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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.2 Medellín May/Aug. 2015

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v33n2a10 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

DOI: 10.17533/udea.iee.v33n2a10

 

 

Programa Saúde na Escola: percepções de docentes

 

The school health program: teachers' perceptions

 

El programa de salud escolar: las percepciones de los maestros

 

Cícero Tavares Leite1; Maria de Fátima Antero Sousa Machado2; Roberta Peixoto Vieira3; Mirna Neyara Alexandre de Sá Barreto Marinho4; Claudete Ferreira de Souza Monteiro5

 

1Enfermera. Coordinadora de Centro de Cuidado Psicosocial (CAPS I) en Missão Velha-CE, Brasil. email: ctavaresleite@bol.com.br.

2Enfermera, Doctora. Profesora, Universidade Regional do Cariri, Ceará, Brasil. email: fatimaantero@uol.com.br.

3Enfermera, especialista. Profesora, Universidade Regional do Cariri – Iguatu Decentralized Unit and Faculdade Vale do Salgado, Ceará, Brasil. email: roberta.peixotovieira@gmail.com.

4Enfermera, Magíster. Regional nursing council of Ceará and Regional Hemocentro of Crato-CE, Brasil.email: mirna.neyara@bol.com.br.

5Enfermera, Doctora. Profesora, Universidade Federal do Piauí. Scholarship Productivity CNPQ. Teresina, Piauí, Brasil. email: claudetefmonteiro@hotmail.com.

 

Fecha de Recibido: Febrero 11, 2015. Fecha de Aprobado: Abril 15, 2015.

 

Artículo vinculado a investigación: "Educação em Saúde: Percepção de docentes em relação às ações no Programa Saúde na Escola (PSE)"

Subvenciones: Programa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq da Universidade Regional do Cariri- URCA.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Leite CT, Machado MFAS, Vieira RP, Marinho MNASB, Monteiro CFS. The school health program: teachers' perceptions.Invest Educ Enferm. 2015; 33(2): 280-287.

DOI: 10.17533/udea.iee.v33n2a10

 


RESUMO

Objetivo. Compreender a percepção que professores têm de um programa de saúde escolar e sua relação com as ações de educação em saúde desenvolvidas na escola. Metodologia. Estudo descritivo com abordagem qualitativa no que se fizeram entrevistas a 10 professores de uma escola pública da cidade de Barbalha/Ceará, Brasil. Os dados foram analisados em categorias temáticas. Resultados. Os professores perceberam o Programa de Saúde na Escola como assistencialista, sem integração entre os professores e os profissionais da saúde e que não era de interesse para os adolescentes. As ações educativas na escola e sua relação com este programa foram percebidas como avaliações clínicas que não se integraram às ações já desenvolvidas na escola. Conclusão. Encontrou-se uma debilidade na falta de integração das ações realizadas pelos diferentes atores, pelo que há necessidade de uma maior relação entre os mesmos com o fim de otimizar esforços na promoção da saúde escolar.

Palavras chave: adolescente; docentes; educação em saúde; saúde pública.


ABSTRACT

Objective. Understand teachers' perception of a school health program and its relationship with health education activities developed at school. Methodology. Descriptive qualitative study, in which interviews with 10 teachers at a public school in the city of Barbalha, Ceará, Brazil were conducted. Data were analyzed in thematic categories. Results. Teachers perceived the School Health Program as welfare, without integration between teachers and health professionals, and being of no interest to teenagers. Educational activities at school and their relationship to the program were perceived as clinical evaluations that were not integrated into the actions already developed at school. Conclusion. A weakness was found in the lack of integration of actions performed by different agents. Therefore, there is a need for a closer relationship between them in order to optimize efforts to promote school health.

Key words: adolescent;faculty; health education; public health.


RESUMEN

Objetivo. Comprender la percepción que profesores tienen de un programa de salud escolar y su relación con las acciones de educación en salud desarrolladas en la escuela. Metodología. Estudio descriptivo con abordaje cualitativo en el que se hicieron entrevistas a 10 profesores de una escuela pública de la ciudad de Barbalha/Ceará, Brasil. Los datos fueron analizados en categorías temáticas. Resultados. Los profesores percibieron el Programa de Salud en la Escuela como asistencialista, sin integración entre los profesores y los profesionales de la salud y que no era de interés para los adolescentes. Las acciones educativas en la escuela y su relación con este programa fueron percibidas como evaluaciones clínicas que no se integraron a las acciones ya desarrolladas en la escuela. Conclusión. Se encontró una debilidad en la falta de integración de las acciones realizadas por los diferentes actores, por lo que hay necesidad de una mayor relación entre los mismos con el fin de optimizar esfuerzos en la promoción de la salud escolar.

Palabras clave: adolescente; docentes; educación en salud; salud pública.


 

 

INTRODUÇÃO

A adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, marcada por alterações no corpo, nos sentimentos e nas relações com os outros. Portanto, os adolescentes merecem um cuidado que contemple o acompanhamento das mudanças biopsicossociais, o que pressupõe a interdisciplinaridade das ações para atingir as necessidades destes jovens, que perpassam pelas condições de vida, pela educação, pela saúde e por políticas públicas eficientes. No cenário brasileiro a condição social de uma significativa parcela de famílias é preocupante, as quais, geralmente residem em ambientes desfavoráveis, de forma que à educação e saúde ainda são dificultados. O saneamento básico é precário ou inexistente e o acesso as necessidades primárias como alimentação, dentre outras, são comprometidas pelo desemprego.¹

Muitos adolescentes, além do entorno social desfavorável, não encontram suporte emocional no núcleo familiar, favorecendo ainda mais a vulnerabilidade, culminando em situações de risco como no aumento dos índices de mortes por causas externas, gravidez não planejada, aborto, Infecções sexualmente transmissíveis, envolvimento com o tráfico e ou consumo de drogas.² Vulnerabilidade é entendida como uma condição individual e social do indivíduo que diante de situações condicionantes resulte em adoecimento ou comportamento social desfavorável. Essa condição deve ser de reconhecimento por parte do estado como provedor dos meios para que o indivíduo, como protagonista de direitos, se aproprie das "ferramentas" que o possibilite reconhecer as situações de risco que podem afetá-lo, seja individualmente, na família e no seu entorno.3,4

Torna-se, portanto, desenvolver ações de educação em saúde, direcionadas ao adolescente, tendo em vista que este público representa uma parcela significativa da população, sendo essencial o desenvolvimento de ações promotoras de saúde para ele. Nesse sentido, a vertente das políticas públicas de saúde voltadas ao adolescente resultou em um passo importante para a definição de estratégias para promoção da saúde. Entretanto, devido à fragmentação entre diversos setores, dentre eles, o da saúde e educação, fizeram com que essas políticas tivessem uma conotação fortemente assistencialista.5 Esta fragilidade poderá ser superada tendo em vista a atuação da Estratégia Saúde da Família (ESF) que tem como foco principal o cuidado a família, devendo voltar seu olhar também a saúde do adolescente, abrindo espaço para que eles se sintam acolhidos nas unidades de saúde, bem como a possibilidade de adentrar ao ambiente escolar e desenvolver ações promotoras de saúde.6 Esta oportunidade foi ampliada com criação do Programa Saúde na Escola (PSE) instituído através do Decreto Presidencial nº 6.286, de 05 de dezembro de 2007, no qual as ações estão estruturadas em três componentes: Avaliação clínica e psicossocial, Promoção e prevenção à saúde e, Formação de gestores, profissionais de saúde e educação e de jovens.7

O PSE veio contribuir para estabelecer um elo entre os profissionais que integram a ESF e professores, uma vez que não se pode trabalhar com o adolescente e não envolver os professores, tendo em vista que o processo de educação em saúde demanda troca de experiências e conhecimentos que devem ser compartilhados entre todos os atores mencionados, incluindo-se neste processo a família.8 A escola passa a ser incluída como lócus importante para o desenvolvimento de estratégias educativas em saúde com a finalidade de desenvolver a autonomia do adolescente, para que este possa ter um controle maior de sua saúde e atuar como um multiplicador de ações na comunidade na qual está inserido.

Entretanto, a efetividade do PSE será maior ou menor dependendo da forma como os profissionais envolvidos o percebem, pois a percepção permite organizar e interpretar estímulos sensoriais que resultam em significado.9 Assim, o objetivo desta pesquisa é compreender a percepção de docentes em relação ao Programa Saúde na Escola e sua interface com ações de educação em saúde já desenvolvidas na escola. Espera-se contribuir para o fortalecimento das ações educativas em saúde, sensibilizando os profissionais da ESF e professores para a importância de se trabalhar a educação em saúde na escola, de modo a otimizar o compartilhamento de experiências para o protagonista principal do universo escolar - o adolescente.

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva com abordagem qualitativa, realizada em uma escola pública de ensino médio pertencente à rede estadual de ensino do município de Barbalha-Ceará-Brasil. Participaram da pesquisa 10 docentes, incluídos pelo critério de apresentarem no mínimo um semestre de prática docente na escola. Este critério, em relação ao tempo, deveu-se ao fato de acreditar-se que este caracterizava uma aproximação dos participantes com as atividades desenvolvidas pelo PSE. O instrumento para coleta de dados constou de uma entrevista semiestruturada, contendo dados sobre a caracterização dos participantes quanto ao sexo, faixa etária e tempo de formação acadêmica, bem como sobre a percepção acerca do PSE, das ações desenvolvidas no âmbito do programa e daquelas já desenvolvidas na escola. Após assinatura pelos participantes de um termo de consentimento livre e esclarecido sobre sua inclusão como participantes no estudo, deu-se início a coleta de dados entre os meses de fevereiro a março de 2013. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra pelos pesquisadores. Para a organização dos dados utilizou-se a análise de conteúdo que permite fazer inferências acerca dos significados presentes nas entrelinhas do discurso, buscando atribuir sentido, a fragmentos soltos que precisam ser agrupados em um contexto para transmitir uma mensagem.10 O material foi organizado em categorias temáticas e discutidos a luz do referencial teórico do estudo. Para preservar o anonimato dos participantes as falas foram codificadas na sequência de P1 a P10. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri, protocolo nº 98/2011.

 

RESULTADOS

Caracterização dos participantes

Participaram do estudo cinco professores do sexo masculino e cinco do feminino, na faixa etária de 25 a 42 anos de idade. O tempo informado pelos professores da formação acadêmica foi de três a 16 anos. Os dados que caracterizam os participantes demonstram que são adultos jovens, com pouco tempo de formação acadêmica, o que pode ser um fator impulsionador para o desenvolvimento das ações do Programa Saúde na Escola.

O Programa Saúde na Escola na percepção dos professores

Evidencia-se uma percepção de professores em relação ao PSE, de modo significativo no que se refere a parcerias, visibilidade das escolas presentes no bairro para o setor saúde e integração das políticas públicas voltadas com o objetivo de promover a saúde dos adolescentes: É um programa realizado em parceria entre o PSF e as escolas presentes no bairro de abrangência do mesmo, levando para a escola assistência à saúde (P1); É um programa de integração das políticas de saúde agregado a educação, visando à saúde do aluno (P4). Entretanto, essa percepção não foi unânime. Um dos entrevistados ainda percebe o programa como um modelo sanitarista, focado apenas nos agravos e/ou no controle de doenças: O que sei é que o pessoal da saúde pública municipal vai para as escolas atender aos adolescentes para a prevenção de doenças (P2).

Esta forma de percepção das ações direcionadas a prevenção de doenças e/ou controle destas, está alicerçada na forma de ver e conduzir ações no processo saúde doença como algo curativo. Outros entrevistados remetem à forma de inserção da equipe da ESF na escola, contudo, deixam a informação de que não houve, por parte dos profissionais da saúde, um levantamento do diagnóstico situacional das necessidades dos adolescentes, buscando dos professores, quais as dificuldades e ou facilidades que eles encontram no dia a dia no convívio e na abordagem de questões relativas à saúde em sala de aula: Àsvezesos alunos não querem participar, porque, eles não sabem o que é realmente o programa, quais os objetivos (P2); Acho que educar no âmbito dos alunos é preciso saber o que estão fazendo, porque osprofissionais do PSF chegaram aqui na escola de supetão, se alguém sabia era o diretor na época, nós professores não sabíamos (P10).

Nestas falas, houve nesta escola, a execução de uma atribuição sem que tenha havido uma consulta prévia das necessidades básicas que comprometem o rendimento escolar e que pudessem oferecer riscos à saúde do aluno. Obviamente, os profissionais devem seguir o que é estipulado para cada componente do programa, contudo, isto não impede que sejam feitas no próprio ambiente da escola um encontro entre os profissionais da saúde e professores para estreitar relações e consequentemente discutir a realidade no qual se propõe o desenvolvimento de ações com vistas ao empoderamento da saúde para o adolescente. Nota-se descompassos na articulação entre as ações da saúde e educação na escola pesquisada, evidenciando-se uma fragilidade entre os articuladores da proposta, de maneira que parece haver um certo comodismo dos professores em esperar que a iniciativa na concretização das ações parta da ESF, não havendo iniciativas ou continuidade da escola.

Ações educativas em saúde na escola e sua interface com o PSE

As ações do PSE constaram, segundo a percepção dos pesquisados, de avaliação clínica em conformidade com o primeiro eixo temático do programa: Vieram fazer avaliação dentária e pesar.Teve um psicólogo conversando com os alunos (P2); Eles vêm com ações de aferição de Pressão Arterial, fazendo acompanhamento oftalmológico, atendimento básico e aí podem dar o devido encaminhamento quando necessário (P4).

Avaliação clínica consiste em um levantamento sobre as necessidades imediatas de saúde que poderiam comprometer a saúde dos adolescentes e assim dificultar o processo de aprendizagem. A escola pesquisada já desenvolvia projetos voltados para a saúde e estes foram percebidos pelos participantes como possibilidade de articulação com o PSE: Temos um projeto aqui na escola que é trabalhado pelo o professor de biologia voltado para as DST´s, não está tão inserido dentro do PSE, e está, porque tem uma atividade do PSE que aborda drogas, a questão do álcool e do tabaco e aí somado as atividades do programa se complementam (P6); Tivemos um trabalho na escola em parceria com a nutricionista e o professor de educação física, onde eles desenvolviam um trabalho voltado para alimentação saudável e exercícios físicos em paralelo com as atividades do PSE(P8).

As falas demonstram que os participantes esperam somar as ações que já são trabalhadas na escola as do PSE e ter o incremento de profissionais da saúde para tratar de temas, que muitas vezes extrapolam as habilidades dos professores em abordá-los de forma clara conforme. Um dos entrevistados expressou preocupação quanto à oferta de informações e aquisição de novos hábitos de vida pelos adolescentes, que apesar de informações veiculadas em vários meios de comunicação, parece não atingir sua finalidade: Outro fato me deixa intrigado é que apesar do grande acesso de informações na mídia, grandes campanhas de camisinhas, e ainda assim nós temos cinco alunas grávidas na escola na faixa dos quatorze anos de idade. Então, vivemos um paradoxo, ou seja, ao mesmo tempo em que temos muita informação, ela não está sendo usada de forma adequada (P3).

O relato evidencia a existência de informações acerca dos métodos contraceptivos através de diferentes meios de comunicação, contudo, estas informações podem apresentar-se distorcidas da realidade, cabendo a ESF, a escola e a família readequá-las e trabalhar a prevenção na perspectiva do aprendizado do adolescente e da promoção da saúde.

 

DISCUSSÃO

No contexto da promoção da saúde, o PSE pode ser entendido como uma possibilidade em potencial para atender as necessidades do público adolescente no âmbito escolar entre o setor saúde e educação. A efetivação deste representa um diferencial no que tange ao alcance de um coletivo, favorecendo a manutenção de um diálogo com a comunidade escolar e a ESF.6 A intersetorialidade, compreendida como significativa nos resultados deste estudo consolida uma possibilidade de constituir-se uma articulação permanente entre a saúde e educação nos municípios brasileiros, tendo a escola como cenário do processo de trabalho voltado para a educação em saúde, em que as equipes da ESF e professores devem manter uma aproximação constante para atender as necessidades expressas pelos adolescentes nas suas distintas formas e em consonância com o entorno social onde a escola está inserida. Deste modo, o papel da ESF é direcionar o seu escopo de trabalho para o indivíduo e família no ambiente comunitário, direcionando suas ações mediante a apreensão das necessidades evidenciadas, promovendo o fortalecimento de vínculos duradouros com a sua clientela, destinando atenção também ao público adolescente no âmbito escolar.11

Partindo da prerrogativa de que a ESF detém o diagnóstico situacional da comunidade na qual está inserida e de que a continuidade de suas ações assegura a formação e manutenção de vínculos com a população, possibilita um trabalho dinâmico, voltado para as necessidades da sua clientela, tornando-a indispensável no acompanhamento ao público adolescente. Nesta compreensão, o Decreto de nº 6.286 de 05 de dezembro de 2007 propõe a realização de visitas periódicas às escolas de abrangência do PSE ao longo do ano letivo com a finalidade de avaliar as condições de saúde dos estudantes e articular ações de prevenção e promoção da saúde em consonância com o Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas.11 Os Ministérios da Saúde e Educação estabeleceram três eixos temáticos de ações para subsidiar a execução do trabalho dos atores envolvidos, ESF e escola (núcleo gestor e professores), são eles: I- avaliação clínica e psicossocial; II- promoção à saúde e prevenção de doenças e III- formação.7

As ações do PSE devem ser contempladas de acordo com as características dos adolescentes escolares, de modo que algumas destas são consideradas prioritárias pelo MS: Diagnosticar o estado geral de todos os inseridos na unidade escolar quanto: nutrição, obesidade, avaliação postural, visual e auditiva, anemia, verminoses; Educar em saúde: através de um trabalho interdisciplinar com abordagem de vários temas, como a alimentação saudável, ações contra violência, higiene, segurança, planejamento familiar, primeiros socorros, dentre outros; Prevenir os fatores de risco: verificar o estado vacinal dos escolares, orientar sobre os acidentes, gravidez precoce, meios de contracepção e prevenção de DST; Promoção de fatores de proteção e de ambiente saudável; Interagir com a comunidade a fim de promover a participação social: Procurar envolver as famílias nas ações educativas de identificação e cuidados com a saúde, meio ambiente, e veiculação com movimentos comunitários.12

Assim, as ações para o desenvolvimento de prevenção e promoção da saúde para o adolescente no âmbito do PSE são contratualizadas por meio do Termo de Compromisso firmado pelos municípios, no qual, as secretarias de Saúde e Educação municipais assumem o compromisso de oferecer suporte aos profissionais no que se refere à formação continuada dos atores, e de apoio técnico para que as ações sejam desenvolvidas. No entanto, percebeu-se que professores participantes deste estudo ainda não compreendem o Programa Saúde na Escola como uma política para a saúde dos adolescentes, com objetivos e ações bem definidas.

Chama atenção também nos resultados apresentados neste estudo, nas falas dos professores de que não houve uma aproximação inicial entre estes e os profissionais de saúde para levantamento de um diagnóstico das necessidades e dificuldade de abordagem das ações de saúde com adolescentes. Denotam a falta de um encontro que valorizasse atividades já em execução e também uma acolhida aos adolescentes com informações mais precisas sobre o programa, o que pode levar desinteresse dos alunos em participarem e um certo distanciamento do que poderia ser de fato uma política Inter setorial. Contrário a estes dados, a literatura aponta resultados de um estudo realizado por profissionais da ESF em uma escola pública, mostrando que antes da realização das atividades previstas para o PSE, a equipe de saúde promoveu um encontro com um grupo de professores e adolescentes, como forma de acolhida, de apresentação do funcionamento, do público-alvo, de sondagem da opinião dos adolescentes para elaboração de ações que entrariam posteriormente nos outros dois componentes temáticos de ação¹3.

A orientação dos Ministérios da Saúde e Educação é que as ações do PSE sejam articuladas em consonância com as atividades pedagógicas da escola, sendo fundamental que os atores mantenham contato prévio, e que as ações sejam acordadas a partir da inclusão das ações de acordo com o Projeto Político Pedagógico das escolas para serem implementadas ao longo do ano letivo. Como é sabido, as ações são pré-estabelecidas, entretanto, compete aos profissionais que irão executá-las manter uma abordagem interdisciplinar.

Como as ações são compartilhadas entre os profissionais da saúde e educação, e conforme a realidade de cada escola, no cenário pesquisado, havia projetos voltados para a prevenção das DST´s (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e que já eram desenvolvidos antes de o município aderir ao PSE, entretanto, os sujeitos foram enfáticos em afirmar que a prática de abordagem dessas doenças para o adolescente se reduziu ao HIV/Aids, prevenção de gravidez na adolescência e se restringiam aos profissionais com formação nas ciências biológicas, não havendo interdisciplinaridade na abordagem desses temas.

Sob esta questão é necessário que outros professores se sensibilizem no que se refere ao trato da educação sexual para o adolescente nas suas aulas, não esperando apenas pelos professores das ciências biológicas para tratar deste assunto. Deste modo, os profissionais de saúde quando inseridos na escola podem contribuir com os atores envolvidos elaborando ações de educação em saúde, contemplando o que já existe, mas adequando outras metodologias para dinamizar e facilitar o aprendizado. Ainda, no que se refere às ações de prevenção para a saúde do adolescente tem-se um conceito errôneo de que estas devam estar associadas somente à prevenção do HIV/Aids e gravidez na adolescência, distanciando-se de uma educação em saúde voltada para a problematização destas questões junto ao adolescente, mostrando-lhe as implicações de uma gravidez nessa fase, incluindo-se desde as de ordem fisiológica as sociais.14Assim, a concepção de prevenção de agravos deve estar articulada com a de promoção da saúde como algo duradouro partindo de uma construção reflexiva dos sujeitos, a qual deve ser despertada através do aprendizado e não por imposição. Nesta compreensão, o Ministério da Saúde disponibilizou um manual voltado para professores e profissionais das equipes de saúde, o qual tem por objetivo auxiliar estes profissionais na abordagem das questões de Gênero e Sexualidade com sugestões oficinas para serem trabalhadas com adolescentes.7

Destaca-se aqui que uma das estratégias lançadas para o desenvolvimento das ações do PSE, visa à identificação e preparação de adolescentes, nos quais se perceba habilidades comunicativas para atuação entre pares, com o objetivo de divulgar as ações de prevenção e promoção para a saúde. A participação ativa deste público potencializa a eficácia das ações de educação em saúde por partir da percepção das necessidades evidenciadas pelos próprios sujeitos do processo. A participação do adolescente na perspectiva da pró-atividade, enquanto "empreendedor social" engajado nos interesses coletivos enseja perspectivas que convergem para a condução de mudanças de comportamento.15,16 A integração entre a saúde e educação na perspectiva da promoção da saúde do adolescente pode ser ampliada quando em conjunto com outros setores, abrangendo questões que envolvem a autonomia dos indivíduos e coletividade, oportunizando a participação crítica destes atores nas decisões que envolvem suas vidas.16 Assim, torna-se salutar a organização de momentos que possibilitem o alinhamento do grupo acerca das ações do programa, de forma que os sujeitos possam expressar o que pensam e consequentemente colaborar para o andamento das ações junto a ESF, para aproximar os atores envolvidos no âmbito do PSE e de fortalecer as ações educativas em saúde para o adolescente, o que pode ser um fator impulsionador para o entendimento dos próprios adolescentes.

As equipes das ESF devem ter o papel de agentes das ações de promoção de saúde do adolescente em seu devido território, atuando ativamente nos processos de educação permanente de professores, funcionários, pais e dos próprios adolescentes escolares. Da mesma maneira, os profissionais da educação podem apoiar estas equipes na utilização e incorporação de ferramentas pedagógicas e educacionais na abordagem de educação em saúde.17 Entende-se que tanto professores e alunos, quanto profissionais da saúde passam por um processo de adaptação em relação à aproximação das instâncias saúde e educação. Acredita-se que as práticas para a efetivação das ações de educação em saúde destinadas ao público adolescente são fundamentais ao processo que conduz a mudanças de comportamento e consequentemente à promoção da saúde. Portanto, espera-se que haja uma maior aproximação entre os atores envolvidos nas ações do PSE, para atender as necessidades expressas pelos adolescentes.

Considerações finais

A perspectiva de desenvolver ações educativas em saúde para o adolescente tem sido um desafio empreendido a ESF no seu escopo de trabalho, ampliando-se nos municípios brasileiros com a criação do PSE, tendo a escola e professores como parceiros para a consolidação das ações que visam minimizar as situações de vulnerabilidade pelas quais os adolescentes possam estar expostos. O estudo evidenciou avanços no que se refere à percepção dos professores em relação à condução das ações do programa, ao se reportarem a promoção da saúde para o adolescente como algo que deve ser efetivado entre os atores envolvidos, e retrocessos quando consideraram o programa numa perspectiva assistencialista, focado apenas nas necessidades biológicas do público escolar, atribuindo as responsabilidades para a execução das ações unicamente a ESF, bem como por reportarem falta de integração para início das ações entre professores e profissionais da saúde e do desinteresse dos adolescentes, supostamente pelo desconhecimento do programa e dos objetivos.

Apresentou-se como limitação para a realização do estudo o fato de o Programa Saúde na Escola ter sido implantado há pouco mais de um ano no município em questão, o que se supõe um processo de estruturação e aproximação das instâncias saúde e educação, e ainda pela pesquisa ter sido conduzida em apenas uma escola do município. Outro fator limitante no estudo foi à escassez na literatura que enfocasse o PSE na perspectiva dos atores envolvidos que permitisse um comparativo entre o cenário estudado e o de outras realidades nos municípios brasileiros. Assim, considerando o pouco tempo da criação do programa e da adesão dos municípios, talvez demande um período para articulação entre os setores envolvidos, os quais historicamente desenvolviam suas ações isoladamente e com a proposta do PSE deve existir uma sinergia para atender as necessidades expressas em suas diferentes nuances.

Espera-se ter contribuído para o enriquecimento do conhecimento científico, proporcionando outras experiências aos atores incumbidos de desenvolver as ações educativas em saúde no âmbito deste programa e de como se encontra estruturado no cenário estudado. Assim, acredita-se que este campo apresenta-se "fértil" para o desenvolvimento de outras pesquisas.

 

REFERÊNCIAS

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