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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.33 no.3 Medellín Sep./Dec. 2015

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v33n3a15 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

doi:10.17533/udea.iee.v33n3a15

 

Diagnóstico de Enfermagem excesso de peso e fatores relacionados em adolescentes

 

Nursing Diagnosis of overweight and related factors in adolescents

 

Diagnóstico de Enfermería de sobrepeso en adolescentes y factores relacionados

 

Caroline Evelin Nascimento Kluczynik Vieira1; Bertha Cruz Enders2; Alexsandro Silva Coura3; Ana Luisa Brandão de Carvalho Lira4; Carla Campos Muniz Medeiros5; Larissa Soares Mariz6

 

1Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. email: carolinekluczynik@gmail.com.

2Enfermeira, Doutora. Professora, UFRN. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. email: berthacruz.enders@gmail.com.

3Enfermeiro, Doutor. Professor, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB. Campina Grande, Paraíba, Brasil. email: alexcoura_@hotmail.com.

4Enfermeira, Doutora. Professora, UFRN. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. email: analuisa_brandao@yahoo.com.br.

5Médica Endocrinologista/Pediatra, Doutora. Professora, UEPB. Campina Grande, Paraíba, Brasil. email: carlamunizmedeiros@hotmail.com.

6Enfermeira, Doutoranda. UFRN. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. email: larissamariz@gmail.com.

 

Fecha de Recibido: Febrero 11, 2015. Fecha de Aprobado: XX, 2015.

 

Artículo vinculado a investigación: Ninguno.

Subvenciones: Estudo financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), através de bolsa de doutorado.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Vieira CENK, Enders BC, Coura AS, Lira ALBC, Medeiros CCM, Mariz LS. Nursing Diagnosis of overweight and related factors in adolescents. Invest Educ Enferm. 2015; 33(3):509-518

 


RESUMO

Objetivo.Comparar os fatores relacionados ao diagnóstico de enfermagem (DE) excesso de peso em adolescentes com e sem excesso de peso. Metodologia. Estudo transversal, realizado em 2013 com 347 adolescentes de escolas públicas de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, eles responderam um formulário e foram submetidos a medição de peso e altura. Os participantes foram divididos em dois grupos: sem excesso de peso (n=247) e com excesso de peso (n=100). Resultados. A prevalência de adolescentes com o DE excesso de peso foi 28.8%. Ambos os grupos apresentaram frequências insatisfatórias de atividade física e consumo de alimentos saudáveis. O grupo com o DE excesso de peso apresentou maior chance de consumir guloseimas e frituras, e de ter história familiar de doenças no coração, rins e diabetes. Conclusão. A alta prevalência do DE excesso de peso e os fatores relacionados a alimentação e a história familiar de doenças em adolescentes de escolas públicas de Natal é um alerta para a enfermagem, que deve estabelecer ações de prevenção e acompanhamento dessa população.

Palavras chave: enfermagem; adolescente; sobrepeso.


ABSTRACT

Objectives. The objective of the study was to compare the related factors to the nursing diagnosis (ND) of overweight in adolescents with and without overweight. Methodology. Transversal study conducted in 2013 with 347 adolescents that attended public schools in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil, answered a questionnaire and had anthroprometric evaluation. The subjects were divided into two groups, the group without ND (n=247) and the group with ND (n=100). Results. The prevalence of adolescents with ND overweight was 28.8%. The groups presented an unsatisfactory frequency of physical activity and a low consumption of healthy foods. The group with the ND overweight showed greater chance of consuming sweets and fried foods. The group with ND overweight had higher frequency of history family of illnesses. Conclusion. The prevalence of the ND overweight among adolescents in the public schools of Natal constitute a relevant nutritional deviance and the associated factors diet and family history disease are an alert for nursing in activities of prevention  and follow-up for this population.

Key words: nursing; adolescent; overweight.


RESUMEN

Objetivo.Comparar los factores relacionados con el diagnóstico de enfermería (DE) exceso de peso en adolescentes con y sin exceso de peso. Metodología. Estudio transversal que se llevó a cabo en 2013 con 347 adolescentes de escuelas públicas en Natal, Rio Grande do Norte, Brasil quienes respondieron un cuestionario y a quienes se les tomó el peso y la talla. Los sujetos fueron divididos en dos grupos: sin exceso de peso (n=247) y con exceso de peso (n=100). Resultados. La prevalencia de adolescentes con DE exceso de peso fue 28.8%. Ambos grupos tienen frecuencias inadecuadas de actividad física y de consumo de alimentos saludables. Además el grupo con DE exceso de peso tiene un riesgo mayor de consumir golosinas y comidas fritas: además, tienen antecedentes familiares de enfermedades del corazón, riñón o diabetes. Conclusión. La alta prevalencia de DE exceso de peso y de factores asociados con la alimentación y la herencia en adolescentes de las escuelas públicas de Natal es un gran reto para enfermería, ya que debe establecer acciones de prevención y acompañamiento de esta población.

Palabras clave: enfermería; adolescente; sobrepeso.


 

INTRODUÇÃO

Adolescência é a faixa etária que apresenta o período cronológico entre os 10 e os 19 anos.1 O cuidado à saúde dessa população constitui um desafio, por ela buscar os serviços apenas quando está doente, e pelas formas de organização dos serviços, que, especialmente na Atenção Primária em Saúde (APS), têm desenvolvido poucas atividades específicas para essa faixa etária.2  No Brasil, em 1989 houve a criação do Programa Saúde do Adolescente, com ênfase no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento.3 Na atualidade, é destacado o risco para o excesso de peso,4 o que aumenta as chances de desenvolver doenças cardiovasculares, principais causas de morte no mundo.5

Todavia, o enfermeiro da APS, um dos responsáveis pelo acompanhamento do crescimento, apresenta dificuldade para atender a essas necessidades, tais como: não ter um local adequado para realizar as consultas; sobrecarga de atividades; não é rotina a consulta de enfermagem a todas as crianças e adolescentes da área adscrita; falta de experiência na área de saúde coletiva e na aplicação da sistematização da assistência de enfermagem, o que resulta em ações pouco resolutivas.6 Com o intuito de minimizar esse problema, foi lançado, em 2008, o Programa Saúde na Escola (PSE). Sua primeira meta consistiu na avaliação das condições de saúde dos adolescentes, por meio da classificação do estado nutricional e identificação precoce de hipertensão e diabetes. Nesse programa é responsabilidade da unidade básica de saúde que tenha em seu território escolas públicas desenvolver essa avaliação dos alunos.7

Essa problemática engloba a prática de enfermagem, tendo em vista que o excesso de peso é um Diagnóstico de Enfermagem (DE), segundo a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE), cujo foco é: peso comprometido, condição de elevado peso e massa corporal, desencadeado pelo aumento no número e volume das células de gordura, associado à ingestão excessiva de nutrientes e falta de exercício físico.8 Apesar desse contexto apresentado, crescente prevalência e das possibilidades de sucesso das ações desenvolvidas na APS, ainda não é rotina a triagem para identificação de adolescentes com esse DE.9 Para a CIPE®, como evidenciado pela própria descrição do diagnóstico, os fatores relacionados limitam-se à ingestão alimentar em excesso e falta de exercício físico, assim, considerou-se relevante identificar quais alimentos ingeridos em excesso têm desencadeado o DE, confirmar se o exercício físico está relacionado e identificar se o componente familiar tem influência no desfecho do DE.

Justifica-se o estudo, devido às dificuldades enfrentadas por enfermeiros no cuidado a essa população e à necessidade de identificar os fatores relacionados, para assim facilitar a atividade do enfermeiro no planejamento de sua assistência, ao considerar a multicausalidade desse DE. Além da possibilidade de avançar no conhecimento sobre excesso de peso em adolescentes, o qual está inserido na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde.10  Como forma de buscar resposta para a magnitude desse problema e identificar os fatores relacionados, a fim de contribuir com o planejamento dos cuidados de enfermagem, implementação e acompanhamento, como proposto pelo PSE, indagou-se: Qual a prevalência do DE excesso de peso em adolescentes? Quais os fatores relacionados? Ao partir do pressuposto de que a adolescência é um período crítico para o desenvolvimento do excesso de peso, devido aos fatores condicionantes de atividades de lazer sedentárias e práticas alimentares inadequadas, além do fator determinante da história familiar de excesso de peso e doenças relacionadas,4 o presente estudo objetivou comparar os fatores relacionados ao DE excesso de peso em adolescentes com e sem peso corporal excessivo.

 

METODOLOGIA

Estudo transversal, analítico, desenvolvido entre março e junho de 2013, com adolescentes estudantes de escolas estaduais de Natal, Rio grande do Norte (RN), Brasil. Para o cálculo amostral, considerou-se: o valor de 16.5%, que representa a prevalência de adolescentes com excesso de peso no Nordeste do Brasil;11 a população de 27 377 adolescentes matriculados na rede estadual de ensino do município de Natal;12 e o limite de erro, que satisfez 0.95. O n amostral obtido foi de 211, sendo aplicada a multiplicação pela constante de correção de 1.5 pela amostragem com estratificação, resultando no n=316. Em seguida, esse valor foi corrigido em 10% para minizar eventuais perdas na operacionalização da coleta. Portanto, a amostra foi composta por 347 adolescentes. Esse total foi estratificado, proporcionalmente, pelas zonas distritais, o que resultou em quatro subamostras:96 da zona Norte, 70 da Oeste, 104 da Leste e 77 da Sul.

Para seleção dos adolescentes, inicialmente foram sorteadas duas escolas de cada zona, totalizando oito escolas participantes. O número da subamostra de cada zona foi dividido nas duas escolas; em cada uma delas, uma turma foi sorteada entre as turmas disponíveis do 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio; todos os alunos da turma sorteada foram convidados a participar, momento em que se entregou o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido para apresentação aos pais. Não atingindo o número pré-estabelecido em cada escola, uma segunda turma era sorteada; excedendo o número de alunos, era admitido à pesquisa apenas o equivalente ao calculado na amostra.

Os critérios de inclusão foram ter entre 12 e 18 anos e estar matriculado em escolas estaduais da cidade do estudo. Os critérios de exclusão foram não comparecer no período de coleta de dados e estar com baixo pesoou muito baixo peso no momento da coleta, pois a inclusão desses poderia comprometer as comparações entre os grupos. Os adolescentes foram submetidos à antropometria e responderam um formulário com questões sobre dados socioeconômicos, prática de atividade física, hábitos alimentares e história familiar de obesidade e doenças associadas. Esse formulário foi submetido a validação de conteúdo por especialistas que foram selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade: ser doutor ou mestre cuja tese/dissertação versasse sobre excesso de peso em adolescentes e ter publicações em periódicos da área da enfermagem. A busca se realizou via Plataforma Lattes, resultando numa amostra intencional de quinze especialistas, os quais foram contatados via e-mail, sendo a amostra final composta pelos cinco que confirmaram participação. A antropometria foi realizada por uma enfermeira e duas graduandas de enfermagem treinadas, sendo o valor considerado a média de duas mensurações. Para o peso, utilizou-se a balança digital com bioimpedância da marca Beurer®, com os adolescentes descalços, roupas leves e posicionados no centro da plataforma. A estatura foi medida por estadiômetro portátil da marca WCS®, com os adolescentes descalços, em posição ortostática, braços ao longo do corpo, pés unidos, joelhos esticados, cabeça orientada no plano horizontal de Frankfurt, após inspiração profunda.13

Os fatores relacionados ao DE excesso de peso foram definidos com base na CIPE®: falta de exercício físico e hábitos alimentares inadequados, por ingestão excessiva de nutrientes.8 Para contemplar o componente familiar, conforme defende a Sociedade Brasileira de Cardiologia, considerou-se também o fator relacionado à história familiar de obesidade e doenças associadas.14 Os dados foram tabulados e analisados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®) 19.0 por meio dos testes de Qui-quadrado e odds ratio, considerando: um nível de significância de 5% (p<0,05) para determinar os fatores relacionados ao excesso de peso.

Os participantes tiveram o estado nutricional classificado em índice de massa corporal por idade e sexo com base no escore Z: muito baixo peso (< -3), baixo peso (≥ -3 e < -2), eutrófico (≥ -2 e ≤ +1), sobrepeso (> +1 e ≤ +2) e obesidade (> + 2).15  O DE em análise foi determinado pela presença de excesso de peso: sobrepeso ou obesidade.8 A partir disso, a amostra foi dividida em dois grupos, com e sem o DE excesso de peso, e os fatores de prática de atividade física, hábitos alimentares e história familiar de doenças foram investigados nos grupos. Consideraram-se os critérios para atividade física e hábitos alimentares utilizados pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), a fim de comparar os achados do presente estudo, uma vez que na PENSE participaram adolescentes do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares das capitais brasileiras e do Distrito Federal, ou seja, população com perfil semelhante ao do presente estudo.16  Assim, classificaram-se os adolescentes quanto à atividade física em dois grupos: ativos (escolares que acumularam o valor maior ou igual a 300 minutos de atividade física por semana) e insuficientemente ativos (escolares que afirmaram ter praticado menos do que 300 minutos de atividade física por semana). Utilizou-se o indicador de atividade física acumulada nos últimos sete dias, referente a três diferentes domínios: deslocamento para a escola, aulas de educação física e outras atividades físicas extraescolares.

Para mensurar o hábito alimentar, forneceu-se uma lista com alimentos marcadores de alimentação saudável e não saudável, e eles responderam quantas vezes os consumiram nos últimos sete dias. Para os alimentos saudáveis foi considerado satisfatório o consumo ≥ cincodias na semana. Para os alimentos marcadores de alimentação não saudável, considerou-se como satisfatório o consumo inferior a duas vezes por semana. Sobre a história de doença familiar, tendo como referência os parentes de primeiro grau (pais, irmãos, tios e avós), os adolescentes responderam se na sua família havia história das seguintes doenças e/ou problemas de saúde: diabetes, hipertensão, obesidade, doença no coração e doença nos rins. A presença dessas doenças na família é considerada fator de risco para doenças cardiovasculares.14

O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil, Certificado de Apresentação para Apreciação ética (CAAE) no 10200812.0.0000.5537 e respeitando as normas de pesquisas com seres humanos da resolução 466 de 2012. A participação dos adolescentes ocorreu após consentimento dos pais e assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido.

 

RESULTADOS

Dentre os 347 participantes, prevaleceu a participação do sexo feminino (72%), não-brancos (pardos e negros) (73.6%), com renda familiar de até dois salários mínimos mensais (considerou-se o valor de referência para o salário mínimo em março de 2013, de R$ 678) (76.8%), morando com quatro a sete pessoas (69.1%) e escolaridade materna de Ensino Fundamental incompleto (32.5%).Na formação dos grupos de interesse, 100 fizeram parte do grupo de adolescentes com o DE excesso de peso, porque na classificação do estado nutricional eles foram enquadrados como com sobrepeso (20.4%) ou obesidade (8.4%), o que representou 28.8% da amostra. Os 247 adolescentes restantes formaram o grupo de comparação, ou seja, sem o DE, uma vez que não apresentaram alteração nutricional.

No que se refere à análise da associação entre atividade física acumulada e o DE excesso de peso, conforme apresentado na (Tabela 1), não foi observada diferença significativa nas frequências. Destacaram-se discretamente os adolescentes com o DE, pois a metade deles foi classificada como atividade física acumulada satisfatória, porque afirmaram ter realizado no mínimo 300 minutos nos últimos sete dias.

Tabela 1.

No que se refere ao consumo de produtos classificados como marcadores de alimentação saudável, ao comparar os dois grupos, observou-se que não houve associação. Mas, constatou-se que a maior parte dos adolescentes, de modo geral, afirmou consumir insatisfatoriamente os seguintes produtos: frutas, legumes e verduras. Apenas o consumo de feijão foi satisfatório nos dois grupos, conforme a (Tabela 2).

Tabela 2.

Sobre os produtos marcadores de alimentação não saudável, verificou-se associação nos grupos para os seguintes alimentos: guloseimas e frituras. As frequências de consumo no grupo com o DE excesso de peso foram superiores quando comparadas ao outro grupo. Constatou-se que os adolescentes com o DE excesso de peso apresentavam maior chance de consumir guloseimas e fritura. Destacou-se, ainda, o consumo elevado de embutidos e refrigerante em ambos os grupos (Tabela 3).

Tabela 3.

Por fim, conforme consta na (Tabela 4), houve associação entre ter o DE excesso de peso e as seguintes doenças familiares: diabetes, hipertensão e obesidade. O grupo com o DE apresentou as frequências mais elevadas na presença dessas doenças na família. Esse grupo tinha 1.63 vez mais chances de possuir familiar com diabetes; 2.77 para hipertensão; e 2.47 para obesidade.

Tabela 4.

DISCUSSÃO

A prevalência do DE excesso de peso foi de 28.8% na população deste estudo. Resultado superior ao indicado pela pesquisa de orçamentos familiares realizada com famílias de todas as capitais brasileiras cuja média entre os adolescentes nordestinos foi 16.5.11 Outra pesquisa realizada com escolares de todas as capitais brasileiras identificou prevalência de 18,5% de adolescentes com excesso de peso nas capitais nordestinas.16 A alta prevalência identificada no presente estudo foi semelhante à apresentada por crianças e adolescentes norte-americanas. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos analisou o estado nutricional de 4.111 participantes de 0 aos 19 anos de idade, e concluiu que 31.8% tinham excesso de peso ou obesidade e que estes eram os desvios nutricionais mais prevalentes.17

Outro estudo, realizado em Gana, com crianças e adolescentes de seis a 12 anos, identificou prevalência de 9.8% para sobrepeso e 7.5% para obesidade, com associação a estudo em escola particular, maior escolaridade materna, acesso a jogos computacionais, e comer em lanchonetes.18 Os participantes do presente estudo são de escolas públicas e apresentaram frequência superior de excesso de peso. Sobre os dados socioeconômicos, prevaleceu a participação do sexo feminino, pardos ou negros, com renda familiar de até dois salários mínimos, morando com quatro a sete pessoas e com escolaridade materna de Ensino Fundamental incompleto. Outros estudos identificaram resultados semelhantes, com estudantes do sexo feminino sendo a maioria nas escolas públicas. Além disso, os demais dados apontam as características esperadas na parcela menos favorecida economicamente. Entretanto, independentemente do nível econômico, é necessário prevenir e intervir sobre esse DE.4,19

No que se refere aos aspectos relacionados ao DE excesso de peso,no fator prática de atividade física, a maior parte dos adolescentes afirmou não se exercitar na frequência recomendada. Entretanto, uma pesquisa realizada com 5.613 adolescentes de Gana e Uganda concluiu que, independente do estado nutricional, os adolescentes praticavam pouca atividade física e não houve associação com o excesso de peso.20

A PENSE identificou resultados semelhantes ao do presente estudo, pois sua pesquisa indicou que, em Natal, 51.6% dos escolares entrevistados praticaram pelo menos 300 minutos de atividades físicas na semana em que foi realizada a entrevista.16 Tal resultado difere de estudo realizado com 393 escolares de Santa Catarina, no qual foi evidenciada a baixa adesão a prática regular de atividade física, com forte associação com o IMC. Os escolares que frequentavam pelo menos três vezes por semana as aulas de educação física eram, em sua maioria, eutróficos.19Cabe nesse ponto considerar que, nas escolas estaduais que participaram dessa investigação, esperava-se uma frequência maior da prática de atividade física, apesar da inexistência de local apropriado para realizar tais atividades ou de ambientes em péssimo estado de conservação, bem como da falta de professores.

Destaca-se que a prática regular de atividade física, isoladamente, não é fator determinante para prevenção do excesso de peso, sendo necessário analisar outros fatores, tais como os hábitos alimentares. Os participantes afirmaram consumir satisfatoriamente feijão, e insatisfatoriamente frutas, legumes e verduras, semelhante aos resultados da PENSE, em que 69.9% afirmaram consumir satisfatoriamente feijão, 43.4%, hortaliças, e 30.2%, frutas.16 Portanto, ao considerar a relação dos hábitos alimentares, verificou-se que os adolescentes de modo geral não consumiam satisfatoriamente os alimentos saudáveis. E os adolescentes com o DE excesso de peso obtiveram frequências maiores no consumo de alimentos não saudáveis: guloseimas e frituras. Essa realidade está relacionada, principalmente, com o consumo de alimentos no ambiente escolar, local onde os adolescentes passam boa parte dos seus dias. Esse cenário pode ser modificado por meio do desenvolvimento de programas de alimentação saudável na escola.21

Os resultados do presente estudo corroboram com pesquisa realizada com 255 crianças e adolescentes do interior da Paraíba, Brasil, a qual concluiu que os mais jovens compreendem os males dos alimentos de risco e os benefícios dos alimentos protetores, mas não diminuem o consumo dos alimentos de risco e nem tão pouco consomem os alimentos protetores satisfatoriamente.22 Destaca-se que, apesar do consumo de alimentos saudáveis ser predominantemente insatisfatório, e a prática de atividade física ser abaixo do preconizado para metade da amostra, essas variáveis não apresentaram associaçãocom o DE excesso de peso. Assim, considera-se necessário avaliar outros fatores associados ao DE, como a história familiar de doenças.

Ao analisar a história familiar de obesidade e doenças relacionadas, identificou-se que os adolescentes com o DE excesso de peso apresentaram maior chance de ter parentes com as seguintes doenças: diabetes, hipertensão e obesidade. Portanto, o enfermeiro deve planejar uma estratégia de intervenção, considerando o núcleo familiar, pois apesar de ser mais complexo, o cuidado integrado com a família é fundamental.23 Para prevenir ou intervir sobre o DE excesso de peso em adolescentes, sugere-se que a enfermagem seja mediadora entre o serviço de saúde, a escola e a família,22 considereos fatores relacionados à prática regular de atividade física, hábitos alimentares e história familiar de doenças relacionadas.

Assim, são primordiais as seguintes intervenções de enfermagem: orientar quanto aos hábitos alimentares; sensibilizar a família e escola sobre a importância da prevenção; informar adolescente/família/escola sobre a doença, suas causas e consequências; fazer acompanhamento; fazer antropometria; incentivar exercícios físicos; avaliar o estado psicossocial; analisar aparecimento de doenças oportunistas; encaminhar para especialista quando o quadro persistir ou se identificar piora.22 Com a assistência de enfermagem a tendência é a mudança de hábitos, mesmo que não se consiga cumprir todas as orientações. Sugere-se elogiar desde as pequenas mudanças, como, por exemplo, trocar salgadinhos por frutas no lanche da escola. O tratamento é longo, por isso a prevenção deve ser incentivada na APS, a fim de contribuir na construção de uma população mais saudável.24

Este estudo avança no conhecimento ao apresentar que há um DE para o enfrentamento do excesso de peso, e que esse problema incide também na parcela mais jovem e financeiramente menos favorecida. Apresentaram-se os fatores relacionados e as respectivas características investigadas. Esse conjunto de informações pode contribuir para a sensibilização do enfermeiro quanto à sua responsabilidade no atendimento a essa clientela e no planejamento das ações. Outrossim, o DE contido na CIPE® relaciona o excesso de peso exclusivamente à ingestão excessiva de alimentos e atividade física inadequada.8 Nesse aspecto, esta pesquisa indicou associação apenas para consumo de alimentos não saudáveis e história familiar de obesidade e doenças relacionadas. O avanço no conhecimento deste DE está na necessidade de inclusão da história pregressa de doenças na família aos fatores relacionados. Para que, assim, o enfermeiro inclua o núcleo familiar nas atividades de intervenção. Outro aspecto relevante foi a identificação de baixo consumo de alimentos saudáveis nos dois grupos, o que pode alertar sobre a necessidade de orientações alimentares, especialmente na APS.

Ao buscar um DE para esse problema na NANDA-I se encontrou o seguinte: Nutrição desequilibrada mais do que as necessidades corporais, tendo apenas a má alimentação como fator relacionado ao excesso de peso.25 O que pode ter influenciado os estudos consultados, desenvolvidos por enfermeiros, os quais apresentaram o objetivo de identificar os fatores relacionados ao excesso de peso e que não contemplaram, em um único estudo, todos os aspectos aqui analisados.9,19,23,26  Por fim, identificar os fatores relacionados colabora na mensuração rápida, de fácil compreensão, útil na identificação do DE excesso de peso, com possibilidade de impactar na qualidade do processo de enfermagem para essa demanda. é ainda relevante superar o desafio de sistematizar a assistência de enfermagem na APS, com desenvolvimento de atividades também no ambiente escolar, para assim ser possível direcionar práticas mais efetivas da enfermagem e oferecer melhor qualidade na assistência aos adolescentes.

Assim, para a população de Natal, este DE pode ser considerado um relevante desvio nutricional. E, consumir em maior frequência produtos marcadores de alimentação não saudável e apresentar história familiar de obesidade, hipertensão e diabetes estiveram associados à identificação do DE excesso de peso entre os adolescentes analisados.  A prevalência do DE encontrada nos adolescentes constitui um alerta para as equipes de enfermagem na APS para programarem medidas de prevenção e acompanhamento periódico. é importante que os adolescentes, pais e educadores se apropriem desse conhecimento, para promover mudança nos fatores modificáveis, e alertar quanto aos fatores não modificáveis, o que pode contribuir na sensibilização e adesão aos hábitos de vida mais saudáveis. Portanto, a atuação da enfermagem de forma eficiente sobre esse DE, na APS, será um veículo transformador da sociedade, na medida em que contribui para a construção de uma população mais saudável.

O fato de a coleta de dados ter ocorrido apenas em escolas públicas estaduais não permitiu comparar as variáveis com uma população de adolescentes com condição socioeconômica diferente. Considera-se, também, que o foco nos fatores associados constitui uma limitação do estudo>, haja vista que não há possibilidade de estabelecer relações de causalidade entre as variáveis analisadas, conhecimento esse que subsidiaria fortemente o DE excesso de peso.Nesse sentido, as inferências das associações aqui observadas devem ser efetuadas com cautela. Por isso, sugere-se o desenvolvimento de estudos futuros de tendência temporal, a serem realizados com essa amostra, em outras regiões do país e em outros países, para confirmar os fatores relacionados ao DE ora apresentados, de forma que subsidiem a reformulação do foco do DE excesso de peso contido na CIPE®.

 

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