APRESENTAÇÃO

O dossiê do número 81 da revista Universitas Humanística visou cole-tar reflexões teóricas críticas e estudos de caso que investigaram sobre o papel de processos comunicativos no agenciamento de mudancas sociais. Tais transformações foram entendidas em um sentido ampio, incluindo todo nuance possível entre mobilizações e intervenções tendentes a problematizar e desestabilizar o status-quo, como iniciativas que transgredem a ordem social com objetivos reacionários tanto quanto opressores.

Junto com Claudia Magallanes-Blanco e Juan Carlos Valencia como editores convidados, visamos contribuir com este número para o pensar as formas em que práticas comunicativas diversas (mediáticas ou não), as plataformas que as dinamizam e sua montagem tecnológica são geridas, assim como as relações de poder que as ancoram e, ao mesmo tempo, propiciam. Interessava-nos que esta chamada convocasse, por um lado, enfoques teóricos desde os estudos sociais e culturais que problematizassem ideias de diálogo, participação e transformação social que são a base de processos comunicativos em torno de uma diversidade de cenários e problemáticas, e, por outro, estudos de caso que documentassem e analisassem criticamente iniciativas concretas nas que a comunicação fosse pensada e entretecida de forma criativa por atores diversos, locados em áreas rurais ou urbanas, que usaram tecnologias digitais ou analógicas para reconfigurar seus capitais sociais, geraram ligares com outros atores e a forma como repensaram ou reafirmaram suas corporeidades, seus entornos cotidianos e seu territôrio expressivo. Este número especial abre com um artigo dos nossos editores convidados, que elaboram sobre os artigos que compoem as nossas seções Horizontes, Controversia, Otras voces e Investigación Joven.

Além deste espaco monográfico titulado Prácticas Comunicativas, Creatividad y Nuevos Desafíos, nosso número 81 traz quatro artigos no seu Espacio abierto. Em primeiro lugar, o trabalho de Andrés Felipe Valderrama Pineda. Esta contribuição aborda um tema interessante para as reflexões já abertas no nosso número 76 sobre estudos sociais da ciencia e tecnologia: a inclusão e exclusão de atores no desenvolvimento de tecnologia. Especificamente, foca-se em dar conta disso no cruzamento de duas arenas: o transporte urbano e a acessibilidade de pessoas com deficiencia. O caso abordado é muito interessante e mostra como é que um sistema tecnológico pode ser configurado nao apenas por um coletivo, senao por individuos que podem articular de maneira apropriada certas condições sem estar organizados.

O segundo artigo neste Espacio abierto é de Amurabi Oliveira, quem continua com algumas das discussões colocadas no nosso número 77 sobre questões raciais e construção de nação. Nesta contribuição, Oliveira foca no autor bem reconhecido e discutido no campo das ciencias sociais brasileiras, Freyre, e traz argumento que singra na contracorrente das leituras comuns da sua obra: a suposta criação do imaginário da democracia racial. A contribuição deste texto está na articulação que Oliveira faz entre as re-flexões de Freyre sobre desigualdade racial no Brasil e o cenário do ensino.

O terceiro artigo do nosso Espacio abierto é uma contribuição de Maria José Magliano, que se estende a algumas das ideias de nossos números 78 e 79 sobre feminismos dissidentes. No seu texto, ela aborda as relações entre experiencia laboral e identidade masculina de jovens migrantes peruanos em um contexto de feminização do seu oficio na industria da confecção na cidade de destino (Buenos Aires). Este artigo é inovador na medida em que traz para o centro da análise, no debate sobre a indústria da confecção, a pergunta pelas identidades masculinas, e na que matiza tal pergunta a partir da literatura sobre a intersecionalidade.

Este número 81 fecha com o artigo de Nadia Margarita Rodríguez, J. no que é abordado um tema importante sobre a pesquisa em Ciencias Sociais: a tensão entre pesquisa académica e pesquisa aplicada. Rodríguez J. levanta a necessidade de estender o debate crítico sobre o papel das/dos profissionais e científicos sociais em diferentes disciplinas e cenários de reflexão no interior e por fora do país.

Como habitual, este esforco editorial é agora nas suas mãos e esperamos os leitores curtirem, aproveitarem, discutirem, alavancarem e colocarem a circular.

Tania Pérez-Bustos
Editora