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Acta Agronómica

Print version ISSN 0120-2812

Acta Agron. vol.65 no.3 Palmira July/Sep. 2016

https://doi.org/10.15446/acag.v65n3.50240 

http://dx.doi.org/10.15446/acag.v65n3.50240

Levantamento etnobotânico em comunidade tradicional do assentamento Pedra Suada, do município de Cachoeira Grande, Maranhão, Brasil

Ethnobotanical survey in traditional communities of Pedra Suada settlement, Cachoeira Grande municipality, Maranhão State, Brazil

Carlos Augusto Rocha de Moraes Rego *1, Ariadne Enes Rocha 1, Cidvânia Andrade de Oliveira 2 e Fabio Pierre Fontenelle Pacheco 2

1Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Ciudade Universitária Paulo VI — Caixa Postal 09 — São Luís/MA, Brasil. 2 Associação agroecológica Tijupá, São Luís / Maranhão, Brasil. *Autor correspondente: cassielcarlos@hotmail.com

Rec.: 17.04.2015 Acep.: 13.08.2015


Resumo

A etnobotânica, aborda a forma como diferentes grupos humanos interagem com a vegetação. O objetivo deste trabalho foi de realizar um estudo da comunidade tradicional e a relação de uso das espécies vegetais no Assentamento Pedra Suadas, Cachoeira Grande, Maranhão, Brasil. A metodologia empregada foi à aplicação de questionários semiestruturados. As mulheres representaram 58% do público identificado como detentora do conhecimento sobre uso das plantas no assentamento. A principal atividade desempenhada entre os entrevistados foi agricultor (a), com 64% do total da ocupação descrita. Foram registradas 81 espécies, as quais foram identificadas 42 famílias botânicas, sendo uma não foi identificada. Lamiaceae é a família maior representada com 10 espécies (12,35%), seguida de Fabaceae 6 (7,41%), Rubiaceae com 5 (6,18%), Apocynaceae e Anacardiaceae, ambas com 4 (4,94%), Arecaceae, Amaranthaceae, Malvaceae, Euphorbiaceae e Bignoniaceae 3 (3,70%) cada, e outras 32 famílias com 37 espécies (45,68%). Dentre as espécies relatadas 55,6% tiveram o uso descrito como exclusivamente medicinal e 43,2% de uso múltiplo. Entre as doenças apontadas pelos entrevistados as do aparelho digestivo são as mais citadas com tratamento com uso de plantas, associadas ao saber local, representando 18,6%. A forma de manipulação das medicinais mais utilizadas entre os entrevistados foi na forma de chá (56,9%). O registro dos conhecimentos locais quanto aos usos das plantas nativas da região permitirá o resgate e difusão desse conhecimento.

Palavra–chave: Conservação, extrativismo, plantas medicinais, saber local.


Abstract

The ethnobotany looks at how different human groups interact with the vegetation. The aim of the job was to conduct a study of traditional community and the relationship of use of plant species in Settlement Pedra Suada, Cachoeira Grande, Maranhão, Brazil. The methodology used was the application of semi–structured questionnaires. Women accounted for 58% of the public identified as having knowledge about use of plants in the settlement. The main activity carried out among respondents was farmer (a), with 64% of the total described occupation. 81 species were recorded, which were identified 42 plant families and one has not been identified. Lamiaceae family is the most represented species, 10 (12,35%), followed by Fabaceae 6 (7,41%), Rubiaceae 5 (6, 18 %), Apocynaceae, Anacardiaceae 4 (4,94%), Arecaceae, Amaranthaceae, Malvaceae, Euphorbiaceae and Bignoniaceae 3 (3,7%), and another 32 families with 37 species (45,68%). Among the species reported 55,6% had the use described as exclusively medical and 43,2% for multiple use. Among the diseases mentioned by the respondents of the digestive tract are the most cited with treatment using plants, associated with local knowledge, representing 18,6%. The form of manipulation of medicinal most used among respondents was in the form of tea (56,9%). The record local knowledge about the uses of native plants in the region will allow the rescue and dissemination of that knowledge.

Keywords: Conservation, extraction, medicinal plants, local knowledge.


Introdução

O uso das espécies vegetais com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas se perpetuaram na história da civilização humana e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial como eficaz fonte terapêutica (Madaleno, 2010).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população mundial fazem uso de medicamentos derivados de plantas medicinais. No Brasil pesquisas demonstram que mais de 90% da população já fez uso de alguma planta medicinal (ABIFISA, 2014).

A etnobotânica aborda a forma como diferentes grupos humanos interagem com a vegetação. Deste modo, interessam–nos tanto as questões relativas ao uso e manejo dos recursos vegetais, quanto sua percepção e classificação pelas populações locais.

No estado do Maranhão, Nordeste do Brasil, estudos etnobotânicos são quase que exclusivos a conhecimentos associados às etnias indígenas ou quilombolas, além de, serem feitos poucos estudos desse gênero, sem abordagens desse estudo em comunidades tradicionais agrícolas. Dentre os estudos realizados em território maranhense, destacam–se Balée (1989), e Berg (1991); em abordagens gerais, Montelos & Pinheiro (2007), em estudos localizados em uma área de quilombo e Madaleno (2011), em estudo dentro da área de São Luís, capital do Maranhão.

O trabalho proposto tem grande relevância, já que este está investigando aspectos etnobotânicos na área de transição entre os biomas amazônicos e cerrados, com enfoque principal na conservação da natureza e na procura por conhecimentos populares no uso das espécies vegetais. A biodiversidade da flora brasileira faz com que ela se torne de interesse para pesquisadores e empresas, sejam brasileiras e de outros países. Portanto, o objetivo deste trabalho de pesquisa foi de realizar um estudo da comunidade tradicional e a relação de uso das espécies vegetais no Assentamento Pedra Suadas, Cachoeira Grande, Maranhão, Brasil.

Material e métodos

Descrição da área de estudo

O Projeto de Assentamento Pedra Suada foi criado em 27 de novembro de 2009, com áreas de 21.774,5876 ha, localiza–se entre os limites territoriais do município de Cachoeira Grande, Maranhão, Brasil (Figura 1). Composto por 29 povoados, onde reside no total de 504 famílias, em uma área com capacidade para 507 famílias, com área média de 42,88 ha.família-1 (Brasil, 2010).

De acordo com a descrição do uso da terra realizado no período de 2005 a 2006, da área total do assentamento, 17.228,1437 hectares (ha) correspondem à mata e capoeiras, 2.174,4588 ha de preservação permanente, 1.108,4532 ha de extração vegetal, 258,4395 ha com culturas temporárias, 326,9104 hectares de culturas permanentes e 648,1820 hectares com áreas inapropriadas (estradas, povoados, infraestrutura) (Brasil, 2010).

Com isso esta área tem um enorme potencial de uso da vegetação pelas comunidades tradicionais com tempo de morada em torno de 70 a 80 anos com histórico de uso do babaçu (Attalea speciosa Mart. ex. Spreng), jaborandi (Pilocarpus jaborandi Holmes.), juçara (Euterpe oleracea Mart.), buriti (Mauritia flexuosa L.), pequi (Caryocar brasiliensis Cambess.), mirim (Humiria balsamifera (Aubl.) A.St.–Hil.) e andiroba (Carapa guianensis Aubl.), embora a fonte principal de renda seja a agricultura de subsistência, com pluricultivo de milho, arroz, feijão, mandioca e verduras (INCRA, 2006).

Faz parte da Formação Geológica Itapecuru, constituída por arenito fino, geralmente com estratificação horizontal e ocasionalmente cruzada, com abundante silificação na parte superior (INCRA, 2006).

O clima da microrregião é tropical megatérmico, muito quente, com temperatura média de 27°C, com regime pluviométrico com duas estações bem definidas, chuvosa de janeiro a julho e de estiagem de agosto a dezembro. A precipitação varia de 1100 a 1800 mm anuais, mas cerca de 80% se concentra entre janeiro a maio. Essa distribuição irregular condiciona a ocorrência de deficiência hídrica nos meses de julho, agosto e setembro. A umidade relativa é de 75% (INCRA, 2006).

Na microrregião a cobertura vegetal caracteriza–se pela predominância de mata de restinga, floresta perenifólia com babaçu, capoeira, campos naturais e mangue no litoral (INCRA, 2006).

Procedimento metodológico

Para este trabalho foram aplicados questionários semiestruturados, com base no modelo proposto por Monteles e Pinheiro (2007), com adaptações. O grupo escolhido para as entrevistas foram selecionado por meio de amostra não probabilística de seleção racional (Almeida & Albuquerque, 2002; Albuquerque & Lucena, 2004), na qual um grupo específico é selecionado. Dentro do grupo a ser pesquisado uma ampliação da amostra foi feita utilizando–se o método "bola de neve", em que um informante indica uma ou mais pessoas que ele acredita ser dotada de experiência no assunto abordado (Albuquerque & Lucena, 2004).

Na estrutura do questionário foram abordados temas como: distribuição por gênero e faixa etária, ocupação, mão–de–obra nas lavouras, problemas e limitações para o trabalho, atividades agrícolas, sazonalidade da produção agrícola e extrativista e listagem das espécies botânicas de uso (Rocha, 2005).

As espécies foram separadas por hábito: árvore (ARV), arbusto (ARB), erva (ERVA) palmeira (PALM), liana (LIA); categoria de uso: madeira de alto valor comercial (MVC), madeira para construção rural de baixo valor comercial (MCR), madeira para lenha (ML), alimentação humana (H), alimentação animal (A), alimentação da fauna silvestre (F), medicinal (M), condimento (C), artesanato (AR), ornamental (O); partes usadas: casca (CAS), flor (FLO), fruto (FRU), látex (LAT), planta inteira (PLT), raiz (RAI), semente (SEM), seiva (S), palmito (PAL), cipó (C), tronco (TR); modo de preparo: banho (BAN), chá de infusão (CHA), garrafada (GAR), in natura (NAT), lambedor (LAM), sumo (SUM); extração de exsudato (EE) e uso medicinal: afecções orgânicas e estado de saúde: d.a.d = doenças associadas ao aparelho digestivo; d.a.c = doenças associadas ao aparelho circulatório; d.a.g = doenças associadas ao aparelho genitourinário; d.a.r = doenças associadas ao aparelho respiratório; d.s.teg = doenças do sistema tegumentar; d.a.a = doenças do aparelho auditivo; d.al=doenças da alma; d.i.p = doenças infecciosas e parasitárias; d.s.o = doenças do sistema osteomuscular; d.s.n = doenças do sistema nervoso; d.s = doenças associadas ao sangue e órgãos hematopoiéticos; grav. = gravidez; d.a.i = doenças associadas ao aparelho intestinal; INFL = inflamação; INCH = inchaço.

A identificação das espécies em campo foi realizada com auxílio de um mateiro, que contribuiu com a indicação do nome popular; em seguida, ocorria a coleta de material reprodutivo, para posterior determinação do nome científico. A herborização, montagem de exsicatas e identificação do material botânico foi realizadas no Herbário Rosa Mochel do Núcleo da Universidade Estadual do Maranhão em São Luís – MA, de acordo com as técnicas usuais. O sistema de classificação adotado para as famílias e espécies será o Grupo Filogenético das Angiospermas III (Angiosperm Phylogeny Group–APG III) (APG III, 2009). As informações obtidas foram tabuladas através do software Microsoft Office Excel 2010.

Resultados e discussão

Caracterização do grupo familiar

O público do estudo foi 19 famílias, abrangendo um total de 85 pessoas, sendo 42% do sexo masculino e 58% do sexo feminino, esta predominância das mulheres também foi encontrada no trabalho de Ferreira (2014), em um levantamento etnobotânico na região de Minas Gerias, assim como, a maior presença deste público se tem pelo fato das mesmas permanecerem em casa desenvolvendo as atividades domésticas, bem como nas lavouras e cultivos de plantas medicinais.

Entre os entrevistados a atividade com maior número de integrantes foi descrita como agricultor, seguido de estudantes, conforme demonstrado na Figura 2. Um dos possíveis fatores deste maior numera de agricultores é devido à grande distância do assentamento dos centros empregadoras sendo essas a única alternativa para a obtenção de renda e alimentação das famílias. O nível de escolaridade do público amostrado pode ser um determinante para a reduzida lista de atividades desenvolvidas. A escolaridade registrada entre os entrevistados 62% tem apenas o ensino fundamental, 18% ensino médio e 20% não sabiam até onde frequentaram ou não informaram.

Segundo os entrevistados 89% descrevem a mão–de–obra familiar sendo uma limitação para ampliação das áreas de trabalho, enquanto 11% relataram que a mão–de–obra familiar é suficiente para o desenvolvimento das atividades.

As famílias que descreveram limitação do número da mão–de–obra familiar para ampliação das áreas de trabalho, 68% utilizavam uso esporádico da estratégia de troca de diaristas com os amigos para auxiliar na implantação de roçados, enquanto 21% relatam utilizar trabalhadores pagos na forma de diárias.

Os produtos de áreas de roçados, no sistema de roça itinerante ou roça–no–toco (corte e queima), mais cultivados são mandioca, milho, arroz, abobora, feijão, maxixe, quiabo, melancia, melão e inhame que são plantadas no início do período chuvoso (mês de janeiro) e com colheita durante os meses de março e abril, exceto a mandioca que só terá colheita após um ano e seis meses da data de plantio.

Já os produtos do extrativismo local, como o bacuri, buriti, caju, juçara, mangaba, mirim, murici, piqui e tucum são ofertados exatamente durante os meses de início dos cultivos das agroalimentares (janeiro e fevereiro), e no período de estiagem onde a atividade agrícola restringisse a colheita da mandioca e preparo da farinha (setembro a dezembro), compondo assim uma importante fonte de alimento e renda nesses meses.

O consorcio entre o consumo dos produtos produzidos dentro do roçado e os coletados por extrativismos, compõem a forma de sobrevivência dos entrevistados.

Composição florística e uso pela comunidade

Foram registradas 81 espécies, as quais foram identificadas 42 famílias botânicas, sendo uma não foi identificada. Lamiaceae é a família maior representada com 10 espécies (12,35%), seguida de Fabaceae 6 (7,41%), Rubiaceae com 5 (6,18%), Apocynaceae e Anacardiaceae, ambas com 4 (4,94%), Arecaceae, Amaranthaceae, Malvaceae, Euphorbiaceae e Bignoniaceae 3 (3,70%) cada, e outras 32 famílias com 37 espécies (45,68%). Quanto ao hábito de crescimento das plantas as ervas compõem as espécies mais bem representadas com 33 espécies (40,7%), seguidas de 32 espécies arbóreas (39,5%), 10 arbustivas (12,3%), quatro palmeiras (4,9%) e duas lianas (2,6%). Por ser uma região predominância de mata secundaria a expressividade e representatividade das famílias encontradas, assim como seus habito de crescimento é característico em quase todo o território do Lençóis/Munim com apontado pelo trabalho de Rocha (2005).

Os dados referentes aos recursos vegetais encontrados e utilizados no Assentamento Pedra Suada estão sistematizados na Tabela 1. Durante a coleta de informações etnobotânicas foi adotada a etnotaxonomia local, obedecendo–se a pronúncia utilizada pelos informantes para designar cada espécie vegetal citada. Após esta etapa, no momento da tabulação dos dados foram feitas as alterações para aproximar aos termos já reconhecidos na literatura.

Dentre as espécies relatadas pelos informantes com uso exclusivamente medicinal 45 espécies (55,6%), múltiplo uso 35 espécies (43,2%) e uso exclusivo de madeira com alto valor comercial foram encontradas apenas uma espécie (1,2%).

A espécie descrita exclusivamente como madeira de alto valor comercial, utilizada principalmente como parte da estrutura das construções de residências, casa de forno de farinha, construção de instrumentos como prensas para a casa de farinha, confecção de portas, janelas e telhados, reconhecida localmente por "Cascudinha" (Cordia trichotoma (Vellozo) Arrabida ex. Steudel). Existem no assentamento outras plantas que fornecem madeira de alto valor comercial. Entretanto estas não servem exclusivamente para fornecimento de madeira; são utilizadas também como medicamento, segundo as famílias, suas cascas ajudam a combater diversas doenças. O exemplo das espécies citadas tem–se barriguda (Ceiba speciosa (A.St.–Hil.) Ravenna.), Guanandi (Symphonia globulifera L.), Maçaranduba (Manilkara huberi (Ducke) A. Chev.), Pau D'arco Roxo (Tabebuia acrophylla (Urb.) Britton.), Pau D'arco Casca de Burro (Tabebuia angustata Britton.), Pau Pombo (Tapirira guianensis Aubl.), Janaúba (Himatanthus sucuuba (Spruce) Wood.), Jatobá da Mata (Hymenaea courbaril L.) e a exótica Eucalipto (Eucalyptus acaciiformis H.Deane & Maiden.). Sousa et al. (2012), relatam a predominância da utilização da madeira para construções (rurais e domésticas) por populações tradicionais, tais produtos são sem dúvida, essenciais na manutenção cultural do saber adquirido com pais e avós.

As espécies de Múltiplos Usos podem ser elementos importantes para a composição de sistemas agroflorestais na região. Entre essas, Aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), Piqui (Caryocar brasiliensis Cambess.), Pitombeira (Talisia esculenta (St. Hill) Radik.), Tucum (Astrocaryum vulgare Mart.), Abóbora (Cucurbita moschata Duch.), Sete Sangria (Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.F. Macbr.), Urucum (Bixa orellana L.), Milho (Zea mays Starch), Gengibre (Zingiber officinale Roscoe), Cipó Cururu (Anisolobus cururu (Mart.) Müll.), Carambola (Averrhoa carambola L.), Café (Coffea arabica L.), Cajui (Anacardium sp.), Buritirama (Mauritia sp.), Bacuri (Platonia insignis Mart.), Alfavaca (Ocimum basilicum L.) e Acerola (Malphigia glabra L.). Albuquerque et al. (2006) propôs a hipótese da sazonalidade climática, onde explica o fato das espécies apresentarem múltiplos usos, isto devido a redução dos recursos disponíveis em períodos de estiagem.

Foram encontrados para uso exclusivamente medicinal das espécies encontradas, dessas estão Abranda–Fogo (Clidemia hirta Baill.), Açoita Cavalo (Luehea divaricata Mart.), Amapá (Parahancornia amapa (Huber) Ducke), Amesca (Protium heptaphyllum March.), Anador (Justicia pectoralis Jacq.), Boldo (Plectranthus barbatus Andr.) e Cidreira (Melissa officinalis L.) entres outras que estão apresentadas na Tabela 1. A categoria de uso medicinal também foi mais representativa nos estudos realizados por Cunha & Bortolotto (2011), Andrade et al, (2013) e Ferreira et al, (2014).

Dentre as principais doenças controladas pelo uso das espécies vegetais indicadas pelos entrevistados estão às associadas ao aparelho digestivo (18,6%), os demais usos estão demonstrados na figura 3. Resultados similares foram encontrados por Oliveira et al. (2010) em seu estudo de plantas medicinais utilizadas em comunidades rurais de Oeiras, no semiárido piauiense, Cunha & Bortolotto (2011), em um levantamento etnobotânica de plantas medicinais no assentamento Monjolinho, no município de Anastácio no Mato Grosso do Sul, Andrade et al. (2013), em um levantamento etnobotânico de plantas medicinais agora no município de Poço de José de Moura em Pernambuco e Ferreira et al, (2014) em um Levantamento etnobotânico de plantas medicinais na comunidade quilombola Carreiros, no município de Mercês em Minas Gerais.

Em relação às partes utilizadas das plantas para os fins medicinais constatou–se que a parte da planta mais utilizada são as folhas (34,5%), o mesmo resultado foi encontrado por Silva et al. (2010), Cunha & Bortolotto (2011), Freitas et al. (2011), seguida das cascas (25,3%), raízes (16,1%), frutos (10,3%), sementes (9,2%) e Látex (4,6%).

Em relação ao modo de preparo destacam–se os chás (56,9%), consumo in natura (11,8%), garrafadas (9,8%), sumos (7,8%), extração de exsudados (4,9%), pó (3,9%), lambedor (2,9%) e banho (2,0%). As mesmas formas de preparo também foram encontradas nos trabalhos de Oliveira et al. (2010) e Andrade et al. (2013), também foram encontrados uma expressividade de 32,2% e 57,5%, respectivamente, na forma de preparo a partir dos chás para o consumo dos preparados.

Em relação à forma que adquiriram esses conhecimentos os entrevistados relatam que foram herdadas a partir da convivência desde pequenos com os ensinamentos dos antepassados e pela própria vivência. Amorozo (2007) afirma que este é um tipo de aprendizado que começa cedo, quando as crianças acompanham os adultos e tomam parte na tarefa cotidiana e uma vez aprendida, dificilmente se esquece ou deixa de exercer.

Conclusões

  • A riqueza do saber local entre os povoados que fazem parte do PA Pedra Suada deve ser registrado e distribuído tanto dentro do assentamento quanto para outras comunidades. A compreensão das relações entre o ser humano e natureza permitirão um planejamento de estratégias de trabalho com foco na produção e conservação dos recursos naturais para gerações futuras.
  • As mulheres representaram 58% do público identificado como detentora do conhecimento sobre uso das plantas no assentamento. A principal atividade desempenhada entre os entrevistados foi agricultor (a), com 64% do total da ocupação descrita. Foram registradas 81 espécies, as quais foram identificadas 42 famílias botânicas, sendo uma não foi identificada. Lamiaceae é a família maior representada com 10 espécies (12,35%), seguida de Fabaceae 6 (7,41%), Rubiaceae com 5 (6,18%), Apocynaceae e Anacardiaceae, ambas com 4 (4,94%), Arecaceae, Amaranthaceae, Malvaceae, Euphorbiaceae e Bignoniaceae 3 (3,70%) cada, e outras 32 famílias com 37 espécies (45,68%). Entre as doenças apontadas pelos entrevistados as do aparelho digestivo são as mais citadas com tratamento com uso de plantas, associadas ao saber local, representando 18,6%. A forma de manipulação das medicinais mais utilizadas entre os entrevistados foi na forma de chá (56,9%).
  • O registro destas informações tem importância na conservação do conhecimento local adquiridos com a própria vivencia pelos moradores e/ou herdados de seus parentes. São necessárias medidas para que esta informação não fique apenas guardada em meios acadêmicos e sim distribuída de forma fácil às comunidades para divulgação destes conhecimentos.

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