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Forma y Función

Print version ISSN 0120-338X

Forma funcion, Santaf, de Bogot, D.C. vol.32 no.2 Bogotá July/Dec. 2019

https://doi.org/10.15446/fyf.v32n2.80814 

Artículos

A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA ARUÁK NO ALTO RIO NEGRO EM GRAVAÇÕES DA DÉCADA DE 1950*

LA DIVERSIDAD LINGÜÍSTICA ARAWAK EN EL ALTO RÍO NEGRO EN GRABACIONES DE LA DÉCADA DE1950

ARAWAK LINGUISTIC DIVERSITY IN THE UPPER RIO NEGRO, ON THE BASIS OF RECORDINGS FROM THE1950S

Thiago Costa Chacon **  

Artur Garcia Gonçalves ***  

Lucas Ferreira da Silva ****  

**Doutor em Linguística pela University of Hawaii, professor na Universidade de Brasília, Brasil e pesquisador associado do Max Planck Institute for the Sciences of Human History. thiago_chacon@hotmail.com

***Mestre pela Universidade de Brasília, Brasil e doutorando pela mesma instituição. baniwaartur@gmail.com

****Formado em Letras pela Universidade de Brasília, Brasil e professor na Secretaria de Educação do Distrito Federal. lucasletras1920@gmail.com


Resumo

Este trabalho analisa comparativamente línguas e variedades Aruák do Alto Rio Negro documentadas na década de 1950 pelo padre salesiano Alcionílio Brüzzi Alves da Silva. A partir de uma análise inicial para reinterpretar e atualizar os metadados e as transcrições de Brüzzi, analisamos cerca de 220 conceitos e determinamos as palavras cognatas entre as diferentes línguas e variedades. Consideramos a presença ou a ausência de determinado conjunto de cognatos como variáveis lexicais e a realização alofônica de certos fonemas como variável fonética. A análise resultou em um quadro geral da diversidade linguística Aruák nos rios Içana e Uaupés na década de 1950, o que nos permitiu explorar relações genéticas e dialetológicas entre as línguas e as variedades documentadas naquela época, bem como expandir nossas análises em diálogo com pesquisas comparativas e dialetológicas recentes.

Palavras-chave: Baniwa-Koripako; Família Aruák; Alto Rio Negro; dialetologia; linguística histórica; Werekena; Tariana

Resumen

Este trabajo analiza de forma comparativa lenguas y variedades arawak del Alto Río Negro (Brasil), documentadas en la década de 1950 por el sacerdote salesiano Alcionílio Brüzzi Alves da Silva. A partir de un análisis inicial para reinterpretar y actualizar los metadatos y las transcripciones de Brüzzi, exploramos cerca de 220 conceptos y determinamos las palabras cognadas entre las diferentes lenguas y variedades. Tuvimos en cuenta la presencia o ausencia de determinado conjunto de cognados como variables lexicales y la realización alofónica de ciertos fonemas como variable fonética. El análisis resultó en un cuadro general de la diversidad lingüística arawak en los ríos Isana y Vaupés en la década de 1950, lo que nos permitió indagar en las relaciones genéticas y dialectológicas entre las lenguas y las variedades documentadas en aquel entonces, así como expandir el análisis en diálogo con investigaciones comparativas y dialectológicas recientes.

Palabras clave: Baniwa-Kurripako; familia arawak; Alto Río Negro; dialectología; lingüística histórica; Werekena; Tariana

Abstract

The article carries out a comparative analysis of Arawak languages and varieties from the Upper Rio Negro (Brazil), documented in the 1950s by Salesian priest Alcionílio Brüzzi Alves da Silva. On the basis of an initial analysis aimed at reinterpreting and updating Brüzzi's metadata and transcriptions, we explored nearly 220 concepts and established the cognate words in the different languages and varieties. We took into account the presence or absence of a determined group of cognates as lexical variables, and the allophonic realization of certain phonemes, as a phonetic variable. The analysis resulted in a general picture of Arawak linguistic diversity in the region of the Isana and Vaupes rivers during the 1950s, which allowed us to inquire into genetic and dialectological relations among the languages and varieties, as well as to expand the analysis in dialogue with recent comparative and dialectological research.

Keywords: Baniwa-Kurripako; Arawak family; Upper Rio Negro; dialectology; historical linguistics; Werekena; Tariana

1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho, vamos analisar e disponibilizar pela primeira vez ao público dados revisados e analisados que foram coletados pelo padre salesiano Alcionílio Brüzzi Alves da Silva, que na década de 1950 realizou gravações de cerca de 25 línguas do Alto Rio Negro (Silva, 1961, doravante Brüzzi)1. Brüzzi documentou 11 variedades de línguas Aruák, entre as quais oito pertencem à língua Baniwa-Koripako, duas à língua Tariana e uma à língua Werekena (ou Baniva-de-Maroa). A partir da análise desses dados, que nos revelam o quadro de diversidade linguística das línguas da família Aruák nos rios Içana e Uaupés na metade do século passado, vamos fazer uma comparação com estudos dialetológicos mais recentes, como Ovalle (1998), Ramirez (2001b), Granadillo (2006) e Gonçalves (2018), explorando aspectos dialetológicos e filogenéticos a partir de uma perspectiva espacial e sócio-histórica.

Este trabalho está organizado da seguinte maneira. Na seção 2, fazemos um breve resumo dos povos e da situação sociolinguística Aruák documentados por Brüzzi. Na seção 3, apresentamos aspectos sobre a metodologia utilizada. Na seção 4, apresentamos a análise qualitativa e quantitativa dos dados, além de lançar luz sobre algumas questões obscuras acerca dos dados e metadados em Brüzzi, e oferecemos uma análise sobre as relações genéticas e dialetológicas de cada variedade. Finalmente, na seção 5, fazemos algumas considerações finais à guisa de conclusão.

2. LÍNGUAS E VARIEDADES ARUÁK DE BRÜZZI E SEU CONTEXTO

O padre salesiano Alcionílio Brüzzi Alves da Silva2 recolheu dados de diversas línguas da região do Alto Rio Negro e os reuniu na sua obra bilingue (português-inglês) com o título de Discoteca etnolinguística-musical das tribos dos rios Uaupés, Içana e Caua-buris (Silva, 1961), um livro com transcrições e metadados de gravações distribuídas em 12 discos long-play (LP). O valor patrimonial e científico desses registros é altíssimo, dada a qualidade relativamente boa das gravações e o registro de variedades linguísticas e musicais antigas ou já extintas. Neste trabalho, atemo-nos às informações sobre línguas da família Aruák. Essas informações encontram-se em nove gravações em que constam duas variedades da língua Tariana, uma língua que ele identifica como Werekena e sete variedades do complexo Baniwa-Kuripako. Para a maioria das línguas, temos um vocabulário de cerca de 190 palavras, baseado na lista de Swadesh de 200 itens. Apenas para a variedade Kumadene (disco 8, áudio 4), temos uma lista diferente. Os informantes foram classificados conforme o seu clã, mas as informações são algumas vezes vagas e confusas sobre o local de origem, de moradia ou onde as gravações foram realizadas. Alguns informantes não falavam a língua portuguesa, o que tornou necessária a intermediação de falantes de Nheengatu e de Tukano em algumas gravações. A maioria dos informantes é do sexo masculino, com idades que variam entre 17 e 80 anos. As coletas de dados ocorreram em momentos distintos: meados de 1953, maio de 1955, junho de 1956 e abril de 1957.

Na Tabela 1, indicamos em itálico o nome da variedade conforme anotada por Brüzzi e, logo acima, o nome da variedade conforme usamos neste estudo. Essas informações estão acompanhadas do número de disco e gravação no acervo de Brüzzi. Em seguida, atualizamos os metadados sobre clãs, fratrias, localização geográfica e a língua ou dialeto de referência com base em referenciais teóricos contemporâneos (cf. Ramirez, 2001a, 2001b; Gonçalves, 2018). Um mapa ao final desta seção complementa as informações fornecidas na Tabela 1.

Tabela 1 Lista de línguas e variedades em Silva (1961)  

As línguas Tariana, Werekena e Baniwa-Koripako pertencem ao ramo "Japurá-Colômbia" da família Aruák e formam um subgrupo relativamente coeso, segundo Ramirez (2001b). O Werekena é hoje falado no rio Xié (afluente do rio Negro) e na Venezuela, onde é conhecido como Baniva-de-Maroa. Não é a mesma língua que o Warekena (ou Warekena Velha) ou Guarequena, também falada na Venezuela. A língua Tariana era falada no rio Aiari, principal afluente do Içana, mas houve uma migração para o Uaupés por volta do século XV (Neves, 1998). Hoje existem alguns falantes em regiões como o Cubate (afluente do baixo Içana) e Yawiari (afluente do Uaupés) onde ainda há vínculos entre os moradores da bacia do Içana e os Tariana (Ramirez, 2001a, p. 24; Aikhenvald, 2014), porém a maior parte dos Tariana está mais proximamente relacionada com os grupos Tukano do Uaupés (ver seção 3.2 para maiores detalhes).

No Brasil, a língua Baniwa-Koripako é conhecida como Baniwa, Baniwa do Içana ou mesmo Baniwa-Koripako. Esse conjunto de termos remonta a uma divisão criada pelo uso do termo Baniwa (Maniva, Maniba etc.) para se referir aos grupos falantes de línguas Aruák no baixo Içana, enquanto Koripako se tornou um termo, no Brasil, referente aos falantes dessa língua numa região que compreende genericamente o Alto Içana e o rio Guainia3. Na Colômbia e na Venezuela, convencionou-se chamar a língua de Koripako (Curripaco), então o termo Baniva (ou Baniwa) passou a ser usado para o Baniva-de-Maroa, outra língua Aruák, distinta do Baniwa-Koripako, mas também falada no rio Guainia, e bastante próxima à língua Yavitero. A opinião que temos, hoje em dia, é que o Baniwa-Koripako se trata de uma mesma língua, de um mesmo povo, ainda que com diferenças internas importantes.

Segundo a pesquisa de Gonçalves (2018), desde o rio Guainia, passando por todo o Içana e seus afluentes, os Baniwa-Koripako estão organizados em famílias, clãs e fratrías patrilineares. São três fratrias no sistema Baniwa-Koripako (Hohoodene, Waliperi e Dzawinai), cada uma com um conjunto de clãs organizados hierarquicamente e que, tradicionalmente, ocupa um território específico. Pessoas pertencentes a uma mesma fratria se consideram irmãs e podem se casar apenas com pessoas de outras fratrias. No modelo ideal, o padrão de residência após o casamento é patrilocal. Os Baniwa-Koripako chamam-se de "doowheminai" ('parentes'), termo reservado unicamente para o tratamento direto entre eles e que não se estende a outros povos vizinhos. Formam, assim, um sistema próprio, em conexão com outros no Noroeste Amazônico, e compartilham história, memória, mitologia, território e alianças rituais e alianças de casamentos (ISA-FOIRN, 2000).

O exônimo «Baniwa» não é um termo proveniente de uma língua Aruák (tendo, provavelmente, origem na Língua Geral, cf. «maniva»). Inicialmente fora usado para se referir aos habitantes do baixo Içana, mas depois se expandiu pelo médio Içana e Aiari4. Koripako quer dizer 'os que falam Kori', onde Kori é a palavra para 'não' neste "dialeto". Em outros dialetos, inclusive em alguns falados no Alto Içana e Guainia, existem outras palavras para 'não'. Por exemplo, Gonçalves (2018) documenta que os falantes do Alto Içana preferem ser reconhecidos como «Ñame-pako» e não «Kori-pako», pois falam «ñame» para 'não'.

Como se vê, existe uma dimensão dialetológica "êmica", como chamou Granadillo (2006), reproduzida pelos próprios Baniwa-Koripako. Isso foi notado e serviu de base para as propostas dialetológicas desenvolvidas inicialmente na Venezuela e na Colômbia, as quais abordam a variação da língua Baniwa-Koripako desde um ponto de vista "perceptual" (Preston, 1999), isto é, a partir de uma lógica classificatória de variantes dos próprios falantes e a partir de shibboleths, ou seja, variantes estereotipadas da fala de certos grupos e regiões (ver Ovalle, 1998; Granadillo, 2006; Gonçalves, 2018).

Segundo essa proposta, os dialetos poderiam ser classificados com base nas palavras que usam para «não», «sim» e «gente», entre outras mais. No entanto, esses tipos de dados são analisados, em geral, em pouca quantidade; além disso, sua natureza os torna tipos especiais de variantes linguísticas (sobre as quais, certamente, o falante é mais consciente) e, portanto, possuem um processo de evolução que deve ser estudado em si mesmo. O uso combinado de mais dados e outros tipos de variantes é necessário para abordar com maior amplitude e resolução os processos diacrônicos por trás da formação do padrão atual de diversidade linguística.

No Brasil, Nimuendajú (1950) divide os falares do rio Içana em três grandes dialetos, que ocupam faixas contínuas do território desse rio e compreendem um certo conjunto de clãs. Ramirez (2001a, 2001b) complementa a dialetologia de Nimuendajú com a apresentação de algumas variantes fonéticas e lexicais que identificam cada dialeto. Com base nessa proposta, temos três macrodialetos Baniwa-Koripako, apresentados na Tabela 2 conforme Ramirez (2001a) e acréscimos recentes de Gonçalves (2018).

Tabela 2 Dialeto Baniwa-Koripako segundo hipótese Nimuendajú-Ramirez 

Segundo Ramirez (2001a), o dialeto meridional está virtualmente extinto no Içana, e seus falantes adotaram outros dialetos e/ou o Nheengatu e o Português. Apenas na comunidade de Victorino e Pavoni, para onde migraram falantes do baixo Içana (onde Granadillo [2006] documentou a variedade Ehe em seu estudo dialetológico), encontramos o dialeto meridional ainda vivo (Ramirez, 2001a), porém já com alguma influência dos dialetos locais. Como iremos demonstrar, a fala do clã Kowaidakenai (Yuruparitapuya), documentada por Silva (1961) ainda no baixo Içana, é outro exemplar do dialeto meridional, o que comprova a hipótese de Ramirez.

O dialeto central na proposta de Ramirez e Nimuendajú compreende uma vasta extensão de todo o médio Içana, rio Cuiari (no seu curso no Brasil) e Aiari. No entanto, há importantes subdivisões internas, entre o médio Içana 1,2 e o rio Aiari, como demonstrado por Gonçalves (2018). Ainda, como discutiremos adiante, a variedade Oho de Granadillo (2006), no Guainia, apresenta variantes lingüísticas características do dialeto central.

O dialeto setentrional ocupa a área do Alto Içana e certas regiões do rio Guainia. Ramirez (2001a) o representa pela fala do clã Ayaneni, e o encontramos sob o termo de Ñame e Aha em Granadillo (2006). Gonçalves (2018) concorda com Ramirez (2001a) que o dialeto setentrional é o mais diferenciado com relação aos demais e estipula que o limite geográfico com o dialeto central se dá entre as comunidades de Matapi e Tamanduá.

O mapa na Figura 1 sintetiza as principais informações discutidas nessa seção.

Figura 1 Mapa com a distribuição das línguas, variedades, localidades, territórios e áreas dialetais deste estudo (elaborado a partir de Gonçalves, 2018 e Hill, 1993

3. MATERIAIS E MÉTODOS

As gravações de Silva (1961) foram digitalizadas em extensão aif, e as páginas relevantes do material bibliográfico foram escaneadas e analisadas por um processo ótico de reconhecimento de caractère (OCR). Transcrevemos todos os áudios e revisamos o trabalho de Brüzzi. A partir das transcrições, consolidamos todas as variedades numa única planilha, juntamente com as variedades Ehe, Oho, Aha e Ñame de Granadillo (2006) 5. Combinadas, a lista final soma 234 conceitos. Ela foi analisada com apoio do software Edictor (List, 2017), com o qual identificamos palavras cognatas e sistematizamos as correspondências sonoras. Todos os dados, bem como as análises dos cognatos, encontram-se disponíveis no anexo 1 e também estão disponíveis on-line6, seguindo os princípios de formatação de dados digitais para a comparação translinguística ou Cross-Linguistic Data Format (Forkel et al., 2018)

Realizamos, então, uma análise para determinar graus de similaridade e distância entre os dialetos, a distribuição de variantes e isoglossas entre variedades, regiões geográficas, clãs e fratrias. Tratamos como variáveis lexicais a presença ou ausência de determinado conjunto de cognatos entre as variedades. As variáveis fonéticas foram analisadas a partir da realização alofônica de certos fonemas em determinados conjuntos de cognatos.

Procuramos interpretar os dados, também, por uma perspectiva evolutiva, tal como resumido abaixo.

  • Inovação compartilhada: quando um grupo de variedades apresenta uma variante inovadora, comum somente a tais variedades, o que sugere uma classificação num subgrupo a partir de um mesmo ancestral linguístico direto (é o padrão que potencialmente gera bifurcações em um modelo arbóreo de famílias linguísticas).

  • Difusão ou empréstimo: quando variantes são repassadas entre variedades distintas e que para todos os efeitos pertencem a outro dialeto ou subgrupo (é o que ocorre segundo modelos de empréstimos bidirecionais ou multidirecionais, ou interferência por substrato, modelos formalizados em certos casos por um modelo de difusão por "ondas").

  • Herança desde a protolíngua: variantes que podem ser reconstruídas a uma protolíngua e que não sofreram mudanças até o estágio atual de uma dada variedade, o que não permite fazer inferência sobre subagrupamento.

  • Isolamento por distância: quando inovações dentro de um subgrupo de variedades deixam de ser transmitidas para uma dessas variedades devido a fronteiras geográficas e sociais.

  • Zonas residuais: área onde encontramos formas arcaizantes, que não passaram por um processo de inovação ou difusão com a maioria das línguas ou áreas.

Combinamos essa perspectiva "fina" de análise dos dados (seção 4) com uma breve abordagem estatística, em que analisamos um total de 190 conceitos7, distribuídos em 512 variantes lexicais. Analisou-se se cada variedade apresenta ou não uma determinada variante; caso a língua não apresentasse um determinado conceito, seus dados não eram considerados. A partir desses critérios, analisamos os dados no software SplitsTree (Huson & Bryant, 2006), o qual produziu uma matriz de distância entre os diferentes pares de variedades e gerou um diagrama que agrega todos os dados com base no algoritmo neighbornet (Bryant & Moulton, 2004).

A vantagem de visualizar os dados em uma neighbornet é que esta nos permite ver os sinais conflituosos nos dados (isto é, quando variedades em diferentes graus de distância compartilham certas variantes em comum) e não organiza os dados numa estrutura hierárquica (em outras palavras, não representa os dados em um única árvore, mas em múltiplas redes de ligações entre variedades que apresentam as mesmas variantes). Por outro lado, é informativo analisar o número absoluto de distância entre as variedades, pois uma menor distância, em geral, correlaciona-se com uma história evolutiva comum entre elas.

É importante salientar que os métodos de distância que usamos aqui são "cegos" com relação ao padrão evolutivo da variante compartilhada, isto é, eles não distinguem entre similaridades causadas por retenção (herança desde uma protolíngua), inovação compartilhada ou difusão. Logo, servem mais para traçar um panorama geral dos dados, revelar padrões não notados pela análise qualitativa e sugerir caminhos para futuras investigações.

4. ANÁLISES E RESULTADOS

A seguir, vamos nos aprofundar sobre cada variedade ou conjunto de variedades em particular e ver como elas se relacionam comparativamente. As seções estão organizadas seguindo uma lógica cladística, que começa pela discussão do Werekena, depois do Tariana e então das variedades do Baniwa-Koripako. Concluímos esta seção com os resultados da análise quantitativa.

4.1 Werekena

As palavras do Werekena foram gravadas por Águeda Hildebrando, de 60 anos de idade, natural de Paxiúba-Rupitá, porém residente em Carará-poço no Içana (não conseguimos situar essas localidades na atualidade). Houve intermediação de um falante de Nheengatu, Cristina Vitalino, de 17 anos. Com base em uma breve lista de palavras, podemos mostrar que a língua registrada por Brüzzi é uma variedade muito próxima ao Werekena do Xié (Aikhenvald & Amorim, 1995) e o Baniva-de-Maroa (Civrieux & Lichy, 1951), e, portanto, distinta da língua conhecida como Guarequena ou Warekena Velha, e do Baniwa-Koripako.

Tabela 3 Lista de palavras comparando Werekena, Werekena do Xié, Baniva-de-Maroa e Guarekena e Baniwa-Koripako8  

4.2 Variedades da Língua Tariana

Brüzzi possui dois registros de variedades da língua Tariana. Os dados em «Tariana» (disco 12, gravação 4) foram fornecidos por dois informantes diferentes. O primeiro, em 1955, chamava-se Martinho, tinha 50 anos e era de Iauaretê. Em junho de 1956, foi feita a gravação com Fabrícia, de 45 anos, residente no Yawiari. O filho dela traduziu as palavras para o Tukano como língua intermediária. A lista de palavras usada na gravação é a de 194 itens, inspirada na lista de Swadesh de 200.

O segundo registro, Kumadene 1 (disco 8, gravação 4), foi realizado a partir de dados fornecidos por dois velhos que se lembravam, com dificuldade, do Kumadene 1. O primeiro deles era um pajé chamado Martinho e tinha cerca de 80 anos e o segundo era o chefe local e se chamava Mandú Henriques, com cerca de 60 anos de idade. As palavras foram fornecidas pelo segundo com a ajuda do primeiro. A lista de palavras utilizada para a coleta de dados dessa variedade fora desenvolvida pelo próprio Brüzzi, a qual foi substituída anos depois por outra, inspirada na lista de Swadesh com 200 itens. Por essa razão, são poucos os dados diretamente comparáveis entre essa variedade e as demais registradas por Brüzzi.

A identificação dessas variedades no complexo dialetal da língua Tariana é um trabalho que ainda merece ser feito com cuidado. Como iremos demonstrar, estamos diante de duas variedades distintas nessas duas gravações. Aikhenvald (2014) analisa os dados de Silva (1961) da gravação «Tariana» (disco 12, gravação 4) e propõe que a variedade registrada pertence ao clã Kumadene dos Tariana, que habitava o Uaupés e depois migrou para o rio Yawiari para "evitar a ação de missionários salesianos" (Aikhenvald, 2014). Ao contrastar os dados em Silva (1961) com seus próprios dados da variedade atual do Tariana falada no rio Yawiari e no Uaupés, a autora propõe que houve um processo de mudança da variedade do Yawiari em épocas recentes, causada por influência dos falantes de Baniwa-Koripako. Segundo Aikhenvald (2014), o registro feito por Brüzzi é de uma variedade Tariana-Kumandene previamente não influenciada pelo Baniwa-Koripako.

No entanto, Aikhenvald não analisa a variedade na gravação Kumadene 1 (disco 8, gravação 4). Numa nota, ela se refere a essa variedade como proveniente de Urubuquara, no baixo Uaupés, e diz que é muito similar ao Tariana moderno de Santa Rosa. Isso suscita uma série de questões que estão em aberto e sobre as quais podemos apenas oferecer algumas pistas.

Vamos analisar a seguir os dados das variedades Tariana e Kumadene 1, comparando-os com os dados do Tariana de Santa Rosa (Aikhenvald, 2014) e com os dados de variedades Baniwa-Koripako (usando como exemplo o Moliweni e o Hohoodene). Vejamos a Tabela 4.

Tabela 4 Comparação entre Kumadene 1, Tariana, Tariana de Santa Rosa e Baniwa-Koripako 

Nas palavras para 'fogo' e 'vermelho', vemos que as variedades Tariana apresentam a mesma variante, opondo-se às variedades do Baniwa-Koripako. Já em 'sangue' vemos que Kumadene 1 apresenta a mesma variante do Baniwa-Koripako, diferente das demais variedades Tariana. É importante notar que uma vez que todas as línguas Aruák em tela têm o mesmo morfema para 'sangue' e 'vermelho', o padrão divergente em Kumadene 1 em 'sangue' é indicativo de empréstimo do Baniwa-Koripako. Em 'pai', é a variedade «Tariana» de Brüzzi que se diferencia das demais. Nas palavras para 'mão' e 'braço' vemos que enquanto Tariana de Santa Rosa e o Baniwa-Koripako apresentam morfemas diferentes para cada conceito, em Kumadene 1 e Tariana em Silva (1961) o mesmo morfema é usado para codificar os dois conceitos, fato recorrente nas línguas Tukano do Uaupés, o que sugere influência por contato dos Tukano aos Tariana.

Com relação a variantes fonéticas, vemos em 'osso' que Kumadene 1 novamente apresenta uma variante similar ao Baniwa-Koripako, enquanto o Tariana de Santa Rosa conta com as duas variantes: uma exclusiva ao Tariana e outra compartilhada com o Baniwa-Koripako. No sufixo para 'feminino' (presente, por exemplo, na palavra para 'mulher', cf. anexo 1), vemos uma clara correspondência «r : z» em Tariana e Baniwa-Koripako, ainda que a variedade do baixo Içana Kowaidakenai tenha «t» e não «3» na palavra para 'mulher' «inaru» em vez de «i:nazu» como nos dialetos central e setentrional, e a variedade «Siusi» tenha «t» e não «z» na palavra para 'pai' (cf. anexo 1). Esse quadro se torna ainda menos claro com o prefixo de 'não-feminino', onde somente o Tariana de Santa Rosa diverge da correspondência «r : t» ao apresentar «d» (fato devido à influência Tukano onde «r» não ocorre no início de palavra [Aikhenvald, 2002]).

Esses dados mostram que podemos reconhecer como parte de uma mesma língua Tariana as variedades de Brüzzi e Aikhenvald (2014). Kumadene 1 e Tariana de Brüzzi são mais semelhantes entre si do que com Tariana de Santa Rosa. Ao mesmo tempo, vemos que cada uma dessas variedades apresenta elos independentes ou comuns de contato com línguas vizinhas, seja da família Tukano ou Baniwa-Koripako. Está claro que as variedades Tariana têm certo grau de independência, correspondem a três grupos sociais distintos no tempo e no espaço e mantêm relações mais ou menos independentes com os vizinhos Tukano e Baniwa-Koripako.

Aikhenvald (2014) comenta sobre o fato de a língua Tariana ter tido uma ampla extensão territorial e formado um continuum dialetal. Essa mesma caracterização parece ser verdade para o Baniwa-Koripako e, também, para as línguas do subgrupo Japurá-Colômbia como um todo no passado longínquo (Ramirez, 2001b). Dessa forma, é provável que num passado recente, o Tariana e o Baniwa-Koripako formassem um continuum dialetal (Ramirez, 2001b, p. 24), ainda que hoje sejam mutuamente ininteligíveis (Aikhenvald, 2014). Na seção 4.4, vamos mostrar como as variedades do Tariana apresentam um alto grau de similaridade lexical com as variedades Baniwa-Koripako, comparável ao de variedades mais remotas dessa língua como o Kowaidakenai (ver também seção 4.3.3).

Assim, podemos traçar dois momentos evolutivos principais na língua Tariana: um antes e outro após a migração ao Uaupés. No primeiro momento, o Tariana pode ser encarado como parte do complexo dialetal e sociocultural Baniwa-Koripako do Içana. Com a migração dos Tariana vindos de Uapuí para o Uaupés, é natural que tenha havido uma mudança no padrão social de interação entre os Tariana e os Baniwa-Koripako o que, somado aos novos padrões sociolinguísticos no Uaupés, causou uma maior diferenciação entre as línguas. Mas também é possível que elos antigos tenham sido mantidos ou recriados, como no rio Yawiari, o que garantiu em certa medida um fluxo ininterrupto do contato Tariana-Baniwa-Koripako no Alto Rio Negro a partir de uma espécie de encadeamento dialetal: Baniwa-Koripako (Tariana do Yawiari) Tariana do Uaupés.

4.3 Variedades do Baniwa-Koripako

4.3.1. Visão geral

As sete variedades do Baniwa-Koripako documentadas por Brüzzi estão amplamente distribuídas pelo rio Içana. A começar pelo alto Içana, Brüzzi registrou uma variedade denominada de «Kumadene» que significa 'netos, descendentes do pato'. Para Gonçalves (2018), esses são os Kumadaminanai, um clã da fratria Hohoodene, do alto Içana (Gonçalves, 2018). Essa variedade é claramente diferente do Kumadene 1 (disco 8, gravação 4), discutida anteriormente, sendo a homonímia causada pela relevância do 'pato' na mitologia Aruák na região. A lista de Kumandene 2 (disco 11, gravação 1 e gravação 2) foi fornecida por Pedro, um homem de 30 anos, morador de Paná-paná, no Alto Rio Içana.

As gravações foram feitas em 1957. Além da lista de palavras principal, o informante forneceu também itens com alguns fonemas "característicos" de sua língua. Nesse caso também, variantes linguísticas, localidade do falante e seu clã e fratria apontam para uma variedade claramente identificável com o dialeto setentrional (seção 4.3.2).

No baixo Içana, temos o grupo identificado por Brüzzi como «Yuruparitapuya» ('gente de Jurupari', em Nheengatu) ou «Mapátsedakenai» ('gente abelha', em Baniwa-Koripako) (disco 11, gravação 5). Na pesquisa de Gonçalves (2018), esse grupo é conhecido como um antigo grupo chamado de Kowaidakenai ou Kowaipanai, em alusão ao demiurgo Kowai. As palavras dessa variedade foram gravadas por Fernando Manoel, de 65 anos, «tuxaua» de Santa Ana, uma comunidade localizada abaixo de Assunção, no baixo Içana, com o auxílio de Aglair Cardoso, falante de Nheengatu. Indícios convergentes, como o clã e a fratria à qual o falante pertence e quanto à localidade onde ele morava, apontam para o fato de a variedade Kowaidakenai ser uma representante do dialeto meridional do Baniwa-Koripako, conforme será demonstrado na seção 4.3.3.

A variedade chamada de «Yawaretetapuya» (disco 11, gravação 5) provavelmente se refere aos Dzawinai ou Dzawiminanai ('gente onça'), da fratria Dzawinai, com seu território tradicional localizado no médio Içana. No entanto, o informante Valentim Benedito, de 30 anos, é natural de Yurupari-cachoeira no rio Aiari e residia em Iuí-vitera (Juivitera), no médio rio Içana. A lista utilizada aqui foi a mesma de «Yuuruparitapuya» (Kowaidakenai) e, portanto, também dispõe de apenas 108 itens. Essa variedade apresenta características muito semelhantes às variedades do médio Içana 1, como iremos demonstrar (seção 4.3.4) e, em certa medida, também com a variedade Kowaidakenai (seção 4.3.3). Isso é interessante, pois Dzawinai e Kowaidakenai são da mesma fratria (Dzawinai) e geograficamente o clã Dzawinai ocupa a região do médio Içana. Isso coloca essa variedade com destaque na transição entre o dialeto meridional e central9.

No rio Aiari, encontramos a variedade Hohoodene (disco 11, gravação 3), gravada por Regina, de 30 anos de idade, filha do «tuxaua» de Uapuí. Foi necessária a intermediação de um falante de Nheengatu, Sebastião Melgueiro, do Uaupés. É um típico exemplar do dialeto do Aiari, juntamente como a variedade «Ziboia ('Jiboia' em Nheengatu)» ou Mauliene (disco 12, gravação 2), gravada em 1957 por Miguel Mandu, 30 anos, morador de São Pedro (Macedonia), no rio Aiari. Aglair Cardoso forneceu as palavras intermediárias do Nheengatu.

Muito próxima a essas variedades, temos o «Sukuruzu» ou Moliwene (disco 12, gravação 1), gravada em 1957 por Alcides, que tinha 50 anos e morava em Naná-Rapecuma, no Içana, uma comunidade que não foi possível ser identificada na atualidade. Houve a intermediação de Sebastião Melgueiro, falante de Nheengatu. Os Moliwene são um clã Hohoodene e ocupam tradicionalmente o território do rio Cuyari, que desemboca no médio Içana. A variedade registrada por Brüzzi está bastante próxima ao Hohoodene e Mauliene, fato notável devido a distância geográfica entre os territórios dos dois clãs, mas também apresenta certa similaridade com a variedade Dzawinai, de quem é vizinha.

Finalmente, a variedade «Siwsi» ou Waliperi (disco 11, gravação 3) foi gravada em abril de 1957 por João Gomes, de 30 anos, e sua irmã Guilhermina, de 28. Eles eram residentes da comunidade de Paráueri, no rio Quiarí, afluente que deságua na boca do rio Aiari. A variedade Siwsi está próxima às do Aiari, porém com notáveis diferenças; ainda, guarda importantes semelhanças com a variedade Dzawinai, de modo que com esta pode ser mais facilmente reconhecida como parte de um mesmo dialeto.

Em síntese, os dados em Silva (1961) nos permitem ter um quadro amplo da dialetologia Baniwa-Koripako no rio Içana conforme a configuração social da região em 1950. A seguir vamos discutir em detalhe essas variedades e procurar traçar um quadro da dialetologia Baniwa-Koripako à época de Brüzzi, além de fazer algumas observações com relação a variedades do Guainia e da fala Baniwa-Koripako atual do rio Içana.

4.3.2. Kumadene 2 e o dialeto setentrional

A variedade Kumadene 2 do Alto Rio Içana se diferencia das demais variedades documentadas por Brüzzi a partir das seguintes variantes principais10:

  1. variante fonética «j» em vez de «dz» (cf. 'dois');

  2. conjuntos únicos de cognatos não compartilhados com variedades do Içana, como em 'chupar', 'cortar', 'empurrar', 'longe', 'montanha', 'poeira', 'pássaro'.

Os mesmos cognatos em (2) são encontrados nas variedades Aha e Ñame no Guainia. Em Ayaneni (Ramirez, 2001a, p. 23) encontramos também os mesmos cognatos em 'cortar', 'longe', 'pássaro'; e para todos os dados do Alto Içana em Gonçalves (2018), a palavra para 'pássaro' é cognata à do Kumadene 2. Esses fatos são sólidas evidências para classificar o Kumadene 2, juntamente com essas demais variedades, como pertencentes ao dialeto setentrional.

A variante «j» é compartilhada com línguas como o Tariana e o Werekena, enquanto «dz» ocorre nos dialetos central e meridional Baniwa-Koripako. De fato, o protossom é (Ramirez, 2001b). Logo a variante «dz» é uma inovação, que caracteriza evolutivamente os dialetos central e meridional como mais aparentados, enquanto a variante «j» é simplesmente a retenção de um padrão outrora comum a todas línguas e variedades, e não serve para se propor um subagrupamento filogenético.

Há uma série de variantes que são comuns entre Kumadene 2 e outros dialetos Baniwa-Koripako. Quando as mesmas variantes não estão presentes em outras variedades do dialeto setentrional, encontramos casos em que:

  1. o Kumadene 2 herdou sua forma desde a protolíngua, mas as variedades do Guainia inovaram e, devido ao fenômeno de isolamento por distância, tal inovação não chegou a ser compartilhada com Kumadene 2, por exemplo, em 'acima', 'amarrar', 'corda', 'lá', 'vivo', além de 'aqui' compartilhado com Ayaneni «aahî» : Kumadene 2 «a:hi»11;

  2. o Kumadene 2 possui formas que foram difundidas desde o dialeto central ou meridional, como em 'rachar', 'cinzas', e o alofone do fonema «ts» como «tf» antes de «i», presente em todas as variedades do Içana, mas ausentes no Guainia.

O que esses dados sugerem é que há padrões regionais de contatos que se sobrepõem a divisões dialetais anteriores, estabelecidas a partir da transmissão linguística e identificadas com base em inovações compartilhadas.

Quando comparado diretamente com os falares do Alto Içana documentados por Gonçalves (2018), vemos que o Kumadene 2 apresenta as mesmas variantes que um informante de Gonçalves, nascido em 1983 em Barcelos (Alto Içana) e pertencente ao clã Kumadene. Isso revela certo grau de estabilidade dessa variedade ao longo das últimas três gerações.

Em síntese, podemos positivamente classificar o Kumadene 2 como parte do dialeto setentrional e, ainda, inferir certos processos históricos que gradualmente têm vinculado essa variedade ao sistema sociocultural do rio Içana, distanciando-a de variedades setentrionais do Guainia.

4.3.3. Kowaidakenai e o dialeto meridional

A variedade Kowaidakenai, ou «Yuruparitapuya» para Brüzzi, é o último registro que temos do dialeto meridional ainda conforme ele era falado no baixo rio Içana. Para Ramirez (2001a), o dialeto meridional sobrevive, hoje, apenas na comunidade de Victorino, no Guainia. Em nossa análise, encontramos a variedade Ehe (Granadillo, 2006), falada em Pavoni, também do Guainia, e pertencente a esse dialeto12.

As variantes que caracterizam a variedade Kowaidakenai são:

  1. variante «t» que corresponde a « » nas demais variedades Baniwa-Koripako nas palavras para 'mulher' e 'vermelho';

  2. variante «d3» que corresponde a «dz» ou «j» nas demais variedades Baniwa-Koripako nas palavras para 'chuva', 'fogo' e 'cabelo/pelo/pena';

  3. etimologias únicas a esta variedade, tais como

  • empréstimos para as palavras para 'cantar' («_-ïgatiko») da Língua Geral e 'nuvem' («novi») do Português;

  • palavras sem cognatos nas variedades próximas, como 'andar', 'como', 'gordura', 'matar', 'morrer', 'não', 'pensar', 'pequeno' 'velho', 'verde';

  • um semantismo particular para a palavra referente a 'ano', que nas demais línguas é a mesma palavra para a estação sem chuvas e em Kowaidakenai é a palavra referente à constelação das Plêiades («waliperi»); e

4. cognatos compartilhados unicamente com a variedade Ehe e Victorino do Guainia, como 'dente', 'fígado', 'grande' e 'pássaro', conforme ilustradas abaixo.

Vejamos a tabela abaixo, na qual comparamos os dados entre Kowaidakenai, Ehe, Victorino e as variedades Hohoodene e Dzawinai.

Vemos pelos dados acima que a variedade Kowaidakenai pertence ao dialeto meridional, tendo Ehe e Victorino como variedades mais proximamente relacionadas, ainda que as duas últimas estejam mais próximas entre si (ambas estão na Guainia e são faladas ainda hoje em dia). As variedades Dzawinai e Hohoodene estão mais distanciadas do dialeto meridional, embora Dzawinai e Kowaidakenai sejam da mesma fratria e contem com territórios tradicionais mais próximos entre si.

É bem verdade, no entanto, que há conjuntos de cognatos únicos entre Kowai-dakenai e Dzawinai, como nos conceitos para 'acima', 'redondo/reto' e 'apertar', os quais, porém, não são compartilhados com Ehe. Uma vez que Dzawinai é mais semelhante aos dialetos Hohoodene e Waliperi, por exemplo, do que ao Kowaidakenai, a explicação mais plausível para os cognatos acima seria empréstimo, ou então uma origem ancestral comum, fato que se correlaciona com o feito de serem variedades de clãs de uma mesma fratria, ainda que não haja no momento suporte linguístico para comprovar essa hipótese.

Tabela 5 Kowaidakenai, Ehe, Victorino e as variedades Hohoodene e Dzawinai 

4.3.4. As variedades do Aiari, do médio Içana e a questão do dialeto central

Numa área que tem como centro a região do médio Içana, podemos reconhecer um conjunto de variantes que encontram ampla distribuição nas variedades do Aiari (Hohoodene e Mauliene) e do médio Içana e Cuyari (Waliperi, Moliwene e Dzawinai), mas com distribuição restrita em outras línguas (Tariana e Werekena) e demais variedades Baniwa-Koripako. Ainda que com distribuição limitada, as variantes comuns ao Aiari e médio Içana tendem a se difundir a outras áreas vizinhas. Por exemplo, enquanto «dz» é encontrado nos dialetos central e meridional, está ausente no setentrional. Isso faz com que a zona de difusão de «dz» abarque uma parte das línguas do Içana, além de Ehe e Oho no Guainia, mas não Aha e Ñame. Sabendo que Ehe é uma variedade recentemente levada do Içana ao Guainia, fica a pergunta se Oho seria uma língua que adotou o «dz» como um empréstimo fonológico ou tem raízes históricas no dialeto central.

O padrão lexical é igualmente complexo. Mostramos abaixo alguns conjuntos de cognatos com distribuição na maioria das variedades do médio Içana e Aiari, tanto no Guainia, Aiari ou médio Içana, e ausentes, ou com distribuição limitada, em variedades do dialeto meridional ou setentrional, conforme discutido abaixo:

Tabela 6 Itens cognatos com distribuição nos dialetos central, setentrional ou meridional 

O fato de não termos encontrado um conjunto único de variantes que aponta para uma inovação compartilhada entre as variedades que se chamou de dialeto central, seja com a inclusão ou exclusão das variedades do Guainia nesse grupo, dificulta a proposição dessas variedades como um "macrodialeto" sob um ponto de vista genético. Se de fato não existir "o dialeto central" como um conjunto de variedades que se formaram a partir de um ancestral comum a todas elas, temos de explicar então como certas variantes (por exemplo, «dz») passaram a ocorrer em Oho. Seria um caso de empréstimo fonológico? Mas, se de fato existe um dialeto central, que abarca também Oho, então em investigações futuras devemos encontrar razões para postular que houve empréstimos consideráveis entre o dialeto central e seus dialetos vizinhos, meridional e setentrional, como indica o quadro acima.

Vale notar que, ao desconsiderarmos Oho, também não encontramos um conjunto de cognatos para as línguas do Içana e Aiari que excluam outras línguas mais distantemente relacionadas, como Tariana, Werekena e variedades do dialeto meridional ou setentrional. Por exemplo, para as duas variedades do rio Içana, como Waliperi e Dzawinai, não há sequer um par de cognatos exclusivo a elas, ainda que sejam bastante próximas lexicalmente. O mesmo se selecionarmos quaisquer pares de línguas entre o médio Içana e o Aiari. Isso mostra que a área atribuída ao dialeto central como um todo não parece ser coesa, sendo extremamente dinâmica como uma área de inovação e/ou difusão dialetal, sobretudo no curso do médio Içana.

Por outro lado, ao focarmos apenas nas variedades que compreendem somente clãs da fratria Hohoodene, encontramos ao menos três conjuntos de cognatos únicos e exclusivos a essas variedades: 'correr', 'pena', 'ter medo'. Isso sugere que as variedades Hohoodene formam um subgrupo genético, fato notável dada a distância geográfica do Moliweni, o que reforça o padrão ideal de transmissão linguística conjuntamente com a transmissão patrilinear da fratria, clã e demais aspectos da identidade dos falantes.

Os dados comparados de Brüzzi e Gonçalves (2018) podem revelar alguns processos de mudança nos padrões geográficos de distribuição de algumas variantes. Vamos focar nas variantes em comum documentadas a partir dos conceitos para (1) 'gente', (2) 'não' e (3) 'redondo'. Na tabela abaixo, resumimos essas variantes e as principais tendências encontradas nos dados, incluindo o rio Guainia (Granadillo, 2006).

Tabela 7 Variantes para 'gente' (1), 'não' (2) e 'redondo' (3) em Baniwa-Koripako 

Os dados para 'gente' mostram que enquanto a variante (1b) se manteve estável na mesma área, a variante (1a) se retraiu em razão, provavelmente, da variante (1C), o que sugere talvez que grupos Waliperidakenai tiveram certa influência nessa difusão. Já no padrão de distribuição para 'não' e 'redondo', verificamos uma certa correspondência entre os padrões em Brüzzi e Gonçalves. No entanto, o que há de mais notável é a consolidação de um conjunto de variantes no médio Içana 1 a partir, provavelmente, de variantes do próprio Dzawinai e difusão por contato ao Moliweni. De fato, em Gonçalves (2018), a fala do Cuyari (território Moliweni) é bem próxima à do médio Içana 1 (território Dzawinai), o que sugere uma assimilação gradativa do Moliweni ao dialeto da região onde deságua o Cuyari.

Em suma, vemos que o "dialeto central" é de difícil delimitação devido às intensas trocas linguísticas que ocorrem no eixo do rio Içana. A unidade que reconhecemos que abarca os clãs Hohoodene, bem como a falta de evidências de unidade no médio Içana e entre esse e o Aiari, são sugestivas de que o "dialeto central" possa ser, na verdade, uma ampla zona de convergência e difusão de variantes originárias em diferentes clãs e regiões do Içana.

4.4. Análise Quantitativa

Nesta seção, vamos discutir os resultados da análise de uma matriz de similaridade (ver anexo 2) e o diagrama de redes de relações neighbornet (seção 3) (ver Figura 2 abaixo).

Figura 2 Neighbornet com os dados agregados de todas as línguas e variedades 

A média de similaridade de todas as línguas e variedades analisadas está em 75 %. O Werekena é a língua mais distante, com uma média de similaridade de 48 % com as demais línguas; em seguida, vêm as variedades «Tariana» de Brüzzi, Kumadene 1 e Kowaidakenai, respectivamente com 70 %, 73 % e 74 % de similaridade, em média, com as demais línguas.

Ao se excluir as línguas Werekena e Tariana, temos uma média de similaridade de 83 % entre todas as variedades Baniwa-Koripako. Kowaidakenai apresenta uma média geral de 76 %, e Kumadene 2, de 79 % de similaridade; ambas, representantes dos dialetos meridional e setentrional, respectivamente, são as únicas abaixo da linha de 81 %, considerada como marco da diferença entre variedades de uma mesma língua e línguas distintas, segundo Swadesh (apudRodrigues, 1964).

Kowaidakenai é mais similar ao dialeto central, geograficamente mais próximo, e menos similar às variedades do dialeto setentrional e que estão geograficamente mais distantes: ela compartilha 69 % de similaridade com Ñame e 73 % com Kumadene 2 e Aha. As variedades mais similares ao Kowaidakenai são: Ehe e Dzawinai, ambas com 82 % de similaridade, o que segue um padrão também encontrado na análise qualitativa de relação genética (Ehe) e/ou geográfica (Dzawinai) (seção 4.3.3).

Já ao Kumadene 2, as variedades com maior similaridade são Dzawinai (83 %) e Mauliene (83 %), variedades do Içana e que estão geograficamente distantes, enquanto uma variedade mais próxima geograficamente, como Waliperi, é menos similar (78 °%). Tal fuga à norma que, em geral, segue uma lógica geográfica (isto é, dialetos mais próximos geograficamente são também mais próximos linguisticamente) merece ser explorada em pesquisas futuras sobre a história da região, e sugere, no momento, que a fratria dos Waliperidakenai seja mais recente na região e tenha reproduzido uma nova lógica de relações sociais e territoriais.

Entre as variedades do dialeto setentrional (Kumadene 2, Aha e Ñame), a média de distância entre as variedades é de 82 %; Aha e Ñame compartilham 84 %, sendo as mais similares, e Kumadene 2 e Aha compartilham 78 %, sendo as mais distantes, enquanto Kumadene 2 e Ñame compartilham 81 %. Esses dados reforçam uma tendência observada anteriormente (seção 4.3.2), de que a variedade mais próxima ao Kumadene 2 é o Ñame.

É digno de nota que o Kumadene 2 é relativamente menos similar às variedades do dialeto setentrional do que Dzawinai e Mauliene. Isso sugere que há uma relativa descontinuidade das relações sociolinguísticas entre o Içana (onde estão Kumadene 2, Dzawinai e Mauliene) e o Guainia, de modo que relações de contato (e ausência) podem estar se sobrepondo ao padrão de descendência.

As variedades do Guainia (Aha, Ehe, Ñame e Oho) apresentam uma média de 83 % de similaridades. Não obstante, sabemos também que essas variedades estão relacionadas distintamente com variedades do Içana (Ehe-Koawaidakenai, Aha-Ñame-Komade 2, Oho e médio Içana e Aiari). As similaridades, portanto, somente podem ter ocorrido mais recentemente, após bifurcações genéticas mais antigas.

Com relação ao dialeto central, esse possui a maior média de similaridade entre os grupos dialetais: 87 %. A média de similaridade de Oho com as demais variedades do Içana é de 84 %, fato notável devido à distância geográfica entre elas. Ao excluir Oho e focar somente nas variedades do médio Içana e Aiari, a média geral de similaridade é de 88 %. Waliperi e Dzawinai são as variedades com menor média de similaridade com as demais variedades, "apenas" 87 %. Waliperi e Dzawinai são também as mais similares entre si, ambas com 89 % de similaridade. Já as variedades Hohoodene também têm uma média de 89 % de similaridade entre si, sendo que Hohoodene e Moliwene apresentam 92 % similaridade, fato notável dada a distância geográfica entre as variedades. O Dzawinai é mais similar ao Mauliene, entre as variedades Hohoodene, o que não segue o que vimos como tendência na seção 4.3.4.

A figura a seguir mostra a neighbornet que geramos após a análise dos conjuntos de cognatos.

A figura nos permite observar a disposição dos dialetos numa dimensão espacial. O tamanho das linhas que conectam línguas e variedades é maior conforme essas acumulam variantes independentes. Vemos, assim, que o Tariana e Kowaidakenai estão mais ou menos equidistantes do núcleo da rede acima. Os três principais dialetos de Nimuendajú e Ramirez aparecem claramente identificáveis, ainda que o dialeto setentrional esteja menos coeso que os demais. Isso pode ser explicado pelo fato de que as línguas do dialeto setentrional pertençam a sub-regiões distintas (Alto Içana e Guainia). Dentro do dialeto central, observamos claramente a diferença entre as variedades do Içana (Waliperi e Dzawinai) e Aiari, além do agrupamento mais próximo entre as variedades Hohoodene (Hodoodene, Mauliene e Moliwene). As variedades do Guainia aparecem distribuídas em diferentes complexos dialetais, como apontado nas seções anteriores.

Por falta de uma estrutura hierárquica e temporalmente organizada, não podemos ver na figura da neighbornet alguns tipos de relações que observamos anteriormente na análise de similaridade e na análise qualitativa dos dados. Por exemplo, a posição da variedade Oho, que se apresenta como mais similar a Aha na figura acima, ainda que compartilhe variantes importantes com o dialeto central. Em outros casos, as relações entre Dzawinai e Kowaidakenai, assim como Ehe e as variedades do Guainia, não estão representadas adequadamente na figura.

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho, apresentamos dados revisados e analisados de 11 línguas e variedades Aruák do Alto Rio Negro a partir do acervo de áudio em Silva (1961). Analisamos os dados sob um ponto de vista da linguística histórico-comparativa e da dialetologia, bem como da etnologia, tendo em vista a necessidade de se referenciar e atualizar as informações de Brüzzi, bem como interpretar certos padrões de similaridade e diferenciação linguística com base nas relações territoriais e de descendência entre clãs e fratrias. Como base nisso, realizamos um estudo comparativo das línguas e variedades, identificamos duas variedades para a língua Tariana e o único registro em áudio do dialeto meridional Baniwa-Koripako ainda falado no Içana. Contribuímos, assim, para os estudos Aruák em geral, e em especial para a dialetologia da língua Baniwa-Koripako.

Uma perspectiva central do artigo foi discutir como os "dialetos" Baniwa-Koripako, propostos por Nimuendajú (1950) e Ramirez (2001b), foram constituídos diacronicamente, se por contato ou por evolução desde um ancestral comum, o que leva a dialetologia a explorar questões complexas no tempo e no espaço, ou mais profundamente, como geografia, migrações, alianças e estruturas sociais, como fratrias e clãs, são variáveis importantes para se entender a diversidade linguística Aruák na região. Os resultados tendem a confirmar a divisão dos dialetos Baniwa-Koripako em dois grupos mais bem definidos, o dialeto meridional e o setentrional, e problematiza a unidade relativa do dialeto central. O chamado "dialeto central" conta com um subgrupo coeso de línguas, todas pertencentes à fratria Hohoodene no Aiari e no Cuyari, duas regiões relativamente distantes e desconexas, o que sugere que essas variedades tenham um ancestral direto em comum. No entanto, a relação de similaridade com outras variedades como Waliperi e Dzawinai é menor, e não há indícios de inovações compartilhadas. Isso indica que as semelhanças atribuídas ao dialeto central são resultado de um amálgama de influências vindas do dialeto Hohoodene e das variantes Waliperi e Dzawinai.

Ao trabalhar também com os dados de Granadillo (2006), pudemos fazer pela primeira vez uma investigação sistemática da dialetologia Baniwa-Koripako no Içana em conexão com o Guainia. Os resultados mostram uma simetria sociolinguística entre as duas regiões: em ambas temos línguas com variantes características do que se chamou de dialeto setentrional, meridional e central. Vemos que as variedades do Guainia apresentam relações genéticas claras com variedades do Içana (Ehe-Kowaidakenai, Ahe-Ñame-Kumadene 2, ou não tão claras, como Oho e as variedades do dialeto central), ao mesmo tempo em que notamos que formam, entre si, um sistema relativamente próprio e autônomo com relação ao Içana. Dessa forma, temos uma sobreposição de tendências no Guainia: por um lado, vínculos evolutivos com as variedades do Içana, o que faz com que em ambas as regiões circulem isoglossas similares, e, por outro lado, um vínculo interno próprio que cria inovações locais e as circula internamente.

As dinâmicas de evolução por descendência ou contato que observamos neste estudo e sua correlação com aspectos geográficos e socioculturais fornecem boas informações para se conceber a diversidade linguística no Alto Rio Negro. Vimos como certas variantes ou padrões linguísticos se explicam por uma lógica de descendência ou contato; tentamos distingui-las e estabelecer uma estratigrafia dessas forças evolutivas; e propusemos uma reflexão sobre como alianças locais podem se sobrepor à lógica de descendência patrilinear e residência patrilocal no que tange à transmissão de variantes linguísticas.

Sob um ponto de vista teórico, a partir deste estudo percebemos como a dialetologia pode se beneficiar de análises diacrônicas que tentam compreender o fenômeno da variação a partir dos parâmetros que caracterizam a transmissão e a difusão linguística no tempo e no espaço.

6. AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente a contribuição do historiador Joaquim Melo, que em seu acervo na "Banca do Largo", em Manaus, nos gravou em CDS os 12 LPS de Silva (1961). Também agradecemos a Renato Nicolai, que disponibilizou, pela biblioteca digital Curt Nimuendajú, a obra de Silva (1961) em PDF (http://www.etnolinguistica.org/biblio:silva-1961-discoteca). Gostaríamos de agradecer a colaboração do colega Mattis List (MPI-SHH), que ajudou na formatação dos dados para análise no software Edictor. Agradecemos também aos alunos que fizeram uma primeira transcrição dos dados de Brüzzi em disciplinas ministradas pelo primeiro autor na Universidade de Brasília: Dalva Delvigna, Rodrigo do Prado Sateles, Lorrainy Braz de Siqueira e Euler Lemes. Por último, agradecemos a colaboração de dois revisores anônimos que contribuíram para a qualidade final do texto. A responsabilidade por falhas nesta versão final é inteiramente nossa.

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*Este projeto contou com financiamento das seguintes agências: Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES); Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); e do Max Planck Institute for the Sciences of Human History (MPI-SHH).

1Esse projeto contou com financiamento das seguinte agências: Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); e do Max Planck Institute for the Sciences of Human History (MPI-SHH).

2Segundo o obituário de Brüzzi escrito pelo salesiano Dom Walter Ivan de Azevedo, Brüzzi nasceu em Nova Era (Minas Gerais) em 1903 e faleceu na missão salesiana de Taracuá, no rio Uaupés, em 1987. Após ter servido como capelão na tropa brasileira enviada para a Itália na ii Guerra Mundial, chegou inicialmente à região do Alto Rio Negro em 1947. É autor de importantes estudos linguísticos e etnográficos sobre os povos indígenas do Alto Rio Negro, além de ter publicado obras sobre catolicismo, grego, química, economia, psicologia e direito. (O obituário foi consultado em https://docplayer.com.br/25321378-Inspetoria-salesiana-missionaria-da-amazonia.html em 16 de novembro de 2018.)

3O rio Içana é um afluente do Alto Rio Negro. Está dividido em quatro principais trechos com base em razões históricas e administrativas atualmente: o baixo Içana, onde hoje predomina a língua Nheengatu, vai da foz até a comunidade de Assunção; o médio Içana 1 vai de Assunção até Tunuí e inclui o rio Cuyari. O médio Içana 2 começa a partir desse ponto e inclui as comunidades até Matapi, além do rio Aiari. O Alto Içana vai de Matapai até as cabeceiras. O rio Guainia é o nome pelo qual é conhecido o Alto Rio Negro acima do canal de Cassiquiare, já em território colombiano e venezuelano.

4Koch-Grünberg (2005; citado por Ovalle, 1998) visitou o Içana em 1904 e menciona que os Waliperidakenai (Siusi) — que hoje se consideram Baniwa e ocupam a área do médio Içana e Aiari — não se consideravam "Baniwas".

5Granadillo identificou quatro variedades Baniwa-Koripako no rio Guainia, região fora do alcance da documentação de Brüzzi, mas que é fundamental para se tentar traçar um quadro mais completo da dialetologia Baniwa-Koripako. Tanto Granadillio quanto Brüzzi se basearam na lista de Swadesh de 200 itens, o que tornou oportuna a comparação dos dados.

6Para acesso on-line aos dados, conferir https://github.com/lexibank/chaconbaniwa/.

7Eliminamos alguns conceitos quando tinham uma distribuição extremamente limitada, impunham dificuldades de determinar conjuntos de cognatos ou apresentavam um semantismo instável entre as diferentes línguas.

8Os dados de Baniwa-Koripako foram transcritos a partir da fala de Artur Gonçalves Garcia, segundo autor deste artigo.

9Ramirez fala da região de Tunuí (área que corresponde ao território do clã Dzawinai, segundo Gonçalves, 2018) como uma área de "tensão" entre os dialetos central e meridional. Como iremos argumentar, o dialeto central é antes um amálgama de variantes numa zona intensa de difusão, que conta com a convergência de falares da fratria Hohoodene, Waliperi e Dzawinai (seção 4.3.4).

10Referência direta a alguns conceitos em português podem ser vistos no anexo 1. Universidad Nacional de Colombia, Facultad de Ciencias Humanas, Departamento de Lingüística

11As variantes analisadas como (1) estão presentes em pelo menos uma variedade da Guainia, além de Aha e Ñame, fato que prescinde de um processo de difusão entre os dialetos, uma vez que Oho e Ehe não pertencem ao dialeto setentrional.

12Segundo Granadillo (2006), a comunidade de Pavoni foi formada por descendentes de pessoas de Victorino.

Cómo citar este artículo: Chacon, T. C., Gonçalves, A. G., & da Silva, L. F. (2019). A diversidade linguística Aruák no Alto Rio Negro em gravações da década de 1950. Forma y Función, 32(2), 41-67. doi: http://dx.doi.org/10.15446/fyf.v32n2.80814

Recebido: 03 de Agosto de 2018; Aceito: 30 de Novembro de 2018

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