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 número80Rodríguez Cascante, F. (2016). Imaginarios utópicos. Filosofía y literatura disidentes en Costa Rica (1904- 1945). San José: Editorial de la Universidad de Costa Rica, 287 pp.Panóplias de um corpo intenso. Ananaz, K. (2020). Seios e ventres. Luanda: Tchingapy Editora, 71 pp. índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
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Lingüística y Literatura

versão impressa ISSN 0120-5587versão On-line ISSN 2422-3174

Linguist.lit.  no.80 Medellìn jul./dez. 2021  Epub 14-Dez-2022

https://doi.org/10.17533/udea.lyl.n80a23 

Reseña

Batista Junior, J. R., Sato, D. T. B., Melo, I. F. (Orgs.) (2018). Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas. São Paulo: Parábola, 224 pp.*

Antonio Escandiel de Souza1  * 

Carla Rosane Da Silva Tavares Alves2 

Ana Luisa Moser Keitel3 

1Universidade de Cruz Alta (Brasil) asouza@unicruz.edu.br

2Universidade de Cruz Alta (Brasil) ctavares@unicruz.edu.br

3Universidade de Cruz Alta (Brasil) analuisakeitel@gmail.com

Batista Junior, J. R.; Sato, D. T. B.; Melo, I. F. (Orgs.) (, 2018. )., Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas. ., São Paulo: :, Parábola, , 224 pp.


A obra Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas, organizada por José Ribamar Lopes Batista Jr., doutor em Linguística pela Universidade de Brasília, Denise Tamaê Borges Sato, também doutora em Linguística pela Universidade de Brasília, e Iran Ferreira de Melo, doutor em Letras/ Filosofia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, explora a vertente da Análise de Discurso Crítica (ADC) de maneira didática. Para tanto, traz a evolução do pensamento em torno da teoria social do discurso, as bases filosóficas, pressupostos teóricos e a prática da pesquisa social crítica, reunindo a contribuição de doze renomados pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior brasileiras.

Atualmente, pesquisadores do contexto linguístico, entre os quais estão os organizadores e autores dos textos que compõem esta obra, têm dedicado parte de seu tempo a estudos da ADC. Isso se deve, principalmente, às inúmeras manifestações de descontentamento da sociedade em relação à estrutura política e econômica atual e as formas de poder, exercidas, muitas vezes, de forma coercitiva e preconceituosa para com as classes menos favorecidas, o que evidencia a necessidade de compreendermos e interpretarmos criticamente a realidade social contemporânea.

Cumpre destacar, inicialmente, que a expressão Análise de Discurso Crítica (ADC) teve origem com o linguista britânico Norman Fairclough, mais especificamente por meio de um artigo publicado, em 1985, no Journal of Pragmatics. Trata-se de uma abordagem que surgiu a partir da Linguística Crítica (LC), corrente nascida na década de 1970, e da convicção de que teorizar a respeito da linguagem não é, como se imagina, apenas se engajar em um metadiscurso sobre o objeto, mas tem como ponto de partida a concepção de que essa atividade é uma forma de intervir na linguagem e na estrutura social que a norteia (Rajagopalan, 2002).

A partir da concepção da que a linguagem é essencial à compreensão das questões epistemológicas que transitam não apenas nas ciências humanas e sociais, mas também nas demais áreas do conhecimento, a abordagem da ADC é de extrema relevância à sociedade, pois como envolve o discurso como prática social, possibilita que as relações sociais se concretizem e os indivíduos construam a realidade social, operando no mundo a partir de suas condições sócio-históricas e sociais, e nas relações de poder que permeiam a sociedade (Fairclough, 2001). A linguagem é entendida, na perspectiva da ADC, como as ações produzidas com textos inseridos nas atividades sociais. Assim, os textos, orais e escritos, participam das ações de forma a intermediar e organizar as práticas humanas. A ADC investiga a linguagem e a situa em um contexto específico, do mesmo modo que investiga os resultados das ações e os discursos que constituem as práticas. Pode-se afirmar, portanto, que a ADC dispende um olhar para a realidade social e outro para o texto, que juntos compõem a coerência. Essa teoria crítica do discurso busca oferecer à ciência social um olhar sobre o papel da linguagem e, simultaneamente, contribuir para a análise linguística como um parâmetro de análise social, fornecendo um arcabouço teórico e metodológico que subsidia a pesquisa social.

Nessa perspectiva, a obra Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas, organizada por José Ribamar Lopes Batista Jr., doutor em Linguística pela Universidade de Brasília, membro do Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste, Denise Tamaê Borges Sato, também doutora em Linguística pela Universidade de Brasília, e Iran Ferreira de Melo, doutor em Letras/Filosofia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo, propõe-se a explorar a vertente da ADC de maneira didática. Para tanto, traz a evolução do pensamento em torno da teoria social do discurso, as bases filosóficas, pressupostos teóricos e a prática da pesquisa social crítica, reunindo a contribuição de doze renomados pesquisadores de diferentes instituições de ensino brasileiras e está dividida em duas partes.

A primeira parte, que aborda as bases da ADC, subdivide-se em cinco capítulos intitulados como «Histórico da análise de discurso crítica», «Bases filosóficas da análise de discurso crítica», «Conceitos-chave em análise de discurso crítica», «Discurso e prática social» e «Teoria social do discurso e evolução da análise discursiva crítica». A segunda parte da obra, que discorre sobre questões relacionadas ao método de pesquisas em ADC subdivide-se em quatro capítulos, intitulados como «Categorias de análise», «Análise de discurso da mídia», «Análise de discurso das práticas: etnografia» e «Por uma análise de discurso crítica consistente».

A produção explora ferramentas para promoção do desvelamento das relações de poder, demonstrando, por uma linguagem pragmática, que as hegemonias são instáveis e passíveis de serem quebradas, evidenciando a necessidade do conhecimento, a fim de que seja possível enxergar as ideologias de forma crítica para promover a transformação social.

De autoria de Iran Ferreira de Melo, o texto do capítulo 1 destaca que a ADC se vale também do papel do discurso na mudança social e nos modos de organização da sociedade em torno de objetivos emancipatórios, inserindo-se, desta forma, em um modelo interpretativo crítico da realidade. O autor afirma que a ADC se consolidou como disciplina somente no começo da década de 1990, através de alguns pesquisadores como Teun van Dijk, Gunter Kress, Theo van Leeuwen, Ruth Wodak e Norman Fairclough, precursores de uma diversidade de estudos críticos sobre o discurso. Ferreira de Melo também escreve que as bases filosóficas surgidas sob a influência do marxismo ocidental, bem como da filosofia da linguagem de Bakhtin e do pensamento de Michel Foucault impulsionaram os estudos críticos, visto que o marxismo ocidental é fundamental para a compreensão da ADC.

No capítulo 2, Solange Maria de Barros busca sintetizar as bases filosóficas que, segundo ela, dão sustentação à ADC. A autora pontua que as reflexões apresentadas servem de base para uma compreensão da ADC. Além disso, argumenta sobre a necessidade de «se questionar a vida social em termos políticos e morais, a fim de contribuir para a superação das desigualdades e injustiças que ainda operam na sociedade» (p. 47). A autora encerra o capítulo ressaltando que a ADC é uma teoria social crítica interligada a um campo de pesquisa que busca operar mudanças nas relações sociais de poder e dominação e, para isso, precisa fundamentar-se em análises linguísticas, o que pode ampliar a visão do pesquisador sobre o contexto investigado, estreitando cada vez mais a relação entre o social e o linguístico.

Ao abordarem os conceitos-chave em análise de discurso crítica, Josenia Antunes Vieira e Denise Silva Macedo, no capítulo 3, discorrem sobre a origem da ADC, apresentam reflexões sobre discurso e ideologia e trazem as principais diferenças entre a ADC e a AD, de linha francesa. As reflexões apresentadas pelas autoras esclarecem possíveis dúvidas que possam ter os analistas de discurso iniciantes, pois o texto é claro e de fácil compreensão.

Paulo Roberto Gonçalves-Segundo, ao abordar o discurso e prática social, no capítulo 4, destaca que o primeiro aspecto para que se defina uma ciência como crítica, seria ela estar orientada para uma reflexão que pudesse levar para uma mudança social de fato, ou seja, uma abordagem crítica do discurso, em termos amplos, deve levar em consideração a nossa capacidade de agir, refletir e resistir, bem como as coerções estruturais a que estamos envolvidos, para que seja possível vislumbrar a denúncia das relações de poder para propiciar uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.

O capítulo 5 denomina-se «Teoria social do discurso e a evolução da análise de discurso crítica». Escrito por Luciane Cristina Eneas Lira e Regysane Botelho Cutrim Alves, o texto destaca que a concepção tridimensional de discurso apresentada por Fairclough (1989, 2001), propõe um modelo tridimensional do discurso organizado em três dimensões de análise: texto, práticas discursivas e prática social. Conforme o modelo tridimensional, mencionam as autoras, todo o discurso se manifesta em um texto (oral ou escrito) e todo o discurso é processado por uma prática discursiva de produção, distribuição, consumo e interpretação textuais, que se refere à atividade dinâmica que envolve a textualização.

O interesse pelos estudos linguísticos nas ciências sociais, conforme mencionado no texto, são recentes e «advém da compreensão de que a linguagem constitui a vida social, não apenas como reflexão sobre as escolhas humanas, mas como promotora das ações sociais» (p. 105). A abordagem social do discurso «transcende a análise textual por si ou a análise de aspectos da vida social isolada de questões linguísticas» (p. 106). Merece destaque, ainda, a discussão sobre o potencial multidisciplinar da ADC, cujo enfoque deu-se nas contribuições do realismo crítico, da linguística sistêmico-funcional e das metodologias da pesquisa etnográfica.

Na segunda parte da obra, o capítulo 6 apresenta o método da ADC e inicia com a abordagem das categorias de análise, refletindo sobre o que analisá-la. Décio Bessa e Denise Tamaê Borges Sato destacam a ADC como uma ferramenta de investigação produtiva quando aplicada a pesquisas que visam desvelar as mudanças no processo de mundialização da globalização.

O texto apresenta uma discussão sobre «como analisar» e traz os primeiros passos a serem adotados na ADC. Aquila, conforme os autores, «tem como um de seus pilares a concepção de que os elementos das práticas sociais são relacionais e dialéticos» (p. 127). Assim, as práticas articulam de modo racional seus elementos, do mesmo modo que cada prática se articula a outras práticas. Deste modo, para compreender tanto o aspecto dialético-relacional quanto a mudança social, o analista deverá «identificar um problema social que tenha implicações na ordem social, buscar os elementos semióticos para análise e voltar seu olhar para a prática na busca por compreensão» (p. 128). Nesse sentido, a realidade é produzida pela própria sociedade e ao analisá-la, compreendemos suas articulações e hegemonias.

O texto destaca que a análise do problema e a elaboração do corpus dependem do desenho da pesquisa e que, durante o processo de investigação, poderão ser demandadas categorias originárias de diferentes áreas, cabendo ao pesquisador proceder à análise articulando-as de maneira harmônica. Os autores discorrem sobre as categorias de análise em si, iniciando pela categoria de gênero discursivo, que se localiza no primeiro estágio da análise e busca os aspectos semióticos do problema a ser estudado, vinculado às ações das pessoas em práticas sociais. Os gêneros discursivos, como descritos no texto, «são o modo pelo qual as pessoas participam ativamente no seio de uma prática específica» (p. 132). Já a intertextualidade de um texto representa a presença de elementos de outros textos nele, evocando sentidos, significados de outros elementos trazidos à ação por meio dos gêneros discursivos para participar da interação.

O significado das palavras diz respeito à escolha lexical, que tem relevância em estudos discursivos, tornando produtiva a análise de determinadas palavras socialmente destacadas. Outra categoria analisada é a de representação dos atores sociais, que se mostra relevante para o processo analítico por permitir a identificação de papéis e perceber em quais enquadres os participantes estão posicionados no texto. A interdiscursividade representa a combinação de diferentes discursos relacionados a diferentes posições de pessoas no mundo e diferentes formas de relações entre pessoas.

O capítulo 7, produzido por André Ricardo Nunes Martins, intitula-se «Análise de discurso da mídia» e nele o autor defende o papel da ADC como instrumento teórico-prático de investigação do discurso da mídia. Numa abordagem extremamente didática, o texto traz reflexões sobre a mídia e sua emergência na modernidade tardia e examina exemplos de trabalho nessa área que se valeram da ADC. Além disso, com o propósito de fornecer elementos que permitam ao principiante nesse campo de investigação planejar sua pesquisa e empreender um trabalho de relevância, o autor propõe caminhos teórico-práticos para trabalhar textos da mídia em projetos de pesquisa em ADC.

Denise Tamaê Borges Sato e José Ribamar Lopes Batista Jr., capítulo 8, trazem o texto denominado «Análise de discurso das práticas: etnografia», que trata da união entre a ADC e a etnografia. A abordagem destaca a relevância das atividades de campo na investigação e da possibilidade de unir métodos que resultem numa análise coerente e passível de transformação social. No ponto de vista dos autores, «a etnografia crítica pretende situar os fenômenos investigados em contextos sociais mais amplos, buscando determinar os fatores, ideologias, discursos e sistemas de dominação para o fortalecimento dos grupos em desvantagem social» (p. 190). O texto argumenta que as fontes e dados da ADC, combinados e confrontados com a pesquisa etnográfica, produzem inúmeros materiais que deverão ser considerados para promover a mudança social esperada.

No capítulo de encerramento, denominado «Por uma análise de discurso crítica consistente», Solange de Carvalho Lustosa argumenta que fazer ADC consiste em manusear ferramentas de extrema complexidade que derivam não apenas do objeto a ser analisado, como também de fazer ligações com outros campos do saber. Para justificar a necessidade de observação do manuseio correto das ferramentas, a autora aponta os erros mais corriqueiros de análise. Assim, finaliza a obra ratificando que a inobservância de alguns cuidados poderá acarretar em uma análise pouco consistente, que poderá silenciar ou caracterizar erroneamente grupos sociais. Deste modo, um trabalho realizado por um pesquisador terá um peso relevante quando utilizado por grupos que queiram manter sua atual conjuntura, visto que fazer ciência, sob a ótica da autora, é, sobretudo, fazer política.

Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas contempla, de maneira didática, exemplos ilustrativos de como fazer pesquisa na perspectiva da ADC, apontando as principais características de um pesquisador social. É uma obra com conteúdo atraente pela clareza da linguagem e pela forma com que os autores expõem alternativas teórico-metodológicas capazes de contribuir com cientistas sociais críticos, o que se torna um convite à leitura. Os diversos capítulos que compõem a coletânea reúnem reflexões indispensáveis àqueles que se interessam pela pesquisa social crítica, sejam linguistas ou não-linguistas. Vale a pena conferir.

Referências bibliográficas

1. Fairclough, N. (1989). Language and Power. New York: Longman. [ Links ]

2. Fairclough, N. (2001). Discurso e Mudança Social (Tradução de Izabel Magalhães). Brasília: Editorial. Universidade de Brasília. [ Links ]

3. Fairclough, N. (2006). Language and Globalization. London: Routledge. [ Links ]

4. Rajagopalan, K. (2002). Linguagem e cognição do ponto de vista da Linguística Crítica. Veredas Revista de Estudos Linguísticos, 6(1), 91-104, Juiz de Fora. [ Links ]

*Cómo citar: de Souza, A. E., Da Silva Tavares Alves, C. R., & Moser Keitel, A. L. (2021). Batista Junior, J. R., Sato, D. T. B., Melo, I. F. (Orgs.) (2018). Análise de Discurso Crítica para Linguistas e não Linguistas. São Paulo: Parábola, 224 pp. Lingüística Y Literatura, 42(80), 385-389. https://doi.org/10.17533/udea.lyl.n80a23 (Original work published 30 de julio de 2021)

Recebido: 18 de Janeiro de 2021; Aceito: 13 de Junho de 2021

*Autor para correspondencia: Antonio Escandiel de Souza. Correo electrónico: asouza@unicruz.edu.br

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