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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.2 Medellín May/Aug. 2013

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTÍCULO ORIGINAL

 

Distúrbios de voz em professores: implicações para os cuidados do enfermeiro do trabalho

 

Distúrbios de voz em professores: implicações para os cuidados do enfermeiro do trabalho

 

 

Marta Regina Cezar Vaz1; Luana de Oliveira Severo2; Anelise Miritz Borges3; Clarice Alves Bonow4; Laurelize Pereira Rocha5; Marlise Capa Verde de Almeida6

 

1Enfermeira, Doutora. Professor. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande -FURG-, Rio Grande (RS), Brasil. email: cezarvaz@vetorial.net .

2Enfermeira, Mestranda. FURG-, Rio Grande (RS), Brasil. email: luanasevero.enf@gmail.com.

3Enfermeira, Doutoranda. FURG-, Rio Grande (RS), Brasil. email: miritzenfermeira@yahoo.com.br .

4Enfermeira, Doutoranda. Professora Universidade Federal do Pampa - Campus Uruguaiana (RS), Brasil. email: claricebonow@unipampa.edu.br.

5Enfermeira, Doutoranda. FURG-, Rio Grande (RS), Brasil. email: laurinharoch@hotmail.com.

6Enfermeira, Doutoranda. FURG-, Rio Grande (RS), Brasil. email: marliseenf@msn.com.

 

Fecha de Recibido: Octubre 2, 2012. Fecha de Aprobado: Mayo 8, 2013.

 

Artículo asociado a investigación: Occupational Health Program of the School of Nursing.

Subvenciones: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Cezar-Vaz MR, Severo LO, Borges AM, Bonow CA, Rocha LP, Almeida MCV. Voice disorders in teachers. Implications for occupational health nursing care. Invest Educ Enferm. 2013;31(2): 252-260.

 


RESUMO

Objetivo. Identificar as características trabalhistas e seus envolvimentos na ocorrência de transtornos da voz em professores de escolas de ensino infantil e fundamental. Metodologia. Estudo quantitativo exploratório realizado num município da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul/Brasil. A mostra esteve composta por 37 professores de escolas de ensino infantil e fundamental. Resultados. Todos os participantes foram de sexo feminino e tinham uma média de idade de 40 anos. Em 78% se referiu apresentar um ou mais transtornos da voz (54% ronquidos, 41% falhas na voz, 27% perda da voz e 3% tosse). O ambiente escolar ruidoso foi identificado como possível fator desencadeador do transtorno da voz num 49%. Um 46% de todas as professoras referiu não realizar nenhum tratamento quando tem problemas vocais. As medidas específicas empregadas com mais frequentes foram: o uso de medicamentos (32%) e a terapia fonoaudiológica (5%). Conclusão. Os transtornos da voz são frequentes nas professoras participantes no estudo, sendo relacionados principalmente com um ambiente ruidoso escolar. É importante que o enfermeiro intervenha com estratégias educativas para a redução dos fatores de risco para a saúde vocal dos professores nessas condições de trabalho.

Palavras chaves: enfermagem do trabalho; saúde do trabalhador; distúrbios da voz.


RESUMEN

Objetivo. Identificar las características laborales y sus implicaciones en la ocurrencia de trastornos de la voz en profesores de escuelas de enseñanza infantil y fundamental. Metodología. Estudio cuantitativo exploratorio realizado en un municipio de la región metropolitana de la capital de Rio Grande do Sul/Brasil. La muestra estuvo compuesta por 37 profesores de escuelas de enseñanza infantil y fundamental. Resultados. Todos los participantes fueron de sexo femenino y tenían un promedio de edad de 40 años. El 78% refirió presentar uno o más trastornos de la voz (54% ronquidos, 41% fallas en la voz, 27% pérdida de la voz y 3% tos). El ambiente escolar ruidoso fue identificado como posible factor desencadenador del trastorno de la voz en un 49%. Un 46% de todas las profesoras refirió no realizar ningún tratamiento cuando tiene problemas vocales. Las medidas específicas empleadas con más frecuentes fueron: el uso de medicamentos (32%) y la terapia fonoaudiológica (5%). Conclusión. Los trastornos de la voz son frecuentes en las profesoras participantes en el estudio, siendo relacionados principalmente con un ambiente ruidoso escolar. Es importante que el enfermero intervenga con estrategias educativas para la reducción de los factores de riesgo para la salud vocal de los profesores en esas condiciones de trabajo.

Palabras clave: enfermería del trabajo; salud laboral; trastornos de la voz.


 

 

INTRODUÇÃO

O uso da voz está relacionado ao trabalho de diferentes profissionais. Para alguns a exigência de sua utilização é maior, nos processos comunicacionais e de expressividade,1 passando a ser tema da subárea de conhecimento da saúde do trabalhador. Nesse contexto, entende-se a saúde vocal como alvo de assistência especializada representada por um núcleo de saber estruturado e, também, um objeto de estudo interdisciplinar. Destaca-se a prevalência dos distúrbios de voz entre diversas categorias de trabalhadores, como os professores.2 Entretanto, os distúrbios da voz relacionados ao trabalho não foram incluídos nos Protocolos de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde/BR, diferentemente da Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR).3

O magistério é uma das categorias profissionais mais numerosas a usar a voz,4 como instrumento de trabalho, nos processos reflexivos do pensar e do agir. Isso porque a voz permite à linguagem verbal transformar-se em comunicação entre professores e alunos nos processos de ensino-aprendizado formal ou mesmo informal. Nos processos referidos, existem condições desencadeadoras de distúrbios na região orofaríngea, como, por exemplo: a carga horária excessiva em atividades diretas com os alunos; o uso intensivo e elevado da voz como recurso em uma sala de aula ruidosa; a deficiência acústica, de ventilação e aeração nas salas de aula; o número exagerado de alunos em sala de aula; o próprio estresse, dentre outras.4

Os distúrbios da voz, os quais dificultam a transmissão da mensagem oral desejada, chamam-se disfonia.5 Seus sintomas mais comuns são: rouquidão, pigarro/tosse, dor de garganta/ardor, fadiga vocal, garganta seca, perda de voz e variação na emissão vocal.5,6 Em decorrência dos problemas vocais, sobrevém o desenvolvimento de alterações auditivas, compreendidas por uma série de transtornos físicos e comportamentais, dentre os quais, a presença de zumbido, tonturas, cefaleia, cansaço, insônia e estresse, capazes de provocar a constrição dos vasos periféricos. A constrição pode induzir ao aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca e da atividade gastrintestinal. Além disso, a necessidade de elevar o tom de voz durante as atividades em grupo, em ambientes ruidosos, pode provocar alterações na capacidade de se comunicar, afetando diretamente a saúde dos professores.6

Frente aos possíveis distúrbios vocais enfrentados pela categoria profissional analisada, demandam-se cuidados específicos e estudos focalizados nas condições de trabalho. O que requer, por parte do enfermeiro do trabalho, conhecimentos específicos, referentes às condições de trabalho que interferem na produção vocal. Para que assim, o conjunto desses conhecimentos represente subsídios para a intervenção na promoção da saúde do professor, por meio da clínica do trabalho. Na literatura referente à saúde vocal dos professores, identifica-se ainda pouca participação de enfermeiros na autoria de estudos. Temos importantes pesquisas sobre condições de trabalho e os fatores de risco para os distúrbios da voz7-10 e ainda a compreensão dos referidos distúrbios nos processos comunicacionais e de expressividade.1

O presente estudo contribui para complementar o conhecimento já constituído e fornecer subsídios à prática da enfermagem do trabalho. Daí surge o questionamento: quais características do trabalho são relacionadas pelos professores como condicionantes para ocorrência de distúrbios de voz? Justifica-se o estudo proposto, partindo do princípio de que o enfermeiro possui importante papel em relação à busca por melhores condições de vida e trabalho para os trabalhadores, no caso em questão, os professores. Nessa perspectiva, torna-se relevante identificar as características do trabalho e suas implicações na ocorrência de distúrbios vocais autorreferidos por professores de escolas públicas.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, de corte transversal, com análise quantitativa sobre distúrbios vocais em professores. Realizado em um município de pequeno porte (39.685 habitantes)11 da região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul/Brasil, sede de um dos polos de extensão da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Compuseram a amostra intencional 37 professores de ensino público infantil e fundamental do município sede. Os professores foram convidados pela Universidade e pela Secretaria Municipal de Educação a participarem da oficina de integração de trabalho coletivo em saúde entre universidade e comunidade escolar. Os informantes do estudo atenderam aos seguintes critérios de inclusão: representar professores de uma escola pública e, participar da oficina de integração. Os informantes do estudo atenderam aos seguintes critérios de inclusão: representar professores de uma escola pública e, participar da oficina de integração de trabalho coletivo em saúde entre universidade e comunidade escolar.

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário fechado, autoaplicável e de múltipla escolha, o qual contemplou variáveis relacionadas à temática sobre a saúde vocal, contemplando características ambientais da escola, distúrbios da voz e medidas de atenção à saúde vocal. O questionário foi adaptado de outro estudo12 e previamente validado no Laboratório de Estudo de Processos Socioambientais e Produção Coletiva de Saúde. A aplicação foi realizada pela pesquisadora responsável e por acadêmicos de pós-graduação strito sensu, durante uma oficina de trabalho em saúde do referido programa de integração entre universidade e comunidade escolar do município, no primeiro semestre de 2012.

A organização e a análise quantitativa foram auxiliadas pelo uso do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0. Para a apresentação dos resultados, realizou-se a distribuição de frequências de números absolutos e em porcentagens, por meio de uma análise estatística descritiva simples, ponderando-se a frequência absoluta e percentual dos dados, como forma de organizá-los e apresentá-los.13 Posteriormente os dados foram agrupados no conjunto das variáveis correspondentes ao foco do estudo - as características do trabalho e suas implicações na ocorrência de distúrbios vocais em professores de escolas públicas. Todos os participantes do estudo foram informados quanto aos objetivos do mesmo e assinaram em duas vias o TCLE, garantindo-lhes o anonimato e a privacidade das informações. A pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Educação do Município e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde, com o parecer 019/2010.

 

RESULTADOS

Todos as professoras eram do sexo feminino; a média de idade foi de 39.6 ± 10.1, variando entre 19 e 68 anos; 73% eram casadas ou viviam em união consensual e 91.9% se autodeclararam da cor branca. Quanto à formação, 45.9% informaram possuir pós-graduação completa. No que tange ao tempo de trabalho das entrevistadas, 51.4% afirmaram atuar em mais de uma escola há mais de dez anos. Quanto ao tempo de atuação como professores, 62.2% responderam exercer a profissão há mais de dez anos. Em relação aos locais de trabalho, 75.7% referiram trabalhar em uma escola. No que se refere às horas semanais de trabalho, 37.8% das professoras responderam atuar entre 30 e 40 horas diretamente com os alunos em sala de aula (Tabela 1).

Em relação aos aspectos ambientais, como poeira, ventilação, umidade e temperatura da escola, as professoras não os apontaram como fatores de risco à saúde vocal. Porém, 48.6% identificaram o ruído como possível fator desencadeador de distúrbios vocais, sendo o mesmo proveniente da própria sala de aula, para 32.4% das entrevistadas (Tabela 2).

No grupo das professoras, 78.7% referiram apresentar algum distúrbio vocal e, o principal deles foi a rouquidão (54.1%), falhas na voz (41.1%), perda da voz (27.0%) e tosse (2.7%). Quanto aos hábitos vocais, 51.4% das professoras referiram falar muito (Tabela 3). As medidas de atenção com a voz foram indicadas: 35.1% referiram poupar a voz quando não estão com os alunos, 18.9% indicaram beber água durante o uso da voz. Entre as 37 professoras questionadas, identificou-se a unanimidade quanto a não utilização de álcool e tabaco.

 

DISCUSSÃO

A intensificação do trabalho é muito comum na rotina de atividades dos professores de ensino infantil e fundamental, especialmente quando considerada a saúde vocal deles.14 Uma das características observadas em estudo15 é a atuação em mais de uma escola, ponto corroborado pela presente pesquisa e que pode estar relacionado a baixa remuneração da categoria profissional.8 A maioria das professoras referiu rendimento superior ao piso salarial base (R$ 950,00) instituído pela Lei n° 11.738, considerando o salário mínimo brasileiro de R$ 545,00, no momento da pesquisa. O que pode estar diretamente associado à intensificação do trabalho em mais de uma escola pela necessidade de aumentar a renda familiar.8 Tratando-se este ser mais um aspecto gerador de alterações na saúde do professor, como pode ser ratificado por estudo16 que retrata o estresse como fator relacionado ao salário inadequado dos professores, contribuindo como agravante para os problemas vocais.4

Além disso, o excesso de trabalho pode causar disfonia, já que constitui um gerador de ansiedade e estresse, ambos causadores da deterioração da voz dos professores,17 como é identificado neste estudo e pode estar relacionado a concentração da carga horária semanal em sala de aula diretamente com os alunos, entre trinta e mais de quarenta horas, da mesma forma, a maioria deles com tempo superior a dez anos de trabalho completo. Semelhante carga horária foi relatada em estudo8 realizado com professores do ensino fundamental, no qual ela se apresenta superior a trinta horas semanais acrescendo carga horária para preparação das aulas, correções de trabalhos e deslocamento entre uma escola e outra,com tempo médio de magistério de catorze anos. Tal aspecto justifica o desenvolvimento de alterações na voz, que poderão vir a se manifestar.

O excesso de ruído é um agravante à saúde dos professores, pois os induz a elevar a intensidade da voz, a fim de torná-la audível aos alunos, aumentando o esforço e o cansaço vocal no final do dia.18 Esse fator é considerado de risco para a disfonia, pois gera a competição sonora e o aumento do esforço vocal realizado durante as aulas.15 Pesquisa19 evidencia que o comportamento vocal em relação à exposição ao ruído possui um espectro individual, no qual o aumento ou a diminuição da voz não apresenta associação direta com o aumento ou a diminuição do ruído, mas sim com a percepção individual, pois é possível haver aumento ou diminuição da voz em um mesmo ambiente de ruído.

Os resultados indicam que os distúrbios vocais estão presentes na vida das professoras, como falhas e perdas na voz, rouquidão e tosse. A literatura demonstra evidências que ratificam a realidade aqui apresentada. Estudos8,9,14 observaram professores do ensino fundamental com disfonia, rouquidão, voz fraca e estridente, perda da voz, cansaço vocal, dor na garganta e falhas na voz. Portanto, os sintomas apontados são reflexos do desgaste vocal, associado geralmente à tentativa dos professores de se fazerem compreender e da necessidade de exercerem o controle sobre os alunos em sala de aula, utilizando-se de extremos nas variações do tom da voz. Além do desgaste causado, eles necessitam compreender que as vozes disfônicas também prejudicam o aprendizado do aluno. Tais ações acarretam alterações nos músculos vocais, que perduram durante todo o dia de trabalho, gerando cansaço e perda da qualidade vocal, gradativamente.15

A fim de minimizar os danos mencionados, é importante cuidar da saúde vocal. Constatou-se que a ingestão de água durante o uso da voz foi um dos hábitos menos referidos pelas professoras, o que corrobora o achado de uma pesquisa20 com diferente categoria de professores, o universitário, demonstrando que esse hábito saudável para a atividade desses profissionais também não é desenvolvido. Tal postura contribui para o desencadeamento de distúrbios vocais,5 que podem ser agravados por fatores ambientais, como a organização do trabalho e o estilo de vida.4 Destaque especial é dado ao tabagismo, ao etilismo e à falta de hidratação, além de hábitos inadequados de uso vocal, como os apresentados neste estudo - falar muito, falar durante a realização de atividades físicas, falar em lugar aberto e gritar. Um ponto positivo frente ao estilo de vida das professoras está relacionado à ausência dos hábitos etílico e tabagista.

No presente estudo, a maioria dos respondentes relatou apresentar distúrbios vocais relacionados ao trabalho; no entanto, a referência à realização de tratamentos foi indicada pela minoria. A busca pelos serviços de saúde para realizar exames periódicos, no caso, especificamente exames vocais, é importante, na medida em que eles podem auxiliar na identificação de potenciais sinais e sintomas que venham a prejudicar a saúde do trabalhador em longo prazo.19 Em face do exposto, verifica-se a necessidade de maior cuidado com a saúde vocal dos professores, pois o ato de falar em demasia e em tom de voz alto, sem a ingestão de água durante as aulas para a hidratação das cordas vocais, por exemplo, torna-se um fator prejudicial, que poderá desencadear distúrbios na fala.5

Frente às condições apresentadas, há a necessidade da preparação dos professores para a realização de cuidados com a sua saúde vocal, de maneira que compreendam os fatores passíveis de influenciar sua rotina de trabalho e, consequentemente, sua vida. Medidas preventivas e promotoras da saúde individual e coletiva em relação ao ambiente de trabalho dos professores representam destaque no espectro de intervenção do enfermeiro do trabalho. Como exemplo, o aconselhamento à negociação direta entre colegas e alunos para a constituição de locais menos ruidosos no ambiente de trabalho. Fato que representaria o aumento da participação dos professores nos processos facilitadores para a organização do seu trabalho. Os professores são representantes de um estímulo intelectual, o que os capacita a avaliar o seu ambiente de trabalho em relação às próprias condições de saúde, no sentido de propor e até mesmo de desenvolver mudanças tecnológicas para um ambiente saudável na escola. Tal condição pode possibilitar um olhar para a política de investimento na educação permanente, voltada às mudanças nas condições do ambiente de trabalho, repercutindo no processo de ensino-aprendizado e na saúde dos professores.

Outro ponto de aconselhamento para a negociação das condições de trabalho é a assistência à saúde vocal como ponto específico da saúde do trabalhador, com o tratamento de afecções concomitantes e acompanhamento para a obtenção de diagnóstico laringológico preciso, diante das evidências de fatores ambientais e sociais implicados no uso da voz. Nessa perspectiva, reitera-se que os enfermeiros do trabalho necessitam conhecer a realidade de trabalho dos professores, de maneira a aconselhá-los na prevenção de distúrbios vocais e na promoção de um ambiente saudável. Para isso, podem orientar cuidados essenciais à manutenção da saúde vocal, auxiliando em reformulações em prol da saúde dos professores, partindo dos hábitos cotidianos: ingestão de água para a hidratação; prevenção de choques térmicos nas cordas vocais com alimentos ou líquidos; manutenção de alimentação saudável e regular, evitando a ingestão de bebidas alcoólicas em excesso; evitar fumar e falar muito em ambientes de fumantes; evitar falar em ambientes secos, ruidosos, abertos ou empoeirados, e enquanto escreve no quadro-negro; evitar falar durante quadros gripais ou alérgicos, durante a prática de exercícios físicos e o uso de tons graves ou agudos demais; procurar não competir com o ruído, avaliando a interferência dele na produção da voz; durante as aulas, controlar a disciplina dos alunos por meio de mudanças de atitudes e condutas, falando sempre de frente para eles; utilizar o intervalo das aulas como tempo para repouso vocal.5

Outro cuidado importante para a saúde vocal dos professores encontrado na literatura é o uso de microfones em sala de aula,20 estratégia que minimizaria o esforço e, consequentemente, o desgaste vocal durante o período de trabalho. A manutenção dos hábitos citados contribui para a minimização dos problemas vocais dos professores, sendo necessário que os mesmos tenham atenção para com a sua saúde desde o período da formação acadêmica, estendendo-a por toda a carreira.20 Desse modo, promovem sua saúde, bem-estar e, principalmente, o prazer profissional de trabalhar em condições saudáveis e adequadas, na dimensão individual e na coletividade escolar.

 

CONCLUSÃO

Foi referido distúrbio vocal pela maioria das professoras, sendo este relacionado ao ambiente ruidoso da escola. Conhecer para evitar ou mesmo eliminar os riscos à saúde vocal envolve a intervenção de profissionais com habilidades e experiência na área do trabalho, como o enfermeiro promotor da saúde do trabalhador. Para que isso aconteça, é preciso conhecer a saúde vocal dos professores, por meio da investigação das condições ambientais coletivas de trabalho e do conhecimento clínico das condições de saúde individuais. Entende-se que o presente estudo possui limites de abrangência numérica e referente a outras questões ligadas à saúde integral dos trabalhadores investigados, como, por exemplo, fatores psicossociais, que podem também estar associados a distúrbios na saúde vocal. Mas acredita-se que, a despeito dos limites, o estudo ora apresentado contribui com a área do conhecimento e com as práticas do enfermeiro do trabalho nesse ambiente específico e noutros com semelhantes condições de trabalho.

 

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