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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.1 Medellín Jan./Apr. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Possibilidades de conciliar o trabalho com as necessidades familiares

 

Posibilidades de conciliar el trabajo con las necesidades familiares

 

 

Leticia Silveira Cardoso1; Marta Regina Cezar Vaz2; Mara Regina Santos da Silva3

 

1 Enfermeira, Doutoranda, Professora, Universidade da Região da Campanha/Bagé, Brazil. email: lsc_enf@yahoo.com.br.

2 Enfermeira, Doutora, Professora, Universidade Federal do Rio Grande -FURG-, Brazil. email: cezarvaz@vetorial.net.

3 Enfermeira, Doutora, Professora, FURG, Brazil. email: marare@brturbo.com.br.

 

Fecha de Recibido: 26 de febrero de 2012. Fecha de Aprobado:15 de mayo de 2012.

 

Subvenciones: Ninguna.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: . Cardoso LS, Cezar-Vaz MR, Silva MRS. Possibilities for conciliating work with family needs. Invest Educ Enferm. 2013;31(1): 78 - 85.

 


RESUMO

Objetivo. Identificar as possibilidades de conciliar o trabalho com a vida familiar. Metodologia. Estudo quantitativo descritivo realizado em 2008. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista estruturada a 92 casais que residiam no município de Rio Grande/RS que cumprissem com os critérios de inclusão: inserção de ambos membros no mercado trabalhista, ter ao menos um filho menor de sete anos e assinar o consentimento livre e informado. Resultados. A possibilidade de trabalhar tempo parcial por razões familiares apresentou diferença entre mães e pais, para elas é uma alternativa possível, para eles não. A flexibilidade no cumprimento do ônus horário diária sem grande antecipação na solicitação ao empregador foi viável para ambos, quando a motivação estava relacionada com a saúde dos filhos. Os casais indicaram que não se tinham em conta pelos empregadores as prioridades para as famílias com crianças de poder dispor dos dias festivos e de apoio para a assistência das necessidades dos filhos. As renúncias, comunicadas sem grande antecipação por motivos de saúde dos filhos, são possíveis para as mães e os pais. Conclusão. Existem dificuldades no apoio que brindam as instituições empregadoras aos trabalhadores que têm necessidades familiares, em particular as relacionadas com o atendimento e cuidado com seus filhos.

Palavras chaves: disciplina no trabalho; relações familiares; enfermagem; relações pais-filho.


ABSTRACT

Objective. To identify the possibilities for conciliating work with family life. Method. Quantitative, descriptive study undertaken in 2008. Data was collected through structured interviews with 92 couples residing in a municipality in Rio Grande/RS who complied with the inclusion criteria: insertion of both members in the job market, having at least one child under seven years of age, and signing the terms of free and informed consent. Results. The possibility of working part-time for family reasons presented a difference between mothers and fathers; for the former it is a possible alternative, and for the latter, not. Flexibility in carrying out the daily hourly workload without having requested permission to the employer much time in advance was viable for both, when the reason was related to the health of their children. The couples indicated that employers did not take into account priorities for families with children to be free on holidays and have days available to see to the children's needs. Resignations, communicated not much in advance due to child health reasons, are possible for the mothers and fathers. Conclusion. There are difficulties in the support which employing institutions provide to the workers who have family needs, in particular those related to attention and care for their children.

Key words: employee discipline; family relations; nursing; parent-child relations.


RESUMEN

Objetivo. Identificar las posibilidades de conciliar el trabajo con la vida familiar. Metodologia. Estudio cuantitativo descriptivo realizado en 2008. Los datos fueron recolectados mediante una entrevista estructurada a 92 parejas residentes en el municipio de Rio Grande/RS que cumplieran con los criterios de inclusión: inserción de ambos miembros en el mercado laboral, tener al menos un hijo menor de siete años y firmar el consentimiento libre e informado. Resultados. La posibilidad de trabajar tiempo parcial por razones familiares presentó diferencia entre madres y padres: para ellas es una alternativa posible; para ellos, no. La flexibilidad en el cumplimento de la carga horaria diaria sin gran anticipación en la solicitud al empleador fue viable para ambos cuando la motivación estaba relacionada con la salud de los hijos. Las parejas indicaron que los empleadores no tenían en cuenta las prioridades de las familias con niños para, por un lado, poder disponer de los días festivos y, por otro, para apoyar la asistencia de las necesidades de los hijos. Las renuncias, comunicadas sin anticipación por motivo de salud de los hijos, son posibles para las madres y los padres. Conclusión. Existen dificultades en el apoyo que brindan las instituciones empleadoras a los trabajadores que tienen necesidades familiares, en particular las relacionadas con la atención y cuidado de sus hijos.

Palabras clave: disciplina laboral; relaciones familiares; enfermería; relaciones padres-hijo


 

 

INTRODUÇÃO

O presente estudo está construído a partir do interesse em relacionar-se a organização do trabalho com a vida familiar na perspectiva de casais com filhos, que se encontram no período de recém-nascidos a pré-escolares. Para tanto, expõe-se o trabalho como um exercício à dignidade dos indivíduos.1,2 A dignidade referida traduz-se em um direito constitucional brasileiro implicado nos mais diferentes ambientes desde o de trabalho até o familiar.3 Destaca-se que a família como uma instituição de direitos antecede a organização do trabalho na sociedade brasileira.4 De modo que, a família está determinada e determina o movimento dos indivíduos no decorrer do processo histórico que consolida as mudanças sociais5 e sua própria identidade como instituição representativa de uma coletividade ou de um indivíduo.3

A família como uma instituição na contemporaneidade resguarda a privatividade das interações produzidas no ambiente físico que congrega o cotidiano das ações de entre seus membros, salvaguardando, assim, a autonomia na perspectiva de sua intimidade domiciliar.2 Nesta direção o ambiente físico constitui-se em uma característica significativa para se definir instituição familiar por evidenciar a estrutura que protege a intimidade dos indivíduos que ocupam este espaço. Além disto, as interações confluentes neste ambiente permitem identificar os papéis dos diferentes membros seja em uma família nuclear, construída por um casal e seus filhos, seja em uma família ampliada com a qual convivem parentes, especialmente os pais maternos.6 A existência dos papéis dos diferentes membros da instituição familiar independe dos laços, que unem os seus membros, serem biológicos-sanguíneos ou sociais-afetivos em relação à responsabilidade para com a educação e a saúde dos filhos.7

Esta responsabilidade transpassa os limites, explícitos, presentes nas interações dos membros de uma instituição familiar, de modo que, se tornam compreensíveis a partir do conhecimento dos rituais e das rotinas familiares, limites implícitos. Os rituais caracterizam-se por situações pontuais e periódicas que podem estar atreladas a fase em que se encontram algum membro da instituição familiar no ciclo vital, como por exemplo, filho em idade pré-escolar, e as rotinas atrelam-se as ações diárias dos membros da instituição familiar como o deslocamento dos filhos para a escola, os horários para a alimentação,8 entre outras ações destinadas a manutenção da condição humana social. A condição humana dos membros da instituição familiar impõe a conciliação do trabalho, como fonte de recursos econômicos, e das rotinas familiares, como modo de manter a sobrevivência e a interação familiar. Com base no contexto apresentado, o presente estudo foi construído para identificar na organização do trabalho, as possibilidades de conciliá-lo com a vida familiar para casais com filhos até seis anos de idade. Diferencia-se por buscar a reciprocidade das condições de trabalho, ou seja, por ter seu foco no ambiente de trabalho e não no familiar.

 

METODOLOGIA

Pesquisa exploratório-descritiva que se insere no macroprojeto: 'Vida familiar e profissional - entre as responsabilidades e as demandas enfrentadas pelos pais na sociedade contemporânea'.9 A origem deste situa-se no trabalho de um grupo de pesquisadores da Universidade do Porto/Portugal e que abrange outros grupos de diferentes países, incluindo o Brasil. O município de Rio Grande/RS configurou-se em cenário brasileiro deste macroprojeto pela investigação amostral de 92 casais a respeito da conciliação entre vida familiar e profissional de casais com filhos com idade até seis anos. Os critérios de inclusão para a seleção dos sujeitos foram: residência no município, onde o estudo foi realizado; inserção de ambos os pais no mercado de trabalho; ter pelo menos um filho com idade até seis anos e concordância com a participação no estudo, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em 2006, adaptaram-se as versões, masculina e feminina, do questionário elaborado por pesquisadores da Universidade do Porto/Portugal, em 2003,9 à realidade riograndina para dirimir divergências do contexto sociocultural, econômico e político. Os referidos questionários foram compostos pelos seguintes tópicos: profissão, divisão de tarefas, vida familiar, estratégias para conciliação, vida pessoal, vida em comum e dados sócio-demográficos.

Para identificar na organização do trabalho, as possibilidades de conciliá-lo com a vida familiar, na elaboração deste artigo, se utilizaram duas variáveis: Relação Temporal na Organização do Trabalho e Família na Dimensão Organizacional do Trabalho, cujas respectivamente apresentam dois e três indicadores de escolha simples: Parcialidade - Existe a possibilidade de trabalhar em tempo parcial por razões familiares? e Flexibilidade - Existe flexibilidade no teu período de trabalho diário? e, Prioridade - Existe prioridade para as famílias com crianças na marcação de férias? , Dispensa - Existe dispensa, em certas circunstâncias, mesmo que comunicadas sem grande antecedência? e, Assistência - Existe apoio para a assistência aos filhos?.

A entrevistas foram realizadas nas residências dos sujeitos da pesquisa, mediante agendamento prévio de data e horário, sendo a maioria feita em finais de semana, em 2008. Antecedendo à coleta de dados, foi realizado o treinamento de bolsistas, a fim de instruí-los para execução da atividade. Para processamento e análise dos dados, distribuição de frenquência, foi utilizado o programa estatístico Statistic Package for Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Conforme os preceitos da Resolução n.° 196/96, o macroprojeto foi aprovado pelo Comitê de ética da instituição envolvida (Processo n.° 23116.003244/2008-16)

 

RESULTADOS

Os dados deste estudo estão apresentados em duas etapas dispostas a seguir.

lação temporal na organização do trabalho. Os resultados obtidos apontam que a maioria das mães identifica a possibilidade de trabalhar em tempo parcial por razões familiares, já a maioria dos pais não. Paralelamente, tanto pais como mães frisam majoritariamente à existência de flexibilidade no cumprimento da carga horária diária no trabalho. E, a flexibilidade para o cumprimento da carga horária de trabalho diária foi confirmada por ambos, ou seja, mães e pais possuem liberdade para determinar o período de trabalho e não a carga horária total em decorrência de questões familiares.

Família na dimensão organizacional do trabalho. A investigação da relação trabalho-família indicou que a organização do trabalho prioriza, de acordo com os casais, o cumprimento das atividades, ou seja, da carga horária. A possibilidade em ausentar-se momentaneamente do trabalho é viável em circunstâncias específicas que envolvam questões de saúde familiar. Essa dispensa sem grande antecipação na solicitação refere-se à necessidade de levar o filho ao pediatra, participar de reunião de pais ou levar os filhos na escola no primeiro dia de aula, entre outras possibilidades. A prioridade na marcação de férias e o apoio da instituição de trabalho para o atendimento as necessidades dos filhos com idade de até seis anos, foi indicada como ausente pelos casais. (Tabela 1)

 

DISCUSSÃO

Este estudo converge para o fortalecimento das produções científicas que ressaltam as influências do exercício do trabalho sobre as relações em família e destas sobre aquele. Muito embora, o potencial do trabalho para mais que uma fonte de sub-existência econômica seja reconhecido no interior das relações familiares como fonte individual de satisfação e prazer.10 Tal fonte transborda os limites do próprio ambiente de interação por se constituir em singularidade do sujeito trabalhador. Este ao deslocar-se pelos diferentes ambientes traz para as novas interações os sentimentos aflorados cotidianamente. O presente estudo tem nos casais de trabalhadores o objeto de interação entre o ambiente de trabalho e o familiar. A percepção deles revela que a maioria das mães entrevistadas promove o atendimento das necessidades dos filhos ajustando o horário de trabalho as atividades da família. Em contrapartida, os pais priorizam a vida no trabalho em detrimento das relações com seus filhos.

O menor tempo de convívio entre pais e filhos desfavorece e/ou prejudica a construção cognitiva dos filhos pela ausência de estímulos domésticos.11 As conjugações do desempenho das atividades domiciliares e familiares com as de trabalho mantêm as mães-mulheres ainda como a principal cuidadora dos filhos.10,12,13 Este acúmulo de funções ao ser negado pela mulher no âmbito das atividades de cuidado familiar produz uma reação agressiva tanto por parte do cônjuge como dos filhos. Mesmo que os membros da instituição familiar nuclear reconheçam e valorizem o trabalho dos cônjuges como mais que uma fonte de retorno econômico, mas como fonte de gratificação e crescimento.10

A relação de conciliação do trabalho com a vida familiar apresenta peculiaridades quanto à inserção dos jovens no mundo do trabalho, a saída da escola e a decisão de tornar-se pai e mãe. Nesta perspectiva, se evidencia que homens e mulheres ingressam no mercado de trabalho após sair da escola e que quanto maior é o tempo de dedicação aos estudos, mais facilmente se dará a inclusão no ambiente de trabalho.12 Este tempo de estudo também influência a decisão em ter filhos, uma vez que, tal decisão atrela-se a estabilidade econômica possibilitada pelo exercício da atividade profissional. Assim, não ocorrendo uma gravidez não planejada em média até os quinze anos de idade, jovens do sexo feminino e masculino, dão preferência em completar seus estudos e ingressar no mercado de trabalho para posteriormente tornarem-se mãe e pai.12 Outro aspecto significativo está na produtividade da mulher que se encontra inserida no mercado de trabalho, pois esta atua no desempenho das atividades domésticas em maior quantidade do que as que não exercem atividades profissionais extra ambiente familiar, mantendo-se a relação com o tempo disponível de ambas.13

A afetividade entre pais e filhos apresenta relação direta com o grau de escolaridade dos pais. A idade também possui uma relação direta com os recursos econômicos paternos, assim, a afetividade pode estar mediada pela escolaridade e pela estabilidade econômica,13 o que faz com que os pais decidam mais tardiamente por ter seus filhos.14 Ao se apreender o resultado da parcialidade na relação temporal da organização do trabalho dos 92 casais observa-se que o desenvolvimento do trabalho constitui-se em detrimento da manutenção do tempo de interação no ambiente familiar. A dedicação ao exercício do trabalho pelo casal aponta prejuízos na qualidade do sono de filhos em idade escolar, de sete a quatorze anos de idade. O grupo de estudantes em que a problemática torna-se mais relevante está naqueles que estudam no período matinal devido à irregularidade nas possibilidades de interação com os pais, a qual se acentua por diferentes rotinas aos fins de semana.15

De modo geral, as rotinas traduzem a organização do coletivo familiar8 e o conhecimento acerca delas transforma-se em instrumento de análise e intervenção sobre os aspectos de saúde-doença dos seus diferentes integrantes. Outro aspecto investigado na organização do trabalho pelo estudo que se está apresentado corresponde à flexibilidade referida com presente pela maioria dos trabalhadores entrevistados sejam mulheres ou homens, mães ou pais. O posicionamento dos entrevistados em afirmar predominantemente que há em seu ambiente de trabalho intervalos e interrupções durante a jornada pode estar associada com o respeito às normas legais por parte do empregador e expressas pela Consolidação das Leis Trabalhistas no Brasil. Com base na legislação trabalhista brasileira o exercício do trabalho na forma de vínculo empregatício assalariado por um período de doze meses consecutivos em uma mesma instituição de trabalho concede o direito ao trabalhador de obter um mês de afastamento, férias.15 Este período destina-se para que ele possa liberar tensões acumulada pelas próprias interações no ambiente de trabalho, cuidar de sua individualidade seja ela de ordem familiar ou mesmo pessoal, de buscar realizar atividades de lazer que são incompatíveis com a dinâmica diária do trabalho.16

A ausência de vínculo empregatício de alguns trabalhadores inviabiliza ou limita a garantia do direito a férias. Esta condição trabalhista dificulta a coordenação da vida profissional com a familiar, pode ainda ocasionar problemas de saúde pela desestruturação das rotinas de alimentação, sono e descanso.17 Problemas decorrentes das longas e imprevisíveis jornadas de trabalho realizadas para o acúmulo de recursos econômicos com fins de sobreviver em uma sociedade de consumo. Independentemente do tipo de sexo do trabalhador, o estudo que ora se está apresentado pode constatar que não há priorização para a marcação do período de férias para aqueles trabalhadores que possuem filhos. Isto evidencia a organização predominante do trabalho no mercado produtivo brasileira, no qual se consolida a precarização nas condições de trabalho.18 As mudanças no mercado de trabalho impuseram novas condições, para ambos os tipos de sexo, caracterizadas pela competitividade para a inserção/ingresso, para o reconhecimento social do desempenho e para a ascensão dos trabalhadores na hierarquia da instituição empregadora.19 Estas alterações têm se refletido nas interações entre pais e filhos provocando um prolongamento no convívio, já que, a família configura-se em um ambiente de confiança para os filhos, onde há estabilidade nas relações, o que se contrapõe a instabilidade da vida no trabalho.20

Mesmo que, as dispensas sem grande antecedência tenham sido mencionadas como presentes na organização do trabalho para ambos os tipos de sexo no conjunto dos 92 casais entrevistados, os conflitos familiares decorrentes da ausência ou pouca permanência dos pais devido à dedicação ao trabalho são constantes no contexto brasileiro. A dinamicidade das interações trabalhador-empregador no ambiente de trabalho são mediadas pela organização deste.21 Pais que desempenham seu trabalho no período noturno expressam o desejo em mudar seu horário para compartilhar mais efetivamente dos cuidados de seus filhos no ambiente familiar e social, apesar de obterem maior suporte dos colegas e da instituição empregadora neste período seja pela redução na demanda dos serviços, seja pela articulação entre colegas para ampliar as interrupções no exercício do trabalho.22 Instituições que se preocupam com a saúde de seus trabalhadores e para tanto instituem ações de apoio para a conciliação das questões familiares com o exercício do trabalho apresentam um melhor desempenho produtivo do coletivo.23

A inexistência de suporte institucional para a assistência aos filhos durante a permanência no trabalho foi predominantemente relatada pelos entrevistados. Um estudo com trabalhadores chilenos evidenciou que quanto maior o apoio institucional fornecido ao trabalhador, maior o compromisso deste com o crescimento da empresa em função do desejo explícito ou implícito de progressão na carreira profissional.24 O apoio institucional para o trabalhador permite que este se dedique mais intensamente no processo de interação familiar pela redução da tensão e do estresse refletido pela competitividade do mercado de trabalho, o que contribui para que o mesmo trabalhador melhore sua produtividade em decorrência do autocontrole das questões familiares e do próprio trabalho.25 A análise da relação sexo e organização do trabalho para conciliação com as necessidades advindas do ambiente familiar acentua o interesse masculino em obter prestígio social divergindo do feminino visa à realização profissional. Logo, o desenvolvimento vocacional dos filhos será influenciado pelos pais quanto menor for à idade daqueles, embora existam outros sujeitos transmissores do valor da articulação trabalho-família como professores, amigos, religião, mídia, entre outros.26

O mundo do trabalho consome tempo e energia dos trabalhadores que objetivam desenvolverem-se profissionalmente. A articulação deste objetivo com a função paternal no ambiente familiar produz conflitos interacionais bidirecionais oriundos do desgaste o trabalho ou das problemáticas familiares. Nesta perspectiva, trabalhadores que desempenham funções gerenciais apontam o diálogo como instrumento resolutivo de conflitos em ambos ambientes de interação.27 Aponta-se ainda como limite desta construção textual a relação do tipo de trabalho, formal ou informal, o valor da renda mensal do casal com o tipo de sexo dos trabalhadores para a visualização do potencial da organização do trabalho na conciliação deste com a vida em família e a dedicação ao cuidado e as necessidades dos filhos, ou seja, as questões de gênero bastante discutidas. O avanço da produção deste texto encontra-se na identificação da desarticulação ou ausência de apoio para o atendimento das necessidades parentais na organização do trabalho em diferentes setores produtivos. Enfatiza-se assim, a relevância da inserção do trabalho da enfermagem no atendimento não somente as necessidades dos trabalhadores, como também dos filhos destes.

Conclusão. A organização do trabalho em diversos setores produtivos na perspectiva de casais de trabalhadores do município do Rio Grande/RS/Brasil ainda não contempla ou proporciona apoio para as necessidades de interações mais intensas de seus trabalhadores no ambiente familiar, na particularidade da atenção e do cuidado com os filhos. Não se tem a pretensão de esgotar o potencial de investigação existência na relação trabalho-família para a construção de alternativas mantenedoras da produtividade e do prazer no exercício do trabalho nos diversos setores sociais brasileiros, mas somente promover o desejo de transformação.

 

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