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Theologica Xaveriana

versión impresa ISSN 0120-3649

Theol. Xave. vol.65 no.179 Bogotá ene./jun. 2015

https://doi.org/10.11l44/javeriana.tx65-179.tldn 

"Tempos líquidos": desafio para a nova evangelização*

"Tiempos líquidos": desafío para la nueva evangelización

"Liquid Times": A challenge for a New Evangelization

Valeriano dos Santos Costa**

*Este artigo é uma pesquisa a serviço da Cátedra João Paulo II para a Nova Evangelização, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.
**Doutor em Sagrada Liturgia, Pontifício Instituto Litúrgico Sant'Anselmo, Roma. Professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Teologia, PUC-SP. Correio eletrônico: pvaleriano@uol.com.br

RECIBO: 02-09-14- APROBACIÓN: 03-12-14


PARA CITAR ESTE ARTICULO

Dos Santos Costa, Valeriano. "Tempos líquidos: desafíos para a nova evangelização." Theologica Xaveriana 179 (2015): 51-75. http://dx.doi.org/10.11l44/javeriana.tx65-179.tldn


Resumo

Diante da urgência da nova evangelização, intuída pelo Concílio Ecuménico Vaticano Ile levada avante pelo magistério supremo da Igreja Católica, este artigo aprofunda a questão do contexto atual, que é o palco da evangelização. Para isto, o artigo recorre ao conceito de "modernidade líquida", do sociólogo Zigmunt Bauman, como escolha deliberada, a fim de apresentar a extensão do problema e favorecer o debate que a Cátedra João Paulo II para a Nova Evangelização, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pretende incrementar.

Palavras-chave: Amor, evangelização, liquidez, solidez, humanismo.


Resumen

Ante la urgencia de la nueva evangelización, vislumbrada por el Concilio Ecuménico Vaticano II y llevada adelante por el magisterio supremo de la Iglesia Católica, este artículo profundiza una cuestión del contexto actual, que es el escenario de la evangelización. Para esto, recurre al concepto de "modernidad líquida", del sociólogo Zigmunt Bauman, como elección deliberada, a fin de presentar la extensión del problema y favorecer el debate que la Cátedra Juan Pablo II para la Nueva Evangelización, de la Pontificia Universidad Católica de São Paulo, pretende incrementar.

Palabras clave: Amor, evangelización, liquidez, solidez, humanismo.


Abstract

Given the urgency of new evangelization, envisioned by the Vatican Council and carried out by the supreme Magisterium of the Catholic Church, this article explores an issue of the current scenario: evangelization. With this purpose, the article refers to the concept of "liquid modernity" of Sociologist Zigmund Bauman, as a deliberated selection to introduce the extension of the problem and to favor the debate of the John Paul II for the New Evangelization Chair, that Pontificia Universidad Católica de Sao Paulo is trying to foster.

Key words: Love, evangelization, liquidly, solidly, humanism.


Introdução

A nova evangelização é hoje o projeto mais urgente da Igreja Católica. A Igreja nunca parou de evangelizar nestes dois milénios de história. Dedicou-se à missão ad gentes, ultrapassando as fronteiras confortáveis dos espaços cristianizados, para cumprir a ordem de Cristo ressuscitado: "Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).

No entanto, ao olhar para trás, a Igreja se depara com a descristianização galopante de povos já evangelizados e precisa cuidar para que os cristãos da primeira hora não se afastem da fé e da vida no amor. A fé e o amor a ela inerente sempre influenciaram culturas e estimularam maneiras de viver que se pautam pelos valores do Evangelho. No entanto, o mundo contemporâneo passou por mudanças tão grandes que os valores cristãos são abertamente questionados ou simplesmente desconsiderados por um indiferentismo muito atual, e o cristianismo precisa retomar uma postura que contenha a mesma ousadia e a mesma serenidade dos primeiros séculos. Portanto a nova evangelização deve fazer renascer os sonhos e as esperanças que impulsionaram as origens da Igreja naqueles tempos áureos do testemunho.

Por outro lado, um olhar para o mundo europeu sob o ponto de vista da des-cristianização, pode ser o mesmo olhar para o futuro dos continentes jovens como a América Latina. Portanto a nova evangelização é uma proposta para todos os continentes do mundo e não apenas para o velho mundo, que foi a matriz da fé e da cultura cristã.

O que Jesus ordenou está sintetizado no "mandamento do amor": Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15,12). Então, de forma sintética, a evangelização é o anúncio do amor de Deus a todas as nações. João Paulo II afirma que anunciar ao ser humano que ele é amado por Deus "é o mais simples e o mais comovente anúncio de que a Igreja é devedora ao homem".1 É por isso que nesta pesquisa o amor tem um lugar central, pois falar de evangelização é falar do anúncio do amor de Deus a todos os povos e culturas. Somente o amor pode dar o todo da dimensão integral das pessoas, dos grupos e dos povos. O amor é que insere o ser humano no contexto desta vida e da vida eterna.Temos consciência de que a hermenêutica do amor na Bíblia é complexa, mas absolutamente central, como afirma Jeanrond.2

Porém a evangelização não pode ser feita sem a compreensão rigorosa do contexto no qual está inserida. Isso faz parte do discurso da ciência, que segundo Terrin, "...ainda não foi feito de forma aprofundada na esfera da religião, e que precisamente neste nível há todo um modo de pensar."3 Por isso este artigo segue a seguinte lógica:

— Aprofundar, com a ajuda do sociólogo Zigmunt Bauman, o contexto atual.
— Oferecer algumas noções descritivas e históricas sobre a nova evangelização.
— Apresentar algumas propostas teológicas que sirvam de inspiração para a nova evangelização. Mas, sobretudo, colocar a questão, a partir de um referencial teórico mundialmente reconhecido, a fim de despertar teológicos e pastoralistas para uma realidade que se impôs e que parece não ser passageira.

Paradoxalmente, tal realidade instaura uma espécie de transitoriedade que se pretende definitiva, instigada pela mobilidade das mídias digitais e do consumo acirrado. Nunca na história humana o contexto em que a evangelização se insere está tão necessitado de uma hermenêutica abrangente como agora. O método da encarnação escolhido por Deus para falar ao homem exige que a encarnação do amor leve em consideração as mudanças que se operaram a partir da era Moderna, sobretudo em sua última fase. É por isso que usamos a linguagem do enigma para decifrar com a ajuda de Bauman a realidade atual, que todos reconhecem como uma mudança de era, mas precisa adquirir maior profundidade e oferecer mais segurança na linha da episteme. Evangelizar neste tempo carece de maior conhecimento da realidade.

O enigma da realidade atual segundo Bauman

O maior desafio para a nova evangelização é o contexto atual, tão difícil interpretar quanto o enigma da esfinge.4 Apelamos para um estudioso sobre o mundo contemporâneo, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, que, segundo Lúcia Santaella, é "expoente mundialmente reconhecido da chamada 'sociologia humanística'".5

Santaella também é estudiosa da evolução atual. Disse em obra publicada em 2003, que "as mídias digitais com sua forma de multimídia interativa estão sendo celebradas por sua capacidade de gerar sentidos voláteis e polissêmicos que desenvolvem a participação ativa do usuário".6

E por que escolhemos Bauman, sabendo que há outros pensadores que refletem na mesma linha? E deve haver também quem não concorde com o seu pensamento. No entanto, este é um artigo teológico que não pretende entrar na divergência de tais questões. Fizemos uma escolha e iniciamos nossa justificação com as palavras de Santaella:

Bauman estabeleceu com clareza a distinção entre a modernidade passada, já desenraizada, e a presente. Enquanto lá desenraizava-se para dar um passo avante rumo a um novo enraizamento, agora todas as coisas — empregos, relacionamentos, afetos, o amor, know-hows, etc. — tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desregulados, flexíveis.7

Além disso, a nosso ver, Bauman amadureceu uma concepção totalmente negativa da globalização atual. Nem todos os autores chegaram a este tipo de clareza. Os últimos livros de Bauman parecem fazer certa revisão sobre o mérito da globalidade. Esse estado de coisas significa uma mudança tão grande no pensamento e no modo de viver humanos que ainda não somos capazes de avaliar. Por isso o insight de Bauman foi uma escolha deliberada que fizemos no intento da compreensão do presente, achando que nos ajuda a entender o contexto da nova evangelização.

Parece-nos que a modernidade atual comporta-se como a esfinge do mito grego, que apresentava um enigma sobre a condição humana, ao preço do dilema: decifra-me ou te devoro. Quem errava era estrangulado. Édipo decifrou, e a esfinge se matou. Se a modernidade atual vai estrangular-se ou continuar estrangulando o ser humano, não se sabe. Mas este artigo tem a ousadia de tentar uma abordagem teológica, enfrentando a esfinge que se colocou no caminho da vida atual. Hoje a teologia é a ciência que pode dizer uma palavra oportuna, mas não conseguirá proferi-la sem a ajuda das outras ciências, sobretudo as que atuam na área de humanidades. É por isso que o pensamento de um sociólogo ocupa a maior parte deste artigo teológico. Com mais humildade e mais certeza de seu papel soteriológico, a teologia se torna mais ousada.

Como a teologia é a reflexão sobre a fé, e a fé só é autêntica quando age pelo amor (Gl 5,6), iniciamos nossa abordagem sobre teologia e modernidade, partindo do amor de Deus como contraponto ao amor "líquido" da modernidade atual.

"Amor líquido"8 é a expressão de Baumanpara falar da crise atual das relações afe-tivas, representada pela fragilidade dos laços humanos na segunda fase da modernidade, que, como os fluidos, "não fixam os espaços nem prendem o tempo".9 Por isso os laços humanos e os vínculos afetivos estão em constante mudança, adquirindo o formato que se adapta a cada circunstância, seja para deslizar como os líquidos ou fluir como os gases. Laços totalmente inconstantes e adaptáveis, naturalmente avessos à estabilidade e à duração. Laços partícipes da "modernidade líquida", outra expressão que consolida o pensamento baumaniano sobre a realidade moderna contemporânea.

Estudioso sobre a modernidade e suas consequências para a vida humana, Bauman define o momento atual como "líquido", consequência de uma série de processos que resultaram na transformação da modernidade de sua fase sólida para a líquida.10 Nos escritos anteriores a 2000, Bauman usava a expressão pós-modernidade11, para definir a mudança de época que marcou a evolução da modernidade última. Mas depois concluiu que a modernidade tem duas fases tão distintas que denominou a primeira de modernidade sólida e a segunda de modernidade líquida, abandonando assim a terminologia do moderno e pós-moderno como ele mesmo explica:

Uso aqui a expressão "modernidade líquida" para denominar o formato atual da condição moderna, descrita por outros autores como "pós-modernidade", "modernidade tardia", "segunda modernidade" ou "hipermodernidade". O que torna "líquida" a modernidade, e assim justifica a escolha do nome, é sua "modernização" compulsiva e obsessiva, capaz de impulsionar e intensificar a si mesma, em consequência do que, como ocorre com os líquidos, nenhuma das formas consecutivas de vida social é capaz de manter seu aspecto por muito tempo.12

Modernidade sólida e modernidade líquida são dois parâmetros caracterizados por uma ruptura entre duas fases. Derreter os sólidos para construir outros mais perfeitos, como também diz Santaella13, foi o pleito do movimento moderno, pois "'dissolver tudo o que é sólido' é a característica inata e definidora da forma de vida moderna desde o principio".14

Porém, descobriu-se que, uma vez posto em movimento, o carro não tem mais freios e ninguém sabe aonde vai chegar nem como vai parar. Tudo parecia tranquilo, mas provocou uma situação que era impensada: uma "cadeia de mudança autopro-rrogável depois que ela é posta em movimiento".15 Agora essa cadeia tem como única finalidade não permitir que haja mais sólidos. Não é, portanto, uma simples mudança de paradigma, mas uma "batalha constante e mortal travada contra todo tipo de paradigma".16 Mudou-se completamente o ritmo da vida na terra e o futuro parece insustentável por causa da voracidade do consumo. Planejou-se a modernidade, mas perdeu-se o controle.

Planejar e construir novas e sólidas estruturas que determinariam um novo ritmo de vida dariam forma à massa momentaneamente "amorfa", já libertada dos grilhões da tradição, mas ainda não acostumada à nova rotina e ao novo regime disciplinar; em outras palavras, introduzir uma "ordem social", ou mais precisamente, "colocar a sociedade em ordem".17

Para pôr em prática um planejamento desse tipo, criaram-se exércitos, armados ou não,a fim de coagir. São exércitos hierarquizados e equipados para promover o engajamento. Hoje tudo isso foi desmantelado. A estratégia copia o enxame de abelhas:

Os enxames, ao contrário das colunas em marcha, não exigem sargentos ou cabos [....]. Ninguém lidera os enxames para os campos floridos; ninguém precisa manter os membros do enxame sob controle, pregar para eles, tocá-los adiante pela força, com ameaças ou forçando o caminho. Quem quiser conservar um enxame de abelhas no curso desejável se dará melhor cuidando das flores no campo, não adestrando cada abelha.18

Não quer dizer que a cultura líquido-humana não tenha seus generais, mas não são fáceis de identificar, porque eles se mudam constante e rapidamente. O que se vê é uma humanidade multicultural, aparentemente sem liderança. Mas para viver assim, segundo Fred Constant, comentando Charles Taylor, há duas premissas: "as pessoas têm o direito de ser diversas e também o direito de ser indiferentes à diversidade dos outros".19 A ruptura é tão profunda que atingiu a ética, a qual deixou de ser um princípio moral de regulação social e tornou-se uma ação cujo critério moral é neutro.

Se a burocracia da era sólido-moderna "adioforizava" ativamente os efeitos moralmente impactantes das ações humanas, a tecnologia emancipada de nossos tempos líquido-modernos obtém efeitos similares por meio de uma "tranquilidade ética" de tudo.20

A sequela da moralidade neutra é a relativização dos valores. Como diz Bauman, "reina o caos no mundo dos valores".21 Então os valores também se tornaram líquidos e, como tal, não suportam formas duráveis.

Essa ruptura está marcando negativamente o destino da humanidade. Para Bauman, a globalização, "até aquí [...] é totalmente negativa"22, ou seja, uma "globalização altamente seletiva do comércio e do capital, da vigilância e da informação, da coerção e das armas, do crime e do terrorismo, todos os quais agora desdenham a soberania nacional e desrespeitam quaisquer fronteiras entre os Estados".23 Este tipo de globalização globalizou o medo e não as esperanças. "Estamos todos em perigo e todos somos perigosos uns aos outros."24

O crescimento económico globalizado produziu o mais deprimente e injustificável lixo: o lixo humano, que tende a ser expulso de sua terra de origem em busca de sobrevivência em outro lugar. A fase mais aguda dessa migração25 significou a "era da diáspora". Isto constituiu uma humanidade sem lar e sem pátria que se junta em grandes bairros periféricos, justapondo culturas sem, contudo, ter tempo e disposição de integração.

Como consequência, a criminalidade avança, mas isso interessa muito à elite globalizada, pois "quando os pobres discutem com os pobres, os ricos têm todo o motivo para esfregar as mãos de alegría".26 A má convivência entre os pobres é funcional na globalidade negativa. "Para que não haja coisa alguma com que se preocupar, os gerentes da ordem global precisam de uma abundância inexaurível de inquietação local."27

A identidade cultural ficou comprometida. Para a modernidade sólida, o homem era o "jardineiro" cuja meta se condensava no sonho de uma "sociedade perfeita" realizada utopicamente por um caminho persistente. "Os jardineiros viam no fim do percurso o triunfo da utopía."28 Já na modernidade líquida, o homem, acirrado pelo desejo de consumo, é "caçador compulsivo", que não pode, em hipótese alguma, admitir o fim da caçada. "Para caçadores, chegar ao fim da estrada seria a derrota final e ignominiosa."29

Não parar de caçar virou a utopia da sociedade líquido-moderna. Mas, para Bauman, isso "só ajuda a banir da nossa cabeça a questão do significado da existencia".30 Uma cortina de poeira separou as duas modernidades, fazendo parecer que a mudança da mentalidade "racista" da modernidade sólida para a convivência "multicultural" da modernidade líquida tenha acabado com as crises de convivência social e étnica.

É que a ideia de multiculturalismo virou marionete de uma globalização "negativa", selvagem, descontrolada. Graças a ela, as forças globais podem disfarçar as consequências destrutivas de suas ações aumentado as desigualdades intra e intersociais.31

O racismo se condenava por si só, ao passo que o fracasso do multiculturalismo encontrou uma justificativa "politicamente correta" no individualismo líquido-moderno, que deixou o indivíduo como único gerente da própria existencia. Na vitória ou na derrota, ele está totalmente só, não conta com a mão de ninguém para socorrer-lhe na hora do fracasso. Esse tipo de liberdade é contraditória, pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo adquiriu autonomia, ficou completamente só em suas escolhas e na responsabilidade por elas, tornado-se o único responsável pela sua política de vida. Agora o indivíduo é seu próprio gerente e único e solitário chefe.32 Assim instituiu-se "a cultura da solidão". O que era visto como deficiência étnica, agora é visto como deficiência individual.

O livro A modernidade líquida33 constitui o marco da adoção por Bauman da terminologia sólido/líquida em seus escritos.34 O prefácio começa com a citação do filósofo Paul Valéry (1871-1945), que tem como primeira palavra: "interrupção".35 Para Valéry, a interrupção, a incoerência e a incerteza constituem a condição comum da vida. Porém, para algumas pessoas que não se alimentam senão de mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados, essa condição tornou-se uma necessidade36, que hoje atinge o grosso da humanidade. Embora não tenha ainda atingido os extremos, mas muito dano já foi causado. Mudanças por mudanças que não permitem sequer que as novas rotinas tenham tempo de virar hábito.37 Está declarado o fim de qualquer tradição, pois a única tradição é mudar sempre e rapidamente.

Resta ver como Bauman analisa as consequências que a modernidade líquida impôs ao amor e como afetou o relacionamento humano e social.

E o amor se fez líquido

O amor sempre foi o poderoso sentimento que une as pessoas, aproxima os estranhos e consolida a sociedade, tecendo urdiduras de vidas engajadas, pois "o desafio, a atração e a sedução do Outro tornam toda distância, ainda que reduzida e minúscula, insuportavelmente grande".38 Uma vez que, no mundo líquido-moderno, o amor também se tornou líquido, isto é, adaptado ao consumo e à transitoriedade permanente, os laços humanos se fragilizaram terrivelmente.

O germe da transitoriedade derreteu o aspecto utópico do amor, representado por aquele sonho de durabilidade "até que a morte nos separe", expressão hoje totalmente fora de moda.39 O amor, que tinha um patamar elevado no nível das experiências de vida, estava a serviço do parentesco40, de onde extraia seu vigor e sua valorização.41 Portanto hoje uma experiência afetiva não precisa passar por teste algum para ser chamada de amor. A consequência é que

...em vez de haver mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados. Como resultado, o conjunto de experiências às quais nos referimos com a palavra amor expandiu-se muito. Noites avulsas de sexo são referidas pelo codinome de fazer-se amor.42

Dotado de impulso criativo e afim à transcendência, o amor sempre foi carregado de riscos.43 Por isso, "sem humildade e coragem não há amor".44 O mundo líquido-moderno atingiu a esfera mais profunda dos sentimentos, nivelando amor e desejo como gêmeos univitelinos. Assim contribuiu para baixar ainda mais o patamar do amor. Hoje a principal motivação das compras no shopping é o impulso e não mais o desejo45 de reais necessidades. Então o amor líquido se tornou moeda de barganha: nesse jogo de barganha, a sexualidade perdeu seu potencial de prazer e felicidade46 e tornou-se mais sensualidade e performance, não deixando espaço para o êxtase.47 O sexo-performance vira técnica e deixa de ser experiência de amor, alijando o senso de família:

As íntimas conexões do sexo com o amor, a segurança, a permanência e a imortalidade via continuação da família não eram, afinal de contas, tão inúteis e constrangedoras como se imaginava, se sentia e se acusava que fossem. Os antigos companheiros do sexo, supostamente antiquados, talvez fossem seus sustentáculos necessários (não pela perfeição técnica da performance, mas por sua recompensa potencial).48

O homo consumens, único protagonista da modernidade líquida, substituiu o homo faber da modernidade sólida, que era criativo e pró-criativo. Porém o avanço da técnica colocou mais peso nodesempenho que na criatividade e separou o sexo da procriação. O amor líquido é um tipo de amor que não tem disposição de procriar, ou quanto muito, os filhos são tratados como objetos de consumo e não seres humanos que merecem ser amados, independentemente dos limites e deficiências:

O amor e a disposição de procriar eram companheiros do sexo do homo faber, da mesma forma que as uniões duradouras que ajudavam a criar eram "produtos principais" — não "efeitos colaterais", muito menos rejeitos ou refugos dos atos sexuais.... Privado de seu antigo prestigio social e de significados que antes eram socialmente aprovados, o sexo encapsulava a incerteza alarmante que se tornou a principal ruína da líquida vida moderna.49

Feito para consumir, o homo consumens é também é o homo sexualis. Mas o sexo-consumo-desempenho atraiu um depósito de angústia, por causa da frustrante sensação de nunca se chegar à satisfação. Bauman não tem receio de dizer que o homo sexualis é um homem irrealizado e infeliz. O sexo perdeu seu poder de engajamento. Exil ado do pedestal familiar, o sexo banal fez da casa um centro de lazer multiuso onde os membros da família vivem separadamente lado a lado.50 Isso só faz reacender novamente o sonho das utopias. É preciso novamente sonhar com

...um mundo em que a solidariedade, a compaixão, a troca, a ajuda e a simpatia mútuas (noções estranhas ao pensamento econômico e abominadas pela prática econômica) suspendem ou afastam a escolha racional e a busca do autointeresse Um mundo cujos habitantes não são nem concorrentes nem objetos de uso e de consumo, mas colegas (ajudantes e ajudados) no esforço contínuo e interminável de construir vidas compartilhadas e torná-las possíveis.51

Junto com o sonho das utopias, urge reaprender a amar. Bauman reconhece que o mandamento do amor contraria a natureza original do homem52, pois "o preceito de amor o próximo desafia e interpela os instintos estabelecidos pela natureza..."53 Por isso amar ao próximo exige um salto de fé, uma passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade.54 O amor próprio, em Bauman, é a resposta ao sentimento de ser amado, e aí está o melhor gancho com a teologia:

Pois o que amamos em nosso amor-próprio são os eus apropriados para serem amados. O que amamos é o estado, ou a esperança de sermos amados. De sermos objetos dignos de amor, de sermos reconhecidos como tais e recebermos a prova desse reconhecimento. Em suma: para termos amor-próprio, precisamos ser amados. A recusa do amor —a negação do status de objeto digno de ser amado— alimenta a auto aversão. O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros. Se na sua construção forem usados substitutos, eles devem parecer cópias, embora fraudulentas, desse amor. Outros nos devem amar primeiro para que comecemos a amar a nós mesmo.55

O amor sólido é o único caminho para refazer as utopias das relações humanas, amor dado e acolhido em forma de amor-próprio. Este é fruto do amor que recebemos ao longo da vida. O amor líquido não tem tempo de impor-se nem de provar sua veracidade. A consequência é que as relações humanas estão ficando caóticas.

Tendo de viver num mundo líquido, que parece estar conspirando contra a confiança56, a autoestima está ficando também líquida e a existência, constrangida. Só uma expressão soberana da vida pode tirar o ser humano da liquidez representada pela expressão constrangida por ofensas, ciúmes e invejas.57 "As ações 'constrangidas' precisam constantemente negar sua autonomía."58 Atirar pedras é um meio eficaz de não assumir a parte nos erros e sair imune de autocrítica.

Tal situação globalmente alastrada só faz aumentar o medo de estranhos e promover guetos de iguais, pobres ou ricos, voluntários ou não, nas cidades amedrontadas. Tais guetos não fazem senão configurar a arquitetura do pavor de estranhos, estampada pelas muralhas dos condomínios de alto padrão, vigiados por câmeras de segurança. E do lado dos pobres as muralhas são invisíveis, mas reais, constituídas pelo medo que impede de se atravessar os limites.

Porém a ideia de guetos nunca foi positiva para o relacionamento humano, pois viver na companhia de pessoas iguais promove uma socialização superficial e prosaica, além de fazer desaprender a arte de negociar um modus vivendi e significados partilhados.59 Os campos de refugiados são hoje a prova abundante de que o amor líquido está triunfando. Dessa forma, "a mixofobia e a mixofilia coexistem em toda cidade, mas também dentro de cada um dos seus habitantes."60 Viram paranoia, pois

...estão profundamente fincadas na condição existencial dos homens e mulheres contemporâneos, nascidos e criados no mundo fluido, desregulamentado e individualizado da mudança acelerada e difusa...são apenas alguns fatores [... ] que contribuem para condição desestabilizadora que gera insegurança e ansiedade.61

Resta olhar um pouco da história da nova evangelização, pleito para todos os países do mundo que já passaram por algum tipo de evangelização. Também pode oferecer critérios para a evangelização que se inicia em qualquer parte do mundo, pois a globalização não é um fenômeno que deixou nenhuma região do planeta isolada. Parece que esse processo não tem mais volta, e a evangelização, aos moldes paulinos, deve usar todos os mecanismos de comunicação global para ir até aonde se encontram os seres humanos, destinatários primeiros do anúncio do Evangelho. Aliás, o cristianismo, em seu princípio universal, tem parentesco com o princípio global. Quando o amor reinar na terra e for realmente globalizado, o Reino será mais visível em seus sinais.

A nova evangelização

Não podemos aqui ampliar mais o discurso sobre a nova evangelização já que no propósito do artigo tínhamos de dar espaço a Bauman para apresentar o contexto líquido em que a nova evangelização se dá. Tal contexto per se não é empecilho, mas talvez a oportunidade do Evangelho do amor se anunciar. Como Paulo viu em comunidades como Corinto chances onde muitos só viam perdição, também há no líquido mundo moderno possibilidades que em contextos rígidos poderiam não haver.

Cabe, portanto, ouvir o apelo de Jesus a Pedro: faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca (Lc 5,4). É avançando em águas mais profundas que a Igreja realizará a nova evangelização tão propalada neste momento da história. A concepção da necessidade de uma nova evangelização deu-se paulatinamente a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II e deve continuar como o apelo mais central do terceiro milênio da fé cristã.

O quadro cinzento pintado por Bauman é muito importante para que a Igreja não fique na rasura da praia, mas se meta com coragem ao largo do mar da história, pois no contexto líquido é mais fácil navegar e, para quem conhece a locomoção pelas águas, os sólidos podem colocar a nau em perigo de colisão. Se tudo flui, a fé também pode fluir na construção da vida e da paz. Não é o líquido o problema, mas o derretimento sistemático dos sólidos, sem a intenção de criar novos.

Tudo indica que Bauman não errou quando usou a metáfora dos líquidos e fluidos para interpretar a modernidade atual. As velhas estruturas medievais não podiam continuar com suas deformações degeneradas, mas também um mundo caótico, ou seja, só de águas, não traz o contraponto entre sólido e líquido que compõe a beleza do cosmo e, em sentido metafórico, a beleza do humano.

Vamos tratar rapidamente de cinco marcos históricos: (1°) O Concílio Vaticano II (1962-1965). (2°) A exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI (1975). (3°) A exortação apostólica Christifideles laici, de João Paulo II (1988). (4°) As Conclusões da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Santo Domingo (1992).62 (5°) A carta apostólica em forma de motu proprio Ubicunque et semper, de Bento XVI, com a qual se institui o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (2010).

1. O Concílio Vaticano II: Como já foi dito, o embrião da nova evangelização é o Concílio Ecumênico Vaticano II, que, ao olhar para fora, percebeu que a Igreja precisava olhar-se por dentro.

O olhar para fora está estampado numa frase inicial da Constituição Apostólica com a qual é convocado o Concílio Ecumênico Vaticano II: "A Igreja assiste, hoje, uma crise que aflige gravemente a sociedade humana."63 A resposta mais específica a esse olhar é a constituição pastoral Gaudium et spes.64

O olhar por dentro está refletido em outra frase da mesma Constituição: "....a Igreja percebe, de modo mais vivo, o desejo de fortificar a sua fé e de se olhar na própria e maravilhosa unidade..."65 Brotaram daí os outros documentos, cuja meta é ajudar a Igreja a retornar à sua essência missionária, despojando-se de supérfluos e adendos histórico-culturais que se contrapõem à orientação de Jesus aos discípulos em missão, simbolizada nestas palavras: "Não leveis ouro nem prata" (Mt 10,9).

Em outras palavras, a Igreja é convocada a purificar-se para melhor servir ao mundo como sinal do amor de Deus. Esse é o caminho da nova evangelização, que não é feito de exorcismos e anátemas, mas de um diálogo construído no poder sólido e invencível do amor.

2. Exortação apostólica Evangelii nuntiandi: A questão da evangelização foi enfrentada pelo III Sínodo dos Bispos (1974), convocado por Paulo VI, por ocasião dos dez anos do Concílio Vaticano II. Aí colocou três perguntas fundamentais:

O que é feito, em nossos dias, daquela energia escondida da Boa Nova, suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens? Até que ponto e como é que essa força evangélica está em condições de transformar verdadeiramente o homem do nosso século? Quais os métodos que hão de ser seguidos para proclamar o Evangelho de modo que a sua potência possa ser eficaz?66

O título do No. 13 insinua que olhar para fora não e possível sem olhar para dentro, pois uma comunidade evangelizadora tem de ser uma comunidade evangelizada. É preciso remodelar com ousadia e prudência os processos da evangelização.67 Esse apelo mostra claramente que evangelizar sem manter viva a chama do primeiro amor é contraproducente e pode até empanar o testemunho corajoso como foi a o caso da counidade de Efeso (cf. Ap 2,3-4).

3. Exortação apostólica Christifideles laici: O No. 34 traz o título: "Chegou a hora de nos lançarmos numa nova evangelização." E, inicia afirmando:

Países inteiros e nações, onde a religião e a vida cristã foram em tempos tão prósperas e capazes de dar origem a comunidades de fé viva e operosa, encontram-se hoje sujeitos a dura prova, e, por vezes, até são radicalmente transformados pela contínua difusão do indiferentismo, do ateísmo.

Em nossa opinião, o enfraquecimento do cristianismo colabora para que sectarismos se apresentem como religiões que se imponham a partir do clássico conceito de Geertz, descrito por ele mesmo em cinco tópicos. Segundo Geertz, religião é:

(1) Um sistema de símbolos que atua para (2) estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições nos homens através de (3) formulação de conceito de uma ordem de existência geral e (4) vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que (5) as disposições e motivação parecem singularmente realistas.68

Mais à frente, no mesmo número, o Papa diz: "só uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma fé límpida e profunda... "

4. Conclusões de Santo Domingo: De acordo com João Paulo II, a nova evangelização é a ideia central da temática de Santo Domingo.69 As conclusões afirmam que não é uma "reevangelização"70 pois "há um só e único Evangelho"71, e o que caracteriza a evangelização proposta é que ela é nova em seu ardor, nova em seus métodos e nova sua expressão, a fim de "formar pessoas e comunidades maduras na fé e dar respostas à nova situação que vivemos, provocada pelas mudanças sociais e culturais da modernidade".72

5. Carta apostólica Ubicunque et semper73: Bento XVI, preocupado com a descris-tianização e reconhecendo que um bom remédio é a nova evangelização, institui o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, em setembro de 2010.

Dessa forma, a nova evangelização assume um caráter institucional para toda a Igreja. Então o Concílio Vaticano II abriu caminho, Paulo VI plantou as bases, João Paulo colocou em ação, a América Latina assumiu a proposta, Bento XVI instituiu e Francisco abraçou esse caminho urgente para toda a Igreja seguir e incrementar.

É no bojo deste apelo eclesial que devemos nos lançar para águas mais profundas sem medo de navegar. Duc in altum representa a hora da Igreja, porque é a hora de evangelizar com a mesma clareza e a mesma ousadia dos Doze. Lança para águas mais profundas é o apelo de Cristo num mundo líquido; fá-lo sem medo de avançar, porque o amor sempre agirá com a delicadeza de Deus e a coragem da cruz.

O homem é amado por Deus!74

O núcleo do Evangelho é o testemunho do amor do Pai.75 Como já foi dito, João Paulo II afirmou que anunciar ao homem que ele é amado por Deus é o mais simples e o mais comovente anúncio de que a Igreja é devedora.76 Esse núcleo tão simples e, ao mesmo tempo, tão contundente é a resposta que o mistério pascal dá à sede de amor que todo ser humano carrega em toda a extensão da vida.

A nós parece que o ser humano ou o pós-humano, como se define por vários autores de algumas décadas para cá, o homem hibrido, de carne e osso e chips, sempre será sensível ao amor. O amor é o último bastião que pode determinar se a raça humana ainda existe depois de todas as mudanças da história.

Quando não houver mais nenhum tipo de sentimento, então talvez se possa dizer que a raça acabou. Mas enquanto isso, há espaços enormes e brechas largas para que o amor de Deus seja veiculado no pensamento e na vida das pessoas. Portanto o tempo em que vivemos é um tempo de abertura para a fé, talvez um tempo que nunca foi tão propício para se anunciar que o amor é o único caminho para salvar a raça humana. Jesus de Nazaré também encontrou em seu tempo um mundo em transição e soube dar a reposta para se achar o caminho seguro em meio ao caos da dominação e da desordem institucional.

A globalização pode globalizar também o amor de Deus, se soubermos anunciá-lo, mostrando sua força de libertação. Esta é a grande tarefa das Igrejas, cujo papel histórico poderá ser cobrado no futuro. A teologia, cuidando do aspecto interdisciplinar e não tendo medo de abordar o ser humano com o auxílio de outras ciências, terá uma voz muito mais ativa do que até então.

Contrapondo à fragilidade do amor humano na modernidade líquida, vem em socorro a solidez do amor divino, que, segundo Xavier Zubiri tem consistência metafísica.77 O termo ágape no Novo Testamento assevera que o amor de Deus tem "consistência de ser" (metafísica) e nos dá condições de nele "permanecermos". Nisso insistem tenazmente João (Jo 3,31; 10,17; 15,9; 17,23-16; 1Jo 4; 8,16) e Paulo (2Cor 13,11; Ef 1,6; Cl 1,31). Portanto o amor divino é concreto e real e tem de ser anunciado como dom que transforma os ser humano em nova criatura.78

Para isso o amor de Deus precisa ser assimilado pelo aparelho psíquico-afetivo, a fim de por em andamento aquele movimento que tira a pessoa da solidão fustigada pela carência afetiva, agora agravada no contexto líquido atual. Nas condições normais, quando alguma coisa era sólida, o amor humano sempre dependeu de uma série de satisfações mutáveis que fazem parte da natureza humana.

Bauman reconhece que o mandamento do amor dado por Jesus Cristo contraria a natureza humana79, pois o amor ao próximo desafia os instintos da natureza.80 Por isso ele mesmo propõe um salto de fé. Agora, na modernidade líquida, a satisfação buscada no consumo imediato muda de cor a cada dia. Então a capacidade de amar tornou-se ainda mais difícil. O amor se fez líquido.

A solução salvífica que Deus ofereceu ao homem é eficaz o bastante para contemplar esta realidade líquida que Bauman aponta com tanta competência. Paulo diz que Deus Pai "nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade, para o louvor da sua graça com a qual nos agraciou no Amado" (Ef 1,5).

Trata-se de uma solução trinitária que, de forma geral pode ser explicitada assim: o Amado é o Filho; o que ama é o Pai; o que dá a consistência e o movimento do amor é o Espírito Santo.81 Portanto, a filiação adotiva nos coloca no seio da Trindade, tendo como único caminho a inserção em Jesus Cristo, inserção comparada por João com o enxerto do galho no tronco (Jo 15,1-8). A metáfora sugere que se trata de algo perene e que exige a inteireza do ser: corpo, espírito e mente. Edith Stein diz algo muito parecido com a afirmação acima:

O Redentor e todos os que aderem a ele, tal como ele pede, se une com eles em unidade de vida, como estão a cabeça e os membros de um corpo, como o estão a videira e os ramos. Este incorporar-se a Cristo significa para os homens um novo nascimento. Não só não lhes imputa externamente nenhuma culpa, mas também são transformados internamente. A força de Cristo flui em suas almas como um novo manancial de vida.82

Conforme a Evangelii nuntiandi, o conteúdo essencial da "Boa-Nova" é o testemunho dado do amor do Pai. Há dois elementos aí que constituem o peso teológico da missão: (1) Na Trindade somente o Pai é a fonte do amor, pois o amor de Cristo é resposta ao amor eterno e gerador do Pai. (2) A inserção do ser humano em Deus tem de ser trinitária, isto é, mediada por Cristo, o Amado, na força do Espírito. Essa inserção nos permite saborear já aqui na terra o mesmo sentimento de Cristo, ou seja, o sentimento de ser amado.

Enquantoo enxerto espiritual não for capaz de, por meio de uma eficaz evangelização, propiciar a cada pessoa o sentimento de ser profundamente amada por Deus Pai, a sede de consumo no mundo líquido atual devorará a pessoa e estrangulará as estruturas sociais, antes estáveis, criando cada vez mais o caos. Por isso a nova evangel ização tem de ser sólida em clareza, em conteúdo e em capacidade de provocar adesão. Tem de ser abraçada por todos os cristãos e não só pelo clero:

Nesta hora da nova evangelização, compete ao leigo arregaçar as mangas e tomar para si a missão da Igreja. Mas para isso é necessário que haja uma maturidade que só se consegue quando o sacerdócio universal for revitalizado. A nosso ver seria o primeiro passo para se deslanchar a nova evangelização.83

A revitalização do sacerdócio universal deve promover toda a assembleia como sujeito litúrgico, pois diz a constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia que "toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo, a Igreja, é ação sagrada num sentido único..."84 Uma assembleia sacerdotal corresponde à eclesiologia que Fontbona identifica no século IV, quando segundo ele, os termos sacerdote e sacerdócio se aplicavam em sentido estrito a Cristo e, por participação ao conjunto do povo de Deus.85 Só assim se pode descobrir "a beleza da santidade", na qual o amor pela terra faz parte do culto e sacramentalidade do meio ambiente, como dizia Maraschin, hoje participante da liturgia celeste.86

Ou o homem se entrega por inteiro ou será um pagão com verniz de cristão. Como diz Castillo, "se Deus é Deus e o homem e homem, o lógico é que o homem se subordine a Deus em tudo, inclusive na imolação da própria vida de tal forma que os propósitos de Deus, inclusive os mínimos, se cumpram rigorosamente".87 Foi assim que o cristianismo entrou na cultura grego-romana e capturou com seu anúncio dialógico todos o que buscavam uma vida nova que lhes desse sentido, finalidade e alegria de viver.

De muitos lados estão chegando preocupações que cofirmam o pensamento de Bauman. Richard Sennet faz um paralelo económico das duas fases da modernidade em Bauman com a terminologia: capitalismo rígido e capitalismo flexível. A passagem de um para o outro tem como efeito o título de uma das suas obras recentes: A corrosão do caráter: desaparecimento das virtudes com o novo capitalismo.88

Em outra obra o mesmo autor faz uma afirmação que condiz com o que diz acima: "...a sociedade moderna esta 'desabilitando' as pessoas da prática da coope-ração."89 Diríamos que se deve buscar uma cooperação tão profunda que atinja o princípio constitutivo do ser humano, que a deificação seja a base para a antropologia, como gosta de dizer a teologia oriental, segundo a qual quando o homem passa pelas águas batismais, "a inteligência humana participa da inteligência de Cristo".90

A nova evangelização não pleiteará os antigos moldes culturais e económicos que engessavam a agilidade. Ao contrário, saberá aproveitar da atual mobilidade para sedimentar o lado humano da vida, por meio da vivência do amor de Deus, como Paul o soube percorrer as vias romanas, que constituíam a única mobilidade num tempo distante da internet.

O tema é muito complexo, e este artigo apenas apontou para questão, que terá enormes desdobramentos futuros. Mas é preciso ousar. Temos consciência de não termos dado apontamentos teológicos abundantes e pontuais. Essa é a tarefa que se impõe daqui para frente. Outras análises do mundo contemporâneo poderão ser feitas e, quem sabe, com mais acuidade.

No entanto, Bauman nos ajudou a continuar o exercício incansável da hermenêutica da história que vivemos hoje. É uma realidade complexa e desafiante, mas nem por isso, impossível de ser interpretada. Nossa intenção é fazer do discurso teológico uma proposta dialógica interessante, com capacidade incisiva de oferecer uma contribuição específica. O salto para fé é um desafio que não pode ser intimidado por aqueles que consideram a fé algo de cunho privado.

Jesus de Nazaré continua, por meio de seus discípulos, a ocupar as praças e os areópagos da modernidade líquida para anunciar o amor de Deus como tabua de salvação. Amor que dura quanto o sol, parafraseando pensamentos dos salmos. Não é imposição, mas proposição, gesto contundente de amor e de carinho pela raça humana e pelo cosmo, onde se espalham os sinais do Criador.

Considerações finais

Para compreendermos o contexto em que a nova evangelização tem de ser anunciada, recorremos ao pensamento de Bauman, segundo o qual, houve uma ruptura no processo da modernidade, criando duas fases distintas: a primeira é chamada por ele de modernidade sólida, e a segunda de modernidade líquida.

O processo moderno tinha como meta derreter todos os sólidos distorcidos pela cultura medieval e instaurar outros sólidos mais perfeitos e duráveis. Mas houve um desvio fatal: em função do consumo, decidiu-se não permitir mais que haja sólido algum (daí modernidade líquida), pois no contexto líquido o consumo pode ser explorado ao extremo. Foi neste ponto que uma mudança de era estabeleceu um futuro incerto e um presente tenso. O que será do planeta e do homem daqui a algumas décadas, se o nível de consumo continuar no mesmo ritmo? Se, por outro lado, os recursos escassearem, e o homem fissurado no consumo, sem algo mais substancial que satisfaça o seu ser, vai continuar em crise?

De qualquer forma, nada mais é feito para durar, e todo ser humano, exceto os enigmáticos articuladores da modernidade líquida, é consumista e não produtor. Porém isso afetou não só a natureza cósmica, colocando em crise a sustentabilidade do planeta, mas também a vida humana. Uma das consequências é que amor se fez líquido, deixando as relações humanas totalmente fragilizadas pelo medo do futuro, do estranho, da solidão, de ser deixado para trás.

Daí o ímpeto de derreter as relações o mais rápido possível para não se perder a chance de se adquirirem novas e mais gratificantes. A falta de relações profundas e confiáveis criou uma situação de fronteira dentro de casa, pois o outro é como um estranho ou um estrangeiro das alfândegas estatais. A família não tem mais aquela segurança entre os seus. Fatos abundantes e divulgados mundialmente mostram que mesmo dentro de casa se vive em situação de fronteira.

Por conta disso, aumentam-se os problemas dentro da família e, na sociedade, a criminalidade avança, e nenhuma solução que não seja global pode dar resultado.

É nesta situação que a Igreja propõe uma nova evangelização. Mas se não considerar o contexto global descrito por Bauman como modernidade líquida, ou por outros autores, com outros adjetivos, estará navegando em liquido e pensando que pisa chão sólido. Bauman diz que "à medida que avança a sociedade líquido-moderna com seu consumismo endêmico, mártires e heróis vão batendo em retirada".91

Os mártires da velha escola estavam prontos para entregarem a vida e sofrer, mas nunca para fazerem os outros sofrer. O martírio na nova evangelização é muito diferente do martírio líquido, que também leva à entrega da vida, mas pouco importa se centenas de inocentes forem ceifadas no roldão das presumíveis causas justas. O cristianismo será sempre o caminho de solidariedade no qual o morrer poderá estar na pauta das grandes causas do amor. Entre essas causas, o Calvário é o memorial mais célebre por ter sido o topo da colina que alojou a cruz de Cristo.

Portanto amor e sacrifício se integram no pleito de salvar vidas e criar condições mais humanas na terra. Nesse sentido evangelizar é também humanizar, o que implica infundir coragem de viver e a alegria de ser cristão empenhado na construção da paz.

Portanto a nova evangelização tem de ser duplamente sólida e profundamente consistente. O cristianismo terá de ser realmente bem iniciado, fazendo um resgate do ser humano no sentido mais profundo do termo. Nesse caso, o Cristo é a tábua de salvação a que os náufragos poderão se agarrar. O amor universal será um amor globalizado como o sonho das origens.

Talvez, falando de nossa realidade latino-americana, não fossem as evangelizações apressadas que se fizeram, poderíamos nos fiar nos valores que o Evangelho plantou com intenção de durar. Porém é preciso retomar a evangelização com muita urgência. Anunciar esses valores hoje é assumir o entusiasmo das origens e mostrar a solidez das propostas cristãs em meio a um mundo líquido. Isso implicar em retomar o kerigma com força total, dialogando com as culturas e dando chances de florescerem todas as sementes do reino que estão em todas as culturas.

Mas se estão líquidas as culturas, temos um problema a ser enfrentado, problema que esse artigo apenas coloca em pauta para ser discutido e aprofundado. Talvez esta seja a hora mais preciosa para a evangelização, pois como já foi dito, qualquer solidez que se apresente em ambiente caótico pode ser como a tábua a que o náufrago se agarra na hora do perigo e do medo. Em busca de uma mínima estabilidade, as pessoas no mundo líquido moderno visivelmente estão.

Há um anúncio de Deus que se apresenta como esperança de solução, mostrando uma direção dada pelo amor, que, uma vez concebido e acatado, pode ser colocado em prática imediatamente. É essa dimensão pastoral que faz do aqui e agora a hora de Deus e a hora do humano. A fragilidade das relações atuais pode também significar uma abertura para a solidez do Evangelho, desde que anunciado em sua totalidade e verdade.

Encerramos de forma positiva, vendo chances onde outros podem só ver dificuldades. Talvez seja o momento mais precioso para o Evangelho e não podemos deixar que a hora da graça passe despercebida. O homem fragilizado é o homem capaz de pedir ajuda. Porém é preciso que mãos sejam estendidas em sinal de ajuda. As mãos de Deus estão especialmente estendidas desde que o seu Filho estendeu os braços na cruz para abraçar o mundo e redimir toda a humanidade. Por isso o Cristo tem de ser invocado para que o amor do Pai chegue ao coração dos filhos.

Mas como poderiam invocar aquele em quem não creram? E como poderiam crer naquele que não ouviram? E como poderiam ouvir sem pregador? E como poderiam pregar se não forem enviados? Conforme está escrito: Quão maravilhosos são os pés dos que anunciam boas noticias. (Rm 10,14-15).

Aos náufragos não há melhor notícia do que aquela que o Evangelho traz como tábua de salvação e conforto contra o medo e a insegurança do momento presente.


Rodapé

1João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Christifideles laici sobre vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, No. 34.
2Jeanrond, Teología del amor, 48-49.
3Terrin, Antropologia e horizontes do sagrado: cultura e religiões, 233.
4Autores como Santaella adotaram a linguagem do "pós-humano" para expressar a realidade atual, na qual o corpo é construído como parte de um circuito integrado de informação de matéria que inclui componentes humano e não humanos, como chips, bits, junto com tecidos orgânicos, carne e osso (Santaella, Linguagens líquidas na era da mobilidade, 39).
5Ibid., 14.
6Idem, Cultura e artes dopós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura, 145.
7Idem, Linguagens líquidas na era da mobilidade, 15.
8Bauman, Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
9Idem, Modernidade líquida, 8.
10Idem, A cultura no mundo líquido-moderno, 16.
11Antes de 2000, quando se dá a virada terminológica de Bauman, o último livro em que ainda usou no título a expressão pós-modernidade foi Pstmodernity and its Discontens, publicado por Polity Press de Cambridge, Inglaterra, em 1997. Em 1993 já tinha escrito Postmodern ethics, publicado no Brasil pela primeira em 1997 (Ética pós-moderna).
12Bauman, A cultura no mundo líquido moderno, 16.
13Vide Nota 3.
14Bauman, A cultura no mundo líquido moderno, 16.
15Ibid., 18.
16Ibid., 17.
17Ibid., 53.
18Ibid., 55.
19Constant, Le multiculturalisme, 89, citado por Bauman, A cultura no mundo líquido moderno, 58.
20Idem, Medo liquido, 118.
21Idem, A cultura no mundo líquido moderno, 48.
22Idem, Medo liquido, 126.
23Ibid., 126.
24Ibid., 128.
25Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Acnur, há entre 13 a 18 milhões de vítimas de deslocamento forçado. Cf. Bauman, Amor líquido, 164.
26Idem, A cultura no mundo líquido moderno, 43.
27Ibid., 44.
28Ibid., 32.
29Ibid., 32.
30Ibid., 32.
31Ibid., 47.
32Ibid., 17.
33Idem, Modernidade líquida.
34Santaella, Linguagens líquidas na era da mobilidade, 13.
35"Interrupção, incoerência, surpresa são condições comuns de nossa vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais para muitas pessoas, cujas mentes deixaram de ser alimentadas... por outra coisa que não as mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados... Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que tédio dê frutos..." (Bauman, Modernidade líquida, 7).
36Ibid., 7.
37Ibid., 29.
38Idem, Amor líquido, 20.
39Ibid., 19.
40"A única forma de incluir os 'desconhecidos' em um 'nós' era reuni-los como potenciais parceiros em rituais confessionais, tendentes a nivela um 'interior' (e portanto familiar), quando pressionados a compartilhar suas intimidades sinceras." (Bauman, Amor líquido, 49).
41Ibid., 19.
42Ibid., 19.
43Ibid., 20.
44Ibid., 20.
45Ibid., 26.
46Ibid., 56.
47Ibid., 64.
48Ibid., 65.
49Ibid., 66; 69.
50Ibid., 84.
51Ibid., 91.
52Ibid., 98.
53Ibid., 99.
54Ibid., 98.
55Ibid., 100.
56Ibid., 113.
57Ibid., 117.
58Ibid., 118.
59Ibid., 134-135.
60Ibid., 136.
61Ibid., 139.
62Celam, IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.
63João XXIII. "Constituição Apostólica com a qual é convocado o Concílio Ecuménico Vaticano II", 9.
64Concílio Ecuménico Vaticano II, "Constituição pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje", 539-662.
65João XXIII, "Constituição apostólica com a qual é convocado o Concílio Ecumênico Vaticano II", 12.
66Paulo VI, "Exortação apostólica Evangelii nuntiandi sobre a evangelização no mundo contemporáneo", No. 4.
67Ibid., No. 40.
68Geertz, A interpretação das culturas, 104-105.
69João Paulo II, "Discurso Inaugural da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano", No. 6.
70Celam, IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. Santo Domingo conclusões, No. 24.
71Ibid.
72Ibid., No. 26.
73Bento XVI, "Carta apostólica Ubicunque et sempre com a qual se institui o Pontifício Conselho para a promoção da nova evangelização, 2010", Vatican, http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_letters/documents/hf_ben-xvi_apl_20100921_ubicumque-et-semper_po.html (acesso em 20 de julho de 2014).
74João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Christifideles laici sobre vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, No. 34.
75Paulo VI, "Exortação apostólica Evangelii nuntiandi sobre a evangelização no mundo contemporâneo", No. 26.
76João Paulo II, Exortação apostólica pós-sinodal Christifideles laici sobre vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, No. 34.
77Xubiri, Naturaleza historia, Dios, 463-464.
78"Se alguém está em Cristo é uma nova criatura" (2Cor, 5,17).
79Bauman, Amor líquido, 98.
80Ibid., 99.
81Para aprofundar esta equação trinitária, ler Costa, O amor de Deus: Teologia da redenção,.
82Stein, El Dios-hombre. Obras completas IV. Escritos antropológicos y pedagógicos, 849 (tradução livre).
83Costa, "Sacerdócio real: promessa e profecía", 296.
84Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia, 13.
85Fontbona, Ministério de comunión, 26.
86Maraschin, A beleza da santidade: ensaios de liturgia, 67.
87Castillo, La ética de Cristo, 81-82 (a tradução é livre).
88Sennett, A corrosão do caráter: o desaparecimento das virtudes com o novo capitalismo.
89Idem, Juntos, 19.
90Evdokimov, üortodossia, 15.
91Bauman, Vida líquida, 64.


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