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Investigación y Educación en Enfermería

versão impressa ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.1 Medellín jan./abr. 2015

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

Estresse ocupacional entre auxiliares e técnicos enfermagem: enfrentamento focado no problema

 

Occupational stress among nursing technicians and assistants: coping focused on the problem

 

El estrés laboral en auxiliares y técnicos de enfermería: afrontamiento centrado en el problema

 

 

Carla Araújo Bastos Teixeira1; Sandra de Souza Pereira2; Lucilene Cardoso3; Maycon Rogério Seleghim4; Leonardo Naves dos Reis5; Edilaine Cristina da Silva Gherardi-Donato6

 

1Enfermeira, Doutoranda. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade São Paulo -EERP/USP-. Fortaleza-CE, Brasil. email: carlinhateixeira@usp.br.

2Enfermeira, Doutoranda. EERP/USP, Ribeirão Preto-SP, Brasil. email: ssouzapereira@gmail.com.

3Enfermeira, Doutora. EERP/USP, Ribeirão Preto-SP, Brasil. email: lucilene@eerp.usp.br.

4Enfermeiro, Doutorando. EERP/USP, Maringá-PR, Brasil. email: mseleghim@yahoo.com.br.

5Enfermeiro, Doutorando. EERP/USP, Ribeirão Preto-SP, Brasil. email: leonareis1@hotmail.com.

6Enfermeira, Doutora. EERP/USP, Ribeirão Preto-SP. email: nane@eerp.usp.br.

 

Fecha de Recibido: Junio 16, 2014. Fecha de Aprobado: Noviembre 4, 2014.

 

Artículo vinculado a investigación: Estresse ocupacional e estratégias de enfrentamento entre a equipe de enfermagem em ambiente hospitalar.

Subvenciones: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Teixeira CAB, Pereira SS, Cardoso L, Seleghim MR, Reis LN, Gherardi-Donato ECSG. Occupational stress among nursing technicians and assistants: coping focused on the problem. Invest Educ Enferm. 2015; 33(1): 28-34.

 


RESUMO

Objetivo. Analisar a associação entre o uso de estratégias de enfrentamento ao estresse ocupacional focado no problema com características pessoais de auxiliares e técnicos de enfermagem. Metodologia. Estudo quantitativo e correlação, realizado em um hospital universitário de grande porte do Estado de São Paulo, Brasil, no ano de 2013. A amostra aleatória foi constituída por 310 participantes (198 auxiliares e 112 técnicos de enfermagem). Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário com características sócio-demográficas e a Escala Modos de Enfrentamento de Problemas de Vitalino e colaboradores. Os dados foram submetidos à análise univariada e as variáveis com significância estatística (p<0.20) foram posteriormente submetidas em um modelo de regressão múltipla. Resultados. A maioria dos trabalhadores eram mulheres (76.1%), maiores de 40 anos (67.7%), entre nove e 11 anos de estudo (73.5%), que vivem com companheiro (58.7%), católicas (53.2%) e com filhos (74.5%). O modelo de regressão múltipla final foi composto pelas variáveis anos de estudo e número de filhos Conclusão. Neste estudo, a maior escolaridade e o numero de filhos se associaram com um alto uso de estratégias de enfrentamento focadas no problema, mostrando uma menor vulnerabilidade as fatores de estresse ao trabalho.

Palavras chaves: estresse psicológico; enfermagem; esgotamento profissionale; saúde mental.


ABSTRACT

Objective. To analyze the association between strategies used to cope with occupational stress that are focused on the problem wand the personal characteristics of nursing technicians and assistants. Methods. This quantitative and correlational study was conducted in a large teaching hospital in the São Paulo State, Brazil, in 2013.  A randomized sample with 310 participants (198 nursing assistants and 112 nursing technicians) comprised the study population. Data were collected using a sociodemographic characteristics questionnaire and Scale of Ways of Coping with Problems. Data were submitted to univariate analysis, and variables with statistical significance (p<0.20) were submitted posteriorly in a multiple regression model. Results. Most employees were women (76.1%) older than 40 years (67.7%), had nine to 11 years of formal education (73.5%), had a partner (58.7%), were Catholic (53.2%), and had children (74.5%). The final multiple regression model consisted of variable years of formal education and number of children. Conclusion. In this study, formal education and number of children were more strongly associated with a greater use of coping strategies focused on the problem. Such a strategy is related to minimal vulnerability to stress related to the working environment.

Key words: stress, psychological; nursing; burnout, professional; mental health.


RESUMEN

Objetivo. Analizar la asociación entre el uso de estrategias de afrontamiento del estrés laboral centrado en el problema y las características personales de auxiliares y técnicos de enfermería. Metodología. Estudio cuantitativo y correlacional desarrollado en un  hospital universitario del Estado de São Paulo, Brasil, en 2013. La muestra aleatoria fue  constituida por 310 participantes (198 auxiliares y 112 técnicos de enfermería). Para la recolección de datos se utilizó un cuestionario acerca de las características sociodemográficas y la Escala Modos de Enfrentamiento de Problemas de Vitalino y colaboradores. Los datos se sometieron al análisis bivariante y las variables con significación estadística (p<0.20) fueron posteriormente analizadas en un modelo de regresión múltiple. Resultados. La mayoría de los trabajadores eran mujeres (76.1%), mayores de 40 años (67.7%), entre nueve y 11 años de estudio (73.5%), que viven con la pareja (58.7%), católicos (53.2%) y con hijos (74.5%). El modelo de regresión múltiple final estuvo compuesto por las variables años de escolarización y número de niños. Conclusión. En este estudio, la mayor escolarización y el número de hijos se asociaron con un alto uso de estrategias de afrontamiento centradas en los problemas, mostrando una menor vulnerabilidad a los factores de estrés en el trabajo.

Palabras clave: estrés psicológico; enfermería; agotamiento profesional; salud mental.


 

 

INTRODUÇÃO

Nas ultimas décadas tem-se observado o aumento de pesquisas relacionadas ao estresse devido, entre outros aspectos, às conseqüências negativas na qualidade de vida e no desempenho ocupacional dos indivíduos.1 Vários são os conceitos utilizados para definir o termo estresse, no entanto, aplicado ao ambiente ocupacional, o estresse pode ser definido como um conjunto de perturbações psicológicas e sofrimento psíquico associados às experiências de trabalho, cujas demandas ultrapassam as capacidades físicas ou psíquicas do sujeito para enfrentar as solicitações do ambiente profissional.2,3

Estudar o estresse no contexto ocupacional é importante porque, dependendo do grau de exposição e/ou gravidade, esta condição pode levar ao adoecimento do profissional, ocasionando o absenteísmo ou o baixo desempenho das atividades, causando prejuízo ao trabalhador e a instituição empregadora.1,2,4 Nesse contexto, auxiliares e técnicos de enfermagem, principalmente aqueles que atuam em ambientes hospitalares, estão fortemente vinculados ao desenvolvimento do estresse por fazerem parte de uma categoria caracterizada por uma grande carga de trabalho voltada ao contato direto com pacientes e familiares, além de outros fatores relacionados.1 Assim, faz-se necessário ampliar os conhecimentos relativos à ocorrência do estresse, reconhecendo as possíveis estratégias de enfrentamento que estes profissionais utilizam com a finalidade de promover o cuidado à saúde, melhorar a qualidade do desempenho laboral, além de promover o aumento da qualidade da assistência de enfermagem oferecida.

Enfrentamento ou sua denominação em inglês, coping,pode ser definido como a forma como os indivíduos lidam com as demandas, sejam elas internas ou externas, julgadas pelo sujeito como estando acima de seus recursos ou possibilidades.5,6 Pesquisadores elaboraram um modelo, baseado na perspectiva cognitivista, que categoriza o enfrentamento em duas dimensões – o enfrentamento focado no problema e o enfrentamento focado na emoção.7 O enfrentamento centrado no problema visa realizar alterações no ambiente se o sujeito conseguir controlar-se ou modificar a situação estressante. Em outras palavras, o sujeito busca reconhecer o agente estressor e tenta modificá-lo ou evitá-lo no futuro.7 O enfrentamento centrado na emoção visa atenuar o desconforto emocional vivenciado pelo sujeito, se este se adequar a resposta emocional à situação estressante. 7

Considerando que o enfrentamento é constituído por atitudes determinadas e conscientes, passíveis de aprendizado que possibilitam o uso e o descarte conforme a necessidade, e sua identificação pode possibilitar o desenvolvimento de ações de tratamento específicas voltadas a estes profissionais.7-9 A literatura ressalta a relevância das ações de coping centradas no problema com base na premissa de que estas são mais frequentes e têm ocorrência associada à avaliação, pelo sujeito, das condições estressoras ou ameaças em potencial, como passíveis de modificação e resolução. A literatura aponta ainda que o enfrentamento focado no problema está relacionado às características individuais dos sujeitos.10 Diante do exposto e considerando que as estratégias focadas no problema constituem formas mais positivas e resolutivas para o enfrentamento do estresse, o estudo analisou a relação entre as estratégias de enfrentamento focadas no problema e as características sociodemográficas entre profissionais de enfermagem, elucidando quais destas características podem conferir maior ou menor chance de uso das estratégias de interesse.

 

METODOLOGIA

Estudo quantitativo e correlacional, realizado entre julho de 2012 a junho de 2013, em hospital universitário de grande porte do Estado de São Paulo, Brasil. Participaram do estudo uma amostra aleatorizada de 198 auxiliares e 112 técnicos de enfermagem, totalizando 310 trabalhadores, com tempo de serviço igual ou superior a um ano, de ambos os gêneros e com interesse em participar do estudo. Para a coleta de dados foram aplicados dois questionários: um para caracterização pessoal, constituído pelas variáveis: gênero (feminino ou masculino), idade em anos completos (autoreferrida), escolaridade (até oito anos de estudo, de nove a 11 anos, acima de 12 anos), situação conjugal (com ou sem companheiro), religião (católico, protestante, espírita ou sem religião definida) e número de filhos; e a Escala Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP), constituída a partir do original criado por Vitaliano, Russo, Carr, Maiuro e Becker (1985),11 traduzida e validada para o português por Gimenes e Queiroz (1997)12 e adaptada por Seidl, Tróccoli e Zanon (2001).8

A EMEP é composta por 45 itens divididos entre quatro dimensões – enfrentamento focado no problema, enfrentamento focado na emoção, busca de suporte social, e busca de práticas religiosas.8 Neste estudo, optou-se por desenvolver a análise direcionada somente à utilização das estratégias focadas no problema, considerando o objetivo do estudo. As respostas da EMEP são dadas em escala de likert de cinco pontos (1 = nunca faço isso a 5 = faço isso sempre). O escore dos sujeitos para a dimensão de interesse (enfrentamento focado no problema) é obtido pela média dos pontos dos 18 itens que compõem a subescala do instrumento. A partir do escore apresentado, variando de 1 a 5, os sujeitos foram categorizados quanto ao nível de uso das estratégias de interesse, sendo alto uso (escore ≤3.67) e baixo uso (escore >3,67) de estratégias de enfrentamento focadas no problema, visto que, quanto maior o escore obtido, maior a frequência de utilização da estratégia de enfrentamento em questão.8 A variável dicotômica ‘nível de uso do enfrentamento focado no problema’ foi considerada como variável dependente (desfecho).

Inicialmente os dados foram submetidos à análise bivariada entre a variável dependente e cada uma das variáveis independentes. Em seguida, foram selecionadas as variáveis independentes que apresentaram p<0.20 para integrar o modelo final de regressão múltipla.13 Posteriormente, utilizando-se o processo de seleção stepwise backward, foram excluídas, uma a uma, as variáveis que não que não apresentaram p < 0.05 no modelo estatístico. Após a exclusão de cada uma dessas variáveis, realizou-se o teste da razão de verossimilhanças comparando-se o modelo cheio com o modelo sem a variável excluída. Após o ajuste do modelo final, foram obtidos os Odds Ratio (OR) ou razão de chances referentes aos fatores de exposição.13 A realização do estudo foi autorizada pela instituição e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão da Universidade de São Paulo sob parecer nº23433. Como limitação do estudo, informamos a não inclusão de variáveis ocupacionais, referentes aos setores de trabalho dos sujeitos investigados.

 

RESULTADOS

A amostra do estudo foi constituída em sua maioria por mulheres (76.1%), com idade acima dos 40 anos (67.7%), com ensino médio (73.5%), com companheiro (58.7%), católicas (53.2%), e com filhos (74.5%).

Na Tabela 1, são apresentados os resultados da associação da utilização das estratégias de enfretamento do estresse focadas no problema, com as características sociodemográficas dos auxiliares e técnicos de enfermagem, por meio da análise bivariada. Nesta etapa foram incluídas as variáveis: gênero, idade, escolaridade, situação conjugal, religião e número de filhos.

Tabela 1. Distribuição da associação das estratégias de enfretamento ao estresse focado no problema, com características pessoais entre auxiliares e técnicos de enfermagem. Ribeirão Preto-SP, 2013

Tabela 1.

Os resultados, mostrados na Tabela 2, da análise multivariada evidenciaram associação positiva do nível de escolaridade com a adoção de estratégias focalizadas no problema, quanto maior o nível de escolaridade, maior a magnitude da associação encontrada. Observou-se que os participantes com nove a 11 anos de estudo possuem aproximadamente cinco vezes mais chances (OR=5.3) de utilizarem este tipo de estratégia do que aqueles que possuem até oito anos de estudo. Já aqueles com mais de 12 anos de estudo possuem 7.6 vezes chances em relação aos com nível mínimo de escolaridade. Ressalta-se que a categoria nove a 11 anos de estudo amentou seu nível de associação quando a variável escolaridade foi inserida no modelo final de regressão múltipla. No que se refere ao número de filhos, observou-se associação positiva, em que para cada filho representa há um aumento de 24% nas chances do profissional em utilizar estratégias focadas no problema.

Tabela 2. Distribuição da associação do alto uso de estratégias de enfretamento ao estresse focado no problema, segundo escolaridade e número de filhos entre auxiliares e técnicos de enfermagem (análise multivariada). Ribeirão Preto-SP, 2013

Tabela 2.

 

DISCUSSÃO

O estresse é um agravo multifatorial, caracterizado pelo desgaste do indivíduo para satisfazer os ideais de excelência determinados pela sociedade e pelo ambiente de trabalho, sendo seu enfretamento influenciado, dentre outros aspectos, pelas características individuais dos sujeitos.1 Neste estudo, as características pessoais dos trabalhadores de enfermagem demonstraram que a maioria era do gênero feminino. Partindo de uma amostra aleatorizada, a predominância de mulheres entre os participantes reflete uma condição já delineada em outros estudos no que se refere à composição de recursos humanos em enfermagem.14 Por outro lado, quanto à ocorrência do estresse, pode-se afirmar que este é mais freqüente em mulheres pela sobrecarga de tarefas características do mundo feminino, pela dupla ou tripla jornada de trabalho, dentre outros fatores.1,14,15  Essa particularidade em relação ao gênero também pode ser verificada na utilização das estratégias de enfrentamento ao estresse.

Comparando-se os OR obtidos na associação da variável gênero com a utilização das estratégias focadas no problema (análise univariada), pode-se inferir que as mulheres do estudo possuem cerca de 15% menos chances de adotar estratégias focalizadas no problema se comparadas aos homens. Nesse sentido, a discussão acerca das diferenças de gênero se mostra oportuna, pois, a literatura relacionada evidencia predominância do uso de estratégias focada no problema por parte dos homens, ao passo que autores indicam que as mulheres demandam mais atenção quanto ao estresse emocional, necessitando de ações preventivas direcionadas a esta população.15-17

Do ponto de vista cognitivista, o enfrentamento com foco no problema representa uma postura de aproximação para com os estressores, tal comportamento reflete a intenção de encarar o estressor como passível de resolução, eliminando assim a fonte estressora. Diferente do que ocorre com o enfrentamento focado na emoção onde o sujeito torna o estressor distante de uma resolução, adotando comportamentos que visam atenuar a carga estressora, como modo paliativo apenas.7 Os achados referentes à variável idade demonstraram que a maioria (67.7%) dos sujeitos tinha idade acima dos 40 anos, sendo que a análise estatística revelou que para cada ano de idade a mais, os indivíduos apresentaram 18% mais chances de utilizar a estratégia de enfretamento focalizada no problema.  Provavelmente, isto se justifique pelo fato de que as estratégias de enfrentamento constituem ações que podem ser aprendidas com a experiência, com o passar dos anos.18 Nesse sentido, os resultados poderiam ser considerados para aprimorar o gerenciamento da equipe de enfermagem, redistribuindo os profissionais de forma a ter sempre elementos de mais idade trabalhando em conjunto com profissionais mais jovens, afim de que o processo de troca de experiências possa alcançar o nível comportamental, possibilitando outro olhar acerca de modos de enfrentamento.

Quanto à escolaridade, predominaram os profissionais com nove a 11 anos de estudo (73.5%) e aqueles com mais de 12 anos de estudo (23.2%), corroborando estudo realizado no Sul do Brasil com auxiliares e técnicos de enfermagem em ambiente hospitalar, que encontrou que 72.4 % da amostra do referido estudo tinha nove a 11 anos de estudo e 25.5 % acima de 12 anos.14 Esta variável se adequou ao modelo final de regressão múltipla, indicando que quanto maior o nível de escolaridade, maior a chance de o sujeito utilizar-se de estratégias de enfrentamento focadas no problema. Provavelmente, esse fato decorre pelo mesmo motivo apresentado na discussão da variável idade: as estratégias de enfretamento constituem algo que pode ser aprendido; um mecanismo consciente, onde a educação certamente se apresenta como um fator preponderante neste processo.18 O estado civil predominante na amostra foi vivendo com companheiro (58.1%).  Porcentagem semelhante foi identificada em uma amostra de profissionais de enfermagem da unidade de emergência do hospital em que foi realizado o presente estudo (57.1%).19 Esta proporção de casados é menor em relação a estudo desenvolvido no Rio Grande do Sul com essa categoria profissional, cuja porcentagem de casados foi de 70.9%.14 Paralelamente, verificou-se que a maioria dos sujeitos (74.5%) possuía filhos, sendo que esta variável também se adequou ao modelo final de regressão múltipla. Assim, para cada filho, os trabalhadores apresentam 24% mais chances de fazer uso da estratégia de enfrentamento focado no problema. Tal achado pode sugerir que, a variável número de filhos comporta-se tal como a variável faixa etária, conferindo ao sujeito experiência, o que corrobora com a premissa de que as estratégias de enfrentamento constituem-se de ações que podem ser aprendidas com as experiências vivenciadas.18

Conclusão. O estudo das estratégias focadas no problema para o enfrentamento do estresse ocupacional e as características sociodemográficas dos profissionais de enfermagem revelou associação destas estratégias com a escolaridade e o número de filhos. Na amostra estudada estas duas características, escolaridade e número de filhos, podem ser indicadas como fatores de menor vulnerabilidade para o estresse ocupacional, considerando-se que as estratégias focadas no problema constituem formas de enfrentamento mais assertivas. Recomenda-se o desenvolvimento de outros estudos a partir destes resultados, tanto para identificar desta associação em diferentes populações como estudos qualitativos que investiguem a influência dos filhos e da escolaridade para o enfrentamento do estresse ocupacional. Especificamente para a enfermagem, as características do perfil de enfrentamento do estresse investigadas podem ser úteis ao planejamento de intervenções de melhoria da saúde mental dos profissionais e consequentemente, melhoria da qualidade do cuidado hospitalar.

 

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