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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.34 no.2 Medellín June 2016

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n2a06 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

doi:10.17533/udea.iee.v34n2a06

 

Preservativos masculino e feminino. O que sabem mulheres de um aglomerado subnormal

 

Male and female condoms: What do women of a subnormal agglomerate know

 

Preservativos masculino y femenino. Lo que saben las mujeres de un área subnormal

 

Smalyanna Sgren da Costa Andrade1; Ana Aline Lacet Zaccara2; Kamila Nethielly Souza Leite3; Maria Luísa de Almeida Nunes4; Hemílio Fernandes Campos Coêlho5; Simone Helena dos Santos Oliveira6

 

1Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal da Paraíba –UFPB-, Brasil. email: smalyanna@hotmail.com

2Enfermeira, Mestre. UFPB, Brasil. email: anazaccara@hotmail.com

3Enfermeira, UFPB, Brasil. email: ka_mila.n@hotmail.com

4Enfermeira, Mestre. Professora Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. email: falecomluisa@gmail.com

5Estadístico, Doutor. Professor UFPB, Brasil. email: hemilio@gmail.com

6Enfermeira Doutora. Professora UFPB, Brasil. email: simonehsoliveira@gmail.co

 

Fecha de Recibido: Abril 20, 2015. Fecha de Aprobado: Abril 28, 2016.

 

Artículo vinculado a investigación: “Mulheres solteiras e casadas e o uso do preservativo: o que sabem, pensam e praticam”, Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal da Paraíba, Brasil, em 2014.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Andrade SSC, Zaccara AAL, Leite KNS, Nunes MLA, Coêlho HFC, Oliveira SHS. Male and female condoms: What do women of a subnormal agglomerate know. Invest. Educ. Enferm. 2016; 34(2):271-279.

 


RESUMO

Objetivo.Avaliar o conhecimento sobre os preservativos masculino e feminino das mulheres residentes numa área subnormal e identificar as fontee de informação e cuidados adequados de uso. Métodos. Se trata de uma enquete de lares, descritiva, de corte transversal e abordagem quantitativo, realizado com 300 mulheres da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil, maiores de 18 anos, que iniciaram vida sexual. Para a recolecção dos dados se utilizou a amostra aleatória sistemático. O formulário de entrevista incluiu a caracterização sócio-demográfica e perguntas que contemplaram os aspectos relevantes sobre o uso do preservativo como medida preventiva de infecções de transmissão sexual e AIDS. Resultados. A televisão e os profissionais da saúde foram as principais fontes de informação. As participantes conheciam com maior frequência as funções do preservativo masculino em comparação com o feminino. Os cuidados mais mencionados pelas mulheres para o uso dos preservativos masculino e feminino se relacionaram com o período de validez, modo de abertura, condições da embalagem e a conservação dos preservativos. O número de cuidados se concentrou nas medidas tomadas no momento pré-sexual. Ademais, sobre o preservativo feminino os cuidados não foram específicos. Conclusão. As mulheres participantes têm inadequados conhecimentos sobre os preservativos feminino e masculino, é necessário que a enfermagem desenvolva estratégias de educação em saúde para o melhoramento do conhecimento de informações relevantes sobre os preservativos masculino e feminino.

Palavras chave: conhecimento; mulheres; preservativos; preservativos femininos; prevenção de doenças transmissíveis; educação em saúde.


ABSTRACT

Objectives.Evaluate the knowledge about male and female condoms among women living in subnormal agglomerate and identify sources of information and appropriate care to use. Methods. Household survey, descriptive, transversal and quantitative study with 300 women over 18 of João Pessoa, Paraíba, Brasil, who began their sexual life. The systematic sampling plan for data collection was used. The interview form included sociodemographic questions and gazed relevant aspects of the use of condoms as a preventive measure of sexually transmitted infections and AIDS. Results. TV and healthcare professionals were the main sources of information. The participants knew more often the male condom features compared to women. The care most often mentioned by women as the use of male and female condoms were related to the validity, form of openness and conditions of packaging and storage of condoms. The largest number of care focused on measures taken in the pre-sexual moment. Moreover, care was nonspecific on the female condom. Conclusion: The participating women have inadequate knowledge on female and male condoms. It is necessary that the nursing seek health education strategies for improving knowledge about relevant information about male and female condoms.

Key words: knowledge; women; condoms; condoms, female; prevention of communicable diseases; health education.


RESUMEN

Objetivo.Evaluar el conocimiento sobre los preservativos masculino y femenino de las mujeres residentes en un área subnormal, identificando las fuentes de información y cuidados adecuados de uso. Métodos. Se trata de una encuesta de hogares, descriptiva, de corte transversal y abordaje cuantitativo, realizado con 300 mujeres de la ciudad de João Pessoa, Paraíba, Brasil, mayores de 18 a-os, que iniciaron vida sexual. Para la recolección de los datos se utilizó el muestreo aleatorio sistemático. El formulario de entrevista incluyó la caracterización sociodemográfica y preguntas que contemplaran los aspectos relevantes sobre el uso del preservativo como medida preventiva de infecciones de transmisión sexual y Sida. Resultados. Las principales fuentes de información fueron la televisión y los profesionales de salud. Las participantes conocían más las funciones del preservativo masculino en comparación con el femenino. Los cuidados más mencionados por las mujeres para el uso de los preservativos masculino y femenino se relacionaron con el período de validez, modo de abertura, condiciones del empaque y su conservación. El número de cuidados se concentró en las medidas tomadas en el momento presexual. Además, sobre los cuidados  del preservativo feminino estos  no fueron específicos. Conclusión. Las mujeres participantes tienen inadecuados conocimientos sobre los preservativos femenino y masculino.  En consecuencia, es necesario que enfermería desarrolle estrategias de educación en salud para el mejoramiento del conocimiento de este tema y brinde informaciones relevantes sobre el uso, condiciones de empaque y conservación, entre otros asuntos,  de los  preservativos masculino e femenino.

Palabras clave: conocimiento; mujeres; condones; condones femeninos; prevención de enfermedades transmisibles; educación en salud.


 

INTRODUÇÃO

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e o HIV se constituem principais determinantes de doenças das populações em diversos contextos, nos âmbitos nacional e internacional. As taxas de prevalência, incidência e morbidade podem ser compreendidas a partir da avaliação dos diferentes comportamentos sexuais, influenciados por perspectivas culturais e sociais distintas entre mulheres e homens, que podem determinar a elevação ou redução do risco de contaminação.1 As IST e o HIV podem atingir qualquer pessoa. Todavia, nos últimos anos, fatores como, sexo, idade e/ou condição socioeconômica vêm se relacionando de maneira mais estreita com a disseminação dessas doenças1. O risco envolve cada indivíduo e as possíveis relações causais existentes entre as condições ou eventos que podem ou não ocasionar alguma patologia.2 Algumas pessoas possuem maior risco de contaminação, denominada vulnerabilidade. Esta envolve um conceito amplo e complexo, do qual a exposição ao adoecimento resulta de um conjunto de aspectos individuais, coletivos e programáticos, que considera o indivíduo em seu contexto sociocultural. No setor individual, a vulnerabilidade abrange o conhecimento e a sua utilização para se prevenir de infecções e outras doenças.3 Os fatores sociais estão relacionados às questões de gênero, condição econômica, exclusão social, identidade sexual e desequilíbrio de poder.4,5

Os elementos programáticos da vulnerabilidade abrangem o acesso, a cobertura e a qualidade dos serviços e programas de saúde oferecidos à população. Logo, o que é disponibilizado programaticamente, de forma gratuita por serviços de saúde, como estratégia mais eficaz para a prevenção às IST e HIV é o preservativo. Mesmo assim, são comuns as resistências explícitas ou veladas ao seu uso, tanto por parte de mulheres quanto de homens.6 Assim, ações preventivas às IST e HIV têm por finalidade a redução dos riscos de contaminação, envolvendo o empenho de produção e transmissão de conhecimento, debate e ação sobre os diferentes graus e natureza da vulnerabilidade de indivíduos e coletividades à infecção. Tudo isso abarca cada situação e suas particularidades, bem como os recursos para o seu enfrentamento.7 Nesse contexto, destaca-se a importante sinergia que deve haver entre conhecimento, disponibilidade, acesso e negociação para aumentar a adesão ao uso do preservativo. O conhecimento das mulheres sobre a utilização correta dos dois tipos de preservativos é fator considerável à redução de agravos, embora não se constitua garantia de adoção durante as práticas sexuais. Mesmo assim, o conhecimento confere ao indivíduo elementos para reflexão e discernimento acerca do comportamento individual, com base nos entornos contextuais.

Assim, considerando o HIV como uma das mais temidas infecções transmitidas por via sexual e que as mulheres se tornaram alvo da epidemia da Aids ao longo dos anos, o contexto sociocultural está relacionado às causas de contaminação. Destarte, a importância desse estudo reside no destaque do conhecimento inadequado ou inconsistente como elemento contributivo à vulnerabilidade por infecções sexualmente transmissíveis e HIV. Nesse ínterim, as questões norteadoras desse estudo foram: o que as mulheres sabem sobre os preservativos masculino e feminino? Quais suas fontes de informação sobre este método preventivo? Para responder aos questionamentos, foram elaborados os seguintes objetivos: avaliar o conhecimento sobre preservativos masculino e feminino de mulheres residentes em um aglomerado subnormal e identificar fontes de informação e cuidados adequados ao uso.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um inquérito domiciliar, descritivo, de corte transversal e abordagem quantitativa, realizado com mulheres residentes em aglomerado subnormal da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. O local da pesquisa possui ocupação desordenada, precariedade de moradias e apenas uma avenida principal. Os critérios de inclusão foram maioridade etária e ter iniciado a vida sexual. A população foi constituída por 3 200 mulheres. A amostra foi calculada com base em uma margem de erro de 5% (Erro = 0.05) e com α = 0,05 (Z0,025 = 1.96) e proporção de 23% (p=0.23). Esta proporção foi aferida com o auxílio de um censo sobre o uso ou não do preservativo durante as relações sexuais. O n-amostral foi de 251 mulheres. Contudo, houve a viabilidade de ampliar para 300 participantes.

Para operacionalização da coleta de dados foi utilizado o plano de amostragem sistemática, ou seja, os domicílios foram visitados em intervalos regulares.8 Como o local possuía 2 134 residências,9 houve um "salto" de 3 domicílios, conforme recomendado pela literatura.8 A partir da avenida principal, selecionou-se a primeira casa (sentido oeste/leste) em que residisse, pelo menos, uma mulher que atendesse aos critérios de inclusão para ser ponto inicial das entrevistas. Do contrário, a moradia ao lado seria visitada e, atendendo aos critérios, iniciava-se um novo "salto", conforme o método.

A coleta dos dados ocorreu entre junho e agosto de 2013, com o acompanhamento dos agentes comunitários de saúde (ACS). O formulário de entrevista incluiu a caracterização sociodemográfica e questões sobre conhecimento, relacionadas às finalidades dos preservativos, cuidados adequados ao uso e fontes de informação. Para a análise descritiva, utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)versão 20.0. Os resultados foram apresentados em formas de frequências e percentuais. A certidão de aprovação com nº 14726213.3.0000. 5188 e protocolo nº 0251 foi emitido pelo Comitê de ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba, em atendimento à Resolução n0 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que versa sobre a ética em pesquisa que envolve seres humanos.10

 

RESULTADOS

Observa-se que 114 mulheres (38%) possuíam idade igual ou superior a 35 anos, 140 (46.67%) não trabalhavam, 218 (72.67%) disseram ser católicas, 182 (60.67%) possuíam o ensino fundamental, 200 (66.67%) se caracterizavam como pardas; 189 (63%) eram casadas ou viviam em uniões estáveis e 192 (64%) sobreviviam com rendimento de até um salário mínimo.

Adiante é possível observar a distribuição das principais fontes de informação quanto aos preservativos. Sobre o preservativo masculino, a televisão foi a principal fonte de informação, seguida por profissionais de saúde. Para o feminino, profissionais de saúde foram os mais citados, ficando a televisão na terceira posição. Além disso, internet e família foram os menos referidos. A proteção contra IST e HIV foi a finalidade mais referida, seguida de evitar gestação não planejada. Seis vezes mais mulheres não sabiam falar pelo menos uma função do preservativo feminino, quando comparado ao masculino (Tabela 1).

Tabela 1.

Os cuidados mais mencionados pelas mulheres para o uso dos preservativos masculino e feminino se relacionaram ao prazo de validade, modo de abertura, condições da embalagem e à conservação da camisinha. Torna-se fundamental observar que o número de cuidados se concentrou nas medidas tomadas no momento pré-sexual. Além disso, sobre o preservativo feminino, os cuidados não foram tão específicos, já que as menções sobre os anéis internos e externos foram menos referidos (Tabela 2).

Tabela 2.

 

DISCUSSÃO

O uso de preservativos em determinados lugares e contextos familiares tradicionais é um assunto que ainda pode causar constrangimentos, e por vezes se transforma em tabu. Pouca informação pode ser fator agravante ao não uso do preservativo e ao risco de contaminação, pois pode interferir no conhecimento sobre este método e nas crenças quanto ao uso. De acordo com os resultados, a mídia televisiva divulga mais o preservativo masculino, comparado ao feminino, cuja informação fica, em sua maioria, a cargo dos profissionais de saúde. Sugere-se que isto ocorra porque o preservativo feminino é um insumo adotado mais recentemente, o manuseio requer melhor habilidade para colocação/retirada, bem como acesso e disponibilização ainda são restritos nos serviços de saúde.

Apesar do relevante papel da televisão como meio de informação acerca da prevenção de IST/ HIV através do preservativo, percebeu-se que as mulheres do estudo concentraram também as suas respostas, para os dois tipos de preservativos, em fontes inseridas em serviços de saúde, como profissionais e campanhas/palestras. Assim, ações de educação em saúde devem ser realizadas regularmente pelos profissionais, observando-se o adequado planejamento para sua ocorrência.

Considera-se fator essencial para a prevenção de IST e HIV, a responsabilização dos profissionais de saúde e dos serviços que incentivam a criação e a execução de campanhas e rodas de conversas voltadas a temática para indivíduos e coletividades. O papel educativo e transformador dos médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, torna-se muitas vezes uma alternativa indispensável ao compartilhamento do conhecimento sobre o preservativo feminino.

As campanhas de saúde transmitidas na televisão e os próprios programas de canais abertos vêm efetuando um importante trabalho na difusão de informações acerca da prevenção de IST e da Aids para a população, configurando-se como um dos principais veículos de comunicação de massa, por atingir distintos estratos sociais e faixas etárias. Especificamente sobre esse tema, investigação afirma que a mídia se insere como uma ferramenta pedagógica de grande amplitude, aliando a educação à saúde através de imagens que provocam maior impacto e sensibilização para a prevenção de doenças transmitidas por via sexual.11 Outro estudo ainda destaca a mídia televisiva entre as fontes de informação sobre IST, sobretudo entre as camadas populares.12

Viver na sociedade da informação é conviver com o poder de influência da televisão nos lares e nas famílias, de modo que ela serve também de interlocutora na transmissão de assuntos relacionados à prevenção de doenças. Por vezes, a televisão substitui o papel da própria família quando dissemina informação em saúde. Apesar disso, interessa ressaltar que somente a divulgação massiva sobre o uso do preservativo não implica necessariamente na adoção de comportamentos preventivos.11 Ainda sobre as fontes de informações, a família e a internet foram menos destacadas pelas mulheres. Isso pode ser fruto de uma cultura em que o sexo ainda é mantido como tabu entre os indivíduos, em que os pais podem ficar constrangidos em lidar com o tema. Quanto à internet, talvez as condições econômicas não permitam a acessibilidade à tecnologia da informação de forma tão facilitada, visto que na localidade onde o estudo foi desenvolvido existem outras prioridades, considerando a própria sobrevivência, das quais a internet se torna um item de necessidade supérfluo, ainda não acessível a todos os indivíduos.

Neste caso, o poder aquisitivo interfere sobremaneira na oportunidade de possuir acesso à tecnologia da informação, que por sua vez pode afetar a vulnerabilidade à doenças. Além disso, estudo afirma que mulheres com nível socioeconômico baixo possuem maior comprometimento da saúde, aumentando o risco de infecção pelo HIV, quando comparadas aos homens.13 Em relação à família, Brêtas et al.14 explica que a pequena procura por informação com os familiares, pode decorrer da falta de abertura para a conversação sobre assuntos ligados ao HIV e IST. Inquérito explicita o serviço de saúde como meio para comunicação sobre informação sobre este método preventivo.15 Profissionais de saúde são atores essenciais envolvidos no processo de compartilhamento de informações acerca da Aids, prevenção, tratamento, recuperação e, sobretudo, devem ser vistos como protagonistas parciais de mudanças no perfil epidemiológico.16

A escola foi a quarta fonte mais citada para os dois tipos de preservativos. Nesse contexto, uma pesquisa direcionada a jovens universitários da área da saúde identificou que a maioria das informações sobre prevenção de IST e HIV foi adquirida ainda no período escolar. Isto reafirma o papel substancial do ambiente educacional como fonte geradora de informação em saúde.17 Estudo relacionado às fontes de informações sobre IST e Aids com 100 estudantes de uma escola profissionalizante demonstrou que 87% dos estudantes citaram os professores como disseminadores de informações sobre o tema.11 Deve-se considerar que essas mulheres residem em um local violento, insalubre e com riscos ambientais, tornando salutar reafirmar a importância de um serviço de saúde comprometido com a comunidade, cuja atuação seja capaz de esclarecer e compartilhar informações em saúde. Pesquisa realizada com sessenta adultos jovens em Chicago, nos Estados Unidos da América, identificou que televisão e anúncios, ambientes educacionais, centros de saúde da comunidade, família e amigos eram as principais fontes de informações sobre HIV.

Recomendações foram centradas na sensibilização e impacto de viver com HIV e na necessidade de maior envolvimento dos pais com a educação em saúde.18 Nesse sentido, a educação em saúde ganha expressão concreta nas ações sociais orientadas pela necessidade de construção da autonomia dos indivíduos. Autossugere atos pedagógicos que fazem com que as informações sobre a saúde dos grupos sociais contribuam para projetar caminhos adequados ao bem-estar comunitário e individual.19 As ações pedagógicas constroem cenários de comunicação em linguagens diversas, de articulação intersetorial das redes públicas de saúde e educação como uma rede de corresponsabilidade, transformando as informações em dispositivos para o movimento de construção e criação de posturas direcionadas às mudanças que se julguem necessárias.19 Neste ínterim, o programa brasileiro Prevenção e Saúde na Escola (PSE) tem o objetivo de integrar e articular de forma permanente a educação e a saúde. Todavia, existem problemas que afetam diretamente a evolução dos projetos e planos das equipes, que é a falta de recursos materiais, pouco diálogo entre as gestões, no sentido de planejar e implementar conjuntamente as ações de educação em saúde. Tudo isso pode inviabilizar estratégias idealizadas pelo PSE e prejudicar o processo de trabalho dos profissionais da saúde e educação.

As fontes de informações, como mídia, escola e familiares devem atuar de forma integrada em um processo de educação constante, com foco na responsabilização de todos esses elementos para o estímulo de condutas preventivas ao HIV/aids, deixando o processo de prevenção mais eficaz.12,20 Em relação ao conteúdo da informação, acredita-se que tão importante quanto saber a função dos preservativos é também conhecer o modo adequado para usá-lo. A demonstração do modo de uso pode garantir maior eficácia do preservativo e deve acontecer em ambiente propício à atuação educativa. Assim, o profissional pode evitar possível constrangimento dos usuários, pois a temática envolve questões de natureza íntima.

é importante salientar que seis vezes mais mulheres não souberam citar sequer uma função da camisinha feminina, quando comparada a masculina. Deve haver o compromisso contínuo de instituir estratégias voltadas às orientações destinadas à manutenção de práticas de autocuidado, em especial sobre o preservativo feminino, que é um forte método para a autonomia e liberdade de negociação no uso de preservativos para as mulheres. Os profissionais de saúde necessitam elucidar questões importantes sobre o preservativo feminino, seja através da criação de grupos ou de ações educativas em sala de espera ou no próprio acolhimento para dissolução da resistência ao uso do mesmo. Entretanto, não somente a informação apropriada fará diferença na adesão, mas a disponibilidade pode se constituir um meio conveniente à aquisição da camisinha, possibilitando o uso.

Proporcionar espaços de discussão para sedimentação do conhecimento é visualizar a prevenção pelo caminho da corresponsabilização. A ação deve deixar de ser uma informação técnica-teórica, para se tornar um trabalho de educação pautado no contexto social de cada pessoa.21 Além disso, prevenir-se das IST/Aids é fruto do desenvolvimento de habilidades e atitudes que concorrem para a saúde individual.22 Os resultados obtidos indicam que, basicamente, os três primeiros cuidados são aqueles que precedem a utilização do preservativo. Um cuidado específico ao preservativo masculino, como apertar a ponta para evitar entrada de ar, constitui informação que deve atingir as mulheres e se solidificar como conhecimento bem disseminado e indispensável ao uso correto, já que evita o rompimento do preservativo durante a relação sexual. Vale ressaltar que muitas informações relevantes deixaram de ser mencionadas pelas mulheres do estudo no que se refere ao acondicionamento do preservativo. O conhecimento sobre a maneira de guardar é indispensável e algumas ações devem ser evitadas no sentido de não prejudicar a qualidade do insumo.

Os cuidados específicos ao preservativo feminino foram mencionados em frequência bem mais retraída, de modo que os anéis interno e externo foram os menos indicados. Respostas indicaram informações elementares sobre o preservativo feminino e as mulheres deixaram de citar algumas condições mais específicas ao insumo e que se caracterizam como principais diferenças ao seu uso, como lubrificação, posição adequada e certeza da introdução correta, demonstrando que o conhecimento peculiar a esse insumo ainda é escasso. Investigação realizada no Chile com 496 mulheres identificou que 47.7% citou como principal cuidado ao uso do preservativo, segurar a ponta para não entrada de ar. Os autores concluíram que os profissionais de saúde devem inserir estratégias para prevenção do HIV, no sentido de incorporar elementos que melhorem o conhecimento das mulheres chilenas.23

De acordo com o Ministério da Saúde, o preservativo não deve ficar exposto ao sol e ao calor, tampouco ser carregado permanentemente na carteira ou bolso da calça, pois o calor e os movimentos podem rasgar o envelope ou ressecá-lo. Para o uso do preservativo feminino, após abertura da embalagem, é importante esfregá-la suavemente para ter certeza de que seu interior está totalmente lubrificado, apertar pela parte de fora do anel interno, formando um oito, empurrando-o com o dedo indicador, deixando o anel externo do lado de fora para cobrir os grandes lábios.24 Não saber essas informações se constitui como fator de risco tanto para o não uso da camisinha feminina, quanto para a tentativa frustrada de uso, pois esses elementos são relevantes à prática correta. Apesar de os profissionais de saúde despontarem como principais informantes ao uso do preservativo feminino, a obrigação por sua divulgação não deve recair somente sobre eles, haja vista que a iniciativa e a integração de gestores e meios de comunicação são fatores cruciais para a difusão do conhecimento.

Conclusão. Neste estudo, a televisão foi a fonte de informação mais citada para o preservativo masculino, o que demonstra a sua utilidade para anúncios institucionais em saúde, inserindo-se como uma ferramenta pedagógica capaz de provocar maior impacto e sensibilização a medidas preventivas de doenças transmitidas por via sexual. No tocante ao preservativo feminino, os profissionaisde saúde foram apontados como os principais comunicadores deste método preventivo, evidenciando-os como protagonistas responsáveis pela educação em saúde na comunidade. Em relação ao conhecimento, houve um grande percentual de mulheres que não sabiam citar nenhum cuidado relacionado à camisinha feminina, evidenciando uma lacuna programática a esse tipo de insumo na comunidade pesquisada. As orientações mais citadas se concentravam àquelas pertinentes ao momento pré-sexual. O uso do preservativo é alvo de debates intensos em políticas públicas de prevenção e atenção às IST e HIV/aids. Os serviços de saúde devem dispor dos preservativos masculino e feminino, no sentido de assegurar melhores condições de acesso ao insumo para ambos os sexos. A magnitude dessa estratégia reside tanto na disponibilidade do principal método de prevenção às infecções transmitidas através do sexo, quanto na execução de educação em saúde capaz de potencializar experiências bem-sucedidas, além da ampliação de oferta, que visa atender as opções das medidas preventivas.

Deve-se considerar a permanente realização de estudos sobre a temática e realização em populações com características diferentes, possibilitando a comparação dos dados, de forma a viabilizar intervenções compatíveis a cada contexto, o que poderá suscitar maior chance de êxito.

A intenção dessa pesquisa não é esgotar o tema, mas produzir indagações que possam contribuir para a melhoria da saúde das mulheres, através do fortalecimento da educação em saúde e da discussão de atitudes e comportamentos preventivos e de autocuidado.

Agradecimentos. Ao Professor Doutor Joab Oliveira, pelo tratamento estatístico realizado neste trabalho.

 

 

REFERÊNCIAS

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