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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.3 Medellín Sep./Dec. 2015

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v33n3a04 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

doi:10.17533/udea.iee.v33n3a04

 

Fatores de risco para o câncer de próstata e aspectos motivadores e dificultadores na realização de práticas preventivas

 

Risk factors for prostate cancer, and motivational and hindering aspects in conducting preventive practices

 

Fatores de riesgo para cáncer de próstata y aspectos motivadores e dificultadores en la realización de las prácticas preventivas

 

Cássia Regina Gontijo Gomes1; Lívia Cristina Resende Izidoro2; Luciana Regina Ferreira da Mata3

 

1Enfermeira, Mestre. Doutoranda. UFSCAR, São Carlos, São Paulo, Brasil. email: crgontijo@gmail.com.

2Enfermeira, Mestre. UFSCAR, São Carlos, São Paulo, Brasil. email: liviaresende.enf@gmail.com.

3Enfermeira, Doutora. Professora, Universidade Federal de São João del Rei -UFSJ-, Divinópolis, Minas Gerais, Brasil. email: luregbh@yahoo.com.br.

 

Fecha de Recibido: Septiembre 30, 2014. Fecha de Aprobado: Septiembre 1, 2015.

 

Artículo vinculado a investigación: Fatores de risco, barreiras e fontes estimuladoras para a prevenção do câncer de próstata.

Subvenciones: Ninguna.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Gomes CRG, Izidoro LCR, Mata LRF. Risk factors for prostate cancer, and motivational and hindering aspects in conducting preventive practices. Invest Educ Enferm. 2015; 33(3): 415-423

 


RESUMO

Objetivo.Identificar os fatores de risco para o Câncer de Próstata (CP), as práticas preventivas, e os fatores dificultadores e motivadores para prevenção da doença entre trabalhadores de uma universidade pública. Metodologia. Estudo descritivo, realizado com 92 trabalhadores que responderam a um questionário auto aplicável sobre as variáveis relacionadas à caracterização sócio-demográfica e clínica, fatores de risco, fontes de informação sobre o CP, práticas relacionadas à prevenção e informações a respeito dos fatores dificultadores e motivadores para a prevenção da doença. Resultados. A maioria (95.0%) dos participantes apresentou um ou mais fatores de risco para o CP; 68.5% se submeteram à realização do exame antígeno prostático específico anualmente por solicitação da Universidade; 50.0% dos participantes nunca realizaram o exame digital retal (EDR); e a principal fonte de informação foi a imprensa (64.1%); o principal fator dificultador para realização da prevenção anual foi a falta de solicitação dos exames pelo médico e a principal motivação foi o reconhecimento da severidade da doença.Conclusão. A maioria dos participantes apresentou fatores de risco para a doença, não realiza o ERD, apresentou dificuldades para realizar a prevenção e revelou ainda não receber informações sobre a doença advinda de profissionais de saúde, o que, por conseguinte, poderia acarretar em uma bagagem errônea de informações, resultando em fatores dificultadores para práticas preventivas do CP. Desta forma, faz-se necessário que gestores de saúde e equipes multidisciplinares se empenham na saúde preventiva dos homens, a fim de iniciar práticas preventivas, e esclarecer possíveis dúvidas sobre a doença.

Palavras chave: neoplasias da próstata; prevenção e controle; trabalhadores.


ABSTRACT

Objectives.Identify risk factors for Prostate Cancer (PC), preventive practices, and hindering and motivating factors for disease prevention among workers of a public university. MethodologyA descriptive study, conducted with 92 workers who answered a self-administered questionnaire on the variables related to sociodemographic characteristics and clinical risk factors, sources of information about PC, practices related to prevention, and information on the hindering and motivating factors for prevention of the disease. Results. Most (95.0%) participants had one or more risk factors for PC; 68.5% underwent completion of the prostate-specific antigen (PSA) test annually at the request of the university; 50.0% of participants never performed the digital rectal examination (DRE); the main source of information was the media (64.1%); the main complicating factor for realization of the yearly preventive screening test was the lack of request for examination by their doctor; and the main motivating reason was recognition of the severity of the disease. Conclusion. Most participants had risk factors for the disease, do not perform the DRE, presented difficulties in carrying out prevention, and revealed they do not receive information about the disease from healthcare professionals, which could in turn lead to an erroneous understanding, resulting in hindering factors for practices to prevent PC. Thus, health care managers and multidisciplinary teams should engage in preventive health care for men in order to initiate preventive practices, and clarify any doubts about the disease.

Key words: prostatic neoplasms; prevention and control; workers.


RESUMEN

Objetivo.Identificar los factores de riesgo para Cáncer de Próstata (CP), las práticas preventivas, y los factores dificultadores y motivadores para prevención de esta enfermedad en trabajadores de una universidad pública. Metodologia. Estudio descriptivo realizado con la participación de 92 trabajadores quienes respondieron un cuestionario autoaplicado sobre variables relacionadas con la cacterización sociodemográfica y clínica, factores de riesgo, fuentes de información sobre el CP, prácticas relacionadas con la prevención e información sobre factores dificultadores y motivadores para la prevención de la enfermedad. Resultados. La mayoría (95.0%) de los participantes presentó uno o más factores de riesgo para CP; el 68.5% se ha realizado anualmente el examen de antígeno prostático específico por solicitud de la Universidad; al 50.0% nunca le han realizado el examen digital retal (EDR); la principal fuente de información sobre CP fue la impresa (64.1%). El principal factor que dificulta la realización de la prevención anual fue la falta de solicitud de los exámenes por el médico tratante; el factor de motivación más importante es el reconocimiento de la severidad de la enfermedad.Conclusión. La mayoria de los participantes presentó factores de riesgo para la enfermerdad, no realiza el EDR, presentó dificultades realizar  la prevención  o rebeló aun no recibir informaciones sobre la enfermedad de los profesionales  de la salud, por lo que podría acarrear um bagaje erróneo de conocimientos, resultando en factores dificultadores para las prácticas preventivas de CP. De esta forma, se hace necesario que los gestores de salud y los equipos multidisciplinarios se empeñen e salud preventiva de los hombres, con el fin de propiciar prácticas preventivas y aclarar posibles dudas sobre esta enfermedad.

Palabras clave: neoplasias de la próstata; prevención y control; trabajadores.


 

INTRODUÇÃO

O Câncer de Próstata (CP) ocorre quando as células prostáticas tumorais começam a se multiplicar de forma desordenada.1  Em todo o mundo, é considerado um câncer da terceira idade, pois a sua incidência é mais comum em homens com idade acima de 65 anos.2 Dados de 2014 comprovam esta afirmativa e indicam que 62% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em homens com idade a partir de 65 anos.2 Estimativa mundial realizada em 2012 indica que o CP é o segundo câncer mais comum em homens e que uma taxa aproximada de 70.0% dos casos é diagnosticada em países desenvolvidos, como Austrália, Europa Ocidental e América do Norte, onde estão concentradas as maiores taxas de incidência.2 No Brasil, as estimativas para o ano de 2014, apontam que o CP apresentou um risco estimado de aproximadamente 71 casos novos a cada 100 mil homens e ainda é esperado um aumento neste quantitativo, com aproximadamente 60% de aumento no número de casos novos até o ano de 2015. Acredita-se que esse aumento seja resultado da evolução dos métodos diagnósticos, melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento da expectativa de vida da população.2

O envelhecimento é um fator de risco bem estabelecido para a predisposição ao desenvolvimento do CP, aproximadamente 62.0% dos casos no mundo acometem homens com idade superior a 65 anos.2 Alimentação rica em gordura saturada inclusive gordura animal, alimentação pobre em fibras2-4, pouca exposição ao sol com consequente déficit de vitamina D,3 história familiar, raça/etnia também são citados como fatores de risco para a doença.2-4 Estudos apontam que homens negros são mais acometidos com o CP e possuem probabilidade 1,6 vezes maior de terem a doença do que homens brancos.4 Em relação às manifestações clínicas, em sua fase inicial, a doença geralmente apresenta-se assintomática. Com o tempo, a neoplasia desenvolve e torna-se suficientemente grande e avança sobre o colo vesical causando a obstrução urinária, o que leva à manifestação de sinais e sintomas como a dificuldade e aumento da frequência das micções, retenção urinária, e a diminuição da força do jato urinário.5 Pode também ocorrer presença de sangue ou sêmen na urina e ejaculação dolorosa.6,7 Diante deste contexto, realizar exames de detecção precoce é fundamental. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, detecção precoce compreende duas diferentes estratégias: uma destinada à pessoa que apresenta sinais e sintomas iniciais da doença (diagnóstico precoce) e aquela voltada para pessoas com a inexistência destes sinais e sintomas, aparentemente saudável (rastreamento).8

Como métodos diagnósticos para o CP, são indicados os exames retal digital (ERD) e Antígeno Prostático Específico (PSA), o ultra-som transretal, a cintilografia óssea e o estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata que deve ser indicada sempre que anormalidades ao ERD e PSA forem identificadas.A combinação de PSA e ERD é a forma diagnóstica mais utilizada para constatação de malignidade por ser mais sensível do que qualquer um dos dois individualmente.5 No Brasil, é recomendada a realização do rastreamento oportunístico, ou seja, a realização anual do ERD e a dosagem sérica do PSA em homens com 45 anos de idade com casos da doença na família ou negros e com 50 anos de idade para os demais.10 São muitos os fatores que podem interferir positivamente ou negativamente na tomada de decisão para a realização destes exames. O constrangimento de realizar o teste, a falta de informações, o medo de descobrir a doença ou das consequências secundárias do tratamento como disfunção sexual e incontinência urinária, são alguns dos aspectos que podem contribuir para a não realização do diagnóstico e do tratamento precoce. Em contrapartida, quanto maior a exposição às informações sobre a doença maior o estímulo para realização dos exames diagnósticos.11,12

Desta maneira, a enfermagem exerce papel importante ao atuar em situações cotidianas ou programadas, com intervenções educativas na perspectiva da promoção da saúde e detecção precoce de possíveis agravos. Compete ao enfermeiro fornecer orientações sobre fatores de risco e possíveis medidas de prevenção da doença, além de sensibilizar a população para a realização aos exames diagnósticos.13 Embora haja muitos estudos que busquem compreender a importância da realização dos exames diagnósticos relacionados ao CP, são poucos, até o momento, os estudos que visam conhecer os motivos para a não realização. Diante do exposto, questiona-se: quais são os fatores dificultam e os motivos para a não realização dos exames diagnósticos? O que estimula os homens para a realização dos exames diagnósticos? E ainda, quais são os fatores de risco mais observados? Deste modo, por ser o CP o segundo tipo de câncer que mais acomete os homens, considera-se importante elucidar estas questões, a fim de contribuir para discussões a respeito da prevenção do CP e fornecer dados para subsidiar a atuação do profissional de saúde. A partir dessa perspectiva, elaborou-se o presente estudo com o objetivo de identificar os fatores de risco para o CP, as práticas preventivas e os fatores dificultadores e motivadores para prevenção da doença entre trabalhadores de uma universidade pública.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de abordagem quantitativa, realizado com trabalhadores não docentes de uma universidade pública do estado de Minas Gerais, Brasil. A população do estudo foi composta por 114 homens, que corresponde a todos os trabalhadores não docentes com 45 anos ou mais. Destes, foram selecionados os trabalhadores não docentes em atividade na Universidade em estudo, excluindo dessa forma, os trabalhadores aposentados e aqueles que durante o período de coleta de dados estavam de licença saúde, férias ou afastados da instituição por qualquer outro motivo.  Assim, três homens foram excluídos por estarem aposentados, quatro por se recusarem a participar e 15 por se encontrarem afastados ou em férias. A amostra, por tanto, foi composta por 92 trabalhadores. O acesso aos 114 homens que compuseram a população deste estudo foi possível devido a uma lista com dados pessoais (nome, contato, setor alocado) fornecida pelo departamento de Recursos Humanos da universidade federal referida anteriormente.

A coleta de dados foi realizada no período de Novembro/2012 a Abril/2013 e consistiu na utilização de um instrumento de coleta de dados elaborado pelos pesquisadores, que contemplou as seguintes variáveis de interesse: caracterização sociodemográfica (idade, estado civil, etnia, renda, religião, cargo ou função); caracterização clínica (se possui o diagnóstico de CP, atual ou anterior, de outro tipo de câncer); fatores de risco apresentados; fontes de informação sobre o CP; práticas preventivas (necessidade ou não de obter informações sobre a doença; frequência de consultas com urologista; realização ou não de exames de prevenção e periodicidade); além de identificação dos fatores dificultadores e motivadores para a prevenção da doença. A análise dos dados foi realizada pelo programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 20.0 e analisados pela estatística descritiva (frequência, média e desvio padrão).        Este estudo cumpre com a resolução 466/ 12 do Conselho Nacional de ética em Pesquisa sobre Pesquisas envolvendo seres humanos, e foi aprovado pela Comissão de ética em Pesquisa da Universidade em estudo.

 

RESULTADOS

Caracterização sociodemográfica e clínica. A amostra do presente estudo foi composta por 92 participantes cuja média de idade foi de 52.7±5.2 anos, variando entre 45 e 67 anos. A renda mensal familiar média era de 4 276±3.4 reais. Em relação à cor da pele, 68.5% se declarou da cor branca. Quanto à religião, 46.7% relataram ser católicos praticantes.  No tocante à situação conjugal, 67.4% eram casados ou viviam em união consensual e destes 57.6% declararam realizar o exame de PSA e 37.0% realizavam o EDR. Constatou-se que 56,5% dos homens viviam com esposa e filhos. A escolaridade média foi de 13.5± 4.34anos.  As características clínicas permitiram identificar que 90 (97.8%) participantes não possuíam o diagnóstico atual ou anterior, sendo que dois (2.2%) foram diagnosticados com CP e realizavam anualmente o exame sanguíneo de PSA e declaram já ter feito uma única vez o EDR. Em relação a ter o diagnóstico atual ou anterior de outro tipo de câncer, todos participantes declararam não possuir o diagnóstico. Dentre estes, declararam realizar anualmente o PSA (n= 78 / 84.8%) e fazer o EDR (n= 46 / 50.0%).

Tabela 1.

Fatores de risco para o CP. Para a presença de fatores de risco para o CP, identificou-se que 87 (94.6%) participantes apresentavam um ou mais fatores, sendo os principais: idade acima de 50 anos (n= 65/ 70.7%) e dieta rica em gordura saturada (n=18/ 19.6%), seguidos de história de câncer na família (pai ou irmão) (n=17/ 18.5%), pouca exposição ao sol (n=17/ 18.5%), tabagismo (n=16/ 17.4%) e dieta pobre em fibras, vegetais, frutas e/ou grãos (n=15/ 16.3%)

Fontes de informação sobre o CP. A maioria dos participantes 89 (96.7%) declarou que já obteve informações sobre a doença através de uma ou mais fontes. Contudo, três (3.3%) participantes relataram que nunca foram informados sobre este tipo de câncer. As fontes que mais informaram aos participantes foram respectivamente televisão ou rádio (59, 64.1%), jornais e revistas: (47, 51.1 %) e consulta médica ao urologista (46, 50.0%), seguidos de amigos  (35,  38.0%), internet 27 (29.3%), e por fim, enfermeiros ou outros profissionais de saúde (21, 22.8%). é válido salientar que o instrumento permitiu que o participante identificasse mais de uma fonte na qual o mesmo já obteve informações sobre o CP. Quando questionados sobre a necessidade de obter mais informações sobre o CP 55 (59.8%) participantes relataram que isto se fazia necessário e 37 (40.2 %) disseram que não consideravam esta necessidade.

Práticas relacionadas à prevenção do CP. Em relação à frequência de visitas ao médico urologista a fim de realizar a avaliação períodica 45 (48.9%) participantes declararam que vão anualmente, 16 (17.4%) nunca foram, 15 (16.3%) foram só uma vez, 13 (14.1%) vão a cada dois anos ou mais e três (3.3%) só vão ao médico urologista se sentem que algo está errado. No que tange à frequência da realização do exame sanguineo de PSA, 78 (84.8%) homens realizam o PSA anualmente, sete (7.6%) realizam a cada dois anos ou mais, cinco (5.4%) só fizeram o exame uma vez e dois (2.2%) participantes declararam que nunca realizaram. Quanto à frequência da realização do exame de toque retal, 46 (50.0%) dos homens nunca realizaram, 24 (26.1%) realizam anualmente, 14 (15.2%) disseram ter realizado o exame uma única vez e oito (8.7%) participantes declararam realizar o exame a cada dois anos ou mais.

Fatores dificultadores e motivos para a não realizaçào dos exames de prevenção do CP. A maioria dos participantes (67/72.8%) afirmou apresentar dificuldades para a não realização da prevenção da doença, sendo os principais fatores: a não solicitação do exame pelo médico (48.1 %), ausência de histórico familiar da doença (37.7%) e ausência de sintomas relacionados à doença (31.2%).

Tabela 2.

Fatores motivadores e conscientização quanto a importância de realizaçào dos exames de prevenção do CP. Identificou-se que 25 (27.2%) homens se sentem motivados para a prevenção e conscientes quanto à importância de realizar exames diagnósticos. Destacam-se, respectivamente, como principais fatores motivadores e de conscientização: facilidade de acesso ao serviço de saúde (96.0%), reconhecimento dos benefícios em realizar os exames precocemente (92.0%) e reconhecimento da severidade da doença (64.0%).

Tabela 3.

DISCUSSÃO

Diversos fatores de risco têm sido apontados como determinantes para o aumento da incidência do CP. O presente estudo apontou que a maioria dos participantes (70.7%) possui idade acima de 50 anos, 19.6% mencionaram ingerir dieta rica em gordura saturada e 18.5% possuíam histórico de CP na família. A idade é um fator de risco importante para o CP, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos.9 De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde responsável pela prevenção e controle do câncer no Brasil, uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco do CP. Nesse sentido, outros hábitos saudáveis também são recomendados como fazer no mínimo 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar.1 Pai ou irmão com CP antes dos 60 anos tem três a 10 vezes maior risco de ter a doença quando comparado à população em geral, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias.9

<>Autores defendem que na presença de fatores de risco, osprofissionais de saúde devem adotar estratégias de prevenção de carater primário frente à população masculina com intervenções voltadas a individuos saudavéis.14 No que tange às fontes de informação sobre o CP, a maioria dos participantes declarou que já obteve informações, primeiramente por meio da imprensa (televisão ou rádio), seguido de jornais ou revistas e consulta médica ao urologista. O enfermeiro e outros profissionais de saúde foram referidos por apenas 22.8% dos entrevistados. Apesar do poder que a informação assume na prevenção do CP, faz-se necessário observar que nem sempre a informação resulta em prevenção.3 Estudo brasileiro corrobora com essa afirmativa ao concluir que 20.7% dos professores-médicos de uma universidade, mesmo tendo acesso fácil à informação e aos serviços de diagnóstico clínico e complementar, nunca realizaram práticas preventivas para CP.15

Diferentemente desse caso que coloca em questão a despreocupação de homens escolarizados e de alta renda em relação à prevenção do CP, um estudo colombiano realizado em 2005, identificou que a desinformação atinge com maior intensidade a população masculina com menor nível de escolaridade e poder socioeconômico, demandando ações educativas voltadas, principalmente, para este grupo.16 Já no presente estudo, os participantes têm situação socioeconômica favorável, com renda mensal média de 4.276 reais e a maioria não realiza os exames de rastreamento e prevenção. Pesquisa brasileira de 2006 identificou que a falta de informações sobre o exame de EDR foi um dos motivos mais citados pelos participantes para não realização.11 Portanto, ressalta-se a importância de campanhas educativas e desenvolvimento de atividades com os profissionais de saúde, como elaboração de materiais ilustrativos e educativos que facilitem a compreensão e conscientização do público alvo.17

No presente estudo constatou-se que 84.8% dos participantes realizam o exame sanguineo de PSA anualmente e 50.0% nunca realizaram o exame de toque retal.Frente a estes dados o questionamento que perpassa relaciona-se aos motivos pelos quais o homem realiza ou não os exames de rastreamento e prevenção do CP.Também foi constatado que 48.1% dos participantes não realizam o PSA e EDR por falta de solicitação do exame pelo médico, 37.7% não o fazem porque relatam não ter histórico familiar da doença e 31.2% dos participantes mencionaram que não realizam a prevenção por ausência de sintomas relacionados à doença. Em concordância com estes achados um estudo qualitativo identificou que as maiores dificuldades relatadas pelos homens para a não realização dos exames foram a falta de informação sobre o exame de toque retal e PSA, resistência do profissional de saúde quanto à solicitação dos exames de PSA e EDR, o preconceito e o sentimento de vergonha ao se submeter ao exame de toque retal.10Pesquisadores americanos afirmam que falta de acesso aos cuidados de saúde, situação socioeconômica, conhecimento inadequado, medo, comunicação médico-paciente, desconfiança da profissão médica e aversão ao exame de toque retal são possíveis barreiras para o rastreio do CP.18

O imaginário de ser homem pode aprisionar o masculino em crenças culturais, dificultando a adoção de práticas de autocuidado, haja vista que à medida que o homem é visto como viril,  invulnerável e forte, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança; o que implicaria possivelmente desconfianças acerca dessa masculinidade socialmente instituída.Um outro ponto importante que reforça a baixa procura dos homens por serviços de saúde seria o medo da descoberta de uma doença grave,  ao considerar  o não saber como fator de "proteção".  A vergonha da exposição do corpo perante o profissional de saúde, principalmente a região anal, no caso da prevenção ao CP também é considerado um fator dificultador para a procura pelo profissional de saúde.19

No que se refere à motivação para realização anual do PSA e EDR, menos da metade dos participantes se sentem motivados a realizá-los. Este achado é preocupante e deve ser considerado nas estratégias de prevenção e promoção da saúde entre os homens.19 Os dados apontam que o reconhecimento da severidade da doença, os benefícios em realizar os exames precocemente e a preocupação com o CP são os principais aspectos que conscientizam o homem da importância da prevenção anual. Por meio de informações os homens reconhecem os sinais e sintomas que sentem e os relacionam com a necessidade de ir ao urologista. A bagagem de conhecimento retido pelo indivíduo sobre o CP é considerado um incentivo na procura do exame.10 Uma publicação norte-americana destaca que o cuidado do homem com a próstata começa quando os indivíduos se conscientizam sobre as alterações potenciais para a saúde que podem afetar a próstata.20 Assim, uma estratégia de prevenção é a disponibilização de informações sobre a saúde da próstata para adolescentes. Esta consciência educacional precoce deve informar os jovens sobre quaisquer sinais ou sintomas indicativos de alteração prostática, salientando também a importância de evitar os fatores de risco e de manter um estilo de vida saudável.20

Um estudo realizado em 2008 que teve como objetivo explorar as causas da alta incidência e mortalidade por CP entre homens afro-americanos, concluiu que pesquisadores, profissionais de saúde e políticos precisam firmar um forte compromisso com a promoção da saúde e a utilização de serviços para redução destes números. é necessário disponibilidade de recursos para o avanço de pesquisa e apropriados programas de educação para atender essa população.18

A maioria dos participantes apresentou fatores de risco para a doença, não realizava o ERD, apresentou dificuldades para realizar a prevenção e revelou ainda não receber informações sobre a doença advinda de profissionais de saúde, o que, por conseguinte, poderia acarretar em uma bagagem errônea de informações, resultando em fatores dificultadores para práticas preventivas do CP. Notou-se também que os profissionais de saúde não são os principais divulgadores da prevenção e sim a imprensa. Os achados deste estudo pretendem chamar a atenção da equipe multidisciplinar em relação à saúde preventiva dos homens. é de suma importância estender as ações na atenção primária à população masculina, atentar e verificar se os usuários possuem idade e fatores hereditários que os classifiquem para iniciar os exames de detecção. Também nos consultórios médicos a informação sobre o CP deve estar presente. Todos os profissionais devem se capacitar para esclarecer as dúvidas que permeiam o imaginário do homem, principalmente no que tange à masculinidade. Sugere-se que programas de informação e prevenção do CP devam ser elaborados pelos gestores de saúde, uma vez que o principal fator estimulador para realização dos exames anuais de prevenção foi a conscientização do homem em relação à severidade da doença.

 

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