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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307

Invest. educ. enferm vol.34 no.2 Medellín June 2016

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n2a10 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ARTIGO ORIGINAL

 

doi:10.17533/udea.iee.v34n2a10

 

Associação entre os fatores de risco para hipertensão e o Diagnóstico de Enfermagem excesso de peso em adolescentes

 

Association between risk factors for hypertension and the Nursing Diagnosis overweight in adolescents

 

Asociación entre los factores de riesgo para la hipertensión y Diagnóstico de Enfermería sobrepeso en adolescentes

 

 

Caroline Evelin Nascimento Kluczynik Vieira1; Larissa Soares Mariz 2; Dândara Nayara Azevêdo Dantas3; Dayane Jéssyca Cunha de Menezes4; Márcia Camila Dantas Rêgo5; Bertha Cruz Enders6

 

1Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: carolinekluczynic@gmail.co

2Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: larissamariz@gmail.com

3Enfermeira, Doutoranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: dandara_dantas@hotmai.com

4Enfermeira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: dayanemenezes.enf@gmail.com

5Enfermeira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: marcadr_enfufrn@hotmail.com

6Enfermeira, Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. email: bertha@ufrnet.br

 

Fecha de Recibido: Mayo 27, 2015. Fecha de Aprobado: Diciembre 4, 2015.

 

Artículo vinculado a investigación: Enfermagem no screening de adolescentes com excesso de peso na Atenção Primária de Saúde.

Subvenciones: Estudo financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), através de bolsa de doutorado.

Conflicto de intereses: Ninguno.

Cómo citar este artículo: Vieira C, Mariz L, Dantas D, Menezes D, Rêgo M, Enders B. Association between risk factors for hypertension and the Nursing Diagnosis overweight in adolescents. Invest. Educ. Enferm. 2016; 34(2):305-313.

 


RESUMO

Objetivo.Identificar associações entre os fatores de risco para hipertensão e o diagnóstico de enfermagem excesso de peso em adolescentes. Métodos. Estudo transversal realizado em 2013 com 347 adolescentes de escolas de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, que responderam um formulário sobre perfil sócio econômico, prática de atividade física, hábitos alimentares e história familiar de doenças e foram submetidos ao exame físico. Para análise analítica formaram-se dois grupos: alunos com o Diagnóstico de Enfermagem excesso de peso (n=100) e alunos sem o diagnóstico (n=247). Resultados. Os fatores de risco para hipertensão que apresentaram associação com o Diagnóstico de Enfermagem excesso de peso foram: obesidade abdominal (OR=40.0), consumo alimentar rico em açúcar e gordura (OR=40.0); história familiar de hipertensão (OR=6.9), obesidade e diabetes (OR=2.0); pressão arterial sistólica e diastólica alteradas (OR=5.5). Conclusão. Os fatores de risco para hipertensão que apresentaram associação com o Diagnóstico de Enfermagem excesso de peso foram a obesidade abdominal, o hábito alimentar, a história familiar de doenças e pressão arterial alterada. Tais achados poderão contribuir para prevenção de hipertensão em adolescentes, na medida em que direciona o olhar dos enfermeiros ao desenvolvimento de medidas eficazes para intervir nesses fatores de risco.

Palavras chave: enfermagem; obesidade; adolescente; fatores de risco; hipertensão.


ABSTRACT

Objectives.To identify associations between the risk factors for hypertension and the nursing diagnosis of overweight in adolescents. Methods. Cross-sectional study conducted in 2013 with 347 teenagers attending schools in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil, who answered a form about the socioeconomic profile, physical activity, eating habits and family history of disease and who underwent physical examination. For analytical analysis, two groups were formed: students with the Nursing Diagnosis overweight (n=100) and students without this diagnosis (n=247). Results. the risk factors for hypertension associated with the Nursing Diagnosis were: abdominal obesity (OR=40.0), food intake rich in sugar and fat (OR=40.0), family history of hypertension (OR=6.9), obesity and diabetes (OR=2.0), abnormal systolic and diastolic blood pressure (OR=5.5). Conclusion. the risk factors for hypertension that presented association with the Nursing Diagnosis overweight were abdominal obesity, eating habits, family history of diseases and abnormal blood pressure. These findings may contribute to prevent hypertension in adolescents, in that it directs the gaze of nurses to develop effective measures to address these risk factors.

Key words: nursing; overweight ; adolescent; risk factors; hypertension.


RESUMEN

Objetivo.Explorar las asociaciones entre los factores de riesgo para la hipertensión y el Diagnóstico de Enfermería (DE) de sobrepeso en adolescentes. Metodología. Estudio transversal realizado con 347 adolescentes de escuelas de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, quienes respondieron un cuestionario con información acerca de perfil socioeconómico,  actividad física, hábitos alimentarios y antecedentes familiares de la enfermedad.  A su vez,  se  sometieron a un examen físico. Para el análisis se formaron dos grupos: los estudiantes con el DE de sobrepeso (n=100) y los estudiantes sin este diagnóstico (n=247). Resultados. Los factores de riesgo para la hipertensión que se asociaron con diagnóstico de enfermería fueron: obesidad abdominal (OR=40.0), la ingesta de alimentos ricos en azúcar (OR=3.5) y en grasa (4.4); antecedentes familiares de hipertensión (OR=6.9), obesidad (OR=2.0) y diabetes (OR=5.5). El grupo con DE de sobrepeso también tuvo cifras promedio mayores de presión arterial sistólica y diastólica que el grupo sin el diagnóstico.  Conclusión. Los factores de riesgo para la hipertensión que se asociaron con el DE exceso de peso fueron la obesidad abdominal, los hábitos de alimentación, los antecedentes familiares de enfermedades y la presión arterial anormal. Estos hallazgos pueden contribuir a la prevención de la hipertensión en los adolescentes, ya que dirige la mirada de los enfermeros hacia  el desarrollo medidas educativas eficaces para hacer frente a estos factores de riesgo para sobrepeso en  adolescentes.

Palabras clave: enfermería; sobrepeso; adolescente; factores de riesgo; hipertensión


 

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica, multifatorial, caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares.1 A HAS é um Diagnóstico de Enfermagem (DE), segundo a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE®), código 10009394, cujo foco é processo circulatório comprometido, bombeamento sanguíneo com pressão superior à normal.2 Pesquisas em torno dos fatores de risco relacionadas a doenças cardiovasculares vêm se expandindo, mesmo em populações mais jovens, porque é fundamental investigar o que se espera ser parte integral da avaliação clínica. O fator de risco é uma característica pessoal ou ambiental cuja presença está associada a um aumento da probabilidade de ter um quadro patológico. Por meio da análise dos fatores de risco, pode-se predizer a probabilidade de um indivíduo vir a desenvolver doença cardiovascular durante a vida.3

Consideram-se critérios de risco para HAS: idade maior que 65 anos, raça não-branca, excesso de peso; obesidade central; alimentação rica em sal, gordura e açúcares; ingestão de álcool; sedentarismo; baixa escolaridade e componente genético.1Dentre estes fatores, o excesso de peso, hábitos alimentares inadequados e sedentarismo, estão cada vez mais evidentes em adolescentes. A exemplo, nos Estados Unidos, a prevalência do excesso de peso nesta faixa etária é de 34%.4 No Brasil, é o desvio nutricional mais relevante, presente em aproximadamente 20% dos adolescentes.5 Este fato representa preocupação, por causa da alta probabilidade de perpetuação de hábitos não saudáveis por toda a vida;6 pela diminuição da expectativa de vida, devido ao maior risco de desenvolver diabetes tipo 2, resistência à insulina, síndrome metabólica e fatores de risco para doenças cardiovasculares, tais como a HAS.7

A prática de enfermagem também engloba o atendimento a indivíduos com excesso de peso. Trata-se de um DE segundo a CIPE® código 10013899, cujo foco é peso comprometido devido a elevado peso corporal, desencadeado pelo aumento no número e volume das células de gordura, associado à ingestão excessiva de nutrientes e falta de exercício físico.2 Portanto, é relevante que adolescentes com esse DE tenham os fatores de risco para HAS precocemente diagnosticados, para então serem direcionados à assistência adequada. Espera-se que os profissionais da saúde, em especial na Atenção Primária, estejam atentos e preparados para atuar na educação, prevenção e promoção da saúde; e invistam no desenvolvimento de ações no ambiente escolar, porque nesse espaço os mais jovens estão mais receptivos à assistência.8 Como forma de identificar os fatores de risco para HAS em adolescentes com o DE excesso de peso, a fim de contribuir com o planejamento, implementação e acompanhamento dos cuidados de enfermagem, indagou-se: há associação entre os fatores de risco para HAS e o DE excesso de peso em adolescentes?

Acredita-se na pertinência deste estudo, pela possibilidade de gerar conhecimento sobre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da HAS presentes em adolescentes com o DE excesso de peso. E, assim, contribuir para o direcionamento das ações de enfermagem resolutivas, com vistas a diminuir tais riscos e o estabelecimento da doença. Partindo do pressuposto de que o excesso de peso está relacionado à maior risco de HAS,7 o presente estudo objetivou identificar associações entre os fatores de risco para HAS e o DE excesso de peso em adolescentes.

 

METODOLOGIA

Estudo transversal, desenvolvido entre março e junho de 2013, com adolescentes de escolas estaduais situadas em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Para o cálculo amostral, considerou-se: o valor de 16,5%, que representa a prevalência de adolescentes com excesso de peso no Nordeste;5 a população de 27.377 adolescentes matriculados na rede estadual de ensino do município;9 e o limite de erro, que satisfez 0,95. O n amostral obtido foi de 211, em seguida foi aplicada a multiplicação pela constante de correção de 1.5 pela amostragem com estratificação, o que resultou no n=316. Por fim, esse valor foi corrigido em 10% para minimizar eventuais perdas na operacionalização da coleta. Assim, a amostra foi composta por 347 adolescentes. Esse total foi estratificado, proporcionalmente, pelas zonas distritais do município, o que resultou em quatro subamostras: 96 da zona Norte, 70 da Oeste, 104 da Leste e 77 da Sul.

Para selecionar os participantes foram sorteadas duas escolas por zona, o número da subamostra foi dividido nas duas escolas; em cada uma delas, uma turma foi sorteada entre o 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio; todos os alunos da turma sorteada foram convidados a participar, momento em que se entregou o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) para apresentação aos pais. Ao não atingir o número pré-estabelecido em cada escola, uma segunda turma era sorteada; ao exceder o número de alunos, era admitido à pesquisa apenas o equivalente ao calculado para a subamostra. Os critérios de inclusão foram ter entre 12 e 18 anos e estar matriculado em escolas estaduais no município do estudo. Os critérios de exclusão foram não comparecer no dia indicado para a coleta de dados e estar com baixo peso ou muito baixo peso no momento da coleta, pois a inclusão desses poderia comprometer as comparações entre os grupos. Consideraram-se os seguintes critérios de risco para HAS: gênero masculino; raça não-branca; excesso de peso; obesidade central; alimentação rica em sal, gordura e açúcares; ingestão de álcool e sedentarismo. Os fatores: idade maior que 65 anos e baixa escolaridade não se aplicaram neste estudo devido à característica da população estudada. Para o componente genético, devido ser um parâmetro difícil de ser analisado, utilizou-se como referência a história familiar de doenças.1

Os adolescentes foram submetidos ao exame físico e responderam um formulário com questões sobre perfil sócio econômico, prática de atividade física, hábitos alimentares e história familiar de doenças. Os dados do formulário foram coletados por onze graduandos de Enfermagem; e o exame físico foi realizado por uma enfermeira e dois graduandos de Enfermagem, todos os graduandos receberam treinamento para participar da etapa de coleta de dados. O conteúdo do formulário foi submetido à avaliação por cinco especialistas, com pós-graduação (mestres e doutores), pesquisadores da temática de excesso de peso em adolescentes e com produção científica. Na antropometria se considerou a média de duas mensurações. Para o peso, utilizou-se a balança digital Beurer®, com precisão de 10 gramas, com os adolescentes descalços, roupas leves e posicionados no centro da plataforma. A estatura foi medida por estadiômetro da marca WCS®, com precisão de 0,5 centímetros, com os adolescentes descalços, em posição ortostática, braços ao longo do corpo, pés unidos, joelhos esticados, cabeça orientada no plano horizontal de Frankfurt, após inspiração profunda.10

Na medição da circunferência abdominal (CA) utilizou-se fita métrica inelástica da Cardiomed®, com precisão de 0.1 centímetros, no ponto médio entre a borda superior da crista ilíaca e o último rebordo costal, com o adolescente em pé, abdômen desnudo, braços posicionados ao longo do corpo e na fase expiratória da respiração.11 A PA foi aferida em três momentos com intervalos de dois minutos, considerou-se a média das duas últimas medidas.1 Utilizou-se esfigmomanômetro e estetoscópio da BD®. Os participantes tiveram o estado nutricional classificado segundo o índice de massa corporal por idade e sexo com base no escore Z: muito baixo peso (< -3), baixo peso (≥ -3 e < -2), eutrófico (≥ -2 e ≤ +1), sobrepeso (> +1 e ≤ +2) e obesidade (> + 2).12

O DE em análise foi determinado pela presença da característica definidora excesso de peso: sobrepeso ou obesidade.2 A partir disso, a amostra foi dividida em dois grupos, com e sem o DE excesso de peso, e os fatores de risco para HAS foram investigados nos grupos. Foi considerado perda estar com baixo peso ou muito baixo peso, para não comprometer a comparação entre os grupos de interesse, o que totalizou 25 adolescentes. Para a obesidade abdominal foi considerado como presente os valores para CA aumentada, acima do percentil 90, com limite de 88 centímetros para meninas e 102 centímetros para meninos.13

Considerou-se o critério para atividade física utilizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), a fim de comparar os achados do presente estudo, uma vez que na PENSE participaram adolescentes do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares das capitais brasileiras e do Distrito Federal.14 Assim, classificaram-se os adolescentes quanto à atividade física em dois grupos: ativos (escolares que acumularam o valor ≥ 300 minutos de atividade física por semana) e insuficientemente ativos (escolares que afirmaram ter praticado < 300 minutos de atividade física por semana). Utilizou-se o indicador de atividade física acumulada nos últimos sete dias, referente a três diferentes domínios: deslocamento para a escola, aulas de educação física e outras atividades físicas extraescolares.

Para mensurar o hábito alimentar, forneceu-se uma lista com alimentos marcadores de alimentação não saudável,14 ricos em sal, açúcares e gorduras, e os adolescentes responderam quantas vezes os consumiram nos últimos sete dias. Considerou-se como resposta "sim" o consumo de cinco vezes ou mais por semana.  Sobre a história de doença familiar, tendo como referência os parentes de primeiro grau (pais, irmãos, tios e avôs), os adolescentes responderam se na sua família havia história das seguintes doenças: diabetes, HAS e obesidade.1 Para classificação dos valores de PA obtidos em adolescentes, considera-se a idade, sexo e altura. Portanto, considerou-se ‘normal' PA inferior ao percentil 90; e ‘alterada' a PA limítrofe (percentil ≥90 e <95), estágio 1 (percentil ≥95 e <99) ou estágio 2 (percentil ≥99).1

Os dados foram tabulados e analisados no SPSS 19.0 por meio dos testes de Qui-quadrado e odds ratio, considerando: um nível de significância de 5% (p<0,05) para determinar os fatores relacionados ao excesso de peso. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Certificado de Apresentação para Apreciação ética (CAAE) no 10200812.0.0000.5537. A participação dos adolescentes ocorreu após apresentação da pesquisa nas turmas das escolas, os adolescentes com interesse em participar precisaram do consentimento dos pais e assinatura do TCLE.

 

RESULTADOS

Entre os 347 adolescentes participantes, prevaleceu a participação do sexo feminino (72%), não brancos (pardos e negros) (73,6%), com renda familiar de até dois salários mínimos mensais (considerou-se o valor de referência para o salário mínimo em março de 2013, de R$ 678) (76.8%), residindo com quatro ou mais pessoas (69,1%) e com escolaridade materna de até nove anos (32.5%).  Na formação dos grupos de interesse, 100 (26.9%) fizeram parte do grupo de adolescentes com o DE excesso de peso, uma vez que se enquadrava em sobrepeso ou obeso. Os 66.4% restantes (n=247) formaram o grupo de comparação, ou seja, adolescentes sem o DE, por não apresentaram alteração nutricional.

No que se refere à análise de associação entre os fatores de risco para HAS e o DE excesso de peso, conforme apresentado na Tabela 1, observou-se que houve associação entre os grupos para: CA; consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura; história familiar de HAS, obesidade e diabetes; e PA sistólica e diastólica alteradas. Sendo que o grupo com o DE excesso de peso apresentou frequências superiores para esses fatores de risco. Constatou-se, ainda, que os adolescentes com o DE excesso de peso tinham 40.04 vez mais chance de apresentar CA elevada; 3.5 de consumir alimentos ricos em açúcar e 47 ricos em gordura; 6.9 de ter história familiar de HAS, 1.96 obesidade, 5.52 diabetes; e 5.43 vez mais chance de estar com alteração na PA sistólica, e 8.57 na PA diastólica.

Tabela 1.

Ao analisar a associação dos valores médios das PA sistólica e diastólica com o DE excesso de peso, conforme Tabela 2, observaram-se associações, uma vez que as médias foram significativamente superiores nos adolescentes com o DE.

Tabela 2.

 

DISCUSSÃO

O presente estudo permitiu que fossem explorados fatores de risco para o desenvolvimento da HAS em população de adolescentes com o DE excesso de peso. Identificou-se que os adolescentes estudados eram, predominantemente, de baixa renda e escolaridade materna. Estudos apontam que um dos fatores que podem influenciar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, a saber, a obesidade e a HAS, é o contexto social e econômico.1,3,8 Isto porque os "entornos físicos e padrões sociais" dificultam o acesso às unidades de saúde, a compra de alimentos e estilo de vida saudável, o que acarreta a má alimentação, a inatividade física e consequentemente, o excesso de peso.15 O DE excesso de peso mostrou-se, nesse estudo, como um fator de risco para o desenvolvimento da HAS, com risco para os estudantes com obesidade abdominal, maus hábitos alimentares, história familiar de doenças e PA alterada.

A relação entre o excesso de peso, HAS e medidas de CA alteradas é um fator que desperta preocupação entre os profissionais de saúde, visto que a gordura visceral diferencia-se da gordura de outras regiões do corpo, devido a suas características metabólicas e funcionais que induzem à resistência insulínica, bem como, o desenvolvimento de HAS e dislipidemias.16 é possível perceber que o porcentual de adolescentes com PAS e PAD elevadas é significativamente maior entre aqueles com CA aumentada. Uma pesquisa com adolescentes para avaliar a presença de PA elevada por meio de análise de regressão linear simples, foi possível perceber que para cada aumento de 1 cm na CA, a PAS aumentaria de 0,622 mmHg.17

O consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar são hábitos alimentares frequentes nessa faixa etária. Este fato tem elevado os índices de excesso de peso mundialmente entre os adolescentes, visto que o consumo de alimentos com alto teor energético somado à inatividade física elevam os índices de massa corporal. Diante disto, um estudo corroborou com os dados desta pesquisa, identificou a influência positiva entre os valores do índice de massa corporal e os da PA entre adolescentes,18 demonstrando que o aumento do IMC e da CA são preditores do risco de desenvolvimento de HAS em adolescentes. Destaca-se que adolescentes com excesso de peso têm as maiores frequências para os fatores de risco cardiovascular, quando comparados ao grupo de eutróficos.19 Uma investigação, verificou que a obesidade teve associação positiva com a HAS, independentemente dos demais fatores e confirmou a obesidade como um fator de risco para a HAS entre os adolescentes. Afirmou, também, serem necessárias ações de saúde pública para a prevenção, controle e tratamento da HAS e da obesidade na adolescência, a fim de reduzir os prejuízos à saúde em curto e longo prazo.19

Sobre a associação entre a história familiar de doenças, os achados do presente estudo indicaram associação com o DE excesso de peso, não só para a história familiar de HAS, mas também de obesidade e diabetes, que são fatores de risco para o desenvolvimento da HAS. Contudo, essa associação não foi identificada por pesquisa que analisou as mesmas variáveis em sujeitos da mesma faixa etária.18 Quanto ao aumento da pressão arterial sistólica e diastólica em adolescentes com excesso de peso, um estudo não identificou diferença significativa entre os gêneros: a pressão arterial sistólica esteve elevada em 46,4% dos meninos e 39,3% das meninas e a pressão arterial diastólica em 42,0% e 44,6%, respectivamente.  Por meio da análise de regressão linear simples dos valores da pressão arterial sistólica em função dos valores do índice de massa corporal, demonstrou-se que, para cada aumento de uma unidade do índice a pressão arterial sistólica elevou em 1,198 mmHg. Dessa forma, mesmo sem o aumento da CA, o índice de massa corporal alto acarretou risco de PA elevada.18 O que indica a necessidade de maior vigilância quanto a PA e risco para o desenvolvimento de HAS em adolescentes.

Por estes motivos, considera-se relevante identificar os fatores de risco associados ao DE excesso de peso, visto que o tempo de exposição a diversos fatores de risco nessa faixa etária até a idade adulta demonstra estar diretamente associado à morbidade por doença cardiovascular. Identificar que doenças cardiovasculares podem ter origem na infância e adolescência conduz à necessidade de pesquisa ampla dos fatores de risco, objetivando planejar intervenções precoces e efetivas para reduzir a morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares.3 Nessa perspectiva, o enfermeiro da Atenção Primária à Saúde (APS) é um ator indispensável para esta ação, uma vez que pode atuar no âmbito do domicílio desses indivíduos e na escola, através do Programa Saúde na Escola. Através da implementação de ações clínicas de investigação e detecção de adolescentes com o DE excesso de peso, com fatores de risco para HAS ou com a presença desta doença instalada e executando intervenções eficazes que proporcionem a essa clientela e à sua família disporem de maior conhecimento,14 com vistas a diminuir os riscos de desenvolvimento de HAS.

Dentre essas ações destacam-se as intervenções de curta duração, como atividades de educação nutricional e de incentivo à prática de atividade física, utilizando métodos interativos, participativos e dinâmicos na escola, os quais tem se mostrado eficazes para modificação de práticas alimentares consideradas pouco saudáveis entre os adolescentes. Entretanto, sugere-se que estas atividades sejam realizadas em um período contínuo, porque não se sabe se esse comportamento de alimentação saudável se mantém na ausência de tais atividades educativas.7 Além disso, a prática do acompanhamento nutricional deve ser incentivada, pois é importante para a redução de ingestão de alimentos não saudáveis, e aumento do consumo de frutas e legumes entre crianças e adolescentes.6 Portanto, acredita-se que o enfermeiro pode ser um agente ativo dessas ações educativas e do acompanhamento nutricional dos adolescentes. Para tanto, antes disso, os enfermeiros atuantes, especialmente na APS, precisam estar mais atentos para a problemática do excesso de peso e dos fatores de risco de HAS em adolescentes. Destaca-se que para intervir de forma resolutiva, estes profissionais precisam estar dispostos e qualificados para atuar no âmbito da escola instituindo as ações de saúde.

Por fim, o presente estudo apresenta a limitação de a coleta de dados ter ocorrido apenas em escolas públicas estaduais, o que não permitiu comparar as variáveis com uma população de adolescentes com condição socioeconômica diferente, como por exemplo, com alunos de escolas particulares. Considera-se, também, que o estudo foi de delineamento transversal, assim não há possibilidade de estabelecer relações de causalidade entre as variáveis analisadas. Nesse sentido, as inferências das associações aqui observadas devem ser efetuadas com cautela.

O presente estudo apresenta a limitação de a coleta de dados ter ocorrido apenas em escolas públicas estaduais, o que não permitiu comparar as variáveis com uma população de adolescentes com condição socioeconômica diferente, como por exemplo, com alunos de escolas particulares. Considera-se, também, que o estudo foi de delineamento transversal, assim não há possibilidade de estabelecer relações de causalidade entre as variáveis analisadas. Nesse sentido, as inferências das associações aqui observadas devem ser efetuadas com cautela.

Conclusão: Obesidade abdominal, hábito alimentar, história familiar de doenças e PA alterada foram os fatores de risco para HAS que apresentaram associação com o DE excesso de peso. Contudo, sexo, raça, consumo de alimentos ricos em sal e inatividade física, não apresentaram associação estatística significativa entre os grupos de adolescentes.

Tais achados poderão contribuir para a saúde dos adolescentes com o DE excesso de peso e para a prevenção de doenças crônicas na vida adulta, em especial a HAS, uma vez que, direcionam o olhar dos profissionais para os principais fatores de risco para o aumento da PA em adolescentes e para a importância do desenvolvimento de medidas eficazes com vistas a intervir nesses fatores e prevenir esse agravo. Nesse sentido, o enfermeiro que trabalha na APS por estar mais próximo dos adolescentes e ter a possibilidade de atuar no contexto escolar e familiar dessa clientela, pode instituir, continuamente, intervenções que estimule hábitos saudáveis nos mais jovens. Visto que a alimentação não saudável apresentou associação com os adolescentes do grupo com o DE excesso de peso. E trata-se de um importante fator de risco modificável para a HAS, passível de interferências profissionais de fácil execução e de baixo custo.

 

REFERÊNCIAS

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