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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307On-line version ISSN 2216-0280

Invest. educ. enferm vol.34 no.3 Medellín Dec. 2016

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n3a11 

Articles

Estresse entre graduandos de Enfermagem de uma universidade pública brasileira

Verusca Soares-de-Souza1 

Maria Antonia Ramos-Costa2 

Anderson Carlos-Rodrigues3 

Jéssica de Freitas-Bevilaqua4 

Kelly Cristina Inoue5 

João Lucas Campos-de-Oliveira6 

Laura Misue Matsuda7 

1 Registered Nurse, Doctoral Candidate. Professor, State University of Paraná -UNESPAR- Paranavaí Campus/Paraná, Brazil. email: veruscasoares@gmail.com

2 Registered Nurse, Ph.D. Professor, UNESPAR- Paranavaí Campus/Paraná, Brazil. email: enfunespar1982@hotmail.com

3 Registered Nurse. UNESPAR- Paranavaí Campus/Paraná, Brazil. email: andersonkarloss@hotmail.com

4 Registered Nurse. UNESPAR- Paranavaí Campus/Paraná, Brazil. email: jessikdefreitas@hotmail.com

5 Registered Nurse, Ph.D. Professor, Inga Faculty, University Hospital of Maringá/Paraná, Brazil. email: kellyelais@hotmail.com

6 Registered Nurse, Doctoral Candidate. Professor, State University of West Paraná, Cascavel/Paraná, Brazil. email: joao-lucascampos@hotmail.com

7 Registered Nurse, Ph.D. Professor, State University of Maringa, Paraná, Brazil. email: lauramisuem@gmail.com


Resumo

Objetivo.

Determinar o nível de estresse entre estudantes de um Curso de Graduação em enfermagem de uma universidade pública brasileira.

Métodos.

Estudo transversal em que participaram 111 estudantes que responderam ao questionário de 30 itens de Costa e Polak para Avaliação de Estresse em Estudantes de Enfermagem, com opções de resposta tipo Likert de 0-3 (0 = não vivencio a situação; 1 = Não me sinto estressado com a situação; 2 = Me sinto pouco estressado com a situação e; 3 = Me sinto muito estressado com a situação).

Resultados.

Os participantes eram predominantemente solteiros (82.9%), do sexo feminino (83.8%), adultos jovens (média 23.3 anos) que exerciam algum tipo de atividade remunerada (76.6%). Os principais estressores se relacionaram ao pouco tempo para: atividades de lazer (2.6); conviver com os familiares ( 2.5) e; entrega de atividades extraclasse (2.3). Os maiores níveis de estresse entre estudantes se encontraram nos domínios formação profissional (52.2%), comunicação profissional (33.3%) e gerenciamento do tempo (32.4%).

Conclusão.

A maioria dos graduandos apresentou nível baixo de estresse nas atividades gerais do curso, entretanto, as atividades relacionadas com o gerenciamento do tempo, em especial o tempo para atividades acadêmicas e convivência social e familiar, foram identificadas como fatores de estresse permanente durante a graduação

Palavras chave: estresse psicológico; estudantes de enfermagem; saúde mental; ensino superior.

Abstract

Objective.

To determine the level of stress among students of an undergraduate course in nursing of a Brazilian public university.

Methods.

Cross-sectional study involving 111 students who responded to the 30 item questionnaire of Costa and Polak for the Assessment of Stress among Nursing Students, with Likert type response options of 0-3 (0 = I have not experienced the situation; 1 = I do not feel stressed with the situation; 2 = I feel a little stressed with the situation, and 3 = I feel very stressed with the situation).

Results.

Participants were predominantly single (82.9%), female (83.8%), young adults (mean 23.3 years) and performing some kind of paid work (76.6%). The main stressors were related to the lack of time for: leisure activities (2.6); spending time with family members (2.5) and; completion of extracurricular activities (2.3). The highest levels of stress among students were found in the domains of professional training (52.2%), professional communication (33.3%) and time management (32.4%).

Conclusion.

The majority of the students presented low levels of stress in the general activities of the course, however, the activities related to time management, especially time for academic activities and social and family life, were identified as permanent stress factors during the graduation course.

Key words: stress, psychological; students, nursing; mental health; education, higher.

Resumen

Objetivo.

Determinar el nivel de estrés entre los estudiantes en un curso de pregrado en Enfermería de una universidad pública brasilera.

Métodos.

Estudio de corte transversal en el que participaron 111 estudiantes que respondieron la escala de 30 ítems de Costa y Polak para la Evaluación del Estrés en Estudiantes de Enfermería, con opciones de respuesta tipo Likert de 0-3 (0 = no ha vivido la situación; 1 = no se siente estresado; 2 = se siente un poco estresado y, 3 = Me siento muy estresado).

Resultados.

Los participantes fueron predominantemente solteros (82.9%), mujeres (83.8%), adultos jóvenes (edad media 23.3 años) que realizaron algún tipo de actividad remunerada (76.6%). Los principales factores de estrés se relacionaron con: el poco tiempo para actividades de ocio (2.6), vivir con los miembros de la familia (2.5) y la entrega de actividades extracurriculares (2.3). Las mayores proporciones de estudiantes con estrés se encontraron en los dominios de formación profesional (52.2%), comunicación profesional (33.3%) y gerencia del tiempo (32.4).

Conclusión.

La mayoría de los estudiantes de pregrado en Enfermería de la universidad estudiada presentó un nivel de estrés bajo en las actividades generales del curso, mientras que las actividades relacionadas con el gerenciamiento del tiempo, en especial entre el tiempo necesario para las actividades académicas y para las de convivência social y familiar, fueron identificadas como factores de estrés permanentes durante el pregrado.

Palabras clave: estrés psicológico; estudiantes de enfermería; la salud mental; enseñanza superior.

Introdução

As mudanças no cenário socioeconômico são marcadas pela incessante busca pela melhoria da qualidade e aumento da produtividade no trabalho, aliada a inserção de novas tecnologias. Com isso, há exigência cada vez maior por excelência no desempenho das funções laborais e sociais, além do desenvolvimento de novas habilidades e competências.1,2 Como resposta à exigência e pressão que o trabalhador é exposto, observa-se aumento de casos de adoecimento mental, em especial transtornos relacionados ao estresse que, hodiernamente, é considerado como problema de saúde pública.3 Isso porque, o estresse é caracterizado como reação adaptativa do organismo a novas situações, cuja evolução ocorre em três fases: alerta, resistência e exaustão.4

Em contato com um agente estressor, na tentativa de retomar ao ponto de equilíbrio, o organismo tenta se adequar ou eliminar o problema,4 mas se o agente não for eliminado e/ou manejado, comprometimentos de ordem física e/ou psicológica, tais como ansiedade, depressão, insônia, hipertensão arterial, mudanças extremas de apetite e úlceras, poderão ocorrer.4 Os agentes estressores se fazem presentes nos mais variados segmentos sociais e são determinados por situações críticas que podem ocorrer na vida de qualquer indivíduo. Tais situações exigem reações adaptativas que originam respostas ao estresse os quais produtos de ações e reações essencialmente humanas.3,5 No contexto da educação, especialmente nas instituições de ensino superior, o processo de ensino e de aprendizagem, por si só, pode ser considerado um importante agente estressor. Isso porque, a busca do desenvolvimento de habilidades e a aquisição de conhecimentos requeridos pelo mercado de trabalho, exigem do discente/estudante/graduando, a adequação à diversas situações presentes e futuras,2 o que pode gerar crises adaptativas e consequentemente, alto nível de estresse.

Em consonância com o explicitado, no período da formação dos enfermeiros, em determinadas fases, o estresse tende a se fazer presente porque, o ensino em enfermagem é focado no ser humano e isso, pode se configurar em estímulos emocionais intensos, devido às próprias características da profissão que por essência, lida diretamente com o cuidado e não raras vezes, com a dor, a terminalidade da vida, o sofrimento individual e familiar.6 A importância de se investigar o estresse no período de formação profissional de enfermeiros se pauta em estudos que identificaram sinais de depressão grave entre estudantes de enfermagem7,8 e apontam como principal agente estressor, o gerenciamento do tempo no que concerne às dificuldades para conciliar as atividades acadêmicas com as demandas pessoais, emocionais e sociais.2,6

Considerando a importância do tema em foco, este estudo se justifica porque, os seus resultados poderão proporcionar conhecimento para que coordenações de cursos de graduação em enfermagem (re)planejem os seus respectivos Projetos Pedagógicos, de forma a estabelecer medidas preventivas e/ou de enfrentamento que visem à redução de fatores de estresse durante o processo de formação de enfermeiros. Com base no exposto, pergunta-se: Será que estudantes de graduação em Enfermagem encontram-se estressados? Para responder a essa questão, este estudo teve como objetivo verificar o nível de estresse entre estudantes de um Curso de Graduação em Enfermagem.

Métodos

Pesquisa descritiva, transversal, de abordagem quantitativa, realizada em 2014, em uma instituição de ensino superior pública, do estado do Paraná - Brasil. Para fazer parte do estudo, foram considerados os seguintes critérios: ser estudante/acadêmico de enfermagem, regularmente matriculado na instituição no ano de 2014 e ter idade igual ou maior que 18 anos. Os acadêmicos foram orientados quanto ao objetivo do estudo, participação voluntária e preservação de anonimato e o aceite em participar foi concretizado mediante a leitura e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Para a coleta de dados, utilizou-se um instrumento autoaplicável constituído de duas partes. A primeira parte possuía questões de caracterização sociodemográfica e a segunda, era constituída pelo questionário “Avaliação de Estresse em Estudantes de Enfermagem” (AEEE),7 composto por 30 questões/itens, agrupados em seis domínios: (1) Realização das atividades práticas (6 questões); (2) Comunicação profissional (4 questões); (3) Gerenciamento do tempo (5 questões); (4) Ambiente (4 questões); (5) Formação profissional (6 questões); e, (6) Atividade teórica (5 questões), cujas respostas são organizadas em escala tipo Likert de quatro níveis, assim pontuadas: 0 = “Não vivencio a situação”; 1 = “Não me sinto estressado com a situação”; 2 = “Me sinto pouco estressado com a situação” e; 3 = Me sinto muito estressado com a situação”7. A análise dos dados foi realizada por domínios e pelas médias das respostas às questões do AEEE, para identificar o nível de estresse entre os estudantes. Desta forma, para a análise das questões, calculou-se a Média Ponderada (MP) de cada questão por Série. Já para avaliação do nível de estresse por domínios, realizou-se a soma dos valores das respostas às questões correspondentes a cada domínio e em seguida, a pontuação obtida foi classificada de acordo com os valores que constam no Tabela 1.

Tabela 1 Classificação do nível de estresse para cada domínio, de acordo com a pontuação do questionário AEEE 

A análise por meio de estatística descritiva (medidas de dispersão, frequências e porcentagens) foi mediada pelo programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 20. A apresentação dos resultados se dará na forma de tabelas e a discussão, focará nos principais agentes causadores de estresse em cada Série, com ênfase nos resultados que indicam maior nível de estresse, por Domínio e Série. Todos os aspectos éticos e legais que regem as pesquisas com seres humanos foram cumpridos e o Projeto desta investigação está registrado sob o CAAE no. 30706414.0.0000.0092.

Resultados

Dentre os 134 alunos de enfermagem, participaram deste estudo 111 estudantes (83%) das diversas séries de formação, visto a recusa em responder o questionário por 23 dos sujeitos abordados. Observa-se (Tabela 2) que em todas as séries, existiam mais participantes adultos jovens (média=23.3 anos; DP=6.7 anos), predominantemente solteiros (82.9%) e do sexo feminino (83.8%).

Tabela 2 Caracterização dos participantes por Séries de um Curso de Graduação em Enfermagem. Paraná, Brasil, 2014. 

Na Tabela 3, constam as média ponderadas por item e domínios do questionário AEEE e séries se observa que, as questões relacionadas ao gerenciamento do tempo obtiveram respostas que indicam maiores níveis de estresse entre todas as séries. Ademais, a segunda série apresentou os piores resultados nas questões deste domínio, assinalando como estressores o pouco tempo para o descanso (MP 2.8); pouco tempo destinado ao lazer (MP 2.6); tempo reduzido para conviver com familiares (MP 2.5) e; para a entrega de atividades extraclasse (MP 2.3).

Tabela 3 Média Ponderada (MP) das respostas as questões sobre estresse, de acordo com as Séries de um Curso de Graduação em Enfermagem. Paraná, Brasil, 2014 

A Tabela 4, aponta que de maneira geral, os acadêmicos possuem baixo nível de estresse em todas as séries de formação.

Tabela 4 Nível de estresse de graduandos de um Curso de Graduação em Enfermagem por domínio do questionário AEEE, por Séries. Paraná, Brasil, 2014 

Discussão

Os dados de caracterização dos estudantes desta investigação, coadunam com outros estudos realizados com estudantes de enfermagem8,9) que, dada a ampliação das políticas públicas, os adultos têm maior possibilidade de acesso às universidades. A enfermagem, historicamente, remonta-se como profissão permeada pela figura da mulher, a qual sempre esteve associada à provisão do cuidado familiar. Esse dado tem relevância porque, a mulher, além do possível estresse vivenciado no período de formação profissional, pode também sofrer influência de fatores ainda presentes na sociedade hodierna que, apesar dos avanços, mantém resquícios históricos da hegemonia do homem como figura provedora do sustento familiar e, consequentemente, da própria sociedade.

Ainda com base nos dados deste estudo, alerta-se para o fato de que grande parte dos graduandos exercia algum tipo de atividade remunerada (76.6%) e isto, sinaliza que a maior parcela da amostra não se dedicava exclusivamente ao estudo. A esse respeito, a literatura aponta que, estudantes que trabalham tendem a referir dificuldade na concentração,8 baixa qualidade do sono1 e também, déficit no aprendizado.10 A influência do estresse sobre a qualidade do sono de estudantes de enfermagem foi analisada por estudo recente,9) o qual constatou que o vínculo empregatício exerce interferência negativa no descanso dos acadêmicos porque, estes utilizam o período/tempo que deveria ser destinado ao descanso, para cumprir suas obrigações acadêmicas (atividades de ensino e pesquisa) e de convívio social.9

Em análise da Tabela 3, observa-se que as questões que abordam o gerenciamento de tempo obtiveram respostas indicativas de maior nível de estresse em todas as séries. Cabe ressaltar que a instituição investigada oferta o Curso de Enfermagem, com duração de quatro anos, em tempo integral, dispondo aulas teóricas no período noturno e aulas práticas supervisionadas, em laboratório e no campo de estágio, no período diurno. Além disso, ainda que o Curso tenha atividades diurnas obrigatórias, as aulas teóricas noturnas não são suspensas e nem adiadas e isso, talvez se reflita na dificuldade da gestão do tempo vivenciada pela maioria dos sujeitos.

A dificuldade em gerenciar o tempo para cumprimento de atividades acadêmicas, em detrimento do lazer e recreação, pode acarretar consequências físicas e psicológicas do estresse nos graduandos de enfermagem. Ao exemplo disso, um ensaio clínico11 que investigou os efeitos dos exercícios da yoga no estresse e nos níveis glicêmicos de estudantes de enfermagem, obteve redução significativa nos indicadores de estresse e de glicemia, mediante a realização de exercícios de yoga semanais.

Ante ao exposto, alvitra-se que as instituições formadoras de enfermeiros e outros profissionais devem se atentar ao tempo disponibilizado aos acadêmicos para atividades de lazer e esporte, a fim de que a vida acadêmica, não se porte como fator contrário à qualidade de vida desses indivíduos. Para minimizar essa realidade sugere-se a redistribuição de aulas, alternando-as nos períodos do dia e, dispensando os alunos de aulas teóricas no período de estágios obrigatórios. Acresça-se ainda que, o gerenciamento do tempo é uma competência indispensável ao planejamento e organização da assistência de enfermagem,12 para que as ações de cuidado sejam adequadamente priorizadas. Neste sentido, o estresse acarretado pelo déficit no gerenciamento do tempo do graduando pode ser reproduzido no seu desempenho profissional e, possivelmente, repercutir negativamente na prática da gerência do cuidado.

Ainda, nota-se que entre os graduandos de todas as séries, a preocupação com o futuro profissional foi apontada como preocupação, sendo que, aqueles da primeira série obtiveram a pior percepção da questão. Isso pode ser produto do aumento crescente das exigências por competências entre enfermeiros que, além de fazerem parte da população em geral, que sofre pressão pelo aumento da produtividade no trabalho,1,2 também se veem com a necessidade de incorporar habilidades e competências que ultrapassam a dimensão técnica do trabalho em saúde,12 podendo, em consequência, apresentar sinais de ansiedade e/ou de preocupação, logo no início da graduação.

A ansiedade apontada pelos estudantes, no que concerne ao seu futuro profissional, reflete a exigência do mercado de trabalho atual, que requer profissionais capacitados para exercerem as suas funções com excelência. Nesta perspectiva, a literatura13 aponta que, a pressão de fatores sociais e econômicos, além de impor o desenvolvimento de novas habilidades e competências, admite poucos erros e isso, em nosso entender, pode se apresentar como estressor importante no período da graduação. Com relação à quarta série e/ou último ano do Curso de Enfermagem, na literatura8,14 consta que, esta fase tem como características, o aumento das atribuições acadêmicas, a insegurança com relação à futura profissão e com o enfrentamento do mercado de trabalho, fatores destacados pelos acadêmicos da quarta série.

A preocupação com o conhecimento prático adquirido, coaduna com os resultados de estudo recente,15 que teve como objetivo identificar os preditores de estresse e as estratégias de coping utilizadas por estudantes de enfermagem e constatou que quanto maior a percepção de déficit de conhecimento prático adquirido, maior era a ocorrência de estresse entre os estudantes. De outra perspectiva, uma pesquisa que objetivou analisar a percepção de egressos em enfermagem, quanto à contribuição do Curso para o desenvolvimento de competências necessárias à prática profissional, concluiu que o Curso foi importante ao preparo profissional, em especial no que concerne aos aspectos éticos e legais da profissão.16) Os acadêmicos da terceira e quarta série se destacaram ao apontar o medo de cometer erros como um fator estressante. Neste aspecto, conjectura-se que, isso ocorre porque, nas últimas séries do curso, dada à vivência na prática (estágios) e discussões em ambientes reais, o acadêmico tem maior conhecimento sobre o potencial de dano que a assistência à saúde pode causar. Nota-se ainda, que há aumento gradativo do estresse relacionado ao sentimento de pouco conhecimento para a avaliação prática ao longo das séries da graduação. Na mesma direção do debate anterior, alude-se que isso também pode ser decorrente da possibilidade de que os estudantes, ao exercício prático, sentem-se mais ansiosos porque, a prática, ainda que simulada, pode significar aproximação para com o exercício profissional que notoriamente é carregado por um arsenal de riscos e incertezas.17

Embora os estudantes tenham apontado alguns itens específicos referentes ao gerenciamento de tempo, ao futuro profissional e às avaliações, como agentes estressores, a análise por domínios demonstra que, de maneira geral, os acadêmicos possuem baixos níveis de estresse em todas as séries da graduação, destacando-se apenas o domínio preocupação com a formação profissional. Alerta-se, novamente, para o fato de que perceber a formação profissional como estressante pode ter como uma das consequências a diminuição da qualidade do sono.9 Além disso, adiciona-se a tal circunstância, a pressão gerada pela expectativa dos familiares acerca do futuro profissional do estudante, suscitando situações de crise adaptativa para alguns graduandos18 e assim, interferir na sua forma de enfrentamento às situações de estresse.

Ainda que outro estudo2) apresentem o gerenciamento de tempo como maior fator de desgaste entre todas as séries da graduação em enfermagem, apenas a terceira série apresentou altos níveis de estresse no referido domínio (alto=45%; muito alto=10%). Conjectura-se então, que este fato talvez se atrele à possível transição que esta série na graduação representa para os acadêmicos, que passam a dedicar-se exclusivamente à formação específica da enfermagem, o que normalmente está associado à maior quantidade de atividades práticas (estágios); trabalhos teóricos; estudos de caso; e avaliações teóricas e práticas, os quais representam ferramentas pedagógicas comuns dessa fase.

Embora a falta de tempo para o convívio social possa ser ocasionada pela sobrecarga de atividades comum aos cursos de graduação em enfermagem, os domínios “Realização de Atividades Práticas” e “Atividade Teórica” obtiveram a menor classificação de agente estressor entre todas as séries investigadas. Tal achado difere de pesquisa anterior,15) que teve como objetivo associar preditores de estresse com estratégias de coping entre acadêmicos de enfermagem e constatou que, a baixa percepção de conhecimento prático, adquirido durante a graduação, era a causa de maior ocorrência de estresse entre os estudantes.

Observa-se que o domínio “Ambiente” obteve o maior número de respostas que classificam o item como agente estressor baixo entre as séries, a saber: 67.5%; 70.8%; 75%; 66,7%, dos estudantes da primeira, segunda, terceira e quarta série, respectivamente. O resultado do referido domínio, que aborda a percepção dos acadêmicos acerca das dificuldades no acesso à Universidade, aos campos de estágio e à utilização de transporte público,7 coaduna com um estudo que teve o objetivo de relacionar o estresse e a qualidade do sono entre estudantes de enfermagem e não obteve relação positiva entre o domínio Ambiente e o repouso dos investigados.9

Quanto ao nível de estresse entre graduandos por domínio do questionário AEE, nota-se que, os estudantes de enfermagem apresentam níveis de estresse reduzido no que concerne às atividades gerais do curso. Entretanto, atividades relacionadas ao gerenciamento do tempo, em especial entre o tempo necessário para as atividades acadêmicas e aquele necessário para as atividades de convívio social e familiar, foram apontadas como um fatores de estresse, presentes no cotidiano da graduação.

Os graduandos de enfermagem investigados apresentaram-se com baixo nível de estresse nos domínios Realização de Atividades Práticas, Comunicação Profissional, Ambiente e; Atividade Teórica. No entanto, o domínio Formação Profissional se destacou por ter sido o único que obteve nível de estresse “Muito Alto”. A ausência de análise estatística inferencial, o recorte transversal e o local de estudo singular são, possivelmente, as mais expressivas limitações desta investigação. Todavia, acredita-se que o estudo contribui no sentido de levantar e/ou afirmar sobre fatores importantes que geram estresse entre acadêmicos de enfermagem o que, sem dúvida, favorece a tomada de decisão de gestores e educadores que militam pela saúde e qualidade de vida dos estudantes.

Fica evidente a necessidade de novos estudos com diferentes abordagens metodológicas, ao exemplo dos estudos qualitativos com enfoque na percepção de graduandos frente ao estresse, além de investigações analíticas que possibilitem a mensuração do nível de estresse em associação com outras variáveis de interesse à formação profissional.

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Recebido: 13 de Outubro de 2015; Aceito: 31 de Agosto de 2016

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