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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.2 Medellín May/Aug. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Características dos pacientes internados numa unidade de terapia intensiva por abuso de drogas

 

Características de los pacientes internados en una unidad de terapia intensiva por abuso de drogas

 

 

Flávia Antunes1; Magda Lúcia Félix de Oliveira2

 

1Enfermeira, Mestre em Enfermagem. Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital Universitário de Maringá, Maringá - PR, Brasil. email: flanti@bol.com.br.

2Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil. email: mlfoliveira@uem.br.

 

Fecha de Recibido: Abril 24, 2012. Fecha de Aprobado: Mayo 8, 2013.

 

Artículo asociado a investigación: Usuários de drogas de abuso que necessitaram internação em unidade de terapia intensiva - perfis sócio demográficos, características clínicas

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Flávia Antunes F, Oliveira MLF. Characteristics of patients hospitalized at an intensive care unit due to drug abuse. Invest Educ Enferm. 2013;31(2): 201-209.

 


RESUMO

Objetivo. Caracterizar o perfil clínico e demográfico dos pacientes hospitalizados por intoxicação por substâncias de abuso em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital universitário entre os anos de 2004 a 2010. Metodologia. Estudo descritivo no que se coletou informação dos pacientes hospitalizados que foram informados por um Centro de Assistência Toxicológica (CAT) do Paraná (Brasil). As histórias clínicas foram revisadas e se tomou informação sobre idade e sexo, agentes tóxicos e circunstâncias da intoxicação, comorbilidades e resultados clínicos. Resultados. Incluíram-se no estudo 62 pacientes, que tiveram uma média de idade de 58 anos e um 77% foram homens. O álcool foi a substância relacionada com o maior número de internações (77%), seguida pelos medicamentos psicoativos (14%) e a maconha e o craque (5%, cada um). As principais comorbilidades foram a broncopneumonia por aspiração (37%), a cirrose hepática de origem alcoólica (24%) e o traumatismo crânio-encefálico (19%). As circunstâncias mais frequentes da intoxicação foi o abuso crônico (79%), a tentativa de suicídio (19%) e o abuso agudo (4.9%). Um 39% dos pacientes faleceram durante a internação. Conclusão. Os resultados mostram uma preocupante realidade pois os pacientes em sua maioria são homens em idade economicamente ativa e que se intoxicaram com uma substância lícita como é o álcool, com um número relevante de mortes. O enfermeiro deve prestar especial atendimento a este problema de saúde onde tem um papel fundamental como educador no fomento de estilos de vida saudáveis

Palavras chaves: unidades de terapia intensiva; usuários de drogas; hospitalização


RESUMEN

Objetivo. Caracterizar el perfil clínico y demográfico de los pacientes hospitalizados por intoxicación por sustancias de abuso en unidad de cuidados intensivos (UCI) de un hospital universitario en los años de 2004 a 2010. Metodología. Estudio descriptivo en el que se recolectó información de los pacientes hospitalizados quienes fueron informados por un Centro de Asistencia Toxicológica (CAT) de Paraná (Brasil). Las historias clínicas fueron revisadas y se tomó información sobre edad y sexo, agentes tóxicos y circunstancias de la intoxicación, comorbilidades y resultados clínicos. Resultados. Se incluyeron en el estudio 62 pacientes, que tuvieron un promedio de edad de 58 años y de los cuales el 77% era de sexo masculino. El alcohol fue la sustancia relacionada con el mayor número de internaciones (77%), seguida por los medicamentos sicoativos (14%) y la marihuana y el crack (5%, cada uno). Las principales comorbilidades fueron la bronconeumonía por aspiración (37%), la cirrosis hepática de origen alcohólica (24%) y el traumatismo cráneo-encefálico (19%). Las circunstancias más frecuentes de la intoxicación fue el abuso crónico (79%), la tentativa de suicidio (19%) y el abuso agudo (4.9%). Un 39% de los pacientes falleció durante la internación. Conclusión. Los resultados muestran una preocupante realidad pues los pacientes en su mayoría son hombres en edad económicamente activa, quienes se intoxicaron con una sustancia lícita como es el alcohol, con un número relevante de muertes. El enfermero debe prestar especial atención a este problema de salud, dentro del cual tiene un papel fundamental como educador en el fomento de estilos de vida saludables.

Palabras clave: unidades de cuidados intensivos; consumidores de drogas; hospitalización.


 

 

INTRODUÇÃO

O uso das drogas de abuso quase sempre ocasiona consequências danosas ao indivíduo e a sociedade, pois produzem transtornos que determinam consideráveis prejuízos à saúde física e mental dos usuários, causando importante impacto sobre suas famílias,1 além de acarretar custos com a segurança pública e justiça.2 Observa-se que o número de pessoas usuárias de drogas é crescente, e, por serem substâncias que podem causar dependência mental e física, os efeitos do uso crônico desses agentes estão aparecendo precocemente, gerando agravos associados, internações de longa duração e aumentando a mortalidade.3

Diversos campos do saber científico adotam definições dos termos uso, abuso e dependência de drogas. A Classificação Internacional de Doenças (CID - 10) define uso como qualquer consumo, independente da frequência e abuso, um consumo associado a consequências adversas recorrentes, todavia não caracterizando dependência. A dependência se manifesta quando o uso de uma substância passa a caracterizar um estado disfuncional.4 As alterações do psiquismo dependem do tipo de droga de abuso consumida. De acordo com as atividades que exercem no sistema nervoso central (SNC), as drogas de abuso são divididas em três grupos. O primeiro grupo é aquele composto por drogas que diminuem a atividade de cerebral, denominadas depressoras da atividade do SNC; o segundo grupo de drogas é composto daquelas que atuam aumentando a atividade cerebral, denominadas estimulantes da atividade do SNC; e um terceiro grupo é constituído por aquelas drogas que agem modificando qualitativamente a atividade cerebral, recebendo a denominação de perturbadoras da atividade do SNC.5

Os usuários de drogas tornam-se progressivamente tolerantes às intoxicações por elas produzidas e desenvolvem sinais e sintomas de abstinência quando o agente tóxico é retirado. Paralelamente, o uso abusivo causa desgastes à saúde física e mental, podendo afetar o SNC, fígado, coração e pâncreas e o sistema imunológico, tornando os indivíduos vulneráveis a transtornos mentais e doenças associadas ao uso das drogas ou comorbidades.6 Também, as drogas de abuso são associadas ao aumento das violências, acidentes e da criminalidade relacionada ao tráfico de drogas, como roubos, furtos e homicídios, intensificando o quadro de morbimortalidade por estes eventos e causando importante impacto sobre famílias e sociedade.1

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), observa-se que pacientes que fazem uso de drogas de abuso são internados, principalmente, por complicações clínicas ou traumáticas, agudas, ou crônicas agudizadas, geralmente relacionadas com a gravidade da dependência à droga,7 demandando grandes custos para o Sistema Único de Saúde (SUS).8 As UTI são ambientes onde os pacientes que possuem comprometimento das funções vitais e prognóstico mais delicado são internados e recebem atendimento complexo da equipe de saúde especializada, em especial, de enfermagem.9 A principal característica de um paciente internado em UTI é a gravidade de seu estado clínico.10

A internação em UTI é fator gerador de sofrimento para pacientes e familiares e especialmente nessa população, a equipe de enfermagem deve ser apta para compreender e trabalhar com suas doenças e dificuldades, sem julgamentos ou pré-conceitos. É de extrema importância a atuação do enfermeiro com a função de orientação, além do papel que assume entre o paciente e sua família num ambiente estressante para ambos.11,12 Embora se considere importante caracterizar este subgrupo populacional para a construção de estratégias de prevenção e controle, foram encontrados escassos relatos na literatura brasileira sobre internações de pacientes com intoxicações por drogas de abuso em UTI. Para a enfermagem, profissão que muito atua com a prevenção e o cuidado, reconhecer o consumidor de drogas de abuso, bem como suas características, agravos e necessidades, exige a busca de novas estratégias de contato e de vínculo com os mesmos, para que se possa desenhar e implantar programas de prevenção, educação, tratamento e promoção adaptados às diferentes necessidades.13 Assim, este estudo teve como objetivo estabelecer a caracterização clínica e demográfica de usuários de drogas de abuso internados em uma unidade de terapia intensiva para adultos em decorrência de efeitos secundários do uso das drogas.

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório, com abordagem quantitativa de internações na UTI adulto de um hospital ensino, localizado na região Noroeste do Paraná. O hospital em estudo é credenciado ao SUS, caracterizando-se como instituição de caráter público e prioriza atividades de assistência, ensino e pesquisa. A clientela compreende a população dos municípios da região Noroeste, principalmente da 15a Regional de Saúde. A UTI Adulto constitui-se de oito leitos, sendo referência de leitos públicos para atendimento a pacientes críticos da região. Atende pacientes clínicos e cirúrgicos, de ambos os sexos e com idade mínima de 14 anos.

A população em estudo foi composta por 62 pacientes em estado crítico, de ambos os sexos com diagnóstico médico principal ou secundário de intoxicação por drogas de abuso, internados na UTI no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2010, e acessados por meio de arquivos do Centro de Controle de Intoxicações (CCI/HUM), um serviço de apoio às urgências toxicológicas, atendendo em um regime de plantão de 24 horas. As fontes de dados foram a Relação Anual dos Pacientes Internados, arquivadas no CCI/HUM, e os prontuários dos pacientes, arquivados no Serviço de Prontuário de Pacientes. A Relação de Pacientes Internados é uma listagem impressa, onde são registrados manualmente todos os pacientes notificados ao Centro e internados em hospitais da região Noroeste do Paraná, após uma permanência mínima de doze horas de observação clínica.

Da Relação de Pacientes Internados foram anotados os dados relacionados à data da internação - ano em que foi gerada a notificação do caso, organizados e apresentados nos períodos de 2004 a 2007 e 2008 a 2009; idade do paciente - organizada nas faixas etárias de 15 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos e acima de 70 anos, e apresentadas em média de anos da população; sexo do paciente: organizado em masculino e feminino e apresentada a frequência do sexo masculino; classe do agente tóxico - álcool, medicamentos psicoativos, outras drogas de abuso e associação de álcool com outras drogas; circunstância da intoxicação - uso crônico, uso agudo e uso para tentativa de suicídio; e desfecho clínico do caso - na forma de alta hospitalar melhorada ou óbito. Posteriormente, foram auditados os prontuários dos pacientes, e observados registros de comorbidades, sendo eleitas para o estudo a broncopneumonia aspirativa, a cirrose hepática alcoólica e o traumatismo crânio encefálico, que apareceram com maior frequência.

Foi criado um banco de dados no software Epiinfo 3.5.1, onde esses dados foram digitados, processados e analisados por estatística descritiva simples, a fim de apresentar as variáveis relatando-as em termos de frequência absoluta e relativa. O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá (COPEP/UEM), com parecer favorável número 184/2011.

 

RESULTADOS

No período de 2004 a 2010, as internações com diagnósticos médicos em decorrência de efeitos secundários do uso das drogas de abuso representaram 3.8% do total de internações na UTI no período (62/1638).

A proporção de internações que envolviam pacientes usuários de drogas de abuso aumentou gradativamente: entre os anos 2004-2007 foi de 2.2% (20/926) e de 2008 a 2010 de 5.9% (42/712), representando um aumento de 110% em relação ao período anterior. A droga mais relacionada à internação foi o álcool, presente em 80.6% dos diagnósticos médicos registrados. Sem associação com outra droga, o álcool foi responsável pela internação de 48 pacientes (77.4%). Nove pacientes internados haviam feito uso de medicamentos psicoativos (14.4%) e três de outras drogas como a maconha e o crack (4.8%).

Os pacientes tinham variação de idade entre 14 e 72 anos, (com média de idade de 58 anos) e eram predominantemente do sexo masculino (77.4%). As faixas etárias com maior número de pacientes internados foram entre 50 a 59 anos (n=20, 32.3%), entre 40 a 49 anos (n=14, 25.5%) e entre 30 a 39 anos (n=11, 17.7%). As principais comorbidades registradas foram a broncopneumonia aspirativa, diagnosticada em 23 (37.1%); a cirrose hepática de origem alcoólica, em 15 (24.1%), e o traumatismo crânio encefálico (TCE), em 12 pacientes (19.3%). Outras patologias como a insuficiência renal crônica, e a hemorragia digestiva alta, também foram diagnosticadas respectivamente em 7 (11.3%) e 5 (8.1%) dos internados. Desses pacientes, que foram internados, 28 (45.2%) permaneceram internados na UTI por um período superior a 15 dias: 15 (24.1%) permaneceram internados entre 16 e 30 dias e 13 (20.9%), estiveram internados por mais de 30 dias.

O abuso crônico das drogas foi a circunstância da intoxicação mais comumente associada à etiologia das comorbidades nos pacientes hospitalizados na UTI (79%), geralmente por condições crônicas agudizadas. Destes, a maioria obteve alta hospitalar melhorada como desfecho (48.3%), seguido de um número relevante de óbitos (30.7%) (Tabela 1). A maioria dos casos de uso de drogas de abuso para tentativas de suicídio culminaram em alta hospitalar (11.3%), todas elas relacionadas ao uso de medicamentos psicoativos. O abuso agudo esteve presente em um número menor de casos (4.9%), sendo que dois deles evoluíram para óbito, como representado na Tabela 1.

 

DISCUSSÃO

Na UTI estudada, observa-se um aumento importante do número de internações por drogas de abuso, pois 42 (67.7%) foram registradas no último triênio (2008 a 2010), indicando os reflexos do consumo de drogas de abuso na saúde do indivíduo, que culmina em internações hospitalares e para a sobrecarga dos serviços de saúde em todos os níveis de complexidade assistencial.14 Em relação ao uso e distribuição na sociedade, as drogas de abuso são classificadas em lícitas e ilícitas. As lícitas são produtos contendo substâncias psicoativas cuja produção, comercialização e uso não são criminalizados e as drogas ilícitas, não têm livre comercialização e sua produção e uso são passíveis de criminalização e repressão.15 São consideradas drogas lícitas qualquer substância que contenha álcool, nicotina, cafeína, medicamentos sem prescrição médica, anorexígenos e anabolizantes.4

Observa-se que o álcool, uma droga lícita, foi o responsável pela maioria das internações, sendo que muitos pacientes permaneceram mais de 30 dias internados, caracterizando uma longa internação. O consumo global do álcool nos países em desenvolvimento está em ascensão e essa substância é responsável por 4% das mortes que ocorrem no mundo, além de estar associado com sérias questões sociais.16 Estudos que apontam o álcool como a droga mais consumida no Brasil, e, de acordo com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - CEBRID, o etilismo atinge de 5 a 10% da população adulta brasileira.10,17,18

Quanto aos reflexos na saúde individual e da coletividade, as taxas de prevalência de abuso de álcool em populações que buscam assistência médica, variam de 20 a 50%,17 anualmente, aproximadamente oito mil pessoas morrem vítimas do abuso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil,18 e, entre as drogas de abuso, o consumo de álcool foi o mais informado entre pacientes internados em um hospital geral.10

A população brasileira está entre a maior consumidora de bebida alcoólica e as taxas número de utilização continuam em crescimento. Além disso, o país apresenta uma atitude tolerante em relação ao consumo dessa droga. Com a facilidade da venda para os menores de 18 anos, o início do uso torna-se cada vez mais precoce, levando ao uso nocivo e à dependência.19 O consumo per capta de consumidores de álcool no Brasil é mais elevado que a média da população mundial, esse dado é considerado relevante, pois quanto mais alta a média de consumo em uma população, maior a prevalência dos danos relacionados a essa droga.20 E importante ressaltar que o álcool é um potencializador dos efeitos de outras drogas, quando utilizadas concomitantemente, pois gera maior toxicidade e prolonga os efeitos. O uso associado de drogas ocasiona uma maior dificuldade no controle do consumo e, consequentemente, aumento de comportamentos de risco e quadros clínicos de maior gravidade.19

O uso de medicamentos psicoativos - depressores do SNC - também presente na população estudada, pode acarretar em repercussões importantes na saúde do indivíduo, relacionadas a um aumento na morbimortalidade. As consequências do amplo uso desses medicamentos podem repercutir na segurança do paciente devido a impactos na esfera clínica do mesmo podendo resultar em internações.21 Quanto ao crack, embora seja uma droga emergente e com efeitos comprovados à saúde física e mental dos usuários, é responsável, juntamente com outras drogas ilícitas, por uma parcela mínima das mortes causadas diretamente pelo seu consumo. Em contrapartida, o álcool é responsável pela maioria das mortes relacionadas ao uso de drogas no Brasil, sendo responsável por 85% delas.18

Neste estudo, a variação da idade dos pacientes foi de 14 a 72 anos, com média de 58 anos. Percebe-se então que o uso de drogas abrange uma ampla faixa etária, e os usuários, independente da idade, estão tendo acesso às mesmas. Na população da UTI estudada, pudemos observar que, independente da idade, as drogas podem ser responsáveis por ocasionar danos ao indivíduo, resultando em um grave estado de saúde aos mesmos, desde os adolescentes até os mais idosos. Observou-se que muitos dos indivíduos internados tinham idade localizadas em faixas etárias entre 30 a 59 anos, mostrando uma população que está predominantemente em idade economicamente ativa, levando a supor que os agravos à saúde e as incapacidades gerados pelo uso problemático das drogas é importante como identificado em estudos anteriores.7,22

Em relação aos indivíduos mais maduros, estes tendem a serem os maiores consumidores de medicamentos, inclusive vendidos sem receitas, incluindo o uso único ou concomitante do álcool. As mudanças fisiológicas que acompanham a idade influenciam as concentrações de medicamentos e seu metabolismo, de forma que a ingestão de vários medicamentos e as interações de outras drogas como o álcool, podem influenciar negativamente a capacidade funcional, levando o indivíduo a adoecer mais, bem como a habilidade psicomotora, levando o indivíduo a ser mais propenso à acidentes que podem resultar em uma internação em terapia intensiva conforme a gravidade do estado clínico.23

O presente estudo confirma a tendência do sexo masculino à maior exposição e, consequentemente, aos efeitos graves do uso das drogas ao organismo. Essa tendência de consumo não é diferente de outras regiões do país, onde a prevalência de óbitos e dos usuários dependentes de drogas de abuso, em especial o álcool, é a população do sexo masculino.10,18 Também na população estudada, muitos pacientes apresentaram diagnóstico de broncopneumonia aspirativa como comorbidade, este fato pode ser atribuído aos episódios de náuseas, que são bastante frequentes em pacientes que ingerem substâncias depressoras do sistema nervoso central. Vômitos podem ocorrer nas pessoas que apresentam diminuição do nível de consciência, aumentando as chances de aspiração pulmonar do conteúdo gástrico, podendo levá-las a um quadro de pneumonia, o que agrava ainda mais o estado clínico das mesmas.24

Em tratando-se da exposição crônica do álcool, esta pode acarretar um nível de toxicidade que atinge direta ou indiretamente importantes órgãos ou sistemas corporais e consequentemente originando doenças como o cirrose hepática, doença comum encontrada nessa população.20 No caso das intoxicações agudas de drogas de abuso, estudos20-25 mostram sua relação direta com acidentes e violências, conduzindo a internação hospitalar pelas consequências graves desses eventos. O alto índice de TCE observado no presente estudo, advindos de quedas, acidentes de trânsito e brigas, aponta esta tendência. O uso de drogas de abuso está cada vez mais frequente na população e, consequentemente, as internações decorrentes dessas substâncias também estão se tornando crescente. Os efeitos deletérios decorrentes do uso e abuso dessas drogas no organismo, muitas vezes exigem cuidados especializados devido à gravidade dos casos, aumentando assim o número de internações desses pacientes em UTI, ocasionando um problema ainda mais preocupante de saúde pública. Quando o abuso do álcool ou outras drogas acarreta em uma internação em terapia intensiva, é porque o problema tomou dimensões ainda mais preocupantes e que acaba também ocasionando reflexos em toda estrutura familiar.26

Na população estudada, os pacientes encontravam-se em situação de extrema gravidade, mostrando que os efeitos deletérios do consumo de uma droga, seja um consumo agudo ou crônico, realmente podem cessar a vida do indivíduo. Pode, também, ocasionar sequelas físicas e/ou emocionais permanentes, que se estendem às demais pessoas do ciclo de convívio do paciente.2 Não podemos deixar de ressaltar que existe uma subnotificação pelas equipes nos serviços de saúde no que diz respeito aos atendimentos e internações nos casos em que o paciente fez uso de drogas de abuso. Essa vigilância é deficiente nos hospitais em geral, principalmente nos que não existem os centros de assistência toxicológica, havendo uma maior escassez de dados que possam ser confrontados com as gravidades dos pacientes.

O que observou-se na população estudada é um reflexo do consumo global cada vez maior e descontrolado dessas substâncias. No Brasil, de 1996 a 2007, houve um aumento de 5% no coeficiente de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, incluindo os agravos e doenças associados ao uso prejudicial do álcool, e a mortalidade ajustada para idade por doenças associadas ao uso dessa substância, aumentou de 4.3 para 5.2 para cada 100 mil pessoas.27 Embora esse estudo tenha sido realizado com uma população específica - usuários de drogas em estado crítico, as características encontradas nesta população apontam para uma preocupante realidade: aumento da proporção das internações na UTI no decorrer dos anos; agravo no sexo masculino, em idade economicamente ativa; uma droga lícita, o álcool, como principal droga de abuso; as comorbidades mais frequentes foram broncopneumonia aspirativa, cirrose hepática alcoólica e TCE; período de internação longo; a maioria eram usuários crônicos das drogas; e um número relevante de óbitos, mesmo para parâmetros de terapia intensiva.

Frente ao exposto, é essencial que o enfermeiro qualifique sua equipe, através de atividades de educação continuada, para que todos os profissionais envolvidos na assistência, de forma direta ou indireta, desenvolvam uma assistência mais humana e de qualidade, e menos estigmatizante aos usuários de drogas de abuso. A atuação do enfermeiro em todos os níveis de atenção, desde a atenção primária até a atenção especializada, com atividades de prevenção, acompanhamento e orientação, também é essencial. Por ser um assunto atual e ainda escasso em estudos da Enfermagem, há a necessidade de futuras discussões e pesquisas com essa população, a fim de conhecer suas necessidades e promover uma melhor assistência a essa clientela, para que possam enfrentar de forma mais eficaz e digna, o período de adoecimento, internação e pós-internação.

 

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