Editorial

Repetidamente se escuta falar nestes dias, ao interior do catolicismo, de uma nova "primavera eclesial" que estaria abrindo caminho. Esse é, em geral, o ambiente que tem conseguido despertar na Igreja a figura do Papa atual, que aceitou para si o nome e, segundo tem mostrado, o carisma de Francisco de Assis. Trata-se, sem dúvida, de uma época de esperança, cuja fecundidade dependerá de sua capacidade para enfrentar o engano das simples "transformações cosméticas", às pressas do esnobismo e aos embates de quem, ancorados na tradição ou beneficiados dos sistemas, fazem resistência aos ventos de mudança. Descobrir como capitalizar este ambiente em favor de uma autêntica renovação da vida cristã nas estruturas da cristandade é tarefa de todos os membros da comunidade eclesial na diversidade de ministérios e estamentos.

Neste contexto, aos teólogos e teólogas cabe-lhes uma grande responsabilidade. Em efeito, se compreendemos a teologia como um ministério a serviço da comunidade crente, que o fazem próprio tendo a tarefa de contribuir a traçar horizontes para que a palavra e ação desta comunidade estejam cada vez melhor consolidados no seguimento de Jesus Cristo, a quem proclamam como seu fundador.

Nossa revista, logicamente, não é alheia a esta situação. Em tal sentido, os trabalhos apresentados neste número -oito artigos de investigação e inovação, dois documentos e duas recensões- se enquadram neste serviço eclesial em época de renovação.

No primeiro dos artigos, titulado "A Estela de Merneptah e a taxa de desemprego: ideologia e teologia na historiografia das origens de Israel", Milton Acosta, professor da Fundación Universitaria Seminario Bíblico de Colombia, apresenta o panorama dos estudos sobre a origem histórica de Israel. O texto enfatiza no debate sobre a historicidade dos relatos bíblicos e a influência das ideologias, tanto nos escritores da Bíblia como em seus estudiosos.

O artigo do Agenor Brighenti, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, titulado "Nova evangelização e conversão pastoral: uma abordagem desde a Igreja na América Latina e no Caribe", estuda a nova evangelização, já proposta pela Conferência de Medellín, como imperativo diante do desafio de manter sempre viva e atual a novidade do Evangelho. Para manter vivo este imperativo, propõe retomar a expressão "conversão pastoral", formulada pela Conferência de Santo Domingo e retomada por Aparecida.

Jorge Castillo Guerra, professor da Universidade Radboud-Holanda, em seu artigo "Teologia da migração: mobilidade humana e transformações teológicas", analisa o significado das transformações na identidade e fé dos migrantes, assim como seu impacto na compreensão e a elaboração da teologia. A investigação, que faz uma aproximação intercultural e transacional à mobilidade humana, formula uma transformação intercultural da teologia, expressada com a categoria "teologia da migração".

Gelci André Colli e Willibaldo Ruppenthal, professores da Faculdade Teológica Batista do Paraná, em seu artigo "A ambivalência humana: uma perspectiva cristã", sustentam que uma antropologia cristã pode superar os dualismos, sem desconhecer a tensão inerente ao ser humano. Para isto, é preciso mudar a lógica bivalente por uma perspectiva relacional que permita reconhecer a ambivalência de corpo e alma como estrutura constitutiva da natureza humana.

No artigo "Função da religião na vida das pessoas segundo a psicologia da religião", escrito por Nelson Mafla, professor da Pontificia Universidad Javeriana, se faz uma aproximação à religião como fenómeno portador de sentido, de utopia, de guia, de suporte, de poder vital e de esperança diante da adversidade, a dor e a morte. Graças ao recurso aos clássicos da psicologia da religião, se recupera esta função das crenças religiosas para a construção e a orientação dos processos vitais dos homens e as mulheres do século XXI.

Víctor Martínez Morales, S.J., professor da Pontificia Universidad Javeriana, em seu artigo "Nossa Igreja latinoamericana aos 50 anos do Concílio Vaticano II", sustenta que a vida das comunidades eclesiais da América Latina e do Caribe é uma eloquente concreção de ideais teológicos como a Igreja povo de Deus, Igreja dos pobres, Igreja de comunhão e participação. Desta forma, sugere e descobre uma "eclesiologia latino-americana", herdeira do Concílio Vaticano II e da teologia da libertação, já não em documentos da Igreja senão na interação cotidiana dos membros das comunidades crentes, verdadeiros protagonistas da vida eclesial.

No artigo "O 'illative sense' na instância veritativa segundo John Henry Newman", escrito por Francisco Sánchez Leyva, salesiano do México, se estuda a legitimidade epistemológica do assentimento que um sujeito pensante presta a uma verdade religiosa ou de fé, graças à possiblidade que todo ser humano tem de justificar racionalmente suas crenças. Desde este indício -sustenta o autor-, não parece arbitrário considerar a sistematicidade da gramática do assentimento religioso como possiblidade no desenho de uma renovada gramática da fé.

Finalmente, Andrea Sánchez Ruiz, professora da Universidad Católica de Argentina, em seu artigo "A caminho de novas formas de convivência na família eclesial", propõe repensar os esquemas de convivência comunitária da Igreja a partir da fisionomia e a organização das mesas familiares. Se temos em conta a forma como Jesus atuou nas mesas das que participou, e se reconhecemos nas famílias verdadeiras igrejas domésticas, é possível descobrir ali orientações para renovar evangelicamente a comunhão e a participação intra-eclesial.

Na seção de documentos, encontramos dois textos. Em primeiro lugar, um trabalho de Alfonso Llano Escobar, S.J., dedicado à questão da "Provável origem da encíclica Humanae vitae.". Em segundo lugar, uma biografia de Mario Gutiérrez S.J. (q.e.p.d), que foi professor de nossa faculdade por mais de 30 anos, escrita por Germán Neira, S.J.

Na seção bibliográfica, se incluem duas recensões. A primeira está elaborada por Luis Ignacio Sierra, e apresenta o texto de Antonio Spadaro, Pensar o cristianismo no ciberespaço digital. A segunda, escrita por Manuel Hurtado, S.J., introduz a obra de Elio Estanislao Gasda, Fé cristã e sentido do trabalho.

Com os trabalhos recolhidos no presente número, a revista Theologica Xaveriana se afiança em seu propósito de prestar um serviço acadêmico de qualidade à comunidade teológica, à Igreja e à sociedade.

José Alfredo Noratto Gutiérrez, Ph.D.
Editor