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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.2 Medellín May/Aug. 2014

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

Diagnósticos de enfermagem identificados em prontuários de idosos hospitalizados

Nursing diagnoses identified in records of hospitalized elderly

Diagnósticos de enfermería identificados en las historias clínicas de los ancianos

Diego Dias de Araújo1; Rafael Lima Rodrigues de Carvalho2; Tânia Couto Machado Chianca3

1Enfermeiro, Mestrando. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte - MG, Brasil. email: diego.dias1508@gmail.com.

2Enfermeiro, Mestrando. UFMG, Belo Horizonte - MG, Brasil. email: rafaelsjdr@hotmail.com.

3Enfermeira, Doutora. Professora, Escola de Enfermagem da UFMG, Belo Horizonte - MG, Brasil. email: taniachianca@gmail.com.

Fecha de Recibido: Mayo 26, 2013 Fecha de Aprobado: Octubre 7, 2013.

Artículo vinculado a investigación: Diagnósticos de enfermagem identificados em prontuários de idosos hospitalizados

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: How to cite this article: Araújo DD, Carvalho RLR, Chianca TCM. Nursing Diagnoses identified in the medical records of hospitalized elderly. Invest Educ Enferm. 2014; 32(2): 225-235.


RESUMO

Objetivo. Identificar os Diagnósticos de Enfermagem (DE) formulados aos anciãos internados numa instituição de saúde de quarto grau de complexidade. Metodologia. Estudo descritivo de tipo transversal realizado a partir da informação consignada nas histórias clínicas de 112 pacientes anciãos internados no período de janeiro a julho de 2011 num hospital universitário de caráter público de Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil). Resultados. 53% dos pacientes foram de sexo feminino, 53% tinha 70 e mais anos e as doenças mais frequentes que motivaram a hospitalização foram: cardíacas (31%), neoplasias (22%), pulmonares (10%) e vasculares (10%). Tão só em 44% dos pacientes da mostra se fizeram DE. Depois de excluir as repetições se identificaram 36 diferentes títulos diagnósticos, sendo os principais: risco de infecção (78%), deterioração da mobilidade física (69%), risco de deterioração da integridade da pele (59%), risco de quedas (57%), desequilíbrio nutricional: ingesta menor às necessidades (57%), risco de glicemia instável (51%) e déficit de autocuidado (51%). Conclusão. Os DE encontrados neste estudo estão de acordo com as doenças que motivaram a hospitalização dos pacientes da investigação. Estes diagnósticos são a base para o planejamento das intervenções de enfermagem que conduzem ao melhoramento da qualidade de vida, a independência e a preservação da funcionalidade destas pessoas.

Palavras chaves: diagnóstico de enfermagem; enfermagem geriátrica; idoso; hospitalização


ABSTRACT

Objective. To identify nursing diagnoses (ND) formulated for elderly patients in a quaternary healthcare institution. Methodology. This was a descriptive cross-sectional study, conducted based on information contained in the records of 112 elderly patients, admitted from January to July 2011, in a public teaching hospital of Belo Horizonte, Minas Gerais (Brazil). Results. 53% of patients were female and were 70 years or older. The most common diseases that led to hospitalization were cardiac (31%), neoplasms (22%), lung (10%) and vascular diseases (10%). Only 44% of the patients had a ND identified. After exclusion of repetitions, 36 different diagnosis labels were identified. The primary ND were: risk for infection (78%), impaired physical mobility (69%), risk for impaired skin integrity (59%), risk for falls (57%), imbalanced nutrition: less than body requirements (57%), risk for unstable blood glucose (51%) and self-care deficit (51%). Conclusion. Conclusion. In this study, the ND were linked to human responses related to the causes of hospitalization. These diagnoses are the basis for planning nursing interventions and provide improved quality of life, independence and preservation of functionality for these people.

Key words: nursing diagnoses; geriatric nursing; aged; hospitalization.


RESUMEN

Objetivo. Identificar los Diagnósticos de Enfermería (DE) en las historias clínicas de los ancianos internados en una institución de salud de cuarto grado de complejidad. Metodología. Estudio descriptivo de tipo transversal realizado a partir de la información consignada en las historias clínicas de 112 pacientes ancianos internados en un hospital universitario de carácter público de Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil), en el período de enero a julio de 2011. Resultados. El 53% de los pacientes pertenecía al sexo femenino, 53% tenía 70 años o más; las enfermedades más frecuentes que motivaron la hospitalización fueron: cardíacas (31%), neoplasias (22%), pulmonares (10%) y vasculares (10%). Tan solo en el 44% de los pacientes de la muestra se hizo DE. Después de excluir las repeticiones, se identificaron 36 diferentes títulos diagnósticos, siendo los principales: riesgo de infección (78%), deterioro de la movilidad física (69%), riesgo de deterioro de la integridad de la piel (59%), riesgo de caídas (57%), desequilibrio nutricional: ingesta menor a las necesidades (57%), riesgo de glicemia inestable (51%) y déficit de autocuidado (51%). Conclusión. Los DE encontrados en este estudio están de acuerdo con las enfermedades que motivaron la hospitalización de los pacientes participantes en la investigación. Estos diagnósticos son la base para la planeación de las intervenciones de enfermería que conducen al mejoramiento de la calidad de vida, la independencia y la preservación de la funcionalidad de estas personas.

Palabras clave: diagnóstico de enfermería; enfermería geriátrica; anciano; hospitalización.


INTRODUÇÃO

O ciclo da vida é um processo contínuo e permanente de envelhecimento, no qual a velhice é o último período da evolução natural da vida e caracteriza-se por um conjunto de mudanças e parâmetros biológicos, econômicos, políticos e sociais que compõem o cotidiano das pessoas que vivem esta fase.1 Em 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a idade igual ou superior a 65 anos para definir o idoso nos países desenvolvidos. No entanto, para os países em desenvolvimento onde a expectativa de vida é menor, definiu-se a idade de 60 anos ou mais, como é o caso do Brasil.2

A dinâmica populacional nas últimas décadas coloca em evidência as transformações no que se refere ao processo de envelhecimento pelas quais a população brasileira tem passado. Este processo vem ocorrendo gradativamente, porém, a cada análise percebe-se uma participação cada vez maior do contingente populacional de idosos envolvidos, o que se torna uma questão preocupante, já que o país não passou por reformas sociais, econômicas, políticas e na saúde para atender às novas demandas.3 Um dos resultados dessa dinâmica é a maior procura dos idosos por serviços de saúde. As internações hospitalares são mais frequentes e o tempo de permanência hospitalar é maior quando comparado a pessoas em outras faixas etárias. Assim, o envelhecimento populacional pode ser acompanhado por maior carga de doenças na população, mais incapacidades e aumento no uso dos serviços de saúde.4

A enfermagem se destaca como profissão comprometida com o cuidado do ser humano em todo o processo de viver e morrer, incluindo a velhice. Com o aumento da demanda por cuidados nesta fase, a enfermagem tem um papel fundamental. Uma das formas de prestar um cuidado com qualidade e de maneira organizada ao idoso hospitalizado é fazer uso de uma assistência de enfermagem sistematizada.5 Uma assistência sistematizada pressupõe o emprego de um método científico e vem sendo cada vez mais implementada na prática assistencial. Ela pode colaborar em conferir maior segurança aos pacientes, melhora na qualidade da assistência e maior autonomia aos profissionais de enfermagem.6

No Brasil, o Conselho Federal de Enfermagem regulamentou, através da Resolução N°358/2009, a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e esta pressupõe a utilização do Processo de Enfermagem. Este deve ser implementado em todas as instituições de saúde públicas e privadas do território brasileiro. Ele é composto pelas seguintes etapas: coleta de dados, diagnóstico de enfermagem (DE), planejamento, implementação e avaliação de enfermagem.7 No desenvolvimento destas etapas, classificações em enfermagem podem ser utilizadas, tanto para designar diagnósticos como para propor intervenções e também resultados de enfermagem.

A NANDA International (NANDA I) é atualmente uma linguagem mundialmente conhecida e tem sido uma referência consolidada para a classificação de DE. Os DE são julgamentos clínicos decorridos de interpretações de dados levantados durante a consulta de enfermagem. Constituem a síntese do raciocínio clínico e são essenciais na orientação do planejamento de enfermagem, implementação de intervenções e avaliação do cuidado prestado.8 A formulação de DE traz vários benefícios para o cuidado do paciente: melhor planejamento e maior consistência no atendimento, melhor comunicação entre os enfermeiros e profissionais da equipe de saúde e entre enfermeiros e pacientes, além de um maior reconhecimento dos fenômenos que os enfermeiros consideram essenciais no cuidado.

Do ponto de vista da organização, o DE pode colaborar em um maior controle clínico e de riscos, mostra uma relação entre teoria, formação e prática clínica implementada pela enfermeira - em outras palavras, colabora com a enfermagem baseada em evidências.8 Este estudo tem como objetivo identificar os DE formulados para pacientes idosos internados em um hospital público e de ensino de Belo Horizonte, Minas Gerais, no período de janeiro a julho de 2011, de forma a conhecer o resultado do julgamento clínico que os enfermeiros estabeleceram frente aos problemas que os idosos, atendidos por eles, apresentaram. A realização do estudo justifica-se visto que a adesão e implantação da SAE na instituição é uma medida legalmente estabelecida e importante na atualidade. Além disso, ao serem identificados os DE deve-se planejar uma assistência de qualidade aos clientes idosos e favorecer que dados referentes à implementação de etapas do processo de enfermagem pelos enfermeiros daquela instituição sejam obtidos.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal realizado através da pesquisa de prontuários de pacientes internados no período de janeiro a julho de 2011 em unidade funcional de um hospital público e de ensino de Belo Horizonte, Minas Gerais. O hospital em questão conta com 501 leitos, sendo classificado como geral e de grande porte. Nele são realizadas atividades de ensino, pesquisa e assistência, sendo referência municipal e estadual de Saúde no atendimento aos pacientes portadores de patologias de média e alta complexidade. O hospital é integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e atende a uma clientela universalizada, sendo que 100% dos pacientes são provenientes do SUS e cerca de 40% do total é procedente do interior do Estado. Neste hospital, desde fevereiro 2008 vem sendo implantado um modelo de assistência de enfermagem denominado Sistema de Assistência de Enfermagem (SAE). No setor onde este estudo foi realizado a implantação do SAE iniciou-se em junho de 2009.

Foram incluídos no estudo prontuários de pacientes de acordo com os seguintes critérios: idade igual ou acima de 60 anos; estar internado no setor do estudo no período de janeiro a julho de 2011; ter o prontuário disponível para a coleta de dados no período de maio a junho de 2012 e, possuir registro dos DEs formulados pelos enfermeiros no prontuário.

O número de pacientes idosos internados na unidade no período de janeiro a julho de 2011 foi de 153 pacientes. Porém, entre esses apenas 112 prontuários estavam disponíveis para consulta no período de coleta de dados. Desta forma, 41 prontuários não participaram do estudo por não atenderem a critérios de inclusão estabelecidos para o estudo. Apesar da implantação das etapas do processo de enfermagem na instituição somente em 49 dos 112 prontuários constavam os diagnósticos de enfermagem identificados pelos enfermeiros. Sendo esses selecionados para análise no estudo.

A busca dos dados nos prontuários foi realizada por um dos pesquisadores. Para tanto, se utilizou um instrumento especialmente elaborado para fins de documentação das informações sobre sexo, idade, estado civil, cor da pele, procedência, comorbidades, diagnóstico médico e títulos diagnósticos de enfermagem utilizando a taxonomia da NANDA-I8 identificados na admissão dos pacientes na unidade. Posteriormente os dados foram inseridos em uma planilha eletrônica Microsoft Excel 2007 e exportados para o Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 20.0.

Análise descritiva (frequências simples e percentual) foi realizada de modo a se obter a frequência dos diagnósticos de enfermagem com o objetivo de se obter um perfil diagnóstico de enfermagem (títulos de DE formulados para mais de 50% dos pacientes) entre os pacientes idosos internados naquela unidade. Os títulos de DE foram apresentados segundo os domínios da NANDA-I8, de modo a favorecer a identificação das áreas de atenção ao idoso. O estudo está em conformidade com a Resolução n° 196/96 que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais e obteve parecer favorável sob o número de protocolo CAAE - 0550.0.203.000-11.

RESULTADOS

Dos 49 prontuários de idosos estudados, 53.1% eram de indivíduos do sexo feminino e 46.9% do sexo masculino. A idade variou entre 60 e 99 anos, com média de 72,26 anos e desvio padrão de 9,51. A maioria é casada 51%, cor da pele branca 49% ou parda 36.7% e procedente de Belo Horizonte 59.2%. As comorbidades de maior prevalência entre os pacientes foram as doenças cardíacas 83.7%, doenças metabólicas 44.9% e as doenças pulmonares 18.4%. Os principais diagnósticos médicos identificados nos indivíduos na admissão na unidade foram categorizados em doenças cardíacas 28.6%, neoplasias 22.4% e doenças pulmonares 16.3% (Tabela 1).

Tabela 1. Perfil dos 49 pacientes idosos (60 anos ou mais) internados na enfermaria de um Hospital público e de ensino de Belo Horizonte - MG, Janeiro a Julho de 2011

Tabela 1.

A NANDA-I (2010) apresenta 217 DE distribuídos em 13 domínios de respostas humanas. Para os 49 prontuários analisados foram estabelecidos pelos enfermeiros 470 DE. Após exclusão de repetições foram identificados 36 diferentes títulos diagnósticos. Observa-se que 14 títulos diagnósticos (38.9%) se referem a DE de risco e 22 (61.1%) a DE reais. Os DE mais frequentes (presentes em mais de 50% dos pacientes) foram: risco para infecção (77.6%), mobilidade física prejudicada (69.4%), risco de integridade da pele prejudicada (59.2%), risco de quedas (57.1%), nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais (57.1%), risco de glicemia instável (51.0%) e déficit no autocuidado (51.0%) (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição dos diagnósticos de enfermagem, por domínio, formulados a 49 pacientes idosos internados na enfermaria de um Hospital público e de ensino de Belo Horizonte - MG, Janeiro a Julho de 2011

Tabela 2.

DISCUSSÃO

Os dados revelam que houve uma distribuição maior de pacientes do sexo feminino (53.1%) comparado aos do sexo masculino (46.9%). O Censo Demográfico de 20109 evidenciou, para o total da população no país, uma relação de 96 homens para cada 100 mulheres. Assim, verificou-se que se acentuou a tendência histórica de predominância feminina na composição por sexo da população do Brasil, já que em 2000 esse indicador era de 96.9 homens para cada 100 mulheres.9 Além disso, a expectativa de vida feminina é superior à masculina (77 anos e 69 anos, respectivamente), o que torna as mulheres mais vulneráveis ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, entre outras, com consequente aumento das internações hospitalares.10

Alterações consequentes ao processo fisiológico são inevitáveis nos idosos. Pode-se dizer que envelhecer sem doença crônica é uma exceção. à medida que a pessoa envelhece, maiores são as chances de contrair uma doença crônica. E estas têm se tornado um problema de saúde pública em todo o mundo. Dentre as principais doenças crônicas destacam-se as cardiovasculares, metabólicas e respiratórias.10 A SAE é um modelo assistencial que visa organizar o cuidado de enfermagem a partir da adoção de um método sistemático, proporcionando ao enfermeiro assistir diretamente o paciente, a família e a comunidade e obter indicadores de saúde a partir dos registros realizados.6 Com a SAE pressupõe-se que o processo de enfermagem seja implantado e este proporciona base de cuidado que prioriza o cuidado individualizado. Entretanto, os profissionais enfrentam dificuldades para a sua implementação.11,12 Entre os 112 prontuários analisados, os enfermeiros formularam DE para apenas 43.8% dos pacientes. Alguns motivos para a não aplicação das etapas do processo de enfermagem em algumas instituições têm sido descritos por estudiosos e têm sido apontadas a falta de tempo, de conhecimento teórico, de exercício prático, de recursos, limitação do paciente em informar, poucos funcionários na unidade, além da falta de organização de espaços para discussão da temática desde a graduação.11,12

Com relação ao perfil de diagnósticos de enfermagem estabelecido observa-se que 38.9% são diagnósticos de risco e 61.1% são DE reais. Este perfil de diagnósticos é relevante uma vez que no planejamento de cuidados de enfermagem deve ser priorizado o atendimento inicial aos diagnósticos reais, que são as respostas humanas a condições de saúde que a pessoa apresenta. Os riscos devem ser identificados e implementadas intervenções. Nessa perspectiva, o planejamento da assistência de enfermagem deve ser feito de forma a fazer um controle de riscos, com o objetivo de preservar a segurança.13-16

Os enfermeiros identificaram DE para os pacientes referentes a maioria dos domínios da NANDA-I. Entretanto não foi formulado pelos enfermeiros nenhum DE para os pacientes relativos aos seguintes domínios de respostas humanas: Domínio 6 - Autopercepção, Domínio 7 - Papéis e Relacionamentos, Domínio 8 - Sexualidade e Domínio 10- Princípios da vida. Semelhantemente a outros estudos,15,16 o domínio segurança/proteção destacou-se pela alta frequência de DE apresentados pela população estudada. O domínio segurança/proteção refere-se ao indivíduo estar livre de perigo, lesão física ou dano ao sistema imunológico; conservação contra perdas e proteção; segurança e livre de perigo.8 Este domínio tem expressões peculiares na população idosa, já que os idosos são mais vulneráveis a danos e/ou a lesões físicas e imunológicas devido ao próprio processo de envelhecimento fisiológico. Estas podem ser agravadas e antecipadas na presença de múltiplas doenças crônico-degenerativas.17 A segurança e proteção desses pacientes devem ser garantidas e monitoradas pela equipe de enfermagem de forma a conferir qualidade à assistência prestada.

Os DE identificados em mais de 50% dos pacientes foram aqueles que normalmente decorrem de alterações fisiológicas comuns ao processo de envelhecimento como as alterações no sistema imunológico, sistema tegumentar, metabólicas, composição corporal e enfraquecimento musculoesquelético. Foram eles: risco para infecção (77.6%), mobilidade física prejudicada (69.4%), risco de integridade da pele prejudicada (59.2%), risco de quedas (57.1%), nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais (57.1%), risco de glicemia instável (51%) e déficit no autocuidado (51%). Os DE encontrados neste estudo são corroborados em outros estudos,13-16 porém a distribuição das frequências destes não é a mesma em termos comparativos.

O diagnóstico de risco de infecção é definido como risco aumentado do indivíduo de ser invadido por organismos patogênicos.8 Este diagnostico é também identificado nos pacientes em outros estudos.13,14,16 Das alterações fisiológicas do envelhecimento, a imunossenescência é a designação para as alterações resultantes do envelhecimento que ocorrem no sistema imune. Pode ocorrer redução da produção de imunoglobulinas, dos linfócitos T e células CD4+, redução bactericida neutrofílica devido à diminuição de disponibilidade de nutrientes macro e micro, como por exemplo, o cobre, proteínas, zinco, selênio e vitaminas A e E, predispondo os idosos a enfermidades.18 A própria hospitalização predispõe o indivíduo a infecções cruzadas e expõe o idoso a procedimentos invasivos, como cateterização, punções venosas, exames diagnósticos como endoscopia e colonoscopia. Nestes, o risco de adquirir infecções é aumentado.13

Dos 49 pacientes, 34 (69.4%) apresentaram o diagnóstico de mobilidade física prejudicada, que é definido como limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo ou de uma ou mais extremidades.8 Em relação aos estudos13-15 confrontados, o diagnóstico de mobilidade física prejudicada foi também identificado nos pacientes avaliados. Dentre as possíveis causas para o problema destaca-se a perda de massa muscular, diminuição da força, frequência cardíaca máxima, tolerância ao exercício e da capacidade aeróbica, além do aumento da gordura corporal, dores e alterações nas funções neuromusculares.19 Essa inabilidade pode variar entre indivíduos em condições semelhantes e, em um mesmo indivíduo, em épocas diferentes. A limitação física pode ser um fator contribuinte para uma série de problemas de saúde.20

Em um considerável número de pacientes (59.2%) foi identificado o diagnóstico de risco de integridade da pele prejudicada, definido como epiderme e/ou derme alteradas.8 Apoiado por estudo15 realizado em 196 pacientes idosos, o diagnóstico de risco de integridade da pele prejudicada foi o mais identificado. Ressalta-se que a pele do idoso tende a ficar ressecada devido à diminuição do número de glândulas sebáceas e sudoríparas. Alterações das fibras elásticas, do colágeno conjuntivo; o enrugamento e diminuição do turgor e do tônus elevam o risco de laceração devido à menor capacidade da pele de atuar como barreira contra fatores externos. A irrigação vascular diminui enquanto a fragilidade capilar aumenta. A massa dérmica e subcutânea adelgaça e a pele afina expondo o idoso a um risco maior para lesões e doenças de pele.18 Além das alterações fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento, fatores externos relacionados à hospitalização podem contribuir para o aumento na frequência deste diagnóstico, a exemplo de fatores mecânicos, imobilização física, umidade, estado nutricional desequilibrado, medicamentos e proeminências ósseas.8

O diagnóstico de risco de quedas é definido pela suscetibilidade aumentada para quedas que podem causar dano físico.8 Em outros estudos15,16 este diagnóstico também foi identificado nos pacientes estudados. A ocorrência de quedas é um dos grandes problemas de saúde enfrentados pela população idosa, as alterações fisiológicas relacionadas ao avançar da idade podem ocasionar limitações funcionais tornando o idoso mais propenso a quedas.20 Entre essas alterações pode-se citar: marcha lenta e com passos curtos, instabilidade postural e baixa aptidão física, alterações cognitivas, idosos com mais de 80 anos e presença de doenças (doenças neurológicas e osteomusculares). Assim, pode-se afirmar que diversos fatores estão envolvidos neste evento18,21-23 e merecem identificação, intervenção e monitoramento. Portanto, este se constitui em um grande desafio para a equipe de saúde.

A nutrição é essencial para a promoção, manutenção e/ou recuperação da saúde. Com o envelhecimento as pessoas podem perder o interesse em ingerir refeições. Por sua vez, as alterações fisiológicas podem acometer diversos órgãos e sistemas com consequentes danos de suas funções. A redução das secreções gástricas que decorrem de alterações sensoriais promove a hipoacloridria; redução de secreção pancreática exógena e/ou endócrina que interfere na absorção alimentar. Ocorre, também, diminuição da motilidade intestinal consequente à menor ingestão hídrica, redução do tônus e elasticidade muscular, menor consumo calórico e de fibras na dieta.18 A nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais é definida pela NANDA I como a ingestão insuficiente de nutrientes para satisfazer as necessidades metabólicas.8 O referido diagnóstico foi também formulados para os idosos em outros estudos.13-14 A identificação do padrão nutricional inadequado às necessidades dos pacientes durante a internação é um aspecto que deve ser avaliado pela equipe de enfermagem para que se inicie precocemente estratégias de acompanhamento e de monitorização da ingestão alimentar desses pacientes mais vulneráveis.14

O diagnóstico de risco de glicemia instável é definido como risco de variação dos níveis de glicose no sangue em relação aos parâmetros normais.8 O diabetes mellitus é uma doença comum e de incidência crescente com o avanço da idade.22 Tal doença apresenta alta morbimortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular.22 Em um estudo14 realizado com idosos hospitalizados, apesar de 18.9% dos pacientes pesquisados apresentarem diabetes mellitus como uma das principais comorbidades, o DE de risco de glicemia instável não apareceu como um dos mais frequentes naquela população. O fato foi também comprovado em outros estudos13,15-16, o que corrobora com os resultados aqui encontrados. Provavelmente isso seja reflexo da peculiaridade da alta prevalência de doenças metabólicas (31.3%) na população aqui estudada, na qual o diabetes mellitus foi um problema clínico apresentado pela maioria dos pacientes (80%). Os fatores de risco relacionados ao risco de glicemia instável foram: falta / controle deficiente do diabetes, falta de adesão do paciente diabético ao tratamento, estado de saúde física e mental, controle de medicamentos, nível de atividade física, ingestão alimentar e monitoração inadequada da glicemia.8

O déficit no autocuidado é definido como capacidade prejudicada de desempenhar ou completar atividades de alimentação, banho/higiene, higiene íntima, ou de se arrumar.8 Vale ressaltar que o diagnóstico de déficit no autocuidado foi identificado de forma incompleta neste estudo. A exemplo de alguns estudos,14,16 deveria ter sido mencionado pelos enfermeiros a que déficit se referia (se relacionado à alimentação, a arrumar-se, ao banho e/ou à higiene íntima), pois se pressupõe que intervenções apropriadas e diferenciadas deveriam ter sido planejadas. Alguns fatores de risco que contribuem para o declínio funcional em idosos hospitalizados com consequente dependência para o desempenho das atividades de vida diária (AVD) (alimentação, banho/higiene, higiene íntima, e/ou arrumar-se) são: idade avançada, múltiplas comorbidades, gravidade da condição clínica, estado nutricional, depressão, delirium, comprometimento cognitivo e físico (quedas, redução de mobilidade), fatores ambientais (ausência de adaptações), incapacidade funcional prévia e iatrogenias.24 O maior desafio na atenção à pessoa idosa é contribuir para uma maior autonomia e independência durante o processo de envelhecimento.22,25

Este estudo possibilitou identificar os títulos diagnósticos mais frequentes nos pacientes idosos internados em uma unidade funcional de um hospital público e de ensino onde um Sistema da Assistência de Enfermagem foi operacionalizado com o processo de enfermagem. Observou-se que nem todos os pacientes internados na unidade no período estudado contavam, em seus prontuários, com o registro de etapas do processo de enfermagem especialmente a de coleta de dados, diagnósticos de enfermagem e prescrição de enfermagem.

Conclusão. Apesar da implantação das etapas do processo de enfermagem na instituição ter sido iniciada na unidade onde este estudo foi realizado, em menos da metade dos prontuários analisados constavam os diagnósticos de enfermagem identificados pelos enfermeiros. Tal dado remete à necessidade de novos estudos para buscar as causas da não identificação de DE para todos os pacientes internados e assistidos pela enfermagem, atividade legalmente estabelecida por órgãos de classe e instituída no hospital em estudo desde 2008. A realização do processo de enfermagem auxilia os enfermeiros na efetivação do planejamento, com melhoria na prática assistencial, com obtenção de maior autonomia profissional. Os DE são a base para o planejamento das ações de enfermagem. Essas devem ser apropriadas para levar os indivíduos a alcançar o máximo de qualidade de vida, independência e preservação da funcionalidade, o que pode contribuir para uma assistência de enfermagem de maior qualidade aos clientes idosos.

Considera-se que o objetivo traçado para este estudo foi alcançado. Observou-se, que nem todos os idosos assistidos pela enfermagem, na instituição do estudo tinham seus dados de saúde e os DE documentados. Infere-se assim, que a adesão dos enfermeiros ao modelo assistencial de enfermagem adotado não é ainda satisfatório. Sugere-se que os gestores da instituição possam melhor trabalhar os fatores que dificultam o processo, de modo a favorecer a consolidação da SAE no hospital em questão. Sugere-se que estudos sejam conduzidos com vistas à validação clínica de DE e de intervenções de enfermagem nessa população de pacientes.

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