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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.1 Medellín Jan./Apr. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Andragogia e seu uso na enfermagem: uma revisão da literatura

 

Andragogía en la enfermería: una revisión de la literatura

 

 

Patrícia Bover Draganov1; Andréia de Carvalho Andrade2; Vanessa Ribeiro Neves3; Maria Cristina Sanna4

 

1 Enfermeira, Mestre, Professora, Escola de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brazil. email: patricia.bover@ig.com.br.

2 Enfermeira, Doutoranda,UNIFESP, Brazil. email: andreiadecarvalgo@terra.com.br.

3 Enfermeira, Mestranda, UNIFESP, Brazil. email: vanessaneves@gmail.com.

4 Enfermeira, Doutora, professora UNIFESP, Brazil. email: mcsanna@uol.com.br.

 

Fecha de Recibido: 24 de enero de 2012. Fecha de Aprobado:19 de septiembre de 2012.

 

Subvenciones: Ninguna.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Draganov PB, Andrade AC, Neves VR, Sanna MC. Andragogy in nursing: a literature review. Invest Educ Enferm. 2013;31(1): 86 - 94.

 


RESUMO

Objetivo. Descrever o emprego dl termo andragogia no conteúdo das publicações em enfermagem. Metodologia. Estudo bibliográfico. fez-se busca nas bases de dados MEDLINE, LILACS, BDENF, EMBASE E ERIC de artigos publicados de 1999 a 2011 que incluíssem o termo 'andragogia' ou de algum de seus derivados no idioma inglês. Resultados. Encontraram-se 51 publicações. as principais categorias de estudo foram: bases ideológicas e teóricas (71%), antecedentes históricos (37%), operacionalização da andragogia (43%) e aplicação em enfermagem (86%). o tema mais freqüentemente tratado foi a educação permanente (45%). Os Estados Unidos publicaram a maior parte dos artigos (41%). No Brasil, o uso da andragogia é mais recente do que em outros países. Os estudos indicaram que a andragogia teve uma influência positiva na vida trabalhista dos alunos. Conclusão. Ainda que o emprego da andragogia na educação em enfermagem é pouco frequente, seu emprego na formação de enfermeiros mostra que é importante para o futuro desempenho profissional.

Palavras chaves: enfermagem; modelos educacionais; aprendizagem; ensino; educação em enfermagem.


ABSTRACT

Objective. To describe the use of the term andragogy in the contents of nursing publications. Methodology. Bibliographic study. A search was undertaken in the databases MEDLINE, LILACS, BDENF, EMBASE and ERIC, for articles published between 1999 and 2011 which included the term 'andragogy' or derived terms in the English language. Results. 51 publications were found. The study's main categories were: ideological and theoretical bases (71%), historical antecedents (37%), andragogy's operationalization (43%) and application in Nursing (86%). The most-frequently treated issue was continuing education (45%). Most articles were published in the United States (41%). In Brazil, the use of andragogy is more recent than in other countries. The studies indicate that andragogy has a positive influence in the students' work lives. Conclusion. Although the use of andragogy in nursing education is less frequent, its use in nurse training shows it to be important for future professional performance.

Key words: nursing; models, educational; learning; teaching; education, nursing.


RESUMEN

Objetivo. Describir el empleo del término andragogía en el contenido de las publicaciones en enfermería. Metodología. Estudio bibliográfico. Se hizo búsqueda en las bases de datos MEDLINE, LILACS, BDENF, EMBASE y ERIC de artículos publicados entre 1999 y 2011 que incluyeran el término 'andragogía'' o de alguno de sus derivados en el idioma inglés. Resultados. Se encontraron 51 publicaciones. Las principales categorías de estudio fueron: bases ideológicas y teóricas (71%), antecedentes históricos (37%), operacionalización de la andragogía (43%) y aplicación en Enfermería (86%). La educación permanente fue el tema tratado más frecuentemente (45%). Los Estados Unidos publicaron la mayor parte de los artículos (41%). En Brasil, el uso de la andragogía es más reciente que en otros países. Los estudios indicaron que la andragogía tuvo una influencia positiva en la vida laboral de los alumnos. Conclusión. Aunque el empleo de la andragogía en la educación en Enfermería es poco frecuente, su uso en la formación de enfermeros muestra que es importante para el futuro desempeño profesional.

Palabras clave: enfermería; modelos educacionales; aprendizaje; enseñanza; educación en enfermería.


 

 

INTODUÇÃO

A Andragogia é a arte e a ciência de conduzir adultos ao aprendizado. Esta teoria é estruturada a partir das características dos adultos que favorecem a aprendizagem.1 Embora seja um conceito formulado no final do século XIX, a Andragogia ganhou adeptos e despertou o interesse dos estudiosos na segunda metade do século XX, atingindo, então, os interessados no ensino de enfermagem.2 Inúmeras competências devem ser desenvolvidas, durante a formação e a trajetória profissional do enfermeiro, para atender às necessidades do mercado e da vida em sociedade. Para tanto, a busca constante de informações e de aprendizagem é fundamental e deve ser facilitada por meio de processos de ensino adequados às características desses profissionais.3 No Brasil, a origem e concentração de estudos sobre Andragogia na Enfermagem e Medicina estão relacionadas ao Projeto UNI 'Uma Nova Iniciativa na Formação dos Profissionais de Saúde: União com a Comunidade', que estimulou o intercâmbio de metodologias de ensino entre países latino-americanos, a partir da década de 1990. Esse projeto foi uma iniciativa da Fundação W. K. Kellogg, que articulou a implantação de prática pedagógica inovadora na formação de profissionais de saúde, pela universidade, com a mudança da prática de atenção à saúde no âmbito dos Serviços Locais de Saúde (SILOS) e estimulou novo tipo de participação social, com vistas à promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida.4

é importante ressaltar que a Andragogia reúne um conjunto de princípios que, se utilizados adequadamente, contribuem para o sucesso da aprendizagem e, consequentemente, promovem melhoria na formação profissional, educação permanente e educação em saúde. Dessa forma, torna-se importante conhecer os estudos sobre a aplicação da Andragogia na Enfermagem, para verificar seu impacto nessa área e embasar novas pesquisas sobre a sua implementação em diferentes cenários de ensino-aprendizagem. Assim, o presente estudo tem o objetivo de investigar o contexto em que se deram e conhecer o conteúdo das publicações acerca do uso da Andragogia na Enfermagem, ou seja, 1) caracterizar os estudos segundo local de origem da publicação, veículo e ano e 2) analisar e descrever sistematicamente o conteúdo das publicações sobre a Andragogia e Enfermagem.

 

METODOLOGIA

Estudo de revisão bibliográfica, cujo levantamento de dados foi realizado em junho de 2011, nas bases de dados: MEDLINE (National Library of Medicine), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Bases de Dados de Enfermagem), EMBASE (Excerpta Medica Database) e ERIC (Education Resources Information Center - base de dados de Ciências Humanas, CSA Illumina), por meio das bibliotecas virtuais: BVS (Biblioteca Virtual de Saúde da Organização Mundial de Saúde - OMS), PUBMED (United States National Library of Medicine), SIBi USP (Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo) e SCIELO (Scientific Eletronic Library Online). Para tanto, utilizou-se o descritor 'Andragogia' e suas derivações na língua inglesa: 'andragogy' ou 'andragogical' ou 'andragogic' e 'adult learning theory', nome da teoria estudada. O critério para escolha das bases de dados citadas refere-se ao fato de concentrarem maior número de publicações sobre Saúde, à exceção da base ERIC, que concentra publicações na área de Educação.

Definiu-se, como recorte temporal, o período entre janeiro de 1999 e junho de 2011, sendo a data inicial selecionada a partir do estudo que apresenta um panorama sobre educação de adultos - Norman GR: The adult learner: a mythical species. Acad Med 1999; 74:886-889. Como produto da busca realizada, foram localizados 103 estudos. Os dados dessas obras foram lançados em planilha Excel®, a partir da qual, por meio da eliminação de repetições de indicações e da identificação, nos textos do resumo, daquelas que não guardavam relação com o objeto do estudo, foi possível selecionar 53 estudos da Enfermagem. Dois artigos não foram localizados, tendo-se obtido exemplares impressos de 51 estudos que foram lidos e, para cada um, produzido o fichamento temático. Procedeu-se, então, ao cálculo da freqüência simples e relativa dos dados anotados na planilha e ao agrupamento por similaridade e pertinência temática dos produtos do fichamento, do que surgiram as seguintes categorias temáticas: 'Bases Ideológicas e Teóricas da Andragogia', 'Antecedentes Históricos da Andragogia', 'Operacionalização da Andragogia' e 'Aplicação da Andragogia na Enfermagem'.

 

RESULTADOS

Ao analisar o número de publicações, identificou-se maior concentração nos últimos cinco anos, o que demonstrou aumento gradativo de interesse em estudar a Andragogia na Enfermagem. O maior número de publicações encontrava-se nos periódicos Nurse Education Today, com oito (15.7%) publicações, e sete (13.7%) no Nurse Education in Practice. Esses periódicos publicam exclusivamente textos sobre educação em enfermagem, sendo esperado que neles ocorresse a concentração de publicações observada. Pôde-se verificar que a maior parte dos estudos originou-se nos EUA, com 22 (43.1%) ocorrências, seguida pelo Reino Unido com 15 (29.4%) pesquisas. No Brasil ocorreram três (5.9%) publicações. Como o autor mais popular que estudou Andragogia é de origem norte americana, era esperado encontrar a maior parte dos estudos publicados nesse país. O número de publicações no Brasil é muito inferior aos países como EUA e Reino Unido, com tradição na pesquisa sobre o ensino de enfermagem que, juntos, somaram 37 (72.6%) publicações.

Em relação à distribuição das publicações por área temática, foi possível identificar que a Andragogia na educação permanente ocorreu em 23 (45.1%) publicações, na formação profissional em 21 (41.2%) estudos, seis (11.8%) publicações dedicaram-se à sua aplicação na educação em saúde e um (2.0%) era um estudo bibliométrico que não se aplicava às áreas acima citadas. A análise desses dados confirmou a observação de que a Andragogia é aplicada com alunos adultos,5 pois a maior parte das publicações concentrou-se na educação permanente e na formação de enfermeiros. Os estudos foram classificados, de acordo com o conteúdo, nas quatro categorias já citadas e que serão apresentadas a seguir.

 

Bases ideológicas e teóricas da andragogia

Nessa categoria, identificaram-se conceitos e definições sobre o termo, ponderações sobre a autoria do modelo andragógico e pressupostos para o uso da Andragogia. O termo Andragogia e suas derivações foram citados em 36 (70.6%) pesquisas, demonstrando que era um conceito reconhecido. Algumas publicações omitiram o termo Andragogia, utilizando, em seu lugar, teoria, modelo ou princípios de educação ou aprendizagem de adultos. A maior parte dos estudos - 43 (84.3%), citou Malcom Shepherd Knowles como importante autor de referência sobre Andragogia. Parte das publicações, ou seja, 25 (52.1%) utilizaram, como sinônimo, princípios, teoria ou modelo de aprendizagem de adultos para definir brevemente o significado da Andragogia. As publicações apresentaram definições diferentes para Andragogia, sendo mais freqüentemente - em seis (11.8%), definida como a ciência ou arte de educar adultos ou ajudar adultos a aprender.2,6-10 Outras publicações traziam variações desse conceito e descreveram a Andragogia como a educação que estimulava o aprendiz a se adaptar a mudanças, gerar novos conhecimentos e melhorar continuamente seu desempenho.11 Também se encontrou definições acerca do papel do professor como facilitador da aprendizagem de adultos e sua capacidade de trabalho criativo e inovador influenciando a aprendizagem significativa.12 A Andragogia também foi definida como prática antiga de formação integral, sob aspecto individual e social, fundamentada no auto-conhecimento.13 Algumas pesquisas2,3,6,8,14-16 citaram as diferenças de aprendizagem entre adultos e crianças, discutiram as teorias de ensino-aprendizagem voltadas a essas populações e os pressupostos ou características dos adultos que facilitam a aprendizagem. Dos pressupostos que favoreceram a aprendizagem, os de maior ocorrência foram: a auto-direção, com 36 (70.6%) citações, a experiência anterior, com 26 (51.0%) ocorrências, e o uso imediato do que se aprendia para a resolução de problemas e a motivação, com 22 (43.1%) ocorrências cada.

A auto-direção esteve relacionada à responsabilidade do adulto pelo seu desenvolvimento, autoconceito e autonomia2,6,8,9,12-19,21-32 e refletiu o amadurecimento e a independência que o adulto adquiriu e que o tornou capaz de aprender mais e melhor.33 A experiência anterior foi citada por um dos autores34 como sendo por vezes desfavorável, quando o aluno acreditava que sabia o suficiente pois detinha experiência na área. Para outros autores6,15,17 o uso da experiência anterior permitiu compartilhar, refletir e criticar, gerando, com isso, aprendizado significativo e duradouro. Além disso, a experiência individual determinou o ritmo e a trajetória da aprendizagem, sendo influenciada por relações sócio-político-culturais.6,13,27 A aplicação imediata do que se aprende e a resolução dos problemas do quotidiano também tiveram destaque nas publicações estudadas. Assim, o aluno adulto percebia que a aquisição do conhecimento afetava positivamente sua realidade12,18,20,30-33,35-38 e isso o motivava a aprender cada vez mais. Um dos estudos destacou que o adulto precisava compreender que ele poderia usar o conhecimento no ambiente real e modificá-lo para melhor.34 Outros discutiram sobre a aprendizagem significativa estar diretamente relacionada à aplicação imediata do que se aprendia.8,12,21,31-33,37-39

A motivação também foi um pressuposto de grande ocorrência nas publicações6,17,27 e esteve relacionada à autoestima e ao autoconceito que o adulto passou a ter com a ampliação de seu aprendizado e do domínio de novas tarefas. A prontidão para aprender surgiu da percepção do quanto esse novo conteúdo poderia melhorar a vida do aprendiz.27 Em uma pesquisa10 o termo Heutagogia, derivado da Andragogia, foi citado como um conceito moderno de educação de adultos, que focava a auto-direção do aluno como fator chave para o sucesso do aprendizado de competências clínicas de enfermeiros.

 

Antecedentes históricos da andragogia

Essa categoria foi construída a partir da identificação de características sociais, culturais, financeiras, políticas e ideológicas que influenciaram a história da Andragogia na Enfermagem, apresentadas pelos autores estudados em 19 (37.3%) publicações que abordaram e discutiram antecedentes históricos da Andragogia na Enfermagem. Grande parte dos trabalhos, ou seja, 22 (43.1%) eram dos EUA e, desses, sete (13.7%) relacionavam o uso da Andragogia à escassez de enfermeiros e desinteresse pela Enfermagem nesse país. Esse fato gerou a busca de incentivos para a formação de enfermeiros, dentre eles, a mudança dos modelos e metodologias de ensino. A Andragogia foi introduzida, em 19708,14,17,18,27,35,40,41 com o objetivo de atrair e manter o aluno no curso, e fundamentou-se na condição do aluno enfermeiro ser adulto e ter características populacionais heterogêneas. Desde 1950, os EUA sofriam com a escassez e desinteresse pela área41 e uma das áreas mais deficitárias era a especialidade de Enfermagem em Centro-cirúrgico, por ser um serviço de maior responsabilidade e risco de erros.8 Uma das alternativas encontradas para minimizar esse déficit de mão de obra foi a criação de programas acelerados de formação de enfermeiros, com duração de 18 meses, fundamentados na Andragogia, destinados a alunos maduros e formados em outras profissões.35,41 Esses cursos, mesmo sofrendo com a falta de habilidade no manejo da Andragogia pelos docentes,18 demonstraram ser boa alternativa para atrair e formar enfermeiros. 15 (29.4%) publicações sobre a Andragogia na Enfermagem foram produzidas no Reino Unido e estiveram relacionadas ao Projeto 2000, um programa de capacitação de enfermeiros para o nível superior, com a exigência de diploma para o exercício da profissão decorrente da unificação europeia. A ênfase do ensino para as habilidades clínicas e educação em saúde, na prevenção de doenças na comunidade, estimulou o uso da Andragogia.40,42 Isso viria a impulsionar a carreira nessa área nesses países.

Em estudo realizado nos países latino-americanos, o uso da Andragogia foi relacionado ao Projeto UNI, que estimulou o intercâmbio de metodologias de ensino e incentivou o uso dessa teoria, nesses países, para incentivar a auto-direção2,42. Um dos estudos24 trouxe contribuição histórica esclarecedora e provocativa, afirmando que o poder mediado pelo professor limitava ou até anulava a liberdade de expressão do aluno e essa barreira certamente influenciava a atitude de subserviência, tão comum na Enfermagem. A conclusão foi que alternativas de ensino que tornem o aluno mais independente podem contribuir para posturas mais proativas.

 

Operacionalização da Andragogia

Essa categoria foi construída a partir das características da prática da Andragogia na Enfermagem, com destaque para o ambiente, o processo decisório, as características do professor andragógico e as metodologias testadas. O ambiente de aprendizagem deve ser considerado sob as óticas física, psicológica e social,1 e seu preparo foi relevante nesses estudos. Assim, o ambiente deveria ser agradável e promover confiança para favorecer a aprendizagem6 e, também, ser de respeito cultural e mútuo, informal, negociável e cooperativo.7,19,21,38,43,44 Além disso, era necessário que o ambiente estimulasse a reflexão e proporcionasse situações de aprendizagem reais.17,37 O professor, nesse contexto, deveria desenvolver habilidades para manejar o ambiente positivamente, criando relações empáticas que aumentariam as chances de êxito de seus alunos.6,18,39

A aprendizagem para a teoria andragógica segue um modelo processual mediado pelo facilitador. Esse processo envolve oito etapas de estímulo e apoio ao aluno; são elas: preparar o aluno para a auto-direção, estabelecer um clima de aprendizagem, criar mecanismos de planejamento mútuo, conhecer e satisfazer as necessidades de aprendizagem, formular objetivos de aprendizagem, desenhar e conduzir experiências de aprendizagem, avaliar e estimular a auto-avaliação.6,14,18,23,38,42 Nesse processo, as pesquisas posicionaram o professor como sendo fundamental para estimular, apoiar o amadurecimento e crescimento individual do aluno15,23,46 e também para transferir gradativamente a direção da aprendizagem, para que o aluno se adaptasse a essa nova situação e construísse novas competências.6,7,15,39,40,45 Das metodologias inseridas no contexto da Andragogia e da Enfermagem que facilitam a mudança do foco para o aluno, foram mais citadas a aprendizagem baseada em problemas (PBL) e os contratos de aprendizagem, que estimulavam a habilidade do aluno para adaptar-se às mudanças e aproximar a teoria da prática.7-9,24,25,28,38,39,47

 

Aplicação da andragogia na enfermagem

Nessa categoria discutiu-se o uso da Andragogia na Educação Permanente, na Formação Profissional e na Educação em Saúde. A maior parte das publicações, ou seja, 44 (86.3%), se direcionavam à Formação Profissional e à Educação Permanente, desenvolvendo argumentos sobre a aplicação da metodologia, suas vantagens e desvantagens. A Educação Permanente, abordada em 23 (45.1%) estudos, as estratégias se direcionaram a exercícios práticos de compartilhar experiências e atividades em ambiente real e virtual, em que os resultados demonstraram efetividade na aplicação da Andragogia. O auto-direcionamento favoreceu o acréscimo de conhecimentos significativos, crescimento pessoal e aumento do prestigio profissional, facilitou relações pessoais, estimulou a melhoria da habilidade motora, diminuição de conflitos e aumento da autoconfiança. Esses ganhos geraram contribuições positivas para a assistência prestada.13,48 Vários fatores pautados na Andragogia colaboraram para o sucesso da aprendizagem, sendo eles a motivação, a experiência anterior como recurso para a aprendizagem e o estimulo à reflexão, por meio da auto-avaliação.8

Das estratégias, métodos ou programas, demonstraram evidência de sucesso as oficinas, os fóruns, os simulados e os módulos de preparo para a auto-direção. Também se destacaram o programa de preceptoria, o uso de PBL e o ensino a distância (EAD). Com relação ao EAD, muito comum na Educação Permanente, o compartilhamento de experiências possibilitou a aprendizagem de conceitos e estimulo à reflexão. O uso de formato bimodal (EAD e ensino presencial) para o desenvolvimento de docentes nas áreas de estratégias e métodos efetivos de ensino-aprendizagem e auto-avaliação demonstrou ser efetivo e, consequentemente, melhorar a prática.18 Para o desenvolvimento do tutor, foram empregados estágios práticos, conhecimento e habilidades com os pressupostos de aprendizagem dos adultos. O programa de aperfeiçoamento de tutores estimulou atualizações e desenvolvimento de competências para incentivar processo de reflexões sobre a prática competente e segura.34,49

Com relação à Andragogia na Formação Profissional, que somou 21 (41.2%) trabalhos, os autores relataram o uso de recursos de aprendizagem, suas vantagens e desvantagens. A aprendizagem colaborativa, fundamentada na Andragogia, aplicada na formação, por meio do uso de experiências anteriores, repetições com reforço cognitivo e psicomotor e experimentações em ambiente real, foi efetiva para a aprendizagem.33 Como estratégias, o PBL se destacou por estimular a auto-direção, a iniciativa do aluno para diagnosticar necessidades, formular metas, levantar recursos e auto avaliar-se. O uso do PBL, associado ao modelo de inteligências múltiplas, gerou ótimos resultados para a aprendizagem, pois desafiou o aluno para a resolução de problemas.47 Além disso, o uso de mapa conceitual foi citado como ferramenta ideal para a aprendizagem de conceitos e auto-avaliação, pois permitiu mensurar o crescimento do aluno, incentivar a auto-direção e construir novas competências.43

O EAD e a ferramenta fórum favoreceram trocas de experiências e estimularam o levantamento de necessidades dos alunos durante a formação,45 porém deveriam ser usados com cautela, para não restringir o pensamento critico.19 Por sua vez, os formatos bimodais de curso permitiram a auto-direção, favorecendo momentos de reflexão, crítica e desconstrução e construção de novos paradigmas.20 Também nessa área, intercâmbios internacionais, por meio da Internet, tornaram os estudantes culturalmente mais competentes, principalmente pela oportunidade de compartilhar experiências.50 Os contratos de aprendizagem estimularam o aluno a se tornar autoconfiante para propor objetivos e desenvolver habilidades. Essa estratégia o tornou mais motivado, flexível e seguro, além de promover ambiente de respeito mútuo, aprendizagem estruturada e individualizada.25 Para o professor, favoreceu o uso de competências acadêmicas, aproximou-o do aluno e estimulou o desenvolvimento de novas habilidades.20 Outras estratégias também foram citadas, como o uso do portfólio, que permitiu a auto-avaliação e a avaliação da progressão do aluno pelo professor.16 O paciente como mediador da aprendizagem também foi citado como recurso para a aquisição de competências.26

Como limites do emprego da Andragogia na Formação Profissional, apurou-se que o uso de autoaprendizagem com graduandos, nos estágios iniciais do curso, demonstrou ser pouco efetivo, pois o aluno desejava, por hábito do ensino tradicional, que o professor assumisse a liderança. Foi constatada também, a resistência do corpo docente a mudanças no ensino, além da compatibilidade do emprego da Andragogia somente com pequenos grupos de alunos.5,23,25 Para combater essa limitação, foi sugerido o uso de módulos de preparo do aluno para a auto-direção, nos estágios iniciais do curso.1 Dos seis (11.8%) estudos direcionados à Educação em Saúde, depreendeu-se que a Andragogia influenciou o impacto dos processos educativos por meio de evidências, com o uso de folhetos educativos e compartilhamento de experiências. As atividades de Educação em Saúde eram direcionadas para a área cognitiva e visavam facilitar a adaptação a eventos estressantes, ajudando o indivíduo a compreender, prever, lidar com a doença e melhorar o autocuidado.39,46,51 O uso de EAD na Educação em Saúde, também foi citado como estratégia de aprendizagem.28

 

DISCUSSÃO

A produção científica sobre o uso da Andragogia na Enfermagem se iniciou em 1970, nos EUA, motivada pela sua utilização em programas que visavam combater a escassez de enfermeiros e o desinteresse pela profissão. Com o tempo, disseminou-se para outros países e houve crescente aumento de estudos, nos últimos cinco anos, evidenciando a importância que a Enfermagem vem dando para o tema. Os EUA reuniram grande parte das publicações, certamente porque essa teoria foi explorada profundamente nesse país, por Malcom Shepherd Knowles. Outra quantidade importante de estudos foi desenvolvida na Europa, motivada pelo projeto 2000. No Brasil, o uso da Andragogia foi mais recente e esteve associado ao Projeto UNI. Nos estudos analisados, a temática mais freqüentemente abordada foi a Educação Permanente, provavelmente porque reúne indivíduos adultos e amadurecidos, seguido por Formação Profissional e Educação em Saúde, esta última com poucas publicações.

Das categorias do presente estudo, as Bases Ideológicas e Teóricas reuniram o maior volume de produções sobre o tema. Grande parte dos artigos abordou as vantagens do uso da Andragogia na motivação do aluno que, ao assumir a responsabilidade por seu desenvolvimento, agregava competências, influenciando positivamente seu trabalho e sua vida. Os limites do uso da Andragogia foram citados também, não porque sejam muitos, mas porque definem o sucesso ou o fracasso da aprendizagem, se não forem considerados.

O presente estudo vai ao encontro da necessidade de providenciar uma revisão da literatura sobre o tema mais atual, uma vez que a última9 é datada de 1999 e, desde então, várias outras pesquisas sobre Andragogia na Enfermagem foram produzidas. A presente iniciativa visou contribuir para outras pesquisas sobre essa temática, ao sistematizar o conhecimento disponível sobre o tema, descrevendo seu conceito, aplicabilidade, vantagens, desvantagens, limites de uso, possibilidades e metodologias aplicadas na Educação em Enfermagem e em Saúde, o que pode também colaborar para a mudança da prática profissional, tanto do enfermeiro professor quanto assistencial.

 

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