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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.1 Medellín Jan./Apr. 2015

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

Riscos de novos acidentes por quedas em idosos atendidos em ambulatório de traumatologia

 

Risk factors for new accidental falls in elderly patients at Traumatology Ambulatory Center

 

Factores de riesgo para nuevas caídas accidentales en ancianos atendidos en un centro ambulatorio de traumatología

 

 

Daiane Porto Gautério1; Bruna Zortea2; Silvana Sidney Costa Santos3; Bárbara da Silva Tarouco4; Manoel José Lopes5; Cesar João Fonseca6

 

1Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande –FURG-, Brasil. email: daianeporto@bol.com.br.

2Graduanda em Enfermagem. FURG, Brasil. email: brunazortea@ibest.com.br.

3Enfermeira, Doutora. FURG, Brasil. email: silvanasidney@pesquisador.cnpq.br.

4Enfermeira, Doutora. FURG, Brasil. email: barbaratarouco@yahoo.com.br.

5Enfermeiro, Doutor. Universidade de Évora, Portugal. email: mjl@uevora.pt.

6Enfermeiro, Doutorando. Universidade de Évora, Portugal. email: cesar.j.fonseca@gmail.com.

 

Fecha de Recibido: Septiembre 22, 2013. Fecha de Aprobado: Noviembre 4, 2014.

 

Artículo vinculado a investigación: Construction of instrument of data collection using the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) and directed to the Nursing care to the elderly.

Subvenciones: auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, processo n.123677/2012-2.

Conflicto de intereses: ninguno.

Cómo citar este artículo: Gautério DP, Zortea B, Santos SSC, TaroucoBS, Lopes MJ, Fonseca CJ. Risk Factors for new accidental falls in elderly patients at Traumatology Ambulatory Center. Invest Educ Enferm. 2015; 33(1): 35-43.

 


RESUMO

Objetivo. Identificar os riscos de novos acidentes por quedas, em idosos, atendidos no ambulatório de traumatologia de um hospital universitário no Rio Grande do Sul, Brasil. Metodologia. Estudo quantitativo de tipo de casos múltiplos. Realizado no ambulatório de traumatologia, com quinze idosos que atenderam os critérios de inclusão: ter sessenta anos ou mais; estar em atendimento no ambulatório de traumatologia em decorrência de acidente por queda; estar orientado e em condições de responder e interagir com os coletadores de dados. A coleta de dados foi realizada de abril a junho de 2013, com o instrumento Elderly Nursing Core Set (Lopes e Fonseca). A análise dos dados foi realizada por meio da estrutura descritiva, que ajudou na identificação da existência de padrões de relacionamento entre os casos. Resultados. Os fatores de risco para novas quedas identificados com maior frequência nos idosos investigados, foram: equilíbrio prejudicado (15/15), idade acima de 65 anos (11/15), uso de agentes anti-hipertensivos (9/15), ausência de material antiderrapante no ambiente doméstico (7/15); tapetes espalhados pelo chão da casa (7/15). Conclusão. A combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos, que incluem os riscos ambientais, é a associação mais relevante para a ocorrência de novas quedas. Neste sentido, é necessário que a equipe de enfermagem faça ênfase na educação sobre a redução dos perigos domésticos, bem como do controle dos fatores intrínsecos do ancião com o fim de diminuir o risco de novas quedas.

Palavras chave: idoso; acidentes por quedas; fatores de risco; enfermagem.


ABSTRACT

Objective. To identify the risks factors for new accidental falls in elderly patients attended in the Traumatology Ambulatory of a University hospital in Rio Grande do Sul, Brasil. Methodology. Quantitative study of the type of multiple cases. Performed at the traumatology ambulatory, amongst fifteen elders that attended the inclusion criteria: age of sixty or more; patient at the traumatology ambulatory because of a fall motivated by accident, oriented and in conditions of answer an interview of data collectors. The data collection was made between April and June, 2013, with the Elderly Nursing Core Set scale (Lopes & Fonseca). The data analysis was made by a descriptive structure, which helped identify the existence of relation patterns among the cases. Results. The risk factors for new accidental falls identified with larger incidence amongst the elders studied were: impaired balance (15/15), age above 65 (11/15), use of antihypertensive drugs (9/15), absence of non-slip material at home environment (7/15), in seven cases; rugs scattered at the floor of the house (6/15). Conclusion. The combination of intrinsic and extrinsic factors that include the environmental risks is considered a much more relevant cause to occur the new falls. The minimization of the home dangers, allied to the control of the elder intrinsic factors, may reduce the risks of causes. In that sense, is necessary that the nursing team make available more attention to the elderly assisted at the ambulatories, mainly those with sequelae due to fall accidents.

Key words: aged; accidental falls; risk factors; nursing.


RESUMEN

Objetivo. Identificar los factores de riesgo para nuevas caídas accidentales en ancianos atendidos en un centro ambulatorio de traumatología de un hospital universitario en Rio Grande do Sul, Brasil. Metodología. Estudio cuantitativo del tipo de serie de casos, realizado en un centro ambulatorio de traumatología con 15 ancianos quienes cumplieron los criterios de inclusión: tener 60 años o más, con diagnóstico de caída accidental, estar orientado y en condiciones de responder los datos solicitados por los encuestadores. Se empleó el instrumento Elderly Nursing Core Set  de (Lopes y Fonseca) para la toma de la información en 2013. El análisis de los datos se realizó con estadística descriptiva, la cual ayudó en la identificación de la existencia de patrones de relaciones entre los casos. Resultados. Los factores de riesgo para nuevas caídas accidentales identificados con mayor frecuencia en los ancianos investigados fueron: problemas en el equilibrio (15/15), edad por encima de 65 años (11/15), uso de agentes antihipertensivos (9/15),  ausencia de material antideslizante en el ambiente doméstico (7/15), tapetes dispersos por el suelo de la casa. Conclusión. La combinación de factores intrínsecos e extrínsecos, que incluyen los riscos ambientales, es la asociación más relevante para la ocurrencia de nuevas caídas. En este sentido, es necesario que el equipo de enfermería haga énfasis en la educación sobre la reducción de los peligros domésticos, así como del control de los factores intrínsecos del anciano con el fin de disminuir el riesgo de nuevas caídas.

Palabras clave: anciano; accidentes por caídas; factores de riesgo; enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

As quedas têm contribuído na piora das condições de saúde/doença dos idosos, constituindo-se como a primeira causa de acidentes e a terceira maior causa de morte em pessoas com sessenta anos e mais.1 Esses acidentes também são reconhecidos como um importante problema de saúde pública, devido à frequência, à morbidade e ao elevado custo social e econômico decorrente das lesões provocadas nos idosos.2 A queda é definida como deslocamento não intencional do corpo, resultando em mudança da posição para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil,3 podendo ser causada por fatores intrínsecos e extrínsecos.

Os fatores intrínsecos são decorrentes de processos fisiológicos/patológicos do envelhecimento, correspondentes à tendência de lentidão dos mecanismos corporais centrais, importantes para os reflexos posturais. Podem estar associados às arritmias cardíacas, à labirintite, à osteoporose, à artrose, às neoplasias, ao AVC e a algumas doenças: pulmonares, neurológicas, de Parkinson, de Alzheimer, geniturinárias. O uso de determinadas classes de medicamentos ou de polifármacia também é considerado fator de risco intrínseco.4 Os fatores extrínsecos, por sua vez, são relacionados ao ambiente do idoso, como a casa, locais públicos, transporte coletivo, iluminação inadequada, superfícies escorregadias, tapetes soltos, presença de obstáculos, calçados e roupas inapropriadas e irregularidades no solo.4

As quedas limitam a capacidade funcional do idoso, deixando-o mais vulnerável a novos acidentes. Denomina-se idoso caidor aquele que vivenciou mais de duas quedas, potencialmente também o mais predisposto a novos acidentes e, portanto, aquele que necessita de avaliação que priorize a busca de fatores intrínsecos e extrínsecos, relacionados a esse tipo de episódio.5 A identificação dos fatores intrínsecos e extrínsecos pode direcionar as ações dos enfermeiros, com medidas passíveis de envolver estímulo para alterações no ambiente e/ou nos hábitos de vida do idoso, com vistas à prevenção de novas quedas. Além disso, o papel do enfermeiro no cuidado à pessoa idosa necessita estar centrado no estímulo à independência funcional e no máximo de autonomia na comunidade, respeitando as limitações desses indivíduos.6

O presente estudo teve por finalidade a identificação de fatores de risco para quedas em idosos caidores, via aplicação de um instrumento elaborado a partir da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). A referida classificação propõe um modelo de entendimento da funcionalidade humana que integra aspectos biológicos, sociais e pessoais, além de homogeneizar a terminologia que descreve as condições incapacitantes relacionadas à saúde.7 A CIF classifica a funcionalidade dos seres humanos a partir da relação entre estado de saúde, funções e estruturas corporais (presença ou não de deficiências), atividade (realização de uma tarefa ou ação por um indivíduo), participação (envolvimento de um indivíduo em uma situação da vida real) e fatores contextuais (referentes aos fatores do ambiente e pessoais).8 O uso desse instrumento permite a identificação dos fatores de risco para quedas ocasionadas por fatores intrínsecos e extrínsecos. É importante valorizar o evento queda, uma vez que pode acarretar complicações de saúde, injúrias e até a morte,1 representando um sério problema ao idoso/família. Minimizar a incidência das quedas, portanto, torna-se um desafio para as instituições, profissionais e pesquisadores. Para a identificação da ação mais apropriada ao alcance de tal objetivo, torna-se necessária a realização de estudos que identifiquem os fatores de risco para quedas em idosos, principalmente naqueles que já sofreram quedas anteriores e podem apresentar prejuízo na funcionalidade em decorrência dessa situação.

Em função da complexidade dos acontecimentos que envolvem a queda e da ausência de trabalhos científicos relacionados ao tópico, na área da enfermagem, torna-se importante conhecer e identificar as situações e as consequências que abrangem esse evento, a fim de que os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, possam estabelecer medidas de intervenção para prevenção, apoio e recuperação dos idosos vítimas de quedas. Ao conhecer e identificar tais situações, o enfermeiro planeja o cuidado de modo a atender as necessidades de cada idoso.6 A partir da reflexão realizada, obteve-se como questão norteadora do estudo aqui apresentado: Que riscos de novos acidentes por quedas estão presentes em idosos atendidos no ambulatório de traumatologia de um hospital universitário? O objetivo da pesquisa foi identificar os riscos de novos acidentes por quedas, em idosos atendidos no ambulatório de traumatologia de um hospital universitário.

 

METODOLOGIA

Estudo de caso múltiplo de natureza quantitativa, que busca a contemplação da realidade de forma profunda, focalizando a relação do fenômeno com o contexto.8 O estudo foi realizado em um ambulatório de traumatologia de um hospital universitário, no Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram do estudo quinze idosos, sendo cada um considerado um caso. Esses idosos atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ter sessenta anos ou mais; estar em atendimento no ambulatório de traumatologia em decorrência de acidente por queda; estar orientado e em condições de responder e interagir com os coletores de dados. Os idosos foram indicados pela letra I, seguida dos números de 1 a 15.

Para realizar o estudo de caso, seguiu-se três fases distintas e complementares: o desenvolvimento do protocolo da pesquisa, a coleta das evidências e a categorização e classificação dos dados.9 O protocolo do estudo foi constituído pelos tópicos a seguir: objetivo; questão de pesquisa; leituras norteadoras; modelo teórico; procedimentos adotados para a coleta de dados; procedimentos para lidar com imprevistos durante a coleta de dados; recursos necessários; agenda das atividades de coleta de dados; plano de análise dos dados, com discriminação da natureza das informações coletadas; guia para o relatório.9 Os dados foram coletados nos meses de abril a junho de 2013,por integrantes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Gerontogeriatria, Enfermagem/Saúde e Educação (GEP-GERON). Primeiro, foi realizada a verificação dos prontuários dos idosos que estavam recebendo atendimento no ambulatório de traumatologia, a fim de coletar informações que possibilitassem selecionar os candidatos à pesquisa. Segundo, foi efetivado um primeiro contato com os idosos e, aos que aceitaram participar do estudo, foi aplicado o instrumento de coleta dos dados, representado pela entrevista.

O instrumento de coleta de dados utilizado foi elaborado a partir da CIF e denominado Elderly Nursing Core Set. Foi desenvolvido e validado por pesquisadores portugueses e apresenta cinco seções distintas: identificação e caracterização do participante; funções do corpo; estrutura do corpo; atividades de participação e fatores ambientais.10 A análise dos dados foi realizada por meio da estrutura descritiva, que ajudou na identificação da existência de padrões de relacionamento entre os casos.9 Para tal finalidade, foi realizada a apresentação dos idosos segundo as características sócio-biográficas e relacionadas ao acidente por queda. Depois, foram identificados, em cada idoso, os fatores de risco para novas quedas, os quais foram classificados, considerando-se os fatores de riscos do diagnóstico de enfermagem Risco de Quedas, presente na North American Nursing Diagnosis Association.11 Dentre os fatores citados, foi possível identificar como intrínsecos de risco em adultos: cognitivos, fisiológicos e uso de medicamentos; e, extrínsecos, os fatores ambientais. Os fatores de risco encontrados são apresentados a seguir:

Riscos ambientais: ambiente com móveis e objetos em excesso, ausência de material antiderrapante na banheira e/ouno piso do local do chuveiro, condições climáticas, imobilização, pouca iluminação, quarto não familiar, tapetes espalhados pelo chão. Riscos cognitivos: estado mental rebaixado. Riscos em adultos: história de quedas, idade acima de 65 anos, morar sozinho, prótese de membro inferior, uso de cadeiras de rodas, uso de dispositivos auxiliares (andador, bengala). Riscos fisiológicos: anemias, artrite, condições pós-operatórias, déficits proprioceptivos, diarreia, dificuldades na marcha, dificuldades auditivas, dificuldades visuais, doença vascular, equilíbrio prejudicado, falta de sono, força diminuída nas extremidades, hipotensão ortostática, incontinência, mobilidade física prejudicada, mudanças nas taxas de açúcar após as refeições, neoplasias, neuropatia, presença de doença aguda, problema nos pés, urgência, vertigem ao estender o pescoço e ao virar o pescoço. Riscos pelos medicamentos: agentes ansiolíticos; agentes anti-hipertensivos; antidepressivos tricíclicos; diuréticos; hipnóticos; inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (ECA) – medicamentos usados em insuficiência cardíaca; doença renal; esclerose sistêmica; tranquilizantes; uso de álcool.11

O projeto desta pesquisa obteve parecer favorável de um comitê de ética e pesquisa sob o número 18/2013, CAAE:13488313.3.0000.5324 e seguiu os princípios de bioética para pesquisas com seres humanos, tais como: autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade. Foi solicitada aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

 

RESULTADOS

Entre os quinze idosos pesquisados, as idades variaram entre 61 e 85 anos; onze eram do sexo feminino e quatro do masculino; seis eram viúvos, cinco casados e quatro solteiros; onze possuíam ensino fundamental incompleto; dois, ensino médio incompleto e dois, ensino médio completo; nove eram aposentados, três ainda exerciam atividade remunerada e três não informaram se tinham alguma ocupação.

Nos quinze idosos investigados, os acidentes por quedas, cujas lesões levaram-nos a receber atendimento no ambulatório de traumatologia, ocorreram devido aos fatores ambientais (piso escorregadio ou molhado, tapetes espalhados pelo chão e pisos irregulares), aliados a problemas de equilíbrio, representando os fatores causadores de todos os acidentes por queda. Em relação ao local de ocorrência das quedas, sete idosos caíram no domicílio; cinco, em calçadas públicas e três, em ambientes fechados que não eram suas residências. Quanto às lesões provocadas pelas quedas, um idoso teve duas fraturas, enquanto os demais, apenas uma. Dentre as fraturas, dez ocorreram nos membros superiores, seis nos membros inferiores e uma na bacia. Em decorrência das mesmas, três idosos passaram a utilizar auxílio para a realização de atividades básicas da vida diária (ABVDs), como andar, vestir-se, tomar banho, pentear os cabelos; e, também, para as atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), caso das tarefas domésticas. Oito idosos passaram a usar auxílio somente para a realização de tarefas domésticas. Todos os idosos relataram sentir dor em decorrência das fraturas.

Os fatores de risco para novas quedas, identificados com maior frequência nos idosos investigados, foram: equilíbrio prejudicado em todos os idosos; idade acima de 65 anos, em onze idosos; uso de agentes anti-hipertensivos, em nove idosos; ausência de material antiderrapante no ambiente doméstico, em sete idosos; e tapetes espalhados pelo chão da casa, em seis idosos, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Fatores de risco para quedas nos idosos investigados

Tabela 1.

 

DISCUSSÃO

No presente estudo, a maioria dos participantes foi do sexo feminino, semelhante a duas investigações prévias com idosos.12,13 As mulheres tendem a viver mais do que os homens, até idades mais avançadas, quando as deficiências e outros múltiplos problemas de saúde, que causam redução na funcionalidade, são mais comuns.14 Nesse sentido, a prevenção das quedas, a partir da identificação prévia dos fatores de risco, deve constituir o foco dos cuidados de enfermagem, com vistas à manutenção da autonomia e da independência das idosas. O enfermeiro tem papel importante na prevenção, no reconhecimento precoce dos indivíduos propensos a quedas e no tratamento das consequências desse evento.

Em relação aos demais dados sócio-biográficos, verificou-se, na maioria dos idosos, a ausência do primeiro grau completo, a viuvez e a aposentadoria. Estudo realizado com idosos em São Paulo encontrou perfil semelhante entre os que haviam tido quedas recorrentes.13 Os dados reforçam a importância de o enfermeiro identificar os idosos que já sofreram quedas, bem como os fatores de risco para tais eventos, a fim de que possa implementar ações de enfermagem com vistas à prevenção de novas quedas e à manutenção da funcionalidade.

O ambiente onde o idoso está inserido pode tornar-se um importante predisponente às quedas quando se apresenta inseguro. Por essa razão, faz-se necessário cuidar da segurança do ambiente, principalmente quando o idoso possui instabilidade postural. Quanto ao ambiente/contexto, o enfermeiro tem o papel de orientar o idoso/família acerca da necessidade de realizar mudanças no domicílio para adequá-lo e torná-lo mais seguro.15,16 É importante atentar para algumas características que tornam o ambiente doméstico seguro para os idosos: pisos planos e com material antiderrapante; evitar o uso de tapetes soltos; mobília colocada em locais que não atrapalhem o caminho do idoso, protegendo as quinas; uso de roupas e calçados confortáveis, com solados antiderrapantes, evitando desequilíbrio e dificuldade para deambular; escadas e corredores com corrimãos para o idoso se apoiar ao deambular; iluminação adequada; cadeiras com alturas adequadas e apoiadores para braços, auxiliando na transferência do idoso; banheiro com portas amplas, boxes com barras de apoio e vaso sanitário com altura adequada e apoios laterais; medicações guardadas em locais de fácil acesso.15,16

A influência dos fatores ambientais no risco de quedas associa-se ao estado funcional e à mobilidade do idoso. Quanto maior a fragilidade, maior a suscetibilidade.17 Ao planejar as ações, o enfermeiro deve aproximar as questões ambientais e as limitações impostas pelo envelhecimento, fomentadoras da redução da funcionalidade, a fim de procurar eliminar e/ou minimizar os fatores de risco para quedas.

Os idosos do presente estudo caíram nos domicílios, em calçadas e em ambientes fechados que não eram suas residências, corroborando estudos anteriores.12,16 As quedas ocorrem em atividades costumeiras, em eventos ocasionais, com o ambiente tornando-se perigoso proporcionalmente à vulnerabilidade do idoso.17Idosos saudáveis tendem a cair durante atividades instrumentais fora de casa, enquanto idosos frágeis tendem a cair em casa durante atividades rotineiras, sem grandes exigências relacionadas ao equilíbrio.12 Quanto às lesões provocadas pelas quedas, todos os idosos tiveram fratura, a maioria nos membros superiores e inferiores. Em estudos realizados com idosos que sofreram acidente por queda, a consequência mais encontrada desse evento foi a fratura, tanto em membros superiores quanto inferiores, que levaram à diminuição da capacidade funcional do idoso.5,18 O enfermeiro tem papel fundamental na prevenção de fraturas, devendo estimular ações voltadas ao fortalecimento do sistema músculo-esquelético do idoso, enfatizando a manutenção das estruturas envolvidas na movimentação do corpo e na proteção do sistema.

No presente estudo, após o episódio de queda, a maioria dos idosos apresentou redução na funcionalidade e passou a necessitar de auxílio para a realização de algumas ABVDs e AIVDs. Nesse sentido, estudo relacionado às alterações ocorridas após as quedas mostrou haver um aumento da dificuldade e da dependência para a realização das ABVDs e AIVDs.5A dependência do idoso gera desafios para ele/família, que necessita de condições diversas para a manutenção dos cuidados essenciais. As necessidades surgidas compreendem aspectos materiais, emocionais e de conhecimentos. O enfermeiro pode, por meio da educação em saúde, auxiliar os familiares a cuidar de seus idosos dependentes, estimulando e ensinando a adoção dos cuidados adequados e orientando as mudanças no ambiente, caso seja necessário.6

Todos os idosos do estudo referiram sentir dor por causa das fraturas. A dor pode desencadear posturas antálgicas e claudicações que alteram a postura, o equilíbrio e a marcha, tornando-se um fator de risco para quedas.13 Tendo em vista que o uso constante de analgésicos também pode ocasionar problemas para a saúde dos idosos,19 a diminuição da funcionalidade e constituir-se em mais um fator de risco para quedas, o enfermeiro pode orientar acerca de medidas não medicamentosas para alívio da dor.

Os idosos I1, I5, I8 e I9 referiram já terem sofrido quedas anteriormente. Uma queda pode trazer consigo o medo de novas quedas e de machucar-se, de ser hospitalizado, de sofrer imobilizações, de ter declínio de saúde, de tornar-se dependente de outras pessoas para o autocuidado6 ou ainda da institucionalização. O receio das consequências inerentes à queda pode interferir na realização de atividades da vida diária, levando a um aumento da dependência, à perda da autonomia e à limitação social, resultando em piora na qualidade de vida do idoso.4,6 Após a queda, a família também pode assumir atitudes de superproteção, incentivando o idoso à imobilidade, o que poderá prejudicá-lo.6 Nessa perspectiva, o enfermeiro tem o papel de orientar a família a estimular o idoso a continuar movimentando-se e a colaborar na identificação e na correção dos fatores envolvidos na queda. A idade acima de 65 anos representou um fator de risco para quedas nos idosos I1, I2, I4, I5, I7, I9, I10, I11, I12, I13, I15. Os indivíduos podem sofrer quedas em qualquer idade, porém as consequências das lesões sofridas em uma idade mais avançada são mais graves do que entre pessoas jovens. Para lesões da mesma gravidade, os idosos experimentam maior incapacidade, período de internação mais longo, extensos períodos de reabilitação, risco maior de dependência posterior e de morte.13

Morar sozinho foi referido pelo idoso I5, ponto também considerado um fator de risco para quedas. Morar sozinho pode tornar o idoso mais suscetível à queda por ter que realizar todas as atividades da vida diária sem o auxílio de outras pessoas. Soma-se a isso o fato de que, com o envelhecimento, pode haver redução da capacidade funcional do idoso.20 O fator de risco para quedas equilíbrio prejudicado foi identificado em todos os idosos. Com o envelhecimento, os sistemas corporais que controlam o equilíbrio são afetados e várias etapas do controle postural podem ser suprimidas, levando a um aumento da instabilidade.21 Uma maneira de aumentar o equilíbrio postural, evitar o enrijecimento articular e a perda de força muscular é estimular a prática de atividades físicas, que deve igualmente ser incentivada pelos enfermeiros. A medida ajuda a diminuir o risco de quedas nos idosos5 e, no caso decaírem, as fraturas são minimizadas.

O idoso I1 referiu dificuldade visual. O controle do equilíbrio pode estar mais reduzido nos idosos com déficits visuais, configurando um fator de risco para quedas. Um dos primeiros sistemas a sofrer o impacto do envelhecimento fisiológico é o sistema sensorial e, particularmente, o visual.22 O déficit visual, aliado a um ambiente inseguro, pode favorecer as quedas; por isso, o enfermeiro pode orientar o idoso e seus familiares a reorganizar o ambiente doméstico de forma que os riscos ambientais sejam eliminados. A hipotensão ortostática foi referida pelo idoso I2. Ela ocorre com a queda da pressão arterial sistólica superior ou igual a 20 mmHg e/ou queda da pressão arterial diastólica maior ou igual a 10 mmHg, no momento em que a posição de decúbito é modificada para a posição ortostática, ou ainda após três minutos dessa movimentação.23 O quadro pode ocasionar, entre outras consequências, a queda. O enfermeiro pode orientar ao idoso que antes de levantar da cama, fique deitado de lado em torno de dez segundos e, depois, sente-se na cama por mais dez segundos e só então se levante.

A vertigem ao estender o pescoço foi referida pelo idoso I6. A vertigem refere-se a um sintoma vestibular e envolve a sensação de girar ou outros tipos de movimentos ilusórios sobre si mesmo ou no ambiente.23 Em decorrência da vertigem, o idoso pode cair e, por isso, deve ser orientado a não fazer movimentos bruscos com a cabeça. Em relação ao estado cognitivo do idoso, I1 e I3 apresentaram estado mental rebaixado, o que aumenta o risco de quedas. Torna-se imprescindível a investigação de déficits cognitivos por parte dos enfermeiros para pensar-seem estratégias/ações, no intuito de prevenir as quedas.24 Os idosos referiram o uso de medicamentos anti-hipertensivos (I4, I6, I7, I8, I9, I10, I11, I12, I13), ansiolíticos (I3, I13) e antidepressivos (I11, I15). O uso de medicamentos, embora benéfico em muitas situações, requer cuidados especiais devido às especificidades dos fatores orgânicos alterados no idoso, que podem prejudicar a absorção, a distribuição, o metabolismo e a excreção das drogas.6

Os anti-hipertensivos são considerados responsáveis pelas maiores frequências de interações e de possíveis reações adversas, que podem levar à ocorrência de quedas. Entre elas, a hipotensão ortostática, referida pelo idoso I2. Do mesmo modo, os remédios que atuam no sistema nervoso central, como ansiolíticos e antidepressivos, podem provocar reações adversas com desfechos clínicos críticos para idosos, como quedas, fraturas de quadril, prejuízo na memória, confusão e isolamento social. Para prevenir/minimizar os eventos adversos dos medicamentos em idosos, o enfermeiro tem importante papel na administração dos mesmos, identificando a prescrição de fármacos impróprios para idosos e daqueles que possam interagir entre si, monitorando possíveis reações adversas.19

As quedas e suas consequências possuem considerável importância na vida dos idosos, nos altos custos econômicos e sociais e na sobrecarga dos serviços de saúde. O enfermeiro necessita reconhecer os idosos mais vulneráveis, compreender o evento queda e atuar preventivamente para evitar sua ocorrência, considerando sua natureza multifatorial.20 Dentre as ações desenvolvidas pelos enfermeiros, a realização do Processo de Enfermagem (PE), com a realização dos diagnósticos de enfermagem, surge como importante ferramenta, pois permite o conhecimento das respostas humanas e contextuais alteradas, contribuindo para o cuidado individualizado. Nessa perspectiva, cabe ao enfermeiro realizar o PE, voltado, principalmente à manutenção da funcionalidade, realizando ações voltadas à prevenção de quedas nos idosos.4

Conclusão

Neste estudo foram identificados fatores de risco para novas quedas, com destaque para a importância dos fatores ambientais aliados às alterações próprias do processo de envelhecimento, nos idosos estudados. A equipe de enfermagem pode desenvolver ações com o intuito de orientar idosos e familiares a respeito de alterações ambientais, somadas à conscientização em relação aos fatores de risco intrínsecos, com a finalidade de eliminá-los e/ou minimizá-los. A combinação entre fatores intrínsecos e extrínsecos, que incluem os riscos ambientais, é considerada uma associação mais importante para a ocorrência de quedas do que as causas únicas. A minimização dos perigos domésticos, combinada ao controle dos fatores intrínsecos do idoso, pode diminuir os riscos de quedas.

Uma limitação desta pesquisa foi a dificuldade em recrutar os idosos participantes, ocasionando aumento no período de coleta dos dados. O instrumento utilizado neste estudo, elaborado a partir da CIF, mostrou-se útil para a avaliação da funcionalidade e das necessidades de cuidados dos idosos e para a identificação dos fatores de risco para quedas. A utilização dos fatores de riscos de queda, a partir do diagnóstico Risco de Queda, da North American Nursing Diagnosis Association, foi uma tentativa de contribuir com a construção de uma linguagem comum e válida para a prática profissional dos enfermeiros, principalmente dos que atuam diretamente com idosos.

Como contribuições desta pesquisa para a enfermagem, no ensino/formação, espera-se sensibilizar os docentes quanto à inserção de conteúdos que privilegiem os idosos atendidos em ambulatórios em função de acidentes por quedas, no sentido de estimular a prevenção de novos acidentes. Na assistência/cuidado, pretende-se estimular nos enfermeiros/equipe de enfermagem a necessidade de maior atenção aos idosos atendidos nos ambulatórios, principalmente aqueles com sequelas em função dos acidentes por quedas.

 

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