SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.32 issue2Ethical implications and decision making in care education processVenous ulcer: risk factors and the Nursing Outcomes Classification author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • On index processCited by Google
  • Have no similar articlesSimilars in SciELO
  • On index processSimilars in Google

Share


Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.2 Medellín May/Aug. 2014

 

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTÍCULO ORIGINAL

Estilos de vida e condições de saúde de adultos com lesão medular

Lifestyle and health conditions of adults with spinal cord injury

Estilos de vida y condiciones de salud de adultos con lesión medular

Inacia Sátiro Xavier de França1; Bertha Cruz Enders2; Alexsandro Silva Coura3; Giovanna Karinny Pereira Cruz4; Jamilly da Silva Aragão5; Déborah Raquel Carvalho de Oliveira6

1Enfermeira, Doutora. Professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande/PB, Brasil. email: inacia.satiro@gmail.com.

2Enfermeira, Doutora. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal/RN, Brasil. email: bertha@ufrnet.br.

3Enfermeiro, Doutor. Professor da UEPB, Campina Grande/PB, Brasil. email: alex@uepb.edu.br.

4Enfermeira, Mestranda da UFRN. Natal/RN, Brasil. email: giovannakarinny@gmail.com.

5Enfermeira, Mestranda da UEPB. Campina Grande/PB, Brasil. email: jamilly_aragao@hotmail.com.

6Enfermeira, Mestranda da UFRN. Natal/RN, Brasil. email: deborahrco@hotmail.com.

Fecha de Recibido: Junio 6, 2013. Fecha de Aprobado: Febrero 10, 2014.

Artículo vinculado a investigación: "Perfil socioeconômico e condições de saúde de adultos com lesão medular".

Subvenciones: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Edital MCT/CNPq N° 014/2008 - UNIVERSAL

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: França ISX, Enders BC, Coura AS, Cruz GKP, Aragão JS, Oliveira DRC. Lifestyle and health conditions of adults with spinal cord injury. Invest Educ Enferm. 2014;32(2): 244-251.


RESUMO

Objetivo. Descrever os estilos de vida dos adultos com lesão medular e explorar sua relação com algumas condições de saúde. Metodologia. Estudo transversal no qual se aplicou um questionário que continha variáveis sócio-demográficas, e de condutas e condições de saúde. Participaram 47 pessoas com lesão medular que responderam o questionário por auto-relatório. Resultados. O grupo estudado foi predominantemente de sexo masculino (92%), menor de 40 anos (47%) e de baixa escolarização (76%). Os fatores de risco de estilo de vida mais frequentes foram: tabagismo (28%), consumo de álcool (36%), consumo de café (92%) e não praticar atividades físicas (64%). As condições de saúde que com maior frequência complicaram a saúde dos pacientes foram: estresse (72%), insônia e sentimentos negativos (70% cada um), ansiedade (68%) e a dor muscular (64%). Encontrou-se associação entre ter ≥4 fatores de risco de estilos de vida e a falta de apetite, bem como para constipação. Conclusão. O apresentar estilos de vida inadequados está associado às condições de saúde do paciente, devendo a equipe de enfermagem brindar atendimento especial na educação e promoção da saúde relacionada à pessoa com lesão medular.

Palavras chaves: traumatismos da medula espinhal; condições de saúde; estilo de vida; enfermagem.


ABSTRACT

Objective. To describe the lifestyle of adults with spinal cord injury and explore its relation with some health conditions. Methodology. Cross sectional study, in which a questionnaire containing sociodemographic, habits and health conditions variables was used. Forty-seven people with spinal cord injury participated and answered the self-report questionnaire. Results. The group under study was predominantly male (92%), under 40 years of age (47%), and had low educational level (76%). The most frequent risk factors related to the lifestyle were: smoking (28%), alcohol consumption (36%), coffee consumption (92%) and being physically inactive (64%). Association was found between having four or more risk factors related to lifestyle and the loss of appetite, as well as constipation. Conclusion. The actual inadequate lifestyle is associated with the health conditions of patients, and the nursing team should pay special attention to the education and promotion of health related to people with spinal cord injury.

Key words: spinal cord injuries; health conditions; lifestyle; nursing.


RESUMEN

Objetivo. Describir los estilos de vida de los adultos con lesión medular y explorar su relación con algunas condiciones de salud. Metodología. Estudio transversal en el cual se aplicó un cuestionario que contenía variables sociodemográficas, de conductas y condiciones de salud. Participaron 47 personas con lesión medular que respondieron el cuestionario por autorreporte. Resultados. El grupo estudiado fue predominantemente de sexo masculino (92%), menor de 40 años (47%) y de baja escolarización (76%). Los factores de riesgo de estilo de vida más frecuentes fueron: tabaquismo (28%), consumo de alcohol (36%), consumo de café (92%) y no practicar actividades físicas (64%). Las condiciones de salud que con mayor frecuencia complicaron la salud de los pacientes fueron: estrés (72%), insomnio y sentimientos negativos (70% cada uno), ansiedad (68%) y el dolor muscular (64%). Se encontró asociación entre tener ≥4 factores de riesgo de estilos de vida y la falta de apetito, así como para constipación. Conclusión. Los estilos de vida inadecuados está asociado a las condiciones de salud del paciente, por consiguiente, el equipo de enfermería debe brindar atención especial en la educación y promoción de la salud en relación con la persona con lesión medular.

Palabras clave: traumatismos de la médula espinal; estado de salud; estilo de vida; enfermería.


INTRODUÇÃO

Na atualidade, a lesão medular (LM) vem se constituindo em todo o mundo como um grave problema de saúde pública devido ao aumento dos episódios de violência urbana, a exemplo dos acidentes com veículos automotores e agressões com arma de fogo.1 No entanto, a LM também pode ser causada por outras condições que interfiram nos trajetos nervosos, aferentes e eferentes, que ligam o encéfalo e as regiões periféricas, tais como: tumores, doenças bacterianas e viróticas.2

A incidência mundial da LM varia entre 12.1 e 57.8 casos por um milhão de pessoas.3 Já no Brasil não existem dados bem consolidados e atualizados sobre tal problemática, todavia são verificadas por volta de 7.000 ocorrências de pessoas com LM por ano.4

O indivíduo com LM, em geral, apresenta limitações que podem acarretar importantes alterações no seu cotidiano, pois esse agravo causa perda parcial ou total da motricidade e sensibilidade, além de comprometimento vasomotor, respiratório, intestinal, vesical e sexual.5 A LM também está associada à outras complicações como o aumento do risco de desenvolver úlceras por pressão.6 Tais alterações modificam de maneira condiderável o estilo de vida das pessoas acometidas, pois as sequelas deixadas dificultam a manutenção dos hábitos de vida anteriores à lesão, sendo característico nesses indivíduos, por exemplo, a intolerância à atividade. Nessa perspectiva, após a LM, aumenta a suscetibilidade dos acometidos aos problemas de saúde devido a comportamentos de risco, em detrimento aos hábitos de proteção.7

As pessoas com LM apresentam maior risco para desenvolverem doenças cardiovasculares e endócrinas, pois grande parte tornam-se sedentárias e com tendência de aumentar o peso, tendo em vista que, normalmente, após a fase aguda e de reabilitação tais pessoas apresentem déficit músculo-esquelético, resistência e força diminuídas, enfraquecimento neuromuscular, dentre outros.8

A literatura ainda apresenta evidências da associação de hábitos de vida com algumas condições de saúde em pessoas com LM. O sedentarismo apresenta-se associado com as doenças cardiovasculares9 e do trato urinário.10 O tabagismo,6 o abuso de álcool11 e a nutrição inadequada12 também apresentam associação positiva para más condições de saúde. Portanto, partindo-se do pressuposto de que a LM pode gerar hábitos de vida que são considerados fatores de risco para várias doenças e/ou condições de saúde, elegeu-se como objetivo do estudo averiguar os hábitos de vida de adultos com lesão medular e estabelecer sua associação com algumas condições de saúde.

A pertinência da presente investigação baseia-se na possibilidade de gerar conhecimento que permita aos enfermeiros e aos outros profissionais de saúde traçar intervenções em educação e promoção da saúde com base nos hábitos de vida mais prevalentes e correlacionados com complicações de saúde. Além disso, gerar informações importantes para as reformulações das políticas públicas direcionadas às pessoas com deficiência, bem como estudar uma população com lacunas no tocante à pesquisas, principalmente, na região nordeste do Brasil.

METODOLOGIA

Estudo transversal, com abordagem quantitativa e analítica, realizado no ano de 2010 em todas as 61 Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) existentes na cidade de Campina Grande-PB, Brasil. A população alvo foram todas as pessoas com LM adscritas nas 61 UBSF do município campinense. Dessa maneira, e considerando a pertinência temporal, financeira e logística, não se utilizou técnica de amostragem e sim se realizou o censo populacional, de maneira que participaram do estudo 47 indivíduos. Para recrutamento dos sujeitos foram considerados como critérios de inclusão: possuir LM completa ou incompleta por qualquer etiologia diagnosticada por especialista, ter 18 anos ou mais de idade, residir em Campina Grande, estar cadastrado na Estratégia Saúde da Família (ESF), apresentar função cognitiva satisfatória e aderir ao estudo.

Para coleta de dados, visitou-se as residências dos participantes, na companhia do Agente Comunitário de Saúde responsável pela respectiva micro-área de adscrição. Na oportunidade foi utilizado um instrumento de coleta, que se configura como um formulário composto por 50 questões, as quais versavam sobre variáveis demográficas: sexo, idade e raça; variáveis socioeconômicas: escolaridade e renda per capita; variáveis hábitos de vida: dieta, atividades físicas, tabagismo, etilismo, consumo de café; e variáveis condições de saúde: peso, altura, doenças e condições auto-referidos. Esse instrumento foi preenchido pelo pesquisador de acordo com as respostas de cada participante. Foram realizadas análises descritivas com frequências absolutas e relativas e análise inferencial nos cruzamentos das variáveis, sendo os dados apresentados em tabelas. Para verificar a associação entre os hábitos de vida e as condições de saúde, utilizou-se o teste de Qui-Quadrado, exceto quando o requisito estatístico de inexistência de caselas menores que cinco não foi atendido.

Nesses casos foi efetivado o teste de Fisher, considerando o nível de significância de 5% (p<0.05).

Para verificar a magnitude de associação entre as variáveis realizou-se o Coeficiente de Contingência e os seguintes parâmetros: r ≥ 0.750 = associação forte; 0.500 a 0.749 = associação moderada; ≤ 0.499 = associação fraca). Salienta-se que quando da realização dos testes de associação, as variáveis de hábitos de vida e de condições de saúde foram dicotomizadas. No tocante as condições de saúde, considerou-se a ocorrência ou não do agravo (sim/não), já no concernente aos hábitos de vida a dicotomização obedeceu ao seguinte critério: (0)=mais que quatro hábitos negativos; (1)=menos que quatro hábitos negativos.

O projeto só teve a coleta iniciada após o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (CEP-UEPB), sob protocolo n.° 0490.0.133.000-08. Em todo o processo, especialmente durante a coleta de dados, foram respeitadas as diretrizes da Resolução n.° 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, principalmente no que se refere ao seu artigo IV, que trata do respeito à autonomia do participante, garantindo-lhe, entre outros direitos, o seu consentimento livre e esclarecido, a privacidade e o sigilo.

RESULTADOS

Perfil sociodemográfico e etiologia da lesão medular. Conforme apresentado na Tabela 1, para cada mulher existiam 10.8 homens, sendo a maior parte dos participantes jovens ou adultos (46.8%), de baixa renda (97.9%) e com menos de 10 anos de escolarização (87.2%). A causa mais frequente de LM foi por arma de fogo (31.9%), seguida pelas quedas (27.7%). Tais causas somadas apresentaram um percentual maior do que todas as outras juntas.

Tabela 1. Perfil sociodemográfico e etiologia da lesão medular os adultos participantes. Campina Grande-PB. Brasil, 2010

Hábitos de vida. No tocante aos hábitos de vida dos participantes com LM, percebe-se na Tabela 2 que o consumo de substâncias lícitas foi de 91.5% para café, 36.2% para álcool e 27.7% para tabaco. Dois de cada três não praticava atividade física.

Tabela 2. Hábitos de vida de 47 pessoas com lesão medular. Campina Grande-PB. Brasil, 2010

Condições de saúde. De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, as doenças, agravos e/ou complicações de saúde mais frequentes dos participantes foram estresse (72.3%), insônia (70.2%), sentimentos negativos (70.2%), ansiedade (68.1%) e dor muscular (63.8%).

Tabela 3. Doenças, agravos e/ou complicações de saúde auto-referidas em pessoas com lesão medular. Campina Grande-PB. Brasil, 2010

Quando se verificou a associação entre as doenças, agravos e/ou complicações de saúde com a presença de hábitos de vida negativos, encontrou-se diferenças estatisticamente significativas apenas para as variáveis falta de apetite e constipação: 53.1% das pessoas com quatro ou mais hábitos de vida negativos e 20% das que tinham três ou menos tiveram falta de apetite (χ2=3.3; p=0.034) e 53.3% dos que tinham quatro ou mais hábitos negativos versus 15.6% dos que tinham três ou menos que apresentaram constipação (χ2=3.3; p=0.009).

DISCUSSÃO

O Perfil sociodemográfico e as etiologias da LM verificados no presente estudo estão em conssonância com outras pesquisas. Nesse sentido, as vítimas da lesão medular são, geralmente, homens,2,6,13,14 jovens,2,3,6,13 não-brancos, com baixa escolaridade2,13 e baixa renda2,13 e que sofreram o agravo por acidente com arma de fogo.2,13 Entretanto, em um estudo de revisão realizado por pesquisadores da Escola de Medicina do Trabalho em Madrid, Espanha, constatou-se que as principais causas da LM no mundo são os acidentes automobilísticos e as quedas, bem como que com o aumento na idade das vítimas aumenta também a prevalência de etiologias não-traumáticas.3

A constatação do sedentarismo entre os participantes do estudo é um fator preocupante e que pode estar relacionada com as complicações secundárias verificadas. Por isso, existe um grande interesse do impacto de práticas esportivas na vida de pessoas com LM. Um estudo14 realizado em Ontário, no Canadá, com dois grupos de pessoas com LM, constatou que o grupo não-sedentário apresentou associação com o bem-estar e a melhora na integração comunitária. A maior frequência de complicações emocionais e/ou subjetivas como estresse, insônia, sentimentos negativos e ansiedade, também pode estar relacionada com o sedentarismo. Um estudo15 realizado na Itália com 52 tetraplégicos e 85 paraplégicos, identificou diferenças com significância estatística entre um grupo que não praticava atividade física e um outro que praticava, no tocante à ansiedade, extroversão e depressão, complicações mais frequentes no grupo sedentário.

O Ministério da Saúde e as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial IV demonstram que entre os vários riscos para hipertensão arterial sistêmica (HAS), encontra-se o sedentarismo, o estresse, hábitos alimentares inadequados, o consumo de álcool e tabaco. Estes constituem manifestações do modo de vida urbanizado e pós-tecnologia estabelecida.16 Portanto, o percentual de 25% de casos de HAS auto-referidos poderia ser esperado, tendo em vista que 36.2% dos participantes não praticam atividade física, 27.7% são tabagistas, 36.2% etilistas e 72.3% estão estressados. A ocorrência da dor nos sujeitos desse estudo corrobora com a literatura.17 Um estudo13 desenvolvido na cidade de Fortaleza, Brasil, com 32 indivíduos com LM, verificou baixo escore para a faceta dor com relação à qualidade de vida dos participantes e uma frequência de 56.3% de dor neuropática, sendo a dor uma faceta também verificada com baixo escore em outro estudo sobre qualidade de vida em pessoas com LM desenvolvido em um município de médio porte do nordeste brasileiro.18 Já em uma pesquisa19 realizada por cientistas norte-americanos, verificou-se que a média da intensidade da dor era moderada, bem como que o desconforto álgico nos membros inferiores era maior.

No tocante ao aspecto nutricional dos participantes, três fatores, possivelmente podem estar relacionados: consumo de café, constipação e falta de apetite. O café é contra-indicado para pessoas que possuem risco de constipação ou constipação, pois essa substância possui propriedades constipantes e que favorecem a flatulência.8 A constipação por sua vez pode gerar indisposição para a ingestão da dieta diária. Com uma dieta insuficiente e pouca ingesta de líquidos, o volume do bolo fecal diminue, favorecendo a impactação fecal.20 Apesar de ser possível encontrar associações entre fatores isolados, nesse estudo buscou-se associações entre algumas doenças, agravos e/ou complicações auto-referidas e conjuntos de hábitos de vida, pois acredita-se que um defecho possui influência multicausal, de maneira que sua ocorrência é influenciada pelos vários fatores contextuais existentes. Nessa perspectiva, a falta de apetite e a constipação apresentaram-se associadas com o acúmulo de quatro ou mais hábitos de vida negativos. Essa constatação segue a tendência nacional e internacional da existência de problemas com a dieta e as eliminações entre as pessoas com LM.17,20

Um estudo17 realizado em um hospital da Escola de São Paulo, Brasil, identificou os diagnósticos de enfermagem, segundo a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA), em pessoas com LM internadas numa Unidade de Ortopedia e Traumatologia, estando a constipação diagnosticada em 30% dos casos. Já uma pesquisa20 realizada por cientistas de Vancouver, Canadá, aponta o intestino neurogênico como uma grave complicação após uma LM e indica, por meio de uma ampla revisão integrativa, que é necessário estabelecer uma rotina intestinal eficaz para essa demanda, bem como que os estudos com maior poder de evidencia estão fortemente vinculados as terapêuticas farmacológicas em detrimentos das terapias alternativas.

No tocante as implicações do estudo para a prática dos enfermeiros que assistem as pessoas com LM, entende-se que é mister o desenvolvimento de intervenções pautadas na educação e promoção da saúde, pois a maioria dos participantes são sedentários e fazem uso de café pelo menos duas vezes ao dia. As ações de prevenção devem ser direcionadas para esses sujeitos e suas famílias considerando que o conjunto de hábitos de vida podem determinar más condições de saúde. Nesse contexto, salienta-se que no âmbito da Estratégia Saúde da Família, a ativa participação da família e da comunidade em geral fortalece novas fórmulas sobre o pensar e o fazer em saúde.21 Assim, os enfermeiros também devem contemplar em seu planejamento de assistência os cuidadores das pessoas com LM, buscando fornecer suporte aos familiares, que são geralmente cuidadores leigos. É preciso identificar suas potencialidades e realizar educação em saúde para suprir possíveis necessidades de conhecimento.22

Salienta-se ainda que a equipe de enfermagem deve ter atenção especial na orientação sobre os hábitos que podem prevenir os problemas nutricionais e de eliminação de fezes. Portanto, considera-se importante as seguintes ações: encorajar o consumo de líquidos, orientar sobre a dieta ideal, indicar ida ao banheiro sempre no mesmo horário, ensinar a massagem abdominal, indicar mudança de decúbito e evitar a posição deitada, estimular a tosse, apoiar e capacitar os familiares cuidadores, bem como encorajar à prática de atividades físicas.8,20 No concernente as limitações do estudo, a primeira identificada foi a impossibilidade de verificar alguns dados antropométricos (peso e a altura) dos participantes, tendo em vista que nem todos os sujeitos reuniam condições de ficar em pé para a mensuração das medidas. Para evitar um viés optou-se pela não realização do cálculo do IMC, o qual seria um importante marcador para as pretensões dessa pesquisa. Outra limitação foi o número amostral pequeno, fato que diminui o poder de generalização dos resultados para outras populações. Aponta-se também como limite do trabalho a coleta de informações por auto-referência, pois os respondentes podem ter cometido equívocos que causaríam divergências pontuais entre as respostas e a situação real. Por fim, os cortes transversais dificultam a determinação da direcionalidade de associações devido o risco de viés da causalidade reversa, uma vez que fatores de proteção, de risco e desfechos são verificados de maneira concomitante.

Os hábitos de vida considerados negativos foram verificados em parcela significativa dos participantes, sendo constatado também, que a maioria apresenta quatro ou mais hábitos de vida negativos concomitantemente. Identificou-se, embora com baixa intensidade estatística, associação entre o acúmulo de quatro ou mais hábitos de vida negativos e as condições de saúde falta de apetite e constipação, facetas relacionadas com a nutrição e a eliminação de fezes, respectivamente, devendo a equipe de enfermagem ter atenção especial na educação e promoção da saúde relativa a tais condições. Sugere-se o desenvolvimento de tecnologias efetivas para a verificação de medidas como o peso, a altura e o IMC em pessoas com paraplegia e tetraplegia; a replicação desssa pesquisa em outros municípios; e o desenvolvimento de estudos com maior poder de evidencia na verificação de intervenções não-farmacológicas para a prevenção ou o tratamento de complicações em pessoas com LM.

REFERÊNCIAS

1. Cavalcante KMH, Carvalho ZMF, Barbosa IV, Rolim GA. Experience of the sexuality by people with spinal cord injury. Rev RENE. 2008; 9(1):27-35.         [ Links ]

2. Blanes L, Carmagnani MIS, Ferreira LM. Quality of life and self-esteen of persons with paraplegia living in São Paulo, Brazil. Qual Life Res. 2009; 18:15-21.         [ Links ]

3. Berga MELV, Castellotea JM, Mahillo-Fernandezc I, Pedro-Cuestac J. Incidence of Spinal Cord Injury Worldwide: A Systematic Review. Neuroepidemiology. 2010; 34:184-92        [ Links ]

4. Utida C, Truzzi JC, Bruschini H, Simonetti R, Cedenho AP, Srougi M et al. Male infertility in spinal cord trauma. Int Braz J Urol. 2008; 31(4):375-83.         [ Links ]

5. Galvin LR, Godfrey HPD. The impact of coping on emotional adjustment to spinal cord injury (SCI): review of the literature and application of a stress appraisal and coping formulation. Spinal Cord. 2001; 39(12):615-27.         [ Links ]

6. Krause JS, Broderick L. Patterns of recurrent pressure ulcers after spinal cord injury: identification of risk and protective factors 5 or more years after onset. Arch Phys Med Rehabil. 2007; 85:1257-64.         [ Links ]

7. Krause JS, McArdle JJ, Pickelsimer E, Reed KS. A Latent Variable Structural Path Model of Health Behaviors After Spinal Cord Injury. J Spinal Cord Med. 2009; 32(2):162-74.         [ Links ]

8. Vasconcelos AS, França ISX, Coura AS, Sousa FS, Souto RQ, Cartaxo HGO. Nursing interventions on the needs of people with spinal cord injury: an integrative review. Online Braz J Nurs. [Internet] 2010. (cited 2012 Mar 11); 9(2). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/j.1676-4285.2010.3000/674        [ Links ]

9. Demirel S, Demirel G, Tukek T, Erk O, Yilmaz H. Risk factors for coronary heart disease in patients with spinal cord injury in Turkey. Spinal Cord. 2001; 39(3):134-8.         [ Links ]

10. Davies DS, McColl MA. Lifestyle risks for three disease outcomes in spinal cord injury. Clin Rehabil. 2002; 16(1):96-108.         [ Links ]

11. Tate DG, Forchheimer M, Krause JS, Meade M, Bombardier CH. Patterns of alcohol and substance use and abuse in persons with spinal cord injury risk factors and correlates. Arch Phys Med Rehabil. 2004; 85:1837-47.         [ Links ]

12. Tomey KM, Chen DM, Wang X, Braunschweig Cl. Dietary intake and nutritional status of urban community-dwelling men with paraplegia. Arch Phys Med Rehabil. 2005; 4:664-71.         [ Links ]

13. Vall J, Braga AB, Almeida PC. Study of the quality of life in people with traumatic spinal cord injury. Arq Neuro-Psiquiatr. 2006; 64(2-B):451-5.         [ Links ]

14. McVeigh SA, Hitzig SL, Craven C. Influence of Sport Participation on Community Integration and Quality of Life: A Comparison Between Sport Participants and Non-Sport Participants With Spinal Cord Injury. J Spinal Cord Med. 2009; 32(2):115-24.         [ Links ]

15. Gioia M, Cerasa A, Lucente A, Brunelli S, Castellano V, Traballesi M. Psychological impact of sports activity in spinal cord injury patients. Scand J Med Sci Sports. 2006; 16(6):412-6.         [ Links ]

16. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Hipertensão. Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Guidelines on Hypertension. Arq Bras Cardiol. 2010; 95(1 supl.1):1-51.         [ Links ]

17. Cafer CR, Barros ALBL, Lucena AF, Mahl MLS, Michel JLM. Nursing diagnoses and interventions proposal al for patients with spinal cord lesion. Acta Paul Enferm. 2005; 18(4):347-53.         [ Links ]

18. França ISX, Coura AS, França EG, Basílio NNV, Souto RQ. Quality of life of adults with spinal cord injury: a study using the WHOQOL-bref. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(6):1364-71.         [ Links ]

19. Ullrich PM, Jensen MP, Loeser JD, Cardenas DD. Pain intensity, pain interference and characteristics of spinal cord injury. Spinal Cord. 2009; 46(6):451-455.         [ Links ]

20. Krassioukov A, Eng LL, Claxton G, Sakakibara BM, Shum S. Neurogenic bowel management after spinal cord injury: a systematic review of the evidence. Spinal Cord. 2010; 48:718-33.         [ Links ]

21. Roecker S, Marcon SS. Educação em saúde. Relatos das vivências de enfermeiros com a Estratégia da Saúde Familiar. Invest Educ Enferm. 2011; 29(3):381-90.         [ Links ]

22. Benjumeaa CC. El cuidado familiar: una revisión crítica. Invest Educ Enferm. 2009; 27(1): 96-102.         [ Links ]