Cristã, 2015), 423-426.
14 «Na verdade, o mito foi a primeira grande arma da qual o homem se serviu para enfrentar o desconhecido e, de algum modo, controlá-lo», Severo Hryniewicz, Para Filosofar (Rio de Janeiro: Edição do autor, 1999), 55. As viagens marítimas, a invenção do calendário, da moeda, da política, do alfabeto e a reorganização da vida urbana estão na base das condições históricas para que a filosofia surgisse e superasse o mito. Cf. Marilena Chaui, Convite à Filosofia (São Paulo: Ática, 1995), 31-32.
15 A filosofia, por nascer da religião, possui as marcas do sagrado em toda a sua trajetória e desenvolvimento. Não havia dicotomia entre fé e razão no âmbito da filosofia grega, mas havia a preocupação de que a razão não cedesse aos fundamentalismos e exageros patológicos de expressões religiosas insanas. Cf. Clemente Ivo Juliatto, Ciência e Transcendência, duas lições a aprender (Curitiba: Champagnat - pucpr, 2012), 63.
16 Cf. Richard Tarnas, op. cit., 46-51.
17 O verdadeiro nome de Platão era Aristocle, do grego platús, devido a sua robustez física. Depois da morte de Sócrates, seu mestre, Platão viajou muito e até foi feito escravo. Após a sua libertação, regressou a Atenas e fundou uma escola, denominada Academia porque funcionava nos jardins dedicado ao herói chamado Academo. A sua intenção era a de formar uma classe dirigente que fosse bem preparada intelectualmente, evitando que a tirania assumisse o poder. Tentou implantar o seu pensamento em Siracusa, governada pelo tirano Dionísio o jovem, mas não conseguiu. Cf. Maurizio Pancaldi, Mario Trombino e Maurizio Villani, «Platone», em Atlante della filosofia. Gli autori e le scuole, le parole, le opere (Milano: Ulrico Hoepli, 2006), 342-348.
18 Platão, para distinguir a filosofia pré-socrática, naturalista, da filosofia inaugurada por Sócrates e que busca a essência de todas as coisas, cunhou, com base na prática náutica da sua época, o conceito de «primeira navegação» e de «segunda navegação». Esta se encontra na rota certa que conduz à descoberta do ser que está acima do sensível e que é inteligível por natureza. Cf. Giovanni Reale e Dario Antiseri, História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. Vol. 1 (São Paulo: Paulinas, 1990), 134-136.
19 Acreditar em uma disposição divina não contradiz, por certo, o princípio da evolução da razão humana, segundo o qual o cérebro humano evoluiu na passagem do homo erectus (que viveu entre 1.8 milhões de anos e 300.000 anos atrás) para o homo sapiens, graças à ingestão de proteína de origem animal. Cf. Stephen C. Cunnane e Michael A. Crawford, «Survival of the fattest: fat babies were the key to evolution of the large human brain», em Comparative Biochemistry and Physiology Part A 136 (2003): 17-26.
20 A religião é uma forma de conhecimento válido e que, em nada, dispensa o uso da razão. Sobre isso, veja-se Edênio R. Valle, «Religião como forma de conhecimento: mito e razão», em Teologia e Ciências Naturais. Teologia da Criação, Ciências e Tecnologia em diálogo, ed. Eduardo R. da Cruz (São Paulo: Paulinas, 2011), 57-58.
21 O livro da Sabedoria serve de exemplo, o autor, um autêntico judeu, preocupa-se em ajudar os irmãos da diáspora egípcia, influenciados pela cultura grega, a salvaguardar a fé diante do materialismo, do hedonismo e da idolatria com forte inspiração no evento do êxodo do Egito. Cf. Cássio Murilo Dias da Silva, «Tradições do êxodo em Sb 11-19», Atualidade Teológica 49, Vol. xix (2015): 91-95.
22 Cf. Richard Tarnas, op. cit., 196-201.
23 Itinerário breve e preciso sobre as etapas que marcaram o encontro entre a fé e a razão encontramse em João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio, sobre as relações entre fé e razão (São Paulo: Paulus, 1988), nn. 36-44.
24 Cf. Clemente Ivo Juliatto, O Horizonte da Educação. Sabedoria, Espiritualidade e Sentido da Vida (Curitiba: Champagnat - pucpr, 2009), 153-168.
25 João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio, op. cit., prólogo.
26 Cf. Hans-Georg Link, «ἀλήθεια», em Dizionario dei Concetti Biblici del Nuovo Testamento, op. cit., 1961-75. Na discussão com os judeus, essa relação aparece nos lábios de Jesus que defende o seu testemunho (cf. Jo 8,32.43-47).
27 Ao se formular que o ouro puro é diferente do ouro não puro, tem-se a verdade objetiva, pela qual a essência e a natureza de um ser se equivalem. Ao se formular que uma pessoa é um ser humano, tem-se a verdade lógica, pela qual o juízo une quando afirma e separa quando nega. Tais formulações encontram-se na base do conceito e da afirmação ocidental de verdade, seja proposta de forma popular ou científica. A verdade é reduzida e regulada pelo fato, enquanto demonstrável pela experimentação e pela repetição metodológica. Daí que é verdadeiro o que é exato e é verdade o que é exatidão.
28 Tomás de Aquino, «Summa Thel». I q. 16 a 1 e 21 a 2., em Opera Omnia, acesso em Julho 7, 2015, www.corpusthomisticum.org/iopera.html.
29 Cf. A. Jepsen, «!m;:a''» em Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament [TWAT] vol. I., ed. Gerhard Johannes Botterweck e Helmer Ringgren (Stuttgart: Verlag W. Kohlhammer, 1973): 333-34; 337-41.
30 Joseph Ratzinger, Introdução ao cristianismo (São Paulo: Herder, 1970), 36.
31 Mario de França Miranda, op. cit., 43.
32 Cf. Joseph Ratzinger, A infância de Jesus (São Paulo: Planeta, 2012), 11-12.
33 καὶ εἰς τοῦτο τοἐλήλυθα εἰς τὸν κόσμον, ἵνα μαρτυρσω τῇ ἀληθείᾳ. Πᾶς ὁ ὢν ἐκ τῆς ἀληθείας ἀκούει μου τῆς φωνῆς. As traduções, comumente, utilizam «para dar testemunho», e é correto, mas, também, poderia ser traduzido: «e eis que eu vim ao mundo para que eu seja mártir da verdade (grifo do autor). Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz», Joseph Ratzinger, afirma: «Mas é precisamente assim, na carência total de poder que Ele é poderoso, e só assim a verdade se torna força, sem cessar», Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição (São Paulo: Planeta, 2011), 177.
34 Cf. Concílio do Vaticano II, «Declaração Dignitatis Humanae», 07 de dezembro de 1965, n. 1535, Acta Apostolicae Sedis 58 (1966): 929-946.
35 Cf. Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição, op. cit., 178.
36 Cf. Joseph Ratzinger, A infância de Jesus, op. cit., 11-12.
37 Cf. James V. Schall, op. cit., 255.
38 Cf. Clemente Ivo Juliatto. O Horizonte da Educação. Sabedoria, Espiritualidade e Sentido da Vida, op. cit., 157-159.
39 Cf. Concílio do Vaticano II, «Declaração Dignitatis Humanae», op. cit., n. 1537.
40 A base dessa afirmação é a concepção filosófica de Aristóteles (384-322 a.C.) que ficou conhecida como «motor imóvel», isto é, uma causalidade eficiente e eficaz que move todas as coisas e por nada é movido. Cf. Giovanni Reale e Dario Antiseri, op. cit., 180-191.
41 Joseph Ratzinger, Introdução ao cristianismo, op. cit., 40.
42 Cf. Joseph Ratzinger, A infância de Jesus, op. cit., 37-38.
43 Cf. Bento XVI, «La Alleanza Scienza-Fede, secondo Benedetto XVI: Intervista al professor Giuseppe Tanzella-Nitti», acesso em novembro 12, 2012, www.zenit.org/article-26809?l=italian.
44 Cf. Joseph Ratzinger, A infância de Jesus, op. cit., 18-20.
45 Joseph Ratzinger, O Sal da Terra. O cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio, op. cit., 182.
46 Harry, G. Frankfurt, Sobre a verdade (São Paulo: Companhia das Letras, 2007), 76.
47 Concílio do Vaticano II, «Constituição Pastoral Gaudium et Spes», 07 de dezembro de 1965, n. 16, Acta Apostolicae Sedis 58 (1966): 1025-1120.
48 Bento XVI, Alocução à Universidade Sapienza de Roma, op. cit.
49 Bento XVI, «Fé, Razão e Universidade: recordações e reflexões», Communio 2, Vol. XXVI (2007): 177188, acesso em outubro 3, 2012, www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2006/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20060912_university-regensburg_it.html.
50 Em um mundo secularizado é preciso pensar o papel social da fé cristã que afirma a necessidade da relação entre fé e política. Cf. Paulo Fernando Carneiro de Andrade, «Possibilidades da relação entre fé e política em uma era secular», em Secularização: novos desafios, ed. Maria Clara Lucchetti Bingemer e Paulo Fernando Carneiro de Andrade (Rio de Janeiro: puc-Rio, 2012), 53-76.
51 Cf. Giovanni Reale e Dario Antiseri, op. cit., 478-482; Congregação da Educação Católica, Pontifício Conselho dos Leigos e Pontifício Conselho da Cultura, Presença da Igreja na Universidade e na Cultura Universitária, acesso em julho 8, 2015, www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/cultr/documents/rc_pc_cultr_doc_22051994_presence_po.html.
52 Nas disputas cristológicas, a fórmula: sem confusão, sem mutação, sem divisão, sem separação, do Concílio de Calcedônia (451), serviu para mostrar a relação que existe entre as duas naturezas de Jesus Cristo, que é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Cf. Heinrich Denzinger e Peter Hünermann, Enchiridion Symbolorum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum (Barcelona: Herder, 1999), can. 303, 163.
53 É reconhecido o mérito de Santo Tomás no que diz respeito a conceber a teologia como ciência em sentido rigoroso, pois seu método era, por um lado, a distinção entre conhecimento pela razão e conhecimento pela fé, e, por outro lado, a capacidade de fazer teologia segundo as exigências da demonstração da razão. Cf. Cornelio Fabro, Introduzione a San Tommaso. La metafisica tomista e il pensiero moderno (Milano: Ares, 1983), 118-130; Richard Tarnas, op. cit., 202-213.
54 Cf. Edgar Morin (org.), A Religação dos Saberes. O desafio do século XXI, trad. e notas de Flávia Nascimento (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010).
55 Visão coerente dessa situação manifesta Joseph Ratzinger, O Sal da Terra. O cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio, op. cit., 110-111: «As “seitas” protestantes fundamentalistas registram hoje grandes sucessos nas suas atividades missionárias na America do Sul e nas Filipinas. Dão às pessoas a sensação de segurança e da simplicidade da fé (...). A busca de segurança e da simplicidade torna-se perigosa quando conduz ao fanatismo e à falta de horizontes. Quando se desconfia da razão em geral, a fé também é falsificada e torna-se uma espécie de ideologia partidária que já nada tem a ver com a entrega, cheia de confiança, ao Deus vivo, enquanto fundamento originário da nossa vida e da nossa razão». Veja-se, também, Paulo Cezar Costa, «Agir contra a Razão é agir contra Deus», Communio 2, Vol. XXVI (2007): 329-336; Maria de Lourdes Corrêa Lima, «Fundamentalismo: Escritura e Teologia entre fé e razão», Atualidade Teológica 33, Vol. XIII (2009): 332-359; Leonardo Agostini Fernandes, «Leituras inaceitáveis (espúrias) da Palavra de Deus», Coletânea 15, Vol. VIII (2009): 11-31.
56 Cf. Urbano Zilles, Desafios Atuais para a Teologia (São Paulo: Paulus, 2011), 20-29. Para além dos danos causados, é preciso saber pensar, também, nas novas possibilidades de crescimento que se abrem com o secularismo. Cf. Maria Clara Lucchetti Bingemer, «Secularização e experiência de Deus», em Secularização: novos desafios, op. cit. 105-138.
57 Cf. Joseph Ratzinger, O Sal da Terra. O cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio, op. cit., 132.
58 Para uma breve síntese, veja-se: Clemente Ivo Juliatto, Ciência e Transcendência, duas lições a aprender, op. cit., 61-77.
59 «O exercício livre da racionalidade moderna no processo de construção de um sujeito autônomo propiciará a emergência de um fenômeno denominado secularização», Roberlei Panasiewcz, «Secularização: o fim da religião?», em Secularização: novos desafios, op. cit., 10.
60 Cf. João Carlos Petrini, «Bento XVI: Ampliar a concepção e o uso da razão», Communio 2, Vol. XXVI (2007): 287-292.
61 Bento XVI, Alocução à Universidade Sapienza de Roma, op. cit.
62 Idem.
63 Cf. Clemente Ivo Juliatto, O Horizonte da Educação. Sabedoria, Espiritualidade e Sentido da Vida, op. cit., 160.
64 É séria e pertinente a seguinte denúncia: «Muitos professores que conhecemos, sobretudo de Universidades mais dedicadas à pesquisa, se comportam como se não dessem a mínima importância ao ensino. Para eles, pesquisar, publicar, participar de congressos, discutir com os pares e especialistas sobre sua área de especialização é o que realmente importa. Dar aula é considerado o preço a ser pago por fazer aquilo de que gostam e poder progredir na carreira. As oportunidades de lecionar e de se aperfeiçoar didaticamente não lhes dizem nada e não lhes trazem nenhum apelo», Clemente Ivo Juliatto, O Horizonte da Educação. Sabedoria, Espiritualidade e Sentido da Vida, op. cit., 164-165.
65 Citado por Urbano Zilles, op. cit., 49-50.
66 A bioética «representa a tentativa de compreensão do verdadeiro significado da novidade, visando realçar seus aspectos positivos e alertar para os negativos. Ela consiste no esforço em estabelecer um diálogo entre a ética e a vida. (...) Num primeiro momento, podemos entender a bioética como uma ramificação da ética, preocupada, particularmente, em fazer valer os valores éticos, na medida em que questiona o respeito à dignidade humana, em meio ao progresso das ciências», Severo Hryniewicz e Regina Fiuza Sauwen, O Direito «in Vitro». Da Bioética ao Biodireito (Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008), 8.
67 A busca pela excelência no ensino universitário tem se defrontado com enormes desafios e muitos são os debates em torno da qualidade do ensino e da educação. No átrio dos debates, fala-se muito, mas pouco se faz para, de fato, criar as condições necessárias para que as mudanças aconteçam. Sobre o problema, veja-se: Clemente Ivo Juliatto, A Universidade em busca da excelência. Um estudo sobre a qualidade da educação (Curitiba: Champagnat - pucpr, 2010).
68 «Os cônjuges cristãos são, um para o outro, para os seus filhos e demais familiares, cooperadores da graça e testemunhas da fé. Para os seus filhos, eles são os primeiros pregoeiros da fé e educadores; pela palavra e pelo exemplo, formam-nos para a vida cristã e apostólica e ajudam-nos a escolher prudentemente a sua vocação e acalentam com todo o cuidado a vocação de consagração, neles por-ventura descoberta», Concílio do Vaticano II, «Decreto Apostolicam Actuositatem», 18 de novembro de 1965, n. 11, Acta Apostolicae Sedis 58 (1966): 837-864.
69 Joseph Ratzinger, Introdução ao cristianismo, op. cit., 183.
70 «A verdade é o horizonte último da busca existencial. Isso nos leva a compreender o conhecimento por uma perspectiva que supera a visão simplificadora do positivismo. Ao invés de admitir que o conhecimento humano é sinônimo de verdade, admitimo-lo apenas como caminho de acesso à verdade (mesmo que seja rotulado de científico ou metodologicamente testado). Isso muda toda a questão!». Clemente Ivo Juliatto, O Horizonte da Educação. Sabedoria, Espiritualidade e Sentido da Vida, op. cit., 161.
71 Cf. Congregação da Educação Católica, Pontifício Conselho dos Leigos e Pontifício Conselho da Cultura, op. cit., n. 14.
72 «Temos que reconhecer entretanto que o desafio maior provém da própria Igreja que carece de quadros católicos competentes, imprescindíveis para um diálogo com esta diversidade dentro da Universidade. Com raríssimas exceções o episcopado não investe em vocações intelectuais no clero e no laicato», Mario de França Miranda, «Universidade Católica hoje», Atualidade Teológica 49, Vol. xix (2015): 18.
73 Bento XVI, «Fé, Razão e Universidade: recordações e reflexões», op. cit., 188.
74 Cf. Leonardo Agostini Fernandes, «Missão do Departamento e da Teologia Hoje», em Memória, Identidade e Missão. Teologia da puc-Rio - 45 anos, ed. Ana Maria Tepedino (Rio de Janeiro: Editora puc-Rio, 2013), 136-138.
75 Inspiro-me Edgar Morin, op. cit.
76 Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in Veritate, n. 36, Roma, 29 de julho de 2009, acesso em julho 9, 2015, http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate.html.
77 Cf. Renato Raffaele Martinho, «Caridade e verdade: fundamentos da dimensão histórica e pública do cristianismo», em Economia e vida na perspectiva da Encíclica Caritas in Veritate, ed. Martino Antônio Carlos Alves dos Santos et alii (São Paulo: Companhia Ilimitada, 2010), 9-12.
78 Richard Tarnas, op. cit.
79 Cf. James V. Schall, op. cit., 261.
80 Cf. Comissão Teológica Internacional, O pluralismo teológico (São Paulo: Loyola, 2002), 17.


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Enviado: 27 de mayo de 2015 Aceptado: 6 de julio de 2015

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