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Franciscanum. Revista de las Ciencias del Espíritu

Print version ISSN 0120-1468

Franciscanum vol.62 no.173 Bogotá Jan./June 2020  Epub Feb 03, 2021

https://doi.org/10.21500/01201468.4136 

Teología

As Contribuições do Episcopado Brasileiro na III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Puebla (1979)

The contributions of the Brazilian Episcopate at the III General Conference of the Latin American Episcopate in Puebla (1979)

Las contribuciones del episcopado brasileño a la III Conferencia general del episcopado latinoamericano en Puebla (1979)

Ney de Souzaa  *

MSC Reuberson Ferreiraa  **

aPontificia Universidad Católica de São Paulo, PUC / SP, São Paulo, Brasil


Resumo

A relação entre o Episcopado Brasileiro e a III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano celebrada no final de janeiro e início de fevereiro de 1979 em Puebla de Los Angeles é o que este artigo pretende apresentar. Indicar quais e quem foram os Bispos do Brasil que de Puebla participaram e sob quais aspectos sua presença foi relevante e em quais aspectos eles contribuíram. Tal colaboração será externada em duas vertentes. De um lado, a contribuição dos Bispos do Brasil enquanto Conferência Episcopal Nacional; de outro, a colaboração pessoal de prelados especialmente Aloísio Lorscheider e Luciano Mendes de Almeida que ou por sua liderança natural no episcopado Latino Americano ou por suas opções e testemunhos eclesiológicas, influíram profundamente em posições assumidas no Documento Final.

Palavras-Chaves: Puebla; Bispos do Brasil; Contribuição; III Conferência Geral do Episcopado; Episcopado Latino Americano

Abstract

The relationship between the Brazilian Episcopate and the III General Conference of the Latin American Episcopate held in late January and early February 1979 in Puebla de Los Angeles is what this article intends to present. Indicate which and who were the Bishops of Brazil who participated in Puebla and in what respects their presence was relevant and in what respects they contributed. Such collaboration will be externalized in two strands. On the one hand, the contribution of the Bishops of Brazil as a National Episcopal Conference; On the other, the personal collaboration of prelates, especially Aloísio Lorscheider and Luciano Mendes de Almeida, who, either by their natural leadership in the Latin American episcopate or by their ecclesiological options and testimonies, profoundly influenced the positions taken in the Final Document.

Key Words: Puebla; Bishops of Brazil; Contribution; III General Conference of the Latin American Episcopate; Latin American episcopate

Resumen

Este artículo pretende presentar la relación entre el Episcopado brasileño y la III Conferencia General del Episcopado latinoamericano celebrada a fines de enero y principios de febrero de 1979 en Puebla de Los Ángeles. Igualmente, se indicarán quiénes fueron los obispos de Brasil que participaron en Puebla, en qué aspectos su fue relevante presencia y en qué aspectos contribuyeron. Dicha colaboración se expresará de dos maneras. Por un lado, la contribución de los Obispos de Brasil como Conferencia Episcopal Nacional y, por otro lado, la colaboración personal de los prelados, especialmente Aloísio Lorscheider y Luciano Mendes de Almeida, quienes, ya sea por su liderazgo natural en el episcopado latinoamericano o por sus opciones y testimonios eclesiológicos, tuvieron una profunda influencia en las posiciones tomadas en el Documento Final.

Palabras clave: Puebla; Obispos de Brasil; Contribución; III Conferencia General del Episcopado; Episcopado Latinoamericano

À guisa de introdução

O historiador francês Jacques Le Goff, com acuidade, nas linhas derradeiras de um ensaio intitulado «Memória», testemunhou a necessidade de preservar a memória coletiva na qual a história cresce e da qual se nutre. Tal necessidade justifica-se para que a memória do passado possa servir tanto ao presente como no futuro como instrumento de libertação dos homens.1 De fato, conservar a memória do passado é o viés mais límpido para construir um futuro, em potencial, menos afeito aos erros e as vicissitudes humanas.

Assim, no intento de preservar a memória e fazer dela um serviço ao presente e ao futuro da Igreja na América Latina buscar-se-á nestas páginas revisitar a III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano celebrada em Puebla de Los Angeles nos dias 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979. Este ano ela celebra a efeméride de seu quadragésimo aniversário.

Realizada sob o tema da Evangelização no presente e futuro da América Latina, Puebla insere-se na esteira de Medellín (1968) e, não obstante o cenário político-social- eclesial diverso da II Conferência, apresenta-se como uma continuadora da tradição de sua predecessora e da recepção do Concílio Vaticano II (1962-1965) em terras Latino Americanas. Não sem presunção pode-se dizer que, em muitos aspectos, salvaguardando a contribuição de outros prelados, essa relevância histórica de Puebla deve muito ao Episcopado Brasileiro.

Justamente essa colaboração dos Bispos do Brasil para Puebla que este artigo pretende trazer a lúmen uma reflexão. Entre eleitos e convocados, com direito a voz e voto, havia mais de quarenta Bispos que eram do Brasil. Quando da aprovação do documento final, os votos emitidos pelos brasileiros representavam mais de vinte por cento. Além disso, há toda uma discussão anterior e interna em Puebla que tende a corroborar essa ilação dos Bispos, consequentemente, da Igreja do Brasil, com a Conferência de 1979.

Para fins metodológicos, este artigo buscará apresentar, num primeiro momento, sumariamente, o ambiente em que Puebla foi gestada, da convocação à celebração. Na sequência será apresentado quem foram os Bispos do Brasil que participaram da III Conferência e como foi o processo de eleição deles. Contiguo a isso será demonstrado o papel de alguns deles -acento especial à Aloísio Lorscheider2 e Luciano Mendes de Almeida, embora haja outros- e suas respectivas contribuições na preparação e na construção do Documento Final de Puebla. Principiemos por uma imersão no universo que concorreu para a celebração de Puebla.

1. Da convocação à celebração de Puebla

Oito anos após a realização da II Conferência de Medellín, foi sugerida, em dezembro de 1976, a possibilidade de se celebrar uma nova Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, a terceira do continente e a segunda após o Vaticano II. Tal proposta não era, contudo, uma novidade. Já em 1973 aventava-se essa necessidade, cinco anos após Medellín3. Vozes contrárias à Conferência de 1968 e preocupadas com um certo triunfalismo em torno das interpretações decorrentes dela abortaram tal possibilidade naquele momento4. Essa questão, contudo, foi recolocada e definida como exequível no último mês de 1976, durante a XVI Assembleia do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), celebrada na cidade de San Juan, em Porto Rico.

O anúncio da proposta de uma nova Conferência Geral foi feito pelo cardeal Sebastião Baggio, então prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina5. Ele informou aos mais de cinquenta Bispos que compunham os organismos permanentes do Conselho Episcopal Latino-Americano que Paulo VI tinha a intenção de convocar uma III Conferência Geral em comemoração aos dez anos de Medellín. A organização e a preparação desse evento caberiam àquele organismo continental do episcopado, isto é, o CELAM6. A esse respeito, deve-se dizer que a preparação para Puebla «constituiu o maior mecanismo de consulta e participação desenvolvidos até então no continente Latino Americano»7.

Contíguo ao comunicado das intenções de Paulo VI, foi estabelecido, em março de 1977, o tema oficial da II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, inspirado8, em certa medida, pela Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelli Nuntianti, publicada em 1975 pelo Papa como resultado do Sínodo de 1974. Essa influência despontará tanto no Documento de Consulta9 quanto no Documento de Trabalho10 e de maneira particular no Documento Conclusivo de Puebla em sua estrutura e em elementos teológicos-pastorais11. A formulação oficial do tema da III Conferência que queria refletir sobre o anúncio do Evangelho na América Latina foi condensada na expressão Evangelização no presente e futuro da América Latina.

O presente e o futuro da América Latina suscitavam, naquele contexto, uma atenta e profunda reflexão. O mundo, a América Latina e, com eles, a Igreja já havia adquirido multiformes configurações, distintas daquela que grassavam em Medellín. Em um plano geral, o otimismo desenvolvimentista dava sinais de recessão, instaurava-se uma nova face do capitalismo12, chancelada pela assim constituída Comissão Trilateral13. Regimes ditatoriais apoiados em mecanismos de perseguição, censura e opressão expandiam-se secundados pela Lei de Segurança Nacional14 e estabelecia-se uma acentuada desigualdade econômica. Elites dominantes tornavam-se cada vez mais enriquecidas pelo capital externo. Por sua vez, as classes trabalhadoras eram empobrecidas, privadas de direitos individuais e coletivos. Ao mesmo tempo, a dívida externa de países da América Latina atingia índices superlativos às expensas de pagamentos de juros escorchantes e negação dos interesses nacionais15.

Do ponto de vista eclesial, as mudanças propugnadas por Medellín já eram sentidas. Alguns se posicionavam a favor; outros eram deliberadamente contrários. Estes últimos paulatinamente adquiriram força no mundo e, sobretudo, na América Latina. Criticava-se a interpretação que se fizera da II Conferência, sobretudo no que diz respeito à radicalização da opção pelo social e pelos pobres. A teologia da libertação, fruto dessa época, foi duramente repreendida e combatida16. Criticava-se a dilatada autonomia que as Conferências Episcopais Nacionais gozavam17. Um clima tenso e de cunho beligerante era delineado no horizonte da Conferência que estava por ser realizada.

O primeiro passo em direção à Conferência de 1979 foi a solicitação de que os organismos eclesiais em diversos níveis continentais e locais apresentassem suas sugestões e demandas a serem refletidas na assembleia geral do CELAM. As diversas Conferências Episcopais Nacionais, divididas em blocos, foram exortadas a postularem assuntos ligados à vida da Igreja, à luz da tradição latino-americana18. Tais encontros tiveram espaços nos meses de junho e julho de 197719. A síntese de todas as contribuições recolhidas das conferências20 transformou-se num texto intitulado Documento de Consulta, alcunhado de «livro verde» por conta da cor de sua capa21. Esse documento, em que pesem as possíveis retas intenções dos redatores, tornou-se, aos olhos de teólogos e especialistas, um desserviço à caminhada preparatória de Puebla22.

Contigo à publicação e às reações ao Documento de Consulta23 bem como amalgamando a críticas a esse texto, um grupo de peritos, teólogos e Bispos redigiram um novo material, agora um instrumentum laboris. A rigor, a redação do novo escrito foi capitaneada pelo Arcebispo de Fortaleza, o Cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider24. Sua versão final foi aprovada em reunião da coordenação dos trabalhos preparatórios em primeiro de agosto de 197825. Esse texto foi muito melhor recebido do que o Documento de Consulta26 pois era dirigido mais em vista à comunhão e participação do que à questão da secularização27, grande mote do primeiro documento. Esse fato não o isentou de críticas, como a elencada pelos teólogos da CLAR (Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas)28, que questionavam, entre outras coisas, a leitura linear da história apresentada no Documento, a análise simplista da realidade sociológica latino-americana, a justaposição de enunciados teológicos na parte doutrinal, a falta de clareza do conceito de evangelização e a pouca e concreta explicitação das propostas de ação29.

Cinco dias após a aprovação final do Documento de Trabalho pela comissão organizadora de Puebla e pouco menos de três meses antes da celebração da III Conferência, o enfermo Paulo VI morreu em 6 de agosto de 1978. O conclave elegeu o Cardeal patriarca de Veneza, Albino Luciani, como novo Pontífice. Ele assumiu o nome de João Paulo I retificou os preparativos de Puebla com data prevista para de 12 a 18 de outubro de 1978. Exatos trinta e três dias de pontificado redundaram na morte de João Paulo I, ascendendo ao sólio petrino o Cardeal polonês Karol Wojtyła sob o nome de João Paulo II. Após a eleição do Papa, ficou definido que a III Conferência aconteceria não mais em outubro e sim de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979 com abertura presidida pelo Bispo de Roma que vinha à América Latina «para ajudar e “confirmar” (cf. Lc, 22, 32) os seus irmãos Bispos»30. Tratava-se da primeira de muitas viagens internacionais daquele Bispo de Roma.

Em 28 de Janeiro de 1979, João Paulo II fez o discurso de abertura da Conferência de Puebla. No dia seguinte sob a presidência dos Cardeais Sebastião Baggio, Aloísio Lorscheider e de Ernesto Corripio y Ahumada, respectivamente Presidente da CAL do CELAM e Arcebispo de Ciudad de México, iniciou-se a III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho. O secretariado-geral da Conferência foi conduzido, pelo emblemático coadjutor de Medellín, Dom Alfonso López Trujillo que também era secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-Americano31.

No dia seguinte, 29 de janeiro, após alocução feita pelo presidente do CELAM, foram apresentados a dinâmica de trabalho e o regulamento para a III Conferência 32. A dinâmica de trabalho fora organizada pelos Sacerdotes Andrés Vela, S.J. e José Marins, teólogo brasileiro. O regulamento fora enviado desde a Sé Romana para os Bispos.

Sinteticamente, na metodologia, entre outras coisas, previa-se a formação de comissões provisórias para o estudo do temário proposto. Após a eleição dos temas pelas várias comissões, os assuntos que norteariam a redação do Documento Conclusivo da Conferência seriam feitos uma redação do texto final em novos grupos de, no máximo, vinte membros. Essa redação, ao final, seria apresentada às outras comissões do grupo temático, em um intercâmbio (grade) de ideias para enriquecer o tema, preparando uma segunda redação. Em seguida, a totalidade do texto seria lida pelos participantes, votada, discutida em plenária, e seriam apresentadas emendas necessárias e possíveis. Desses adendos, seria feita uma última redação, submetida à votação final de partes e do todo do texto elaborado.

Historicamente sabe-se que foram feitas quatro redações e que à certa altura dos trabalhos os Bispos reconheceram a necessidade de criar-se uma comissão especial para redigir uma espécie de epilogo final de Puebla, nomeado de opções pastorais. O Cardeal Arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo Arns e outros quatro purpurados compuseram a comissão33 e redigiram o que hoje temos como a última parte do documento de Puebla: Sob o Dinamismo do Espírito, opções pastorais.

Após as quatro composições, votações e debates o texto completo de Puebla foi submetido ao sufrágio final. Foram 179 votos favoráveis e um voto em branco. Desse ponto, de modo provisório, o texto foi entregue aos Bispos, restando ainda esperar a aprovação final do documento que seria conferido por João Paulo II. Sob a avaliação da Cúria Romana, o Documento Final de Puebla passou por uma última redação, a qual reelaborou a numeração do texto, que passou de 1069 para 1310. Essa alteração da quantidade de parágrafos deu-se devido a todos passarem a ter um número próprio diferente do que constava no Documento Final. Outras mudanças ressaltaram questões de estilos e, no entendimento de comentadores, o desejo de precisar alguns termos 34.

Por fim, em 23 de março de 1979, exatos trinta e oito dias do encerramento oficial de Puebla, na Festa do Arcebispo de Lima, Toribio de Mongrovejo, o Papa João Paulo II aprovou definitivamente o texto das conclusões de Puebla. Essa aprovação veio acompanhada por um uma mensagem do Papa exortando os Bispos a verem nas conclusões «um grande passo avante na missão essencial da Igreja, na missão de evangelizar»35. Doravante, cabia ao episcopado recepcionar e abalizar em suas dioceses o conteúdo do Documento Conclusivo da III Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano e Caribenho. Não obstante essa missão, deve-se dizer que nas entrelinhas do documento há muito da contribuição dos Bispos do Brasil em Puebla.

2. Os Bispos do Brasil que estiveram em Puebla

A quantidade de pessoas, num plano geral, presentes em Puebla é um dado intrincado para ser delimitado. Há autores que afirmam que havia 34636; outros que pontuam que eram 36437, as próprias listas nominais apresentam divergências entre elas não permitindo uma conclusão definitiva38. Não obstante essa dificuldade, pode-se afirmar que bem mais que três centenas entre Bispos, peritos, Padres, religiosos, leigos e observadores de outras Igrejas acederam a III Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano e Caribenho.

Para além da querela em torno do número total de pessoas presentes em Puebla, deve-se dizer que 45 eram Bispos que trabalhavam ou eram do Brasil e foram à Conferência de 1979 representando o episcopado nacional. A eleição daqueles que participaram da III Conferência seguia o critério para participação delineado pela Santa Sé. O Cardeal Sebastião Baggio apresentou, via carta-convocação, os modos de participação em Puebla. A presidência do CELAM e dos organismos diretivos dessa instituição bem como todos os presidentes das Conferências Nacionais deveriam participar. Associar-se-iam a eles, numa perspectiva proporcional, um membro para cada cinco nas Conferências Nacionais dos Bispos com mais de cem membros. Naquelas com mais de duzentos membros, seriam um para cada dez. Peritos e outros notáveis, assegura a carta do Cardeal, poderiam ainda ser sugeridos e associarem-se aos Bispos39.

No caso do Brasil, embora todos os Bispos fossem passíveis de receberem votos, os, à época treze regionais da CNBB indicaram entre três a sete nomes, totalizando cinquenta e quatro candidatos preferenciais a serem delegados a Puebla40. Segundo o critério estabelecido pela organização da III Conferência Geral, o Brasil tinha direito, como explicou D. Aloísio Lorscheider, na manhã do dia 23 de abril na 16a Assembleia Extraordinária a um «quórum feito à base do número de Bispos na ativa, que são 270. Para a primeira centena destes, o Brasil elege 20 delegados e para os 170 elege dezessete delegados na proporção de 1 por 5 e de 1 por dez»41. Desse modo, foram eleitos trinta e sete delegados42.

Realizaram-se cinco escrutínios até chegar ao quórum exato dos representantes brasileiros eleitos para Puebla. No primeiro escrutínio, por maioria absoluta elegeram-se os seguintes epíscopos43:

Nome do (Arce)Bispo Diocese de atuação44
Ivo Lorscheider Bispo auxiliar de Porto Alegre-RS
Valfredo Tepe Bispo de Ilheus-BA
João Batista Przyklenk, Bispo de Januária-MG
Afonso Niehuesu Bispo auxiliar de Florianópolis-SC
Bonifácio Piccinini Arcebispo codjutor de Cuibá-MT
Paulo Eduardo Ponte Bispo de Itapipoca-CE
Luciano Mendes de Almeida Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo-SP
Angelo Frosi Bispo de Abetetuba-PA
José Freire Falcão Arcebispo de Terezina-PI
Miguel Fenelon Câmara, Arcebispo de Maceio-AL
Gilberto Pereira Lopes Bispo coadjutor de Campinas-SP
Eugênio de Araújo Sales Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro-RJ
Avelar Brandão Vilela Cardeal primaz do Brasil, Arcebispo de Salvador - BA
Serafim Fernandes Araújo Bispo auxiliar de Belo Horizonte-MG
Geraldo Fernandes Arcebispo de Londrina-PR
Paulo Evaristo Arns Arcebispo de São Paulo-SP
Vicente Scherer Arcebispo de Porto Alegre-RS
Pedro Feldato, Arcebispo de Curitiba-PR
Moacyr Grechi Bispo de Rio Branco-AC
Maximo André Biennés Bispo de São Luiz do Cárceres-MT
Alberto Gouveia Ramos Arcebispo de Belém-PA
Nivaldo Monte Arcebispo de Natal-RN
Jaime Coelho Bispo de Maringá-PR
Adrianno Hypolito Bispo de Nova Iguaçu-RJ
Arcangelo Cergua Bispo prelado de Parintins-AM
Cândido Padin Bispo de Bauru-SP
Milton Corrêa Pereira Arcebispo de Manaus- AM
Helder Câmara Arcebispo de Olinda-Recife-PE
Orlando Dotti Bispo de Barra-BA
José Ângelo Neto Arcebispo de Pouso Alegre-MG

O cânon de definição da eleição do candidato era de maioria absoluta. Nesse prospecto, trinta foram eleitos na primeira votação. Ao todo foram 224 votantes, número de presentes na sessão. Entre os eleitos o que obteve mais votos, recebeu 200 e 113 foi a quantidade que o último fosse eleito45.

Em quatro outras votações foram escolhidos outros sete delegados para a III Conferência, a saber:

Nome do (Arce)Bispo Diocese de atuação
Antônio do Carmo Cheuiche Bispo auxiliar de Porto Alegre-RS
Jaime Henrique Chemello Bispo de Pelotas-RS
Karl Joseph Romer Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro-RJ
Quirino Adolfo Schmidt Bispo de Teófilo Otoni-MG
Geraldo Maria Moraes Penido Administrador apostólico de Aparecida-SP
Antônio Afonso Miranda Bispo de Campanha-MG
Fernando Gomes dos Santos Arcebispo de Goiânia-GO

Em outras duas rodadas foram escolhidos os seguintes suplentes46:

Nome do (Arce)Bispo Diocese de atuação
Clemente Jose Isnard Bispo de Nova Friburgo-RJ
Alano Pena, Bispo prelado de Marabá-PA
David Picão Bispo de Santos-SP
Albano Bortoletto Cavallin Bispo auxiliar de Curitiba-PR
Aloísio Sinésio Bonh, Bispo auxiliar de Brasília-DF
José Maria Pires Arcebispo da Paraíba-PB
José Gonçalves da Costa Arcebispo de Niterói-RJ
Luiz Gonzaga Fernandes Bispo auxiliar de Vitória-ES
Marcelo Pinto Carvalheira Bispo Auxiliar da Paraíba-PB
Claudio Hummes Bispo de Santo André-SP

Houve, ainda em Puebla, outros Bispos do Brasil. Eles foram ou nomeados pelo Papa ou em razão de ofício e tomaram parte da IIII Conferência Geral do Episcopado Latino Americano. Entre eles estão os nomeados pelo Vaticano:

Nome do (Arce)Bispo Diocese de atuação
Agnelo Rossi Prefeito da Cong. da Evangelização dos povos, Roma-IT
Carmine Rocco Arcebispo de Iustianopolis in Galatia, Núncio no Brasil
Henrique Froelich, Bispo prelado de Diamantino-MT, representante da CAL
Clemente José Isnard Bispo de Nova Friburgo-RJ
João José da Mota e Albuquerque Arcebispo de São Luís-MA

Sobre a nomeação destes e de outros diretamente por Roma que somavam um coeficiente de trinta e sete membros (incluindo os de outros países)47 respigavam queixas de que a Cúria Romana havia tentado inadvertidamente influir nos destinos da Conferência48.

Em razão de ofício, ao lado de Bispo de outros países, um grupo de três brasileiros se fez presente em Puebla, a saber:

Nome do (Arce)Bispo Diocese de atuação
Aloísio Lorscheider Arcebispo de Fortaleza-CE Presid. da CNBB e do CELAM
Romeu Alberti Bispo de Apucarana-PR, Presid. do depto de Liturgia do CELAM
Luciano J. Cabral Duarte Arcebispo de Aracajú-SE, Presid. do depto de Ação Social do CELAM.

É interessante recordar que D. Luciano José Cabral Duarte, o último listado entre aqueles que foram por ofício à Puebla, era amigo pessoal e alinhado eclesiologicamente do Secretário Geral do CELAM, Dom Alfonso López Trujillo. Juntos protagonizaram um vexatório episódio de troca de correspondência que acabaram vazando para impressa49. Nelas o Secretário Geral convoca o Arcebispo de Aracaju para uma ir à Puebla com armas em punho para vencer o combate contra os teólogos da libertação50.

De todo o grupo de Bispos eleitos à Puebla, Helder Câmara, Vicente Scherer, Fernando Gomes dos Santos e Alberto Gaudêncio Ramos eram os únicos que havia participado da Conferência do Rio de Janeiro, do Vaticano II e de Medellín. Aloísio Lorscheider, Candido Rubem Padin, OSB, Eugênio Araújo Sales, Nivaldo Monte e Avelar Brandão Vilela estiveram no Concílio de 1964 e em Medellín. O Cardeal Agnelo Rossi, Adriano Hypólito, OFM; Geraldo Fernándes Bijos, Geraldo Maria de Morais Penido, Jaime Luiz Coelho, Jayme Chemello, João Batista Przyklenk, MSF, João José da Mota e Albuquerque, Serafim Fernandes Araújo e José D’Angelo Neto tinham tomado parte do Concílio Vaticano II, não figuravam entres os participantes de Medellín, e agora estavam na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. José Freire Falcão, Arcebispo de Teresina, não tinha participado do Concílio como Bispo, mas estava em Medellín e em Puebla51.

Dessas afirmações nota-se, por um lado que de todos os prelados do Brasil presentes em Puebla mais da metade já tinha alguma experiência em eventos de proporções continentais e/ou mundiais. De outro lado, percebe-se que em Puebla uma parcela de Bispos havia sido fecundada pelas sementes do Vaticano II ou tinham sido por ele inspirados na recepção de Medellín. Por fim, tinham epíscopos que carregavam dentro de si, ao menos em tese, uma visão dilatada de toda a tradição de Conferências do Continente Latino-Americano.

Atualmente, quarenta anos depois de Puebla, muitos Bispos já faleceram, resta apenas uma parcela deles, naturalmente eméritos, que seguem como testemunhas vivas dos fatos que aconteceram naqueles quinze dias de trabalho e reflexão no seminário Palofoxiano de Puebla. Esses homens são, nominalmente52: Alano Maria Pena, OP; Antônio Afonso de Miranda, SDN; Bonifácio Picianini, Gilberto Pereira Lopes, Jayme Chemello, José Freire Falcão, Karl Joseph Romer, Moacir Grechi, Orlando Otácilio Dotti, Pedro Fedalto e Serafim Fernandes de Araújo. São precisamente onze preclaros Bispos que testemunharam tudo que se passou e foi vivido na Conferência Geral Episcopado Latino Americano e Caribenho celebrada em 1979 bem como podem dar fé da contribuição do Episcopado Brasileiro em Puebla.

3. Algumas notas sobre as contribuições do Episcopado Brasileiro à III Conferência Geral Latino-Americano em Puebla

As contribuições do Episcopado brasileiro, por conseguinte, da Igreja no Brasil à Puebla, gravitam em um campo vasto. De ações conjuntas e ordenadas (antes, durante e depois) à protagonismos pessoais por parte de alguns nomes icônicos da tradição eclesial no Brasil -«Pais da Igreja na América Latina»53- muito foi aportado na III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho. Esses fatos podem ser listados, numa espécie de caleidoscópio multicolor e plural de elementos que construíram a história da Igreja no continente.

Um primeiro movimento que pode ser listado como uma colaboração da Igreja e dos Bispos no Brasil para Puebla foram as reações ao Documento de Consulta - alcunhado, Livro Verde. Esse documento despertou, como atesta o historiador Enrique Dussel, «mais reflexão do que qualquer outro documento anterior e surgiram numerosíssimas contribuições»54. No caso da Igreja, mormente no que tange ao Episcopado, ele foi imensamente debatido na XVI Assembleia Geral Extraordinária da CNBB, celebrada em abril de 1978 que fora convocada com objetivo de preparar à Conferência. Durante a Assembleia, Dom Aloísio, Lorscheider, que era presidente da CNBB, do CELAM e membro da comissão redatora do texto, fez uma síntese do documento de consulta. Seguiu-se a esse movimento uma articulação por grupos, organizada por Dom Ivo Losrcheiter, onde os Bispos deveriam apresentar respostas.

Esse processo, numa plenária posterior, rendeu intervenções de diversos matizes e de muitos aspectos. Algumas questões eram ligadas a precisão conceitual, outras eram indagações sobre marginalização de temas importantes (Realidade Latino Americana) ou ainda apelos para uma continuidade e avanço nas opções de Medellín55. Esse conglomerado de aportes resultou em mais 3.355 novas sugestões, explicações e ideias que seriam agregadas ao documento de consulta, contribuindo de maneira propositiva para ulteriores redações em vista da celebração da Conferência de Puebla, um documento que foi publicado com o título Subsídios para Puebla56. Contemplando esse processo atestava Comblin:

Em abril de 1978, em Itaici, a Conferência brasileira aprovou um documento alternativo, totalmente diferente em conteúdo e tom. Nele a CNBB já se mostrava como a verdadeira liderança no Episcopado Latino-Americano57.

Ainda o Episcopado do Brasil, só que desta vez apenas aqueles que haviam sido eleitos delegados à III Conferência também aportaram significativa colaboração coletiva à Puebla. Tal como o previsto durante a Assembleia Geral Extraordinária celebrada em abril de 1978 em Itaici-SP58, os Bispos eleitos delegados à Puebla reuniram-se, com exceção do à época Bispo auxiliar de Belo Horizonte, Dom Serafim Fernandes, para debateram alguns itens do documento chamado subsídios para Puebla os quais coletivamente seriam defendidos como temas prioritários nos esquemas preparatórios das comissões provisórias. O Jornal da Arquidiocese de São Paulo à época assim noticiou o fato:

Durante reunião preparatória realizada no convento do Cenáculo, no Rio de Janeiro, os 37 Bispos presentes, com exceção de D. Serafim, debateram alguns itens do documento Subsídios para Puebla”, extraídos da última Assembleia Geral da CNBB realizada em abril do ano passado que tratam da realidade pastoral do homem latino americano, conteúdo, metas, meios e destinatários da Evangelização. Esses pontos fundamentais que a delegação brasileira passará a defender com prioridade formam um elenco de temas e subtemas com seus principais enfoques a partir de núcleos conjuntos de temas contidos no esquema preparatório para comissões provisórias em Puebla59.

Essa articulada reunião elaborou um prospecto em torno de suas decisões amalgamados em cinco pontos. Na primeira parte, pedia que o Documento de Puebla fosse prospectivo e abrangente; na segunda parte sugeria na evangelização uma associação dialética entre ortodoxia e ortopráxis. A construção de uma América Latina mais justa, fraterna e solidária e o anúncio dos direitos humanos compunha o terceiro núcleo como uma meta da evangelização. Por fim, os Bispos consensualmente afirmavam, entre outros, que os meio de Evangelização devem ser a pastoral urbana, os homens da grande cidade, os intelectuais e os jovens60. Essa colegiada reunião e a clareza da opção do Episcopado Brasileiro refletiu-se no interior de Puebla através da boca dos Bispos do Brasil. Tanto é verdade que se pode fazer uma ilação entre o Documento Conclusivo e as opções dos prelados brasileiros, quando da opção pela construção de uma sociedade justa e defensora dos direitos humanos61, entre outros temas.

Ainda na linha das contribuições ofertadas a Conferência de 1979 pelo Episcopado Brasileiro, pode e deve-se elencar a figura do gaúcho Dom Aloísio Lorscheider (1924-2007), Arcebispo de Fortaleza. Como é sabido esse purpurado à época de Puebla era o presidente da CNBB e do CELAM. Foi eleito para esse último ofício na XVI Assembleia do Organismo, celebrada na cidade de San Juan, em Porto Rico, em dezembro de 1976. Antes, contudo, ele ocupou a função de primeiro vice-presidente desde 1972 e em 1975, assumiu interinamente o múnus de presidente da instituição, pois Dom Eduardo Piroñio, que era o titular, havia sido nomeado por Paulo VI Prefeito da Congregação para Vida Religiosa em Roma.

As contribuições de Aloísio Lorscheider foram sentidas antes, durante e depois da Conferência de Puebla. No processo de elaboração do documento de trabalho, após a imensas críticas que sofreu o documento de consulta62 -Documento Verde- coube de maneira mais estrita ao Arcebispo de Fortaleza63 a missão de amalgamando interesses e tensões fundir essas críticas e reescrever em forma de Instrumentum Laboris o texto que secundará as reflexões dos Bispos em Puebla. A rigor a redação do novo texto foi capitaneada pelo Cardeal Aloísio Lorscheider e pautava-se como testemunha em sua própria introdução:

Este documento, sin olvidar el documento de consulta, tiene con fuentes principales los aportes de las conferencias Episcopales, de las reuniones Regionales (…) de los dicasterios de la Santa Sede, de los departamentos y secciones del CELAM, de su equipo de reflexión Teológico-pastoral y otros organismos de la Iglesia e nivel continental que tuvieran la bondad de dar su colaboración en repuesta al documento de consulta64.

À perspicácia do Cardeal Aloísio Lorscheider, no exercício de sua função de coordenador da equipe de redação deve ser creditado à opção de introduzir no corpo do texto de trabalho a expressão, que não havia no texto de consulta e que refletia uma eclesiologia, isto é, a noção de comunhão e participação65. Ela será o mote das opções de Puebla e despontará de maneira inequívoca em seu documento conclusivo. Tal reflexão já era feita na Igreja do Brasil, particularmente no Regional Sul II da CNBB66, e assumida por toda a CNBB em sua preparação para Puebla. Libânio, nesse sentido, destacou que foi «pela influência do Episcopado Brasileiro que a “Boa Notícia do Reino” recebeu o enfoque de comunhão e participação»67. Nesse tocante a figura do presidente da CNBB e do CELAM foi valiosíssima. Esse conceito, deve-se dizer, foi assumido, ao lado de outros, como chave de interpretação para as Conclusões de Puebla68. Nessa linha, um prelado que tomou parte da III Conferência, pontificou sobre a noção de comunhão e participação: «Este é o fio condutor que unifica o documento e abre a Igreja a novos horizontes de serviço e dedicação ao homem latino americano»69.

No interior da Conferência, Dom Aloísio Lorscheider também imprimiu sua marca, sua colaboração. Na condição de presidente, ao lado Cardeal Sebastião Baggio e do Arcebispo Ernesto Ahumada, o Cardeal Lorscheider, na manhã do dia 29 de janeiro, instalou as atividades da Assembleia com uma alocução introdutória. Durante sua exposição, o prelado recordou os dois anos em que a Conferência foi gestada. Em todo esse processo buscava-se aprofundar o que significava no «contexto latino americano evangelizar hoje e amanhã»70. De igual modo, atestou que o Documento de Trabalho, entregue aos participantes, era apenas um «instrumento de ajuda à criatividade» 71 dirimindo o mal-estar gerado com o discurso do Papa, pronunciado no dia anterior, que não tinha muita sintonia com Instrumentum Laboris e para uma parcela dos Bispos presentes era, de certo modo, uma crítica ao trabalho pastoral e teológico latino americano72.

O discurso do Cardeal Arcebispo de Fortaleza foi efusivamente ovacionado. Proporcionalmente as saudações que recebeu foram as críticas que logrou. De um lado, houve quem percebesse nele uma interpretação autorizada do discurso de João Paulo II com um acento latino americano73. De outro, havia aqueles que mitigavam o valor do discurso, dissociando-o das palavras do Pontífice atestando que ele já tinha sido preparado antes do Papa pronunciar-se e o conteúdo desse discurso não indicaria «nenhuma vontade de interpretar as brilhantes palavras do Pastor supremo da Igreja. [Eram] simplesmente dois textos que se completavam e começaram a orientar os trabalhos da Assembleia»74.

Nota-se nessas ações, embora outras possam ainda ser elencadas, a liderança e o protagonismo do presidente do CELAM. Ele foi capaz de amalgamar críticas ao Documento de Consulta e imprimir uma marca distintiva ao instrumento de trabalho conferindo-lhe fóruns universais à opção que já se fazia na Igreja no Brasil. De modo análogo, já no interior da III Conferência, conseguir suavizar tensões que se gestavam antes da Conferência em relação à teologia e a tradição do continente.

Outra notável figura do universo eclesial presente em Puebla e que contribuiu imensamente para o desenvolvimento e construção do Documento Final e da III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano foi o Bispo auxiliar de São Paulo, o jesuíta Dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006) que havia sido nomeado para a diocese paulopolitana três anos antes, 1976.

Já no interior da Conferência no dia 29 de janeiro, após os discursos de João Paulo II e do Cardeal Lorscheider, como processo protocolar foi apresentado o regulamento da Conferência. Uma alteração inicial foi feita no texto criando uma comissão chamada «Empalme» (Articulação) que, de certo modo, dirigiria os trabalhos em Puebla75. Para essa comissão, que tinha a função de coligir os textos e oferecer ferramentas para uma redação aprofundada do Documento Final, os seguintes membros foram eleitos: Juan Flores, Bispo de La Vega, República Dominicana; Luis Barbarén, Bispo prelado de Chimbote, Peru; Marcos McGrath, Arcebispo de Panamá; Dom Justo Oscar Laguna, Bispo auxiliar de Santo Isidro, Argentina e Dom Luciano Mendes de Almeida, Bispo auxiliar de São Paulo76.

Nessa comissão e em outras frentes de trabalho a figura do jesuíta auxiliar da Arquidiocese de São Paulo será relevante em Puebla. Dom Luciano, faz memória de como chegou à essa comissão recordando que os Bispos se encontraram no Rio de Janeiro antes de partirem para o México e refletiram sobre o que fariam em Puebla, tal como havia sido acertado na XVI Assembleia dos Bispos em abril de 197877. Dom Luciano fez as vezes do redator o que lhe alçou, na Conferência, como membro da Comissão Empalme:

[A estada no Rio de Janeiro] permitiu que nós fizéssemos quarenta e oito horas de reunião (...) nós vamos dizer o que nas comissões? Consequência: Buscando pontos em comum chegamos à famosa palavra comunhão, o que foi aceito por todos. (...) Acontece que eu fiquei como uma figurinha do quadro negro e das coordenações. Quando nós chegamos a Puebla e se tratou de encontrar alguém para fazer esse trabalho, eles me indicaram por voto unânime para entrar na Comissão empalme78.

No interim entre a eleição da comissão e os trabalhos efetivos o esquema que havia sido previamente preparado pelo secretariado executivo do celam, fora rejeitado79. Coube as comissões chamadas transitórias apresentarem um temário de reflexão que fincaria as bases do Documento Final. Esses temas foram coligidos pela recém-criada comissão de empalme e apresentados de maneira clara e límpida à plenária pela «figurinha do quadro negro e das coordenações», Dom Luciano Mendes de Almeida. Oscar Beozzo descreve a comissão nestes termos e fala especialmente, da contribuição do Bispo auxiliar de São Paulo:

Uma comissão de cinco membros, eleita pela Assembleia, em vez de ser nomeada, como previa o regulamento, foi encarregada de organizar o material e fazer uma proposta de roteiro de trabalho para a manhã seguinte. D. Luciano foi o escolhido pelo Brasil, ao lado do peruano Bambarén para a região andina, do panamenho Mc Grath para a América Central e México e outros dois pelo Cone-Sul e Antilhas. A Comissão conseguiu organizar e dar articulação e rumo às sugestões, reunindo-as em torno de quatro núcleos e um eixo norteador, «Comunhão e Participação», proposto por Dom Luciano80.

Eram 20 subtemas alocados em cinco núcleo. Submetido ao sufrágio dos Bispos o esquema foi, como atestam os comentadores81, aprovado unanimemente de maneira surpreendente por toda a plenária como esquema-base para a redação do texto. Credita- se esse fato ao estilo persuasivo do Bispo auxiliar de São Paulo. O próprio Dom Luciano, rememorou esse fato tempos depois, nos seguintes termos:

Quando se deu a reunião noturna para fundir os 20 esquemas, foi a resistência física que mandou (...) no final, ficamos três: Bambarén, McGrath e eu. Dom Trujillo e Dom Aloísio foram dormir. (...) às três da manha não tínhamos o esquema ainda. Mas pudemos ver que a contribuiçãozinha do Brasil estava lá: «Comunhão», «Participação». (...) Surgiram depois no esquema o Ver, Julgar e Agir, com o que foram trabalhados os termos «Evangelização» e a sua relação com a Libertação. Afinal, o esquema tinha agora as palavras trazidas por João Paulo II: família, vocações, jovens. (...) Meu Deus, esquecemos os pobres. Aí, às quatro da manhã, põe os pobres antes dos jovens... Nasceu a palavra preferencial como uma correção esquemática. (...) Foi puro Espírito Santo, porque ninguém tinha mais nada para dar. (...) Consequência: aquilo foi aprovado em poucos minutos por toda a Assembleia, para grande escândalo nosso (...)82.

Ao Bispo auxiliar de São Paulo, tal como Dom Aloísio Lorscheider, toca a pecha de ter colaborado com Puebla na mesma medida em que ele se firmou como uma liderança no Episcopado Brasileiro. Esse fato, mais tarde lhe alçou com uma das figuras mais relevante da IV Conferência Geral. Ter conduzido a elaboração do temário e ter sido o catalisador de tendências permitiu a Luciano de Mendes Almeida, de um lado instigar a coalizão de todo Episcopado. De outro, lhe facultou o direito de inserir no bojo daquele que seria o Documento Final aquilo que os Bispos no Brasil haviam debatido em exaustão na Assembleia Extraordinária celebrada em abril de 1979 bem como na reunião dois dias antes de viajarem, isto é, a noção de comunhão. O teólogo João Batista Libânio quando a atual faculdade Jesuíta (FAJE), em maio de 2016 fez uma homenagem ao Arcebispo de Mariana, destacou:

Além da Conferência Nacional do Brasil, Dom Luciano foi ativo em Puebla e Santo Domingo. Aí deixou marca indelével. Em Puebla era o anjo noturno que, na calada da noite, trabalhava para que os textos se aproximassem mais das opções evangélicas quer trazidas no coração e que exprimia o desejo do Episcopado Brasileiro. Mais uma vez: Se as letras do Documento de Puebla tivessem nome, Luciano apareceria em passagens significativas83.

Ainda nesse espírito colaborativo, na derradeira hora, no apagar das luzes de Puebla e já tendo documento conclusivo praticamente finalizado, na votação final desse texto, houve mais uma contribuição dos Bispos do Brasil, desta vez um especial. A aprovação do documento da III Conferência Geral foi sufragada com a somatória de 178 favoráveis e 1 em branco. Dado que já não eram mais permitidos votos modificativos, o documento estava formalmente aprovado. Nesse espírito, convém dizer, como fora revelado a um cronista84 esse voto foi auferido pelo Bispo de Nova Iguaçu, Adriano Hypólito. Tal voto, quiçá foi dado ciente da máxima do escritor Nelson Rodrigues sobre a unanimidade ou para testemunhar que em Puebla o consenso -se conquistado- não foi sem nenhuma tensão e mais ainda que na Igreja a uniformidade nunca é nem será uma realidade nem quista tampouco possível.

Pós-Puebla, o processo de recepção dos documentos teve forte adesão de parcela grande do Episcopado Brasileiro. Num plano micro pode-se evocar a intuição de Dom Ivo Loscheider que levou a cabo a ideia de publicar e distribuir mais de trinta mil exemplares das conclusões de Puebla numa edição quase de catecismo, uma furtiva tentativa de populariza- lo85 Num universo macro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, durante sua XVII Assembleia Geral celebrada de 17 a 28 de Abril de 1979, teve como mote apresentar, à luz do Documento de Puebla, «sugestões práticas em ordem de aplicação do Documento de Puebla, no Brasil»86. Tais orientações orbitam desde questões como publicação e o aprofundamento do texto até a consolidação de uma formação política concreta de cristãos87.

À Guisa de Conclusão

Ao cabo deste texto e divisando os quarenta anos de Puebla, salta aos olhos que a colaboração dos Bispos nessa conferência foi singular. Tal contribuição, em regra, era apenas aquilo o Episcopado Brasileiro experimentou e viveu em sua realidade local. Eles foram guiados por uma fidelidade evangélica, pela tradição conciliar, sob o frescor da recepção criativa e dinâmica de Medellín e dos sinais dos tempos aos quais eram submetidos os Bispos do Brasil responderam à altura os desafios e foram capazes de ajudar a forjar uma das mais belas páginas do Magistério Latino Americano.

Assim, pode-se imputar ao Episcopado Brasileiro -mesmo que os de outros lugares tenham contribuído- a inserção direta da noção de Comunhão e Participação que fecundou todo Documento de Puebla. A liderança nata de figuras proeminente do Episcopado Brasileiro amealhou coeficiente suficiente para que essa proposição tomasse corpo e instalasse como viés principal de interpretação e aplicação de Puebla.

No interior da Conferência a contribuição de personagens do Episcopado Brasileiro além de ajudar no conteúdo das conclusões, também alçou nomes do Brasil nas entranhas de uma história mais ampla da América Latina. A figura de Dom Aloísio Lorscheider, crer-se de modo algum será interpretada e lida, apenas com um Bispo brasileiro. Antes será sempre vista como alguém que com vigor, fidelidade evangélica e senso eclesial foram decisivos para atual conformação da Igreja no Continente Latino Americano.

De igual maneira Dom Luciano Mendes de Almeida, mesmo que pela história saiba- se que ele será muito mais decisivo na IV Conferência Geral, já em Puebla, com sua perspicácia em aprovar unanimemente o temário de Puebla, colaborando para a formulação estrutural do documento, incluso favorecendo à repetida palavra dos Bispos desde a reunião no Rio de Janeiro: Comunhão.

Assim, quatro décadas depois das intuições de Puebla e num cenário eclesial distinto da III Conferência busca-se que a memória desse passado não tão distante serva tanto ao presente como no futuro de instrumento de provocação ao Episcopado e à Igreja no Brasil para recobrar uma postura de liderança positiva e propositiva no meio de um Episcopado Latino Americano que não avança com clareza em vista de sobejar um novo alento na evangelização no continente.

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1 Jacques Le Goff, História e memória (Campinas: Unicamp, 2016), 437.

2Um histórico sobre o cardeal Lorscheider: João Décio Passos, «Homenagem a Dom Aloísio, Cardeal Lorscheider, presidente do Celam (1979)», in Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org. Puebla Igreja na América Latina e no Caribe (Petropólis: Vozes, 2019), 37-40.

3Cf. Ney de Souza, «Puebla, antecedentes e evento», in Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org. Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 71; Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», Perspectiva Teológica, ano 31 (1999): 207. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, (São Paulo: Edições Loyola, 1983), 514.

4Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 514.

5Ney de Souza, «Puebla, antecedentes e evento», 71.

6 Boletim do CELAM 111 (1976): 23.

7Cf. Miguel Angel Keller, «A Conferência de Puebla: Contexto, preparação, realização e recepção», in João Passos y Agenor Bringhenti, Compendio das Conferências dos Bispos da América Latina e Caribe (São Paulo: Paulus/ Paulinas, 2018), 85.

8 João Batista Libânio, «O significado e a contribuição da Conferência de Puebla», Medellín 80 (1994): 88; Manoel Godoy, «Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano», in João Décio Passos y Wagner Lopes Sanchez, Orgs., Dicionário do Concílio Vaticano II (São Paulo: Paulinas/Paulus, 2015), 212.

9Cf. CELAM, III Conferencia General del Episcopado Latinoamericano: la Evangelización en el presente y en el futuro de América Latina. Preparación - Documento de consulta a las Conferencias Episcopales (Puebla: México, 1978).

10Cf. CELAM. III Conferencia General del Episcopado Latinoamericano: la Evangelización en el presente y en el futuro de América Latina. Documento de Trabajo (Puebla: México, 1978).

11Cf. João Batista Libânio, «O significado e a contribuição da Conferência de Puebla», 88.

12 Reuberson Ferreira, «Puebla: uma visão sociocultural da realidade latino-americana, ontem e hoje!», in Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., 188-189. João Batista Libânio, «O significado e a contribuição da Conferência de Puebla», 73.

13Cf. José Fernandes Dias, «Comissão Trilateral: a “nova” fase do capitalismo transnacional e dos direitos humanos», Revista Eclesiástica Brasileira, 149, Vol. 38 (1978): 118-125.

14Cf. Cândido Padin, «A doutrina da Segurança Nacional», Revista Eclesiástica Brasileira 146, Vol. 37 (1977): 331-342; Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 509-510.

15João Batista Libânio, «O significado e a contribuição da Conferência de Puebla», 73.

16Cf. Miguel Angel Keller, «A Conferência de Puebla: Contexto, preparação, realização e recepção», 83.

17Cf. João Batista Libânio, Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano: do Rio de Janeiro a Aparecida (São Paulo: Paulus, 2007), 28.

18 Luciano Mendes Almeida, «Dom Luciano fala sobre Puebla», Vida Pastoral jan.-jul. (1979), consultado em 3 de março, 2019, https://www.vidapastoral.com.br/artigos/entrevistas/dom-luciano-fala-sobre-puebla/.

19Cf. CNBB, Comunicado Mensal, Jan-fev. (1978): 26.

20Cf. CNBB, Comunicado Mensal, 27.

21CELAM, III Conferencia General del Episcopado Latinoamericano: la Evangelización en el presente y en el futuro de América Latina. Preparación - Documento de consulta a las Conferencias Episcopales.

22Cf. Clodovis Boff, «A ilusão de uma nova cristandade: crítica à tese central do documento de consulta para Puebla», Revista Eclesiástica Brasileira 149, Vol. 38 (1978): 5-17; Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 522-574. João Batista Libânio, «A III Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano», Síntese 12, Vol. 5 (1978): 95-102.

23Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 74-76.

24Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 211; Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 570.

25Cf. CELAM. III Conferencia General del Episcopado Latinoamericano: la Evangelización en el presente y en el futuro de América Latina. Documento de Trabajo, 3.

26Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 573.

27Cf. Antônio Carlos Iankosi Portes, O compromisso cristão com a transformação social nos documentos das assembleias Geral de Medellín e Puebla (São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2010), 74.

28Cf. INP; Antoniazzi. «Observações e contribuições para Puebla». Revista Eclesiástica Brasileira, 152, Vol. 38 (1978): 606-624.

29 Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 76.

30 João Paulo II, Discurso do Santo Padre ao iniciar a sua viagem apostólica à América Latina, consultado em 4 de abril, 2018, http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1979/january/documents/hf_jp-ii_spe_19790125_america-latina-partenza.html.

31 Silvia Scatena, «De Medellín a Aparecida, exercício de colegialidade na América Latina», in Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 56-57.

32Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 79.

33Cf. Frei Betto, Diário de Puebla (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979), 96; Boaventura Kloppenburg, «Génesis del documento de Puebla», in CELAM, Puebla: grandes temas (Bogotá: Oficina de prensa y publicaciones del CELAM/Ediciones Paulinas, s/d), 36.

34Cf.Boaventura Kloppenburg, «Génesis del documento de Puebla», 39.

35 CELAM, Conclusões da Conferência de Puebla: evangelização no presente e no futuro da América Latina (São Paulo: Paulinas, 2009), 9.

36Cf. Fernando Altemeyer, «Elenco histórico», in João Passos y Agenor Bringhenti, Compendio das Conferências dos Bispos da América Latina e Caribe, 453.

37Manoel Godoy, «Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano», 213.

38 CELAM, Arquivo do Instituto Teológico Pastoral para América Latina 135, ano XII, jan. (1979): 38-47.

39 Sebastião Baggio, «Convocação da Conferência de Puebla: Carta aos presidentes das conferências Nacionais da américa Latina», in CNBB, Comunicado Mensal, abr. (1978): 15-16.

40Cf. CNBB, «Relação dos nomes sugeridos pelos Regionais da CNBB para 3ª Conferência de Puebla e membros ex-oficio», Comunicado Mensal, Jan. (1978): 371-372, Eis os indiados: Norte I: Dom Moacyr Grechi, Dom Arcângelo Cergua e Dom Milton Pereira; Norte II: Alberto Gaudêncio Ramos, Angelo Frosi e Dom Alano Pena; Nordeste I: Dom José Freire Falcão; Dom Paulo Eduardo Ponte, Dom Edilberto Dinkelvorg e Dom João José da Mota e Albuquerque; Nordeste II: Dom Helder Câmara, Dom José Maria Pires, Dom Marcelo Pinto Cavaleira, Dom Miguel Fenelon; Dom Nivaldo Monte, Dom Antônio Soares Costa, Dom Manuel Pereira da Costa; Nordeste III: Dom Avelar Brandão Vilela, Dom Orlando Otacílio Dotti, Dom Valfredo Tepe e Dom José Florisberto Cornellis; Leste I: Dom Eugênio Araújo Sales; Dom Adriano Hypolit e, Dom José Gonçalves da Costa; Leste II: Dom josé Gonçalves as Costa; Leste III: Dom João Batista Przyklenk, Dom Quirino Adolfo Schimitz, Dom Serafirm Fernades de Araújo, Dom José D’angelo Neto, Dom Luiz Gonzaga Fernandes e Dom Afonso de Miranda; Sul I: Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, Dom Cândido Padim, Dom Bernardo José Miele, Dom Gilberto Pereira Lopes e Dom Davi Picão; Sul II: Dom Pedro Antônio Feldato, Dom Geraldo Fernandes, Dom Jaime Luiz Coelho e Dom Albano Cavalin; Sul III: Dom Vicente Scherer, Dom Ivo Lorscheider, Dom Jaime Herique Chemello e Dom Paulo Moreto; Sul IV: Dom Afonso Niehues e Dom José Gomes; Centro-Oeste: Dom Fernando Gomes dos Santos; Dom José Newton de Almeida Batista, Dom Epaminondas José de Araújo e Dom José Silva Chaves; Extermo-oeste: Dom Bonifácio Piccinini, Dom Máximo Biennes e Dom Teodora Leitz; Membros ex-oficio, com voz e voto: Aloísio Lorscheider; Dom Luciano Cabral Duarte e Dom Romeu Alberti; Convidados a Puebla com voz e sem voto: Dom Avelar Brandão Vilela e Dom Henrique Froelich.

41 Aloísio Lorscheider, Comunicado Mensal, abr. (1978): 262.

42Cf. CNBB, «Eleição dos delegados à III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla», Comunicado Mensal, abr. (1978): 262-293.

43Cf. CNBB, «Eleição dos delegados à III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla», 262-293.

44Neste quadro e nos quadros a seguir a discrição da diocese dos Bispos após o nome deles é relativa à função que exerciam no ano da Conferência, 1979.

45Cf. CNBB, «Eleições e Votações», Comunicado Mensal, abr. (1978): 293.

46Cf. CNBB, «Eleição dos delegados à III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla», 262-293.

47Cf. Fernando Altemeyer, «Elenco histórico», 453-461.

48Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 576-577.

49A carta publicada no periódico Mexicano, Uno mas uno foi integralmente republicada numa edição do Serviço de Documentação. SEDOC. «A carta de D. Trujilo», SEDOC 122, Vol. 11 (1979): 959-960.

50Cf. Israel José Nery, «Teólogos e Pastoralistas: Atores dentro ou fora das Conferências», in João Passos y Agenor Bringhenti, Compendio das Conferências dos Bispos da América Latina e Caribe, 406; Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 214.

51Estas informações são adquiridas cotejando as listas disponíveis nos seguintes livros: Fernando Altemeyer, «Elenco histórico», 453-456; Fernando Altemeyer, Perfil Episcopal da Igreja católica no Brasil (1551-2018) (São Paulo: Paulus, 2018), 110-112; Fernando Altemeyer, «Listagem nominal dos Participantes diretos do concílio Vaticano II», in João Décio Passos y Wagner Lopes Sanchez, Orgs., Dicionário do Concílio Vaticano II (São Paulo: Paulinas/Paulus, 2015), 1029-1093.

52Vivos em janeiro-2019.

53 José Marins y Fernando Altemeyer, «Divisores de águas e pais da Igreja na América Latina e Caribe», in João Passos y Agenor Bringhenti, Compendio das Conferências dos Bispos da América Latina e Caribe, 393.

54Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 551.

55Cf. CNBB, Ata n.2- 19/04/1978, Comunicado Mensal da CNBB 307, (1978): 249-250. 280-285.

56 O texto encontra-se disponível para consulta em formato digital: CNBB, Subsídios para Puebla. Aprovados pela assembleia Geral extraordinária, 18 a 25 de abril de 1978, consultado em 20 de fevereiro, 2019, https://www.CNBBo2.org.br/wp-content/uploads/2016/11/13-Subs%C3%ADdios-Para-Puebla.pdf.

57Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 211.

58Cf. CNBB, Ata n.7- 125/04/1978, comunicado mensal da CNBB 307, (1978): 291.

59 Arquidiocese de São Paulo, «Brasil em Puebla: Reunião do Rio definiu tema do episcopado Brasileiro», O São Paulo 1994, Ano XXIII, 7.

60Arquidiocese de São Paulo, «Brasil em Puebla: Reunião do Rio definiu tema do episcopado Brasileiro», 7.

61Documento de Puebla, 1268; 1270-1273.

62Cf. Clodovis Boff, «A ilusão de uma nova cristandade: crítica à tese central do documento de consulta para Puebla», 5-17; Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 522-574. João Batista Libânio, «A III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano», 95-102.

63Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 211; Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 570.

64cf. CELAM, III Conferencia General del Episcopado Latinoamericano: la Evangelización en el presente y en el futuro de América Latina. Documento de Trabajo, 1.

65Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 211; Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 570.

66Cf. Dadeus Grings, «Dinamismo em Puebla», Teocomunicação 44, Vol. 9 (1979): 202.

67João Batista Libânio, «O significado e a contribuição da Conferência de Puebla», 93.

68 CELAM, Reflexiones sobre Puebla (Bogotá: CELAM/Ediciones Paulinas, s/d), 38 ss.

69 Luciano Mendes Almeida, «Comunhão e participação», O São Paulo 1023, Ano XXIII, 7.

70Aloísio Lorscheider, «Alocução introdutória da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano», in CELAM, Conclusões da Conferência de Puebla: evangelização no presente e no futuro da América Latina, 49. Sobre o tema da evangelização confira: Ney de Souza y Marcel Alves Martins, «Evangelizar: de Puebla a Francisco», in Ney de Souza y Emerson Sbardelotti, Org., Puebla Igreja na América Latina e no Caribe, 249- 261.

71Aloísio Lorscheider, «Alocução introdutória da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano», 50.

72Cf. João Batista Libânio, Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano: do Rio de Janeiro a Aparecida, 28-29.

73Cf. Frei Betto, Diário de Puebla, 63; Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 587.

74CELAM, Reflexiones sobre Puebla, 7.

75Cf. Enrique Dussel, De Medellín a Puebla: uma década de sangue e esperança, 587; CELAM, Reflexiones sobre Puebla, 7; Frei Betto, Diário de Puebla, 72; Boaventura Kloppenburg, «Génesis del documento de Puebla», 30.

76Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 213.

77Cf. CNBB, Ata n. 7-125/04/1978, Comunicado Mensal da CNBB n.307. Abril (1978): 291.

78 Margarida Drumond Assis, Dom Luciano, especial Dom de Deus (Rio de Janeiro: EDUCAM, 2010), 300. (Negrito do original).

79Cf. Joseph Comblin, «Puebla: Vinte anos depois», 213.

80 Maria Helena Arrochellas, Deus é bom: homenagem a Dom Luciano (Rio de Janeiro: EDUCAM, 2006), 155.

81CELAM, Reflexiones sobre Puebla, 9; Frei Betto, Diário de Puebla, 76; Boaventura Kloppenburg, «Génesis del documento de Puebla», 31; Nilo Agostini, As conferências episcopais: América Latina e Caribe (Aparecida: Santuário, 2007), 44.

82Luciano Almeida apud. Margarida Drumond Assis, Dom Luciano, especial Dom de Deus, 301.

83Cláudio Paul, Org., Doctor Amoris Causa: uma homenagem a Dom Luciano Mendes de Almeida apud. Margarida Drumond Assis, Dom Luciano, especial Dom de Deus, 300.

84Frei Betto, Diário de Puebla, 121.

85Luciano Almeida apud. Margarida Drumond Assis, Dom Luciano, especial Dom de Deus, 299.

86 SEDOC, «Sugestões para aplicação ao Brasil das Conclusões da Conferência de Puebla», in SEDOC 122, Vol. 11 junho (1979): 1267-1285.

87SEDOC, «Sugestões para aplicação ao Brasil das Conclusões da Conferência de Puebla»,1267-1285.

*Postdoctorado en Teología PUC Río. Doctorado en Historia Eclesiástica, Gregoriano - Roma. Líder del Grupo de Investigación Religiosa y Política en Brasil Contemporáneo - CNPq. Profesor en PUC SP. Contacto: nsouza@pucsp.

**Estudiante de doctorado y maestro en Teología en PUC-SP. Especialista en Teología, Historia y Cultura Judía en el Centro Cristiano de Estudios Judíos (CCEJ - SP) y en Enseñanza de Educación Superior en la Escuela de Educación de São Luís. Licenciado en Teología (PFTNSA) y Filosofía (IESMA). Miembro del Grupo de Investigación sobre Religión y Política en el Brasil Contemporáneo - CNPq y el Observatorio Eclesial - Brasil. Misionero del Sagrado Corazón. Contacto: reubersonferreira@yahoo.com.br.

Para citar este artículo: De Souza, Ney y Ferreira MSC, Reuberson. «As Contribuições do Episcopado Brasileiro na III Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Puebla (1979)». Franciscanum 173, Vol. 62 (2020): 1-23.

Recebido: 28 de Maio de 2019; Aceito: 01 de Janeiro de 2020

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