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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307On-line version ISSN 2216-0280

Invest. educ. enferm vol.34 no.3 Medellín Dec. 2016

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n3a16 

Articles

Qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma universidade pública brasileira

Angela Rosa Moritz1 

Evani Marques-Pereira2 

Kátia Pereira-de-Borba3 

Maria José Clapis4 

Vania Gryczak-Gevert5 

Maria de Fátima Mantovani6 

1 Nurse. Nova Laranjeiras City Hall. Paraná, Brazil. email: angela.mortiz2007@gmail.com

2 Nurse, Ph.D. Professor, Universidade Estadual do Centro Oeste, Guarapuava, Paraná, Brazil. email: evanimp@hotmail.com

3 Nurse, Ph.D Student. Professor, Universidade Estadual do Centro Oeste, Guarapuava, Paraná, Brazil. email: kpborba@gmail.com

4 Nurse, Ph.D. Professor, Ribeirão Preto School of Nursing, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil. email: maclapis@eerp.usp.br

5 Matemathician, Ph.D Student. Professor, Universidade Estadual do Centro Oeste, Guarapuava, Paraná, Brazil. email: vaniagg2@hotmail.com

6 Nurse, Ph.D. Professor, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brazil. email: mfatimamantovani@ufpr.br


Resumo

Objetivo

. Avaliar a qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma universidade pública brasileira.

Métodos.

Estudo descritivo, transversal e de abordagem quantitativa, realizado em uma universidade pública de um município do interior do estado do Paraná, Brasil. Aplicou-se a versão breve do questionário World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref) , da Organização Mundial de Saúde.

Resultados.

Participaram do estudo 95 estudantes que eram predominantemente; jovens (83.2%), solteiros (89.4%), do sexo feminino (91.6%), viviam com amigos (47.4%), recebiam mesada (59%), com renda mensal suficiente (77.9%) e que dedicavam-se de 7 a 8 horas diárias às atividades acadêmicas (25.2%). Dentre os domínios de qualidade de vida, as relações sociais obtiveram o maior escore (77.2), seguido do psicológico (67.7), meio ambiente (64.9) e físico (63.4). A pontuação média do WHOQOL foi de 78. As relações entre as variáveis sócio-demográficas e os domínios de qualidade de vida não foram estatisticamente significativas.

Conclusão

. Entre os alunos de enfermagem investigados se observou um alto escore de qualidade de vida geral. Atribui-se a esse resultado o fato de os investigados terem uma boa condição socioeconômica, disporem de amparo familiar e de amigos e estarem em uma universidade que apresenta uma boa infraestrutura. É importante que se preste mais atenção a saúde física desses estudantes.

Palavras chave: qualidade de vida; estudantes de enfermagem; educação em enfermagem.

Abstract

Objective.

To analyze the quality of life of undergraduate students of a nursing course.

Methods.

This was a descriptive and cross-sectional study with a quantitative approach conducted in a public university in a municipality of Paraná State, Brazil; the study used the World Health Organization Quality of Life questionnaire (WHOQOL-BREF) of the World Health Organization.

Results.

The study included 95 students, predominantly young (83.2%), single (89.4%), females (91.6%), living with friends (47.4%), receiving allowances (59%), with enough monthly income (77.9%), and dedication of seven to eight daily hours to academic activities (25.2%). Among the areas of quality of life, social relationships showed the highest score (77.20) followed by psychological (67.73), environmental (64.85), and physical (63.40). The relationship between sociodemographic variables and domains of quality of life was not significant according to the Student’s t and ANOVA tests.

Conclusion.

This study highlights the importance of attention to the physical health of nursing students.

Key words: quality of life; nursing students; nursing education.

Resumen

Objetivo.

Evaluar la calidad de vida de los estudiantes de Enfermería de una universidad pública brasileña.

Métodos.

Estudio descriptivo, transversal y de enfoque cuantitativo, realizado en una universidad pública de un municipio del interior del Estado de Paraná, Brasil. Se aplicó la versión breve del cuestionario World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref) .

Resultados.

Participaron en el estudio 95 estudiantes, que fueron predominantemente: jóvenes (83.2%), solteros (89.4%), de sexo femenino (91.6%), vivían con amigos (47.4%), recibían mesada (59%), con renta mensual suficiente (77.9%) y que dedicaban de 7 a 8 horas diarias a las atividades académicas (25.2%). Dentro de los dominios de calidad de vida, el de relaciones sociales obtuvo el mayor puntaje (77.2), seguido del psicológico (67.7), medio ambiente (64.9) y físico (63.4). El promedio del puntaje del WHOQOL fue de 78. Las relaciones entre las variables sociodemográficas y los dominios de calidad de vida no fueron estadísticamente significativas.

Conclusión.

Entre los alumnos de Enfermería investigados se observó un alto puntaje de calidad de vida general. Se atribuye este resultado al hecho de que los investigados tienen una adecuada condición socioeconómica, disponen de apoyo de las familias y de los amigos y estudian en una universidad que presenta una buena infraestrutura. Es importante que se preste más atención a la salud física de los estudiantes.

Palabras clave: calidad de vida; estudiantes de enfermería; educación en enfermería.

Introdução

O conceito de qualidade de vida (QV) apresenta caráter subjetivo, pois cada indivíduo o interpreta segundo seu ponto de vista. É multidimensional, porque sofre influência dos fatores relacionados à educação, à economia e aos aspectos socioculturais.1) O Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde definiu QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.2 Na literatura científica nacional e internacional, no campo do ensino em saúde e, especialmente, da formação em enfermagem, a QV tem sido tema de relevante interesse.1,3-8

Os estudantes de enfermagem representam um grupo de indivíduos que se encontra em constante comprometimento de sua QV, pois, para realizar as ações que integram sua formação, enfrentam situações de sofrimento e estresse, sejam elas, ajudar seres humanos a nascerem, superar problemas e limitações e morrer dignamente.9 A função formadora da universidade deve proporcionar um ambiente de aprendizagem que promova a QV dos estudantes.5 Todavia, estudos têm apontado que a QV de graduandos de enfermagem tem sido afetada pela sobrecarga horária do curso e a falta de tempo para lazer.1) Os acadêmicos do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) fazem parte de um grupo que merece atenção no que diz respeito a análise de sua qualidade de vida.

Os estudantes têm aulas em período integral, participam de projetos de pesquisa e extensão, além dos estágios curriculares e outras atividades extracurriculares, como a participação em eventos científicos. As atividades práticas se iniciam a partir do segundo ano do curso, e os estágios curriculares juntamente com o desenvolvimento do trabalho de conclusão do curso (TCC) acontecem no quarto ano. Considera-se que o curso de enfermagem da UNICENTRO dispõe de uma infraestrutura de ensino adequada. Possui laboratórios de anatomia, fisiologia e de práticas de procedimentos de enfermagem; salas de aula; auditórios confortáveis; núcleos de informática, biblioteca e áreas de estudos. Para as atividades práticas e de estágio, a UNICENTRO mantém parcerias com hospitais e unidades de saúde pública localizados na cidade sede da instituição de ensino, os quais localizam-se em média 4 a 5 km de distância dessa universidade.

Este curso de enfermagem tem reuniões pedagógicas rotineiramente às segundas-feiras. Durante essas reuniões, os docentes compartilham as queixas de cansaço dos alunos, principalmente nos períodos de atividades práticas de campo e estágio supervisionado, quanto a: dificuldades para a realização de todas as atividades planejadas pelo curso e tempo para lazer, atividades físicas, sono e repouso. Assim, partindo da hipótese que a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem dessa universidade estaria comprometida, surgiu a seguinte questão de pesquisa: “Como está a qualidade de vida dos estudantes do curso de enfermagem da UNICENTRO?” A fim de responder a essa pergunta, realizou-se este estudo, que objetivou avaliar a qualidade de vida de estudantes de enfermagem de uma universidade pública brasileira

Métodos

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de corte transversal e de abordagem quantitativa. Para a realização da pesquisa, foi concedida a autorização da coordenação e dos professores do curso de enfermagem da UNICENTRO, Paraná, Brasil. Participaram da pesquisa acadêmicos do primeiro ao quarto ano do curso de enfermagem, presentes em sala de aula no dia da coleta de dados, que aconteceu em 06 de agosto de 2012, conforme a disponibilidade dos estudantes. A aplicação dos instrumentos de coleta de dados junto aos pesquisados somente aconteceu após esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa, concordância, e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pelos mesmos. Os instrumentos de coleta de dados foram respondidos pelos estudantes de forma autoplicada. Não houve dificuldades durante a coleta de dados.

Na coleta de dados, utilizou-se um questionário de caracterização dos participantes quanto a: sexo, idade, estado civil, condições financeiras e de moradia, e período em horas de dedicação ao estudo acadêmico; e o questionário de QV World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref), instrumento elaborado pelo Grupo da Organização Mundial de Saúde (OMS), traduzido e validado para a realidade brasileira.10 O WHOQOL-bref considera as duas últimas semanas vividas pelos respondentes e é composto por 26 questões, sendo duas de âmbito geral (uma se refere à vida e outra à saúde) e 24 compreendendo os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Os domínios apresentam aspectos objetivos e subjetivos de avaliação. As respostas são dadas em uma escala do tipo Likert, variando em intensidade, capacidade, frequência e avaliação. Os escores finais de cada domínio consideram as respostas de cada questão que o compõe, resultando em escores finais numa escala de 4 a 20, que podem ser transformados de 0 a 100, medidos em direção positiva. Escores mais altos indicam melhor avaliação da qualidade de vida.11,12

Os dados coletados foram tabulados em planilha do software Excel e tratados estatisticamente para posterior análise. As informações sociodemográficas foram analisadas através de estatística descritiva simples, com cálculo de frequência absoluta e relativa.13 Os resultados referentes à QV foram distribuídos estatisticamente aos quatro domínios, sendo que a soma das questões que compreende cada domínio teve um total de 100. Para identificar diferenças significativas entre as médias encontradas das variáveis sociodemográficas e os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente foi utilizado ANOVA e o Teste t Student. Em todos os casos, um valor de p < 0.05 foi considerado estatisticamente significativo.14 A pesquisa foi realizada de acordo com as Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, conforme Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, resolução vigente no período de coleta de dados, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Paraná, Brasil, mediante parecer nº 80/2012.

Resultados

Dos 134 estudantes matriculados no curso de graduação em enfermagem da UNICENTRO, no ano de 2012, participaram da pesquisa 95 (70.89%). Entre os convidados a participar do estudo, 9.47% se negaram e 31.57% não compareceram à aula no dia da coleta de dados. Em relação ao ano de graduação, participaram 38.94% dos alunos do primeiro ano, 23.15% do segundo e quarto ano, e 14.73% do terceiro ano.

A Tabela 1 demonstra a distribuição do total dos acadêmicos pesquisados, segundo as variáveis sociodemográficas e as associações aos domínios de qualidade de vida.

Tabela 1 Escores de qualidade de vida (média ± desvio-padrão) de 95 acadêmicos de enfermagem, segundo associações entre características sociodemográficas (Paraná, Brasil, 2012) 

Variáveis Domínios
n (%) Físico Psicológico Relações Sociais Meio Ambiente p
Sexo 0.7
Feminino 87 (91.6) 63.1±10.2 67.4±7.9 76.9±14.6 64.6±11.3
Masculino 8 (8.4) 64.6±16.5 69.3±13.6 69,3±13,6* 81.5±8.9 81,5±8,9* 64.7±8.9
Idade 0.71
17- 20 anos 79 (83.2) 63.1±1.2 67.4±7.9 76.9±14.6 64.6±11.3
> 20 anos 16 (16.8) 64.8±11.5 69.3±8.2 78.6±13.9 66.0±12.8
Estado civil 2.19
Casado (a) 5 (5.3) 71.0±11.6 68.4±6.8 81.2±16.6 76.7±9.9
Solteiro (a) 85 (89.4) 63.1±10.5 68.1±8.0 77.3±13.2 63.9±11.5
Relação estável com parceiro fixo 5 (5.3) 61.4±5.6 61.2±5.2 71.4±29.8 69.6±2
Mesada /a 0.85
Sim 56 (59.0) ((59,0)(59,0) 64.2±9.3 68.5±9.0 78.7±15.3 63.8±13.0
Não 39 (41.0) 62.8±11.2 67.2±7.1 76.2±13.7 65.6±10.4
Bolsa acadêmica 0.53|
Sim 14 (14.8) 58.8±12.0 63.4±7.7 74.9±10.4 65.7±10.8
Não 81 (85.2) 64.2±10.0 68.5±7.8 77.6±15.0 64.7±11.7 0.08
Renda mensal
Superávit 17 (17.9) 62.2±13.7 67.6±8.4 75.9±17.3 64.5±11.4
Suficiente 74 (77.9) 63.7±9.5 67.8±8.0 77.6±13.9 65.1±11.9
Insuficiente 4 (4.2) 63.5±14.2 67.8±5.0 74.3±13.0 62.0±6.9
Com quem reside 0.15
Sozinho (a) 5 (5.3) 59±15.7 71.2±6.0 75.8±17.7 65.4±12.5
Pais 33 (34.7) 64.8±8.9 68.8±8.6 77.2±14.0 63.0±12.5
Parentes 12 (12.6) 66.3±10 68.7±7.3 78.4±16.2 70.2±10.6
Amigos 45 (47.4) 62±10.8 66.3±7.7 77.0±14.3 64.8±11.3
Dedicação diária às atividades acadêmicas 0.07
6 horas 10 (10.5) 64.7 ±9.8 67.5 ±7.3 80.4 ±11.9 65.2 ±10.8
6 a 7 horas 23 (24.2) 65.5 ±9.3 67.7 ±5.6 73.8 ±16.8 68.1 ±11.8
7 a 8 horas 24 (25.2) 64.0 ±7.9 66.8 ±8.7 80.0 ±16.2 63.7 ±11.6
8 a 9 horas 20 (21.1) 62.6 ±11.5 66.8 ±4.7 74.1 ±11.8 64.0 ±13.6
10 horas ou mais 18 (19.0) 60.2±13.5 70.2±12.0 79.6±12.1 63.0±9.3

Entre os estudados predominou jovens do sexo feminino (91.6%). A faixa etária variou entre 17 e 25 anos, sendo que 83.2% tinham idade entre 17 a 20 anos. Em relação aos dados sociodemográficos destacaram-se as seguintes informações: serem solteiros (89.4%), receberem mesada dos pais (59%), residirem com amigos (47.4%) e terem renda mensal suficiente (77.9%). Em relação ao tempo dedicado às atividades acadêmicas, observa-se a predominância de discentes (25.2%) que dedicam sete a oito horas diárias aos estudos, o que confere uma média de 52,5 horas semanais. Na Tabela 2, pode-se observar a média dos escores atribuídos aos domínios de qualidade de vida para o total de acadêmicos de enfermagem estudados. O domínio físico teve o menor escore para QV (63.4), seguido dos domínios meio ambiente (64.8) e psicológico (67.7). O domínio relações sociais teve o maior escore (77.2). Entre os pesquisados o escore de qualidade de vida geral variou entre 30 a 100, atingindo uma média de 78.

Tabela 2 Escores obtidos no WHOQOL-Abreviado de 95 acadêmicos do curso de enfermagem (Paraná, Brasil, 2012) 

Dominio Média DP Mediana Mínimo Máximo
Físico 63.4 2.7 63.0 31.0 86.0
Psicológico 67.7 1.5 68.0 38.0 91.0
Relações Sociais 77.2 5.1 80.0 20.0 100.0
Meio ambiente 64.8 3.3 65.7 37.0 92.7
Qualidade de Vida Geral 78.0 6.1 80.0 30.0 100.0

A Tabela 3 apresenta a comparação dos escores médios dos domínios de qualidade de vida entre os acadêmicos do primeiro ao quarto ano. O domínio físico teve maior escore entre os alunos do primeiro ano (65) e menor entre os alunos da terceiro ano (61.6). O domínio psicológico teve maior escore entre os alunos do primeiro e quarto ano (69.20), e menor escore entre os alunos do terceiro ano (65.2). O domínio relações sociais teve maior escore entre os alunos do primeiro ano (79.4) e menor entre os alunos do segundo ano (73.6). O domínio meio ambiente teve maior escore entre os alunos do quarto ano (65.4) e menor escore entre os alunos do segundo ano (63.8); e entre os alunos do primeiro, segundo, terceiro e quarto ano constata-se as médias dos valores p para os domínios físico (p = 0.93), psicológico (p=0.15), relações sociais (p=0.51) e meio ambiente (p=0.96) maiores do que o nível de significância pré determinado (p<0.05).

Tabela 3 Escores médios dos domínios da qualidade de vida, segundo WHOQOL -Breaf, de 95 acadêmicos de 

Domínio Ano n Média DP t p
Físico 37 65.0 9.4 0.63 0.93
22 62.6 12.5
14 61.6 9.3
22 62.6 10.5
Psicológico 37 69.2 6.5 1.80 0.15
22 65.4 9.2
14 65.2 5.9
22 69.2 9.1
Social 37 79.4 14.6 0.76 0.51
22 73.6 17.6
14 77.0 12.3
22 77.0 11.5
Meio Ambiente 37 65.2 11.0 0.08 0.96
22 63.8 12.7
14 65.0 12.5
22 65.4 11.0

Discussão

Este estudo partiu da hipótese de que os estudantes do curso de enfermagem da UNICENTRO têm baixa Qualidade de Vida. O uso dos testes estatísticos t Student e ANOVA, significativos para p < 0.05, demonstraram que não houve diferenças significativas entre as variáveis sociodemográficas e os domínios de qualidade de vida, caracterizando entre os investigados um alto escore de QV geral. Contudo ressalta-se algumas considerações sobre os resultados sociodemográficos e as médias dos escores dos domínios de qualidade de vida. O resultados dos dados sociodemográficos quanto a predominância do sexo feminino e faixa etária jovem podem ser relacionados aos achados de outros estudos.1,3,4,9,14,15) Esses resultados revelam um perfil peculiar nas universidades públicas brasileiras, ou seja mulheres jovens que cursam enfermagem.

Ainda quanto ao sexo, vale destacar a evidência de melhor qualidade de vida entre os escores médios de domínios relativos a aspectos psicológicos para os homens em relação as mulheres. O homem em comparação com a mulher apresenta diversos comportamentos de risco e percebe menos os cuidados com a saúde como importantes, valorizando menos sintomas psicológicos, havendo assim, uma exigência socialmente construída, de que o homem seja física e psicologicamente forte.15 A caracterização dos estudantes investigados no que diz respeito a serem solteiros, receberem mesada dos pais, residirem com amigos e terem renda mensal suficiente, pode ser relacionada a alguns estudos que investigaram a temática QV entre acadêmicos de enfermagem de universidades públicas.1,15) Cursos de enfermagem em universidades públicas constituem-se em tempo integral.1,3,4,9,14,15) Dessa forma exige dos estudantes a realização de inúmeras atividades, o que os ocupam para além dos horários regulares, requerindo quase que uma dedicação exclusiva.15 Nessa perspectiva tem-se um perfil de estudantes que de maneira geral não trabalham, mas têm que ter uma boa condição financeira para manter suas necessidades socioeconômicas.

Considera-se como fator contribuidor para o menor escore de QV no domínio físico entre os investigados, o fato de 93.8% dos estudantes relatarem não estar totalmente satisfeitos com o seu sono. O predomínio de relatos entre os estudantes de enfermagem correspondente a insatisfação com o sono traduz o comprometimento da qualidade de descanso e do grau de energia entre os pesquisados, revelando interferência negativa na realização de atividades diárias e no processo de aprendizagem.6 Corrobora com o resultado do domínio físico a pesquisa Percepção de graduandos de enfermagem sobre sua qualidade de vida realizada na Universidade Federal do Estado de São Paulo.1 Nessa pesquisa o domínio físico teve menor escore médio entre os estudantes de enfermagem nos quatros anos do curso. As facetas que compreendem o domínio físico estão intimamente ligadas ao sucesso no processo de aprendizagem e na realização das atividades acadêmicas, e podem ser desencadeantes de sentimentos negativos, os quais têm influência direta no grau de satisfação/insatisfação que os estudantes demonstram com sua qualidade de vida.6) Relaciona-se ao resultado do domínio psicológico o fato de que 72.6% dos estudantes admitiram ter algumas vezes ou frequentemente sentimentos negativos, como mau humor, ansiedade e desespero. Corrobora com esse achado a pesquisa sobre a Percepção de qualidade de vida de estudantes de graduação em enfermagem realizada na universidade de Brasília, na qual 78.6% dos pesquisados afirmaram experimentar sentimentos negativos algumas vezes ou frequentemente.6)

Sentimentos negativos apresentados por estudantes de enfermagem podem ter relação com o enfrentamento de situações delicadas e de desconforto, como a realidade da prática clínica e o cuidado com os doentes, o volume de carga horária do curso e até mesmo o convívio com os docentes nas atividades práticas.3) Complementando, o desempenho acadêmico no decorrer da graduação dependerá de alterações psicoemocionais junto ao estudante, o que envolve aspectos que parecem interferir em sua qualidade de vida.14 Pensando nos estudantes de enfermagem em relação aos cuidados com a sua saúde, torna-se necessário valorizar a avaliação de qualidade de vida em relação ao domínio meio ambiente, tendo em vista que, de maneira geral, identificaram-se escores médios inferiores às relações sociais e aos aspectos psicológicos, enfatizando-se que a não satisfação com as necessidades de lazer (93.6%) contribuiu para baixos escores de qualidade de vida junto a esse domínio. Relaciona-se este resultado ao fato de o curso de graduação em enfermagem da instituição pesquisada ser desenvolvido em período integral.

Os cursos da área da saúde em período integral podem gerar sobrecarga de atividades para os estudantes, levando-os ao cansaço e esgotamento.7 O estudo Qualidade de vida de graduandos de Enfermagem identificou que dentre os fatores que comprometem a qualidade de vida, os mais relatados pelos estudantes relacionam-se à sobrecarga de atividades no curso de período integral, falta de tempo para atividades extracurriculares e falta de tempo para o lazer.3) O suprimento junto às necessidades de atividades de lazer e diversão são considerados essenciais para a manutenção da qualidade de vida.6 O lazer é um fator comprometido pelo excesso de cobrança no meio acadêmico e pela carga horária do curso.3) A insatisfação dos estudantes com a falta de tempo para atividades de lazer pode ter raízes na mesma justificativa para os problemas com sono e falta de energia.6) Estudos sobre fatores relacionados à qualidade de vida de estudantes de enfermagem destacam entre os resultados a pouca satisfação dos estudantes de enfermagem em relação à flexibilidade curricular, o que pode interferir na satisfação das necessidades de lazer e comprometer a qualidade de vida.5)

Ao domínio de QV relações sociais com maior escore relaciona-se as informações pelos investigados, que revelaram sentirem-se igualmente satisfeitos com o relacionamento e apoio que recebem dos amigos e dos familiares (88.4%) e com a vida sexual (44.2%). Agrega-se a essas revelações o fato de que o maior número de estudantes que participaram do estudo residiam com amigos. Corroboram com esses resultados outros estudos que também utilizaram WHOQOL-bref.1,6) As facetas apoio social e atividade sexual relacionadas aos aspectos sociais, representam para os estudantes de enfermagem fatores de influência positiva em sua qualidade de vida.1,6) Acredita-se que a universidade cursada longe de casa poderá ser um fator contribuinte para empoderar o estudante em suas relações sociais. O estudo descritivo-exploratório de recorte qualitativo realizado em um curso de enfermagem de uma universidade pública na cidade de São Paulo, identificou que são os laços de amizade estabelecidos com os colegas um dos fatores que favorecem a qualidade de vida dentro da universidade, pois eles dão força para enfrentar as dificuldades durante a graduação.3)

Entre os estudados, no que diz respeito aos anos de curso, tiveram melhores escores de QV os alunos do primeiro ano, nos domínios físico, psicológico e relações sociais e os alunos do quarto ano nos domínios físico e meio ambiente. Tiveram menores escore os alunos do segundo ano nos domínios relações sociais e meio ambiente, e os alunos do terceiro ano nos domínios físico e psicológico. Corroboram com esses achados a pesquisa Qualidade de vida de estudantes de enfermagem, realizada em uma universidade pública na região centro oeste do Brasil.15) Nesse estudo os acadêmicos de enfermagem do terceiro e segundo ano tiveram os menores escores de qualidade de vida e os acadêmicos do primeiro e quarto ano tiveram as maiores pontuações. O estudante de enfermagem do primeiro ano é um universitário que ainda está em transição da postura passiva de ouvinte vivida em um ensino médio tradicional, passando a se envolver progressivamente com as vivências e emoções em campos de prática, o que adicionará ansiedades em situações futuras.15 No primeiro ano, apesar de o estudante passar por mudanças e experiências novas, decorrentes de sua inserção na universidade e sofrer ajustamento ao curso, ele desempenha atividades predominantemente teórico-práticas em sala de aula e laboratórios.14 Nesse sentido acredita-se serem essas situações favorecedoras de bons padrões de qualidade de vida . Contudo percebe-se que os graduandos de enfermagem do quarto ano têm sua QV mais prejudicada do que os estudantes do primeiro ano. No quarto ano do curso ocorre o aumento das atribuições acadêmicas, como o trabalho de conclusão de curso, as expectativas quanto à formatura, o sentimento de incapacidade e insegurança quanto ao futuro e o enfrentamento do mercado de trabalho.14

Acredita-se que situações diversificadas comprometam o padrão de qualidade de vida dos acadêmicos do segundo e terceiro ano, mais do que os do primeiro e quarto ano. Os acadêmicos do segundo e terceiro ano têm aulas práticas supervisionadas, o que pode gerar conflitos e mudanças no cotidiano pela adaptação a diversas rotinas, e comprometer a aprendizagem pelo cansaço físico e mental.15 No segundo ano, o estudante de Enfermagem é inserido no ambiente hospitalar para realização de atividades práticas ligadas diretamente ao paciente, situação que é geradora de ansiedade, medo, angústia, conflitos, estresse e sintomas depressivos. No terceiro ano, são mantidas as atividades teórico-práticas e os estudantes, em geral, estão mais adaptados ao ambiente universitário e aos cenários de ensino/aprendizagem.14 Entre os pesquisados evidenciou-se um alto escore de qualidade de vida geral. Atribui-se a esse resultado o fato de os investigados de maneira geral transparecerem ter uma boa condição socioeconômica, amparo familiar e de amigos e estarem em uma universidade que apresenta adequada infraestrutura. Corrobora com este resultado o estudo Percepção de graduandos de enfermagem sobre sua qualidade de vida.16 Nessa pesquisa os estudantes de enfermagem consideraram sua qualidade de vida boa, sendo que destacaram como fatores que favorecem a QV, os laços de amizade estabelecidos com os colegas, o grande acervo da biblioteca, o conhecimento técnico adquirido, o fato de a universidade ser pública, a facilidade de acesso à universidade e a infraestrutura oferecida.

Conclui-se nesse estudo que, embora o resultados entre as médias dos domínios de qualidade de vida e a correlação com as variáveis sóciodemográficas não tenha apresentado diferenças significativas entre os pesquisados, percebe-se o curso de graduação em enfermagem como um fator contribuinte para mudanças na qualidade de vida dos estudantes. Observa-se que os acadêmicos têm diferentes percepções sobre sua QV, e que existem fatores que a favorecem e a comprometem durante os anos de formação. Entre os domínios de QV analisados, os ingressantes (primeiro ano) e os concluintes (quarto ano) apresentaram melhores padrões de qualidade de vida que os estudantes dos anos intermediários (segundo e terceiro ano). Contudo, o domínio físico apresentou menor escore para o total de acadêmicos de enfermagem estudados.

Algumas limitações metodológicas devem ser consideradas para o presente estudo. Apesar de a utilização de um instrumento genérico ter permitido avaliação da QV entre os estudantes dos diferentes anos do curso, é possível que o questionário não tenha sido capaz de detectar diferenças relativas a condições específicas desses estudantes. A avaliação dos domínios de qualidade de vida desse estudo possibilitou perceber a importância na realização desse tipo de pesquisa, tendo em vista a obtenção de resultados que demonstram como os estudantes estão vivenciando a passagem pela universidade. Entende-se que mensurar a QV de estudantes de enfermagem resulta na produção de conhecimentos essenciais, que podem orientar instituições de ensino a elaborar estratégias de suporte e enfrentamento nas reais necessidades que envolve a qualidade de vida desse grupo específico.

Reference

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Recebido: 19 de Abril de 2016; Aceito: 31 de Agosto de 2016

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