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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.31 no.3 Medellín Sept./Dec. 2013

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Estresse em mulheres mastectomizadas

 

Stress in mastectomized women

 

Estrés en mujeres mastectomizadas

 

 

Candida Canicali Primo1; Maria Helena Costa Amorim2; Denise Silveira de Castro3; Thais Cordeiro Paraguassú4; Tonyara Patricia Nogueira5; Georgia Bianca Martins Bertolani6; Franciele Marabotti Costa Leite7

 

1Enfermeira, Mestre. Professora, Universidade Federal do Espírito Santo UFES, Vitória (ES), Brasil. email: candidaprimo@gmail.com.

2Enfermeira, Doutora. Professora, UFES, Vitória (ES), Brasil. email: mhcamorim@yahoo.com.br.

3Enfermeira, Doutora. Professora, UFES, Vitória (ES), Brasil. email: dsmcastro@terra.com.br.

4Enfermeira. UFES, Vitória (ES), Brasil. email: thais_paraguassu@hotmail.com.

5Enfermeira. UFES, Vitória (ES), Brasil. email: tonyara_nogueira@hotmail.com.

6Psicóloga, Mestre. Professora, UFES, Vitória (ES), Brasil. email: geobianca@hotmail.com.

7Enfermeira, Mestre. Professora, UFES, Vitória (ES), Brasil. email: emaildafran@ig.com.br.

 

Fecha de Recibido: Octubre 8, 2012. Fecha de Aprobado: Mayo 8, 2013.

 

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Primo CC, Amorim MHC, Castro DS, Paraguassú TC, Nogueira TP, Bertolani GBM, Leite FMC. Stress in mastectomized women. Invest Educ Enferm. 2013;31(3): 385-394.

 


RESUMO

Objetivo. Avaliar o nível de estresse em mulheres mastectomizadas e examinar a relação do mesmo com variáveis sócio-demográficas, clínicas e de apoio social. Metodologia. Estudo descritivo realizado no hospital de Santa Rita de Cássia em Vitória/Espírito Santo (Brasil), com uma mostra de 84 mulheres mastectomizadas. Utilizou-se um formulário que continha informação sócio-demográfica e instrumentos para a avaliação do estresse (Inventário de Sintomas de Estresse de Lipp) e da ansiedade (Inventário de Ansiedade Traço e Estado - IDATE-). Resultados. Do total de mulheres estudadas, um 69% apresentou estresse. Destas, o 57% se encontrava nas fases de esgotamento; o 39%, na de resistência; o 2%, em alerta, e outro 2% em quase esgotamento; os sintomas físicos (56%) predominaram sobre os psicológicos (44%). Tão só o 25% das participantes recebia algum tipo de apoio social. Das variáveis pesquisadas, tão só a relação de estresse com rasgos de ansiedade apresentou associação estatisticamente significativa. Conclusão. Uma proporção importante das mulheres mastectomizadas sofre de estresse. É essencial o acompanhamento da enfermagem a estas pacientes que conduza a enfrentar muito melhor esta doença.

Palavras chaves: neoplasias da mama; mastectomia; estresse psicológico; ansiedade.


ABSTRACT

Objective. To evaluate the stress level in women who have had mastectomy and analyze the relationship between stress and sociodemographic, clinical, and social support variables. Methodology. Descriptive study carried out at Hospital de Santa Rita de Cássia, Vitória/Espírito Santo (Brazil) among 84 mastectomized women. We used a questionnaire to elicit sociodemographic information and instruments to evaluate stress (Lipp's Stress Symptom Inventory for Adults) and anxiety (State-Trait Anxiety Inventory]). Results. A total of 69% of women had stress. Stress in the exhaustion phase was found in 57% of women, the resistance phase in 39%, alarm in 2%, and the near-exhaustion phase in 2%. Physical symptoms predominated (56%) over psychological symptoms (44%). Only 25% of participants had some type of social support. Of investigated variables, only the relationship of stress with anxiety traits was statistically significant. Conclusion. An important proportion of mastectomized women experienced stress. Nursing follow-up is essential to help these patients deal with the stress associated with breast cancer.

Key words: breast neoplasms; mastectomy; stress, psychological; anxiety.


RESUMEN

Objetivo. Evaluar el nivel de estrés en mujeres mastectomizadas y examinar la relación del mismo con variables sociodemográficas, clínicas y de apoyo social. Metodología. Estudio descriptivo realizado en el hospital de Santa Rita de Cássia en Vitória/Espírito Santo (Brasil), con una muestra de 84 mujeres mastectomizadas. Se utilizó un formulario que contenía información sociodemográfica e instrumentos para la evaluación del estrés (Inventario de Síntomas de Estrés de Lipp) y de la ansiedad (Inventário de Ansiedade Traço e Estado - IDATE-). Resultados. Del total de mujeres estudiadas, un 69% presentó estrés. De estas, el 57% se encontraba en las fases de agotamiento; el 39%, en la de resistencia; el 2%, en alerta, y otro 2% en casi agotamiento; los síntomas físicos (56%) predominaron sobre los psicológicos (44%). Tan solo el 25% de las participantes recibía algún tipo de apoyo social. De las variables investigadas, tan solo la relación de estrés con rasgos de ansiedad presentó asociación estadísticamente significativa. Conclusión. Una proporción importante de las mujeres mastectomizadas sufre de estrés. Es esencial el acompañamiento de enfermería a estas pacientes que conduzca a afrontar mucho mejor esta enfermedad.

Palabras clave: neoplasias de mama; mastectomia; estrés psicológico; ansiedad.


 

 

INTRODUÇÃO

O câncer de mama é a neoplasia mais comum entre as mulheres, é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo. Estima-se que a cada ano, cerca de 22% de casos novos de câncer em mulheres são de mama. Espera-se para o Brasil em 2012, cerca de 52.860 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 52 casos/100 000 mulheres. Para o Espírito Santo, a estimativa é de 900 casos novos de câncer de mama, com incidência de 49.42 casos/100.000 mulheres e, para a capital Vitória, foi prevista uma incidência de 71.28 casos/100 000 mulheres.1

O diagnóstico de câncer de mama altera a vida da mulher, e representa, uma sobrecarga emocional, podendo desencadear desequilíbrios afetivo-emocional, como depressão, ansiedade ou até mesmo psicoses, bem como, funciona como evento gerador de estresse para algumas pacientes.2 O termo stress foi introduzido no campo da saúde em 1936 por Hans Selye. Esse autor define o estresse como uma resposta orgânica não-específica para situações estressoras ao organismo.3 Em 2001, outros pesquisadores,4 definiram o estresse como uma reação de adaptação do organismo decorrente das situações que exigem um grande esforço emocional para serem superadas, ou seja, situações estressoras.

O estresse possui três fases: alerta, resistência e exaustão. A fase do alerta é considerada a fase positiva do estresse, o ser humano se energiza por meio da produção da adrenalina, a sobrevivência é preservada e uma sensação de plenitude é frequentemente alcançada. Na segunda fase, chamada de resistência, a pessoa automaticamente tenta lidar com os estressores de modo a manter sua homeostase interna. Se os fatores estressantes persistirem em frequência ou intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa à fase de exaustão. Nesta fase as doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras, psoríase e depressão.3

Embora o estresse tenha sido classificado em três fases, uma especialista na área identificou e demonstrou tanto clínica como estatisticamente, através de estudos, uma nova fase do processo de estresse, atribuindo o termo quase-exaustão, por se encontrar entre a fase de resistência e a de exaustão, e caracteriza-se por um enfraquecimento da pessoa que não está conseguindo adaptar-se ou resistir ao estressor. As doenças começam a surgir, porém ainda não são tão graves como na fase de exaustão. Embora apresentando desgaste, a pessoa ainda consegue trabalhar e ''funcionar'' na sociedade até certo ponto, ao contrário do que ocorre na de exaustão, quando o indivíduo para de ''funcionar'' adequadamente, não conseguindo, na maioria das vezes, trabalhar ou concentrar-se.5

O estresse em conjunto com fatores de predisposição genética, contribui para gerar uma vulnerabilidade em longo prazo à depressão e transtornos de ansiedade. Esta situação se torna ainda mais especial quando o indivíduo afetado é do sexo feminino. Várias fontes indicam que as mulheres experienciam mais estresse do que os homens.6,7 Pesquisas têm avaliado depressão, ansiedade e queixas somáticas como sinal de desadaptação aos eventos estressores, pois principalmente a depressão e a ansiedade são sintomas de estresse. A mulher com diagnóstico de câncer de mama vivencia inúmeros estressores que afetam a mulher nas diferentes fases da doença.8-10 Dessa forma, o acompanhamento e o tratamento, não só do câncer, mas também do estresse desencadeado, é essencial.

Diante disso, entende-se que avaliar o estresse em pacientes mastectomizadas é importante para a identificação daquelas com maior risco de desenvolver distúrbios psicopatológicos no decorrer do tratamento, contribuindo para a organização da assistência de enfermagem a essas mulheres. Nesse sentido, objetivou-se com este estudo avaliar o nível de estresse em mulheres mastectomizadas e examinar a relação do estresse com variáveis sócio-demográficas, clínicas e de suporte social.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo na abordagem quantitativa, realizado no Programa de Reabilitação para Mulheres Mastectomizadas - Premma localizado no ambulatório Ylza Bianco do Hospital Santa Rita de Cássia (HSRC) da Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer- AFECC que oferece assistência de alta complexidade em oncologia, em Vitória/Espírito Santo, Brasil. O PREMMA criado em parceria com o Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo e a Afecc-Hospital Santa Rita, com a proposta de sistematizar o atendimento à mulher mastectomizada de modo interdisciplinar e fundamentado nas habilidades específicas de cada área do conhecimento em saúde. O grupo é constituído de mulheres mastectomizadas, encaminhadas por profissionais de saúde do Hospital Santa Rita de Cássia em sua maioria procedente do Estado do Espírito Santo. Essas mulheres são inscritas após o diagnóstico clínico com o objetivo de inseri-las no processo de cuidado integral, por meio de diversas atividades procurando reintegrar a mulher no mercado de trabalho, resgatando a sua autoestima.

A amostra do estudo foi composta por 84 mulheres mastectomizadas matriculadas no Premma. Como critérios de inclusão selecionaram-se mulheres com idade acima de vinte e um anos, com diagnóstico de câncer de mama, ausência de metástase à distância, submetida à intervenção cirúrgica, que não possuíssem história pessoal de doença psiquiátrica e não fossem usuárias de drogas ilícitas. As mulheres somente participaram do estudo após o devido esclarecimento sobre a pesquisa e a sua assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para controle das variáveis: socioeconômicas (idade, estado civil, escolaridade, ocupação, contribuição para a previdência social, renda familiar), clínicas (hospital de realização da cirurgia, tipo de cirurgia, momento do tratamento que matriculou-se no Premma) e de suporte social (suporte do parceiro e apoio social), utilizou-se a técnica de entrevista com registro em formulário. Já as informações clínicas inerentes ao tempo de cirurgia, tempo e frequência no Premma, foram coletadas a partir de busca ativa em prontuários e pasta de matrícula do serviço.

A identificação da variável classe econômica foi realizada por meio da aplicação de um formulário de classificação econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil é um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população. Os estratos de classificação econômica em ordem decrescente são definidos por A, B, C, D, E.11

Para avaliação do estresse utilizamos o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL). O referido instrumento foi validado no Brasil em 1994 e permite avaliar se a pessoa tem estresse, em qual fase ela se encontra e se o estresse manifesta-se por meio de sintomatologia na área física ou psicológica. O ISSL identifica as fases do estresse: alerta, resistência, e exaustão respectivamente. No total, o ISSL apresenta 34 itens de natureza somática e 19 psicológicas, sendo os sintomas muitas vezes repetidos, diferindo somente em sua intensidade e severidade. A pessoa é avaliada segundo sintomas físicos ou psicológicos que tenha experimentado nas últimas 24 horas, na última semana e no último mês. A nova fase ponderada por Lipp no decorrer da avaliação do presente instrumento, a fase de quase-exaustão, é identificada na base da frequência dos itens assinalados na fase de resistência. A análise do instrumento foi realizada por psicólogo em parceria com as pesquisadoras conforme recomenda a autora do ISSL.12

As variáveis Traço e Estado de Ansiedade foram utilizadas na avaliação da relação entre estresse e ansiedade e para aquisição dessas utilizamos o instrumento STAI -State Trait Anxiety Inventory Inventário de Ansiedade Traço e Estado (IDATE), que é formado por duas partes, cada uma contendo vinte afirmações. O Traço de Ansiedade avalia como normalmente a mulher se sente em sua vida, e o Estado de Ansiedade avalia o estado de ansiedade da mulher no momento da entrevista.10

A coleta de dados procedeu-se por meio de entrevista individual no período de dezembro de 2009 a março de 2010.

Para análise estatística utilizou-se o SPSS - Pacote Estatístico para Ciências Sociais 15.0. Realizou-se análise descritiva, através de tabelas de frequência e gráficos. Para análise da relação entre as variáveis e o estresse aplicou-se o teste qui-quadrado. Um p-valor significante (p<0.05) indica que há alguma relação entre estas variáveis. O projeto de pesquisa foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo, sob número 225/2009. Após o término do estudo as pacientes receberam uma carta-resposta contendo os resultados obtidos. Nos casos observados de estresse nas fases de exaustão e quase exaustão, houve encaminhamento para o serviço de psicologia da instituição.

 

RESULTADOS

Após aplicação e interpretação dos dados obtidos do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) encontrou-se que, 69.0% pacientes preencheram critérios para quadro de estresse, enquanto 31.0% não preencheram. 56.9% das pacientes com estresse encontravam-se na fase de exaustão, 56.9% encontravam-se na fase de exaustão, 39.7% na fase de resistência, 1.7% na fase de alerta e 1.7% na fase de quase exaustão.

Quanto à natureza dos sintomas nas mulheres com estresse, 56.2% apresentaram sintomas físicos, enquanto 43.7% apresentaram sintomas psicológicos. Na fase de exaustão, os sintomas psicológicos (59.0%) se sobrepuseram aos sintomas físicos (41.0%). Na Tabela 1 pode-se observar que são mais frequentes os sintomas angústia/ansiedade diária, estar muito nervoso, cansaço excessivo, pensar/falar em um só assunto e vontade de fugir de tudo. Em relação à fase de resistência os sintomas físicos (58.0%) obtiveram maior incidência, tendo maior destaque os sintomas de problemas com a memória, sensação de desgaste físico constante e cansaço constante.

Tabela 1. Caracterização das 84 mulheres quanto aos sintomas predominantes na fase de exaustão e resistência do ISSL. Vitória/ES, dezembro/2009 - março/2010.

A Tabela 2 apresenta os resultados referentes às variáveis sócio-demográficas, clínicas e de suporte social. Verifica-se que a idade das mulheres variou de 31 a 80 anos, sendo a idade média de 45.5 anos. Observa-se ainda que, 39.3% dessas mulheres apresentavam idade entre 50 e 59 anos, 59.5% são casadas e 44% possuem ensino fundamental incompleto.

Na variável ocupação, 31% das mulheres são do lar e 25% são aposentadas. Quanto a contribuição social, 45.2% das mulheres já contribuíram e 31.0% ainda contribuem. Observa-se que, 41.7% possuem renda familiar maior que um e até três salários mínimos e dessas mulheres, 53.6% são da classe econômica C.

Das 50 mulheres que possuem parceiro, 74.5% recebem tanto suporte emocional quanto financeiro de seus parceiros. No entanto, 75% das mulheres referem não receber qualquer tipo de apoio social.

Quanto ao local onde as mulheres realizaram cirurgia, encontrou-se que 81.0% das mulheres realizaram cirurgia no Hospital onde ocorreu a pesquisa, sendo que 63.1% realizaram mastectomia com linfadenectomia, 54.8% chegou ao Premma após a realização da cirurgia e 59.5% das mulheres frequentam o Premma três ou mais vezes por mês.

Neste estudo, ao realizarmos o teste qui-quadrado não observou-se associação entre o estresse e as variáveis: idade, estado civil, escolaridade, ocupação, contribuição para a previdência social, renda familiar, classe econômica, suporte do parceiro, apoio social, hospital de realização da cirurgia, tipo de cirurgia, momento do tratamento que chegou ao Premma, tempo de cirurgia, tempo de Premma, frequência em que comparece ao Premma e estado de ansiedade. Por outro lado, quando relacionado estresse e traço de ansiedade, observa-se uma relação significante (p= 0.013).

Tabela 2. Caracterização das 84 mulheres quanto as variáveis socioeconômicas e clínicas. Vitória/ES, dezembro/2009 - março/2010.

 

DISCUSSÃO

Pode-se observar neste estudo que, a maioria das mulheres mastectomizadas preencheu critérios de estresse. Sabe-se que o câncer ou a simples possibilidade de ter um tumor maligno leva o ser humano ao desespero, à angústia, ao medo, à desesperança, à tristeza, ao nervosismo.13 Uma pesquisa realizada com o objetivo de delinear as possíveis relações entre as reações emocionais ao câncer de mama e a morbidade psicológica em mulheres mastectomizadas, quando avaliou o estresse em dez pacientes, encontrou que 80% delas estavam com estresse.9 Ao avaliarem a presença de estresse em 16 mulheres pós tratamento do câncer de mama, pesquisadores encontraram que 37.5% apresentavam quadro de estresse.14 Isso se justifica pois, a mulher mastectomizada depara-se com a desesperança, a retirada da mama, que mexe com suas emoções; sua autoimagem; a indicação de tratamentos e os possíveis efeitos colaterais dos mesmos.13

A escassez de pesquisas que relacionam estresse e câncer de mama restringiu a discussão dos resultados encontrados, pois a maior parte dos estudos relaciona o estresse como fator de gênese para o câncer, ao invés de relacionar o estresse como processo de adaptação do organismo frente ao câncer e as questões geradas por ele. Além disso, as pesquisas encontradas e utilizadas como referencial apresentavam amostras pequenas. Autores estudaram mulheres que manifestaram desajustes psicológicos no período pós tratamento de câncer de mama através de revisão de literatura e mostram que variam entre 5 e 50%. Ainda afirmam que mulheres com uma história psiquiátrica precedente, com baixas expectativas do benefício do tratamento, que não possuem apoio, ou às vezes com uma experiência adversa precedente com um membro da família, apresentam um maior risco para o desenvolvimento de desajuste psicológico.15,16

Quanto à natureza dos sintomas, a maioria das mulheres com estresse apresentou uma maior quantidade de sintomas físicos, seguido dos sintomas psicológicos. A fase de estresse prevalente foi a de exaustão, seguida da fase de resistência. Dentre as mulheres na fase de exaustão houve um predomínio de sintomas psicológicos, obtendo destaque os sintomas: angústia/ansiedade diária, estar muito nervoso, cansaço excessivo, pensar/falar em um só assunto e vontade de fugir de tudo. Nesta fase, o organismo encontra-se exausto pelo excesso de atividades e pelo alto consumo de energia e doenças orgânicas podem se manifestar.3 Na fase de resistência houve predomínio de sintomas físicos, obtendo destaque os sintomas: problemas com a memória, sensação de desgaste físico constante e cansaço constante. Estar nesta fase indica que elas estão tentando lidar com estressores aos quais são submetidas para buscar a homeostase. Logo, para a sua saúde isso significa uma vulnerabilidade a infecções e doenças, pois a busca da homeostase leva a uma hiperatividade córtico-suprarrenal e a um consumo demasiado de energia.5

Em uma pesquisa realizada em Minas Gerais sobre o estresse de mulheres mastectomizadas verifica-se predominância da fase de resistência seguida da fase de quase-exaustão, destacando-se a sintomatologia de natureza psíquica.9 Em São Paulo, pesquisa que avaliou a presença de estresse em mulheres pós tratamento do câncer de mama, verifica-se que das pacientes com estresse, 100% estavam na fase de resistência, e que apresentavam mais sintomas psicológicos, seguidos dos sintomas físicos, e sintomas físicos e psicológicos.14

Em estudo sobre estresse e habilidades sociais em pacientes com câncer de laringe, verifica-se que dentre participantes, a maioria apresentavam estresse em alguma fase, sendo predominante a fase de resistência seguida da fase de exaustão. Nenhum participante estava na fase de alerta ou quase exaustão. Quanto à natureza dos sintomas, predominaram os sintomas psicológicos. Os sintomas psicológicos de estresse mais frequentes encontrados: dúvida quanto a si próprio, pensar constantemente em um só assunto e cansaço excessivo.8

Uma pesquisa com mulheres mastectomizadas verificou que durante o tratamento com Tamoxifeno, elas apresentaram nível de estresse aumentado e os sintomas de estresse mais relatados foram angústia, insônia, dores nas costas e tenho pensamentos que provocam ansiedade.10 Ao avaliar o estresse em magistrados da justiça do trabalho, estudo detectou que a maioria da amostra apresentava sintomatologia típica de um quadro de estresse, sendo predominante a fase de resistência.

Quanto aos sintomas, relataram uma sensação de desgaste físico constante, sofriam de tensão muscular e apresentavam irritabilidade excessiva, havendo predominância dos sintomas físicos sobre os psicológicos, resultado que corrobora com o encontrado nesta pesquisa.6

Um importante resultado encontrado neste estudo foi a associação significante entre o estresse e o traço de ansiedade. Assim, pode-se questionar se o estresse tem relação com fatores intrínsecos da mulher, não sendo somente relacionado à própria doença e às consequências geradas por ela, mas também à história e hábitos da vida das pacientes estudadas, uma vez que o traço demonstra como normalmente a mulher se sente em sua vida. As situações de estresse que perduram por muito tempo acarretam um desequilíbrio corporal, e assim o mecanismo de defesa contra o câncer fica enfraquecido em virtude desse esgotamento. Deste modo, um ponto importante é de como fortalecer o mecanismo de defesa contra o câncer e aumentar a eficiência de defesa após o surgimento de um tumor maligno, nesse sentido, defende-se que aumentando a satisfação com à vida, e a esperança na capacidade de viver, aumenta-se também a capacidade de resistência e de auto-cura frente ao câncer.17

Através da análise da variável frequência em que comparece ao Premma, constatou-se que a maioria comparece três ou mais vezes ao mês no programa. Tal assiduidade talvez possa ser explicada pela necessidade das pacientes de um espaço onde tenham liberdade para expressar suas dúvidas, incertezas e angústias quanto à patologia e ao seu cotidiano.

Considerando à idade das mulheres que participaram deste estudo, achado similar foi encontrado, em um estudo com 170 pacientes com câncer de mama em Londres, a idade média encontrada foi de 48.4 anos, resultado semelhante ao achado neste estudo.18 Várias pesquisas desenvolvidas em Vitória/ES também verificaram maior prevalência de mulheres nessa faixa etária.14,19-21 Observa-se que neste estudo que houve predominância das mulheres com baixo grau de escolaridade e eram casadas. Resultados similares foram observados em outros estudos19-21 desenvolvidos com mulheres mastectomizadas no Espírito Santo.

Quanto à renda familiar das mulheres mastectomizadas neste estudo, constata-se resultados similares em pesquisa22 em pacientes com câncer de mama onde houve predomínio de renda familiar total de até três salários mínimos. Outro estudo21 realizado em Vitória com mulheres mastectomizadas detectou que a maioria das mulheres possuíam renda de até 3 salários mínimos. No que se refere à classe econômica, estudo realizado no Paraná23 ao analisar o perfil das mulheres em tratamento de câncer de mama, verificou que a maior parte das mulheres pertencia à classe econômica C, estando em consonância com o presente estudo. No mesmo estudo23 resultados similares foram encontrados quanto a ocupação onde a maioria das mulheres entrevistadas eram do lar e a minoria era aposentada.

Em relação à previdência social estudo realizado com mulheres pós-mastectomia corrobora com os resultados encontrados neste estudo.21 Quanto ao apoio emocional e financeiro de seus parceiros, pesquisa revela que cerca de 44% das mulheres tratadas de câncer de mama recebiam apoio dos seus parceiros24 estando em consonância com este estudo. Ainda pesquisa realizada com mulheres mastectomizadas em Campinas demonstrou a importância do apoio à mulher com câncer de mama, pois mulheres com companheiro apresentaram escores significativamente melhores nos domínios psicológicos e relações sociais. A presença de um companheiro pode ser indicativo de que essas mulheres têm mais chances de obter apoio social e psíquico e têm melhores condições de moradia.25

Considerando o apoio social, o resultado desse estudo vai de encontro ao observado com mulheres diagnosticadas e tratadas de câncer de mama em um Hospital Escola em que o apoio social e familiar é buscado e alcançado pela maioria das mulheres, por meio de familiares ou amigos, mas nem sempre de todos.24

A maioria das mulheres realizou cirurgia no Hospital onde ocorreu a pesquisa. Isto se deve provavelmente ao fato de após receber o diagnóstico de câncer de mama, as mulheres são encaminhadas para o Programa, o que possivelmente não acontece quando o tratamento é realizado em outras instituições hospitalares. Quanto ao tipo de cirurgia, pesquisa desenvolvida com mulheres com câncer de mama observa-se que a maioria foi submetida a cirurgia conservadora, contrapondo aos resultados desta pesquisa.19

É importante analisar o momento em que as mulheres da pesquisa matricularam-se no Premma, observa-se que estudo realizado para avaliar os efeitos da implantação do Premma como intervenção de enfermagem no pré-operatório de mulheres com diagnóstico de câncer de mama demonstrou que as mulheres matriculadas no Premma antes da cirurgia apresentaram baixo nível de ansiedade comparado aquelas não matriculadas antes da cirurgia.25 O resultado demonstra que a matrícula no Premma antes da mastectomia ajuda a paciente no que diz respeito às condições psicológicas. Apesar de o Programa, a princípio, ter sido criado com o objetivo de realizar as intervenções no pós-operatório, os resultados desse estudo levaram a reorganização do fluxograma de encaminhamento das mulheres para logo após o diagnóstico e percebe-se com os resultados do presente estudo que algumas mulheres foram encaminhadas ao Programa precocemente. É de extrema importância que as enfermeiras incorporem no seu cotidiano a utilização de instrumentos que possibilitem a identificação do padrão de comportamento para estresse, pois isto poderá facilitar e fundamentar as intervenções de Enfermagem.13

Este estudo permite concluir que a maioria das pacientes preencheram critérios de estresse. Ao relacionar o estresse com as variáveis não houve relação significante, no entanto, a associação do estresse com a variável traço de ansiedade foi significante. Constatamos que o câncer de mama pode ser um gerador de eventos estressores, sendo imprescindível na assistência prestada à mulher com esta neoplasia, a aplicação do instrumento utilizado nesta pesquisa, a fim de avaliar o estresse com mais frequência, possibilitando a detecção das pacientes que precisam de acompanhamento psicológico.

Dessa forma, destaca-se, a importância do atendimento interdisciplinar e holístico oferecido às mulheres mastectomizadas, visando minimizar os impactos dos estressores provocados pelo câncer, e contribuir no modo de enfrentamento de problemas para melhor lidar com o estresse emocional ao qual estão sujeitas.

Recomenda-se que pesquisas sobre estresse em mulheres com câncer de mama e com tamanhos de amostra maiores precisam ser conduzidas de modo que os resultados possam ser generalizados e aumentar a validade das conclusões do estudo, além disso, também a realização de pesquisas que enfoquem a relação entre estresse e eventos de vida anteriores que poderiam estar contribuindo para a gênese do câncer.

 

REFERÊNCIAS

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