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Investigación y Educación en Enfermería

versión impresa ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.2 Medellín mayo/ago. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

A participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de Enfermagem

 

La participación discente en el desarrollo del proyecto pedagógico del curso de Enfermería

 

 

Natália Maria Freitas e Silva Maia1; Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes2; Maria Eliete Batista Moura3

 

1Enfermeira, Mestre. Professora, Associação de Ensino Superior do Piauí, Brasil. email: nataliamfsmaia@gmail.com.

2Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade Federal do Piauí, Brasil. email: benevina@ufpi.edu.br.

3Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade Federal do Piauí, Brasil. email: lia@novafapi.com.br.

 

Fecha de Recibido: Mayo 22, 2012. Fecha de Aprobado: Mayo 8, 2013.

 

Artículo asociado a investigación: Análise da participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso.

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Maia NMFS, Nunes BMVT, Moura MEB. Students' participation in the development of the pedagogical project in a Nursing program. Invest Educ Enferm. 2013;31(2): 183-190.

 


RESUMO

Objetivo. Descrever e analisar a participação dos estudantes no desenvolvimento do projeto pedagógico (PP) do curso de Enfermagem. Metodologia. Estudo exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa. Foi desenvolvido no curso de Enfermagem de uma instituição pública de educação superior em Piauí (Brasil). Realizaram-se entrevistas a 22 alunos que cursavam desde o quarto período em adiante. A recolha da informação se fez em dezembro de 2009. Fez-se análise dos dados textuais com a ajuda do programa Alceste 4.7 os que foram discutidos sobre a base dos conceitos de compromisso, consciência, cultura, diálogo e educação problematizadora do teórico Paulo Freire. Resultados. A análise revelou três classes: Conhecimento dos estudantes sobre o PP, Participação coletiva no desenvolvimento do PP e, Avanços da participação dos estudantes no desenvolvimento do PP. Conclusão. Os resultados mostram que os estudantes são sujeitos participantes no desenvolvimento do PP.

Palavras chaves: educação em enfermagem; /educação; aprendizagem; estudantes de enfermagem.


RESUMEN

Objetivo. Describir y analizar la participación de los estudiantes en el desarrollo del proyecto pedagógico (PP) del curso de Enfermería. Metodología. Estudio exploratorio-descriptivo, de abordaje cualitativo. Fue desarrollado en el curso de Enfermería de una institución pública de educación superior en Piauí (Brasil). Se realizaron entrevistas a 22 alumnos que cursaban desde el cuarto período en adelante. La recolección de la información se hizo en diciembre de 2009. Se hizo análisis de los datos textuales con la ayuda del programa Alceste 4.7, los cuales fueron discutidos sobre la base de los conceptos de compromiso, conciencia, cultura, diálogo y educación problematizadora del teórico Paulo Freire. Resultados. El análisis reveló tres clases: Conocimiento de los estudiantes sobre el PP, participación colectiva en el desarrollo del PP y avances de la participación de los estudiantes en el desarrollo del PP. Conclusión. Los resultados muestran que los estudiantes son sujetos participantes en el desarrollo del PP.

Palabras clave: educación en enfermería; /educación; aprendizaje; estudiantes de enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no ensino de graduação em Enfermagem, decorrentes da extinção dos currículos mínimos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n°9394/96 e da posterior implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Enfermagem (DCN/ENF) pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Superior n° 1133/2001, propõem uma perspectiva de educação crítica-reflexiva em que os alunos são sujeitos de sua educação, o que favorece a sua participação no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso. A palavra participação pode ser compreendida como fazer parte, tomar parte ou ter parte de uma ação. O fazer parte não necessariamente implica tomar parte, que, por sua vez, caracteriza-se por uma participação intensa e ativa.1 Nesse estudo, a participação dos discentes no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de Enfermagem é entendida como um processo em que os alunos são capazes de sair da postura passiva, que há tempos tem permeado a sua formação, para uma postura ativa e questionadora sobre a sua educação, tomando-se parte dela, o que é oportunizada pelas vivências nas aulas teóricas e teórico-práticas, nos estágios curriculares, nas atividades complementares, na monitoria, na iniciação científica, entre outras.

Vale ressaltar que o projeto pedagógico caracteriza-se por ser um referencial, um norteador para aquilo que se busca formar, e que revela a finalidade, a intencionalidade do ato educativo. Configura-se como o pilar da gestão acadêmico-administrativa e envolve elementos de bases filosóficas, conceituais, políticas e metodológicas, que definem a missão e os objetivos do curso, o perfil, as competências e as habilidades essenciais à formação dos enfermeiros.2 Os projetos pedagógicos dos cursos de Enfermagem devem estar em consonância com as DCN/ENF, que aponta para uma formação crítica, reflexiva e transformadora. Nessa perspectiva, o aluno de enfermagem ao participar do desenvolvimento do projeto pedagógico deve contribuir para atingir as finalidades propostas no projeto, para as contínuas reflexões sobre os mesmos e suas necessidades de modificações, a fim de satisfazer as demandas educacionais e sociais. Nesse processo, os alunos se tornam sujeitos atuantes e influenciadores de sua formação e da sociedade a que pertencem.

Essas reflexões realizadas sobre o projeto pedagógico do curso de Enfermagem e a participação dos alunos na sua formação favoreceram a definição das seguintes questões norteadoras: qual a participação dos alunos de Enfermagem no desenvolvimento do projeto pedagógico? Como o aluno de Enfermagem participa do desenvolvimento do projeto pedagógico? Embasando-se nessas questões norteadoras determinou-se como objetivos: descrever e analisar a participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de Enfermagem.

Apesar da existência de experiências avançadas na tentativa de consolidar o que propõe as DCN/ENF, percebe-se que a participação ativa dos discentes na educação em Enfermagem é um processo em construção e em transição. Observa-se que nessa educação ainda são predominantes as relações verticalizadas, que não favorece a participação dos alunos como sujeitos. Nesse aspecto, torna-se necessário romper com as estruturas enraizadas e hegemônicas, para que o educador e o educando repensem o processo educativo e as relações que o sustentam. O repensar a prática educativa permite a reflexão sobre a prática docente, o que inclui o movimento dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer cotidiano de ensinar-aprender.3 Assim, esta pesquisa contribui para que as instituições formadoras debatam o desenvolvimento coletivo do projeto pedagógico do curso, envolvendo o discente como sujeito ativo nesse processo. Além disso, colabora para que tratem sobre os principais desafios vivenciados, que dificultam essa participação e que, consequentemente, trazem implicações na formação do enfermeiro e repercutem na compreensão da identidade do curso por esses sujeitos

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa, que utilizou como referencial os conceitos de compromisso, conscientização, cultura, diálogo e educação problematizadora do teórico e educador Paulo Freire. O estudo foi desenvolvido no curso de Enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior Pública, situada no Piauí (Brasil). Esse curso foi criado no ano de 1973, e autorizado a funcionar pelo Ato de Reitoria n°198/1974. No ano de 2006, atendendo às recomendações das DCN/ENF, teve a construção do seu primeiro projeto pedagógico. Anterior a esse projeto, o curso estruturava-se em torno dos currículos, não existindo até então uma referência conceitual que orientasse a educação dos enfermeiros.4

Participaram da pesquisa vinte e dois alunos regularmente matriculados nesse curso. Incluíram-se alunos que estavam cursando a partir do 4° período letivo e que demonstraram disponibilidade e interesse em participar. A escolha dos sujeitos ocorreu de forma aleatória, mediante convite verbal da pesquisadora aos estudantes que compareciam à Coordenação e ao Departamento de Enfermagem. Em consonância com as recomendações estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o projeto obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da referida Instituição, pelo parecer CAAE: 0168.0.045-000-09 no dia 31/11/ 2009.

Para coleta das informações, foi empregada a técnica de entrevista. Utilizou-se um roteiro semiestruturado, envolvendo questões referentes ao entendimento dos discentes sobre o projeto pedagógico e sua participação no desenvolvimento deste. O número de entrevistados não foi estabelecido previamente. Realizou-se a inclusão progressiva dos sujeitos, que foi interrompida pelo critério de saturação.5 Os dados obtidos das entrevistas passaram pela análise textual, realizada pelo software Alceste 4.7. Esse software possibilita a análise quantitativa de dados textuais, ou seja, se vale de cálculos efetuados sobre co-ocorrências de palavras em segmentos de textos.6 A utilização desse programa informático, que toma como base um único arquivo, exige preparação do material textual, constituindo o corpus de análise. Cada corpus é composto por um conjunto de Unidades de Contexto Iniciais (UCI), definidas pelo pesquisador. Nesta pesquisa, o corpus formou-se de vinte e duas UCIs, resultantes das vinte e duas entrevistas realizadas. Cada UCI é separada por uma linha de comando, que contém variáveis dadas pelo pesquisador. Estabeleceram-se como variáveis: idade, semestre e membro de entidade estudantil.

A análise do corpus pelo Alceste resultou na classificação de 266 Unidades de Contexto Elementar (UCEs), que são segmentos de texto de tamanho similar, das 376 UCEs selecionadas, o que representa 71% do material processado. Essas UCEs foram analisadas mediante a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e discutidas de acordo com o referencial teórico.

 

RESULTADOS

O software Alceste 4.7 produziu o dendograma das classes, baseado na CHD, portanto, os conteúdos provenientes das vinte e duas entrevistas revelaram a distribuição em três classes, o que evidenciou a participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de enfermagem. (Tabela 1).

Classe 1. Trata do conhecimento dos discentes sobre o projeto pedagógico e evidenciou, que desse projeto, os alunos conhecem o currículo. Os vocábulos das classes, em suas formas reduzidas, conforme a figura 1: 'novo*', 'currículo*', carga*', 'horária*', 'mudança*', 'curricular*', selecionados em virtude dos maiores valores de X2, respectivamente: 52, 50, 42, 35, 27 e 23, associados aos vocábulos completos presentes nas UCEs, corroboram esta evidência. Essa afirmação pode ser confirmada pelas manifestações presentes nos fragmentos das UCEs a seguir: O que eu sei do projeto pedagógico é que o meu currículo é um currículo novo, atualizado, foi reformulado algumas vezes o currículo, com duração agora de cinco anos e as cargas horárias aumentando (...). O que eu sei sobre o projeto pedagógico é que existem as reuniões, e que nessas reuniões eles definem as disciplinas, o currículo. Eu gosto muito do currículo daqui, se for bem isso que eu faço idéia que seja o projeto pedagógico, essa questão do currículo, da grade curricular, das disciplinas, da graduação, da pós-graduação (...). Não sei se o projeto pedagógico é bem isso, mas a questão de como elaborar o currículo, como está articulando projetos, trabalhos, novas disciplinas, melhorando o currículo, tirando umas aperfeiçoando outras, trazendo novas disciplinas (...).

Classe 2. Participação coletiva no desenvolvimento do projeto pedagógico, que de acordo com a CHD apresentado na figura 1, está associada diretamente à classe 1, evidencia o aluno como partícipe do projeto pedagógico do curso. Os vocábulos mais frequentes, em suas formas reduzidas: 'parte*', 'aluno', 'departamento', 'coordenador*', 'professor*', e de maior associação estatística (X2) à classe, respectivamente: 23, 22, 13, 12, 11, associados às formas completas nas UCEs, possibilitaram compreender que os discentes se percebem como parte no desenvolvimento do projeto pedagógico, o que envolve alunos, departamento de Enfermagem, coordenadores e professores. Essa evidencia é corroborada pelos fragmentos de UCEs dessa classe: Acredito que quem participa do desenvolvimento do projeto pedagógico seja o chefe do departamento, juntamente com a coordenação do curso de enfermagem. Participa do projeto pedagógico os coordenadores, o pessoal do departamento, os professores, os alunos, acho que todo mundo que participa do curso. A coordenação do curso, os professores, os alunos fazem também parte desse contexto de desenvolver o projeto pedagógico. Eu acredito que a coordenadora e os professores, todos que fazem parte do curso de enfermagem.

Classe 3. Avanços da participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico, conforme CHD na figura 1, encontra-se indiretamente associada às classes 1 e 2. As palavras em suas formas reduzidas: 'estudante*', 'saúde', 'hoje', 'projeto_político', 'construir*' e 'sociedade', selecionadas pelos valores de X2, o que corresponde respectivamente:65, 33, 31, 30, 30 e 27, quando associadas às suas formas completas, evidenciam avanços da participação dos alunos no desenvolvimento do projeto pedagógico. Nessa perspectiva, os vocábulos são indicativos de que alguns discentes de Enfermagem consideram importante a participação no desenvolvimento do projeto pedagógico, legitimando-o, uma vez que, ao tomarem ou terem parte, podem contribuir e consolidar as concepções de saúde, de enfermagem e de educação, o que é exemplificado pelos fragmentos de UCEs: A participação do aluno no desenvolvimento do projeto pedagógico é importante para trazer uma visão de acadêmico sobre o que é sobre o que é a saúde e até como usuário do sistema de saúde, como população. Hoje os currículos tem uma ideologia, eles não são neutros, eles refletem uma ideologia, então quando os estudantes passam a construir um projeto político pedagógico, eles dão uma contribuição do que eles têm sobre educação e sobre saúde, sobre enfermagem (...). Eu creio que o estudante tem um papel importante no desenvolvimento do projeto pedagógico, até porque o professor tem um feedback dentro da sala de aula, ele sabe o que o estudante quer estudar mais, o que ele tem mais interesse e o que ele não tem. É importante trazer uma visão de quem está entrando na universidade, que está tendo uma experiência na vida acadêmica, e passar para esse projeto político pedagógico sua visão sobre o que é enfermagem.

 

DISCUSSÃO

O conhecimento dos discentes sobre o projeto pedagógico, apreendido nos conteúdos semânticos da classe 1, destacam a formação como o cumprimento de um conjunto de disciplinas e suas respectivas cargas horárias, o que evidencia que os alunos necessitam aprofundar o conhecimento sobre o projeto pedagógico como o instrumento norteador dessa formação. Os alunos, mesmos submetidos a diferentes experiências de aprendizagem, apresentam dificuldades para enxergar a totalidade de sua educação, as competências e as habilidades definidas no projeto pedagógico, o perfil desse profissional, os objetivos e a missão do curso. Assim, a formação profissional nas universidades privilegia o conhecimento técnico-científico, de modo que parece não haver espaço para a reflexão na ação.7 Embora, o contexto educacional do Curso de Enfermagem, em que esses alunos estão inseridos, tenha iniciado mudanças ao implantar desde 2006 o projeto pedagógico, ainda se percebem dificuldades dos discentes em participar ativamente de sua educação.

Acredita-se que essa conjuntura se modificará caso os alunos de Enfermagem superem o processo formativo impensado, irrefletido, e passem a criticá-lo e a questioná-lo como objeto de conhecimento, o que corresponde à passagem da consciência ingênua para a consciência crítica. Esse processo é denominado de conscientização.8 A conscientização possibilita aos discentes participarem do desenvolvimento do projeto pedagógico do curso, de modo a apoderar-se de sua formação, refletindo-a, criticando-a e compreendendo-a na sua totalidade. Quanto mais conscientizados estiverem, mais conhecimentos terão da realidade e mais adentrarão na essência de sua educação, frente à qual se encontram para analisar. Nessa perspectiva, o conhecimento acerca do projeto pedagógico do curso será re-significado e ganhará sentido pela ação-reflexão dos discentes sobre a Enfermagem, sobre o seu mundo e a sua realidade.

Os conteúdos semânticos apreendidos nas UCES da classe 2 evidenciam que o desenvolvimento do projeto pedagógico se dá pela participação dos discentes juntamente com os demais membros da comunidade acadêmica. Os fragmentos de UCES apresentados nos resultados reforçam que os estudantes fazem parte desse processo. É necessário, contudo, estimular os alunos para tomar parte do mesmo, e assim concretizar os pressupostos do projeto, o que implica na superação da postura passiva dos discentes no processo ensino-aprendizagem. A participação dos alunos como sujeitos no desenvolvimento do projeto pedagógico é uma das condições para que sejam alcançados os objetivos educacionais.9 Além disso, essa participação provoca nos integrantes a criação de uma identidade institucional, bem como a compreensão da cultura do grupo ao qual pertencem, uma vez que nesse projeto ficam resgatadas a identidade do curso, sua intencionalidade e a revelação de seus compromissos.10

Para que os discentes efetivamente tomem parte no projeto pedagógico, acredita-se na adoção da educação problematizadora. Nessa educação, fundamentada sobre a criatividade e de caráter reflexivo, há desenvolvimento da consciência critica e resulta na inserção dos educandos no mundo como sujeitos transformadores, como desveladores da realidade.11 Entende-se que, pela educação problematizadora, os discentes de Enfermagem compreenderiam a sua formação na totalidade, agindo e refletindo sobre ela, problematizando-a em sua relação com a realidade. Assim, os discentes não somente participariam do desenvolvimento do projeto pedagógico, como conscientemente o apreenderiam na prática, re-significando seu conhecimento acerca desse projeto.

Essa participação possibilitaria que os estudantes tivessem consciência de seu caminhar, interviessem em seus limites, aproveitassem melhor os potenciais e equacionassem coerentemente as dificuldades encontradas.10 De fato, nesse envolvimento, há possibilidade dos discentes expressarem o que pensam, criticando ou concretizando o projeto pedagógico, e assim, confrontarem ou corroborarem com as concepções que o permeiam, com o perfil, as competências e as habilidades do enfermeiro que se deseja formar, da sociedade e do sistema de saúde que se busca construir. Na classe 3, os conteúdos semânticos evidenciam os avanços da participação dos alunos no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso. Cabe reforçar que essa classe se sobrepõe sobre as classes 1 e 2 (Tabela 1), o que destaca a importância qualitativa da mesma para o estudo. Tal fato é evidenciado pelas palavras que a compõem, que possuem os maiores valores de qui-quadrado. Os fragmentos das UCES dessa classe reforçam que os discentes apresentam conhecimento, visão de seu mundo e reconhecem que suas concepções precisam ser consideradas para que o curso de Enfermagem represente os anseios da comunidade acadêmica e não acadêmica. Observa-se, desse modo, uma consciência crítica sobre a participação no desenvolvimento do projeto pedagógico.

Essa consciência crítica evidencia o processo dialético e dialógico que existe na construção da mudança nas formas de ensinar e aprender nesse curso. Demonstra, ainda, que essa mudança não se faz de forma homogênea, pois os resultados apresentados nas classes 1 e 3 apontam momentos diferentes dos alunos nesse processo. A consciência crítica implica em sujeitos que se tornem diferenciados quando da sua atuação como enfermeiros, havendo uma maior sensibilização para perceber o outro como um cidadão. Implica também que apresentem uma visão humanística, obtendo uma melhor compreensão do ser cuidado e sua realidade

A conscientização dos discentes favorece a formação de enfermeiros que causem impactos e provoquem mudanças no seu micro-espaço social, pela capacidade de compreender os problemas reais do contexto e da sociedade em que atuam. Além disso, que problematizem o processo de trabalho e atendam às necessidades de saúde e de cuidado nas diversas dimensões individuais e coletivas. Nesse contexto, os enfermeiros, como trabalhadores sociais, podem se assumir como agentes transformadores. Ao transformarem os micro-espaços, contribuem para que sejam desconstruídas as práticas assistenciais hegemônicas e se tornem agentes multiplicadores das práticas de saúde que visam à promoção da saúde e à prevenção de doenças e agravos. Assim, a formação de enfermeiros críticos e reflexivos, transformadores sociais, vai ao encontro das atuais exigências colocadas aos profissionais de saúde, que envolvem a preparação e a qualificação para a saúde coletiva. Nesse âmbito, não se pode deixar de enfatizar a Estratégia Saúde da Família, que tem sido um grande campo de atuação do enfermeiro.

Essa estratégia espera uma prática crítica, transformadora e reconstrutora do saber, de modo que a formação especializada, submetida às imposições do mercado e ao uso indiscriminado de tecnologia, não seja suficiente para atuação do enfermeiro na saúde coletiva, trabalhando com família e nas comunidades, cujas necessidades sociais e de saúde são complexas e dinâmicas.12 Nessa perspectiva de uma formação crítica e transformadora, os estudantes do curso de Enfermagem, ao terem uma consciência crítica, são capazes de se comprometerem com sua formação. A primeira condição para assumir um ato comprometido é, estando no mundo, saber-se nele, o que condiciona a sua consciência.13

O compromisso ocorre no engajamento dos sujeitos com a realidade, portanto não é um ato passivo, é ação e reflexão sobre a realidade, o que implica o conhecimento sobre ela.13 Ao se engajarem nessa realidade de modo consciente, os discentes deixam de ser neutros e assumem uma postura crítica em sua relação no mundo e com o mundo. Esse fato leva a pensar que, apesar do conservadorismo dos métodos pedagógicos tradicionais, em que se perpetuam as relações de poder que se criaram nos espaços educacionais, alguns docentes já superaram essas práticas, consolidando concepções pedagógicas que favorecem a conscientização dos discentes e as mudanças na formação e na prática profissional do enfermeiro.

 

CONCLUSÃO

A partir da apreensão dos conteúdos semânticos apresentados nas classes 1,2 e 3, procurou-se salientar alguns aspectos sobre a participação do discente no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso. Os resultados apontam que os alunos desse estudo caminham no sentido de mudarem suas posturas diante do processo educativo, o que implica em se tornarem sujeitos no desenvolvimento do projeto pedagógico. Vale ressaltar que a mudança existe na dialética com a estabilidade, e que ambas resultam da ação humana sobre o mundo. A mudança é um processo dinâmico, lento e gradual de rompimento do equilíbrio.13 Tal fato pode ainda ser evidenciado quando os discentes reconhecem que nesse curso há preocupação em formar enfermeiros críticos, capazes de apreenderem e de transformarem a sua realidade. Demonstram, assim, apresentar uma visão de mundo, de quem nele e com ele está, e apontam para uma consciência crítica sobre a sua formação.

A mudança de postura do discente no processo educativo possibilita a contínua avaliação da coerência e das contradições da formação profissional, como forma de aprimorar o Projeto Pedagógico do Curso, tendo como perspectiva as DCN/ENF. Implica, ainda, no aprofundamento do conhecimento sobre o projeto pedagógico como o instrumento norteador de sua formação, indo além do destaque de conjunto de disciplinas e suas respectivas cargas horárias. Assim, os resultados desse estudo devem ser socializados para a comunidade acadêmica do curso de Enfermagem, ressaltando-se que no ensino de Enfermagem há sinais de avanços quando se trata da participação discente no desenvolvimento do projeto pedagógico.

Éciso, contudo, continuar essa caminhada, de modo que, somente havendo participação, concretiza-se o enfermeiro desejado pela instituição e pela sociedade, capaz de tornar-se um agente transformador. Enfatiza-se, ainda, que essa participação deve ocorrer nos espaços que vão além das salas de aula, e incluem as entidades estudantis, os projetos de extensão, as monitorias, as pesquisas, dentre outros.

 

REFERÊNCIAS

 

 

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