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Theologica Xaveriana

Print version ISSN 0120-3649

Theol. Xave. vol.64 no.178 Bogotá June/Dec. 2014

 

A decadência espiritual no nosso tempo e a busca humana pela existência autêntica*

La decadencia espiritual de nuestro tiempo y la búsqueda humana de la existencia auténtica

The Spiritual Decline of our Time and the Human Quest for Authentic Existence

Anete Roese**
Adilson Schultz***

*Artigo de reflexão. Pesquisa realizada com apoio do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, para o projeto "A situação espiritual do nosso tempo: crise e busca da existência responsável".
**
Doutorado em Teologia, Instituto Ecuménico de Pós Graduação em Teologia da Escola Superior de Teologia, EST, São Leopoldo/RS. Professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil, PUC Minas. Correio eletrônico: anete.roese@gmail.com
***Doutor em Teologia, Escola Superior de Teologia, de São Leopoldo/RS. Professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil, PUC Minas. Professor no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Correio eletrônico: adilson.schultz@gmail.com


Resumen

Otexto que segue apresenta uma reflexão sobre a degradação da dimensão espiritual da humanidade no mundo contemporâneo, a crise, a frustração do ser humano diante da situação que vive neste tempo e a vontade de uma existência autêntica. A reflexão se baseia em duas obras de dois autores importantes, de épocas diferentes: A situação espiritual do nosso tempo, de KarlJaspers, e Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade, de Edgar Morin. A partir destas duas obras e autores dialogaremos com outros grandes autores, como Paul Tillich, Viktor Frankl e Erich Fromm, que se ocuparam com a investigação da situação espiritual da humanidade.

Palavras-chave: Situação espiritual, existência autêntica, valores, crise, responsabilidade, Karl Jaspers, Paul Tillich, Viktor Frankl, Edgar Morin, Erich Fromm.


Resumen

El texto que sigue presenta una reflexión sobre la degradación de la dimensión espiritual de la humanidad en el mundo contemporáneo, la crisis y frustración del ser humano frente a la situación que vive, y el deseo de una existencia auténtica. Esta reflexión se basa en las obras de dos autores importantes de épocas distintas: La situación espiritual de nuestro tiempo, de Karl Jaspers y ¿Rumbo o abismo? Ensayo sobre el destino de la humanidad, de Edgar Morin. A partir de estas obras y sus autores, dialogaremos con otros grandes escritores, como Paul Tillich, Viktor Frankl y Erich Fromm, quienes se ocuparon de investigar la situación espiritual de la humanidad.

Palabras clave: Situación espiritual, existencia auténtica, valores, crisis, responsabilidad, Karl Jaspers, Paul Tillich, Viktor Frankl, Edgar Morin, Erich Fromm.


Abstract

This paper offers a reflection about the (degradation of the spiritual dimension of men today, the crisis and frustration of human beings concerning their current situation, and their desire for authentic existence. This reflection is based on the works of two important authors from different time periods: The Spiritual Situation of Our Time, by Karl Jaspers, and Heading for the Abyss? An Essay on the Fate of Humanity, by Edgar Morin, These works and their authors are the point of departure of a dialogue with other famous writers, such as Paul Tillich, Viktor Frankl and Erich Fromm, who devoted themselves to investigate about human spirituality.

Key words: Spiritual situation, Authentic existence, Values, Crisis, Responsibility, Karl Jaspers, Paul Tillich, Viktor Frankl, Edgar Morin, Erich Fromm.


Introdução

A decadência espiritual no nosso tempo pode ser identificada em três instâncias relativas ao modo de vida do ser humano na sua interação com o meio, com o próximo e consigo mesmo. A relação do ser humano com o meio onde vive está degradada, o poder de decisão e ação sobre o mundo foi transferido às máquinas e o distanciamento da realidade já impede que se veja implicado no mundo que o cerca. A relação do ser humano com seu semelhante está igualmente deteriorada, e a violência é um dos sintomas de que este mundo humano está em profunda crise.

Da mesma forma uma crise profunda se abate sobre o ser humano e o seu mundo próprio, levando-o a uma situação de sofrimento psíquico e espiritual de grandes proporções, que se manifesta também no uso desmedido de drogas lícitas e ilícitas. Trata-se de uma situação complexa, que levou a uma decadência espiritual de graves dimensões e que na sequência será analisada.

Para a caracterização desta era na qual vivemos lançaremos mão de um livro escrito por Karl Jaspers nos anos 1930, publicado no Brasil em 1968, intitulado A situação espiritual do nosso tempo. Neste estudo Jaspers faz uma leitura da situação da humanidade desde o seu contexto que é muito profunda e apropriada para que possamos compor uma visão ampla o suficiente para uma compreensão da situação do sofrimento da humanidade no tempo atual.

Também laçaremos mão dos escritos do filósofo e teólogo Paul Tillich que aponta a modernidade como era da ansiedade espiritual. Recorreremos também ao livro de Morin (2011), cujo título instigante pergunta: Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade. O livro de Morinse volta para o contexto moderno para verificar as manifestações singulares de uma época como a modernidade, para depois pensar sobre o tempo atual. Segundo Edgar Morin, "o século XXI assistirá ao prosseguimento dos processos culturais concorrentes, antagônicos e, por vezes, complementares que se manifestaram no fim do século XX".1

As contextualizações das diferentes eras nos ajudarão a compreender os modos de vida criados em épocas anteriores e que tem reflexos sobre o tempo atual. São eras que se prorrogam, se intensificam, apresentam superações e consequências, causam sofrimentos diversos, sobretudo uma frustração existencial e espiritual que pode ser identificada na civilização ocidental no atual momento. É imperativo nesta época, portanto, lançar o olhar para o passado, um passado capaz de nos dar um quadro relativamente considerável para podermos compreender o contexto que nos circunda atualmente.

Esta questão é especialmente importante considerando que estamos no início de um século e sobre este século não podemos tecer considerações suficientemente aprofundadas se não considerarmos o século XX que há pouco nos antecedeu e que empreendeu duas guerras mundiais, uma bomba atômica e epidemias como o HIV que marcaram e marcam várias gerações desta humanidade ainda vivas. Para compreender a decadência espiritual que afeta a humanidade hojeé necessário, pois, caracterizar os tempos e contextos nos quais a humanidade desenvolve os seus modos de vida.

Antes de uma caracterização do contexto é importante dizer que a compreensão da questão espiritual aqui segue o proposto na abordagem fenomenológica. Ou seja, temos a convicção de que o ser humano contempla, além das dimensões física e psíquica, também uma dimensão espiritual.

A característica da dimensão espiritual é a potencialidade e capacidade moral, cujas demandas são a liberdade e a responsabilidade. A dimensão espiritual é o âmbito da capacidade de decisão, reflexão e avaliação, relacionadas aos atos de compreensão, reflexão, avaliação, decisão, do pensamento. À dimensão psíquica competem os atos como as reações, os instintos, impulsos, como o medo, os desejos, as emoções. Da dimensão física temos consciência em razão do tato- que é o que nos dá a possibilidade de perceber os limites do corpo e a orientação no espaço.

A fenomenologia identificará os atos de controle no campo espiritual, e se diferem dos atos do campo psíquico ou corpóreo. Estes últimos são registrados e só mediante este registro, de um sentimento, por exemplo, há uma reação. Há, pois, uma capacidade ou uma dimensão capaz do controle da psique e do corpo e esta dimensão é a espiritual. Não se trata da antiga divisão entre corpo e alma, pois a fenomenologia parte da análise dos atos, e "pelo registro dos atos podemos chegar à estrutura do ser humano".2

Os atos permitem que se reconheça a existência da alma, e que a mesma pode ser dividida em duas dimensões: uma psíquica e uma espiritual. Estas duas e a dimensão corpórea estão absolutamente integradas no ser humano, sendo que em algumas pessoas uma das dimensões pode estar mais desenvolvida ou menos desenvolvida. A consciência é o ponto de convergência das operações dado que ela não tem caráter físico, psíquico ou espiritual, "é a dimensão com a qual nós registramos os atos".3 Esta questão será elucidada ao longo do texto à medida do desenvolvimento da questão que o texto se propõe analisar, que trata da decadência espiritual do nosso tempo e da busca por uma existência autêntica.

O TEMPO MODERNO E ATUAL

Morin4 destaca o desenvolvimento económico, mercantil e capitalista, bem como a ideia de uma era planetária com a economia de trocas e a dominação do mundo pelo oeste da Europa como características dos tempos modernos; o surgimento de Estados-nação (Portugal, Espanha, Inglaterra, França) e, depois, o surgimento do individualismo também devem ser acrescentados. Não há, portanto, uma data ou acontecimento específico que marca o surgimento da era moderna.

O Renascimento vai gerar a problematização de tudo: a natureza, Deus, o ser humano e a realidade. O pensamento moderno, diz Morin, "é marcado por uma grande disjunção, muito bem formulada por Descartes, entre dois domínios que se tornaram incomensuráveis, o do espírito, do sujeito, da filosofia; e o da matéria, da extensão do corpo, da ciência, da realidade empírica".5

A modernidade é marcada por princípios antagónicos e complementares. A ciência, por exemplo, depende da verificação, do conflito de ideias e do antagonismo com outros sistemas de pensamento tal como a religião.

Posteriormente, a técnica ganha importância no cenário mundial, se associa à ciência e produz o conceito de tecnociência no século XX.

Três grandes mitos caracterizam a modernidade: o mito do progresso; o mito do domínio do universo e o mito da felicidade, este difundido pela mídia e vendido como um produto que todo indivíduo poder obter.6 Ainda que a ideia do domínio do universo esteja relativamente em crise, afetado pela crise ambiental e pelo apelo ecológico, o mito do progresso se atualizou e hoje é difundido com a ideia do "desenvolvimento"; e o mito da felicidade também se atualizou por meio do mito da beleza e da juventude.

A era moderna revela uma imensa capacidade de invenção, criação e desenvolvimento, sobretudo no século XX. Isso se verifica no campo da ciência - dimensão predominante da modernidade, no desenvolvimento da técnica, da economia e do capitalismo. Há que se observar, no entanto, que simultaneamente à capacidade inventiva, a modernidade também é a era dos grandes contrastes e destruições. Há, por um lado, aprofundamento da miséria e, por outro, um crescimento do desenvolvimento de instrumentos que facilitam e que dinamizam a vida humana.

A própria ciência tanto será responsável por grandes descobertas na medicina com suas tecnologias de diagnóstico e de cura de doenças, quanto pelo desenvolvimento de tecnologias de morte. O desenvolvimento técnico colocou a humanidade diante de um dilema: a técnica tanto facilitou a vida cotidiana da humanidade, quanto submeteu os trabalhadores a lógicas produtivas padronizadas, repetitivas, que, junto com o furor do     desejo de lucro produzem escravidão e submissão. A técnica, a lógica e a tecnologia levaram a uma submissão da sociedade à máquina artificial.

Segundo Morin, "a crise da modernidade surgiu a partir do momento em que a problematização, nascida da modernidade e que se voltava para Deus, a natureza, o exterior, se voltou, então, para a própria modernidade".7 A crise está relacionada com o paradoxo de que a modernidade8 produz o bem estar e o mal-estar, os extremos, as promessas excessivas de felicidade, cura e as pretensões da ciência de ocupar o lugar de Deus e da religião, propondo a salvação e explicando a origem e o fim do mundo.

Segundo Jaspers, o "problema da situação do tempo" começa a se colocar a partir da guerra, certamente a primeira Guerra Mundial. Antes o tema não era senão uma preocupação de poucos. No entanto, "agora" se torna uma problemática de todos, diz, ainda que continue sendo inesgotável, impreciso e fugidio. Até então, o ser humano estava "preso à terra e cativo do céu"9, instalado no seu lugar sem buscar transformações.

OS SINAIS DA SITUAÇÃO DO NOSSO TEMPO E A FISIONOMIA DE UMA CRISE

Para Jaspers, o ser humano se perdeu na pura organização da existência, da organização exterior do mundo a partir de um sentimento de utilidade. E esta organização exterior da existência é a ruína da atividade espiritual. A humanidade está como que perdida em meio à avassaladora oferta de sentidos.

O turbilhão da existência moderna subtrai ao homem uma visão límpida do que, na realidade, acontece. Vagamos na existência como num mar sem que possamos escapar-lhe ou espraiar-nos numa margem firme a permitir-nos uma perspectiva nítida da totalidade. O redemoinho só permite abranger o que, por ele arrastados, logramos.10

Segundo o autor, há uma "suposta evidência generalizada" que leva a humanidade a associar a existência com assistência material, com base numa produção racional e técnica, sobretudo para garantir a sobrevivência das massas. Ademais, o indivíduo em meio ao turbilhão, não está conseguindo se esquivar do "maquinismo" -supostamente necessário- típico do desenvolvimento econômico. Não há como negar que a organização da existência está alterada, "ameaça ruir e afigura-se irrealizável", diz Jaspers.11

A crítica da razão instrumental (Escola de Frankfurt), segundo Morin, é justamente a crítica deste modelo que se debruça apenas sobre a eficiência dos meios, ignorando os fins. Este tipo de lógica é a que leva aos campos de concentração, diz. A crise que afeta a lógica da modernidade afeta os mitos que lhe são mais caros -justamente a ideia do progresso- porque sinaliza os limites da relação sociedade e natureza quando esta última é considerada passiva e é dominada e explorada; afeta o mito da felicidade porque o "paraíso" prometido por meio da ciência, da técnica, do desenvolvimento não chegou para a maioria da humanidade; e o mito da dominação do mundo é afetado porque este intuito de dominação levou à dizimação de povos e a desastres naturais incalculáveis.

No mito da felicidade, acreditamos, reside um dos pontos mais sensíveis da crise da modernidade e que atinge o abismo no processo de mundialização. Este mito moderno da felicidade levou a uma busca desenfreada e a uma obrigação de um bem estar constante. O indivíduo precisa mostrar que está bem, afinal o mercado capitalista moderno é regido por uma ideologia que perenemente insinua que é capaz de criar e oferecer todos os produtos naturais e artificiais que conduzem à felicidade. Morin cita várias evidências da crise do mito da felicidade (menciona fadiga, abuso de psicotrópicos, drogas lícitas, etc.).

A cidade radiosa transforma-se em cidade tentacular com sua vida racionalizada, suas poluições, seu estresse; por meio da destruição das solidariedades tradicionais, e seu individualismo gera solidão e tristeza. Acreditou-se poder edificar uma civilização de segurança, mas percebe-se no presente que, longe de eliminar o risco, ela produz novos.12

A crise do mito da felicidade explica em parte o que, cremos, levou a um dos fundamentos de uma profunda crise de sentido. A falsa promessa de felicidade suprema, de uma espécie de paraíso ou de salvação que viria com o desenvolvimento, já não era mais o discurso religioso, mas da ciência moderna. Ora, o modelo de desenvolvimento não trouxe a prometida felicidade, antes revelou tantas contradições que a humanidade é capaz de produzir que a crise existencial se tornou inevitável diante da constatação da impossibilidade e da irrealidade da promessa.

Jaspers identifica esta problemática e a coloca sob o conceito da alegria e do contentamento. No contexto da organização universal, onde a massa humana é coagida a incorporar uma existência padronizada, a alegria é desmantelada com a fragmentação da totalidade em vista das produções parciais, com o trabalho em série. Não há mais continuidade de tarefas ou ideias.

O mundo técnico com seus mecanismos e suas urgências impõe outra forma de existência onde a alegria é relativizada. Em vez de uma profissão realizada humanamente, surge o fenômeno da alegria no trabalho pelo rendimento técnico a separar o ser-si-próprio13 do ser humano como simples dinamismo funcional, o que, em muitas atividades, arruína irremediavelmente o próprio rendimento.

Segundo Jaspers, inclusive a atividade espiritual está submetida à abso-lutização dos organismos da existência, tais como os poderes materiais e as questões econômicas tomando-as como forças autênticas, se coloca a serviço das mesmas, reúne os pressupostos que justificam os eventos do mundo. O espírito não mais reconhece a sua originalidade pessoal. "O que, durante milênios, foi o mundo do homem parece, hoje, desabar."14 O modelo moderno de organização da existência se pauta em formas mecânicas de assistência a estruturas a serviço de uma massa anônima. O que está em jogo parece ser apenas o meio em si e não o fim, nem mesmo algum sentido essencial.

Acima argumentamos que os mitos se atualizaram e hoje funcionam como mito da beleza, da juventude e do desenvolvimento. São fenômenos que revelam o mecanismo sobre o qual a humanidade pauta a sua existência no mundo atual e que contrastam com tantos sofrimentos de caráter espiritual. A questão consiste em que o ser humano não mais encontra contentamento neste modo de existência, pois carece profundamente daquilo que lhe sustenta o valor e a dignidade.

Para Jaspers, o ser humano pode estar prestes a sacrificar o ser placentário no qual nasce para a sua própria autenticidade. Eis porque, em geral, existe a consciência do caos quanto aos valores fundamentais. Tudo vem a ser posto em dúvida; tudo se acha ameaçado na sua substância.

Os sinais da crise se evidenciam ao se buscar as razões profundas da mesma, que também são encontradas na crise do Estado, na crise da cultura, na crise do ser humano. Segundo Jaspers, quando o governo não alcança uma formação substancial da vontade coletiva o "sentimento consensual vacila e logo tudo cambaleia". A crise da cultura pode ser revelada por meio da desagregação de tudo o que emana do espírito, e a crise do ser humanopode ser verificada quando a organização absoluta da massa anônima alcança os seus limites, a consequência é um estremecimento de tudo em volta.

Jaspers descreve a fisionomia da crise como a de "uma inteira falta de confiança". O fato de termos ancoradouro nas ciências positivas, em convenções sólidas e no direito formal não levou a atitudes confiantes, antes apenas indica uma capacidade de cálculo. A existência parece basear-se unicamente em interesses e, consequentemente, "a consciência da substancialidade do todo acaba por apagar-se". A confiança já não é um valor que existe no campo da totalidade, desfaz-se em simulacros, apenas em espaços restritos ela é praticável.

Tudo é atingido pela crise, inabarcável em todos os seus elementos e incompreensível do ponto de vista das suas causas, de efeitos ineutralizáveis, que nos compete assumir como parte integrante do nosso destino, sofrer e superar. Enuncia-se, sob formas bem diversas, o carácter fugidio desta crise.15

No momento presente temos sinais claros de crise nas instâncias governamentais, culturais e humanas sinalizada nos protestos ao redor do mundo presentes nas manifestações de jovens que ocupam as ruas contra os governos e modelos de política em países árabes, na Europa e na América Latina. Os protestos são contra a corrupção na política, contra os governos autoritários, a falta de investimentos em saúde e educação, o alto custo de vida, entre outras coisas.

Nestes contextos surge uma esperança de um mundo melhor, de governos que tomem em conta a vontade da população, a retomada de valores humanos que considerem o bem comum e as necessidades comuns, e a esperança de superação de uma massa antes "anônima", que agora sai às ruas e luta por direitos.

Segundo Jaspers, a "unificação planetária", o que Morin nomeia como "mundialização", produziu um nivelamento, um aplainamento e uma generalização que levou à superficialização das coisas, à indiferença e à nulidade das mesmas. Tudo isso não levou, no entanto, a uma comunicação autêntica entre as diferentes culturas e os diferentes saberes. O sentimento que se adianta é de que o vasto mundo está estreito e limitado. Os vínculos se desfazem e "nota-se hoje uma perda da insubstituível substância contínua, impossível de estancar".16

O MODO DE ORGANIZAÇÃO DA EXISTÊCIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Jaspers alerta que em cada época da história o ser humano sofre uma decadência, olha para o passado e de longe vê o que foi perdido. Menciona Ranke e um trecho do seu diário, de 1840, onde diz: "antigamente as grandes convicções eram coletivas e nessa base se procurava ir cada vez mais longe. Hoje tudo se reduz a uma espécie de pronunciamento e nada mais". E continua com a menção de Ranke que conclui dizendo que hoje "nada prevalece, tudo se perde. Quem quiser abrir caminho terá de falar a linguagem de um partido e agradar-lhe".17

Estas palavras sobre os sentimentos acerca de um tempo e sobre o espírito de um tempo ditas há mais de um século e meio atrás são muito ilustrativas, pois nos dão a ideia de certa percepção dos limites das estruturas políticas e sociais e de um esfacelamento das estruturas morais que sustentavam a sociedade. Estas considerações nos soam atuais, ou seja, servem para pensar sobreo tempo atual.

Se consideramos a mundialização da cultura, das informações produzidas pela mídia hegemônica que a toda hora prenuncia alguma decadência, sinalizando o domínio da violência gerando medo, instabilidade, insegurança o que prevalece é a sensação de um mal-estar generalizado, sendo que a substância humana fundamental parece perder-se mais e mais.

Já no século XIX, segundo Jaspers, o tempo foi abalado por um "sentimento de perigo". Desde então, o ser humano "sente-se ameaçado". Para exemplificar, o autor se referencia em Hegel dizendo que diante do "desmoronamento da época" reconhece que é necessário conciliar tanto a filosofia quanto a realidade. Em seguida cita Grundvig, que quer um retorno ao cristianismo, e que diz: "O nosso tempo acha-se à beira de uma viragem, quiçá a mais importante da história; o que era velho desapareceu, e eis que o novo vacila sem poder libertar-se."18 Na sequência Jaspers ainda se refere a Kierkegaard que postula um cristianismo original, o do início. De todo modo, para Jaspers,

...uma consciência se difunde, a de que tudo fracassa, a de que tudo é incerto, movediço, que nada de fundamental é suscetível de prova; é uma vertigem sem fim que se projecta em recíprocos logros e ilusões nascidas de movimentos ideológicos. Solta-se a consciência da época do ser para se debruçar sobre si própria. Quem assim pensa sente-se a si mesmo como nada. A sua consciência do fim é simultaneamente a do nada do seu próprio ser. Ora, solta do tempo, a consciência deu uma cambalhota.19

No texto Rumo ao abismo? -escrito em 2011-, Edgar Morin se refere aos processos que tem como mote o "progresso humano" e que trazem, por um lado, progressos locais e possíveis progressos futuros e, por outro, trazem também "perigos mortais" para toda a humanidade. São desenvolvimentos que chegam a produzir verdadeiras regressões, diz o autor. Regressões tão graves que remetem à volta à barbárie.

O autor cita o progresso científico que produziu armas de morte químicas ou biológicas que podem matar em massa; o progresso técnico e industrial que levou à degradação da biosfera; a mundialização do mercado económico sem autorregulação ou regulação exterior que levou aos extremos de riqueza e de pobreza. Esta mundialização, segundo Morin, provocou e provocará crises sucessivas e seu avanço se apresenta em forma de caos. Ademais, a questão se agrava porque os campos da ciência, da indústria, da técnica e da economia não tem regulação política, ética ou do pensamento.

Para Morin, duas barbáries estão aliadas com força no momento atual, a velha barbárie -cheia de ódio, destruição, morte, com as mais diversas motivações no campo das nações, religiões, étnicas ou civis, e a barbárie tecnicistado cálculo que não toma em conta a dimensão humana do ser humano, com sua história, seu sofrimento, sua vida, seus sentimentos.

Para o autor, há um avanço dos processos regressivos, que pode estar relacionado com um feedback positivo desintegrador, verdadeiras retroações de-sintegradoras, estreitamente vinculadas com a retroação positiva do quadrimotor ciência - técnica - indústria - economia. A aliança entre as barbáries de eras históricas com a barbárie hostil e sem rosto da técnica na civilização atual é capaz de destruições ainda não exatamente evidentes para a humanidade, mas mostram-se como ameaças claras.

Por um lado, os sinais de algo não vai bem são agudos e até crónicos. Por outro lado, a diversão, a distração promovida pela indústria do entretenimento é tão acachapante que temos que refletir com mais elementos se não há uma verdadeira inconsciência sobre o "espírito deste tempo". Segundo Frankl20, o refúgio em divertimentos baratos está relacionado à frustração da vontade de sentido. Ou seja, a hipótese de uma consciência maior de um tempo são apenas os sinais visíveis manifestos nos sintomas que sinalizam para uma profunda decadência do espírito humano.

Para o francês Félix Guattari, em seu livro As três ecologias, publicado nos anos 1990, ao lado das grandes transformações protagonizadas pelas sociedades humanas nesta era, a humanidade assiste a grandes desequilíbrios, seja no meio-ambiente natural, social, cultural ou subjetivo (interno). Guattari aponta que

...os modos de vida humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma progressiva deterioração. As redes de parentesco tendem a se reduzir ao mínimo, a vida doméstica vem sendo gangrenada pelo consumo da mídia, a vida conjugal e familiar se encontra frequentemente 'ossificada' por uma espécie de padronização dos comportamentos, as relações de vizinhança estão reduzidas a sua mais pobre expressão.21

Há evidências de uma sensação de mal-estar no tempo atual quando no senso comum se ouve queixas de que não há mais estruturas fundamentais que orientem o ser humano sobre o seu ser e o seu fazer; quando se questiona sobre o papel da família tradicional e as consequências de sua desestruturação, bem como o fracasso do modelo de casamento, do modelo de educação formal, a corrupção na política, o fracasso das religiões tradicionais em seu papel moralizador.

Estes questionamentos estavam presentes com certa força no final do século XX, mas há indícios de que no século XXI há um declínio da força de questionamento sobre as razões destas mudanças e a volta ao inconsciente. O excesso de uso de drogas, entorpecentes, antidepressivos, pelo menos no caso brasileiro22, maior mercado de remédios para dormir do mundo, tanto indicam para uma frustração, como para uma decadência da força de reflexão, e de criação de uma nova realidade.

Jaspers chama à atenção para o movimento da humanidade de regresso de uma situação de maior consciência ao inconsciente. Um grito se ouve, diz o autor, e a volta ao inconsciente significa a volta ao "inconsciente do sangue, da fé, da terra, da alma, da história e do mistério". O retorno da religião é uma das características desta volta ao inconsciente, pois "no fundo incrédulo, o homem procura, à força, acreditar, destruindo, para tal, a consciência".23

Tal grito constitui um logro. O homem carece, para continuar homem, de permanecer na consciência. [...]. A vulgar existência, que tudo encara como possível de conhecimento e de finalidade prática, terá que ser ultrapassada por um honesto, autêntico labor filosófico, mediante a sintaxe límpida de todos os modos da consciência. Não é possível disfarçar, renunciar à consciência, sem se excluir a si próprio do processo histórico da humanidade.24

MASSIFICAÇÃO E AMEAÇA AO  SER AUTÊNTICO

Jaspers já percebeu claramente como o avanço da técnica e da mecanização afetavam a existência. As novas invenções permitiram pensar outro modelo de produção e organização nas indústrias que a partir da serialização da produção podiam aumentar o rendimento dos trabalhadores. O curso do desenvolvimento era determinado pela racionalização da atividade e pela mecanização. A dimensão autêntica do ser humano, no entanto, sucumbe diante da massificação a que a mecanização conduz. Jaspers conclui que um ser humano deixa de ser ele próprio à medida que se identifica com uma massa anónima.

A massa "isola o indivíduo, reduzindo-o a um átomo abandonado à sua avidez de existência".25 A massa anónima, diz Jaspers, comporta um "carácter dissolvente" que leva o ser humano a agir segundo uma vontade que não é dele próprio. A massa não tolera autonomia. Cada qual deve se colocar a serviço da roda viva, do aparato que sustenta a massa. A massa anónima não tem ca-ráter axiológico, mas funciona pela quantidade que representa, sendo uma grandeza vaga.

A tensão entre a organização técnica e o mundo da existência humana se evidencia no fato de os limites da organização da existência revelarem um antagonismo típico dos tempos modernos. A organização da massa e a ma-ssificação levaram à construção de um "aparato universal da existência" que destruirá o mundo humano. O seu presente sucumbe nas heranças do passado e nos projetos do futuro. A existência cotidiana, no entanto, exige algo do indivíduo, pois ela vem "nimbada pelo espírito de uma totalidade, de um microcosmos presente de modo sensível, por medíocre que seja".26 Mesmo descrente e submetido à máquina é neste mundo, é neste mesmo espaço que o ser humano deverá encontrar o rumo e realizar o seu ser-si-próprio. Segundo Jaspers,

...falta-nos uma rigorosa delimitação ao nível da totalidade que, inconscientemente, revele, antes de qualquer trabalho, o caminho de uma fecundidade coerente, susceptível de amadurecimento. De cem anos para cá se torna cada vez mais nítido que o homem dedicado à criação do espírito se vê remetido à sua solidão.27

Para Frankl28, no esforço e na luta pela existência significativa o ser humano se engaja em imitar os outros no que dizem e no que fazem, ações que geram conformismo e levam ao totalitarismo massificante, que suplantam a autenticidade própria de cada ser. A artificialidade e a superficialidade das relações revela o domínio do mecanismo também nelas e o caráter funcional das mesmas. As relações são disfarçadas, transvestidas de um aspecto conciliante, estão degeneradas. Tudo deve ter um ar de apaziguamento. Fala-se de muitas coisas e a contradição entre elas não causa mal-estar. Não há conexão entre a ética e a falta dela.

A tendência para a destruição do nicho doméstico, da vida familiar, cresce à medida que a absolutização da organização universal da existência aumenta. Este mundo original da família, a qual o ser humano busca sempre retornar como que por um "instinto invencível", é aos poucos engolido pela dominação do modo de organização universal da existência. Segundo Jaspers, as "tendências dissolventes" apresentam uma moral excludente, não toleram nenhum modelo alternativo ao da classe hegemónica. É o mundo público, o mundo externo que rege a existência hodierna.29

A tendência dissolvente dos laços sociais se impõe com força total na sociedade industrializada e burocratizada, onde se constrói uma ideologia de relações a partir do mundo do trabalho. Trabalhadores e trabalhadoras devem se relacionar artificialmente, mantendo a falsa alegria sob a aparente simpatia. O processo de desumanização é crescente. Haja vista que os problemas no mundo do trabalho, a falta de motivação, as doenças e acidentes relacionados ao trabalho que se avolumam. Os "elementos da criatividade"30 são banidos do mundo do trabalho. A autenticidade não é uma característica bem acolhida no mundo do trabalho contemporâneo.

As crueldades das quais os seres humanos são capazes tornaram-se flagrantes. Os estímulos gerados pela inquietação e pelo medo geram mais atividade; a submissão às exigências cresce para os que têm meia idade sob pena de serem excluídos; poupança, seguros de toda espécie, assistência social, a tudo recorrem os indivíduos ameaçados nestes tempos em que o "sentimento de insegurança vital"31 se aprofunda, mesmo diante das promessas de prolongamento da vida pela ciência. Agora, a angústia vital alcança o domínio físico. Afinal, quanto mais distante de compreender a sua significação neste mundo, o que resta é a fuga para a doença que servirá de proteção nestas circunstâncias.

A dinâmica da existência, com sua organização e mecanismos, permite momentos de esquecimento, de apaziguamento e de organização que dão o sentimento de co-pertencimento e segurança. A organização, no entanto, não é capaz de eliminar a angústia, antes, a organização total da existência precipita a inescapável angústia vital. A angústia que escapa mesmo diante da organização só pode ser

...domada pela angústia da existência como encontro do ser-si-próprio com o transcendente, a implicar um impulso religioso ou filosófico. A angústia vital cresce necessariamente quando o elemento transcendental da existência se acha neutralizado.32

A ORIGEM ESPIRITUAL DA DECADÊNCIA HUMANA

A decadência tem, segundo Jaspers, uma origem espiritual. A noção de autoridade subjacente aos vínculos humanos, base da confiança e que dava ao indivíduo a consciência do ser se desfez. A autoridade perdeu seu terreno ante a crítica no século XIX, de onde advém o cinismo característico da existência moderna, cuja qualidade maior é o silêncio diante da vulgaridade que se apresenta por todos os lados. A severidade das obrigações desapareceu e o humanismo perdeu sua humanitas justificando "a partir de ideais exangues, o que há de mais esporádico e espúrio".33 Hoje "a realização no fracasso pode ser tão real como no êxito".34

Para Morin, o humanismo ficou acanhado e não conseguiu se contrapor ao individualismo ocidental reinante e que afeta profundamente as relações em todos os níveis, alastrando o egocentrismo, a autojustificação, o interesse pessoal. O humanismo não conseguiu implantar valores como a colaboração, a reciprocidade, a mutualidade, a cooperação e a interdependência e a code-pendência - estes últimos no sentido de desconstrução da noção de que o ser humano é indivíduo independente dos outros seres humanos e seres vivos em geral.

Resiste naqueles valores individualistas difundidos até a alma das sociedades ocidentais o problema da incompreensão generalizada que separa os seres humanos dos seus grupos de convívio como as famílias, no seu grupo de trabalho, que afeta os valores que educadores deveriam ensinar, que impossibilita que mais pessoas se associem em cooperativas, sindicatos de forma a colaborarem entre si. Reside aí, segundo Morin, a "exasperação das incompreensões" e a "exasperação dos conflitos".35

Para Edgar Morin, trata-se de fato de uma crise da alma, do espírito. Esta crise imposta pela organização material da existência "gera um apelo ao Oriente interior e vai procurar no Oriente exterior seus remédios. Por que ocorre esse apelo à ioga, ao budismo, essa busca na Nova Era, como se a civilização material criasse um vazio espiritual e um divórcio entre corpo e espírito..."36

O teólogo Paul Tillich37 interpretou os diferentes tipos de ansiedade enfrentados pela civilização ocidental ao longo de sua história como grandes períodos de ansiedade, e identificou três tempos e três tipos de ansiedade: um na civilização antiga, outro na Idade média e outro no período moderno. São, para o autor, ansiedades em que o não-ser ameaça o ser.

Segundo Tillich, no final da civilização antiga predomina a ansiedade ôntica, no final da Idade Média predomina a ansiedade moral, e no período moderno, o que mais nos interessa aqui, predomina a ansiedade da vacuidade e da insignificação. Neste período, a auto-afirmação espiritual do ser é ameaçada pelo não-ser de modo relativo no caso da vacuidade e de modo absoluto no caso da insignificação.

Nesta era perdeu-se o genuíno "sentimento de Deus", a "preocupação suprema", segundo Tillich. A humanidade está numa profunda depressão espiritual, uma frustração existencial - na qual tenta encontrar novos significados, empenhada numa nova busca de referenciais de valor e sentido e que apontam para o sentido da vida. A pior ameaça é a ameaça de ser lançado ao nada, a ameaça do não-ser. Segundo Tillich,

Vacuidade e perda de significação são expressões da ameaça do não-ser à vida espiritual. Esta ameaça está implícita na finidade do homem e realizada no extravio do homem. Pode ser descrita em termos de dúvida, sua função criadora e destruidora na vida espiritual do homem. O homem é capaz de perguntar porque está separado de embora participando em, daquilo sobre o que está perguntando. Em toda pergunta está implicado um elemento de dúvida, a certeza de não haver.38

Viktor Frankl39 compreende esta situação como um adoecimento espiritual da humanidade, não se tratando mais de um fenómeno individual ou local. Entre as razões deste adoecimento espiritual estaria a falta de sentido, o vazio existencial causado pelo fim das tradições que antes davam suporte às condutas humanas, dos valores, da consciência da capacidade de auto-transcendência - própria do ser humano, considerando sua necessidade de encontro com o outro e de ir além de si. Para Forghieri,

...a consciência de si e o autoconhecimento implicam a autotranscendência; esta é a capacidade do ser humano transcender a situação imediata, ou, em outras palavras, a capacidade de ultrapassar o momento concretamente presente, aqui e agora, o espaço e o tempo objetivos. Pela autotranscendência a pessoa traz o passado e o futuro para o instante atual de sua existência e se reconhece como sujeito responsável por suas decisões e atos.40

Ao se referir ao adoecimento espiritual do nosso tempo, Frankl caracteriza -o através dos sintomas da adição- o uso desmedido de drogas lícitas e ilícitas que aponta para uma via de desespero ante a necessidade de sobreviver neste mundo recorrendo a artifícios que substituem brevemente esta realidade por outra; da agressão, que não apenas se explica pela violência em si, mas como uma manifestação de revolta diante de um mundo excludente para a maioria; da depressão, que não deixa de ser uma recusa na participação de determinada realidade; da banalização da sexualidade, em relação à qual pode-se apontar um paradoxo impressionante no tempo atual, pois justamente a época na qual mais se fala de sexo e de prazer sexual mais se toma drogas para ter prazer e potência e em que mais se verifica ausência de prazer sexual em índices significativos. Ou seja, é necessário tomar remédios para obter prazer.

Neste tempo "atual", considera Jaspers, o ser humano encontra-se "desenraizado". O caminho transcorrido até aqui parece ter sido misterioso e oculto para ele mesmo, ainda que vivesse "na imediata consciência da unidade da existência e da consciência dela". Hoje, segue Jaspers, queremos ir ao "sedimento da realidade" na qual vivemos e por esta razão "perdemos pé", uma vez que as estruturas da unidade estão arruinadas e assim somente discernimos de um lado a existência ou de outro a consciência dela.41

Para Jaspers a consciência deste movimento no qual a humanidade entrou contempla uma dualidade que consiste no fato de que, dado que o mundo é indefinido, o ser humano em vez de sua esperança matar a sede na transcendência, apega-se no mundo capaz de ser transformado, com a crença numa plenitude terrestre. Resulta que o indivíduo se depara com os limites dos efeitos de seus esforços diante do confronto com as possibilidades concebidas de forma muito abstrata.

Ademais, acrescentando o fato de que "o devir das coisas do mundo em que ele parece insignificante como força transformadora da totalidade"42 é responsável pela criação de um "sentimento de impotência", ou seja, este ser humano que se julgava capaz de dominar o mundo vê-se cativo do movimento e do rumo das coisas.

Morin entende que estas contradições da modernidade chegaram a um "grau paroxístico". Segundo este autor contemporâneo, "tudo se passa como se houvesse uma agonia, no sentido original da palavra, ou seja, uma luta entre as forças da vida e as forças da morte".43 Com Morin podemos entender que a crise, seus sintomas e seu sentido, apontados através dos autores acima citados, se estende até os dias de hoje, e, cremos, se apresenta de modo mais agudo e revela a decadência espiritual do ser humano e a sua dificuldade na manutenção de valores e sistemas historicamente aprimorados pela própria sociedade humana.

ORGANIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA E REIVINDICAÇÃO DE UMA EXISTÊNICA AUTÊNTICA

Com o processo de desmitização protagonizado pela ciência o mundo se dessacraliza e qualquer lei de liberdade se perde diante do estabelecimento da organização, da cooperatividade e da obediência. Vontade alguma se mostra eficaz para o restabelecimento de uma axiomática autêntica; a consciência se perdeu nesta era, e a objetividade tornou-se ambígua, o autêntico transfigurou-se naquilo que se perdeu, a substância revela-se perplexidade e a realidade "um baile de máscaras", diz Jaspers. E "ante o problema de saber o que restará ainda hoje em dia, a resposta a formular é apenas a consciência do perigo e da perda como sentimento de uma crise radical".44

O indivíduo sempre corre o perigo de se perder na massa anónima -que no mundo contemporâneo é absolutizada como entidade que poderia dar resposta aos desejos e determinar o sentido da vida do ser humano. No entendimento da abordagem fenomenológica, no entanto, o indivíduo como pessoa, na qualidade de sua existência transcendental, está além de ser apenas membro de uma massa, pois comporta uma autenticidade em sua humanidade, cuja dimensão deve cumprir.

Para Jaspers, a constante invocação das massas e sua absolutização tem o intuito de sustentar atividades vazias de sentido, de não enfrentar a si próprio, não assumir as responsabilidades que conclamam o indivíduo a assumir o compromisso da promoção humana.

Para que outra forma de organização da existência seja viável é necessário paz e, para tal, tomada de decisões e compromisso com a comunidade. A existência comunitária exige que o indivíduo assuma compromissos. Estes podem convocar o indivíduo a que assuma o ser si-próprio ou pode exigir que este ser si-próprio se dissolva. No último caso o indivíduo será reduzido a "um ilimitado ajustamento aplainante no plano da cooperação genérica".45

Devemos considerar, no entanto, que o ser humano nunca é completamente tragado pela organização da existência na sua individualidade. Ele se revolta ao sentir-se sufocado e enredado pelas exigências deste padrão da organização da existência. Há no ser humano "uma reivindicação da existência como apelo do transcendente, que nele se acha latente".46 O ser humano ainda é um ser livre que busca a realização do seu ser-si-próprio e é também um ser coexistencial.

É na liberdade do indivíduo que o limite deste modelo de organização da existência pode ser encontrado, pois é a ele que "cabe realizar, por si próprio, o que ninguém lhe poderá subtrair, no caso do homem optar pela sua própria humanidade".47 Sujeitar-se é desconectar-se do desejo próprio e original da verdade profunda que diz respeito à integridade do ser. É romper com o sopro original que deu e dá vida a cada ser.

Segundo Jaspers, para ser ele próprio o indivíduo se arrisca em nome da sua "vontade de assumir o próprio destino a fim de alcançar o ser".48 Se, no entanto, o prazer de lograr algo pelo ato de criação, por onde o ser se realiza na sua autenticidade, fica embotado a inesperada satisfação própria do ser humano já não pode se realizar. Se "tudo vem desprovido da cor de uma criação pessoal",49 a impossibilidade de criar por si leva, então, à frustração existencial, o sentido de se ver refletido na criação se perde.

No desespero de tomar as rédeas do próprio destino, de assumir seu ser o indivíduo assume riscos. A ambição pode se apresentar como via de realização do ser-si-próprio, mas é ela mesma uma dissimulada força que em meio ao desespero se apresenta como via de realização do transcendente. Assim se apresentam as drogas que conduzem, momentaneamente, a outro mundo longe da realidade concreta e insuportável do presente, e assim servem como via de fuga desta organização mecânica da existência. Assim também se apresentam o erotismo, o esporte e o lazer, as diversões de massa e, no cotidiano atual, as redes sociais.

O problema consiste em que a autenticidade do ser humano está profundamente ameaçada neste momento pelo domínio avassalador da organização mecânica do aparato da existência e seus subterfúgios. Fromm considera que a ordem social pode usufruir do ser humano para "quase" toda obra. Exatamente "quase" lembra Fromm, pois é necessário tomar em conta que há consequências para a imposição de certas condições.

O desempenho de ações requer estímulo e prazer, sem os quais o desempenho é nulo ou muito baixo. Ou seja, há que se considerar que o ser humano não é completamente dominável, pois ele reage, quando não completamente desamparado, às imposições que tentam submetê-lo e tirar-lhe a humanidade. Ele "tenderá a ser violento se a vida for demasiado enfadonha; tenderá a perder toda a sua capacidade criadora se o transformarmos numa máquina".50 O ser humano protestará "contra condições que tornam demasiado drástico ou insuportável o desequilíbrio entre a ordem social e suas necessidades humanas".51

O caminho de volta à autenticidade, ou à originalidade do ser humano, a superação, no redemoinho da crise, pode ser encontrada por aquele que

...busca o caminho dos seus sedimentos originais, terá que passar através do que se perdeu a fim de incorporar pela memória, medir as proporções do caos para chegar a uma decisão sobre si próprio e fazer a experiência do disfarce a partir de que logre alcançar a autenticidade.52

Segundo Jaspers, o ser humano encontra a sua realização no campo político, cujo meio é a organização da existência, por força da sua vontade de totalidade. Além disso, o ser humano encontra a sua realização por meio da criação espiritual "pela qual acede à consciência da sua substância".53

Por outro lado, o engajamento excessivo na organização da existência levou o ser humano a afastar-se da sua capacidade de autocriação livre e consequentemente da consciência das suas origens, do seu destino e da sua verdadeira humanidade. O caminho político e o da criação espiritual são os campos onde o ser humano pode resgatar a substância destas perdas. Mas não resgatará em apenas um dos campos, porque isoladamente nenhum deles é capaz de oferecer a totalidade do que o ser humano busca.

Urge, pois, segundo Jaspers, um "regresso às origens, ao ser humano"54 e o caminho é aquele. Nesta perspectiva, o ser humano será capaz de relativizar a organização exterior da existência centrada no pensamento utilitário que ora domina a existência humana de modo danoso. A verdade instituinte da comunidade envolve uma fé histórica, e esta jamais será universal. Há uma verdade que alcança a todos de modo igual que é a de um juízo razoável, "mas a verdade do que seja o próprio homem, e que a sua fé lhe manifesta, separa os homens".55

O ser humano, segundo Jaspers, na situação espiritual do nosso tempo, na tentativa de se tornar ele próprio se esquiva e renuncia a forças que tentam impor uma fé totalitária. O destino do espírito é a sua manifestação na polaridade entre a subordinação à existência e espontaneidade original. Apaga-se na mera dependência de uma irrealidade utópica; pode constituir a ideia fulcral das estruturas da existência, como pode suceder que ela morra, e o que antes fora espírito subsistirá apenas, residualmente, como invólucro, máscara ou simples sensação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O indivíduo "paira na oca liberdade do nada"56, pois conta apenas consigo próprio, porque já não encontra apoio nos outros, e não extrai a sua liberdade da "substância que tudo penetra"57 e na qual já não se percebe imergido. A situação do tempo na qual a humanidade se encontra exige, para ser contornada, um esforço extra humano. A noção da impossibilidade desta empreitada pode levar a humanidade a esforços no sentido de remediar ou de se organizar somente para dar respostas para o presente imediato e a limitar seu pensamento a fim de não se impor mais sofrimentos.

Para Jaspers, o ser humano está desamparado, desenraizado, separado, ameaçado, disperso, não tem comprometimento com o mundo no qual está inserido, perdeu a noção de autoridade e aseveridade das obrigações, mas precisa correr o risco a fim de poder reencontrar-se a si próprio.

Os sintomas do adoecimento espiritual, que vão desde doenças como a depressão, até o uso desmedido de drogas lícitas e ilícitas e a violência, segundo Frankl, cujas causas seriam a frustração da vontade de sentido, a vacuidade, a perda de significação e a perda do genuíno sentimento de Deus, e da preocupação suprema, segundo Tillich, evidenciam a insatisfação do ser humano diante do seu modo de organizar a existência. A busca da superação deste estado está simultaneamente presente neste adoecimento como sinal na frustração e na constante vontade de criar outros modos de vida.

O ser humano como ser de transcendência é capaz de superar a cada momento a sua situação. A tensão entre a existência e o ser-si-próprio como ser autêntico é a própria busca do ser humano pela sua qualidade humana. Abrir mão de lutar seria perder a "referência cósmica", parar de criar, de produzir de cuidar, de preservar e apenas se submeter a fim de sobreviver e satisfazer as necessidades básicas seria deixar o espírito se esvair e não crer mais em si mesmo.

Perder a referência cósmica equivale a perder o lugar no mundo, pois o ser humano sendo um ser de transcendência é responsável, busca sentido, tem uma capacidade espiritual que permite pensar o seu lugar neste mundo. No atual momento a organização exterior da existência corrói a atividade espiritual da humanidade.

Morin, apesar de todo o argumento, não perdeu completamente a esperança no ser humano, embora sua esperança seja quase a expectativa de um milagre. Ele crê que a metamorfose está em processo. Mas alerta que ela não está determinada. Incertezas, possibilidades de regressão e destruição não podem ser descartadas neste processo. O autor guarda uma expectativa com relação a uma nova consciência planetária -que poderia levar a uma nova civilização- e que faria uma reforma, tendo em vista a preocupação ecológica e a busca da qualidade de vida.

Morin aposta na possibilidade de que o improvável possa acontecer, ainda que a probabilidade seja a de uma catástrofe. Não há determinismo com relação ao futuro. Aliás, o passado já mostrou a capacidade de regeneração do ser humano, quando diante de graves crises como na segunda guerra mundial. Segundo o autor, "atitudes autotransformadoras despertam em caso de crise quando as coisas rigidificadas se deslocam diante dos perigos".58

Segundo Morin, o mundo abalado pela agressividade do quadrimotor destruidor formado pela ciência moderna e hegemónica, a técnica, a indústria e a ideologia do lucro necessita de uma mudança ao nível de uma metamorfose que parece estar fora do nosso alcance. No entanto, guardamos também esperanças em relação ao ser humano, e esperanças positivas. A esperança neste caso não é impossível, mas ela é improvável, diz Morin. Mas o improvável é possível. Além disso, é necessário contar com "o apelo à vontade diante da grandeza do desafio".59

Morin se refere à possibilidade de uma reação positiva com base no fenómeno do mundo físico onde um feedback positivo sempre leva à desintegração ou explosão. No mundo humano, ao contrário, se antigas estruturas cristalizadas se desintegram o feedback positivo pode levar à regeneração, ao surgimento de novas forças capazes de transformação. Portanto, a ideia de uma decadência ou de um abismo não significa por si um fim, mas a possibilidade de uma regeneração.

Morin indica quatro vias necessárias para uma reforma da humanidade: a primeira trata da reforma da organização social; a via da reforma da educação, a fim de que a humanidade possa evoluir espiritualmente; a via da reforma da vida e a última - a via da reforma ética. Morin não explica especificamente cada via.

No entanto, se tomamos em conta a reflexão de Jaspers, em quem eventualmente Morin se baseia, haja visto a semelhança de muitos conteúdos deste com aquele autor, podemos pensar que todas as vias convergem para o que Jaspers formula em termos da organização da existência nos padrões da sociedade mecanizada e da necessidade de superação das consequências deste modo de organização da vida como um todo.

Nenhuma das reformas é possível sem uma reforma ainda mais profunda. Para uma mudança em níveis mundiais seria necessário, segundo Mo-rin, acontecer uma "reforma das pessoas", só esta reforma seria capaz de levar à compreensão mútua tão necessária para uma sociedade mundializada, uma "civilização mundializada" baseada em novos valores. Trata-se de uma "política da humanidade e de uma política de civilização" que toma em conta a necessidade de uma "reforma interior dos espíritos e das pessoas".60

Nas palavras de Jaspers, se trata da necessidade de um regresso às origens humanas, ou seja, às origens do potencial mais originalmente humano que é a sua capacidade espiritual e de transcendência. A mudança deveria acontecer, portanto, no nível do espírito humano, na dimensão psíquica, na interioridade humana e no nível do pensamento.


Pie de página

1Morin, Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade, 93.
2Bello, Introdução à fenomenologia, 41.
3Ibid., 34.
4Morin, Rumo ao abismo
5Ibid., 21
6Ibid.
7Ibid., 23.
8Verificaremos ao longo da reflexão que não é possível fazer uma cisão clara entre a modernidade e a época que se segue a esta era. O fenômeno que será denominado de mundialização por Morin (Rumo ao abismo?) e que segue ou supera a modernidade mostra que ele será em algumas situações um aprofundamento ou agravamento do que se verificou na modernidade —mundializando fenómenos, generalizando— os e dando a real sensação de uma crise de estruturas, valores, instituições
9Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 10
10Ibid., 49
11Ibid., 50
12Morin, Rumo ao abismo?, 27
13O ser-si-próprio se constrói a partir da relação com o mundo circundante e o mundo humano fazendo as apropriações pessoais desta relação dinâmica na qual o ser vai se autotranscendendo à medida que toma consciência de si e da sua relação com a realidade
14Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 127
15Ibid., 123-124
16Ibid., 126
17Ibid., 23
18Ibid., 25
19Ibid., 27
20Frankl, Em busca de sentido
21Guattari, As três ecologias, 1
22Matéria publicada na revista Super interessante do mês de julho de 2010, intitulada "Nação Rivotril", mostra que o Brasil é o maior consumidor deste calmante de tarja preta do mundo. A matéria mostra que o remédio é prescrito por médicos para crises de ansiedade, mas é suado para dar conta das pressões do dia a dia como insónia, conflitos nos relacionamentos, etc. A matéria também revela que o Brasil é o maior consumidor de clonazepan, princípio ativo do rivotril, do mundo. A previsão para 2010 era de que naquele ano seriam consumidas 2,1 toneladas de clonazepan no Brasil (Versolato, "Nação Rivotril", http://super.abril.com.br/saude/nacao-rivotril-587755.shtml, Super interessante [acesso em 15 mai, 2013])
23Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 221
24Ibid., 221
25Ibid., 59
26Ibid., 63
27Ibid., 196
28Frankl, Sede de sentido
29Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 87-88
30Fromm, A revolução da esperança, 49
31Ibid., 95
32Ibid., 95
33Ibid., 127
34Ibid., 153
35Morin, Rumo ao abismo?, 8
36Ibid., 2
37Tillich, A coragem de ser
38Ibid., 37
39Frankl, A presença ignorada de Deus
40Forghieri, Psicologia fenomenológica. Fundamentos, método epesquisas, 32
41Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 10
42Ibid., 12
43Morin, Rumo ao abismo?, 28
44Ibid., 128
45Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 11
46Ibid., 6
47Ibid., 92
48Ibid., 65
49Ibid., 69
50Fromm, A revolução da esperança, 7
51Ibid., 79
52Ibid., 129
53Ibid., 12
54Ibid., 129
55Ibid., 130
56Jaspers, A situação espiritual do nosso tempo, 225
57Ibid., 225
58Morin, Rumo ao abismo?, 32
59Ibid., 93
60Ibid., 88-89.


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