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Lingüística y Literatura

versión impresa ISSN 0120-5587

Linguist.lit.  no.65 Medellìn ene./jun. 2014

 

O MORFEMA -EIR- NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO*

THE MORPHEME -EIR- IN CONTEMPORARY BRAZILIAN PORTUGUESE

 

Natival Almeida Simões Neto, Juliana Soledade Barbosa Coelho

Universidade Federal da Bahia, Brasil, nativalneto@gmail.com, julisoledade@hotmail.com.

Recibido: 07/09/2013 - Aceptado: 16/11/2013


 

Resumo

Este trabalho investiga as operações morfológicas e as acepções semânticas concernentes ao morfema -eir- na história da língua portuguesa, tendo como base os estudos descritivos empreendidos por Cunha & Cintra (1998), Rocha (1998), Soledade (2005) e Viaro (2011). Para isso, não só revisamos as propostas dos referidos autores, mas também coletamos novas realizações do morfema em textos de sites informais da Internet, onde encontramos uma amostra de língua mais próxima do vernáculo, o que garante a transparência desta pesquisa.

Palavras-chave: história da língua portuguesa, semântica lexical, morfologia da língua portuguesa.


 

Abstract

This paper investigates morphological operations and semantic meanings concerning the morpheme -eir- in the history of Portuguese language, based on the descriptive studies of Cunha & Cintra (1998), Rocha (1998), Soledade (2005) and Via-ro (2011). For that purpose, not only the authors' proposals were reviewed, but new morpheme realizations were also extracted from informal texts on Internet, where the language sample was considered closer to the vernacular one, which supports the transparency of this research.

Keywords: Portuguese Language History, Lexical Semantics, Portuguese Language Morphology.


 

1. Considerações iniciais

Com o intuito de diferenciar os fenômenos da flexão e da derivação, um dos critérios mais mencionados pelos autores é a mudança de classe de palavras. A derivação, mas não a flexão, permite a mudança de classe. Entretanto, trabalhos como os de Basílio (1980), Rocha (1998) e Soledade (2005) mostram que, na maioria dos processos derivacionais no português, não há mudança de classe. O sufixo -eir-, que será discutido ao longo deste trabalho1, é um desses casos, pois tem como processo prototípico a formação de um substantivo agentivo (profissional ou habitual) a partir de outro substantivo.

O sufixo -eir- é morfema oriundo da forma -arius da língua latina, onde já apresentava variadas acepções, dentre elas principalmente a formação de adjetivos (usurarius, a, um) e substantivos de noção agentiva (testamentarius, ii), para além de vegetal (ficarius, ii), instrumento/objeto (tabularium, ii) e locativa (gallinarium, ii). Nos estudos da morfologia da língua portuguesa, alguns autores atentaram para a alta produtividade do sufixo -eir-, diferentemente do -ário que jamais alcançou a mesma popularidade no português.

Quanto às pesquisas já realizadas, este artigo, inicialmente, apresentará uma revisão bibliográfica dos estudos descritivos feitos por Cunha & Cintra (1998) e Rocha (1998) numa perspectiva sincrônica. Em seguida, serão apresentados os estudos desenvolvidos por Soledade (2005) e Viaro (2011) em abordagens diacrônicas, às quais se somam as descrições das gramáticas históricas de Said Ali (1964) e Nunes (1969).

No último momento, serão apresentados dados do português contemporâneo encontrados em contextos informais da Internet, como sites de entretenimento, redes sociais (Twitter, Facebook, Orkut e afins), a fim de demonstrar novos empregos (morfológicos ou semânticos) do morfema -eir-, que talvez não tenham sido registrados por nenhum dos referidos autores, atestando a sua vitalidade na língua atual.

 

2. A proposta de Cunha & Cintra (1998)

Cunha & Cintra (1998) apresentam o estudo mais simplificado sobre o morfema -eiro, se compararmos com os estudos feitos posteriormente. Os autores apenas apresentam o morfema como um dos sufixos disponíveis no processo de sufixação nominal, ou seja, morfema que se presta à formação de substantivos a partir de outro substantivo. Sem entrar em detalhes de operações morfológicas, os autores separam as acepções do morfema -eiro da seguinte maneira:2

  • Ocupação, ofício, profissão: barbeiro, copeira
  • Lugar onde se guarda algo: galinheiro, tinteiro
  • Árvore e arbusto: laranjeira, craveiro
  • Ideia de intensidade, aumento: nevoeiro, poeira
  • Objeto de uso: cinzeiro, pulseira
  • Noção coletiva: berreiro, formigueiro

Há considerações que precisam ser feitas a respeito dessa classificação. Por exemplo, a separação entre objeto de uso e lugar onde se guarda algo apresenta complicações quando constatamos que está se considerando tinteiro como lugar onde se guarda algo e cinzeiro como objeto de uso. No entanto, o tinteiro é um recipiente onde se guarda tinta, geralmente de caneta, muito usado em outros tempos. E o cinzeiro é um recipiente onde se guarda as cinzas de cigarro, charuto e afins. Dessa forma, percebemos que há uma fronteira, por vezes, bastante tênue entre uma e outra acepção, como é comum ocorrer nos casos de sufixos polissêmicos. Assim, parece mais sugestivo considerar a classificação, como «recipiente onde se guarda algo», por sua vez a noção de «recipiente» se especificaria em «local» (ex.: galinheiro) e «objeto» (ex.: cinzeiro, tinteiro).

O segundo ponto observado nessa classificação diz respeito à noção coletiva, onde se encaixa a palavra berreiro. Parece difícil a aceitação da idéia de coletivo para um substantivo abstrato como berro. A noção coletiva parece estar muito ligada à noção de contagem, mensurabilidade, conjunto. No caso de berreiro, parece estar mais ligado, na classificação dos autores, à ideia de «intensidade, aumento e duração», já que há contextos linguísticos em que uma única entidade é capaz de produzir o que Cunha & Cintra (1998) consideram como uma noção coletiva, conforme o exemplo em (01):

(01)
Filho de Dani Winits abre o maior berreiro na praia. (Portal R7)

Essa ideia de intensidade, aumento pode ser encontrada também em formações como comedeira, bebedeira e tremedeira, vistas, respectivamente, nos exemplos de (02) a (04):

(02)
Aqui no Brasil, ela se reduz a batucada, comedeira e presentinhos do Papai Noel. (Site Catolicismo Romano)

(03)
Após bebedeira, irmã de Kim Kardashian aperta seu seio. (Site Ego)

(04)
Porque morro de medo de altura, era uma tremedeira lascada! Nem conseguia firmar os pés no chão de tanto que tremia!? (Blog Unwriten by Fran)

Outro ponto da proposta de Cunha & Cintra (1998) aqui destacado é a separação feita entre galinheiro e formigueiro. Ambas as formações parecem contemplar tanto a noção de «lugar» quanto a noção «coletiva» e ainda a noção «recipiente». Vejamos o exemplo em (05):

(05)
Siga o rastro das formigas para ver por onde elas entram em sua casa e onde é o formigueiro. (Site Como fazer tudo)

No exemplo (05), formigueiro é retomado pelo pronome onde, o que nos faz considerar que ele tem um valor de locativo, portanto. Isso já faria questionar a distinção feita por Cunha & Cintra (1998) entre as formações formigueiro e galinheiro. Porém, há também em formigueiro, a ideia de aglomeração ou noção coletiva, o que talvez também possa se aplicar a galinheiro. Essas noções de locativo e de coletivo parecem acontecer simultaneamente nesses casos. Isso nos faz sugerir que o sufixo -eir- pode, em alguns casos, apresentar dupla informação, indicando um possível percurso recipiente > recipiente/local > recipiente/ local onde existe grande quantidade de algo. Veja que assim considerando, fica clara a aproximação entre galinheiro e formigueiro, mas também entre tinteiro, saleiro e cinzeiro.

Viaro (2011) observa que, no que tange ao morfema -eiro em itens como formigueiro e galinheiro, houve uma convergência semântica do -arium latino, que formava locativos com o -árion grego, que formava coletivos. Talvez por isso é que possamos constatar, nessas palavras, as duas ideias, existindo uma espécie de amalgamação de sentidos para que eles ocorram simultaneamente.

Por fim, destacamos no trabalho de Cunha & Cintra (1998) a ausência de classificações, como formação de gentílicos (brasileiro, mineiro) e ainda formação de adjetivos (ligeiro, verdadeiro). Esses destaques foram feitos por Rocha (1998) e serão discutidos na próxima seção.

 

3. O -eiro na perspectiva da morfologia derivacional proposta por Rocha (1998)

Diferente da abordagem descritiva proposta por Cunha & Cintra (1998), Rocha (1998) investiga a acepção agentiva do morfema -eiro numa perspectiva exclusivamente sincrônica em que fatos históricos da língua portuguesa (doravante LP) são desprezados, pois o autor acredita que o falante da atual sincronia não tem acesso a dados de sincronias passadas. Rocha (1998) apresenta o conceito de produtividade,3 que diz respeito à possibilidade do surgimento de novos itens lexicais, seguindo às regras de formação de palavras (RFP) do português. Diante da quantidade de novas ocorrências com -eiro em LP, o autor conclui que a RFP [[X]S] -eiro]S4 é altamente produtiva. O trabalho de Rocha (1998) trata apenas das operações morfológicas (e não léxico-semânticas) do -eiro agentivo. Para isso, o autor desconsidera outras acepções do morfema que podem ser vistas a seguir:5

  • Árvore ou arbusto: abacateiro, limoeiro, pessegueiro, mamoeiro, caquizeiro e tomateiro.
  • Coletivo, conjunto: berreiro, barreiro, aguaceiro, faqueiro, letreiro, nevoeiro, braseiro.
  • Gentílico: mineiro, campineiro, pantaneiro e brasileiro.
  • Objeto: pandeiro, chuveiro, isqueiro, chaveiro e ponteiro.
  • Lugar ou recipiente: banheiro, celeiro, mosteiro, outeiro, poleiro, terreiro, formigueiro, vespeiro, pardieiro, picadeiro, atoleiro, tinteiro, agulheiro, candeeiro, fogareiro, galinheiro, paliteiro, petroleiro, saleiro, açucareiro, manteigueira, cafeteira, compoteira, maioneseira, frigideira, farinheira, traseira.
  • Formador de adjetivos: matreiro, verdadeiro, brejeiro, caseiro, ligeiro, careiro, costeiro, faceiro, fagueiro, fronteiro, grosseiro, inteiro, ordeiro, primeiro, hospitaleiro.

O autor apresenta os seguintes exemplos para a acepção agentiva:

  • Agentivos: livreiro, pasteleiro, capoteiro, padeiro, relojoeiro, carvoeiro, salsicheiro, carpinteiro, marceneiro, serralheiro, oleiro, bermudeiro, chineleiro, peruqueiro, marmoreiro, queijeiro.

Encontrada a RFP referente ao morfema -eiro, Rocha (1998) faz uma série de testes para determinar a quais tipos de bases substantivas o morfema -eiro agentivo consegue se conectar. A ideia de tipologia das bases substantivas se dá pelas subcategorias da classe:

Essas subcategorias podem ser de qualquer natureza: fonética, morfológica, sintática, semântica, etc. São exemplos de subcategoria do substantivo: próprio, comum, concreto, abstrato, simples, composto, primitivo, derivado (com tais e tais sufixos ou com tais e tais prefixos), coletivo, estático ou dinâmico, que designa ação, estado ou movimento, agente, paciente, objeto, animal, cor, partido político, parte de um todo, parte do corpo, etc. Também deve ser considerado se o substantivo é próprio da linguagem coloquial, técnica, cientifica, jornalística, etc. (Rocha, 1998: 129)

A partir disso, o autor depreende que nem todos os tipos de substantivos conseguem se somar ao -eiro agentivo e formar com ele uma palavra possível na LP. Dentro desses critérios, o autor mostra a que tipos de substantivo o morfema não se conecta:

  • A RFP não se aplica a bases abstratas, como falcatrua, mentira,6 golpe, apelo, convenção, entre outros. Entretanto, o autor destaca algumas poucas formações que não obedecem a essa constatação. Casos de cambalacho/ cambalacheiro, manota/manoteiro, boato/boateiro e biscate/biscateiro.
  • A RFP não se aplica a bases que designam agentes/indivíduos. O autor entende que não faz sentido anexar um sufixo agentivo a um base que já designa agente.
  • O morfema -eiro não se conecta a uma base composta.

A respeito desses critérios, consideramos os pontos a seguir:

  • Rocha (1998) ressalva que o -eiro, por vezes, pode se somar a substantivos abstratos, mas que isso não é tão produtivo. Entretanto, não são raras formações, como fofoca/fofoqueiro, barraco/barraqueiro, bagunça/bagunceiro, baderna/baderneiro, mexerico/mexeriqueiro, entre outras.
  • O segundo critério não contempla formações, como Ivete Sangalo/iveteiro, Chiclete com Banana/chicleteiro, Aviões do Forró/ aviãozeiro, Marina Silva/ marineiro, entre outras formações que têm surgido na língua atual. A consideração feita pelo autor talvez se justifique pelo fato de, na época, ainda não existirem formações como essas.
  • O último critério poderia ser questionado por formações, como São João/ são-joaneira e roupa velha / roupa-velheiro. Esses exemplos foram apresentados por Viaro (2009), que diferencia essas formações de outras como atum-verdadeiro, pois, nesse caso, o item verdadeiro, já entrou assim na composição, como também ocorre em dente queiro e santo casamenteiro. A ocorrência desse tipo de operação é realmente pouco produtiva, se comparada à facilidade de encontrar itens a partir dos critérios anteriores.

Sobre essas exceções, Rocha (1998: 130) esclarece que «gramática não é matemática» e devemos considerar, numa regra, a tendência, não a exceção. O que por si, já aponta para a ineficácia da aplicação do termo regra, como bem questiona Basílio em seu artigo de 2010.

Em linhas gerais, podemos depreender da proposta de Rocha (1998) que o morfema -eiro, agentivo ou não, tem sempre o seu significado definido pela relação que estabelece com a base. Apesar disso, há algumas classificações que parecem não estar em sintonia com os exemplos. Reiteramos, por exemplo, o caso de berreiro como uma noção coletiva.

Outros exemplos da proposta do autor que parecem não satisfazer a sua própria classificação é cafeteira como recipiente e não como objeto. Ou ainda como objeto de uso, nos conformes de Cunha & Cintra (1998), considerando que se trata de um objeto mais funcional/produtor do que armazenador.7 Por sua vez, podemos entender que os termos aguaceiro, nevoeiro e berreiro estariam mais bem categorizados se o autor considerasse uma classificação com ideia de «intensidade, acúmulo e aumento», como feito por Cunha & Cintra (1998).

Ainda que mencione a formação cobreiro com acepção de doença, Rocha (1998) não classifica como uma categoria de significação. Entretanto, há formações como unheiro, olheira, bicheira, entre outras que, mais a frente, serão categorizadas neste trabalho.

 

4. O tratamento nas gramáticas históricas

As gramáticas históricas são caracterizadas por descrever uma língua em seu caráter evolutivo, podendo tratar de apenas um aspecto, como a sintaxe ou a fonologia. Destacamos aqui as gramáticas de Said Ali (1964) e de Nunes (1969), que, por se dedicarem, em parte, ao estudo da morfologia, discorreram sobre a evolução de morfemas derivacionais, como o -eiro.

Said Ali (1964) também aponta o -eiro como uma evolução do sufixo -ariu do latim clássico, que teria se processado através da seguinte evolução fônica: -ariu > -airu > -eiro. O autor sinaliza a não existência de palavras formadas com o sufixo -airo, mas ressalva que, no português antigo, há registros dessa etapa evolutiva em palavras como sudairo, contrairo, fadairo, vigairo, boticairo, entre outras. Posteriormente, sob a influência erudita, essas palavras em -airo voltaram a assumir a forma primitiva em -ário, sendo esse sufixo capaz de novamente apresentar alguma produtividade; são exemplos: monetário, mostruário, aviário, funcionário, horário, fracionário.

No português arcaico, sufixo -eiro começa a ser muito produtivo na formação de nomes que caracterizam homens e mulheres pelos seus ofícios: pedreiro, barbeiro, peixeiro, lavadeira, parteira, relojoeiro, entre outros. Há modificação dos sentidos que esses nomes teriam inicialmente. Por exemplo, pedreiro não é um homem que trabalha com pedras, mas um profissional que executa serviços de construção de muros e paredes de pedra ou ainda, um caixeiro não é um homem que se ocupa de caixas, mas aquele que vende produtos fora do seu local de fabricação, o chamado caixeiro-viajante. Dessa forma, há uma alteração na paráfrase que antes era feita diretamente como em barbeiro («homem que trabalha fazendo barba»).

Said Ali, embora não estabeleça uma relação entre o uso primitivo do -áriu como formador de adjetivos e o -eiro, esclarece que muitos nomes como esse sufixo são qualificadores (foreiro, verdadeiro, campeiro, dianteiro), bem como ocorre com o -ário (originário, ordinário, diário, precário).

O autor ainda apresenta a possibilidade de serem encontrados vários nomes de plantas e arbustos com o sufixo -eiro ou -eira, cuja aplicação dependeria do gênero do nome primitivo. Por exemplo, de uma palavra feminina como manga deriva-se mangueira, assim como de uma palavra masculina como juá, deriva-se juazeiro. Exceção seria figueira, feminino derivado do masculino figo, porém, em latim ficus, i («figo», «figueira»), era um substantivo feminino, o que valida a tese de que o gênero do produto relaciona-se intrinsecamente com o gênero da base, nas formações em -eiro.

O autor destaca o surgimento de vocábulos, como charuteira e paliteiro (recipientes), galinheiro e coelheira (lugar onde se guardam animais) e pulseira e mosqueteiro (objetos de uso).

De uma forma geral, os dados levantados por Said Ali (1964), quando ainda nem se pensava em português brasileiro (PB), já contemplam quase todas as classificações estabelecidas por Rocha (1998) para o PB. Essa classificação morfossemântica não aparece na descrição estabelecida por Nunes (1969).

Nunes (1969), dentro do capítulo sobre formação de palavras, coloca o morfema -eiro junto ao -deiro, esclarecendo que ambos são oriundos do -ariu latino, e podem operar tanto com temas nominais quanto verbais, podendo designar profissões, instrumentos, lugar, aglomeração e árvores ou arbustos.

A separação entre -eiro e -deiro por Nunes (1969) parece ser uma forma de lidar com a possibilidade de um mesmo morfema -eiro operar com categorias diferentes. Esse d no morfema -deiro parece estar relacionado ao particípio verbal, como em gelado do verbo gelar, uma vez que na formação se preserva também a vogal temática original da base verbal.8 Nessa perspectiva, o morfema -deiro se juntaria ao verbo gelar e formaria geladeira, por exemplo, não ocorrendo a soma do morfema -eiro ao particípio gelado.

Ressaltamos, no entanto, que à época da publicação de Nunes (1969), a perspectiva de análise era somente descritiva, não se importando em explicar as operações morfológicas concernentes a cada morfema derivacional. Porém, ainda existem autores de morfologia do português que, ainda, atualmente consideram a existência do sufixo -deiro(a), sendo esse aspecto motivo de controvérsias e debates.

 

5. O -eiro no português arcaico

Em sua investigação sobre a derivação sufixal no português arcaico, Soledade (2005) encontrou dados com os morfemas -ário e -eiro, sufixos divergentes originários do -arius latino. A autora sinaliza que o morfema -eir- adquiriu, já nesse período, uma autonomia e produtividade que o -ário, descendente direto da forma original latina, não conseguiu. Foram encontradas as seguintes acepções para o morfema -eir-:9

  • Agente: armeiro, barbeiro, caleiro, çapateiro,10 archeiros, arteiro, beesteiros, camareiro, carpinteiros.
  • Adjetivo: certeiro, duradeiro, faagueyro, falseyro, mentireiro, derradeiro, ligeiro, praceiro.
  • Locativo: pesqueyra, cabeceira, carreira, catiueyro, celeiro, rribeira, galinheiros, terreiros.
  • Instrumentos: aguardeira, bandeira, caldeira, candeeiro, fogueira, topeteira, traseira.
  • Árvore ou arbusto: figueira, maceeyra, oliveiras.

Organizamos os dados acima de uma maneira diferente da apresentada por Soledade (2005). Colocamos em ordem de produtividade no corpus analisado pela autora. Isso nos permite tanto visualizar a descrição feita por Said Ali (1964) -sobre a intensa ocorrência do -eir- agentivo para o português da época- quanto aproximar os dados do português arcaico com os do português mais contemporâneo, visto em Rocha (1998), de forma a concluir que o -eir- agentivo parece ter sido o mais produtivo na história da língua.

Soledade (2005) conclui que o -eir- é o mais português de todos os sufixos. Isso se revela na diferença percentual entre as formas -eiro/-eira derivadas do latim e as derivadas do português. De 200 palavras em -eir- encontradas pela autora, apenas 27 são formas dissidentes ou derivadas do latim, perfazendo 13% das derivações com esse morfema.

 

6. A constituição histórica do morfema -eiro agentivo

Viaro (2011) investiga a trajetória do morfema -eiro desde o seu surgimento ainda no latim (-ariu), quando, segundo o autor, era essencialmente um formador de adjetivos. Porém, o fato de adjetivos e substantivos compartilharem algumas propriedades morfológicas, e até mesmo sintáticas, colaborou para que outras paráfrases fossem admitidas a partir do morfema -eiro ou -arius, em se tratando da língua latina. Consequentemente, outros sentidos começaram a ser depreendidos do morfema.

Pela proximidade morfossintática entre substantivo e adjetivo, a primeira nova paráfrase para o morfema -eiro foi, segundo Viaro (2011), a designação de agente. Em casos como esses, Basílio (2011) postula que o substantivo tem a função de designar os seres, ao passo que os adjetivos servem para qualificá-los. No entanto, destaca a autora que uma das formas mais comuns de designar um ser é qualificando-o. Prova disso é que alguns nomes agentivos profissionais ou qualificadores foram incorporados ao sistema antroponímico como sobrenomes no período arcaico (p. ex.: ferreiro (>Ferreira)). Outro argumento em favor dessa tese é apresentado por Viaro (2011) quando indica que certos nomes (como estrangeiro) possuem a possibilidade de serem empregados tanto como um substantivo quanto como um adjetivo, o que pode ser observado no contraste das sentenças em (06) e (07):

(06)
Foram presos os acusados de estuprar estrangeira. (Wordpress Jornalismo Contemporâneo)

(07)
As empresas estrangeiras registram o capital que investem no país. (Site Revista Exame)

Na sentença em (06), mas não em (07), o termo estrangeira é o núcleo do sintagma nominal que exerce a função de objeto do verbo, e um adjetivo nunca é núcleo de um sintagma nominal. O termo estrangeira, em (06), designa a mulher que não pertence a uma determinada nacionalidade, já em (07), o termo estrangeiras não funciona como núcleo do sintagma, apenas aparecendo adjungido ao núcleo empresas, exercendo uma atribuição qualificadora, por assim dizer.

Ainda em (06), observamos que o termo estrangeira pode remontar a um núcleo omitido mulher.11 Nesse exemplo, ainda somos capazes de fazer esse tipo de redirecionamento, mas em outros casos, essa possibilidade se perde. Como bem observa Viaro (2011) a palavra cozinheiro, cujo emprego original era adjetivo «relativo à cozinha», pressupunha um servo cozinheiro. No entanto, ao longo do tempo, o termo servo se perde e cozinheiro, por si só, passa a ser o nome designador para a «pessoa que trabalha na cozinha». Dessa proximidade morfossintática é que, segundo esse autor, se justifica o fato de o sufixo formador de adjetivos logo ter se direcionado para a formação de substantivos.

Seguindo essa linha sobre a construção da agentividade, Viaro (2011) discute a possibilidade de o morfema -eiro agentivo ter dado origem ao -eiro/-eira atributivo à árvores e arbustos. Autores como Basílio (2011) mencionam a possibilidade de ocorrência do -eiro na formação de «agentes» vegetais. O uso das aspas em agentes, encontrado no livro da referida autora, nos permite pensar a respeito da terminologia agente para esse caso.

Viaro (2011) paraleliza essa discussão, mostrando a possibilidade de, por exemplo, o abacateiro ser uma árvore que produz abacate, da mesma forma que uma doceira é uma mulher que faz doce. Dentro dessas paráfrases, a aproximação semântica de verbos centrais como produzir e fazer nos permitiria considerar que temos agentes nos dois casos. O autor prefere, no entanto, assumir a ideia de que o agente deve ser um ser vivo animado, ou seja, um animal e, prototipicamente, um ser humano, pois esse contempla a ideia de que o agente é aquele que faz uma ação de maneira deliberada. Dessa forma, uma árvore, para Viaro, não contemplaria a classificação, pois não é um animal, ou ser vivo que pode executar deliberadamente uma ação.

Cumpre destacar que essa opção do autor contraria o entendimento de que as diversas acepções de -eir- são muito mais interligadas do que possa parecer.

A noção de agente, no sentido ampliado: «aquele ou aquilo que produz/faz/ realiza algo» unifica várias especificações do sufixo como agente profissional (pedreiro), agente habitual (fofoqueiro), agente natural/vegetal (figueira) e objeto agente (batedeira). Essa aproximação permite entender que o sufixo -eir- apresenta uma rede interligada de significação, que fornece evidências para diferentes níveis de generalização e graus de abstração, constituindo a sua polissemia.

6.1. A alteração das paráfrases no morfema -eir-

As paráfrases, como as já apresentadas na seção anterior, são recursos para detalhar os sentidos dos morfemas dos vocábulos, a partir de uma composição semântica entre base e afixos. Vejamos os exemplos de (08) a (11):

(08)
Doceira - Aquela que faz doce.

(09)
Cozinheiro - Aquele que trabalha na cozinha

(10)
Sapateiro - Aquele que conserta sapatos

(11)
Mensageiro - Aquele que entrega mensagens

No exemplo em (08), temos o valor prototípico de significação do -eiro agentivo profissional. A paráfrase é direta, pois o sufixo logo se estabelece com a base: «a pessoa que faz» (informação do sufixo) e «doce» (informação da base). A partir de (09), percebemos uma alteração na paráfrase, a partir do momento em que o verbo fazer já não se integra. A ideia passa a ser de ocupação com a entrada do verbo trabalhar. Em (10) e (11), observamos que já não lidamos com verbos genéricos de função, ocupação ou atividade, como fazer, trabalhar e produzir. Mas, para Viaro (2011), nesses exemplos há um elemento omitido na paráfrase, que também poderia estar oculto no exemplo em (08). Vejamos como remontamos essas paráfrases, à luz das ideias do autor:

(12)
Doceira - Aquela que trabalha fazendo doces

(13)
Sapateiro - Aquele que trabalha consertando sapatos.

(14)
Mensageiro - Aquele que trabalha entregando mensagens.

Nos exemplos de (12) a (14), destacamos o verbo trabalha, que, segundo Viaro (2011), estaria omitido nas paráfrases do -eir- agentivo. Ainda para o autor, essa omissão apareceria em casos como roqueiro, que pode ser a pessoa que trabalha tocando rock. Entretanto, talvez pelo potencial polissêmico de toda palavra, a leitura que fazemos do -eiro em roqueiro parece mais satisfatória no exemplo em (15):

(15)
Igrejas para roqueiros atraem fieis com liberdade, música pesada e mensagens do Evangelho. (Portal de Notícias Gospel Mais)

Em (15), observamos que o termo roqueiros não diz respeito a uma ocupação propriamente dita, mas a um gosto ou estilo pessoal, da mesma forma que pagodeiros, funkeiros e sambistas.

6.2. Aspecto avaliativo do morfema -eir-

Viaro (2011) observa a alteração de sentido não só na construção das paráfrases, mas também na possibilidade de o morfema -eiro estar atrelado ao juízo de valor. Termos como noveleiro, segundo o autor, teriam um traço pejorativo, pois enfatizam uma má produção ou comportamento ridículo do agente.

O autor observa que essas construções sempre existiram na língua:

mexeriqueiro (XV), noveleiro, aventureiro (XVI), trapaceiro, lambisqueiro, embusteiro (XVII), galhofeiro, bisbilhoteiro, caloteiro, festeiro (XVIII), cachaceiro, pagodeiro, beijoqueiro, arruaceiro, politiqueiro, ordeiro, novidadeiro, taberneiro (XIX), bagunceiro, cambalacheiro, biscateiro, barraqueiro, batuqueiro, loroteiro, fofoqueiro, encrenqueiro, maconheiro, metaleiro (XX). Acresçam-se a essas palavras também forrozeiro, punheteiro, mochileiro, baderneiro, mutreteiro, trambiqueiro, fuxiqueiro, truqueiro (Viaro, 2011).

Essas informações históricas nos permitem refutar o que disse Rocha (1998) sobre o fato de o morfema -eiro não se somar a bases abstratas. Os exemplos acima permitem constatar que essa hipótese é invalidada tanto na perspectiva sincrônica quanto diacrônica. Quanto ao elemento valorativo nessas construções, Viaro (2011) acredita que ele está ligado à intolerância à repetição, sobretudo pelos atos designados por essas bases. Essa ideia de ato que se repete é observada em outras construções que apresentam ato iterativo e normalmente ocorre com bases participiais, tais quais as construções de (02) comedeira a (04) tremedeira. Outro fato que corrobora a compreensão de um aspecto avaliativo (pejorativo ou apreciativo) no morfema -eir pode ser encontrado quando relacionado ao valor genitivo (posse) que pode lhe ser atribuído. Por exemplo, observemos os pares fazendeiro e interesseiro. Em ambos, observamos que a ideia é de uma pessoa que tem alguma coisa. No primeiro caso, fazenda e, no segundo, interesse. Mas, no segundo, chamamos a atenção para o valor de «hipérbole» e «frequência» que o primeiro não tem, o que subtrai deste o valor «pejorativo». Nesse caso, fazendeiro seria uma pessoa que tem fazendas e interesseiro, aquele que tem muito interesse -ou um interesse socialmente condenável- nas coisas.

Soledade (2013: 26), acerca do caráter pejorativo do sufixo -eir-, indica que não se pode afirmar que este já estivesse presente no português arcaico:

As instanciações que apresentam uma noção depreciativa devem esse aspecto à semântica da base e não do sufixo: (p.ex.: aguireiro, fasleiro, mentireiro, usureiro). Em bases neutras, (como braceiro «viríl, forte»; praceiro «sociável») observa-se inclusive o valor apreciativo, também, obviamente comum em bases com essa natureza (certeiro, justiceiro, sabedeiro, verdadeiro, vertudeiro). No que se refere aos empregos substantivos referentes a agentes profissionais, vale ressaltar que no PA não há registro de formações em -ista (sufixo que será introduzido posteriormente no português). Assim, -dor e -eir- concorriam para produzir instanciações dessa natureza, sendo os primeiros empregados para formações cuja base é um verbo e o segundo para formações cuja base é um substantivo, os usos desses dois sufixos no PA não parece lincenciar nenhuma tipo de inferência quanto a um suposto valor pejorativo de -eir-, haja vista que profissões de relativo prestígio eram designadas por instanciações com esse sufixo (p. ex.: albergueyro; cavaleiro; despenseiro; mercadeiro; pessoeiro; pousadeiro)12.

Assim, uma hipótese para o crescente caráter avaliativo/pejorativo/lúdico do sufixo -eir- pode estar na relação de concorrência deste com o sufixo -ista (em formações agentivas), que só veio a se acirrar após o período arcaico da língua portuguesa.

Em face desses exemplos, herdamos muitas palavras em -eir- desprovidas de pejoratividade, o que possibilita que falantes atuais possuam modelos do sufixo sendo empregados tanto com valor apreciativo quanto com valor depreciativo, e não há como, com os dados de que dispomos, afirmar que há prevalecimento de um sobre o outro.

À luz da proximidade entre adjetivo e substantivo e das noções de valoração, atestada na seção imediatamente anterior e nesta, discutamos os seguintes exemplos:

(16)
Iveteiros vão ao delírio com trio da musa. (Site Terra)

(17)
Os marxistas devem reivindicar a saída de Feliciano da CDHM (...). (Site Mídia Independente)

(18)
O problema desses «anãos» (Se você não entendeu a relação, por favor, aumente o volume do seu CD do Restart) é que eles, assim como os clariceiros só tão nessa onda para serem cool, mas que eles realmente só tão fazendo papel de idiota. (Site Class Jokers)

(19)
A linguagem teatral na obra clariceana. (Título de artigo do Prof. Dr. André Luis Gomes da UnB)

(20)
E tenho uma preguiça galcosteira de pensar nesses trâmites. (Site Bahia Notícias)

(21)
Acho que essa história, ainda que guarde um certo ar folclórico da decantada preguiça caymmiana, revela com precisão, não a preguiça perniciosa, pecaminosa, mas o contrário disso, o requinte da incorporação à vida cotidiana (...). (Ata da Assembleia Legislativa da Bahia)

Nos dados em (16) e (17), observamos um paralelo entre as formações em -eiro e -ista, concorrentes para a formação de agentivos a partir de substantivos. Ambos os casos apresentam a ideia de seguidor ou adepto de alguma filosofia, pensador, artista. Entretanto, notemos que há um tom mais lúdico na formação iveteiros em (16), em contraponto a uma ideia mais engajada da formação marxistas em (17), que, por sua vez, tem relação direta com a natureza semântica das bases que um e outro sufixo selecionam.13

Uma formação em -eiro parece sofrer restrições discursivas (cf. Rocha, 1998) em contextos onde se espera menos ludismo, o que é expressado pela informação da base.

Essa ideia pode ser constatada também no paralelo entre clariceiro em (18) e clariceana em (19). O primeiro é um substantivo que designa aqueles que gostam de Clarice Lispector, ao passo que o segundo é um adjetivo que denota uma referência para o termo obra, núcleo do sintagma nominal. Notemos que uma formação como clariceana parece acontecer com mais facilidade no discurso acadêmico, da mesma maneira que formações em -eir- tendem a não ser realizadas. Prova disso são exemplos como saussuriana, chomskyano, estruturalista e gerativista, não se consagrando formas aparentemente pejorativas, como *estruturaleiro ou *chomskeiro.

Entendemos que há uma valoração nos termos em -eir-, principalmente se comparados a outros morfemas concorrentes. Outro exemplo disso é a competição das formas candomblecista e candomblezeiro. Não citamos aqui o caso de taxista ou taxeiro, pois a depender do contexto regional, elas podem ser neutras, mas em se tratando de candomblé, uma religião, um dogma, o morfema -eir- atribuir o tal valor pejorativo. Porém, destacamos também que, muitas vezes, quando não há concorrência de sufixos, o valor pejorativo já está expresso na própria base, como fuxiqueiro, que não tem uma forma concorrente *fuxiquista.

Por fim, apenas em caráter de reforço, criamos um paralelo entre duas formações de adjetivos que se referem ao mesmo nome preguiça em (20) e (21). Em (20), a formação galcosteira nos parece ter um caráter mais pejorativo que a formação caymmiana em (21).

 

5. Considerações parciais sobre revisão bibliográfica

De maneira geral, observamos até aqui que o morfema -eir- aparece, prototipicamente, em construções de seres agentivos, mais especificamente, agentivos profissionais e habituais. Tanto a diacronia quanto a sincronia revelam essa tendência. A perspectiva sincrônica nos permite visualizar que o morfema -eir- tem um alto índice de aplicabilidade morfológica e possibilidade semântica. Já a perspectiva diacrônica permite perceber que essa gama de significações já existia em outros períodos da LP, não sendo uma característica particular do português contemporâneo.

Feita toda a revisão bibliográfica, a partir da próxima seção, apresentaremos alguns dados do nosso corpus constituído e o nosso quadro de análises.

 

6. Metodologia de pesquisa

Levantamos para este trabalho 260 palavras com o morfema -eir-. Procuramos nos certificar da existência delas, usando não só dicionários, como o Ferreira (2008) e o Houaiss e Villar (2009), mas também consultando a realização dessas construções na Internet, o que inclui redes sociais (Twitter, Facebook e afins) e resultados de sites de busca, como o Google. Além disso, recolhemos alguns exemplos dos textos-base e informações junto a outros falantes, pois o levantamento das palavras se baseou, majoritariamente, na nossa experiência, intuição e conhecimento enciclopédico enquanto falantes de LP.

Entre as palavras a serem analisadas, destacamos aqui os exemplos de (22) a (33):

(22)
Quanto ao chulé, sigam o meu conselho (para quem, obviamente, for allstarzeiro como eu): apliquem o velho e eficaz leite de rosas no pé. (Wordpress Jacidio)

(23)
Eu sou brahmeiro. (Jingle da cerveja Brahma)

(24)
Porcos dão canseira e tiram Ivo Meirelles do sério. (Portal R7)

(25)
Quem dá moral a foveiro é creme de pele, meu filho. (Twitter)

(26)
Mensaleiro é transferido para unidade semi-intensiva em São Paulo. (Site Correio da Bahia)

(27)
Criança perguntadeira atrapalha? (Blog do Espaço Dom Quixote)

(28)
Tive que rir hoje da podreira do Santos. (Twitter)

(29)
Tenho mesmo de entrar no mundo smartphoneiro. (Fairy Style Wordpress)

(30)
Novela mexicana é uma tosqueira. (Twitter)

(31)
Que trabalheira pra colocar uma película. (Twitter)

(32)
Odeio a maneira como os tumbleiros sem noção acrescentam frases em imagens e gifs de filmes e séries com palavras nada a ver. (Twitter)

(33)
Há muito tempo não escrevo uma redação técnica (redação de vestibuleiro). (Blog Espaço Foco)

Na impossibilidade de listarmos aqui todos os novos dados encontrados, selecionamos esses que apresentam registros inéditos, por assim dizer, do morfema -eir-, operando com bases variadas, como substantivos próprios, vistos nos exemplos em (22) e (23), com bases verbais, como em (27) ou ainda, com bases adjetivais como em (28) e (30).

Além disso, destacamos também novos significados que não apareceram até agora em nenhum dos trabalhos abordados, como o de sensação ou anomalia, respectivamente em (24) e (25), ou ainda usuário (23) e (29) e frequentador habitual (32) e (33).

 

7. Quadros de análises

O nosso quadro de análises se dividirá em duas partes. A primeira diz respeito às informações estruturais, a respeito da morfologia, salientando as RFPs concernentes ao morfema -eir- atualmente. A segunda parte será de cunho semântico, detalhando as acepções encontradas e quantificando-as.

7.1. A análise morfológica

Os estudos sobre as RFPs (cf. BASÍLIO, 1980; ROCHA, 1998) apontam que o morfema -eir- opera sobre bases substantivas e, dessa operação, surgem outros substantivos. Nos nossos dados, encontramos a operação do morfema -eir- em outras categorias de base.

A Tabela 1 mostra que realmente há maior produtividade de -eir- sobre bases substantivas, como em pedra/pedreiro, Ivete/Iveteiro e fofoca/fofoqueiro. Não fizemos, nessa tabela, distinção entre os tipos de substantivos. Esperávamos que a segunda base mais operante fosse a adjetiva, em função da proximidade constatada em vários estudos, mas, diferente disso, encontramos formações a partir de verbos em segundo lugar. São casos como cansar/canseira ou batido/ batedeira. Aqui também não fizemos diferença entre as formas nominais do verbo. Na categoria Outros, encaixamos elementos de origem desconhecida, como carpinteiro (carpinto?), advérbio (trás/traseiro), entre outras bases menos produtivas.

Na Tabela 2, a seguir, observamos os tipos de substantivos em que o -eir- opera:

Na Tabela 2, consideramos única a categoria concreto/comum, apenas para poder tratar do argumento de Rocha (1998) de que o -eir- não opera sobre bases abstratas ou substantivos abstratos. A categoria próprio contempla as formações de gentílicos (Brasil/brasileiro), usuários de marcas, empresas ou programas de televisão (Brahma/brahmeiro), fãs e seguidores de artistas e bandas (Aviões do Forró/aviãozeiro). Na categoria abstrato, encontramos formações como mexerico/ mexeriqueiro, truque/truqueiro, entre outras.

Dada a ocorrência de operações do morfema -eir- em bases verbais. Estimamos na Tabela 3 qual forma nominal é mais saliente para a derivação. Em tempo, observamos que as operações com verbos partem sempre de formas nominais, aquelas que podem se aproximar de substantivos, num momento sintático em que, por exemplo, ocupa a posição de um sujeito, categoria sintática quase exclusiva dos substantivos. Exemplo seria «Fumar faz mal à saúde» e «O cigarro faz mal à saúde». Essa atestada relação paradigmática entre substantivos e formas nominais do verbo talvez seja a razão de ser possível a operação do morfema -eir- a verbos.

As formações oriundas de particípio são mais produtivas para a ideia de iteratividade, como sugere Viaro (2011) para bebedeira («bebido») ou ainda para objetos que servem para realizar certas ações como frigideira («frigido») ou que praticam certas ações como geladeira («gelado»). As formações a partir de infinitivos aparecem em zoeira/zoar, canseira/cansar e corriqueiro/corricar. A única formação por gerúndio é curandeiro, que sugerimos ter vindo de curando.

Dessas operações, podemos concluir que há, pelo menos, 3 RFPs concernentes ao morfema -eir- para a formação de substantivos. Se considerarmos a possibilidade de formação de adjetivos também, seriam 6 RFPs. São elas:

[X]S → [ [ X ] S Y] Sbanho/banheiro, cinzas/cinzeiro
[X]V → [ [ X ] V Y] Sarrumado/arrumadeira, cansar/canseira
[X]A → [ [ X ] A Y] Stonto/tonteira , podre/podreira
[X]S → [ [ X ] S Y] Ainteresse/interesseiro
[X]V → [ [ X ] V Y] Acorricar/corriqueiro, indagar/indagueira
[X]A → [ [ X ] AY] Acerto/certeiro, grosso/grosseiro.

7.2. A análise semântica

Quanto a sua significação, delimitamos dez possibilidades para o morfema -eiro. São elas:

  • Agentivo: Aquele que deliberadamente faz uma ação, isso aporta paráfrases a partir de verbos como fazer, trabalhar, produzir, lidar, entre outros. Além desses, consideramos também paráfrases com verbos gostar, usar e ser adepto de, frequentador habitual de. Exemplos dessa classe são sapateiro, doceira, macumbeiro, roqueiro, forrozeiro, Iveteiro, Mahaleiro, livreiro e maconheiro.
  • Locativo: Lugar ou recipiente onde se pode guardar algo. É importante ressaltar que nem sempre se pode considerar o lugar como recipiente onde se guarda/reserva alguma coisa. Existem casos em que a locatividade está relacionada a ideia de «lugar onde se pratica uma ação», como em banheiro, ou ainda «lugar que é relacionado a uma característica» da base, como cabeceira, ladeira.
  • Objeto de uso: Classe destinada a objetos funcionais que podem mimetizar a ação humana, como frigideira, batedeira ou que servem para alguma função, como pulseira.14
  • Doença ou anomalia: Nomes populares de doença ou carcaterística de saúde anormal, como olheira, cobreiro, unheiro.
  • Ato iterativo, excessivo ou duradouro: Classe abstrata que engloba atos continuados que se repetem excessivamente, como berreiro, converseiro, comedeira, bebedeira e estados e sensações duradouros, como canseira, pasmaceira, entre outros. Podemos dizer que essa classe diz respeito a uma noção mais atitudinal.
  • Fenômeno da natureza: Seguindo proposta de Botelho et al (2009), consideramos uma classe de fenômenos da natureza, que não aparece em nenhum outro autor aqui mencionado, tal como aguaceiro, nevoeiro, fumaceiro.
  • Coletivo e acúmulo: Ideia de reunião ou excesso, como em cancioneiro e trabalheira.
  • Árvore ou arbusto: Designação de plantas, como abacateiro, roseira, entre outros.
  • Adjetivo: Formador de adjetivos, como grosseiro, ligeiro, interesseiro.
  • Gentílico: Formador de substantivos (ou adjetivos) que denotam origem ou vínculo institucional, como brasileiro, campineiro, mineiro, jacarezeiro, Ufbeiro, Unebeiro.

A partir dessas possibilidades de significação, calculamos, na Tabela 4, quais as mais recorrentes no nosso corpus:

Seria difícil comparar os nossos dados com trabalhos anteriores, pelo simples fato de haver classificações aqui que ou não aparecem em outros estudos ou são colocadas de outras maneiras. Mas, de qualquer forma, podemos observar que há uma maior proeminência de agente para designar ocupações, seguido de adjetivos, dada a proximidade morfossintática entre substantivo e adjetivo e por fim, o locativo, que estudos diacrônicos, como os de Soledade (2005) e Viaro (2009, 2011) apontam que já são produtivos em outras fases da LP. As demais acepções parecem ser mais secundárias em termos de ocorrência e podem variar a depender da amostra de língua selecionada.

 

8. Considerações finais

Essa pesquisa nos permitiu constatar que o morfema -eir- é muito produtivo no português contemporâneo. Tal evidência pode estar relacionada ao fato preconizado por Soledade (2005) de que esse seria o mais português dos sufixos oriundos do latim. No português arcaico, já observamos uma produtividade maior do -eir- agentivo, de forma que, consecutivamente, essa parece ser a acepção mais recorrente dele nas fases seguintes da LP.

No português contemporâneo observamos não só um incremento das possibilidades de significação, mas também de maior variedade de bases às quais o morfema se afixa. O que podemos sugerir acerca disso é que um sufixo muito produtivo parece estender com maior fluidez a sua capacidade de se associar a variadas categorias de base. Isso é observado com outros sufixos produtivos da língua, como observou Soledade (2013) com o -ismo, que se aplica a bases substantivas comuns (fetichismo) e próprias (marxismo), verbos (batismo), adjetivos (favoritismo), siglas (petismo), entre outras.

Sobre as acepções, o mesmo caráter fluido que se observa no âmbito morfológico se revela no âmbito semântico. Um sufixo produtivo parece conseguir estender a sua teia polissêmica com maior facilidade. O sufixo -dor, de maneira mais discreta que o -eir-, conseguiu, por exemplo, estender a noção prototípica de agentivo (apresentador, comendador) para a designação de objetos que realizam ações (escorredor, liquidificador) e locativos (trocador, corredor).

Há ainda de se observar que os sufixos produtivos parecem amalgamar sentidos com maior facilidade. Com o -eir- constatamos essa tendência em lexias que unem as noções de objeto e recipiente (cinzeiro), objeto e coletivo (chaveiro), coletivo e locativo (formigueiro), entre outras. Viaro (2009) observou que formas como formigueiro e galinheiro unem essas duas acepções por confluência dos sufixos -arius latino (formador de locativo) e -árion grego (formador de coletivo), mas tendo em vista outras amálgamas, podemos considerar que o próprio potencial polissêmico do sufixo lhe dê essa dupla acepção, por assim dizer.

Ao final, concluímos, assim como os autores revisados, que o sufixo -eir-, no português sincrônico, tem apresentado inquestionável prolificidade, sendo utilizado para designar, para qualificar ou localizar. Dada a quantidade ocorrência de formações particulares do português do Brasil (iveteiro, clariceiro, allstarzeiro, viadeiro, etc), podemos propor que, dentro da história da LP, se esse é o mais português dos sufixos latinos, como observou Soledade (2005), hoje, ele talvez esteja se encaminhando para se tornar o mais brasileiro dos sufixos derivacionais.

 

_____________________________
Notes
* Esta pesquisa se insere no projeto Para a elaboração de um dicionário de Sufixos da Língua Portuguesa, coordenado pela Profa Dra Juliana Soledade Barbosa Coelho (Universidade Federal da Bahia). Esse projeto teve início em 2012, no âmbito do PROHPOR - Programa para a história da língua portuguesa.
1 A expressão do sufixo como -eir-, e não -eiro, se justifica pelo fato de podermos encontrar tanto formas passíveis de flexões de gênero (os adjetivos: ligeiro/ligeira e agentivos: cozinheiro/cozinheira) quanto aquelas que se apresentam uniformes (fenômenos naturais: nevoeiro, anomalias: olheira, atitudinais: comedeira, entre outros). Contudo, mantivemos o formato -eiro quando esta foi a forma utilizada pelos autores que foram objeto de citação.
2 Exemplos e classificações dos próprios autores.
3 Se pensarmos a produtividade como a possibilidade de surgimento de novos itens lexicais, conforme Rocha (1998), é preciso entender esse processo dentro do que se denomina léxico possível, ou seja, o conjunto de itens lexicais que podem ser produzidos segundo um regra de formação de palavras internalizada na mente dos falantes, ou como quer Booij (2010), o esquema construcional que faz parte da gramática da língua.
4 Nesta representação da RFP de -eiro está sendo evidenciado que o sufixo -eiro opera em uma base substantiva (S) e tem como resultado outro substantivo. Contudo, sabemos que esse comportamento não é categórico, podemos encotrar formações em -eiro cuja base não é um substantivo (p. ex.: verbos: coceira (coçar), herdeira (herdar); adjetivos: grosso (grosseiro), certo (certeiro); particípios passado: paradeiro (parado), conversadeira (conversado), entre outros).
5 Exemplos e classificações do próprio autor.
6 Sobre esse exemplo, cumpre destacar que no português arcaico era usual o termo mentireiro, que posteriormente foi substituído por mentiroso.
7 Esse parece ser o mesmo caso de chaleira, que Viaro (2009), por exemplo, entende que, na perspectiva sincrônica, é um objeto que faz chá e não armazena. Sugerimos aqui também a possibilidade de haver uma amálgama de sentidos, nesses casos, objeto em que se faz e se armazena (chá, café), seria uma leitura possível. Notemos, portanto, a relação entre objeto agente e objeto recipiente.
8 A possível existência de um sufixo -deir- decorre de uma análise sincrônica, admitindo que os falantes de hoje já não precisam passar pela formação participial para, de verbos, criar substantivos ou adjetivos em -eir-; assim uma forma como morredeiro, «local que abriga pessoas prestes a morrer» (encontrada no romance de Mario Bellatin, intitulado Salão de beleza), teria se formado a partir do tema verbal morre- associado a um sufixo -deiro. Contudo, considerando-se a língua como fenômeno sócio-cognitivo historicamente constituído, há que se levar em consideração que o suposto sufixo -deir-o decorre da comum associação entre -eir- e bases participais, assim, como -dor, decorre da associação de -or a essas mesmas bases, em que se observar a incorporação do -d- do particípio às formas sufixais independentes. Determinar, todavia, em que momento da história da língua os falantes legaram uma autonomia a -dor não é tarefa fácil. Assim, é preciso que se façam maiores estudos para identificar se de fato a autonomia de -deir- já se processou na língua.
9 Um artigo intitulado "Experimentando esquemas: um olhar sobre a polissemia das formações [Xi -eir-]nj no português arcaico", (Soledade, no prelo), que faz um reanálise desses dados sob uma perspectiva da morfologia construcional de Booij (2010), está para ser publicado em edição da Revista Diadorim em homenagem a Margarida Basílio.
10 A forma escrita está de acordo como dado encontrado pela autora em seu corpus. É preciso lembrar que, época, não existia uma (orto)grafia regulamentada para o português, esse critério também se aplica aos demais exemplos.
11 A elipse de um nome genérico (pessoa, indivíduo, homem mulher) é admitida por alguns autores para justificar o suposto emprego substantivo de um termo adjetivo.
12 Um estudo sobre as instanciações complexas para designar agentes profissionais no PA está para ser desenvolvido pela mestranda Laína Andrade (PPGLinC-UFBA).
13 Embora -eir- e -ista apresentem certo grau de sinmorfismo, no que se refere à acepção agentiva profissional ou habitual, o sufixo -ista acarreta uma rede semântica muito mais restrita. Os agentes em -ista, geralmente, possuem uma natureza de especialidade, conhecimento aprofundado e específico em dado assunto ou método, já o sufixo -eir- se presta a acrescentar diferentes aspectos de agentividade, como por exemplo trabalhadores que desenvolvem o conhecimento através da prática (vaqueiro, lavadeira, etc.), trabalhadores que atuam de forma amadorística (taxeiro, açougueiro, curandeiro, etc.) que, em geral, trazem consigo o caráter mais lúdico, jocoso ou trivial das ações praticadas por esse agente. Além disso, a rede polissêmica do -eir- se estende para outros domínios semânticos sobre os quais o -ista jamais avançou, como, por exemplo, agente naturais: bananeira; instrumentos/objetos: chuveiro, cinzeiro; locativo: galinheiro; atitudinais: bagaceira; coletividade: viadeiro; excesso: aguaceiro; anomalia: olheira, entre outros.
14 Soledade (2013: 22) oferece exemplos de como se entende o aspecto funcional dos objetos:
Aguadeiro [Instrumento que exerce uma função* relacionada à semântica da base] *conter
Bandeira [Instrumento que exerce uma função* relacionada à semântica da base] *representar
Joelheira [Instrumento que exerce uma função* relacionada à semântica da base] *proteger
Sombreiro [Instrumento que exerce uma função* relacionada à semântica da base] *produzir
Topeteira [Instrumento que exerce uma função* relacionada à semântica da base] *proteger.

 

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