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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.1 Medellín Jan./Apr. 2014

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

Ação interdisciplinar do enfermeiro à criança com suspeita de abuso sexual

 

Interdisciplinary action of nurses to children with suspected sexual abuse

 

Trabajo interdisciplinar del enfermeiro com el niño con sopecha de abuso sexual

 

 

Lia Leão Ciuffo1; Benedita Maria Rêgo Deusdará Rodrigues2; Florence Romijn Tocantins3

 

1Enfermeira, Doutoranda. Professora, Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. email: leaociuffo@yahoo.com..

2Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. mail: benedeusdara@gmail.com.

3Enfermeira, Doutora. Professora, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. email: florenceromijn@hotmail.com.

 

Fecha de Recibido: Junio 5, 2013. Fecha de Aprobado: Octubre 7, 2013.

 

Artículo vinculado a investigación: ''Assistência do Enfermeiro à criança com suspeita de abuso sexual'' aprovado no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Ciuffo LL, Rodrigues BMRD, Tocantins FR. Interdisciplinary action of nurses to children with suspected sexual abuse. Invest Educ Enferm. 2014;32(1): 112-118

 


RESUMO

Objetivo. Compreender a atuação do enfermeiro como integrante da equipe interdisciplinar no atendimento da criança com suspeita de abuso sexual. Metodologia. Investigação qualitativa com base na fenomenologia sociológica de Alfred Schutz. Em 2008 foram entrevistados onze enfermeiros que laboravam em instituições de referência do Estado de Rio de Janeiro para o atendimento de crianças vítimas de abuso sexual. Resultados. Da análise da atuação profissional emergiu a categoria ''Interagir com outros profissionais no atendimento da criança''. As relações intersubjetivas entre o enfermeiro e a equipe interdisciplinar lhe possibilitam compreender a intencionalidade do cuidado desde a perspectiva das necessidades sociais, emocionais e psicológicos da criança e sua família. Conclusão. A interdisciplinaridade favoreceu o desenvolvimento de ações baseadas na aceitação, a escuta e o acordo sobre as possíveis soluções no atendimento da criança com suspeita de abuso sexual.

Palavras chaves: enfermagem; maus-tratos sexuais infantis; equipe de assistência ao paciente.


ABSTRACT

Objective. Understanding the role of nurses as members of interdisciplinary teams in the care of children with suspected sexual abuse. Methodology. This is a qualitative research based on the sociological phenomenology of Alfred Schutz. In 2008 were interviewed eleven nurses who worked in reference institutions for the care of child victims of sexual abuse in Rio de Janeiro. Results. The category called 'Interacting with other professionals in child care' emerged from the analysis of performance of professionals. The intersubjective relations between the nurses and the interdisciplinary team will enable to understand the intent of care from the perspective of social, emotional and psychological needs of children and their families. Conclusion. Interdisciplinarity favored the development of actions based on acceptance, listening and agreements on possible solutions in the care of children with suspected sexual abuse.

Key words: nursing; sexual child abuse; patient care team. 


RESUMEN

Objetivo. Comprender la actuación del enfermero como integrante del equipo interdisciplinar en la atención del niño víctima de abuso sexual. Metodología. Investigación cualitativa con base en la fenomenología sociológica de Alfred Schutz. En 2008 fueron entrevistados once enfermeros que laboraban en instituciones de referencia del Estado de Rio de Janeiro para la atención de niños víctimas de abuso sexual. Resultados. Del análisis de la actuación profesional emergió la categoría ''Interactuar con otros profesionales en la atención del niño''. Las relaciones intersubjetivas entre el enfermero y el equipo interdisciplinar le posibilitan comprender la intencionalidad del cuidado desde la perspectiva de las necesidades sociales, emocionales y psicológicas del niño y su familia. Conclusión. La interdisciplinariedad favoreció el desarrollo de acciones basadas en la aceptación, la escucha y el acuerdo sobre las posibles soluciones en la atención del niño víctima de abuso sexual.

Palabras clave: enfermería; abuso sexual infantil; grupo de atención al paciente.


 

 

INTRODUÇÃO

O abuso sexual infantil configura-se em um fenômeno complexo que deve ser investigado em profundidade e examinado com muita cautela. Muitas vezes, esse tipo de violência não deixa marcas visíveis, dificultando a assistência por parte dos profissionais que realizam o atendimento à criança e sua família, incluindo o enfermeiro. A violência sexual é considerada crime e pode ser definido como um todo ato onde um indivíduo, através de força física ou por intimidação psicológica, faz com que o outro seja obrigado a executar ato sexual contra a sua vontade.1 Reconhece-se que diagnosticar este tipo de abuso pode ser difícil, haja vista que o agressor é membro da família e a criança depende física e psiquicamente do autor da violência.2

No que se refere aos perpetradores do abuso sexual infantil, identificou-se que os principais são os companheiros das mães, e, em seguida, os pais biológicos, avôs, tios, padrinhos, bem como mães, avós, tias e outros que mantêm com a criança uma relação de dependência, afeto ou confiança, num contexto de relações incestuosas.2 Ou seja, a agressão permanece oculta, pois prevalece o sentimento de medo de sofrer repreensões por parte do agressor.3 Assim, um dos pontos mais críticos dessa questão, tão alarmante em nossa sociedade, é que, muitas das vezes, a criança se torna vítima dessa agressão por um longo período, marcando de forma indelével a sua saúde mental e social.

Nesta perspectiva, ao assistir a criança, é aconselhável que o enfermeiro ofereça um atendimento humanizado, com embasamento nos conhecimentos científicos e com respaldo no Estatuto da Criança e do Adolescente,4 com vistas à assistência apropriada à criança e sua família. Ao mesmo tempo, consideramos imprescindível a articulação com outras disciplinas, áreas de conhecimento e práticas assistenciais, para que as necessidades do ser humano e suas necessidades sociais e de saúde possam ser entendidas e atendidas de maneira mais abrangente e integral.

A proposta do trabalho interdisciplinar na área e prática da saúde aponta para um caminho de expansão das possibilidades de uma atuação mais eficaz para essas crianças e suas famílias. Desta forma, quando o enfermeiro busca parcerias com outras disciplinas e áreas de conhecimento, seu campo de visão e atuação pode ser ampliado já que ele passa a ter acesso a novos conhecimentos que podem ser agregados e pensados dentro de um grupo de profissionais de formações diversas, enfocando em um tema tão atual e relevante como a violência sexual. Neste sentido, é válido destacar que a interdisciplinaridade, está voltada para a preocupação com as atitudes, comportamentos, estilo de vida das pessoas. Sua produção teórica pode ser considerada importante no campo da saúde coletiva.5

Uma boa comunicação entre os profissionais da área da saúde possibilita que sejam formadas alianças entre equipes, permitindo agregar novos olhares e a construção de conhecimentos, o que também é refletido no relacionamento do profissional com o cliente.6 Deste modo, a interdisciplinaridade aponta um caminho para a integração entre os profissionais de saúde.

A partir desta linha de raciocínio, traçamos como objetivo deste estudo: compreender a ação do enfermeiro como integrante da equipe interdisciplinar na assistência à criança com suspeita de abuso sexual. O estudo ora apresentado localiza-se no contexto de aspectos que envolvem a vida humana e favorece a apreensão e interpretação da ação do enfermeiro, e as relações que este estabelece com diferentes áreas profissionais em prol da saúde e do bem-estar da criança.

 

METODOLOGIA

Pesquisa qualitativa, pautada na abordagem teórica e metodológica da fenomenologia sociológica de Alfred Schutz,7 tendo como fundamento a busca do significado da ação a partir da consciência intencional dos sujeitos envolvidos. O termo ação define a conduta humana como um processo intencional, contínuo que é percebido pelo ator, que é baseado num projeto pré-concebido. Desse modo, somente o próprio sujeito pode ser responsável pela definição do significado da sua ação. Perceber a natureza das ações, que envolvem atitudes adotadas na prática diária do enfermeiro que lida com crianças com a suspeita de abuso sexual, é um processo que se dá a partir do contato com essas crianças. Assim, para compreender as ações do enfermeiro é preciso apreender os significados da sua ação no mundo da vida cotidiana que se dá na instituição cenário de sua prática, o que de certa forma indica um modo de ser profissional.

O mundo da vida significa o mundo da intersubjetividade, que sempre existiu, foi a experiência e interpretado por outras pessoas e por nossos antecessores, como um mundo organizado. Então, pode-se dizer que as interpretações de cada sujeito perpassam pelas próprias experiências de vida, aliado à bagagem de conhecimentos que adquirem através dos ensinamentos de familiares, mestres e pessoas com as quais lidamos direta e indiretamente.7

Subsidiadas pelas concepções da fenomenologia sociológica 7, destacamos ser importante entender a interação do enfermeiro em sua convivência social e profissional e, principalmente, mediante as ações de natureza intersubjetiva junto à equipe interdisciplinar. A intersubjetividade se dá à medida que os seres humanos se relacionam mediante sua subjetividade, levando-os às influências comuns, compreendendo os outros e sendo compreendido por eles.7

O caráter subjetivo da ação intencional é dotado de propósito quando o ator social, e como autor de uma ação, concretiza uma determinada conduta. Com este entendimento, a fenomenologia sociológica de Alfred Schutz traz as concepções de motivo para e motivo porque das ações desenvolvidas no mundo da vida. O motivo para da ação implica entender o processo da ação em curso com a perspectiva do futuro. Por outro lado, a concepção de motivo porque se refere às ações já desenvolvidas e, como tal, está pautado em experiências passadas, e são reconhecidos como condicionando a atuação do ator quanto à ação em questão.7 Acolhendo esta visão, é possível afirmar que a fenomenologia de Schutz entrelaça os significados de subjetividade, intersubjetividade e intencionalidade da consciência do autor da ação. Para tanto, se faz necessário adentrar no mundo da vida do sujeito-autor a fim de buscar a compreensão do significado das relações humanas estabelecidas.8

Trajetória do estudo: considerando o atendimento aos aspectos éticos formais, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, sob número 207/07 em 17 de dezembro de 2007. A realidade social pesquisada envolveu o cenário profissional de enfermeiros que assistem crianças com suspeita de ter sofrido abuso sexual. Esta opção ocorreu entendendo que é essencial considerar o contexto no qual estão inseridos os sujeitos-autores para apreender o significado das suas ações como algo intencionado para alcançar um determinado fim.

Neste sentido, os sujeitos desse estudo foram enfermeiros de um Hospital Municipal situado no Estado do Rio de Janeiro, sendo uma instituição de referência para o atendimento à criança vítima de abuso sexual. Destaca-se que os enfermeiros que atendiam o critério assistir crianças com suspeita de ter sofrido abuso sexual, foram convidados a participar da investigação de forma voluntária, sendo garantido o anonimato na apresentação dos resultados. Como estratégia de acesso às experiências e ações dos enfermeiros foi utilizada como técnica uma entrevista não estruturada, incluindo uma questão fenomenológica, que possibilitou captar os significados de suas ações. As entrevistas foram realizadas no primeiro semestre de 2008.

Os conteúdos das entrevistas foram gravados com a autorização dos mesmos e tiveram como perguntas orientadoras, entre outras: Quando você atende uma criança com suspeita de abuso sexual, o que você faz? O que você tem em vista com as ações de enfermagem desencadeadas neste tipo de atendimento? A priori, não foi determinado o número de entrevistados. No entanto, a partir do momento em que o conteúdo das respostas à pergunta fenomenológica – O que você tem em vista com as ações de enfermagem desencadeadas neste tipo de atendimento? - tornaram-se repetitivas e não havia mais uma variação das respostas coletadas, e consequentemente, ocorrendo saturação dos achados dos motivos-para expresso nas falas, as entrevistas foram encerradas.

Participaram do estudo, 11 enfermeiros, sendo cinco diaristas e seis plantonistas. Vale ressaltar que dois deles atuavam no ambulatório de pediatria e os outros nove nas enfermarias pediátricas; em cada encontro de entrevista foram utilizados cerca de 20 a 45 minutos. A cada enfermeiro entrevistado foi dado um codinome de árvore de copa grande, selecionado aleatoriamente, com o intuito de preservar o sigilo de sua identidade, sendo respeitado, assim, um dos aspectos essenciais do caráter ético da pesquisa. A etapa da análise das falas foi realizada a partir de leitura atenta e distinta ao conteúdo da fala de cada entrevistado no sentido de apreender como objeto investigado se manifesta. Desta forma, foi possível agrupar aspectos similares com vistas à categorização. Por fim, foi construído o significado expresso pelos enfermeiros que atendem uma criança com suspeita de abuso sexual.9,10

 

RESULTADOS

A partir da pesquisa emergiram quatro categorias, que foram assim intituladas: Interagir com outros profissionais no atendimento à criança; Estabelecer diálogo e uma escuta aberta; Cuidar na perspectiva do outro e , Assistir a criança sem deixar de cumprir as rotinas da unidade. Considerando o foco deste estudo, destacamos a categoria concreta do vivido com características de conteúdo que apontam para ''Interagir com outros profissionais no atendimento à criança''. Esta categoria emergiu a partir das falas dos sujeitos e apontam para a relevância das ações interdisciplinares nas relações estabelecidas pelos enfermeiros visando à integralidade da assistência e atenção a criança com suspeita de abuso sexual. A seguir, apresentamos alguns trechos que apontam/evidenciam a intencionalidade da ação dos sujeitos - enfermeiro, neste sentido: [...] encaminhar para conversar com o pediatra para que ele consiga trabalhar essa questão e saber se é uma coisa mais fechada. Na hora que a gente encaminha para a DIP, ou para o serviço social... A partir daí a gente não se envolve. – JACARANDÁ; Existe um encaminhamento, que quem faz esse encaminhamento é o médico. Então, a gente conversa e eles fazem um encaminhamento ou para a saúde mental [...]. – JEQUITIBÁ; Em nível de ações de enfermagem se pode fazer encaminhamento para a psicologia e chamar essa mãe, ou um responsável para conversar e saber o que está acontecendo. – ABÓBADA.

É possível verificar que as ações dos entrevistados – enfermeiro, implica a ideia acerca da importância de haver uma interação entre as disciplinas e diferentes categorias profissionais no que tange à violência sexual perpetrada contra a criança: [...] Se ficar comprovado que o pai era abusador, aí entra uma outra etapa: você tem que notificar e acionar o Conselho Tutelar através do serviço social e também em outros casos de maus-tratos. - IPÊ-ROXO; [...] a enfermagem já tem um olhar voltado para os casos de abuso e faz um cuidado junto com a equipe da psicologia, serviço social e com as médicas e depois, infelizmente, quando o caso vai ser resolvido na questão legal a gente já perde esse elo com a criança. – FLABOYANT; [...] a triagem é feita pelo enfermeiro e depois a gente encaminha para o médico. - SETE- COPAS.

Ao mesmo tempo, o sujeito da ação – enfermeiro deixa claro que seu mundo da vida profissional está permeado pelas relações intersubjetivas com a equipe interdisciplinar na assistência prestada à criança: [...] vamos pedir para o psicólogo e para o assistente social ajuda. Acho que é importante fazer reuniões para cada profissional ver, dentro da sua possibilidade o que pode fazer para ajudar... se temos profissionais que tem esse caminho mais delineado, tem que solicitar a eles... – QUARESMEIRA; Assim, eu acho que a gente tem que estar encaminhando para o serviço social porque é o serviço social que faz os encaminhamentos para o Conselho Tutelar e no meu ponto de vista é importante esse tipo de encaminhamento, né. – OITI; Estar discutindo as causas do abuso sexual... criar mecanismos, estratégias para poder notificar e saber trabalhar com realidades de um hospital, mas também de um PSF, de uma unidade básica. - MAGNÓLIA AMARELA; No momento que você recebe uma informação, você avalia e vê se tem mais algum dado, mais alguma coisa que possa colaborar com a conclusão final, ou seja, tem que estar sempre ali interagindo com a equipe. - IPÊ –ROXO.

Diante dos resultados destacados, entendemos que a interdisciplinaridade constitui-se de possibilidades importantes na assistência e atenção integral à criança com suspeita de abuso sexual. Destaca-se que a ação interdisciplinar do enfermeiro implica, entre outros, encaminhar: para o médico - afim de que este faça sua avaliação, para a assistente social - que neste cenário é o profissional responsável por notificar e acionar ao Conselho Tutelar e, para a psicologia - que faz um acompanhamento das questões de saúde mental..

 

DISCUSSÃO

O Enfermeiro enfatiza que uma providência de grande relevância na assistência à criança com suspeita de abuso sexual é interagir com outros profissionais no atendimento à criança. Com este entendimento, encaminhar para o médico, para a assistente social e para a psicologia, expressam estratégias e caminhos institucionais a serem percorridos no atendimento da criança. As ações desenvolvidas pelo enfermeiro, como membro da equipe interdisciplinar, deixam em evidência o motivo para da ação, que é a intenção de realizar um projeto com o objetivo de atingir uma meta.7 Desta forma, cabe elucidar que para o enfermeiro, somar esforços com outros profissionais no sentido de prestar um atendimento integral - mais global, completo, voltado para as necessidades sociais, emocionais e psicológicas, possibilita uma assistência de melhor qualidade, caracterizando, assim, a contribuição de profissionais de formações diversas no atendimento.

Assim, a disponibilidade de uma equipe interdisciplinar que garanta o apoio médico, psicológico e social necessário às vítimas e suas famílias constitui, na perspectiva do enfermeiro, uma medida importante para assegurar o direito de uma assistência adequada e integral. Com este entendimento e para o atendimento aos casos de difícil manejo nas unidades de saúde, o Ministério da Saúde2 aponta que deverão ser estabelecidos serviços de referência, tomando-se como exemplo os serviços de atenção às vítimas de abuso sexual e suas famílias.

Também se pode observar que o enfermeiro expõe a importância da interação com outros profissionais na assistência, buscando encontrar melhores soluções para seu agir e, com isso, ganhando um suporte e adquirindo novos conhecimentos a partir dessa interação com os outros profissionais. Assim, temos de entender os motivos, as razões para as ações do sujeito assim como obter conhecimento do contexto no qual está inserido.7

Valorizar as ações profissionais e interdisciplinares é vital para o oferecimento de um suporte adequado, cujos esforços devem centrar-se não apenas no exame físico e diagnóstico, mas também no apoio emocional e psicológico com vistas ao bem-estar da criança.11 Esta questão pode ser justificada, pelo fato de que a criança vitimizada encontra-se muito vulnerável, e por esse motivo se torna importante além do cuidado técnico, o cuidado subjetivo, tendo em vista este último é permeado pela singularidade e individualidade de cada criança e na maneira de como esta expressa seus sentimentos e emoções.12 Neste contexto, é oportuno ressaltar que em um estudo sobre relações de trabalho em equipes interdisciplinares13 foi evidenciada a existência de vários fatores que influenciam na melhora da relação entre os profissionais e clientes. Dentre eles, destacam-se: vínculo, acolhimento e a humanização da assistência.

Destacamos ainda, e apoiado nesta vertente de pensamento,14 a relevância da incorporação da interdisciplinaridade no currículo de enfermagem, mediante uma modelagem gradual, em áreas temáticas, podendo inserir-se tanto em atividades complementares como nos espaços de atuação assistencial do Sistema Único de Saúde Brasileiro. Sem dúvida é importante levar em conta a interdisciplinaridade, tanto na formação como no desenvolvimento de competências profissionais, fundamentada em novas estruturas paradigmáticas. Ao mesmo tempo reconhece-se o caráter processual de sua construção, sendo necessários oportunidade e espaço de encontros disciplinares em diferentes cenários assistenciais, de ensino e de pesquisa.

Considerações finais. A violência por ser um fenômeno da ordem do vivido, merece ações efetivas para sua redução, sendo a informação, educação e notificação aos órgãos competentes elementos imprescindíveis para direcionar as ações dos profissionais que lidam diretamente com a criança. Portanto, é preciso pensar acerca do desenvolvimento de um conhecimento científico sólido que possa orientar as práticas em saúde tanto do enfermeiro quanto dos profissionais da área da saúde que lidam com a realidade da violência contra a criança.

Os resultados deste estudo mostram a importância das relações entre o enfermeiro e a equipe de saúde. Para tanto, a interdisciplinaridade têm papel de destaque quando se trata da assistência à criança com suspeita de abuso sexual, haja vista que proporciona a comunicação, interconexões de experiências e o estabelecimento de um fluxo de informações e conhecimentos científicos de diversos profissionais. Desta maneira, as ações desenvolvidas pelo enfermeiro, enquanto integrante da equipe interdisciplinar, perpassam pela interação com os profissionais da equipe de saúde. As relações intersubjetivas estabelecidas impulsionam o modo de agir do enfermeiro, que por sua vez, tem a possibilidade de compartilhar, ampliar e solidificar seu conhecimento na área. Ademais, oportuniza o desenvolvimento de ações pautadas no acolhimento, escuta e pactuação de possíveis soluções na assistência à criança com suspeita de abuso sexual. Por fim, esperamos que este estudo possa suscitar o aprofundamento de outras pesquisas que trabalhem na perspectiva da violência contra a criança, de modo a auxiliar em reflexões sobre as ações do enfermeiro diante deste problema social.

 

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