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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.34 no.1 Medellín Jan./Apr. 2016

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n1a19 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

doi:10.17533/udea.iee.v34n1a19

 

Análise de vídeos do YouTube sobre a técnica de cateterismo urinário de demora masculino

 

Analysis of YouTube videos about urinary catheterization technique of male delay

 

Análisis de los vídeos en YouTube sobre la técnica de cateterismo vesical por retención de orina en el hombre

 

Flávia Barreto Tavares Chiavone1; Larissa de Lima Ferreira2; Pétala Tuani Candido de Oliveira Salvador3; Cláudia Cristiane Filgueira Martins4; Kisna Yasmin Andrade Alves5; Viviane Euzébia Pereira Santos6

 

1Graduanda em Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte -UFRN-, Brasil. email: flavia_tavares@hotmail.com

2Graduanda em Enfermagem. UFRN, Brasil. email: lariiilf@gmail.com

3Enfermeira, Doutoranda. Professora, UFRN, Brasil. email: petalatuani@hotmail.com

4Enfermeira, Doutoranda. Professora, UFRN, Brasil. email: claudiacrisfm@yahoo.com.br

5Enfermeira, Doutoranda. Professora, UFRN, Brasil. email: kisnayasmin@hotmail.com

6Enfermeira, Doutora. Professora, UFRN, Brasil. email: vivianeepsantos@gmail.com

 

Fecha de Recibido: Abril 24, 2015. Fecha de Aprobado: Diciembre 4, 2015.

 

Artículo vinculado a investigación: Projeto de Ações Associadas "Vídeos Educacionais: ferramenta tecnológica para ensino de estudantes de enfermagem".

Subvenciones: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (34738/2014)

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Chiavone FBT, Ferreira LL, Salvador PTCO, Martis CCF, Alves KYA, Santos VEP. Analysis of YouTube videos about urinary catheterization technique of male delay. Nursing Educational Research. 2016; 34(1): 171-179

 


RESUMO

Objetivo.Analisar a execução da técnica de cateterismo urinário de demora masculino nos vídeos do YouTube. Métodos. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem quantitativa, realizada no sítio de compartilhamento YouTube. A busca dos vídeos foi realizada em setembro de 2014, utilizando-se o descritor controlado "cateterismo urinário". Resultados. Foram analisados 32 vídeos, dos quais nenhum estava de acordo com os padrões estabelecidos pela literatura; dentre os principais erros encontrados, destacam-se a ausência de lavagem das mãos (78.1%), a falta de registro no prontuário (71.8%), a ausência de limpeza e secagem do paciente no término do procedimento (71.8%), a técnica incorreta durante antissepsia (62.5%) e a falta de troca de luvas (59.3%). Conclusão. Apesar de o sítio de compartilhamentos de vídeo YouTube ser uma ferramenta amplamente difundida atualmente, há uma carência de vídeos que reproduzam a técnica de acordo com o que é preconizado na literatura.

Palavras chave: antisepsia; luvas protetoras; desinfecção das mãos; enfermagem; masculino; cateterismo urinário; terapéutica; filmes e vídeos educativos.


ABSTRACT

Objectives.To analyze the execution of urinary catheterization technique of male delay in YouTube videos. Methods. This is an exploratory research with a quantitative approach, performed using the YouTube sharing site. The search of the videos was conducted in September 2014, using the controlled descriptor "urinary catheterization". Results. 32 videos were analyzed, none were in accordance with the standards established in the literature; among the main errors highlight the absence of hand washing (78.1%), the absence of the medical recording (71.8%), the absence of cleaning and drying of the patient at the end of the procedure (71.8%), the incorrect technique during antisepsis (62.5%) and the absence of gloves changes (59.3%). Conclusion. Although the YouTube sharing video site is currently a widespread tool, there is an absence of videos that reproduce the technique according to what is recommended in the literature.

Key words: antisepsis; gloves, protective; hand disinfection; male; nursing; urinary catheterization; therapeutics; instructional films and videos.


RESUMEN

Objetivo.Analizar la ejecución de la técnica de cateterismo vesical por retención de orina en el hombre en los vídeos en YouTube. Métodos. Estudio exploratório de abordaje cuantitativo realizado en el sitio web YouTube. Se realizó uma búsqueda de los vídeos en septiembre de 2014 utilizando el descriptor controlado "cateterismo urinario". Resultados. Fueron analizados 32 vídeos, de los cuales ninguno estaba de acuerdo con los patrones establecidos por la literatura. Entre los principales errores encontrados se destacan: la ausencia de lavado de las manos (78.1%), falta de registro en la historia clínica (71.8%), ausencia de limpieza y secado del paciente al terminar  del procedimento (71.8%), técnica incorrecta durante la antisepsia (62.5%) y falta de cambio de guantes (59.3%). Conclusión. Aunque sitio web YouTube es una herramienta ampliamente difundida atualmente, hay carencia de vídeos que reproduzcan la técnica de acuerdo con los patrones establecidos en la literatura.

Palabras clave: antisepsia; guantes protectores; desinfección de las manos; enfermería; masculino; cateterismo urinario; terapéutica; películas y videos educativos.


 

INTRODUÇÃO

Novas tecnologias de ensino têm sido, cada vez mais, utilizadas no processo de aprendizagem dos cursos de graduação em saúde, o que fortalece o processo de mudança e aprimoramento do conhecimento. Desse modo, o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's) pode ser visto como um elemento que visa auxiliar, reunir e garantir a melhoria do repasse de informações destinadas aos acadêmicos. Essas mídias utilizam-se de um conjunto de características específicas, como a interatividade, inovação, digitalização, automatização, conexão e diversidade, proporcionando ao docente uma gama de instrumentos que podem auxiliar no processo de ensino para os alunos.1 As TIC's, nesse ínterim, podem ser encaradas como um elemento facilitador e, ainda, propiciador de novas linguagens no espaço educacional. Assim, possibilitam ao estudante diversificar e ampliar o conhecimento sobre temas específicos de sua formação e motivar o desenvolvimento do espírito investigativo na busca de evidências fundamentadas para a tomada de decisão frente aos problemas da prática clínica.

As tendências pedagógicas inovadoras para a educação em saúde apontam, portanto, para a adoção das metodologias inovadoras, em que o currículo é o elemento configurador da seleção de conteúdos a ser desenvolvido no curso, desvelando a sistemática do processo ensino-aprendizagem.2 No ensino da enfermagem, essas tecnologias visam aprimorar a qualidade e a formação desses profissionais. Desse modo, o advento TIC's pode ser visto como um elemento de conexão que visa auxiliar, reunir e garantir a melhoria do repasse de informações destinadas aos estudantes.3 E, ainda, podem ser encaradas como um elemento facilitador para o repasse de informações e conexões com novas linguagens no espaço educacional, aspectos que devem estar interligados, pois, caso contrário, não garantirão uma postura dialética do processo de construção de uma práxis comprometida como um novo contexto formativo.

Apreende-se que o aprendizado de enfermagem requer peculiaridades específicas da profissão, afinal os alunos, frequentemente, se deparam com situações complexas que envolvem o cuidado com a vida do outro, o que requer um amadurecimento do acadêmico, bem como uma boa técnica a fim de garantir uma assistência segura e livre de erros.4 Nesse ínterim, uma ferramenta que ganha destaque é o uso dos vídeos como uma tecnologia do ensino-aprendizagem dos alunos de enfermagem, tanto em nível técnico profissionalizante como em nível da graduação. Afinal, os vídeos servem como apoio e auxiliam o professor a orientar atividades práticas que são típicas da profissão, simulando o ambiente, o profissional, a situação de assistência e o paciente. Com isso, o aluno é capaz de anteceder as suas principais necessidades e dúvidas que possam existir antes de se encontrar inserido em um momento de atividade prática real.5 Nesse sentido, a internet realça-se enquanto principal fonte de vídeos, isso por meio de plataformas virtuais como o YouTube - principal sítio de compartilhamento de vídeos na atualidade.6 Todavia, em contraponto à facilidade de acesso aos vídeos em tal meio de divulgação, tem-se a ausência de controle de qualidade dos mesmos, isso porque não há qualquer restrição de postagem no que concerne à adequação do procedimento veiculado pela mídia divulgada nesse canal.

Desse modo, sabe-se que grande parte desses vídeos necessita de uma triagem, baseada em um protocolo de ensino, que garanta a eficácia e o objetivo da simulação que será passado aos alunos, já que, quando se abordam aspectos relacionados à assistência à saúde, as informações podem resultar em ações e/ou pensamentos errôneos. Destaca-se, nesse contexto, o uso dos vídeos para o ensino dos procedimentos de enfermagem e, dentre esses, a técnica do cateterismo urinário de demora masculino, processo amplamente utilizado na prática clínica da enfermagem e que, quando executado incorretamente, é o fator de risco mais importante para infecção do trato urinário (ITU).7 Busca-se, desse modo, responder às seguintes questões norteadoras: quais as características dos vídeos compartilhados no YouTube acerca da técnica de cateterismo urinário de demora masculino? Eles estão de acordo com o recomendado pela literatura de enfermagem? Objetiva-se, portanto, analisar a execução da técnica de cateterismo urinário de demora masculino nos vídeos do YouTube.

 

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem quantitativa, realizada no sítio de compartilhamento de vídeos do YouTube, cujo endereço virtual é: www.youtube.com. O estudo seguiu protocolo de pesquisa composto dos elementos: tema da pesquisa; questões norteadoras; objetivo; estratégia de pesquisa; seleção dos estudos; avaliação crítica dos estudos; e apresentação dos resultados.A pesquisa foi realizada no campo de busca do YouTube em setembro de 2014, por meio do descritor controlado "cateterismo urinário" - extraído dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Foram utilizados os filtros "tipo de resultado" e "data do upload" oferecidos pelo próprio sítio, escolhendo-se apenas os vídeos postados no último ano, ou seja, de setembro de 2013 a setembro de 2014. Inicialmente, o descritor foi digitado no campo de busca do sítio e, então, os filtros oferecidos pelo próprio YouTube foram aplicado. Os links dos vídeos resultantes dessa busca inicial foram salvos para posterior análise, a fim de não comprometer a seleção da amostra, já que o sítio caracteriza-se pela adição contínua de novos conteúdos.

Após essa etapa, a pesquisa foi realizada a partir de visitas aos links selecionados, as quais aconteceram sem local definido, uma vez que não existe restrição de acesso aos vídeos se visitados de locais diferentes, como acontece com alguns portais de pesquisa. Assim, foi possível realizar várias visitas que se fizeram necessárias, em diferentes momentos, para a observação e análise dos vídeos pré-selecionados. Os vídeos foram, assim, analisados individualmente, estabelecendo-se como critérios de inclusão: vídeos que tinham como objetivo demonstrar a técnica de cateterismo urinário de demora masculino, em seres humanos; em linguagem verbal - idioma português, espanhol ou inglês - ou não verbal. Excluíram-se os vídeos que não responderam a questão de pesquisa e/ou não se referiam à temática, acerca do cateterismo urinário de demora feminino ou de alívio, bem como os vídeos duplicados.

Após a seleção inicial dos vídeos conforme critérios de inclusão e exclusão, a amostra selecionada foi analisada segundo os seguintes indicadores de estudo, os quais foram sintetizados em uma planilha do Microsoft Excel 2010: tempo de duração, responsável pela postagem (pessoa física, órgão ou empresa), data da postagem, total de visualizações, categoria (segundo classificação do YouTube) e execução da técnica. Para análise deste último indicador, seguiu-se a padronização para a execução da técnica de acordo com o resultado de revisão literária "Técnica do cateterismo urinário de demora masculino e feminino: recomendações literárias", realizada em junho de 2014, nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (ScIELO), Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Scopus e Cochrane, que teve como objetivo analisar as recomendações encontradas na literatura a respeito da execução do cateterismo urinário de demora masculino.

A descrição das etapas da técnica de cateterismo urinário de demora masculino, elucidada a partir da revisão literária citada, é a seguinte:

1) Prescrição do cateterismo urinário de demora, com verificação da indicação correta.8,9

2) Planejamento do procedimento, com organização do material necessário para a inserção do cateter asséptico: dois pares de luvas estéreis; gaze estéril; iodo-séptico ou sabonete de clorexidina; sacos para resíduos; cateter uretral de acordo com o paciente e a indicação do cateterismo; seringa com 7 ou 8 cc de água destilada; anestésico lubrificante hidrossolúvel; seringa cc de 3 ou 4 (opcional); recipiente para urina; equipo fechado para drenagem; campo estéril (opcional); fixação de tiras adesivas (opcional).10,11

3) Realização da técnica:10-12 i) Reúna o material necessário para a inserção do cateter asséptico; ii) Lave as mãos; iii) Realize antissepsia: em um lugar onde a privacidade é garantida, colocar o paciente em decúbito dorsal com as pernas afastadas, colocar as luvas e fazer o seguinte: com a mão não-dominante segurar o pênis, retrair o prepúcio para expor a glande, iniciar a lavagem do meato urinário, seguir a glande, sulco balanoprepucial, continuar em um movimento circular em torno do eixo do pênis sem retornar às raízes, secar na mesma direção, lavar e secar duas vezes e cobrir o pênis com gaze estéril para evitar contaminação durante a mudança de luvas; iv) Mude de luvas; v) Ponha o campo estéril (opcional); vi) Pegue a sonda e lubrifique a ponta; vii) Fique do lado direito do paciente; se destro pegue o pênis com a mão esquerda, lubrifique o meato e introduza 3 ou 4 cc do lubrificante anestésico hidrossolúvel dentro da uretra para anestesiar e relaxar o colo da bexiga e, assim, facilitar a passagem da sonda e evitar trauma da uretra. Espere alguns minutos e vá para a inserção do cateter; viii) Sustente o pênis das paredes laterais com o polegar e o indicador da mão não dominante, com leve tração e posição 90° para o abdômen, tomando cuidado para não comprimir o corpo esponjoso que contém a uretra para facilitar a progressão da sonda. Leve o cateter perto da sua ponta, com a mão dominante começe a inseri-lo de forma suave, com pressão firme e contínua, observando as reações do paciente. A sonda deve ser introduzida até sua parte distal e obter urina; vii) Verifique a localização do cateter na bexiga - pela presença de urina - e infle o balão com 5 ou 7 cc de água destilada ou estéril, realize a tração para a sonda suavemente ancorar no colo da bexiga e remova o campo estéril com cuidado para não contaminar a porção distal da sonda; x) Prenda a sonda no sistema de drenagem fechado; xi) Remova o excesso de antisséptico e coloque o prepúcio para a sua posição original para evitar a fimose que pode ocorrer quando deixado retraído; xii) Prenda a sonda na parte inferior do abdome para evitar lesões da uretra pela tração exercida; xiii) Limpe e seque o paciente, cubra-o e deixe confortável.

4) Registrar o procedimento no prontuário do paciente.9

5) Monitorar e avaliar continuamente o cateter uretral, mantendo a comunicação e a cooperação com o paciente.10-12

Os dados obtidos foram tabulados, agrupados e analisados por estatística descritiva simples. Não se fez necessária a aprovação em comitê de ética, uma vez que a pesquisa não está envolvida diretamente com seres humanos, utilizando material de domínio público.

 

RESULTADOS

A busca de vídeos no sítio do YouTube totalizou um quantitativo de 8.280 vídeos, os quais, a partir da aplicação dos filtros, resultaram em 499 (6,0%) arquivos pré-selecionados; estes, por sua vez, foram analisados individualmente, com base nos critérios de inclusão e de exclusão e nos indicadores de coleta de dados, totalizando uma amostra de 32 vídeos, valor correspondente a 0,39% do valor encontrado inicialmente. A caracterização dos vídeos que compõem a amostra do estudo está representada na (Tabela 1).

Tabela 1.

Constatou-se uma predominância de vídeos com duração intermediária, de 4 a 20 minutos (88.7%); postado por pessoa física (78,1%), tendo em vista que se trata de um sítio de compartilhamento de vídeos aberto, em que qualquer pessoa pode ter acesso. Quanto à categoria dos vídeos, determinada pelo próprio publicador e demonstrada na página do vídeo no YouTube, houve uma predominância da categoria pessoas e blogs (59.4%), o que não condiz com o observado no conteúdo dos vídeos, já que a maioria tinha um cunho educativo.           

Através da avaliação da técnica de cateterismo urinário de demora feminino demonstrada no vídeo, tendo por base a sequência descrita na literatura, evidenciou-se a totalidade de procedimentos incorretos. As principais incoerências estão destacadas na (Tabela 2). Constatou-se que os principais erros acerca do cateterismo vesical de demora masculino foram a ausência de lavagem das mãos (78.1%), a falta de registro no prontuário (78.1%), a ausência de limpeza e secagem do paciente no término do procedimento (71.8%), a técnica incorreta durante antissepsia (62.5%) e a falta de troca de luvas (59.3%), que abrangeram mais da metade dos vídeos analisados. Quando analisadas, separadamente, as etapas componentes do correto e completo procedimento de cateterismo urinário de demora masculino, observou-se os resultados destacados na (Tabela 3).

Tabela 2.

Tabela 3.

 

 

DISCUSSÃO

Diante das potencialidades e inquestionável importância que os vídeos disponibilizados na Internet assumem na contemporaneidade, é imperativo que se atente para a qualidade do material que está sendo veiculado, já que, quando se abordam aspectos relacionados à assistência à saúde, as informações podem resultar em ações e/ou pensamentos errôneos, comprometendo, até mesmo, a segurança do paciente como reflexo de um aprendizado inadequado. é evidente que os vídeos do YouTube podem ser um instrumento que contribua de fato para o processo de ensino-aprendizagem na enfermagem, desde que seu uso siga um planejamento criterioso, com objetivos, para aproveitá-los com todas as suas potencialidades.13 Cientes de tal assertiva, alguns estudiosos já buscaram analisar vídeos do YouTube relacionados a aspectos sanitários.14-17

Quando se aborda o ensino dos procedimentos de enfermagem e, em específico, a técnica do cateterismo de demora masculino, torna-se ainda mais relevante analisar os vídeos veiculados no YouTube acerca da temática, já que se apreende que se trata de um mecanismo, cada vez mais, utilizado por estudantes como estratégia para revisar conteúdos, sobretudo de natureza prática. As tecnologias para o ensino são mundialmente reconhecidas como benéficas para o processo inovador e diferenciado que se exige atualmente dos ambientes de aprendizagem, contribuindo para o pensamento crítico, as decisões complexas, as habilidades práticas, o trabalho em equipe, a motivação, a interação, a resolução de problemas e a geração de hipóteses, isso porque se pautam na participação ativa dos discentes, estimulando sua autonomia e sua criticidade.18

No contexto da enfermagem, destacam-se desafios do ambiente de ensino ainda mais complexos, que demandam pela inclusão das TIC's no ensino: evolui-se para um ambiente de práticas que estabelecem níveis altos de competências dos enfermeiros; exige-se a formação de um enfermeiro crítico e reflexivo, com um desenvolvimento cognitivo como questão inerente da Prática Baseada em Evidências; e o educador insere-se em um contexto de mudanças dialógicas, em que se destacam estudantes com diversos estilos de aprendizagem e necessidades, que devem ser conhecidos pelos educadores de modo a utilizar métodos de ensino efetivos.4 é nesse ínterim que se sobressai a essencialidade de construção, validação e divulgação de vídeos educativos pautados em princípios científicos, que se traduzam em um mecanismo real e de qualidade para apoio ao ensino de enfermagem. O fato de 100% dos vídeos analisados veicularem uma técnica inadequada é, portanto, algo preocupante.

Sabe-se que o cateter vesical é um importante recurso na assistência à saúde, no entanto, seu uso é frequentemente excessivo e depois de inserido, muitas vezes permanece por tempo muito maior do que o necessário.  é o fator de risco mais importante para infecção do trato urinário (ITU). Uma única cateterização associa-se com o risco de 1 a 2% de desenvolver ITU e o risco cumulativo é de 5% ao dia.19 A ITU associada ao cateter vesical pode representar até 40% das infecções hospitalares e aumenta em cerca de três dias o tempo de internação, podendo complicar com bacteremia e óbito.20,21 Estima-se que cerca de 20% a 50% dos pacientes hospitalizados são submetidos à cateterização vesical e alguns estudos sugerem que até de 38% dos médicos podem desconhecer que o seu paciente está sondado, o que contribui para que o cateter vesical seja mantido além do tempo necessário.21 Realça-se, nesse sentido, a importância da etapa de prescrição do procedimento, com verificação da indicação correta, a qual foi demonstrada em apenas dois vídeos. Estudos enfatizaram, de forma preocupante, a existência de muitos procedimentos que são realizados com indicações incorretas, ou que negligenciam o registro da indicação no prontuário.9

Pesquisa demonstrou que, em 23.3% dos pacientes que usaram o cateterismo urinário de demora, o procedimento não foi prescrito no prontuário, chegando a 46% entre os pacientes clínicos.9 Realça-se que este indicador é um marcador muito importante de falha no processo de trabalho, que transcorre de maneira ainda não sistematizada em termos de documentação, ocasionando um risco potencial de desconhecimento para a equipe que dará continuidade ao cuidado, já que, frequentemente, é um profissional diferente que presta o primeiro atendimento na emergência, setor em que 38% das cateterizações vesicais são realizadas.9

No âmbito da garantia da continuidade do cuidado e do monitoramento do uso do cateter vesical, ressalta-se o registro do procedimento no prontuário, o qual foi demonstrado em apenas três vídeos. Princípios de boas práticas enfatizam a importância de se documentar no prontuário todos os procedimentos relacionados à cateterização vesical, incluindo o pedido de inserção e a sua justificativa. Da equipe de enfermagem, espera-se que documente quem realizou o procedimento, dificuldades técnicas encontradas, material utilizado, data em que foi realizado, os cuidados diários prestados, assim como o questionamento diário da necessidade de manutenção do cateter vesical.22

Pesquisadores sugerem que a participação sistematizada de enfermeiros capacitados a realizar adequadamente a técnica e verificar as indicações do cateter vesical de demora, que indaguem diariamente o médico sobre a necessidade da sua permanência é essencial para diminuir as ITU.22 De tal modo, conclui-se que é de suma importância a produção e veiculação de vídeos pautados na padronização da técnica do cateterismo urinário de demora masculino, integrando todas as etapas citadas, já que a não uniformização pode acarretar o incremento no número de eventos indesejáveis, como as ITU. Enfatiza-se que o ensino do procedimento de enfermagem analisado não deve se dar de maneira tecnicista, enfocando apenas a execução da inserção do cateter, mas sim de maneira ampliada, entendendo que o cuidado de enfermagem abrange a completude e a efetividade das ações de enfermagem, desde a análise da indicação do procedimento, diálogo com o paciente, registro e monitoramento contínuo - um processo pautado na sistematização da assistência de enfermagem.

Em relação à utilização dos vídeos enquanto tecnologias educacionais, coloca-se em relevo que eles são ferramentas necessárias para preparar os alunos para ambientes de trabalho complexos e dinâmicos. O uso dessas ferramentas fornece um ambiente de aprendizagem seguro para os alunos com uma variedade de oportunidades que permite a aproximação prática dos conceitos e habilidades adquiridas no curso de enfermagem. Além disso, esse ambiente de aprendizagem facilita a exploração das consequências de julgamentos clínicos sem o medo dos pacientes sofrerem consequências.1 Dessa forma, enfermeiros educadores tem um papel profissional e ético no desenvolvimento de um ambiente propício para a aprendizagem, que incentive os alunos a pensarem e raciocinarem, o que requer um planejamento estratégico. Os educadores devem mostrar consideração ao tempo despendido pelos alunos, esforços e contribuições, assim como respeito, acessibilidade, flexibilidade e disponibilizar ajuda para construir uma relação de ensino-aprendizagem que promova a confiança e incentive a participação dos alunos, ou seja, um ambiente de aprendizagem em que os alunos são genuinamente valorizados e incentivados para construírem habilidades de pensamento crítico.3 Nesse ínterim, o educador de enfermagem deve coadunar com incorporações tecnológicas em resposta às demandas atuais, aspecto que deve, de maneira fundamental, unir-se ao seguimento de uma abordagem pedagógica que guie a inserção das tecnologias nos ambientes educacionais, bem como à análise minuciosa dos materiais a serem utilizados.

Foram analisados 32 vídeos, dos quais nenhum estava de acordo com os padrões estabelecidos pela literatura; dentre os principais erros encontrados, destacam-se a ausência de lavagem das mãos, a falta de registro no prontuário, a ausência de limpeza e secagem do paciente no término do procedimento, a técnica incorreta durante antissepsia e a falta de troca de luvas. Conclui-se que, apesar de o sítio de compartilhamentos de vídeos YouTube ser uma ferramenta amplamente difundida atualmente, há uma carência de vídeos que reproduzam a técnica de acordo com o que é preconizado na literatura.

Dentre as limitações do estudo, realça-se a dificuldade de busca do YouTube, já que não há uma estratificação dos vídeos quanto às categorias, bem como a escolha da categoria se dá pelo responsável pela postagem e, portanto, na maioria das vezes, não condiz com o conteúdo veiculado pelo vídeo. Tendo em vista que o YouTube é sítio mais difundido entre os usuários de internet e que muitas pessoas usam-no como fonte de pesquisa, enfatiza-se a importância da análise da qualidade e fidedignidade das informações postadas. Além disso, compreende-se que a seleção e a produção adequadas dos vídeos podem oportunizar de forma apropriada a sua utilização em espaços de treinamentos e aulas didáticas.

 

 

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