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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.32 no.3 Medellín Sept./Dec. 2014

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Percepção das mães de prematuros sobre a visita domiciliar antes e após a alta hospitalar

 

Perception of premature infants' mothers on home visits before and after hospital discharge

 

Percepción de las madres de los bebés prematuros sobre las visitas domiciliarias antes y después del alta

 

 

Luana Cristine dos Santos1; Talita Balaminut2; Sarah Nancy Deggau Hegeto de Souza3; Edilaine Giovanini Rossetto4

 

1Enfermeira, Especialista. Hospital Eulalino Ignácio de Andrade, Londrina, Brasil. email: lulycris@hotmail.com.

2Enfermeira, Especialista. Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina -;UEL-, Brasil. email: talita_balaminut@yahoo.com.br.

3Enfermeira, Doutora. Professora UEL, Brasil. email: sarahuel@sercomtel.com.br.

4Enfermeira, Doutora. Professora UEL, Brasil. email:ediluizrossetto@gmail.com

 

Fecha de Recibido: Noviembre 8, 2013. Fecha de Aprobado: Junio 3, 2014.

 

Artículo vinculado a investigación: Compreensão do significado das visitas domiciliares realizada às mães por enfermeiras.

Subvenciones: ninguna

Conflicto de intereses: ninguno

Cómo citar este artículo: Santos LC, Balaminut T, Souza SNDH, Rossetto EG. Perception of premature infants' mothers on home visits before and after hospital discharge. Invest Educ Enferm. 2014; 32(3): 387-400.

 


RESUMO

Objetivo. Compreender o significado que tem para as mães de bebês prematuros as visitas domiciliárias realizadas por enfermeiras neonatais. Metodologia. Estudo qualitativo realizado com 21 mães de famílias que participam num projeto que apoiava às famílias dos bebês prematuros nascidos num hospital universitário na cidade de Londrina, Brasil. A recolha de dados se levou a cabo através de entrevistas individuais semiestruturadas, utilizando um formulário com os dados de identificação das mães e roteiro da entrevista. Resultados. Foram identificadas três temáticas: a visita como um apoio às famílias no lar, individualização do atendimento domiciliário, sentindo-se cuidadas e apoiadas para cuidar. Conclusão. A visita domiciliária desde a perspectiva do atendimento longitudinal é um recurso poderoso que favorece o vínculo entre as famílias e as enfermeiras, diminui as dúvidas, medos e ansiedades da mãe. Além de que se proporcionam cuidados no lar e se fomenta a aderência aos cuidados e tratamentos.

Palavras chaves: visita domiciliar; família; prematuro; alta do paciente. 


ABSTRACT

Objective. To understand the meaning of home visits by neonatal nurses for mothers of premature babies. Methodology. A qualitative study was conducted with 21 mothers of families participating in a project that supported families of premature infants, born at a university hospital in the city of Londrina, Brazil. Data collection was conducted through semi-structured individual interviews, using a form with the identification data of mothers and an interview script. Results. Three themes were revealed: the home visit as a support to the family, individualized home care, feeling cared for and supported in performing the baby's care. Conclusion. The home visit from the perspective of longitudinal care was a powerful resource that promoted the link between families and nurses, decreasing doubts, fears and anxieties of the mother. In addition, home care was provided and adherence to care and treatment was encouraged.

Key words: home visit; family; infant, premature; patient discharge.


RESUMEN

Objetivo. Comprender el significado que tiene para las madres de bebés prematuros las visitas domiciliarias realizadas por enfermeras neonatales. Metodología. Estudio cualitativo realizado con 21 madres de familia, quienes participaron en un proyecto que apoyaba a las familias de los bebés prematuros nacidos en un hospital universitario en la ciudad de Londrina, Brasil. La recolección de datos se llevó a cabo mediante entrevistas individuales semiestructuradas, utilizando un formulario con los datos de identificación de las madres y guión de la entrevista. Resultados. Se identificaron tres temáticas: primera, la visita como un apoyo a las familias en el hogar; segunda, individualización de la atención domiciliaria; y, tercera, sintiéndose cuidadas y apoyadas para cuidar. Conclusión. La visita domiciliaria, desde la perspectiva de la atención longitudinal, es un recurso poderoso que favorece, por un lado, el vínculo entre las familias y las enfermeras, y, por otro, disminuye las dudas, miedos y ansiedades de la madre. Además, se proporcionan cuidados en el hogar y se fomenta la adherencia a los cuidados y tratamientos.

Palabras clave: visita domiciliaria; família; prematuro; alta del paciente.


 

INTRODUÇÃO

A visita domiciliar (VD), entendida como o deslocamento do profissional até o domicílio do usuário, com as finalidades de atenção à saúde, aprendizagem ou investigação, constitui-se como um momento rico, no qual se estabelecem a escuta qualificada, o vínculo e o acolhimento, favorecendo que os grupos familiares tenham melhores condições de se tornarem mais independentes na sua própria produção de saúde e facilitar a adesão ao tratamento. Além disso, a visita se estabelece in loco, permeando o lugar do seu cotidiano, do seu mundo vivido e enfrentado, de acordo com sua visão de mundo.1 A complexidade desta estratégia requer uma força de trabalho capaz de articular-se no intuito de compreender o contexto sociocultural dos seus clientes e construir um campo de diálogo que abranja suas representações sociais.2 Esse processo deve ser considerado também como um meio de educação em saúde, contribuindo para a mudança de alguns comportamentos, promovendo a qualidade de vida do prematuro, prevenindo situações de risco para possíveis reinternações e promover o vínculo entre a família e o novo ente. Portanto, a VD permite que as ações educativas se consolidem por meio da possibilidade de conhecer os indivíduos para os quais se destinam as ações de saúde, incluindo sua cultura, crenças, hábitos e papéis, e as condições em que vivem.3

O projeto ''Uma rede de apoio à família prematura'', desenvolvido por docentes, residentes, alunos da graduação e equipe multiprofissional de um hospital universitário no município de Londrina tem como objetivo apoiar as famílias dos prematuros por meio de acompanhamento que se inicia com a internação do recém-nascido (RN) na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), se estende por todo o período de internação, o processo de alta e segue até um ano de idade com o acompanhamento ambulatorial.4 Esse seguimento é realizado pela equipe de saúde composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais com a participação dos pais. O projeto busca respeitar a individualidade e necessidades de cada família e é desenvolvido em várias etapas, dentre elas, as visitas domiciliares. Durante o período de internação os pais participam do processo de preparo para a alta, quando são também capacitados para realizar cuidados gerais como administrar medicações, alimentar o prematuro desde a sonda até ao peito, cuidados de higiene, sono e repouso. Como parte integrante deste processo são realizadas duas visitas domiciliares em torno da alta hospitalar. A primeira com o prematuro ainda internado, chamada de visita pré-alta e a segunda, denominada de visita pós-alta, realizada preferencialmente até sete dias após a alta, com o objetivo de auxiliar os pais no período de adaptação na chegada do bebê em casa, o qual é caracterizado por várias inseguranças.

O encontro com as famílias no domicílio durante as visitas tem grande valor, principalmente por trazer subsídios importantes para a assistência ao bebê pautado na realidade de cada família. Após a explicação da finalidade das visitas e antes que fossem realizadas, percebeu-se que para algumas famílias parecia significar um cuidado maior a seu filho, com manifestações de gratidão à equipe e/ou desejo e ansiedade em recebê-los. Porém, outras manifestavam sentimentos de desconfiança, apreensivas por se sentirem fiscalizadas, visto que a primeira delas é realizada quando o bebê ainda está internado. Desta forma, sentiu-se a necessidade de investigar sobre o significado da VD para as mães que as tinha recebido. O objetivo da presente pesquisa é compreender a percepção das mães sobre as VD realizadas. Espera-se que este estudo dê subsídios para a equipe aprimorar o seu processo de atuar e assistir às famílias no domicílio, assegurando qualidade e importância para a família e para a equipe.

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa com enfoque fenomenológico, visando a compreensão de uma experiência vivida. Optou-se por essa abordagem para que se possa trabalhar com o universo de expectativas, significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.5

Os sujeitos do estudo foram 21 mães de bebês prematuros que nasceram com menos de 32 semanas de gestação e/ou peso inferior a 1 500g, ficaram internados no setor de neonatologia do Hospital Universitário de Londrina (HUL), tinham até seis meses de idade cronológica e que participaram do projeto ''Uma rede de apoio à família prematura'', desenvolvido pela equipe de saúde neonatal da Universidade Estadual de Londrina (UEL).4 A coleta de dados foi realizada num período de nove meses no Ambulatório do Hospital das Clínicas da UEL, onde acontecem as consultas de seguimento desses prematuros que estiveram internados na neonatologia do HUL. As mães foram abordadas por alunas da graduação previamente treinadas para as entrevistas. Optou-se por alunas da graduação realizarem as entrevistas para que o vínculo das mães com a equipe, principalmente com as enfermeiras residentes, estabelecido durante todo o período de internação, não interferisse nas respostas.

Foi utilizada a técnica de entrevista individual semi-estruturada, baseada em um roteiro composto de duas partes: dados socioeconômicos das mães (idade, escolaridade, local de moradia, ocupação, estado conjugal e número de filhos) e pelas perguntas norteadoras da pesquisa (parte II): Como você se sentiu quando foi abordada pelas enfermeiras residentes para participar do projeto? Você foi informada sobre os motivos das duas visitas que receberia em sua casa? Como você se sentiu quando ficou sabendo que haveria duas visitas em sua casa? Para você, qual visita teve maior importância? por quê? Após o aceite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participar da entrevista, utilizou-se a gravação da entrevista. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEL sob Parecer n.º 046/10 e CAAE n° 0047.0.268.000-10. Para preservar a identidade das participantes e não identificação das falas foram atribuídas às mães nome de flores e as gravações foram destruídas.

Para sistematização dos dados foi utilizado a análise de conteúdo, modalidade temática, um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visa, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obterem indicadores, qualitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens.6 A análise dos dados foi baseada na perspectiva do Cuidado Centrado na Família, proposto por Shelton et al, em 1987, e Johnson,em 1990,7 baseado em oito princípios: 1) Reconhecer a força da família como uma constante na vida da criança, enquanto os serviços e profissionais variam; 2) Facilitar a colaboração entre família e profissionais em todos os níveis de cuidado à saúde; 3) Compartilhar informação completa e imparcial entre famílias e profissionais de maneira acolhedora em todo o tempo; 4) Respeitar e valorizar a diversidade cultural, racial, étnica e socioeconômica de cada família; 5) Reconhecer as forças e individualidade da família, respeitando os diferentes métodos de enfrentamento; 6) Encorajar e facilitar o suporte familiar e da rede de apoio; 7) Certificar-se que os serviços do hospital, domicílio e comunidade para crianças que necessitam de cuidado de saúde especializado e suas famílias sejam flexíveis, acessíveis e compreensivos em atender a diversidade das necessidades identificadas; e 8) Apreciar/considerar famílias como famílias e crianças como crianças, reconhecendo que possuem uma vasta abrangência de fortalezas, preocupações, emoções e aspirações que ultrapassam sua necessidade de apoio e serviços de saúde especializados.7

 

RESULTADOS

Das 21 mães entrevistadas, a idade materna variou de 14 a 42 anos, 50% das mães eram casadas, quatro possuíam trabalho formal fora de casa, 60% tinham mais que um filho e possuíam escolaridade inferior a 8 anos. Três temas foram revelados a partir da análise das falas das mães entrevistadas: a visita como um suporte para as famílias no domicílio, a individualização do cuidado no domicílio e sentindo-se cuidadas e encorajadas para cuidar.

A visita como um suporte para as famílias no domicílio

Essa criança que permaneceu internada por tanto tempo, quando chega a sua casa, necessita de cuidados específicos que diferem das demandas de cuidado do bebê a termo saudável. Embora seja realizado um preparo técnico para a alta por meio de informações e acompanhamento contínuo da capacitação desses pais e familiares, eles ainda experimentam sentimentos de insegurança e muitas vezes de impotência, por se encontrarem distante dos cuidados da equipe hospitalar, a qual lhes conferia confiança. Os discursos referentes à visita após a alta, realizada principalmente pelos enfermeiros residentes, cumpriram o propósito de minimizar os sentimentos de desamparo, solidão e insegurança que algumas mães podem vivenciar quando chegam em casa e não possuem ajuda necessária para os cuidados com seu filho. Nas falas das mães podemos observar a necessidade de apoio expressado por essas mulheres, para que possam adquirir autonomia e segurança nos cuidados com seus filhos: Elas me deram muita força... então, elas me orientaram em tudo, como proceder, como ter o cuidado com ele... que não era pra mim ficar tão assustada...que eu ia conseguir ...que eu ia conseguir e eu to conseguindo .... tudo o que elas passaram para mim (Rosa); Então eu gostaria que elas fossem sim me visitar, porque daí eu estaria aprendendo mais ainda com elas, eu não estaria sozinha... (Flor do campo); Teve uns dias ainda que eu fiquei preocupada já que a neném tava em casa, eu liguei lá e as meninas me trataram super bem (Lírio).

A individualização do cuidado no domicílio

É muito importante o esclarecimento para as famílias que a visita, principalmente antes da alta, tem a finalidade de apoiar a família na organização da casa para a chegada do bebê; providenciar, dentro das disponibilidades e realidade familiar, o que faltava; um momento de atenção individualizada para reforço necessário de orientações feitas no ambiente hospitalar; e ainda um tempo particular para discutir questões específicas, de acordo com cada realidade. A possibilidade de individualização do cuidado que a VD permitiu foi destacada pelas falas das mães pela contribuição que pode oferecer para atenuar as demandas de cuidados específicos, às vezes é complementada por um encaminhamento da situação para o serviço social ou psicologia. Mas além do esclarecimento, a postura de compreensão, respeito e consideração do contexto individualizado das famílias pela equipe foi expresso nos discursos das mães: Ah (na visita) elas dão mais atenção, explica certinho, lá no hospital a gente acaba fazendo banho, troca, remédio... na visita elas dão mais atenção pra gente porque no hospital não dá tempo, lá é muito corrido, em casa elas dão mais atenção, explicam melhor (Lírio); Em casa você conversa com mais liberdade, você tá ali no seu cantinho, a pessoa vai te ajudar, vai ver como que é a sua casa e a sua vida... nossa eu acho que eu preferia mil vezes só em casa do quê no hospital porque no hospital sempre tem muita gente, sempre tá tudo muito corrido, entendeu você não tem como ficar perguntando, não tem como a pessoa parar de cuidar de todas as crianças para dar atenção só para você, em casa não elas já param, vai lá só pra conversar com você, pra ver como que o bebê ta... nossa eu acho excelente, acho que vocês não podiam tirar isso não (Violeta). Mesmo para as mulheres que já vivenciaram a maternidade anteriormente, a VD como um cuidado individualizado pode ser recebida como um momento importante de aprendizado e compartilhamento de experiências, evidenciado como uma nova experiência materna: Tudo o que elas fizeram lá em casa, é o que eu tenho que fazer mesmo, né. Apesar de que eu já tenho bastante filho, já tenho bastante experiência, mas ela é bastante pequenininha né, eu não tenho muita experiência ainda, ... mas vou tentar, vou mesmo... (Beijinho).

Sentindo-se cuidadas e encorajadas para cuidar

A existência do vínculo estabelecido anteriormente entre esses profissionais e a família é o alicerce desse recurso, uma vez que essas VD eram realizadas por enfermeiras da Unidade Neonatal que tinham convivido e acompanhado todo o processo de internação hospitalar. A não aceitação da visita é uma raridade na nossa prática, ou seja, ao invés de as famílias se sentirem fiscalizadas ou amedrontadas com a visita, sentiram-se cuidadas. O momento da visita também se configurou em uma oportunidade de demonstrar e validar o aprendizado durante o período de internação por meio da adequação do cuidado que está sendo realizado. Isso ficou evidenciado nas seguintes falas: Ajudou, ajudou bastante porque quando elas foram lá em casa, ah sei lá, foi diferente assim, porque sabe, elas observaram o que eu tava fazendo certo do jeito que elas ensinaram, não que eu devia, era obrigação minha fazer do jeito que elas ensinaram, entendeu, era um modo, uma sugestão que elas deram, agora elas queriam saber se eu tava acompanhando (Gérbera); ah...eu achei assim que foi bem importante, uma forma deles estarem se preocupando com as pessoas , vendo se realmente você vai cuidar bem do seu bebê... (Bromélia); ... então, foi assim tranqüilo porque eu busco deixar tudo em ordem, tudo certinho, pra não ter nada né, pra num vim falar pra mim que tá errado, né? Então, eu deixo tudo certo (Crisântemo); fiquei achando: será que elas vão achar que tá certo, ou não, né? Mas não sei o que elas acharam, é o que eu procurei fazer, mas eu gostei da visita (Girassol); vão na casa vê como é que é a casa né, como que é o quarto do neném, se ta sendo bem ventilado (Violeta); que é importante os serviços que eles fazem, vem na casa, vê tudo direitinho como é que é (Bromélia).

 

DISCUSSÃO

A alta hospitalar do prematuro ocorrerá independente das condições de moradia e competência dos pais, mas as visitas domiciliares em torno da alta devem servir para verificar as reais condições em que vivem, as potencialidades e viabilizar as melhores condições e momento para a alta. A partir do desenvolvimento do vínculo entre a equipe do projeto e a família, a realização das visitas é cuidadosamente realizada num contexto de cuidado vivenciado pela família durante todo o período de internação, de maneira que possam compreender e receber a visita como mais uma das estratégias da rede de apoio familiar para que recebam um suporte técnico e social para levar seu filho prematuro para casa.

A VD se torna imprescindível na perspectiva de continuidade da assistência hospitalar para o nível domiciliar. A relação com a criança prematura e de baixo peso ao nascer e sua família nos serviços de saúde, requer diálogo e interação, os quais possibilitam conhecer os contextos social, cultural, econômico e os interesses dos sujeitos, permitindo aproximações das tomadas de decisões e dos mecanismos utilizados por esses sujeitos no enfrentamento das situações de vida experenciadas.8 Estudo9 que quantificou os principais problemas encontrados nas visitas realizadas às famílias de prematuros constatou que a VD se mostrou útil na identificação de dificuldades para o cuidado do RN e problemas relacionados com o ambiente e com o domicílio em condições precárias, visto que muitas vezes estas não seriam suficientemente identificadas somente pelo convívio hospitalar; além de ser uma estratégia para a construção do vínculo e favorecer a adesão das famílias dos prematuros nos programas de seguimento.10

Particularmente neste estudo, o vínculo foi estabelecido durante o período de hospitalização, foi reforçado pela VD permitindo que a equipe continuasse como uma referência mesmo depois da alta, num período de transição entre o cuidado hospitalar e o cuidado domiciliar. Destaca-se a importância e o diferencial para as famílias quando a VD é realizada pela mesma equipe de saúde que as atendeu no hospital, garantindo a continuidade do cuidado sustentado por uma relação segura e de confiança entre as famílias e a equipe, facilitando a atuação do profissional e a implementação de intervenções mais individualizadas e coerentes.9 Ademais, a construção de vínculo e a responsabilização são apontadas como estratégias fundamentais para o sucesso do acompanhamento e redução da chance de evasão das crianças dos programas de seguimento.10 Segundo estudo realizado sobre o seguimento de prematuros e de muito baixo peso ao nascer egressos da UTIN, a responsabilidade de se inserir no serviço é geralmente exclusiva da família, uma vez que a busca ativa pela Unidade Básica de Saúde (UBS) não ocorre. Esta fragilidade pode ser entendida como a inexistência de contra referência da unidade hospitalar para a UBS.8

No presente estudo, uma forma de contribuir para a garantia de um cuidado adequado e integral e concretizar o serviço de contra referência do hospital para a UBS, no momento da VD pós-alta, é realizada uma visita para a UBS para a entrega de um resumo dos principais dados de nascimento, período de internação, diagnósticos, cuidados a serem mantidos no domicílio, medicações, alimentação, entre outros. Dados da avaliação e preparo do domicílio para receber o bebê, são subsídios importantes para a continuidade da assistência da equipe da UBS, ajudando a determinar o nível de cuidado demandado e identificar potenciais problemas que podem interferir no cuidado.11 Além disso, essa transferência sistemática e formalizada para a UBS contribui para que ela também se sinta responsável e envolvida com o seguimento do prematuro e sua família na atenção básica, independentemente do seguimento dos ambulatórios específicos.9

As categorias encontradas nos remetem aos princípios do cuidado centrado na família, ''certificar-se que os serviços do hospital, domicílio e comunidade para crianças que necessitam de cuidado de saúde especializado e suas famílias sejam flexíveis, acessíveis e compreensivos em atender a diversidade das necessidades identificadas''; e ainda: ''facilitar colaboração entre família e profissionais em todos os níveis de cuidado à saúde'':7 hospital, domicílio e comunidade. A elaboração de protocolos de ações de enfermagem para as mães e familiares de bebês prematuros no domicílio, incluindo a visita domiciliar e a disponibilidade da enfermeira para esclarecimento e dúvidas é uma das possíveis estratégias para uma assistência adequada às necessidades da criança prematura.12 Constatamos que a VD proporciona esse tipo de abordagem quando permite que as necessidades reais sejam compreendidas e incorporadas aos planos assistenciais a serem desenvolvidos com a família pelos diferentes níveis de atenção à saúde.

A avaliação domiciliar feita pelo enfermeiro pode oferecer subsídios para a equipe de saúde da família ou ambulatórios especializados, que darão continuidade à assistência, em relação às expectativas das famílias quanto ao cuidado domiciliar, as necessidades emocionais da família e os sistemas de apoio disponíveis próximos ao domicílio. O contexto social e o suporte familiar devem ser considerados para o planejamento da assistência. Portanto, as orientações realizadas nas visitas foram baseadas nas necessidades mais comuns apresentadas pelas famílias, principalmente nas dúvidas e problemas demonstrados por cada família no decorrer da internação e durante a visita.9 Para a família do prematuro, a alta é um momento marcado por sentimentos contraditórios em que comemoram a superação dos obstáculos durante a hospitalização do bebê e ao mesmo tempo expressam insegurança e ansiedade relacionada com as responsabilidades acrescidas à família e o fim do apoio prestado pela equipe hospitalar.13,14 Isto pode anunciar uma nova crise, pois ela terá que enfrentar o desafio de dar assistência completa por si mesma, sem o suporte permanente da equipe.4

Essa vivência torna-se difícil quando os pais não contam com um grupo de familiares, amigos ou profissionais de saúde com quem possam compartilhar essa experiência e de quem possam obter ajuda para prestar os cuidados requeridos pela criança na volta ao domicílio.15 Ademais, o contexto de cada família, considerando a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, condição financeira restrita, inexistência de políticas públicas que dêem suporte ao acompanhamento dos prematuros, resultam em seguimento ineficaz, quando não inexistente, expondo estes recém-nascidos prematuros a maior risco de morbimortalidade.12 Dessa forma, a VD passa a ser uma importante estratégia de cuidado, que mobiliza a participação da família e gera avanço do conhecimento, principalmente por atender as demandas individuais de cada família, relevante para que as mães se sintam fortalecidas para o cuidado. O cuidado passa a ser aperfeiçoado na medida em que essa família percebe que a responsabilidade do cuidado é dela, mas pode ser compartilhada com o serviço de saúde que passa a ser uma rede de apoio e não mais o principal responsável pelo crescimento e desenvolvimento de seu filho. Neste contexto de gerenciamento do cuidado ao egresso de UTIN, o enfermeiro é reconhecido como facilitador do processo de construção de autonomia da família no cuidado ao prematuro, após a alta hospitalar.10

Essa colaboração entre profissionais e família é a essência do cuidado centrado na família, demonstrando um modo respeitoso de humanizar a assistência e melhorar os resultados,7conforme as categorias aqui representadas. O retorno do prematuro ao domicílio implica em mudança na dinâmica familiar. Para os pais de prematuros, a preocupação após o nascimento e durante a hospitalização concentra-se na sobrevivência deste e após a alta é substituída pela manutenção da saúde. Isto se deve à percepção e à constatação de que ainda há riscos para a saúde dele e que, mesmo obtida a estabilidade clínica, o prematuro pode apresentar intercorrências.12 As VD podem significar a sensação para as famílias de estarem sendo ''vigiadas'' no cuidado, portanto, exige o estabelecimento de uma relação fundamentalmente orientada pelo diálogo e pela ética.16 A forma como o profissional de saúde realiza a construção dessa prática junto às famílias precisa ser muito cuidadosa para não gerar processos negativos para a efetiva interação, que pode resultar num relacionamento e contato permeados pelo saber técnico e não na horizontalidade do diálogo.8

É necessário utilizar uma abordagem baseada na integralidade do cuidado e na interação entre sujeitos, famílias e profissionais de saúde, mediada por uma relação de confiança e no estabelecimento de um processo terapêutico participativo.8 As condições de moradia, higiene, nível sócio econômico que encontramos durante essas visitas, servem para nos guiar na busca da rede social adequada que essa família vai precisar quando esse prematuro retornar ao domicílio, não havendo julgamento de certo ou errado, mas, consideração de realidades concretas. Por outro lado, o agir de modo acolhedor não restringe as ações à investigação das necessidades de saúde, somente amplia a produção de cuidados decorrentes dos procedimentos curativos e da assistência as exigências da família.2

Na perspectiva do cuidado centrado na família, essa atitude aberta em relação à realidade nos remete ao princípio de incorporar nas políticas e práticas o reconhecimento e o respeito pela diversidade cultural, fortalezas e individualidade no interior e no entorno de cada família, incluindo diversidade étnica, racial, espiritual, social, econômica, educacional e geográfica.7 É importante que a família consiga perceber essa atitude no profissional, conforme a última categoria expressada, pois, em geral, estão acostumados a serem julgados, cobrados e repreendidos nos serviços de saúde. Portanto, dentre todos os resultados encontrados, constatamos que a VD é uma forma de manter o vínculo entre famílias e profissionais, minimizando dúvidas, medos e ansiedades maternas, auxiliando nos cuidados domiciliares e incentivando mães para adesão aos cuidados e tratamentos propostos. Também constituiu-se em um elo com os serviços que darão continuidade nessa assistência.

Conclui-se que a VD é uma estratégia que contribui para a melhora da qualidade do cuidado domiciliar quando sustentada pelo referencial que considera a família o centro dessa assistência e um parceiro insubstituível no cotidiano de seu trabalho, adotando uma postura profissional percebida como apoio e fortalecimento para as famílias. Essa postura deve ser destituída de pré-julgamentos e preconceitos e respeito incondicional pela família e sua diversidade retratada pelo reconhecimento da individualização do cuidado. A VD precisa ser fortalecida em todos os níveis de assistência possibilitando a agregação do cuidado formal e informal, formando redes de apoio social, direcionadas para melhor assistir e desenvolver autonomia e segurança às famílias dos prematuros no período após a alta hospitalar, contribuindo para o seu crescimento e desenvolvimento saudável.

 

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