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Universitas Philosophica

Print version ISSN 0120-5323

Univ. philos. vol.30 no.60 Bogotá Jan./June 2013

 

A DESCONSTRUÇÃO EM JACQUES DERRIDA: O QUE É E O QUE NÃO É PELA ESTRATÉGIA

THE DECONSTRUCTION IN JACQUES DERRIDA: WHAT IT IS AND IT IS NOT AS A STRATEGY

LA DECONSTRUCCIÓN EN JACQUES DERRIDA: QUÉ ES Y QUÉ NO ES COMO ESTRATEGIA

Ramiro Déliü Borges de Meneses*

*Instituto Politécnico de Saúde do Norte-Gandra, Portugal; Universidade Católica Portuguesa, Portugal; Universidade Estatal, Varsóvia-Polónia.

Recibido: 10.09.12 Aceptado: 15.04.13


RESUMO

A desconstrução deve ser entendida, que se afirma em Derrida, como a tentativa de reorganizar, de certa maneira, o pensamento ocidental, perante uma variedade heterogénea de contradições e desigualdades não lógicas discursivas de todos os tipos, que continua a assombrar as fissuras até mesmo o desenvolvimento bem sucedido de argumentos filosóficos e sua exposição sistemática. A desconstrução não é uma doutrina, uma filosofia ou um método. Ela é somente, de acordo com Derrida, uma "estratégia" de decomposição para a metafísica ocidental. Entretanto, a desconstrução é responsável por essas "contradições" constitutivas, através da construção de arquétipos-sínteses, ou infra-estruturas, como Derrida denominou futuramente. Contanto que seu objetivo é acreditado para promover o livre jogo, acima mencionada, niilista pelo cancelamento de opostos, a abolição das hierarquias e desmistificação ou a des-ideologização dos filosofemas ocidentais, procedimento definido e lógico da desconstrução, que não pode ser apreendido em toda a sua especificidade.

Palavras chave: Jacques Derrida, desconstrução, método, estratégia, hospitalidade


ABSTRACT

Deconstruction must be understood, we contend, as the attempt to "account", in a certain manner, for a heterogeneous variety or manifold of non-logical contradictions and discursive inequalities of all sorts that continues to haunt and fissure even the successful development of philosophical arguments and their systematic exposition. There is not in deconstruction a doctrine, a philosophy, a method. According to Derrida, it is only a "strategy" of decomposition to the Occidental metaphysics. Meanwhile, deconstruction accounts for these constitutive "contradictions" through the construction of arche-syntheses, or infrastructures, as we will call them hereafter. As long as its goal is believed to promote the above- mentioned licentious free play, nihilistic canceling out of opposites, abolition of hierarchies, and demystification or deideologization of Western philosophemes, deconstruction's definite and logical procedure cannot be grasped in all its specificity.

Key words: Jacques Derrida, deconstruction, method, strategy, hospitality


RESUMEN

Le deconstrucción que se afirma en Derrida, debe ser entendida como el intento de reorganizar de cierto modo el pensamiento occidental, ante un variado surtido de contradicciones y desigualdades no lógico-discursivas de todo tipo, que sigue rondando las grietas e, incluso, el desarrollo exitoso de los argumentos filosóficos y su exposición sistemática. La deconstrucción no es una doctrina, ni una filosofía, ni un método. Sólo es, según Derrida, una "estrategia" para la descomposición de la metafísica occidental. Sin embargo, la deconstrucción es responsable por esas "contradicciones" constitutivas, mediante la construcción de arquetipos-síntesis, o infraestructuras, como se las denominará luego. No obstante se crea que su objetivo de promover el juego libre mencionado es nihilista por la cancelación de los opuestos, la abolición de las jerarquías y la desmitificación o desideologización de los filosofemas occidentales, el procedimiento definido y lógico de la deconstrucción no puede ser aprehendido en toda su especificidad.

Palabras clave: Jacques Derrida, deconstrucción, método, estrategia, hospitalidad


Introdução

Desde o final dos anos sessenta, até meados de oitenta, a corrente mais criativa do Pós-estruturalismo denominou-se Desconstrução. A sua origem é, contudo, a obra do pensador-filósofo francês, de origem argelina, que viria a fazer escola na Universidade de Yale, onde leccionou por longos anos. E tudo começou em 1966, quando num Colóquio organizado pela "John Hopkins University", sobre a controvérsia estruturalista, Derrida, à época um pensador desconhecido, apresentou um ensaio que "corroia" os fundamentos do estruturalismo, tendo contestado o conceito de "signo", tal como fora descrito por Saussure e, sobremaneira, reelaborado, em termos lógicos-algébricos, por Hjelmslev (Cf. Bennington & Derrida, 1993: 4).

Revelando a correlação inerente ao discurso filosófico, e desmontando a distinção entre Filosofia e Literatura, a "Desconstrução" questiona a distinção essencial à Filosofia da Linguagem, à linguística e à Poética, existente entre a linguagem-objecto e a metalinguagem. Dentro desta perspectiva, não sendo possível atingir um ponto exterior ao texto, a partir do qual se poderá dizer o seu significado último, toda a metalinguagem é ainda e apenas "texto".

Ao expressarmos uma leitura fenomenológica da hospitalidade, em outro lugar, como "desejo do Outro", passamos, pois, agora para uma análise da hospitalidade como "desconstrução do outro". Avançar com o conceito de "desconstrução" insere-se numa estratégia de intervenção, no quadro da Metafísica ocidental, que se coloca, determinadamente, nos traços da "Destruktion", da "Aufbau" (construção) da Metafísica, inaugurada por Heidegger, mas anunciada, desde o século XIX, por Marx, Nietzsche e Freud. É a partir das primeiras referências da "desconstrução", que se pode notar o funcionamento de uma lógica paradoxal, que se relaciona com a sua natureza enigmática (Cf. Sallis, 1987: XIV-XV).

Segundo o projecto de Derrida, a palavra "desconstrução" assinala uma operação dentro/fora da "metafísica ocidental", que articula as duas impossibilidades de estar plenamente dentro ou inteiramente fora. A associação da "desconstrução", ao trabalho "anárquico" e técnico, impôs-se sem nunca ter sido analisado explicitamente, considerando-se como um modelo subterrâneo, do qual derivaram as estratégias da tradução e da recepção da metáfora. É esta metáfora anárquica que emerge como um discurso do método, mas à custa de uma desinserção das séries, que

lhe minoravam os efeitos e que, por sua vez, já eram uma minoração do estruturalismo e da "Destruktion" heideggeriana. A desconstrução surge, no mesmo movimento, como metáfora anárquica (trabalho de apropriação) e metáfora de destruição (trabalho de niilização), pretendendo manter-se num estranho espaço intermédio, o da lógica dos "suplementos" (parerga). A desconstrução, como hospitalidade, será desconstrução do "acolhimento do outro". A desconstrução é uma abertura do Outro. A desconstruçao é a abertura do texto e da linguagem. Neste capítulo, abordaremos os sentidos da desconstrução e suas aplicações.

Derrida entendeu que a significação de um texto dado (romance, ensaio, artigo, etc) era o resultado da diferença entre as palavras usadas, mais do que a referência às coisas que elas representam. A desconstrução age a partir de uma diferença activa, que trabalha no vazio o sentido de cada uma das palavras, que se lhe opõem de forma análoga à significação diferencial saussuriana em linguística. Para salientar o carácter activo desta diferença (em vez do carácter passivo da diferença relativa a um juízo contingente do sujeito), Derrida propõe o termo "différance", termo que combina a palavra "différence" e o particípio presente do verbo "différer": "différant". Assim, por outras palavras, segundo a concepção de Derrida, as diferentes significações de um texto poderão ser descobertas, decompondo a estrutura da linguagem na qual ela é redigida. Desta feita, Derrida estima que a desconstrução seja uma "prática narrativa".

Com efeito, o termo "desconstrução" aparece, pela primeira vez, na obra De la grammatologie, por influência de Heidegger. Derrida determinou uma tradução, muito adequada dos termos: "Destruktion" e "Abbau". Na verdade, Derrida estima ser esta tradução mais pertinente que a tradução clássica para "destruction", na medida em que onde ela não age tanto na desconstrução da Metafísica, ao reduzi-la ao nada, quanto ao mostrar como ela se constrói.

1. A desconstrução: o que é o que não é

Segundo Derrida, a "desconstrução" não poderá definir-se, porque os instrumentos, que a permitem descrever, encontram-se, por sua vez, no gesto desconstrutivo. Assim, poderemos procurar a sua descrição justamente por aquilo que é ou por aquilo que não é:

A desconstrução não se apresenta como um "método de leitura", mas antes como uma sequência ordenada, que possui regras. Para Derrida, será precisamente a ideia de um conceito redutível ao método, que deve ser desconstruído. O método e os métodos deverão sujeitar-se à desconstrução. Considerar a desconstrução como um método suporia deixar de lado uma actividade detalhada da leitura em favor de uma ideia generalizada da dita actividade (Cf. Madrid, 2009: 110). Se a desconstrução não é um método, tão pouco se afirmará como um não-método, isto é, como abertura ao jogo livre da subjectividade arbitrária do leitor-interprete.

No caso da desconstrução, ela mesma é a exterioridade, dado que o vestígio produz os opostos, sendo desde fora irredutível, enquanto deslocaliza a mesma condição de possibilidade dos contrários. A descrição aparece como uma reinscrição da Metafísica na fenomenologia, bem como a sua tradução (Sallis, 1987: XV). Porém, segundo a nossa leitura, será "ouvir a palavra". A desconstrução será uma "audição da palavra" e uma reelaboração da palavra. A desconstrução, segundo a nossa posição, será abrir e/ou fechar a Palavra, no discurso e na linguagem.

A desconstrução não pode ser qualificada como uma "interpretação". Não sendo um método, acolhe essa espécie de liberdade interpretativa, que caracteriza o pensamento e que se apoia na ausência de limitações metodológicas, mediante o recurso, deixando de fora todo o rasto de rigor crítico. A desconstrução não é uma escusa para a arbitrariedade crítica. Esta, como uma estratégia de leitura, não pode ser identificada, sem mais, com a hermenêutica. Desta forma, a desconstrução será de preferência uma consideração sobre a virtualidade de toda a significação, na qual não existem essências, senão as previamente perfiladas no lugar da "diferença". Insistamos sobre esta descrição, uma vez que a sua importância não é negligenciada: a desconstrução será, adequadamente, a tomada em consideração do contexto, sem o nomeado aspecto, que será "toda a história real do mundo" (Derrida, 1987: XV).

A desconstrução é uma leitura, que se consuma numa reescritura do texto per se. A desconstrução será uma operação activa sobre o texto, que não pretende apropriar-se dos "passos" dos sentidos, acompanhar todo o texto, emergindo da sua releitura (Cf. Madrid, 2008: 111). A desconstrução é uma releitura do mundo, enquanto realidade. Implica uma transformação do conceito de realidade, ocupando-se de uma realidade, mais real do que a própria realidade, sendo um movimento em hiper (para cima de.. ,)1. A desconstrução tem tanto de hiper-leitura, quanto de hiper-linguagem.

A desconstrução não é um acto ou uma "operação", sustenta Derrida, de forma categórica, no sentido de não responder à estrutura psicológica tradicional de um sujeito, que actua primeiro, através da racionalidade, e, posteriormente, sob o ímpeto da vontade. É, naturalmente, algo que não espera a deliberação da consciência, não correspondente a um sujeito, individual ou colectivo, que tomaria a iniciativa dela e a aplicaria a um objecto, a um texto. Não é mais um acto do mundo natural do que um acto intratextual. Enquanto que o primeiro se estrutura com base na presença e se encontra sujeito às categorias espacio-temporais, o acto de leitura desconstrutiva está in potentia, dado que procede da liberdade do significado das correspondentes determinações do espaço, da presença, do presente, do passado e do futuro (Cf. Madrid, 2008: 111-112). A desconstrução abraça concretamente o conceito de "soberania", segundo Derrida, porque necessitará não somente de um princípio de resistência, como também de uma força da resistência e da dissidência.

A desconstrução do conceito de soberania incondicional é necessária. É, por isso, que encontramos aí o "legado de uma Teologia", de há pouco secularizada. No caso mais notório da pretensa soberania dos Estados-nações são um entre outros, visto que o valor da soberania se encontra hoje em plena decomposição. Mas, é necessário velar para que esta desconstrução não comprometa, ou não o faça em demasia, a reivindicação da Universidade pela independência, ou seja, para uma certa e muito particular forma de soberania (Cf. Derrida, 2003: 17)2. A desconstrução é, na verdade, a "revisão da soberania". É a soberania da soberania do Outro e da Palavra.

A desconstrução não é simplesmente uma neutralização de oposições, como poderia parecer à primeira vista, de acordo com as premissas da "différance". Naturalmente, a desconstrução começou não só com o logocentrismo, como também pelo fonocentrismo3.

Como afirma Derrida, desconstruir a oposição significa, num dado momento, inverter a hierarquia. Esquecer esta fase de inversão será ignorar a estrutura conflitual da oposição. Significa, pois, passar demasiado depressa sem se deter sobre a oposição anterior, a uma neutralização que, praticamente, deixaria o campo anterior no seu estado e privar-se-ia, eficazmente, de todo o meio para o interior4. Esta característica da "desconstrução" revela um papel significativo na "alteridade" do processo. Derrida indica que a desconstrução será, essencialmente, substituível dentro de uma cadeia de substituições, frisando que a palavra "desconstrução", de forma idêntica a outras, não possui mais valor do que a que lhe confere a sua inscrição. Numa cadeia de substituições possíveis, denomina-se "contexto". Tendo sido perguntado a Derrida, numa ocasião, sobre se o termo "desconstrução" designava o seu projecto fenomenológico fundamental, respondeu que nunca tinha tido um projecto fundamental.

2. A desconstrução : as condições

A desconstrução surge como a vivência poética e prática de um "pensamento contaminado". A contaminação, sempre presente na desconstrução, como seu fundamento, assinala-se como o traço de união entre os conceitos de "presença" e "ausência", tornando-os insolúveis, mas não idênticos e não indiferentes, um em relação ao outro. A contaminação será o "leitmotiv" da desconstrução (Cf. Petrosino, 1994: 130-131).

• A Desconstrução não é um projeto filosófico arbitrário de um autor. É antes o "princípio da ruína", que faz parte de qualquer texto na sua letra, ou seja, ele age como um virus inseminado para a origem e que desmonta qualquer "edição" textual ou institucional. Neste sentido, a desconstrução não é nem uma crítica nem uma crítica da crítica, ela não supera os textos que falam. Ela não é uma teoria, uma vez que não sai dos textos e não os desapruma, ela não é uma filosofia da filosofia5.

As desconstruções, como Derrida gostava de designar no plural, não descreveriam um projecto ou um método. Nem muito menos um sistema filosófico. Em contextos muito determinados, será um dos nomes possíveis para designar, por antonomásia, o que ocorre ou deixa de ocorrer, isto é, uma certa deslocação que de facto é repetida regularmente e, em todo o lugar, onde existe algo que o nada determina, em cada texto, no âmbito da experiência, da realidade social, histórica, económica, técnica, militar, etc. A desconstrução não é única, acontece e produz-se em cada caso concreto. Como nossa análise, a desconstrução será um "Zukunft", surge como acontecimento que estará "por vir". Está e será sempre in fieri. A desconstrução será um "talvez". Surge, naturalmente, como uma Filosofia do Acontecimento. A desconstrução é o acontecimento da realidade e do texto. É um acontecimento concreto. É o "ce qui arrive" (aquele que chega).

• A desconstrução deve ser entendida precisamente como a paralisia do "trabalho do negativo", isto é, como contra-movimento na orientação filosófica para controlar a direcção que leva ao "saber absoluto". A desconstrução começa por inverter o valor das oposições metafísicas e exagerar o que sempre foi subestimado como neutralizador para essas oposições, sendo então movidas a criar novos conceitos: o conceito de vida, de morte, de literatura, de textos, escrita, traço, cinzas, espectros. Estes foram conquistados desta maneira (Cf. Goldschmit, 2003: 21).

Derrida defende que a "desconstrução" consiste numa deslocação repetida regularmente. Esta deslocação deve entender-se no mesmo sentido daquela, que é explicada, a partir dos conceitos solidários, com o objectivo de desestabilizar a lógica da presença. Assim, a repetição indica, novamente, o vínculo da desconstrução, com o concreto, singular e irrepetível, uma vez que o processo volta a começar cada vez que se produz um encontro ou uma alteridade. Até aqui, temos explicitado que o sentido do termo - desconstrução - parece estar antes de se representar como metodologia, necessária e inevitável, relacionando-se com o Outro (Cf. Madrid, 2008: 113).

• Se a desconstrução se manifesta como um "acontecimento", necessário e inevitável, que nos permite relacionar com o Outro, então a hospitalidade é o relacionamento do acontecimento do Outro. A hospitalidade tem implícito, em si, o "acolhimento" por parte do Outro como sua "construção". A desconstrução apresenta-se como diferença, bem como a hospitalidade. Esta revela-se pela "diferença" do Outro-estranho. Na hospitalidade de Betânia, Jesus foi a diferença do acolhimento e Este como diferença de Marta e de Maria.

A hospitalidade, pelo pensamento de Derrida, é a "diferença do Outro", que está perante mim. A hospitalidade implica vários seres pessoais (existência de sujeitos) e um "argumento" (elencos) (Cf. De Peretti, 1986: 131). Derrida afirma que não será uma destruição, antes uma des-estruturação para desfazer algumas etapas estruturais do sistema, enquanto que indica, também, que vai no mesmo sentido: desfazer uma edificação para ver como está constituída ou desconstruída.

• A des-sedimentação do protocolo construtivo expressa uma deslocação do ponto de partida, que leva a descobrir fissuras, erros, contradições. Des-sedimentar, naturalmente, será a acção de determinar este aniquilamento, que, em Derrida, não adopta nem poderá adoptar a forma de uma destruição violenta, tornando-se uma característica da "filosofia da presença" (Cf. Madrid, 2008: 115). Desconstruir quer dizer inverter os níveis do explícito e do implícito num texto concreto, alterando as relações normais, entre o texto e o contexto, na procura de suprimir a hegemonia da denominação, aparentemente explícita, em favor dos múltiplos rasgos do sentido, que se encontram dispersos.

• A desconstrução será uma hiperlógica do concreto e do singular. Tendo em conta que a desconstrução adopta uma postura empirista, fruto da sua apresentação, como acontecimento, o processo ou fase de derrube das categorias logocêntricas de um texto pode começar, na realidade, por qualquer parte, não existindo um começo absoluto.

• Bem salienta Derrida este sentido da desconstrução ao dizer que a incisão da desconstrução não é uma decisão voluntária. Não tem lugar absoluto, não importa "donde". Será uma incisão que se levanta, segundo linhas de força e forças de ruptura, localizáveis no discurso, que se irá desconstruir. A determinação tópica dos lugares e dos operadores, mais necessários numa situação dada, depende de uma reflexão histórica. Esta faz-se no movimento geral do campo e não se esgota pelo cálculo consciente de um sujeito6. Tal como a ideia de parergon (suplemento), em Derrida, a "desconstrução" inicia-se dando atenção aos segmentos do texto, que foram relegados, pelas razões que são em favor da secundariedade do acidente, produzindo-se um movimento de "inversão" da dita hierarquia de oposições binárias. Assim, desconstruir significa realizar uma espécie de inversão estratégica, reparando nos recortes, que não se observam no âmbito de uma leitura tradicional.

Não há significado, mas apenas "efeitos" do jogo de "diferenças" entre significantes, segundo a perspectiva de Derrida. O signo, segundo Derrida, é, por definição, manifestação de uma ausência, forma vazia, preenchida de modo diverso de acordo com factores de ordem contextual. A "différance" é aquilo que difere no espaço e no tempo, sendo esse deferimento a característica do signo. Este é repetível, pressupondo a ausência, a morte do emissor e do seu referente7. A desconstrução não é uma "lógica formal". Derrida afirma que o contexto é uma contextualização, não existindo já feito. Desta forma, enquanto construção de quem lê, o contexto é um poderoso mecanismo de indeterminação do significado. Isto levou a que Derrida referisse ser o signo primordialmente representado pela "metáfora" e não pelo significado literal, analisado em termos de permanência.

• Todo o discurso antes de ser governado pela Gramática será orientado pela Retórica (Cf. Derrida, 1967: 381-386). Ao desconstruir a distinção, entre Filosofia e Literatura, Derrida questiona a distinção essencial da Filosofia da Linguagem, da Linguística, da Poética, pela relação entre linguagem, objecto e metalinguagem. Toda a metalinguagem é ainda e apenas texto. A linguagem-objecto contamina a metalinguagem, que com aquela se entrecruza, sem inteiramente se confundir, entrando num processo de permanente negociação no seu estatuto e função. O segundo momento do processo desconstrutivo significa também "reconstrução". Esta será o aspecto originário do acto desconstrutivo: simples processo de des-sedimentação, que se situa estruturalmente fora da Metafísica. Se a desconstrução fosse somente a inversão dos termos do binómio, falando materialmente, então seria substituir uma presença por outra. O movimento de "des-sedimentação" encarrega-se de deslocar a ordem hierárquica, fazendo com que se veja como transfundo, que se denomina "re-inscrição", a incomunicabilidade de opostos. Ao contrário, encontram-se, reinscrevem-se uns nos outros, formando os conceitos derridianos (parerga, différance, etc.).

• Com efeito, a desconstrução consiste em produzir, discursivamente, o Outro, a partir de si mesmo. A desconstrução afirma-se no plural, enquanto acontece muitas vezes, inclusivamente em ordem à mesma textualidade, dado que, segundo Derrida, um texto não é um texto, além do que se esconde, à primeira vista, como a lei da sua composição e a regra do seu jogo. Por isso, Derrida refere-se, com frequência, às desconstruções em vez de a descrever como pensamento único. A desconstrução deve compreender-se no plural, porque não pode ser reduzida a uma forma ou a um método. Todavia, a desconstrução é um processo singular, não no sentido de uma verdadeira estrutura metodológica, que se aplique a cada caso concreto, mas antes em termos de que cada protocolo desconstrutivo é único e irrepetível. Mas, porque existem muitos singulares, sendo a desconstrução, por natureza, uma realidade plural? Peñalver recorda que cada intervenção da desconstrução tem um carácter irredutivelmente singular, vinculada como está, ela mesma, à singularidade do texto. A desconstrução revela-se como uma "singularidade". É uma singularidade de singularidade. A desconstrução auto-impõe um respeito inaudito ao desejo do idioma e à intriga da firme, secreta e disseminada valorização do mesmo (Cf. Peñalver, 1997: 21-22).

Esta pluralidade de singularidades é, provavelmente, o que levou Derrida a afirmar que se tivesse que ater a uma só definição de desconstrução, uma definição tão breve como uma contra-senha, diria simplesmente e sem exagero: "plus d'une langue'" (mais do que uma língua), isto é, não mais do que um idioma. Cada protocolo desconstrutivo opera como uma língua, como se fosse um universo idiomático particular, em que os conceitos solidários ou infraestruturais se deslocam segundo o contexto de cada caso (Cf. Madrid, 2008: 117).

• A desconstrução é um dos nomes do indecidível, e, como diz Derrida, não será o mais afortunado, se tivesse que haver um eleito, um fazer conhecido. O infortúnio provém de que, entre todos os conceitos solidários da cadeia derridiana, será provavelmente o único que poderia ter sido confundido com um método. O conceito de desconstrução surge a partir de dentro, ab himis (a partir dos alicerces) pelas categorias metafísicas. A Metafísica não pode ser destruída, porque o mesmo acto de "desconstrução" possui um carácter ontologicamente fundacional. A desconstrução necessita da Metafísica.

As dificuldades encontradas, no decurso da História da Filosofia, são expressão, segundo Derrida, do domínio do logos (palavra, discurso) e da unificação centralizadora da interioridade pensante, tornando urgente a definição da possibilidade ou da impossibilidade do discurso filosófico. Será este o objectivo da desconstrução, como tentativa especulativa de articulação do problema do sentido, caracterizado pela recusa da esquematização da Metafísica e pelo repensamento da teoria do sinal. A desconstrução do logocentrismo, enquanto "desconstrução metafísica", representa a crítica externa à concepção da escrita, como representação da palavra, isto é, a concepção do "signo" como estrutura reveladora do "existir".

O trabalho desconstrutivo, em si mesmo unitário, descodifica-se em duas faces da mesma moeda: uma de inversão, com engrandecimento das fissuras metafísicas, e outra de reinscrição, pelo qual o secundário e o primário, do esquema tradicional, se fundem e se diluem na fragmentação dogmática, abrindo à "différance" (Cf. Madrid, 2008: 119). A desconstrução enumera-se como "metafísica da diferença".

Na verdade, as muitas dificuldades, salientadas ao longo do pensamento filosófico, de séculos e séculos, para Derrida, como expressão da possibilidade ou da impossibilidade do discurso filosófico, referem o domínio e predomínio do logos e da unificação centralizadora da interioridade pensante. Será este um dos objectivos da "desconstrução" derridiana, como tentativa "especulativa" de articulação do problema do sentido, caracterizado por uma recusa de esquematismo metafísico e pelo repensamento da teoria do signo.

A desconstrução do "logocentrismo", enquanto desmontagem metafísica, simboliza a crítica externa à concepção de escrita como "representação da palavra", que começa pela sua escuta, onde o signo apresenta uma estrutura reveladora do ser. Por meio da teoria da escrita, Derrida pretende provar a anterioridade da escrita relativamente à palavra. A palavra vem a seguir. Assim será em oposição à prioridade concedida à Palavra e ao som (logocentrismo e fonocentrismo).

Enquanto abordagem da possibilidade geral de uma "ciência da escrita", a Gramatologia (gramma = inscrição ou norma da palavra) teoriza a possibilidade da linguagem, através da possibilidade da escrita e à luz da noção de "arquiescrita", na medida em que esta descreve condições de possibilidade de toda e qualquer experiência e não apenas da linguagem em geral. Daqui ser uma necessária perspectiva da relação entre o significante e o significado.

Segundo Derrida, o signo será uma manifestação de uma ausência, como forma vazia, que se preenche de acordo com factores de ordem contextual. A "différance" é aquilo que difere no tempo e no espaço, sendo esta a característica do signo. Este é per naturam suam repetível, pressupondo a ausência, a morte do emissor e do receptor. Muito ao arrepio da tradição filológica, que usa o contexto como factor de autoridade, visa-se, assim, pela desconstrução, circunscrever a disseminação do significado e circunscrever a sua verdade.

O labor inventivo passa naturalmente, segundo Derrida, por desconstruir a posição hegemónica da Filosofia, como árbitro do questionamento racional e torná-la num mundo aberto de posições, que assediem os desafios lançados por meio das novas formas de conhecimento. Derrida estende o conceito de desconstrução a toda a actividade inventiva humana (teologia, filosofia, ética, política,direito, história,etc.).

A perspectiva disseminadora do projecto derridiano é um dos muitos pontos da problemática contemporânea da Filosofia da Linguagem, concentrando a sua abordagem sobre pormenores da semiologia e da semântica e expressando, ao mesmo tempo, ora o desequilíbrio inerente à crítica do centralismo transcendental e deontológico (Kant), ora a acuidade pensante através da elaboração textual.

3. A desconstrução: como estratégia

considerada como estratégia geral de abertura dos possíveis, a "desconstrução" só se mantém enquanto se mantiver a crença no fechamento da época no espaço e no tempo. Será isto que explica a necessidade de uma resistência infindável, mas que, ao mesmo tempo, é indicado que o infindável trabalho de desconstrução é de natureza lógica e não histórica.

A estratigrafia de Derrida é feita à custa de uma historização directa do problema da "différance" (diferença), colocando a sua pluralização separada da simbolicidade. Ao opor a estrutura plural da modernidade ao exercício da pluralidade de "la trace" (o rasto), Derrida considera indistinta a simbolicidade, que é pensada como uma metáfora, apropriada pela "presença" (Lawlor, 2002: 191). Quando Derrida afirma que não há justificação absoluta para a decisão, coloca-se fora do problema da justificação da mesma decisão. Poderá estar em causa a razão da argumentação, muito embora o pensador-filósofo argumente que a justificação absoluta seja impensável.

A impossibilidade de definir a "desconstrução" deriva, segundo De la Grammatologie, da impossível distância em relação à época, onde a tese de que "il n'y a pas de hors du texte" (nada há fora do texto) se poderá enunciar. Encontramo-nos diante de uma estratigrafia generalizada, que tem de exercer-se em diversas frentes, dentro da necessidade prescrita pelo lema derridiano, que refere que aquilo que não podemos dizer, não é necessário escrever.

Assim, o polemos (combate) da "désconstruction" (desconstrução) será obrigado a passar pela escrita, para ser eficaz, e é essa passagem, que permitirá dar resposta ao enigma da desconstrução, apenas quanto aos condicionamentos internos. Será necessário saber, dentro da argumentação, qual a ligação entre a lógica da estratificação, desses estilos plurais e o domínio da desconstrução que, de alguma maneira, é o inanalizado sobre as obras da época e permite a apropriação dentro de outras afinidades.

Seria possível demonstrar que, na escrita de Derrida, se destacam determinadas instâncias estilísticas, que podem ser organizadas em quatro estratos, como momentos da "desconstrução", já que não se pode, em plena consciência, falar de fases da escrita, em Derrida, dado que a sua obra é aberta. Com efeito, isto não significa que correspondam a delimitações empíricas da totalidade do material escrito, revelando uma lógica profunda. A desconstrução encadeia-se através de quatro estratégias, que analisaremos, de forma a determinar "uma luta incessante e hierarquizante"8, onde ela se insere, mas, na sua perspectiva geral, variando com as estratigrafías (Cf. Babo, 2006). A desconstrução implica diferentes estratos. Naturalmente, a desconstrução é uma "tectónica" do pensamento e é um pensamento tectónico.

A desconstrução aparece como uma "dupla ciência" (interior e exterior) (Cf. Derrida, 1972b: 10). Esta complementaridade da desconstrução estará presente na Medicina, por ser arte e por se constituir como ciência. Mais concretamente, a desconstrução revela-se como dupla ciência, seja subjectiva, seja objectiva. É um pensamento em acção ou em movimento. A "desconstrução" (no pensamento derridiano), como estratégia interpretativa, insere-se no seio do próprio texto ou do contexto, como uma "bomba conceptual" (bombe conceptuelle) do elemento da cadeia quase conceptual (Cf. Thorsteinsson, 2007: 193). A desconstrução define-se, muitas vezes, como obediência à exigência analítica e como uma multidão de resistências à análise, mas oscila entre o analítico e o sintético.

Derrida considera a desconstrução como uma "surenchére analytiste et transcendentaliste" (sobrelanço analista e transcendentalista), quando refere que é necessário fazer direito, de forma ainda mais radical, mais analítica, pela visão tradicional, pela lei mesma, a partir de conceitos impossíveis, de quase conceitos, de conceitos que chamou de transcendentais, como a "archi-trace" (rasto primitivo) e "arqui-escritura" (escrita primitiva), mais antiga do que a origem e, sobretudo, uma afirmação doadora9. Em nome do Outro, a desconstrução afronta as mundividências do Mesmo. Desta forma, a desconstrução determina uma operação filosófica por excelência (Cf. Thorsteinsson, 2007: 211-212). A desconstrução é um agenciamento, que procura a abertura de um espaço intermédio. Na sua escrituralidade, passa por quatro momentos, que se poderão enunciar da seguinte forma:

3.1. Momento epistémico

De certo modo confunde-se com todo o quadro da desconstrução, sendo lançada seria possível demonstrar que manifestamente desde La Voix et le Phénomène (1967) e em L'êcriture et la différance (1967) de forma explícita. O estilo geral da desconstrução encontra-se patente nos textos De la Grammatologie (1967) e no caso de Marges de la philosophie (1967) e, em Positions (1972), também. Aqui, o que está em causa será o controlo mútuo da "desconstrução" e as categorias filosóficas e científicas da episteme (conhecimento), que originam um certo reconhecimento na universalidade da estratégia da "desconstrução", que se centra na luta contra o encerramento do quadro da "época do fechamento"10.

3.2. Momento estético

Revela-se, entretanto, a partir de La dissémination (1972). A sua aparente sincronologia, com as obras anteriores, é enganadora, uma vez que estas recolhiam ensaios redigidos nos finais dos anos sessenta. Todo o esforço desconstrutivo está voltado para a proliferação de pluralidades textuais, a partir da disseminação de múltiplos estilos. Universalizam-se estes estilos particulares de modo a permitir a abertura parcial de pequenos quadros. Esta universalização é pensada a partir da noção lúdica de criatividade11. A desconstrução apresenta-se, nesta fase, como uma "criatividade lúdica". A desconstrução é um processo lúdico da realidade e do texto.

3.3. Momento político

Este momento mantém uma forte solidariedade com o anterior, nomeadamente por ser menos totalizante. Todavia, o que nele é dominante será o trabalho sobre as instituições e o relacionamento político, referindo-se como um quadro do rasto. "de la trace". Nesta estratigrafia, são as instituições e as práticas que se encontram abaladas pela "desconstrução", de modo a intervir sobre o fechamento institucional.

A pluralização das abordagens corresponde à necessidade de actuar sobre os "pequenos quadros" institucionais e, indirectamente, sobre o quadro geral da época, de modo a garantir o exterior da instituição no seu interior12. Derrida deverá dizer que existe uma desconstrução eficiente, que deverá muitas vezes desenvolver a crítica da instituição filosófica actual e enquadrar uma transformação positiva, muitas vezes afirmativa, audaciosa, ora extensiva ora intensiva de um ensinamento filosófico. Estas propostas ofensivas serão reguladas, às vezes, sobre o estado teórico e prático da desconstrução, tomando formas muito concretas e as mais eficazes possíveis13.

3.4. Momento ético

Aqui a "desconstrução" surge como uma forma dominante e com marcada posição moral, manifesta-se como um certo "misticismo", que determina toda a Ética da Desconstrução e que moraliza o quadro da desconstrução. A desconstrução, também, se pode declarar como um "jogo de alteridades". Existe nela um ponto irredutível de exterioridade, a partir do qual pode deslocar-se toda a leitura significativa. Assim, a meta do processo desconstrutivo consiste em encontrar os pontos de alteridade, dentro do texto e a partir deles desconstruir a conceptualidade desde o exterior. A alteridade é, portanto, essencial para a desconstrução, como é para a cadeia de noções, que indicam o indecidível (Cf. Babo, 2006). Este é o momento supremo da desconstrução. É a alteridade da alteridade.

4. A desconstrução : sentido e aplicações

Derrida entendia que a significação de um dado texto (ensaio, romance, etc.) era o resultado da "différence" entre as palavras usadas, mais do que a referência às coisas que elas representam. Trata-se, pois, de uma "différence" activa, onde os sentidos de cada uma das palavras são opostos de forma análoga à significação diferencial saussuriana. Com efeito, para marcar o carácter activo desta "différence", Derrida sugere o termo "différance", sendo resultado da combinação entre "différence" e do particípio presente "différant". Por outras palavras, as diferentes significações de um texto poderão ser descobertas ao decompor a estrutura da linguagem, nas quais são redigidas. Daqui podermos dizer que a desconstrução é uma prática14. Assim o entende Derrida ao dizer que a "desconstrução", se não se detém aí, nunca se faz, sem um trabalho segundo o sistema que junta esse sobrearmamento a si próprio, que articula a psicanálise com o marxismo ou com os recursos da Linguística, da Retórica ou da Pragmática, com o pensamento heideggeriano sobre a História da Metafísica, a essência da Ciência ou da Técnica, etc. Mas também será uma "poiética".

Todavia, uma tal desmistificação deve sujeitar-se à diversidade mais sofisticada das manhas apocalípticas15. Com efeito, as quatro estratigrafías desdobram o quadro da "desconstrução", indicando que a preponderância ética está na origem do enigma da desconstrução e da sua alteridade (Cf. Derrida, 1997: 48)16. A Ética deve ser pensada, primariamente, como análise desconstrutiva sobre a "eticidade da eticidade", devendo-se chamar "ultraética", dedicando-se ao questionamento do valor dos valores. Logo, a desconstrução aparece como uma axiologia. Muito naturalmente como "meta-axiologia".

A desconstrução do logocentrismo é "aquela que não quer nada dizer" (ne veut rien dire), não procede mais, em última instância, do "querer dizer" (vouloir-dire). Logo, onde ela opera, o pensamento "não quer nada dizer" (ne veut rien dire)"17. A desconstrução descreve-se como uma "meta-ética", que se caracteriza como uma fonte axiológica. Na desconstrução, ocorre uma dupla leitura, ora a de repetição, ora a de alteridade. Derrida afirma que a desconstrução é uma "abertura ao Outro" (Cf. Madrid, 2008: 127). Na essência mesma do texto, encontra-se marcada a "alteridade".

A desconstrução surge, pois, como a abertura do texto e ao texto. Nesta atitude desconstrutiva, percebe-se, com clareza, o encerramento da Metafísica, que, como sabemos, possui uma dupla inscrição: por um lado, a busca desse ponto de alteridade solicitador, mas, por outro, a necessidade de expressar essa desconstrução na própria linguagem da Metafísica, que não pode iludir-se. Será neste encerramento que se percebe a "eticidade da desconstrução", através do rompimento do significado único. O texto está preparado para uma alteridade responsável, numa contra-afirmação, realmente outra, vivificadora, frente à qual não cabe senão a atitude da responsabilidade, ao dar resposta à chamada do Outro.

Neste processo existe uma dimensão de incondicionalidade relativamente à qual cabe deter-se um momento. A incondicionalidade não é um simples presente, em qualquer outro lugar, fora de todo o condicionalismo, intervindo na determinação de um contexto a partir do mesmo começo e desde um "mandato", uma lei, uma responsabilidade, que transcende a determinação de um contexto dado (Cf. Madrid, 2008: 127). Indo ao encontro da vontade da Filosofia (aquela que procura ver a inscrição da sua própria margem), o texto desconstruído esforça-se por reinscrever a Filosofia no texto geral, onde nós realizamos o conhecimento. Reduplicando a própria Filosofia, segundo Derrida, a desconstrução conduz o projecto filosófico à redescoberta dos próprios limites. Se podemos dizer que será a margem que está dentro e fora, então será aquilo que a Filosofia o diz, porque o discurso filosófico entende orientar a sua margem, definir a linha, adaptar a página, etc. O seu exterior é visto, como negativo, onde nada teria a fazer, negativo sem efeito, está no texto, trabalhando ao serviço do sentido, como margem revelada na dialéctica do Livro18.

Derrida refere que a desconstrução não será, ela também, um pôr em questão da hora, um pôr em crise a unidade da "hora"? Teria sido igualmente necessário seguir, com minúcia, essa classificação tripartida, que desde os séculos IX e X dividia a sociedade em três ordens, os clérigos, os guerreiros e os trabalhadores (oratores, bellatores et laboratores); e, em seguida, a hierarquia dos ofícios (nobres ou vis, lícitos ou ilícitos, negotia illicita, opera servilia -os negócios ilícitos e os trabalhos servis-, que eram interditos em Domini Dies (domingo), a partir do Decreto de Constantino, o Grande, no ano de 320 d. C. Mostra-o bem Le Goff que, face ao mundo da oração e ao mundo da guerra, a unidade do mundo do trabalho não durou muito. Se alguma vez existiu essa unidade putativa, precisa Le Goff, com uma prudência não necessária, e que conta menos do que a oração, que então vem pôr em suspenso (Cf. Derrida, 2003: 59)19. Mas, a "desconstrução" será uma oração (desde a petição até à meditação). Com efeito, mais do que isto, a desconstrução é o palimpsesto da sabedoria.

No posfácio da tradução portuguesa da obra derridiana L'Université sans condition, Fernanda Bernardo refere que o pensamento não é outra coisa, senão esta experiência da incondicionalidade, ele não é nada sem a afirmação desta exigência. E nesta obra agora traduzida, o grande e único filósofo do talvez, que é, hoje, Jacques Derrida reitera: chamamos aqui pensamento àquilo que por vezes comanda, de acordo com uma lei acima das leis, a justiça desta resistência ou desta dissidência. É também o que põe em movimento ou inspira a desconstrução como justiça. Numa palavra, o pensamento desconstrutivo, passe a manifesta tautologia, é a experiência ou o poema do Outro, a Lei das leis ou justiça. O poema do "absolutamente outro" (tout autre) numa cena (paradoxal) em que o outro, o absolutamente outro é também absolutamente (qualquer) outro (tout autre est tout autre) (Cf. Derrida, 2003: 85-86). O pensamento é incondicionalidade.

Segundo a leitur de Higino, uma das estratégias da desconstrução, delineada pelo estilo cortante e hiperconceptual cultivado por Derrida, encontra-se na desmontagem das oposições clássicas, elaboradas pelo pensamento ocidental, tais como teórico/prático, real/virtual, literal/ metafórico, discurso filosófico/discurso literário, etc. A Ontologia Clássica radicou quase sempre numa lógica construtiva, tética, de consolidação dos saberes a partir de uma pretensão totalizante. Assim, pertence à desconstrução revelar o engano e a ilusão desta pretensão, visto que se os textos desta tradição filosófica forem analisados com cuidado, verificar-se-á a sua insegurança estrutural, uma vez que todos eles estão habitados pelo fantasma da ruína (Cf. Higino, 2011: 67-68).

Logo, para Derrida, uma estratégia da desconstrução será afirmar que esta não se apresenta como método, que nos permita determinar aquilo que resiste aos sistemas, porque poderá haver uma incapacidade para fechar o sistema filosófico. Segundo a nossa leitura critica, poderemos dizer que a "desconstrução" será a "poiética do outro", porque "poiética" do pensamento, oferecendo-se à hospitalidade como "dimensão poiética" do estrangeiro e do anfitrião, tal como se manifestou no acolhimento de Marta e Maria em Betânia. Assim, a desconstrução será um "contra-dom". Houve uma soberania em Betânia, sendo dominada pela presença de Cristo.

A desconstrução é uma soberania do Outro. Será aquilo a que Derrida chama a desconstrução do conceito de soberania incondicional. Será necessária, sem dúvida, e acha-se em curso, é por isso que tratamos aí como herança de uma Teologia. No caso mais notório da pretensa soberania dos Estados-nações, um entre outros e muitos (uma vez que aquela se sente em casa e será indispensável nos conceitos de sujeito, de cidadão, de liberdade, de responsabilidade, de povo, etc.), o valor da soberania encontra-se hoje em plena decomposição. Mas é preciso velar para que a desconstrução necessária não comprometa, ou não faça, em demasia, a reivindicação da universidade à independência, ou seja, a uma certa e particular forma de soberania. Toda a desconstrução é uma estratégia e uma soberania do Outro-estranho.

Na surgem muitas aplicações. Por exemplo em Matemática, além de ser "uma maneira de bem contar", segundo opinião da Professora Doutora Fernanda Bernardo, (Cf. Derrida, 2003: 112) reconhecida especialista portuguesa, no pensamento de Jacques Derrida, poderemos aperfeiçoar esta posição, dizendo que a desconstrução é um processo dedutivo-generalizador para bem calcular, dado que a Matemática vai da Aritmética à Análise Matemática, sem esquecer a Geometria, que vai das projetivas até à descritiva, passando pela diferencial e pela Topologia.

Desta feita, a ciência da quantidade abstrata necessita da "desconstrução", quer como método, quer como fundamento. Contudo, o grande ramo científico, onde está presente a Desconstrução, será, sem dúvida, a Química, desde a Analítica até à Sintética. O elemento fundamental para o constituir na desconstrução, relativamente à Química, encontra-se na Estequiometria. Em Química, a desconstrução surge ora como método analítico-sintético, ora como fundamento meta-crítico desta ciência experimental.

Todos os ramos do saber, em todas as áreas, desde as ciências humanas, até às ciências exatas, se sente a importância da aplicação da "desconstrução", seja como método, seja como fundamento.

Conclusão

A desconstrução é a tentativa não de negar as oposições (tais negações), mas de neutralizar depois de as ter derrubado. O exemplo mais conhecido é aquele que se refere à inversão, para Derrida, sobre a hierarquia tradicional entre a palavra e a escrita, sendo esta pensada como instrumento técnico inessencial, derivado da palavra falada e do presente. Esta subordinação metafísica da escrita à palavra, e o sistema de oposições que ela governa, é chamado por Derrida "fonocentrismo" ou "fonologocentrismo". O "fonocentrismo" e sua estrutura de pressupostos estruturam constantemente a Metafísica20.

O labor desconstrutivo realiza-se por uma espécie de "assédio" (hantise), que acontece dentro do pensamento filosófico e da escrita literária e que se aproveita das suas debilidades e contradições das suas aberturas, das suas aporias, das suas fissuras, para determinar uma possibilidade ao "por vir". Sempre que um sistema de pensamento (filosófico, literário, político ou jurídico) for tido por homogéneo, hegemónico e inatacável, erguendo-se como dominante, será então aí que a desconstrução actua. Esta não será com a ajuda de alguma técnica exterior ao texto, mas antes pela agitação das suas próprias forças interiores.

A desconstrução, como "pensamento em ação", vive simultaneamente sob as três formas de pensamento, a saber: teorético, prático e poiético. Como pensamento contaminado, procede per se à descontaminação de todo o saber e do pensar. Na verdade, pela contaminação, a "desconstrução" surge como um pensamento catártico. È a purificação do pensamento. Revelar-se-á como pensamento do pensamento.

Com efeito, a desconstrução não chega ad extra num determinado momento, recomendada por uma autoridade ou avisada por um determinado método. Ela é o método do método. A desconstrução é aquilo que está sempre a acontecer a todas as coisas (ça se déconstruit), a todo o momento. Assim, é o caminho para além do caminho. É meta-meta-odos...

A Hospitalidade, como desconstrução, permitirá primeiramente a "construção do acolhimtento", que reside no castellum, como sucedeu em Betânia. Para haver hospitalidade, terá de haver uma "casa" (moradia), a fim de que o anfitrião receba o Outro-estranho e vice-versa. Toda a hospitalidade, pela desconstrução, necessita da construção (edifício) para haver o acolhimento. A hospitalidade é simultaneamente uma construção e uma desconstrução. A hospitalidade terminará numa reconstruçãio entre o anfitrião e o homo mendicans. Entretanto, a desconstrução depende da "construção". Na hospitalidade, somente depois de haver a oikia (casa), então é que haverá "desconstrução do outro-estranho" pelo anfitrião. Deve revelarse, na hospitalidade, como desconstrução, a construção intersubjectiva entre o anfitrião e o Desvalido no Caminho. Esta será a grande critica ao pensamento de Derrida, segundo a nossa perspectiva, uma vez que a desconstrução terá de implicar uma "recitação elpidica", visto que per se a desconstrução é uma "audição da palavra" (escrita e falada). A desconstrução será "ouvir o hóspede".

A hospitalidade é uma intersubjetividade dual, simultaneamente construtiva e desconstrutiva. Interpretando o pensamento de Derrida, teremos de salientar que a hospitalidade surge como possibilidade do estar dentro ou no interior da possibilidade. Logo, será a possibilidade da possibilidade. Toda a hospitalidade, como possibilidade do im-possivel, será a possibilidade da desconstrução do Outro-estranho, através do anfitrião, cabendo aqui a desconstrução do "host" (dono da casa) no "guest" (convidado, hóspede) e vice-versa.

Ao longo da sua obra, Derrida tentou demonstrar como a hospitalidade incondicional desconstrói a hospitalidade desejada do hóspede-cidadão, que se pretende ser o mestre do lugar, onde ela oferece o lugar ao desconstruir uma espécie de ipsocracia, legada posteriormente na sua singularidade impossível do "otage" (refém), do recém-chegado, do antes mesmo da sua condição de cidadão e do antes da polis (cidade-estado) e, desta sorte, posteriormente a uma tal hospitalidade incondicional do antes e do depois da hospitalidade condicional ou jurídico-politica, que ela seja, como salienta Kant, cosmopolita, e que se encontre como oportunidade para pensar e repensar, de outra forma, a ipseidade, a cidadania, o direito nacional e internacional.

Pela nossa reflexão, a desconstrução é uma audição, uma decisão e uma recitação da Palavra. Assim, a desconstrução é "abertura da palavra". Também poderemos asseverar que a desconstrução é uma espécie de "maêutica", dado que há um "parto" da Palavra. Finalmente, poderemos descrever a "desconstrução" como o acolhimento do acolhimento, bem como a hospitalidade da hospitalidade. É o "acolhimento puro". Na verdade, a desconstrução é abrir e fechar o texto e a realidade. É o tudo ou o nada da realidade e do texto. É, com efeito, o "talvez" do texto e da realidade. É o "talvez" da Palavra, da "audição da palavra" e do "ouvir o hóspede", como o "talvez" da desconstrução.

Terminamos por dizer que a desconstrução tem um antes na "construção" e um depois na reconstrução, para Ela mesma surgir como desconstrução, pela síntese da realidade e do texto. A desconstrução é a soberania da Palavra, é o poder da Palavra e, assim, assume-se como "ouvir a palavra". Esta audição é a "melhor parte", tal como se verifica na hospitalidade. Esta caracteriza a desconstrução. Assim, a desconstrução está "por vir". A desconstrução é o caminho do "por vir" da Palavra.

Como diz Higino, a desconstrução, se existe, só pode ser inventiva e poética. Entre a Filosofia e a Literatura floresce uma espécie de "bolor", às vezes parasitário, que obriga a uma resposta, a uma saída, a dar ouvidos à palavra, que diz: Veni, Domine!... Há um tom apocalíptico no registo discursivo da desconstrução. Assim, o discurso da crise é interior à própria tradição cultural do Ocidente e, portanto, permanece nela. Logo se perceberá melhor a importância que Derrida outorga à desconstrução.

Desta feita, a desconstrução é uma "paixão inventiva", tanto do criador literário quanto do filósofo. Este pensamento inventivo é hipotético, move-se por baixo da tese. Pela desconstrução, o venire do por-venire revela-se ao venire do in-venire. A desconstrução é o in-venire. Esta, como "invenção", só pode ser pensada juntamente com o dom. Naturalmente, a desconstrução é a síntese dialéctica entre uma construção (tese) e uma reconstrução (antítese).

Para Derrida, a desconstrução á a justiça: uma "justiça" por-vir, sempre por-vir ( à-venir), sempre intempestivga e prometida como o próprio por-vir -que é diferente de futuro , segundo Derrida - e que, para além do direito, não é mais um conceito filosófico e jurídico-plítico, nem uma ideia reguladora em sentido kantiano, nem sequer o conteúdo de uma "promessa messiânica", mas dee peferência um impossível e uma "experiência do impossível". Ou seja da "da alteridade absoluta" dirá Derrida : " aquilo de que não podemos fazer a experiência". Assim, é a justiça.

A desconstrução é o movimento do pensamento". A desconstrução será o "pensamento por vir". Assim será o pensamento do pensamento. Poderemos, ainda, dizer que a "desconstrução" é um já e um ainda não do pensamento. É, pois, uma espécie de "escatologia" do pensamento e um pensamento como Escatologia.

Poderemos dizer que o mundo da saúde e da doença, através da humanização hospitalar, é uma desconstrução. O pensamento clínico é sempre um pensamento "por vir", visto que é um "por vir" da Medicina, como arte e como ciência. Uma das aplicações da desconstrução, no mundo das artes e das ciências, reside na Medicina e, de forma explícita, na humanização do acolhimento em saúde.


Rodape

1Ver: Thorsteinsson, 2007: 145 "Autrement dit, cette pensée essaie de délimiter le champ de son application, sa " zone d'intérêt"; d'une manière plus générale, plus extensive, plus inclusive et, par là même et pas moins décisivement, moins exclusive que toute pensée antérieure. Loin d'être réductrice par rapport à la "réalité", la déconstruction se caractériserait donc par une "surenchère", par un mouvement en "hyper", qui viserait une transformation du concept de réalité même, s'occupant ainsi d'une réalité plus réelle que la réalité "elle-même".
2"La déconstruction du concept de souveraineté inconditionnelle est sans doute nécessaire et en cours, car c'est là l'héritage d'une théologie à peine sécularisée. Dans le cas le plus visible de la prétendue souveraineté des États-nations mais aussi ailleurs (car elle se trouve chez elle partout, et indispensable, dans les concepts de sujet, de citoyen, de liberté, de responsabilité, de peuple, etc.), la valeur de souveraineté est aujourd'hui en pleine décomposition. Mais il faut veiller à ce que cette déconstruction nécessaire ne compromette pas, pas trop, la revendication de l'université à l'indépendance, c'est-à-dire à une certaine forme très particulière de souveraineté, ... ". (Derrida, 2001: 20)
3"La déconstruction est souvent représentée comme ce qui dénie toute extériorité au langage, elle reconduirait tout à l'intérieur du langage. Comme j'ai écrit qu'"il n'y a rien en dehors du texte", tous ceux qui se plaisent à nommer langage ce que je nomme "texte" traduisent, veulent traduire: "il n'y a rien en dehors du langage". Alors que, pour le dire brièvement et schématiquement, c'est exactement l'inverse. La déconstruction a commencé avec la déconstruction du logocentrisme, la déconstruction du phonocentrisme". (Derrida, 2005: 108).
4"Ne pouvant plus s'élever comme un maître-mot ou un maître-concept, barrant tout rapport au théologique, la différance se trouve prise dans un travail qu'elle entraîne à travers une chaîne d'autres concepts , d'autres mots , d'autres configurations textuelles ; et peut-être aurai-je tout à l'heure l'occasion d'indiquer pourquoi tels ou tels autres mots ou concepts se sont ensuite ou simultanément imposés ; et pourquoi il a fallu leur donner valeur d'insistance (...) de supplément, pharmakon, de marge-marque - marche, etc. ". (Derrida, 1972a: 54-55).
5"(...) La déconstruction n' est pas le projet philosophique arbitraire d'un auteur: elle est plutôt le principe de ruine qui est inscrit dans tout texte lors de son écriture, autrement dit, elle agit comme un virtus inséminé à l'origine et qui démonte d'avance tout "montage" textuel ou institutionnel. En ce sens, la deconstruction n'est ni une critique ni une critique de la critique; elle ne surmonte pas les texts don 't elle parle. Elle n'est donc pas une théorie puisqu'elle ne sort pas des texts et ne les surplombe pas, elle n'est pas une philosophie de la philosophie".(Goldschmit, 2003: 20-21)
6"Dépendance complexe, cependant, puisque dans le concept de signifiant se marque aussi, dans votre texte même, une autre chaîne qui ne se réduit pas (du moins à mon avis) à la première; extériorité- hétérogénéité du signifiant (vous parlez aussi de corps, d'une écriture du corps) par rapport à cette saisie directe du signifié selon le thème classique de la métaphysique, dans la proximité immédiate de soi à soi d'une conscience. De la sorte, au motif de la différance comme possibilité de la conceptualité, du procès et du système conceptuel en général, se joint nécessairement un autre motif par lequel cette possibilité est elle-même déterminée comme ne renvoyant jamais à un ego transcendental (l'unité d'un je pense ), mais comme s'inscrivant au contraire dans une extériorité radicale au sujet, lequel ne devient sujet parlant qu'en commerçant avec le système des différences linguistiques, ou encore ne devient signifiant (en général, par parole ou autre signe) qu'en s'inscrivant dans le système des différences. Or ces "différences", dites-vous aussi, ne sont pas "tombées du ciel", pas plus inscrites dans un topos noetos que prescrites dans la cire du cerveau ; elles seraient même d'entrée de jeu et de part en part historiques, si le mot "histoire" ne comportait en lui le motif d'une répression finale de la différence". (Derrida, 1972a: 105-106)
7"Sans doute le centre d'une structure, en orientant et en organisant la cohérence du système, permet-il le jeu des éléments à l'intérieur de la forme totale. Et aujourd'hui encore une structure privée de tout centre représente l'impensable lui-même. Pourtant le centre ferme aussi le jeu qu'il ouvre et rend possible. En tant que centre, il est le point où la substitution des contenus, des éléments, des termes, n'est plus possible. Au centre, la permutation ou la transformation des éléments (...) est interdite. Du moins est-elle toujours restée interdite (et j'utilise ce mot à dessein). On a donc toujours pensé que le centre, qui par définition est unique, constituait, dans une structure, cela même qui, commandant la structure, échappe à la structuralité. C'est pourquoi, pour une pensée classique de la structure, de centre peut être dit, paradoxalement, dans la structure et hors de la structure. Il est au centre de la totalité et portant, puisque le centre ne lui appartient pas, la totalité a son centre ailleurs". (Derrida, 1967: 409 - 410)
8"Cette structure de la double marque (pris - emprunté et enfermé - dans un couple d'opposition, un terme garde son vieux nom pour détruire l'opposition à laquelle il n'appartient plus tout à fait, à laquelle il n'aura d'ailleurs jamais cédé, l'histoire de cette opposition étant celle d'une lutte incessante et hiérarchisante) travaille toute le champ dans lequel se déplacent ces textes-ci. Elle y est aussi travaillée : la règle selon laquelle chaque concept reçoit nécessairement deux marques semblables - répétition sans identité -, l'une à l'intérieure, l'autre à l'extérieure du système déconstruit, doit donner lieu à une double lecture et â une double écriture. Cela apparaîtra en son temps: à une double science". (Derrida, 1972b: 10)
9"(...) il fallait faire droit, de façon encore plus radicale, plus analytique, à la requête traditionnelle, à la loi même de ce qui venait à être déconstruit: d'où des concepts impossibles, des quasi-concepts, des concepts que j'appelais quasi transcendantaux, comme l'archi-trace ou l'archi-écriture, l'archi-originaire plus "ancien" que l'origine - et surtout une affirmation donatrice qui reste l'ultime inconnue pour l'analyse qu'elle met pourtant en mouvement" (Derrida, 1996: 44).
10A esse respeito, ver: www.cecl.com.pt, acesso "on-line" a 20.11.06.
11"Ainsi s'annonce finalement le statut sans statut de tous les concepts et de tous les noms de concepts proposés en nombre non fini dans le mouvement de "la déconstruction". Cette théorie est appelée, certes, par une pensée de l'écriture (dans De la grammatologie, par exemple) mais elle se thématise et se formalise mieux (avec La dissémination, Glas, Parages, ...) dans sa relation au double bind à la structure de la double bande et surtout d'une restance qui n'est pas et ne relève pas plus de l'ontologie qu'elle ne se prête à la relève dialectique" (Derrida, 1996: 44).
12Ver: www.cecl.com.pt, acesso a 20.11.06.
13"(...) une déconstruction rigoureuse et efficiente devrait à la fois développer la critique (pratique) de l'institution philosophique actuelle et engager une transformation positive, affirmative plutôt, audacieuse, extensive, et intensive, d'un enseignement dit "philosophique" (...) Ces propositions offensives seraient réglées à la fois sur l'état théorique et pratique de la déconstruction et prendraient des formes très concrètes, le plus efficientes possible...". (Derrida, 1990: 121)
14Ver: html: fili:// G: / Désconstruction-Wikipédia.html, acesso a16.09.11.
15" (...); et une déconstruction, si elle ne s'y arrête pas, ne va jamais cependant sans un travail second sur le système qui ajointe ce surarmement à lui-même, qui articule, comme on dit, la psychanalyse au marxisme ou à quelque nietzschéisme, aux ressources de la linguistique, de la rhétorique ou de la pragmatique, à la théorie des "speech acts", à la pensée heideggerienne sur l'histoire de la métaphysique, l'essence de la science ou de la technique. Une telle démystification doit se plier à la plus fine diversité des ruses apocalyptiques". (Derrida, 1983: 66)
16Ver: http://www.cecl.com.pt/rcl1/03/re103-02.html, acesso "online" a 20.11.06.
17"(...) cela ne veut rien dire, ne procède plus en dernière instance du vouloir-dire. Partout où elle opère, la pensée ne veut rien dire" (Derrida, 1972a: 67).
18"(...) parce que le discours philosophique entend connaître la marge, définir la ligne, cadre la page, l'envelopper dans son volume. Dehors parce que la marge, son marge, son dehors sont vides, son dehors : négatif dont il n'y aurait rien à faire, négatif sans effet dans le texte ou négatif travaillant au service du sens, marge relevée (aufgehobene) dans la dialectique du Livre" (Derrida, s.f.: 10). Assim, a margem da filosofia, quer dizer a sua margem, incorporada, englobada, será relegada ao estatuto de uma exterioridade negligenciada e sem efeito ou, inversamente, submetida à categoria do negativo determinado. Logo, este negativo determinado é uma desconstrução, como considera Fernanda Bernardo. (Cf. Derrida, 1972a: XX)
19"La déconstruction, n'est-ce pas aussi une mise en question de l'heure, une mise en crise de l'unité "heure" ? Il aurait aussi fallu suivre à la trace cette classification tripartite qui, depuis les IXe et XIe siècles, divisait la société en trois ordres, les clercs; les guerriers, les travailleurs (oratores, bellatores, laboratores); et puis la hiérarchie des métiers (nobles ou vils, licites ou illicites, negotia illicita, opera servilia, interdites le dimanche). Le Goff le montre si bien : l'unité du monde du travail, face au monde de la prière et au monde de la guerre, "n'a pas duré longtemps". "Si elle a jamais existé " cette " unité" présumée, précise au passage. Le Goff, avec une prudence si nécessaire et qui compte au moins autant, à mes yeux, que la proposition qu'elle vient suspendre ainsi". (Derrida, 2001: 62)
20"La deconstruction est la tentative non de nier ces oppositions (ces negations) mais de les neutralizer après les avoir renversées. L'exemple le plus connu est celui de l'inversion, par Derrida, de la hiérarchie traditionnelle entre la parole et l'écriture, hiérarchie selon laquelle l'écriture est pensée comme un instrument et une technique inessentielle, dérivée de la parole vive et présente. Cette subordination métaphysique de l'écriture à la parole, et le système d'oppositions qu'elle régit, est appelée par Derrida "phonocentrisme" ou "phonologocentrisme". Le "phonocentrisme" et ses presupposes structurent constamment la métaphysique" (Goldschmit, 2003: 21).


Referências

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