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Investigación y Educación en Enfermería

versão impressa ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.2 Medellín maio/ago. 2013

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTÍCULO ORIGINAL

 

Avaliação da autoestima em estudantes de enfermagem de uma universidade do sul de Minas Gerais (Brasil)

 

Evaluación de la autoestima en estudiantes de enfermería de una universidad del sur de Minas Gerais (Brasil)

 

 

Erika Cássia Lopes Chaves1; Talita Prado Simão2; Iara Siqueira de Oliveira3; Isis Prado de Souza4; Denise Hollanda Iunes5; Denismar Alves Nogueira6

 

1Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade Federal de Alfenas -UNIFAL- (MG), Brasil. email: erika.chaves@unifal-mg.edu.br.

2Enfermeira, Mestra. UNIFAL (MG), Brasil. email: tatipsimao@yahoo.com.br.

3Enfermeira. UNIFAL (MG), Brasil. email: iarinhacv@yahoo.com.br.

4Enfermeira. UNIFAL (MG), Brasil. email: isis_prados@hotmail.com.

5Fisioterapeutata, Doutora. Professora, UNIFAL (MG), Brasil. email: deniseiunes@unifal-mg.edu.br.

6Zootecnista, Doutor. Professor, UNIFAL (MG), Brasil. email: denismar@unifal-mg.edu.br.

 

Fecha de Recibido: Octubre 8, 2012. Fecha de Aprobado: Mayo 8, 2013.

 

Artículo asociado a investigación: Avaliação da Postura Corporal em Estudantes de infermagem.

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Chaves ECL, Simão TP, Oliveira IS, Souza IP, Iunes DH, Nogueira DA. Assessment of nursing students' self-esteem at a university in the South of Minas Gerais (Brazil). Invest Educ Enferm. 2013;31(2): 261-269.

 


RESUMO

Objetivo. Avaliar a autoestima dos alunos de enfermagem e explorar a relação da mesma com fatores de formação profissional que pudessem influenciá-la. Metodologia. Investigação descritiva realizada com 135 estudantes de enfermagem de uma universidade do sul de Minas Gerais (Brasil). A recolha da informação se fez de maio a setembro de 2011. Utilizou-se um formulário auto-aplicado que recolhia a informação das características sócio-demográficas e de satisfação com a carreira eleita, e a Escala de Autoestima de Rosenberg. Resultados. Do total, 90% é de sexo feminino, 41% tem 20 anos ou menos, e 96% é solteiro. Um de cada três estava matriculado nos dois primeiros anos da carreira. Por nível de autoestima se encontrou que num 68% foi elevada, um 30% foi média, e num 2% foi baixa. Encontrou-se uma relação positiva entre o nível de autoestima e a perspectiva profissional (p=0.011). Conclusão. A maior parte dos alunos de enfermagem apresentam autoestima elevada, a qual está relacionada com a perspectiva profissional.

Palavras chaves: autoimagem; estudantes de enfermagem; enfermagem.


RESUMEN

Objetivo. Evaluar la autoestima de los alumnos de enfermería y explorar la relación de la misma con factores de formación profesional que pudieran influenciarla. Metodología. Investigación descriptiva realizada con 135 estudiantes de enfermería de una universidad del sur de Minas Gerais (Brasil). La recolección de la información se hizo de mayo a septiembre de 2011. Se utilizó un formulario autoaplicado que recogía la información de las características sociodemográficas y de satisfacción con la carrera elegida, y la Escala de Autoestima de Rosenberg. Resultados. Del total, el 90% es de sexo femenino, 41% tiene 20 o menos, y el 96% es soltero. Uno de cada tres estaba matriculado en los dos primeros años de la carrera. Por nivel de autoestima se encontró que en un 68% fue elevada, un 30% fue media, y en un 2% fue baja. Se encontró una relación positiva entre el nivel de autoestima y la perspectiva profesional (p=0.011). Conclusión. La mayor parte de los alumnos de enfermería presentan autoestima elevada, la cual está relacionada con la perspectiva profesional.

Palabras clave: autoimagen; estudiantes de enfermería; enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

A autoestima pode ser definida como uma consideração pessoal que o indivíduo faz sobre seu sentimento e apreço, ou seja, a pessoa analisa o quanto ela gosta de si, como ela se vê e o que pensa a respeito de si mesma.1 O seu significado é bastante subjetivo, contudo está diretamente relacionada ao fator psicológico de bem-estar.2 Entre outras palavras, ela compreende a avaliação que a pessoa faz de si própria. Tal avaliação permeia dois componentes: o de autoconceito e o de autoconhecimento.3 Desse modo, avaliar a autoestima em estudantes universitários se faz necessário, visto que a passagem para o ensino superior pode ser considerada um momento desafiador, em que a autoestima pode mostrar-se comprometida, uma vez que é um período repleto de mudanças, cuja resposta apresentada pode variar de pessoa a pessoa, pois envolve as características desenvolvimentais do próprio jovem.4 Além do que, é nessa fase de adaptações que surgem os sentimentos de ansiedade, de medo e de insegurança, já que a escolha de um determinado curso reflete a decisão sobre sua futura vida profissional, portanto uma opção errada neste momento poderá implicar frustração no decorrer de sua vida.

A sobrecarga de tarefas no cotidiano escolar é outro fato que merece destaque, uma vez que os alunos, na tentativa de conseguir cumpri-las corretamente dentro do processo de ensino e de aprendizagem, desencadeiam estresse e fadiga.5 Na graduação em enfermagem, essas situações parecem estar relacionadas com maior frequência, pois, durante o percurso acadêmico, o estudante lida com o ser humano, num processo contínuo de saúde-doença, nas diferentes fases da vida, enfrentando constantemente tarefas difíceis e diversificadas, além de presenciar situações de sofrimento, de dor e de morte.5 Dessa forma, a soma de todos esses fatores, ou de parte deles, pode influenciar, de maneira indireta, a relação interpessoal e a autoestima dos estudantes de enfermagem.

A junção da vida agitada, pressão e estresse, cada vez mais frequentes no cotidiano dos graduandos, geram redução na autoestima que, por sua vez, configuram como um importante problema da atualidade. Portanto, há necessidade de investimentos em estudos que busquem conhecer o perfil dos estudantes de enfermagem, bem como formas de lidar com a autoestima. A validação de instrumentos de avaliação da autoestima foi uma grande contribuição para investigar esse fenômeno na população brasileira. Entre esses, destaca-se a escala de Rosenberg, que é de autoria do próprio Rosenberg,6 adaptada e validada no Brasil1 e que teve qualidades psicométricas satisfatórias, mostrando-se um instrumento confiável para avaliar a autoestima.7

Sabe-se a importância de conhecer, de pesquisar e de detectar os problemas relacionados com a autoestima, uma vez que esta pode ser influenciada por diversos fatores, dentre eles, as características pessoais, psicológicas e emocionais. Diante do exposto, este estudo teve como objetivos avaliar a autoestima de graduandos do curso de enfermagem e identificar se há relação da mesma com o período cursado pelo sujeito da pesquisa, bem como com fatores pessoais, clínicos e de formação profissional que podem influenciá-la.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo, realizado junto aos 154 alunos do curso de Enfermagem de uma Universidade Federal localizada no Sul de Minas Gerais, no período de maio a setembro de 2011. Como critério de inclusão, consideraram os alunos que estavam cursando e devidamente matriculados no ano de 2011. Como critério de exclusão foram considerados os alunos que não estavam presentes às aulas no período da coleta de dados e que, após três tentativas de contactá-los, recusaram-se em participar da pesquisa. Dessa forma, a amostra foi composta por 135 sujeitos, o que configura uma amostragem por conveniência.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sobre o protocolo n° 032/2011. Todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Na coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos, ambos autoaplicáveis. O primeiro, elaborado com base na literatura,8-10 é um formulário que buscou caracterizar os estudantes de Enfermagem quanto a aspectos sociodemográficos, as condições de saúde e a aspectos relacionados com a formação profissional. O segundo instrumento aplicado foi a Escala de Rosenberg, considerado um instrumento unidimensional, muito usado pela literatura, para avaliar a autoestima.8,10-13

A Escala de Rosenberg é composta de 10 itens, dos quais, cinco avaliam sentimentos positivos e cinco avaliam sentimentos negativos do indivíduo sobre si mesmo; suas respostas são divididas em quatro pontos do tipo Likert: 1=concordo plenamente, 2=concordo, 3=discordo, 4=discordo plenamente. Para a pontuação das respostas, os cinco itens que expressam sentimentos positivos têm valores invertidos, que, somados aos demais, totalizam um valor único para a escala. O intervalo possível de valores varia de 10 a 40.6 O nível de autoestima se interpretou como baixo (10-20 pontos), meio (21-30) e alto (31-40).

A coleta de dados foi realizada mediante apresentação das orientações a respeito do objetivo e do método de estudo. Os instrumentos de coleta de dados foram distribuídos no início da atividade acadêmica do dia e recolhidos ao final do período de aula, a fim de que fosse preenchido no momento conveniente. Após o preenchimento, os instrumentos foram devolvidos em um local previamente determinado, em envelopes lacrados, assegurando-se o anonimato e a privacidade dos respondentes.

Os dados coletados foram organizados e tabulados, utilizando-se o aplicativo Microsoft Excel 2007 e sua análise foi realizada por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0. A estatística descritiva foi empregada para descrever e resumir os dados quantitativos e as variáveis qualitativas foram descritas pela análise de frequência e pela tabela de contingência. O teste de Qui-quadrado foi aplicado com 5% de significância, juntamente com o coeficiente de correlação de Spearman.

 

RESULTADOS

Dos 135 participantes da pesquisa, 25.2% cursavam o 1° ano; 24.3% o 2° ano; 26.0% o 3° ano e 24.5% o 4° ano de Enfermagem. O perfil dos estudantes, de acordo com os dados sociodemográficos, é apresentado na Tabela 1, na qual observa predominância do sexo feminino (89.6%), a cor branca (77.0%), a faixa etária dos 20-30 anos (56.2%) e solteiros (96.3%). Em relação à condição socioeconômica dos participantes, ressalta que a maioria dos participantes (76.3%) reside em casa alugada e 95.6% não possuem vínculo empregatício. Quanto à renda familiar, foi observado que 42.2% dos sujeitos apresentaram renda familiar mensal de um a três salários mínimos. (Tabela 1).

Ao verificar a forma como os estudantes residem, foi observado que a maioria dos sujeitos 54.1% morava em república. 17.0% moravam com os pais e os demais 28.8% moravam sozinhos em pensionato, com outros familiares, ou com cônjuge. A respeito de qual fonte de informação os participantes utilizavam, dentre televisão, rádio, internet e revista, a maioria dos alunos (76.3%) escolheram internet.

Ao investigar a percepção dos estudantes quanto aos aspectos específicos da graduação em Enfermagem, observou-se que a maioria dos estudantes (97.8%) estavam satisfeitos com o curso escolhido e 75.6% se veem como um profissional bem sucedido, embora grande parte desses, 59.3% não tenham escolhido esse curso como primeira opção profissional. Desse modo, somente 37.8% escolheram a Enfermagem por terem aptidão pelo curso, enquanto 25.2%, afirmam que a escolha por essa graduação foi devido ao fato de não terem conseguido ingressar em outros cursos de sua preferência, conforme é apresentado na Tabela 2.

O instrumento escolhido para o estudo, a escala de Rosenberg, se mostrou adequado, uma vez que apresentou boa consistência interna (alfa Cronbach = 0.861) e possibilitou analisar a autoestima dos participantes deste estudo, em que foram encontrados escores entre 15 e 40 pontos, com média e desvio padrão de 34±4.7 pontos, o que indicou elevada estima pessoal entre os estudantes. Desse modo, dos 135 graduandos de Enfermagem apresentaram autoestima: 1.4% baixa, 30.3% média e 68.3% elevada. Ao correlacionar o período cursado pelos participantes com a autoestima, não se obteve correlação significativa (r=0.009, p=0.918).

No momento da entrevista, 34.8% dos participantes tinham presença de enfermidade. Dentre elas, 23.0% apresentavam ansiedade, estresse e depressão, enquanto 11.8%, enxaqueca, cefaleias constantes e dores em geral no corpo. Nenhuma relação foi observada entre a autoestima e as variáveis decorrentes do fator pessoal. Entretanto, houve relação estatisticamente significativa entre a autoestima e a perspectiva profissional (p=0.011). A maior proporção de autoestima alta (70.6%) foi encontrada, nos alunos que querem ser bons profesionais (Tabela 3).

 

DISCUSSÃO

A predominância de estudantes do gênero feminino (90%) obtida neste estudo é característica da maioria dos cursos de Enfermagem no Brasil e no mundo.13-18 Esse fato parece ser uma questão comportamental-cultural, uma vez que a Enfermagem, desde seu surgimento, é uma profissão predominantemente feminina.17 A maioria dos participantes (562%) estava na faixa etária dos 20-30 anos e 96% referiram que o estado civil era solteiro. Ambas as informações corroboram com a literatura14 e refletem que as pessoas buscam primeiramente obter sua própria renda salarial e status pessoal, a fim de se satisfazerem pessoalmente e, para isso, ingressam no ensino superior antes de assumir compromisso matrimonial.

Em relação à renda familiar apresentada neste estudo, foi observada uma diferença mínima entre os salários mínimos mensais, em que 42% dos entrevistados relataram renda de um a três salários mínimos e 41%, de quatro a seis salários mínimos. Nota-se, ainda, a proporção dos estudantes 96% que não possuem vínculo empregatício e, consequentemente, não contribuem com a renda familiar. Esse fato também é identificado por outros pesquisadores,14 os quais consideram que a adesão ao emprego é comprometida devido ao curso de Enfermagem ser no período diurno e os alunos dedicarem a maior parte do seu tempo aos estudos. Sabe-se que o curso de Enfermagem na universidade pública acontece em período integral e, com isso, o estudante possui atividades durante todo o dia, o que lhe impossibilita assumir compromissos de trabalho e, assim, tornam-se dependentes financeiros da sua família.

A escolha pelo curso de Enfermagem foi um fato relevante para compreender a relação do aluno com sua formação profissional, pois, dos 135 participantes do estudo, mais da metade não se sentiram motivados ao escolher essa graduação como profissão. De acordo com o presente estudo, o segundo maior motivo pelo qual os alunos ingressam na graduação de Enfermagem está relacionado ao fato de não terem conseguido ingressar em outro curso, dado que está em consonância com a literatura.19 Assim, percebe-se também que a escolha pelo curso de Enfermagem acontece de maneira indireta, pois a maioria dos ingressantes escolhem essa graduação pelo fato de terem vivenciado reprovações em vestibulares anteriores em que se interessavam por outros cursos, o que lhes causou frustrações,20 ou ainda optaram pelo curso de Enfermagem com o intuito de resolver a questão de ingresso em uma universidade preferencialmente pública.21

Talvez isso se deva à intenção dos alunos de que, uma vez inseridos numa carreira da área da saúde, pode-se com maior facilidade ingressar em outra do seu interesse, ou, por outro lado, pelo fato de a Enfermagem, mesmo atualmente, ser uma profissão pouco conhecida e reconhecida como um curso de nível superior e, com isso, não ter apoio por parte dos familiares por causa do pouco prestígio social.15

Apesar de que a graduação em enfermagem não tenha sido a primeira opção de escolha para mais da metade dos estudantes que participaram deste estudo, a maioria deles (98%) está satisfeita com o curso escolhido, o que também vem sendo observado em estudos recentes que verificaram o alto grau de satisfação de estudantes com o curso de Enfermagem.22,23 Esse pode ser um importante aspecto da Enfermagem, uma vez que esta é caracterizada como uma profissão que requer a experiência acadêmica para a satisfação. Desse modo, o autor do segundo estudo23 acredita que os estudantes têm a opinião influenciada pelos percursos acadêmicos, assim como pelas oportunidades que estão ao dispor do aluno. Ao avaliar se o ano cursado pelo estudante de Enfermagem seria um fator que influenciaria a autoestima dos mesmos, percebeu-se que essa hipótese não se mostrou presente neste estudo, uma vez que a correlação de ambos não foi significativa.

Ainda que ao correlacionar o período cursado pelos participantes com a autoestima não se obteve significância estatística e se sabe que as tensões vivenciadas pelos indivíduos no decorrer da graduação, bem como as diversas tensões no seu cotidiano, dentre elas, presença de sono excessivo; falta de lazer; desconcentração; cansaço; estresse e cobrança em demasia5, podem ser causas da sobrecarga de atividade, do período integral do curso, de falta de tempo para realizar atividades extracurriculares, do alto grau de exigência durante os períodos de estágios curriculares, da falta de tempo para o lazer, dentre outros24, são fatores que, no presente estudo, mostraram não influenciar a autoestima dos acadêmicos de Enfermagem nos diferentes períodos do curso.

Entretanto, a autoestima apresentou uma relação considerável com a formação profissional. Desse modo, a primeira relação observada foi na variável relacionada ao fator clínico, em que os indivíduos que apresentaram alguma enfermidade tiveram a média da autoestima diminuída. Corroborando com outro estudo,5 podemos inferir que as diferentes enfermidades relatadas pelos estudantes, como ansiedade, estresse, depressão e cefaleias constantes, podem ser oriundas de diversas preocupações vivenciadas por estes no período da graduação, dentre elas, a relacionada com o futuro, as quais interferem na sua autoestima seja de forma direta ou indireta.

A outra relação presente foi na variável perspectiva dos graduandos quanto ao futuro como um profissional de Enfermagem, correspondente ao fator de formação profissional, em que esta apresentou uma relação positiva com a autoestima. Assim, foi possível observar que a maioria dos participantes, que se veem como um profissional bem sucedido tiveram uma autoestima elevada. Certamente, deve-se ao fato de que, a satisfação pessoal, a motivação e a realização profissional são importantes condições para a estima pessoal, já que o homem, durante toda a sua vida, sempre procura realizar algo, de forma que estabelece meios para concretizar seus objetivos.25

No intuito de suprir as necessidades que possam atrapalhar a formação do estudante, o educador poderá utilizar instrumentos que o ajudem a reconhecer tal característica, assim como a escala de Rosenberg utilizada neste estudo que é de fácil aplicação e que apresentou bom nível de consistência interna (0.86), e em outros estudos reportados na literatura.10,13 Pois, por meio da avaliação da autoestima, os docentes podem oferecer uma maior atenção aos alunos independentemente do período cursado, a fim de que utilizem diferentes estratégias no intuito de intervir nos fatores pessoais, clínicos, de formação profissional, dentre outros, que afetam a autoestima e que possam influenciar no seu rendimento escolar. Assim, ressalva-se também a importância de se utilizar um instrumento adaptado e validado na cultura em que será realizado o estudo, pois, assim, é possível medir o fenômeno em questão e se atentar quanto a sua fidedignidade a qual garantirá a confiabilidade dos resultados obtidos.

A elevada autoestima entre os participantes desta pesquisa leva-nos a refletir que as limitações que estes vivenciaram no período da graduação e que as indecisões dos alunos quanto à escolha do curso que poderiam ter interferido negativamente na autoestima foi superada pela satisfação que os mesmos tiveram após iniciar a graduação. Assim, podemos inferir que a autoestima está relacionada com o desenvolvimento da profissionalização, pois com a aquisição de capacitação, do conhecimento e da independência, o aluno adquire também uma adaptação sócio-cultural e emocional, aliada ao desejo de entrar no campo profissional e fazer um diferencial, o que pode favorecer a elevada estima pessoal. Sabe-se, ainda, que a autoestima elevada pode ajudar os alunos de Enfermagem a desenvolver maior autoconfiança e autossatisfação, que, por sua vez, podem influenciar a maior segurança na sua identidade profissional quando se tornarem enfermeiros.13

A Enfermagem é uma profissão que requer dedicação, cuidado e atenção por parte dos profissionais que a exercem Dessa forma, é importante que os futuros profissionais tenham conhecimento desse fato no decorrer da sua graduação para que busquem encontrar satisfação no que fazem. Tal fato foi encontrado neste estudo, em que grande parte dos alunos (98%) relatou estar totalmente satisfeito com o curso escolhido, sendo este provavelmente um dos fatores que influenciaram na autoestima elevada apresentada pelos mesmos. Ressalta-se que a autoestima e a satisfação com a enfermagem são aspectos importantes para a formação do enfermeiro, para que tenham condição de atender às novas exigências do mercado em saúde.

Embora grande parte dos alunos do presente estudo tenham apresentado autoestima elevada, independentemente do período cursado, observou-se que diferentes fatores podem influenciá-la. Assim, a influência presente na perspectiva profissional pode advir da satisfação dos graduandos com o curso, uma vez que essa mostra ser um fator importante que irá refletir na vida profissional. Na Enfermagem, esse é um aspecto importante, pois essa é uma profissão que requer um elevado nível de habilidades cognitivas, de envolvimento e de solicitude.

Certamente, a Enfermagem lida com diversas condições que podem influenciar o processo de profissionalização do aluno, em especial, algumas características específicas da profissão como lidar com o ser humano, no momento de fragilidade e, não raras vezes, de sofrimento, enfrentando cenários diversificados de atuação, muitas vezes com condições de trabalho instigantes. Portanto, estudos, como ora apresentado, podem contribuir na identificação de fatores que auxiliem na formação profissional do enfermeiro, de forma a prepará-lo para os desafios decorrentes da prática clínica e, até mesmo, das práticas educativas e administrativas.

 

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