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Universitas Humanística

versão impressa ISSN 0120-4807

univ.humanist.  no.78 Bogotá jul./dez. 2014

 

APRESENTAÇÃO

Sob a nominação de Feminismos Dissidentes, o número 78 da Revista Universitas Humanística recolhe reflexões e inquirições de teorias e práticas feministas que emergem como resposta às propostas do feminismo branco, heterossexual e ocidental hegemónico. Nestas páginas reúnem-se pensadoras e pensadores que desde os feminismos queer, pós-coloniais, chicanos, lésbicos, anárquicos, antissistêmicos e pretos, entre muitos outros, encontram-se indagando reflexiva, locada e/ ou performaticamente desde linguagens e formas de pesquisa alternativas, para a compreensão de problemáticas sociais contemporâneas.

Um dos objetivos centrais deste número é apresentar um panorama amplo do papel que as discussões e reflexões feministas dissidentes tiveram na reconfiguração da teoria e a pesquisa social contemporânea. Para isso e no acompanhamento de Liliana Vargas Monroy e Marta Cabrera, editoras convidadas neste número especial, é que apresentamos aqui onze contribuições que provém de variegados lugares (Francia, México, Argentina, Colómbia, Chile e o Brasil) e que estão a dar conta da diversidade de trajetórias investigativas do campo em questão, quer desde as discussões teóricas, quer desde as pesquisas concluídas ou os estudos de caso.

Abrimos este número com uma discussão teórica das nossas editoras convidadas sobre os estudos feministas em geral e o que podemos chamar de feminismos dissidentes em tensão com os estudos de gênero mais tradicionais. Na nossa seção de Controvérsia contamos com quatro contribuições que estendem este preâmbulo teórico proposto por Cabrera e Vargas Monroy. Em primeiro lugar, o trabalho de Jules Falquet que faz revisão exaustiva da história do feminismo autónomo latino-americano e do Caribe, assinalando seus ícones mais destacados e relevando, tanto seus princípios políticos quanto seus postulados teóricos. Ao mesmo tempo, Falquet aborda a nomeação, no sentido feminista de visibilizar às mais sobressalientes militantes e teóricas feministas autónomas desde a década de 1980 até hoje. Posteriormente temos o artigo de Sayak Valencia Triana desde o que são analisados os impactos do narcotráfico, o crime e a violência na reconfiguração política, social e económica de México desde a ótica do transfeminismo.

Em terceiro lugar está a contribuição de Luciano Fabbri que foca em mostrar os limites androcêntricos da crítica descolonial. Para isso, apela a Lugones e sua reflexão sobre o conceito patriarcal de gênero na teoria de Quijano, e a Federici para remarcar o vínculo da acumulação originaria com o disciplinamento do corpo feminino. O último trabalho desta seção é de Aurora Vergara Figueroa e Katherine Arboleda Hurtado no qual, a partir da descrição de um acontecimento particular na Colômbia -o Seminário "Conspiración Feminista Afro-diaspórica" (Conspiracao Feminista Afrodiaspórica)-, indaga-se sobre as possibilidades de pensar o concepto do feminismo Afrodiaspórico como categoria de análise e mobilização de uma agenda de trabalho, com a participação da academia, comunidades e organizações de mulheres afrodescendentes.

Na seção Horizontes tem outras quatro contribuições que dizem respeito de trabalhos de pesquisa desde os que colocam-se as reflexões dos feminismos dissidentes. Iniciamos com o trabalho de Camila Esguerra-Muelle que trata um tema pouco estudado em torno da diversidade sexual no fato migratório, neste caso o das mulheres lésbicas latino-americanas residentes na Espanha. A segunda contribuição desta seção é de Amandine Delord e Angélica María Gómez Medina que questionam a neutralidade de quem pesquisa, assumindo diversas posições nas relações de poder durante o trabalho de campo. Esta reflexão parte de análise de duas etnografias com mulheres na Colômbia.

Em seguida está o trabalho de Svenska Arensburg e Elizabeth Lewin, uma reflexão crítica em torno das formas em que a violência doméstica é compreendida, em especial, as noções de vítima/vitimiza-ção. A crítica principal deste trabalho trata de como é que este conceito, construído desde adentro da matriz ideológica sexista imperante na sociedade atual, tem configurado formas de intervenção altamente tecnificadas que se afastam de uma compreensão integral das causas ideológico-culturais da violência entre os casais. Fechamos a seção com a contribuição de Paula Iadevito quem apresenta o estado da arte no tema das teorias de gênero em relação com as teorias cinematográficas e como foi sua evolução desde a década de 1970 até hoje.

Na seção Otras Voces contamos com o trabalho de Jaqueline Gomes de Jesus que discute o surgimento e crescimento do transfeminismo no Brasil no âmbito, tanto teórico como político. Por seu lado, na seção Investigación Jóven, fechamos este monográfico com dois trabalhos. Em primeiro lugar, o artigo de Lucía Seguer que resume as contribuições teóricas sobre questões de sexualidades e normatividade nos contextos estadunidense e israelense-palestino, isto com o objetivo de sugerir seu valor para pensar questiones de sexualidades e nação no contexto latino-americano. Por fim, está a contribuição coletiva de Rocio Angélico, Violeta Dikenstein, Sabrina Fischberg e Florencia Maffeo que explora o fenômeno do feminicídio e a violência de género na imprensa argentina com a análise de quatro jornais publicados no ano 2012. O artigo analisa as vozes dos implicados nos femi-nicídios, tanto os agressores como a justiça, as vítimas e os parentes.

Além destes onze artigos que compõem o nosso espaço monográfico, temos também a resenha de Antar Martínez-Guzmán do livro "La carne y la metáfora: Una reflexión sobre el cuerpo en la teoría queer' (Carne e metáfora: Reflexão sobre o corpo na teoria queer) de Gerard Coll-Planas. Por sua parte, no nosso Espacio Abierto retomamos as discussões de nosso número 77 sobre Questões Raciais e construção de nação com o trabalho de Adriana Espinosa Bonilla. Nesta contribuição é abordada uma problemática de grande interesse como é a relação das Comunidades Negras com o Estado. Na Colômbia o tema é de atualidade notável, embora seja interessante também para leitores de outras nacionalidades interessados na relação entre movimentos sociais e Estado. A principal fortaleça do artigo radica no intento que Bonilla Espinosa faz de misturar uma perspectiva histórica-filosófica com uma vertente da perspectiva analítica referida à ação coletiva.

Como sempre, este esforço editorial está hoje em suas mãos; agradecemos vocês curtirem, desfrutarem, aproveitarem, discutirem e puserem em circulação.

Tania Pérez-Bustos Editora