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Investigación y Educación en Enfermería

versão impressa ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.2 Medellín maio/ago. 2014

 

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE/ ARTÍCULO ORIGINAL

Ansiedade e rendimento de estudantes de enfermagem ante a avaliação presencial versus filmada de uma prática de simulação clínica

Anxiety and performance of nursing students in regard to assessment via clinical simulations in the classroom versus filmed assessments

Ansiedad y rendimiento de estudiantes de enfermería ante la evaluación presencial versus evaluación filmada de una práctica de simulación clínica

Carla Regina de Souza Teixeira1; Luciana Kusumota2; Marta Cristiane Alves Pereira3; Fernanda Titareli Merizio Martins Braga4; Vanessa Pirani Gaioso5; Cristina Mara Zamarioli6; Emilia Campos de Carvalho7

1Enfermeira, Doutora. Professora, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (EERP-USP), Brasil. email: carlarst@eerp.usp.br.

2Enfermeira, Doutora. Professora, EERP-USP, Brasil. email: kusumota@eerp.usp.br.

3Enfermeira, Doutora. Professora, EERP-USP, Brasil. email: martacris@eerp.usp.br.

4Enfermeira, Doutora. Professora, EERP-USP, Brasil. email: titareli@eerp.usp.br.

5Enfermeira, Doutora. University of Alabama at Birmingham School of Nursing, United States. email: vgaioso@uab.edu.

6Enfermeira, Mestranda. EERP-USP, Brasil. email: cristinazamarioli@usp.br.

7Enfermeira, Doutora. Professora, EERP-USP, Brasil. email: ecdcava@usp.br.

Fecha de Recibido: Mayo 7, 2013. Fecha de Aprobado: Febrero 10, 2014.

Artículo vinculado a investigación: Avaliação dos atributos na simulação clinica de enfermagem: comparação entre filmagem e a presença do docente.

Subvenciones: Estudo financiado pelo CNPq - Edital Universal. Processo N° 474499/2010-3.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Teixeira CRS, Kusumota L, Pereira MCA, Braga FTMM, Gaioso VP, Zamarioli CMi, et al. Anxiety and performance of nursing students in regard to assessment via clinical simulations in the classroom versus filmed assessments.Invest Educ Enferm. 2014; 32(2): 270-279.


RESUMO

Objetivo. Comparar o nível de ansiedade e o rendimento de estudantes de enfermagem que realizaram uma simulação clínica, utilizando o método tradicional de avaliação com a presença do avaliador e a avaliação filmada sem a presença deste. Metodologia. Ensaio controlado com a participação de 20 estudantes de uma universidade pública de Brasil que foram atribuídos aleatoriamente aos grupos a) avaliação pelo método tradicional com a presença do avaliador e b) avaliação filmada. O nível de ansiedade se avaliou com o teste de Zung e o rendimento com os acertos apresentados. Resultados. Obtiveram-se médias na escala de ansiedade das avaliações de antes e depois da simulação de 32 e de 27, respectivamente, no grupo do método tradicional contra 33 e 26 no grupo de filmagem depois da simulação, correspondendo as pontuações finais a ansiedade leve. Apesar da diminuição significativa estatisticamente das pontuações antes e depois de ansiedade dentro de cada grupo, não teve diferença entre os grupos. Quanto à avaliação do rendimento na simulação clínica, obtiveram-se porcentagens de acertos similares nos grupos (83% em avaliação tradicional e 84% na filmada) sem uma diferença estatisticamente significativa. Conclusão. A filmagem poderia ser utilizada e estimulada como uma estratégia de avaliação nos cursos de licenciatura em enfermagem.

Palavras chaves: ensino; materiais de ensino; enfermagem; simulação; ansiedade.


ABSTRACT

Objective. To compare the level of anxiety and performance of nursing students when performing a clinical simulation through the traditional method of assessment with the presence of an evaluator and through a filmed assessment without the presence of an evaluator. Methodology. Controlled trial with the participation of Brazilian public university 20 students who were randomly assigned to one of two groups: a) assessment through the traditional method with the presence of an evaluator; or b) filmed assessment. The level of anxiety was assessed using the Zung test and performance was measured based on the number of correct answers. Results. Averages of 32 and 27 were obtained on the anxiety scale by the group assessed through the traditional method before and after the simulation, respectively, while the filmed group obtained averages of 33 and 26; the final scores correspond to mild anxiety. Even though there was a statistically significant reduction in the intra-groups scores before and after the simulation, there was no difference between the groups. As for the performance assessments in the clinical simulation, the groups obtained similar percentages of correct answers (83% in the traditional assessment and 84% in the filmed assessment) without statistically significant differences. Conclusion. Filming can be used and encouraged as a strategy to assess nursing undergraduate students.

Key words: teaching; teaching materials; nursing; simulation; anxiety.


RESUMEN

Objetivo. Comparar el nivel de ansiedad y el rendimiento de estudiantes de enfermería, quienes realizaron una simulación clínica utilizando el método tradicional de evaluación (con la presencia del evaluador) y la evaluación filmada (sin la presencia de este). Metodología. Ensayo controlado con la participación de 20 estudiantes de una universidad pública de Brasil quienes fueron asignados aleatoriamente a dos grupos: a) evaluación por el método tradicional con la presencia del evaluador y b) evaluación filmada -sin la presencia del evaluador-. El nivel de ansiedad se evaluó con el test de Zung y el rendimiento con los aciertos presentados. Resultados. Se obtuvieron promedios en la escala de ansiedad de las evaluaciones de antes y después de la simulación de 32 y de 27, respectivamente, en el grupo del método tradicional versus 33 y 26 en el grupo de filmación después de la simulación, correspondiendo los puntajes finales a ansiedad leve. A pesar de la disminución estadísticamente significativa de las puntuaciones antes y después de ansiedad dentro de cada grupo, no hubo diferencia entre ellos. En cuanto a la evaluación del rendimiento en la simulación clínica, se obtuvieron porcentajes de aciertos similares en los grupos (83% en evaluación tradicional y 84% en la filmada) sin una diferencia estadísticamente significativa. Conclusión. La filmación podría ser utilizada y estimulada como una estrategia de evaluación en los cursos de licenciatura en enfermería.

Palabras clave: enseñanza; materiales de enseñanza; enfermería; simulación; ansiedad.


INTRODUÇÃO

A aquisição de habilidades clínicas fundamentais ou avançadas, por profissionais da área da saúde, está relacionada ao aprendizado adequado e a prática reiterada.1 Desenvolver o raciocínio clínico e as habilidades técnicas para obtenção de dados e para a realização de intervenções de Enfermagem, constituem-se em um desafio para os estudantes de graduação como para os seus educadores. Soma-se a este desafio a dificuldade de se avaliar o desenvolvimento dessas habilidades. Dentre as habilidades essenciais para o exercício da prática assistencial, destaca-se a de obtenção de dados, por meio do exame físico e interação com o paciente, a interpretação desses dados empregando-se a integração de conhecimentos de distintas áreas, o uso correto de técnicas e instrumentos, a tomada de decisão terapêutica e a execução dos procedimentos elegidos.

O raciocínio clínico exige competências nos domínios intelectual, expresso pelo conhecimento e os processos mentais para o seu uso; interpessoal, manifesto predominantemente nas relações como paciente; e técnicas, como a obtenção com precisão de dados durante a anamnese e exame físico.2 As habilidades procedimentais (execução de técnicas) inserem-se em domínios de complexidade variadas, a depender da atuação do profissional e necessidade do paciente, retratadas na intervenção de enfermagem. A simulação tem-se mostrado eficaz no desenvolvimento do raciocínio clínico e aquisição de habilidades procedimentais.3 Contudo, alguns aspectos necessitam ser mais bem explorados. Um desses aspectos, objeto desse estudo, é avaliar se a presença do avaliador no cenário ou a filmagem interferem no nível de ansiedade e no desempenho clínico de alunos em situação simulada de avaliação clínica.

A simulação clínica em enfermagem é definida como uma atividade que imita a realidade de um ambiente clínico e designada para demonstrar o ensino de procedimentos, tomada de decisão e pensamento crítico, por meio do uso de equipamentos como vídeos interativos, jogos, manequins,ou simuladas por pacientes-atores.4 A simulação pode ser utilizada em diferentes etapas da formação dos alunos e com distintos propósitos no processo ensino-aprendizagem.

Empregada no ensino em enfermagem, a simulação possibilita avaliar e mensurar as diversas competências requeridas a um profissional, tais como avaliação para identificar deficiências e treinamento de competências,5 desenvolvimento de pensamento crítico, aquisição de conhecimentos específicos ou mesmo avaliar alunos,6 como, por exemplo, avaliação comportamental, capacidade de tomada de decisões, desempenho em situações de provas ou testes. O interesse em pesquisas que tratam da aquisição dessas habilidades essenciais e seu percurso, até o desenvolvimento de proficiência, justifica-se pela essência que caracteriza a prática profissional. Nesta evolução, a simulação tem apresentado relevância para o desempenho profissional sem oferecer riscos a pacientes.7 As pesquisas com simulação têm apontado que os alunos julgam esta estratégia realista, tornando-os mais confiantes e habilidosos em uma dada competência e reduz o receio em fazê-lo diretamente nos pacientes. Ainda, destacam que a simulação propicia uma maior segurança aos pacientes. Portanto, a simulação tem sido destacada como uma facilitadora do aprendizado no ensino de enfermagem.8,9

O método de ensino por simulação permite um ambiente participativo e de interatividade, utilizando cenários clínicos que replicam experiências da vida real. É óbvio que o ensino com simulação não busca substituir o contato entre pacientes e profissionais de saúde, pilar necessário ao desenvolvimento de habilidades desses profissionais. O ensino por simulação permite que situações previamente selecionadas, planejadas e validadas possam ser desenvolvidas até que se atinja alto nível de proficiência. Evita-se, assim, que a intervenção do profissional de saúde seja acompanhada de efeitos deletérios ou indesejáveis. A utilização dos simuladores permite a apresentação de diversos cenários (casos clínicos), inclusive os considerados raros, dentro de um ambiente de controle, possibilitando que todos os estudantes tenham a mesma oportunidade de ensino prático. Outro aspecto relevante refere-se ao aprendizado realizado na situação na qual o conhecimento requerido é muito mais eficaz, permitindo a evocação dos conhecimentos e das habilidades necessárias de forma mais rápida e eficiente.10,11

A literatura aponta que aprender exame clínico é uma das muitas experiências que provocam ansiedade dentre as atividades clínicas.12 Ainda que ansiedade possa ser benéfica para certas tarefas, pode também intervir nos processos envolvidos para a sua aquisição.Os estudantes de enfermagem, de forma geral, sofrem estresse e ansiedade ao longo da sua educação e formação.13 Sendo assim, formas diferenciadas de ensino e avaliação que promovam menor nível de estresse ou ansiedade, assim como a identificação de possíveis fontes estressoras no processo ensino aprendizagem, devem ser consideradas durante a formação do profissional de enfermagem.

As práticas de avaliação desenvolvidas nas instituições de ensino remetem a uma posição de poucos avanços decorrentes de fragilidades na formação pedagógica docente, das políticas educacionais para o ensino superior, da própria estrutura da universidade, além de aspectos curriculares e disciplinares que não contemplam as expectativas dos alunos e as exigências atuais da formação em enfermagem.14,15 Um estudo que buscou examinar variáveis que interferissem na ansiedade e os resultados cognitivos de aprendizagem durante uma simulação de alta fidelidade, em 124 estudantes de enfermagem, observou serem baixos niveis de ansiedade.16 O tipo de avaliação não foi objeto desses autores.

O presente estudo buscou verificar as possíveis influências da presença do avaliador ou da filmagem no nível de ansiedade e no desempenho dos alunos, em uma situação simulada de avaliação clínica. Dessa forma, os resultados visam a contribuir com o avanço em pesquisa na área de ensino em Enfermagem com evidências sobre o uso da filmagem, como estratégia para avaliação de alunos; busca contribuir na identificação de novas formas avaliativas que promovam conforto aos estudantes; tal estratégia pode contribuir com a otimização de recursos humanos e financeiros nas Instituições de Ensino Superior. Esta pesquisa teve como objetivo comparar o nível de ansiedade e o desempenho prático de alunos ao serem avaliados pelo método tradicional, com a presença do avaliador no cenário, e daqueles que realizaram a avaliação filmada, sem a presença do avaliador no cenário.

METODOLOGIA

Estudo de natureza experimental, aleatorizado e controlado realizado com alunos do Curso de Graduação em Enfermagem de uma universidade pública do Brasil; comparou duas estratégias de avaliação, durante uma simulação clínica, sendo uma delas a avaliação realizada com a presença do avaliador e a outra a avaliação filmada, sem a presença do mesmo. Para a seleção dos participantes adotou-se como critério de inclusão ser aluno regularmente matriculado no quarto ano letivo do referido curso. Essa escolha justifica-se pelo fato de que os alunos nessa etapa da formação profissional, já terem cursado as disciplinas de semiologia e semiotécnica e de atuação clínica no cenário hospitalar. Para tal atividade os alunos deveriam apresentar conhecimento de princípios básicos de administração de medicamentos e das precauções básicas de Biossegurança. Todos os alunos foram submetidos a avaliação escrita destes conteúdos, por instrumento contendo afirmativas onde deveriam apontar se as mesmas eram Falsas ou Verdadeiras (escores máximo de 6).

Foram convidados 73 alunos que atenderam o critério de elegibilidade, e destes, manifestaram interesse e participaram do estudo 20 alunos, o que correspondeu a 27% da população do estudo. Todos apresentaram desempenho igual ou superior a de 84% de acertos na avaliação escrita já mencionada. A porcentagem de sujeitos que participaram desta pesquisa corrobora com os dados de grande parte dos estudos primários incluídos em uma revisão de literatura sobre simulação como estratégia de ensino em Enfermagem.11

A situação clínica elegida para compor o cenário do estudo foi a de uma paciente com história de quadro álgico, com recomendação de uso de analgésico se necessário. Frente a esta situação, era esperado que o aluno realizasse a avaliação das características da dor; com base nesta avaliação, o mesmo deveria identificar a necessidade de administração do medicamento, realizar o seu preparo, administrá-lo e posteriormente avaliar os resultados da intervenção. Para o desenvolvimento da simulação utilizou-se um Simulador de Enfermagem Avançado, de média fidelidade, para a implementação do cenário. Dentre os vários recursos disponibilizados neste simulador, foram selecionados os tópicos a serem utilizados na avaliação clínica (coleta de dados) do quadro álgico e na intervenção de enfermagem, após programação do simulador pelos pesquisadores.

O desenvolvimento da simulação foi planejado respeitando-se as onze dimensões representativas de seus atributos,17 em um contexto de cenário hospitalar, para o atendimento de pacientes adultos e/ou idosos, com conteúdos de avaliação clínica da dor (coleta de dados) e intervenção de preparo e administração de medicamento na via endovenosa. Essa escolha deve-se a experiência pessoal dos pesquisadores na temática.

Tabela 1. Dimensões da simulação e objetivos estabelecidos. Elaborado a partir das recomendações de Gaba17:127

Tabela 1.

A comparação entre as duas estratégias de avaliação investigadas (presença do avaliador e avaliação filmada) foi realizada por meio das variáveis: nível de ansiedade e atributos procedimentais. O nível de ansiedade foi avaliado pelos escores obtidos na escala para auto-avaliação de ansiedade,18 nas situações pré e pós-procedimento. Para a avaliação da intervenção, o desempenho dos alunos foi analisado segundo uma lista de itens que contemplou a avaliação clínica realizada, a tomada de decisão para a realização da intervenção, o preparo do medicamento e a administração do medicamento.

Neste estudo foram utilizados três instrumentos. O primeiro, uma escala validada para a auto-avaliação de ansiedade, com 20 itens que buscam caracterizar o grau de ansiedade, em um determinado período.18 Os escores possíveis para cada item variam de 1 a 4. A pontuação total mínima possível é de 20 e a máxima de 80. Quanto maior a pontuação, maior os sintomas associados com a ansiedade. Ponderados os valores, os níveis de ansiedade possíveis são: I - nenhuma ansiedade (0 a 25); II - leve ansiedade (25 a 50); III-ansiedade moderada (50 a 75), e IV - grave ansiedade (80 a 100). Esse instrumento foi preenchido antes da simulação, e mensurou o grau de ansiedade do aluno na semana que antecedeu a coleta dos dados (forma I). Após a simulação, aplicou-se o mesmo instrumento, contudo, foi modificado para a situação específica pós- simulação clínica, sendo eliminado dois dos 20 itens originais, que estavam relacionados a qualidade do sono (forma II).

O segundo instrumento, elaborado para este estudo, buscou caracterizar os sujeitos quanto ao sexo e idade. O desempenho de cada aluno foi computado segundo o índice de acertos das questões formuladas (escores de 0 a 6). O terceiro instrumento, também elaborado para este estudo, foi um roteiro de avaliação, com 18 itens sobre a coleta de dados e preparo de medicamentos e outros 19 itens para avaliar a administração de medicamentos. Os itens foram categorizados em realizados de modo satisfatório (corretos), insatisfatório ou não realizados.

Os instrumentos elaborados neste estudo foram validados quanto a aparência e conteúdo (clareza e facilidade de compreensão, abrangência do conteúdo e apresentação dos itens), por três juízes, docentes que ministram disciplinas de conteúdos clínicos em Enfermagem. Também foi realizado um pré-teste destes instrumentos, com cinco alunos de graduação em enfermagem, para identificar a melhor forma de aplicá-lo e promover as modificações necessárias. A coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a agosto de 2012, após a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa. O pesquisador explicou aos alunos os objetivos da pesquisa, solicitando sua participação. O convite foi realizado pessoalmente pelos pesquisadores e por contato eletrônico enviado três vezes para a participação na pesquisa. A coleta de dados foi feita em horário pré-estabelecido com os alunos, fora da grade horária regular do Curso de Enfermagem. A seguir, após verificação dos critérios de inclusão, os alunos foram alocados, em blocos de 10 e de forma aleatória, por sorteio de um dentre 10 envelopes pardos, cinco contendo a palavra FILMAGEM e cinco COM AVALIADOR, em um dos grupos.

Independente do grupo que o aluno pertencia, ele foi recebido no Laboratório de Comunicação em Enfermagem que possui equipamentos instalados de registro de áudio e imagem (filmagem). No local, foi organizado o cenário de simulação clínica para a coleta de dados do estudo. Inicialmente, todos os alunos participantes responderam ao instrumento de caracterização e a escala para auto-avaliação da ansiedade18 na forma I. A seguir, assistiram a um vídeo com a situação clínica semelhante à simulada nesta pesquisa. Neste momento foram instruídos sobre o caso clínico que deveriam prestar assistência de enfermagem.

Os alunos do Grupo 1, realizaram a coleta de dados e a intervenção de Enfermagem no laboratório de simulação clínica, sem filmagem; a avaliação dos atributos desenvolvidos pelos alunos foi realiada por um avaliador/pesquisador presente no local. Os alunos do Grupo 2, realizaram a coleta de dados e a intervenção de Enfermagem no laboratório de simulação clínica e foram filmados (áudio e imagem), sem a presença do avaliador/pesquisador no cenário. Um profissional de apoio ficou responsável pela filmagem da simulação. Este permaneceu na sala de controle, a qual é dotada de vidro com visão unidirecional, o que permitiu ao mesmo a visualização ampla do laboratório. Posteriormente, os pesquisadores realizaram a avaliação dos atributos desenvolvidos pelo aluno analisando o filme.

Ao término, foi aplicada a todos os alunos a escala para auto-avaliação de ansiedade na forma II e realizado o debriefing. Os dados coletados foram organizados e digitados em planilha eletrônica única no Microsoft Excel. Posteriormente, foram analisados e processados por meio do programa estatístico Statistical Analysis System® (SAS). Realizou-se estatística descritiva dos dados, sendo estes descritos por meio de tabelas, de gráficos e de medidas descritivas. Empregou-se ainda o modelo linear de efeito misto (efeitos aleatórios e fixos) para a análise de dados19. Foi considerado como efeito aleatório os indivíduos e como efeitos fixos os grupos, os tempos e a interação entre os mesmos. Tal modelo tem como pressuposto que o resíduo obtido através da diferença entre os valores preditos pelo modelo e os valores observados tenha distribuição normal com média 0 e variância constante. O ajuste do modelo foi feito através do procedimento PROC MIXED do software estatístico SAS 9.0. O nível de significância estatística adotado foi de α=5% (p<0.05).

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde o estudo foi desenvolvido, protocolo n° 110503/2011, acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para sujeitos da pesquisa. Ressalta-se que o convite e as atividades de avaliação da pesquisa foram conduzidos por auxiliares de pesquisa que não possuíam relação de autoridade sobre os participantes da pesquisa e não ministravam aulas no semestre em curso, com o objetivo de garantir a possibilidade de exercer o livre poder de escolha e não prejudicar o caráter voluntário da decisão dos alunos ou caracterizar situação de conflito.

RESULTADOS

Participaram do estudo 20 alunos, sendo 19 mulheres e um homem. No grupo 1 (simulação com a presença do avaliador) os 10 alunos apresentaram média de idade de 23.3 (DP=2.9) anos, e no grupo 2 (simulação filmada) participaram 10 alunos, com média de idade de 22.7 (DP=1.2) anos.

Ao comparar o nível de ansiedade dos alunos em geral, os escores antes da simulação variaram de 27 a 45, caracterizando leve ansiedade. Após o término da simulação os escores variaram de 22 (ausência de ansiedade) a 34 considerado nível leve de ansiedade. Ao se examinar os sujeitos do grupo que utilizou o método tradicional de avaliação, com avaliador presente, obteve a média de 31.7 antes e de 26.5 após a simulação clínica. O grupo que realizou a avaliação filmada, sem a presença do avaliador, obteve a média de 33.4 antes e 26.0 após a simulação clínica. Ao proceder a comparação das médias de ansiedade obtidas pelos grupos (inter grupo), os resultados não foram estatisticamente significativos (p=0.272 antes da simulação e p=0.765 após a simulação). Em contrapartida, quando comparado os escores médios de ansiedade antes e após a intervenção no grupo (intra grupo) em que foi realizada a avaliação com auxílio da filmagem as mudanças foram significativas (p<0.0001). Resultados semelhantes foram obtidos com o grupo avaliado com a presença do avaliador (p<0.0001). (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição dos sujeitos segundo o nível de ansiedade antes e após a realização da simulação clínica, Ribeirão Preto, 2012

As diferenças das medias do nivel de ansiedade entre os dois grupos, nos momentos antes (p=0.272) e pos(0.765) intervenção, não foram significantes. Contudo, foi observada redução intragrupo (tanto no grupo de avaliação filmada quanto no grupo com presença de avaliador) da média do nivel de ansiedade nos momentos antes e após intervenção com nivel de significancia menor que 0.001.

Em relação à avaliação dos procedimentos realizados pelos alunos na simulação clínica, nota-se variação dos escores de acertos nas atividades, nos dois grupos. Todos alunos desenvolveram a intervenção de Enfermagem, isto é o preparo e administração do medicamento. O grupo filmado obteve média de acertos de 84% e 83% respectivamente e o grupo com o avaliador, média de acertos de 85% e 78%, sem diferença estatística significativa entre tais médias (Tabela 3).

Tabela 3. Distribuição do desempenho do estudante na simulação clínica, nos grupos que foram filmados e avaliados com a presença do avaliador, Ribeirão Preto, SP, 2012.

DISCUSSÃO

A literatura20 chama a atenção para a necessidade de estratégias que propiciem a mobilização do conhecimento para a tomada de decisão, ou seja, a interface dos conhecimentos, habilidades e atitudes para o exercício da prática profissional. Neste sentido destaca-se a contribuição da simulação, pois ela permite examinar atitudes, habilidades e competências clínicas, empregando diversos cenários, materiais e recursos. Estudantes de enfermagem têm mostrado dificuldades no aprendizado de técnicas, para lidar com a receptividade do paciente e para controlar os sentimentos de insegurança, medo e timidez. Neste sentido, o uso de simuladores favorece o desenvolvimento de habilidades necessárias para a prática subsequente.21

Sabemos que a ansiedade elevada pode dificultar a aprendizagem, diminuir a capacidade do aluno na aplicação de seu conhecimento e interferir no pensamento crítico.22,23 Embora os laboratórios de simulação clínica sejam fundamentais para a formação do estudante de enfermagem, um estudo descritivo conduzido com 129 estudantes de enfermagem com o objetivo descrever a existência de estresse associado ao laboratório de prática identificou que 100% dos entrevistados apresentam algum grau de estresse, sendo o nível moderado o mais frequente.24

O uso de filmagem para avaliação em simulações da prática clínica tem sido investigada na literatura e incorporada nos cursos de graduação em Enfermagem. Busca-se avançar em estratégias de avaliação que possam diminuir o nível de ansiedade dos alunos em Enfermagem. No entanto, evidenciam-se lacunas de estudos experimentais explorando essa temática no Brasil. Em nossos achados, encontrou-se o nível ansiedade leve durante os procedimentos simulados, e a média dos escores de ansiedade não foi diferente entre os alunos que foram filmados de os que tiveram a presença do avaliador, apesar da diminuição na pontuação após a simulação clínica. Tais achados corroboram com autores que utilizaram essa estratégia na avaliação em Enfermagem em estudos nacionais25 e internacional.26

Em um estudo que avaliou o efeito de um vídeo no desenvolvimento de competências cognitivas e técnicas de estudantes de graduação em enfermagem25, os autores encontraram realidade similar, ou seja, que o nível de ansiedade dos alunos foi baixa. Dessa forma pode-se afirmar que filmar o desempenho do aluno é estratégia adequada, dado o baixo poder ansiolítico que desperta nos alunos. Tal resultado pode estar associado ao fato de os sujeitos dessa pesquisa terem vivenciado experiências de avaliação prática durante o curso, o que é percebido pela habilidade cognitiva sem diferença estatística entre os grupos, e que a simulação clínica abordou temas que já tinham sido explorados na graduação.

No entanto, quando avaliamos a perfomance clínica na situação simulada, destaca-se a média de aproximadamente 80% de acertos nos dois grupos no preparo e administração de medicamentos. A similaridade entre grupos testados com estrategias educacionais também foi observada27 em estudo para comparar o uso da simulação de baixa fidelidade e a aula tradicional em administração de medicamentos, não encontrou diferenças entre os grupos, com um aproveitamento de 90% nos dois grupos, experimental e controle. Chama a atenção os índices de acertos no desenvolvimento da simulação, o que evidencia a importancia de acompanhar o desenvolvimento das habilidades com a progressão do estudante no currículo de Enfermagem.

CONCLUSÃO

O presente estudo buscou contribuir para a discussão de se identificar estratégias de avaliação dos estudantes de enfermagem. O ensaio desenvolvido permite afirmar que a presença do avaliador no cenário e a avaliação filmada, sem a presença do avaliador, não propiciaram níveis de ansiedade distintas nos alunos; o nível observado antes da simulação era baixo, também o desempenho clínico foi semelhante entre os grupos e considerados satisfatórios. Assim, os resultados desse estudo sugerem que a filmagem não interferiu no nível de ansiedade e desempenho clínico, podendo ser utilizada e estimulada como estratégia de avaliação nos cursos de graduação em Enfermagem.

Algumas limitações precisam ser consideradas, como o discreto número de participantes, que torna um fator limitante para generalizações dos dados; mas a similaridade entre os grupos dos achados evidencia a adequação do estudo para o alcance dos objetivos; ainda, mesmo os avaliadores não fazendo parte do grupo de professores desses estudantes, é possível que os estudantes tenham sentido dificuldade para aceitar e realizar o estudo.

Agradecimentos: as autoras expressam seus agradecimentos à Dra Jacqueline Ann Moss, PhD, RN, FAAN (Chair, Professor and Assistant Dean for Clinical Simulation & Technology) e Penni Watts, MSN, RN, CHSE (Director of Clinical Simulation and Training) da University of Alabama at Birmingham, School of Nursing, USA.

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