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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307On-line version ISSN 2216-0280

Invest. educ. enferm vol.36 no.1 Medellín Jan./Apr. 2018

https://doi.org/10.17533/udea.iee.v36n1e04 

Articles

Comprometimento da qualidade de vida de mulheres com câncer de mama submetidas a quimioterapia no atendimento público e privado

Raquel de Castro Figueiredo Pereira Coelho1 

Sabrina Nunes Garcia2 

Larissa Marcondes3 

Flaviane Andriele Jacinto da Silva4 

Aline de Paula5 

Luciana Puchalski Kalinke6 

1 Nurse, Masters. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. email: raque.gabi@gmail.com

2 Nurse, Masters. Instituto de Oncologia do Paraná - IOP. Curitiba-Pr, Brasil. email: sgarcia@iop.com.br

3 Nurse, Masters. student. Universidade Federal do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. email: marcondes.lari@gmail.com

4 Nursing undergraduate student. Universidade Federal do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. email: fla.andreele@gmail.com

5 Nursing undergraduate student. Universidade Federal do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. email: aline.paulla94@gmail.com

6 Nurse, Ph.D. Adjunt Professor, Universidade Federal do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. email: lucianakalinke@yahoo.com.br


Resumo

Objetivo

Comparar a qualidade de vida geral de mulheres com câncer de mama submetidas a quimioterapia em uma instituição pública e outra privada.

Métodos

Estudo observacional, longitudinal, em que participaram 115 mulheres com câncer de mama em tratamento ambulatorial de quimioterapia em duas instituições de saúde, uma pública e uma privada, na cidade de Curitiba (Brasil). Os instrumentos Quality of Life Questionnaire-C30 e Quality of Life Questionnaire - Breast Cancer Module foram aplicados em três momentos do tratamento (início, 40-50 dias e 85-95 dias após o início).

Resultados

A qualidade de vida global das mulheres foi afetada em ambos os grupos desde a primeira fase da quimioterapia (76.2 pontos na privada e 74.6 pontos na pública, sendo 100 pontos o equivalente ao máximo de saúde). Também foi possível observar em ambos os grupos que houve piora na qualidade de vida ao longo do tempo, esta foi menor nas mulheres em atendimento privado (segunda etapa = 75.0 e terceira etapa 74; p=0.47), comparadas com aquelas que receberam atenção pública (segunda etapa = 71.5 e terceira etapa 69.1; p=0.02). De acordo com o tipo de instituição, as funções mais comprometidas foram a emocional e a social na privada, e física e a dor na pública.

Conclusão

A qualidade de vida global das mulheres com câncer de mama deteriorou-se em consequência da quimioterapia nas duas instituições, sendo esta menor naquelas que recebem atenção privada. A enfermagem deve considerar o tipo de instituição responsável pelo atendimento das mulheres, a fim de fornecer um atendimento integral que leve em consideração as funções afetadas em cada fase do tratamento.

Descritores: qualidade de vida; neoplasias da mama; setor privado; setor público; instituições de assistência ambulatorial

Abstract

Objective

To compare the general quality of life of women with breast cancer undergoing chemotherapy in a public and a private institution.

Methods

Longitudinal observational study including 115 women with breast cancer in an outpatient chemotherapy treatment at two health institutions, one public and one private, in the city of Curitiba (Brazil). The Quality of Life Questionnaire-C30 and the Quality of Life Questionnaire - Breast Cancer Module instruments were applied at three moments of treatment (onset, 40-50 days, and 85-95 days after initiation).

Results

Women’s global health status was affected in both groups since the first phase of chemotherapy (76.2 points in the private institution and 74.6 points in the public institution, considering 100 points = maximum health). In both groups there was worsening of quality of life over time, which was lower in women in the private institution (second phase = 75.0 and third phase 74; p=0.47), compared to those in the public institution (second phase = 71.5 and third phase 69.1; p=0.02). Regarding the type of institution, the most committed functions were the emotional and social in the private, and physical and pain in the public.

Conclusion

The global quality of life of women with breast cancer deteriorated as a result of chemotherapy in both institutions, and it was lower in those receiving private care. Nursing should consider the type of institution responsible for women’s care in order to provide comprehensive care that considers the functions affected at each phase of treatment.

Descriptors: quality of life; breast neoplasms; private sector; public sector; ambulatory care facilities

Resumen

Objetivo

Comparar la calidad de vida general de mujeres con cáncer de mama sometidas a quimioterapia en una institución pública y otra privada.

Métodos

Estudio observacional longitudinal en el que participaron 115 mujeres con cáncer de mama en tratamiento ambulatorio de quimioterapia en dos instituciones de salud, una pública y una privada, de la ciudad de Curitiba (Brasil). Los instrumentos Quality of Life Questionnaire-C30 y Quality of Life Questionnaire - Breast Cancer Module se aplicaron en tres momentos del tratamiento (inicio, 40-50 días y 85-95 días post-inicio).

Resultados

La calidad de vida global de las mujeres ya estaba afectada en ambos grupos desde la primera etapa de la quimioterapia (76.2 puntos en la privada y 74.6 puntos en la pública, siendo 100 puntos el equivalente de máxima salud). También se pudo apreciar que, aunque en ambos grupos hubo empeoramiento de la calidad de vida con el tiempo, este fue menor en las mujeres en la atención privada (segunda etapa = 75.0 y tercera etapa 74; p=0.47), comparadas con las que recibieron atención pública (segunda etapa = 71.5 y tercera etapa 69.1; p=0.02). Según tipo de institución, las funciones más comprometidas fueron la emocional y la social en la privada, y la física y el dolor en la pública.

Conclusión

La calidad de vida global de las mujeres con cáncer de mama se deterioró como consecuencia de la quimioterapia en las dos instituciones, siendo menor en las que recibieron atención privada. Enfermería debe también considerar el tipo de institución responsable de la atención de la mujer, con el fin de brindar un cuidado integral que tenga en cuenta las funciones afectadas en cada fase da tratamiento.

Descriptores: calidad de vida; neoplasias de la mama; sector privado; sector público; instituciones de atención ambulatoria

Introdução

O câncer de mama é uma das doenças mais incidente e temida entre as mulheres, causando impacto negativo devido a sua gravidade, evolução imprevisível, mutilação e alterações na autoimagem, comprometendo os aspectos físicos, psicológico e social, alterando sua qualidade de vida (QV). A quimioterapia antineoplásica é considerada uma das mais importantes formas de controle do câncer de mama e representa um avanço na cura do mesmo.(1) Porém, apesar de prolongar a vida e melhorar o prognóstico a quimioterapia está associada a menor escore da qualidade de vida geral (QVG), possivelmente relacionada à sua toxicidade e efeitos colaterais graves.(2) Tanto o diagnóstico, como a quimioterapia, altera a rotina e a QV das pacientes. Levam a sentimentos negativos, devido à incerteza do prognóstico, possíveis processos cirúrgicos e ao enfrentamento da possibilidade de morte.

A procura pelo aprimoramento da assistência e QV das mulheres com câncer de mama submetidas à quimioterapia é um aspecto importante a ser mensurado, na medida em que avalia as dimensões da doença e cria parâmetros para práticas assistenciais cotidianas nos serviços de saúde.(3) Assim, a avaliação da QV permite a verificação do tratamento e impacto, bem como um planejamento de ações de enfermagem para a aderência e reabilitação das pacientes e melhores condições de QV durante o tratamento e sobrevida. Conhecer o perfil sociodemográfico das mulheres com câncer de mama é fundamental para prestar uma assistência direcionada, integral e de acordo com cada momento do itinerário terapêutico. Ressaltar as possíveis diferenças deste perfil de acordo com as instituições de atendimento poderá alertar a equipe de saúde para a realização de ações, orientações e cuidados ajustando-se à necessidade e realidade das mulheres. Os impactos físicos, emocionais, sociais e cognitivos precisam ser constantemente avaliados, para atender com acurácia a mulher que vivencia o câncer de mama, desde o diagnóstico até o fim da vida.

Com isso, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar e comparar a qualidade de vida geral e o perfil sociodemográfico e clínico de mulheres com câncer de mama submetidas ao tratamento quimioterápico em instituição pública e privada.

Métodos

Trata-se de uma pesquisa observacional, longitudinal e analítica, recorte do projeto temático intitulado: “Qualidade de vida de pacientes oncológicos submetidos à quimioterapia”. Realizada entre outubro de 2012 e maio de 2015 nos ambulatórios de quimioterapia de uma instituição privada e outra pública, consideradas referência no atendimento para este perfil de pacientes, ambas na cidade de Curitiba, estado do Paraná, sul do Brasil. A amostra não probabilística foi composta por todas as mulheres que eram elegíveis para a pesquisa durante o período do estudo. Os critérios de inclusão foram: sexo feminino, diagnóstico comprovado de câncer de mama, idade superior a 18 anos, não ter realizado previamente nenhum tratamento quimioterápico para câncer e ter indicação para início de quimioterapia. Foram excluídas mulheres que estavam em terapêutica paliativa e tiveram perda de seguimento. Selecionou-se 131 mulheres, destas, 16 foram inelegíveis, por não terem sido abordadas antes do tratamento quimioterápico.

Na primeira etapa da pesquisa 115 mulheres participaram do estudo, destas 48 eram da instituição privada e 67 da instituição pública. Na segunda etapa, que ocorreu entre os 40 e 50 dias após a primeira administração da quimioterapia (período em que surgem os efeitos adversos),(4) uma mulher foi descontinuada na instituição pública. Na terceira etapa, 85 a 95 dias após a primeira, (período que ocorre o controle dos eventos adversos),(4) foram descontinuadas cinco mulheres na instituição pública. Na instituição privada não houve nenhuma descontinuidade em nenhuma das etapas. As descontinuações ocorreram devido a toxicidade quimioterápica ou perda de segmento entre a segunda e terceira etapas. Foram coletados um total de 791 questionários nas três etapas da pesquisa).

Para a realização da coleta de dados, foram utilizados: O questionário 1, com dados sociodemográficos e clínicos, aplicado somente na primeira etapa. O questionário 2, Quality of Life Questionnaire-C30 (QLQ-C30), elaborado pela European Organization for Research and Treatment of Cancer - EORTC, na versão 3.0, específico para avaliar a QV de pacientes oncológicos, aplicado nas três etapas. O questionário 3, Quality of Life Questionnaire – Breast Cancer Module (QLQ-BR23), também aplicado nas três etapas, é direcionado para doença de base com questões relacionadas ao câncer de mama, versão 1.0. Os questionários QLQ-C30 e QLQ-BR23 utilizados eram traduzidos e validados para o Brasil.(5)

A análise dos dados sociodemográficos e clínicos foram por frequência absoluta e relativa. Os dados dos questionários QLQ-C30 e QLQ-BR23 foram avaliados na pontuação de 0 a 100 conforme orientação do Scoring Manual of European Organization for Research and Treatment of Cancer.(6) Os escores relacionada a QV, como função emocional, quanto mais próximo estiverem de 100 representa uma maior funcionalidade e corresponde a uma melhor QV. Para a comparação dos dados entre as instituições, foi aplicado o teste não paramétrico de Mann Whitney e para a comparação das etapas, o teste não paramétrico de Friedman, complementado pelo teste de Diferenças Mínimas Significativas (dms), com valor de p≤0.05 considerado significativo. A pesquisa respeitou todos os preceitos éticos, destaca-se que ambos os questionários foram autorizados mediante ao registro do projeto no EORTC. Foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa, sob os protocolos nº 5301 para a instituição privada e nº 518.067 para instituição pública.

Resultados

No presente estudo a média de idade das participantes da instituição privada foi de 46 anos (min=24, max=69), enquanto para a pública foi de 51.3 anos (min=30, max=77), sendo esta diferença significativa (p=0.02). Os dados sociodemográficos das 115 participantes apresentados na Tabela 1, mostra que a escolaridade das mulheres que haviam completado o ensino superior, na instituição privada foi 54% (n=26), enquanto que para a pública 43.3% (n=29) tinham estudado menos de 9 anos, o que compreende o ensino fundamental incompleto ou completo. A renda familiar em salário mínimo foi outro ponto de destaque, na privada a média salarial foi de 12 salários (US$ 3 069.76), já para a instituição pública a média foi de 2.8 salários (US$ 716.27).

Tabela 1 Características sociodemográficas de mulheres com câncer de mama submetidas à quimioterapia segundo tipo de instituição. Curitiba, PR, Brasil, 2015. 

Em relação aos dados clínicos (Tabela 2), foi observado na instituição privada que 68.5% (n=33) referiram não possuir nenhuma comorbidade. Na instituição pública a hipertensão teve destaque em 35.8% das mulheres, e 49.3% referiram não possuir nenhuma doença secundária. O estadio clínico III é frequente em 82% e 39.5%, nas instituições pública e privada respectivamente, o protocolo mais utilizado em ambas foi o AC-T (Adriamicina® e Ciclofosfamida® seguido de Taxol®).

Tabela 2 Características clínicas de mulheres com câncer de mama submetidas à quimioterapia segundo tipo de instituição. Curitiba, PR, Brasil, 2015 

Os resultados referentes a QV avaliados com o questionário QLQ-C30, a Qualidade de Vida Global na instituição privada foi considerada satisfatória com um valor de 76.2%, porém decaiu na segunda e terceira etapa. Na instituição pública também ocorreu um decréscimo entre a primeira e a terceira etapa, porém a alteração nesta instituição foi maior. Quantos as diferenças significativas entre as etapas, o p-valor da Qualidade de Vida Global na instituição privada foi de 0.47 e na instituição pública foi de 0.02 (Tabela 3).

Tabela 3 Pontuações de Qualidade de Vida Global de mulheres com câncer de mama submetidas a quimioterapia conforme etapa do tratamento e tipo de instituição. Curitiba, PR, Brasil, 2012-2015 

Ainda na comparação entre as etapas de tratamento com o questionário QLQ C-30, destacam-se na pública valores significativos de alterações na função física, emocional, fadiga, náusea e vômito e, na privada, função física, social, fadiga, náusea e vômito. Com o questionário QLQ BR23, na privada destacam-se efeitos sistêmicos e a imagem corporal. Para a pública os efeitos sistêmicos e sintomas da mama foram os que tiveram significância (Tabela 4).

Tabela 4 Domínios significantes entre as etapas de tratamento quimioterápico em mulheres com câncer de mama, por tipo de instituição. Curitiba, PR, Brasil, 2012-2015 

Quando comparadas as instituições (Tabela 5), os domínios significantes com o questionário QLQ-C30, na privada foram na função emocional (na primeira etapa) e função social (na terceira etapa). Para a pública foi significante a função física e dor (ambas na primeira etapa).

Tabela 5 Domínios significantes na comparação entre as instituições privada e pública. Curitiba, PR, Brasil, 2012-2015 

Discussão

Os estudos de QV em mulheres com câncer de mama visam a identificar o impacto do diagnóstico, do tratamento, dos efeitos adversos, bem como as necessidades biopsicossociais durante este percurso, permitindo ao Enfermeiro um planejamento de ações para melhorar as condições de vida dessas mulheres. Neste estudo, a instituição pública, revela uma população mais heterogênea em relação a idade, escolaridade e atuação profissional. As condições socioeconômicas menos favoráveis, com menos condições de acesso aos serviços de saúde para um acompanhamento periódico, e quando o realiza, demanda um tempo maior para o diagnóstico devido os recursos disponíveis ao atendimento gratuito.

A característica da instituição privada também é um componente que deve ser considerado, a mesma pode evidenciar resultados específicos para este cenário, devido as características sociais da população. Nas instituições privadas as mulheres muitas vezes têm condições socioeconômicas mais favoráveis, têm acesso aos serviços de saúde, devido a possibilidade de pagamento, facilitando a realização de exames de rotina, consultas frequentes o que permite um diagnóstico precoce.

Observou-se que na instituição privada a média de idade foi inferior a nacional, fato considerado pouco frequente na literatura, constituindo-se 5 a 7% dos casos dos cânceres de mama. Em contrapartida na instituição pública as mulheres apresentavam uma média próxima a nacional que é de 50 anos.(7,8) Tal condição pode ser explicada porque mulheres mais jovens, em idades reprodutivas, procuram com maior frequência os consultórios médicos e, portanto, são mais examinadas, de forma a oportunizar um diagnóstico precoce da doença.(9) No entanto, estatísticas preditoras de câncer de mama em relação à idade estão se modificando e os resultados da pesquisa na instituição privada corroboram com essas informações, esses estudos(10,11) mostram o predomínio das faixas etárias abaixo da média nacional, com aumento do número de casos à medida que a idade das mulheres aumentava. Estudos internacionais se contrapõem aos achados desta pesquisa e apontam a ocorrência na faixa etária acima de 50 anos, com média de idade entre as mulheres de 61.8 anos na Suécia(12) e 58 anos nos Estados Unidos.(13)

Além da faixa etária, outros fatores merecem atenção dos profissionais da saúde, como o grau de instrução e o status socioeconômico. Percebe-se que na instituição privada diversas mulheres estudaram mais que 12 anos, na instituição pública esta porcentagem está localizada naquelas que estudaram menos de nove anos, o que denota um grau de escolaridade diferenciado entre as mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico das duas instituições. O que corrobora com o fato de que quanto maior o grau de escolaridade, maior a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho e, consequentemente, maior domínio sobre os modos de prevenção.(14)

De acordo com Rosa e Radünz,(15) a baixa escolaridade pode estar atrelada ao nível socioeconômico baixo. Resultado também visualizado no presente estudo, as mulheres economicamente ativas na privada e pública estavam na faixa de 56%. No entanto a média salarial familiar na instituição privada era elevada. Já na pública, caracterizava nível socioeconômico baixo. Simeão et al.(16) destacam que características semelhantes quanto aos níveis socioeconômicos e culturais permitem melhor compreensão e planejamento das necessidades para beneficiar física e psicologicamente as mulheres acometidas. Em contraponto, mulheres economicamente ativas e produtivas sofrem maior impacto na QV diante do diagnóstico e tratamento, desencadeado pelo sentimento de impotência diante da doença, da vida social e familiar a qual fazem parte, temendo o futuro pela incerteza do presente, pois conciliam as atividades laborativas durante a terapêutica.(17) Em contraponto autores(2) de estudo chinês, destacam que a alta renda familiar está associada a uma melhor QV de pacientes com câncer de mama em cada domínio medido. As orientações e abordagens a este grupo necessitam ser conduzidas para que haja comunicação efetiva durante todo o tratamento, amenizando os efeitos estressores decorrentes das mudanças que ocorrem na sua vida emocional, social e familiar.

Comparando o estadiamento clínico entre as instituições, observou-se que a instituição pública tinha 42.5% a mais mulheres com estadio III do que a instituição privada, demonstrando que mulheres que iniciam o tratamento em instituições públicas chegam em estágios mais agressivos do câncer de mama, e que o acesso das mulheres de instituição privada é mais precoce. Tais dados corroboram com o estudo na África, cujo objetivo era entender o diagnóstico tardio e o impacto do estágio do câncer de mama entre as mulheres libanesas, o estadio III foi mais expressivo, com tempo para diagnóstico superior a 6 meses, o que potencialmente resulta em altas taxas de mortalidade.(18) Pode-se observar que o diagnóstico tardio está voltado a diversos fatores relacionados às características da população, ao baixo nível educacional e socioeconômico e às políticas de rastreamento, o que dificulta o acesso ao diagnóstico precoce, piora o prognóstico e leva a tratamentos mais agressivos que impactam na sobrevida e na QV das mulheres. As intervenções dos profissionais de saúde devem ser realizadas em todos os níveis de atenção para proporcionar um atendimento ágil e de acordo com sua realidade. A QV é um constructo multidimensional que permite identificar os aspectos psicossociais alterados pelo câncer e seus tratamentos, constituindo-se em uma ferramenta para subsidiar o enfermeiro e outros profissionais no manejo das alterações nas mulheres com câncer de mama.

Os dados dos questionários QLQ-C30 na instituição privada tem uma pontuação de QV é superior quando comparado a instituição pública. Porém os domínios pontuados são os mesmos em ambas as instituições: função física, função emocional, fadiga, náusea e vômito. Esses são efeitos comuns em pacientes que recebem tratamento quimioterápico para câncer de mama. Observou-se que em ambas instituições as mulheres com câncer de mama chegavam para o tratamento, em sua maioria, já em estadio III, fazendo com que a terapêutica escolhida fosse a mais agressiva, ocasionando um maior declínio na função física. Corrobora o estudo brasileiro(1) com o mesmo perfil de população, que mostra a função física com médias inferiores, 60.5% e 64.43%, respectivamente, o que caracteriza comprometimento neste domínio com diminuição da QV.

Em consonância, estudo na Turquia que avaliou a QV e a satisfação do cuidado de enfermagem durante a quimioterapia com o questionário FACT-G demonstrou o domínio bem-estar físico comprometido, com escore de 14,85%, evidenciando que os estadios mais avançados experienciam mais sintomas físicos que os estadios iniciais.(19)

Em contrapartida, Hoyer et al.( 12) observaram escores superiores a 80% na função física entre as mulheres suecas em tratamento quimioterápico, valores médios acima de 75% também para a função social, denotando não comprometimento da QV em relação a estas funções. Resultados análogos foram encontrados em estudo semelhante realizado na Malásia, com valores médios acima de 75% para as funções física e social, o que caracteriza, de maneira positiva, a manutenção das condições de vida, das atividades sociais e de lazer entre as mulheres acometidas.(20) O comprometimento das funções física e social, refletem numa redução na participação sócio ocupacional dessas mulheres, no que se refere ao envolvimento em situações diárias, muitas vezes prejudicadas pela diminuição da mobilidade no braço homolateral do câncer mamário,(1) resultando na piora da QV concernente a esses domínios.

Em relação à função emocional, observa-se que o domínio foi comprometido nas três etapas em ambas as instituições, denotando que as pacientes se encontravam preocupadas, temerosas e fragilizadas emocionalmente durante todo o tratamento, comprometendo a QV neste domínio. Autores(1) destacaram em seus estudos, que a função emocional foi o domínio que apresentou alterações acentuadas, com valores médios de 48,4%, indicando comprometimento da QV das pacientes submetidas ao tratamento quimioterápico. A mulher com câncer de mama convive diariamente com transtornos emocionais como o sentimento de morte iminente, medo e comportamentais ocasionados pela ameaça que o câncer provoca, devido à proximidade, real ou idealizada, da incapacidade ou risco de vida, que leva ao medo, angústias, vergonha e sentimentos de discriminação, situações difíceis de serem abarcadas emocionalmente pelas pacientes.(1,3)

O estudo realizado na China,(21) que avaliou a relação entre depressão, ansiedade e QV entre 269 mulheres durante o tratamento e 148 mulheres que tinham completado o tratamento há um ano, com os questionários Hospital Anxiety and Depression Scale-Cantonese/Chinese version e FACT-G. Revelou que altos níveis de ansiedade estão associados com piores funcionamentos físico e funcional, e com comprometimento na função emocional durante e após a terapêutica. O que denota um comprometimento da QV independente da condição social, estadiamento e modalidade de tratamento. Quando são pontuados os valores do questionário QLQ-BR23, nota-se singularidade em relação aos efeitos sistêmicos, porém com significância para a pública. As pacientes da instituição pública apresentaram valores significativos quando foram avaliadas em relação aos efeitos sistêmicos do tratamento quimioterápico. Este indicativo possivelmente ocorre devido o tratamento ser mais agressivo, quando o estádio da doença é avançado. Outra situação que deve ser levada em consideração, é o fato de que as mulheres atendidas nas instituições particulares, muitas vezes, tem acesso e condições melhores para obter medicações que minimizam os efeitos colaterais.(14)

Outros resultados apresentados com o questionário QLQ-BR23, evidenciaram significativamente para a instituição privada uma maior pontuação relacionada a imagem corporal e na instituição pública para os sintomas da mama. Cabe ressaltar que a terapêutica instituída para o câncer de mama pode afetar diversas dimensões da vida feminina, estando diretamente relacionada à sintomatologia e à percepção da imagem corporal pelas mulheres, além de comprometer a QV.(14) A imagem corporal alterada é um sinalizador ininterrupto da presença do câncer, que mantém e agrava os sentimentos de ansiedade, medo, revolta e abala psicologicamente as relações interpessoais da mulher. Diante disso, o enfermeiro oncológico deve desenvolver ações que favoreça e estimule o convívio social, familiar, afetivo, sexual e a QV em relação à autoimagem.

As reações emocionais e sociais que o diagnóstico de câncer de mama ocasiona na vida da mulher, é singular. Ela recebe a notícia do câncer como algo inesperado, ameaçador, capaz de atingir a integridade e a comprovação da existência feminina, uma vez que a mama representa o simbolismo e o conceito que a mulher faz de si mesma. Sabe-se que os sentimentos de morte, estigma da mutilação e sentimentos que venham a alterar a autoestima, podem ocasionar mudança e desvalorização do quesito social dessas pacientes.(22) Quando foi realizada a comparação entre as instituições dos domínios alterados na qualidade de vida, uma maior pontuação na função social foi observada nas mulheres em atendimento na instituição privada. É importante relacionar que estas mulheres apresentam maior escolaridade, renda familiar elevada, assim como, estão inseridas no mercado de trabalho. O tratamento por ser mutilador e longo leva-as ao afastamento de sua rotina, o que possivelmente levou a alteração direta neste domínio.

Na intuição pública a dor foi um fator significante na alteração da QV. Tal fato pode ser justificado pelo número elevado de diagnósticos tardios, que proporciona às mulheres desconfortos e tratamentos mais agressivos. Assim como a fadiga, ela é um sintoma frequente, persistente e que ocasiona desgaste físico e emocional aos pacientes e familiares, devido às dificuldades em realizar atividades diárias e de autocuidado, às alterações de humor e de concentração.(23) No estudo de Guimarães e Anjos,(24) a dor foi identificada antes da quimioterapia em 20% das mulheres, com aumento dos valores médios e intensificação do sintoma durante a terapêutica, com prejuízos na QV. Ela repercute na vida diária com prejuízos emocionais, sociais e funcionais e impedem as mulheres de realizar suas atividades rotineiras. Mensurá-la é uma das ações dos enfermeiros, requer conhecimento dos métodos de avaliação e de fatores que desencadeiam e sobrepujam este sintoma, tendo em vista a sua subjetividade.

Na assistência de Enfermagem das mulheres com câncer de mama, a previsão de estratégias de enfrentamento que preservem a autoestima, a função social, emocional e os efeitos físicos do câncer e do tratamento quimioterápico, necessitam fazer parte do cotidiano destes profissionais. O vínculo adquirido entre as mulheres e o enfermeiro durante este período poderá auxiliar a mulher a uma melhor compreensão das alterações corporais, tornando menos estressante e desgastante o processo de enfrentamento da doença(25) e por conseguinte uma melhor QV. Um fator limitante nesta pesquisa foi referente ao tamanho e a falta de aleatoriedade da amostra. O número reduzido permite considerar os resultados encontrados apenas para a população em questão. Foi observado também dificuldade em encontrar estudos que contemplem resultados em mistas instituições para a comparação com nossos dados.

Conclusão

Esta pesquisa investigou possíveis impactos que o câncer de mama e o tratamento quimioterápico acarretam à QV das mulheres nas instituições pública e privada. Pode-se destacar que a quimioterapia deteriorou a QV das mulheres em ambas intituições, sendo menor nas pacientes da instituição pública. As diferenças existentes entre as instituições públicas e privadas podem impactar a QV de maneira distinta, a única diferença apontada no estudo entre as características das mulheres foi a idade em que se estabeleceu o diagnóstico, sendo menor na privada. Uma melhor compreensão pela enfermagem do tipo de instituição responsável pelos cuidados das mulheres deve ser considerada, com vistas a identificar os domínios e sintomas afetados e com isso permitir que um atendimento integral seja realizado a estas mulheres em cada fase do tratamento melhorando sua QV.

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2Conflictos de interés: ninguno.

Recebido: 24 de Junho de 2017; Aceito: 20 de Novembro de 2017

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