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Historia Crítica

Print version ISSN 0121-1617

hist.crit.  no.64 Bogotá Apr./June 2017

https://doi.org/10.7440/histcrit64.2017.03 

Dossier

A Revolução Russa de Outubro de 1917 e os primórdios do regime comunista: aspectos da recepção pública e da dinâmica política em Portugal (1917-1926)*

La Revolución Rusa de octubre de 1917 y los comienzos del régimen comunista: aspectos de la recepción pública y la dinámica política en Portugal (1917-1926)

The Russian Revolution of October 1917 and the Beginning of the Communist Regime: Aspects of its Public Reception and Political Dynamics in Portugal (1917-1926)

Ernesto Castro Leal**** 

** Professor associado com agregação do Departamento de História e investigador integrado do Centro de História da Universidade de Lisboa (Portugal). Pertence ao grupo de investigação Usos do Passado da linha de investigação em Estudos Atlânticos (CH-ULisboa). Licenciado em história, mestre e doutor em história contemporânea na mesma Universidade. Entre as suas publicações recentes, encontram-se: Manifestos, Estatutos e Programas Republicanos Portugueses (1873-1926). Antologia crítica (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Centenário da República, 2014); "Ordem e Progresso: autoridade política e imaginário social", em Gilberto Freyre. Novas leituras do outro lado do Atlântico, editado por Marcos Cardão e Cláudia Castelo (São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015), 49-60; e "The Political and Ideological Origins of the Estado Novo in Portugal". Portuguese Studies 32, n.º 2 (2016): 128-148, doi: dx.doi.org/10.5699/portstudies.32.2.0128. castroleal@letras.ulisboa.pt


Resumo:

Que impacto político-ideológico teve a recepção em Portugal da Revolução Russa de Outubro de 1917? Que representações foram transmitidas sobre a Rússia soviética pelos primeiros viajantes políticos e intelectuais portugueses? Estas são as perguntas e os objectivos que o artigo pretende resolver. Quanto à metodologia, após a revisão da bibliografia, foca-se a investigação na análise crítica de fontes bibliográficas primárias (textos políticos e textos literários) e nalgumas dinâmicas históricas. Como conclusão geral, verifica-se o confronto de políticas de memória (comunismo, anticomunismo) e, nas obras dos primeiros viajantes, a divulgação de novas vivências pós-revolucionárias (símbolos, política, educação, espiritualidade, sociedade).

Palavras-chave:  Portugal; Rússia; comunismo; memória colectiva; revolução

Resumen:

¿Qué impacto político-ideológico tuvo la recepción en Portugal de la Revolución Rusa de octubre de 1917? ¿Qué representaciones se transmitieron acerca de la Rusia soviética por los primeros viajeros políticos e intelectuales portugueses? Estas son las preguntas y los objetivos que el artículo pretende resolver. En cuanto a la metodología, luego de la revisión de la bibliografía, la investigación se enfoca en el análisis crítico de fuentes bibliográficas primarias (textos políticos y textos literarios) y en algunas dinámicas históricas. Como conclusión general, se averigua la confrontación de políticas de memoria (comunismo y anticomunismo) y, en las obras de los primeros viajeros, la difusión de nuevas vivencias postrevolucionarias (símbolos, política, educación, espiritualidad, sociedad).

Palabras clave:  Portugal; Rusia; comunismo; memoria colectiva; revolución

Abstract:

How did the Russian Revolution of October 1917 affect the political and ideological mentality in Portugal? What images of Soviet Russia were transmitted by the first political and intellectual travelers? These are the questions that this article aims to solve. With respect to methodology, after a review of the bibliography, the study focuses on a critical analysis of primary bibliographical sources (political and literary texts) and on certain historical dynamics. By way of conclusion, it shows the confrontation between politics of memory (communism, anticommunism) and the dissemination of new, postrevolutionary experiences (symbols, politics, education, spirituality, society), in the works of the first travelers.

Keywords Portugal; Russia; communism; collective memory,; revolution

Introdução

Os tempos e os modos de percepção dos grandes acontecimentos internacionais, junto das opiniões públicas nacionais, configuram instrumentos significativos na construção das representações culturais e políticas sobre povos, civilizações e culturas. Constituiu facto exemplar para a reconstrução de imaginários políticos, incluindo para Portugal, a forma de recepção da Revolução Russa de Outubro de 1917, processo político de ruptura civilizacional que teria consideráveis repercussões ideológicas, culturais e geopolíticas na Europa e no mundo1. Recordou Eric Hobsbawm que a "Revolução de Outubro produziu de longe o mais formidável movimento revolucionário organizado na história moderna"2, e escreveu Ralf Dahrendorf que "A batalha [entre sistemas] recua [...] talvez até à Revolução Russa, de 1917, ou, na verdade, até à publicação do Manifesto Comunista, em 1848. É a batalha entre comunismo e capitalismo, entre uma comunidade socialista e a democracia liberal"3.

A polarização entre comunistas ("vermelhos") e anticomunistas ("brancos"), que se traduziu em guerra civil no antigo Império Russo, donde emergiu a partir de 30 de dezembro de 1922 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), vincando o carácter federal da União e a nova identidade soviética sobreposta às antigas identidades (russa, ucraniana, georgiana, uzbeque, tártara, e outras), reflectir-se-ia mundialmente na guerra da propaganda, no debate ideológico e na organização política, recordando a anterioridade verificada após a Revolução Francesa de julho de 1789. René Rémond sistematizou essa lógica comparativa transnacional:

"À semelhança da revolução de 1789, a revolução soviética modificou um país, transformou-lhe as estruturas e estabeleceu uma ordem política e social. Como a revolução de 1789, também o alcance do acontecimento ultrapassa de longe o quadro nacional, da França ou da Rússia. A mesma dualidade: significado nacional, dimensão internacional. As analogias estendem-se às relações diplomáticas entre o país que é o berço da revolução e os seus vizinhos. Tal como a revolução francesa a partir de 1792, também a revolução soviética foi banida pela Europa civilizada"4.

Este artigo analisa de forma original aspectos da recepção em Portugal da Revolução Russa de Outubro de 1917, a partir de telegramas oficiais, enviados pelo representante diplomático português no Império Russo (Jaime Batalha Reis); interroga -por meio de uma amostra de textos políticos publicados em periódicos e livros- o confronto de políticas de memória sobre comunismo e anticomunismo; por fim, examina a visão dos primórdios da URSS transmitida em textos literários pelos primeiros viajantes políticos e intelectuais portugueses, como José Carlos Rates em 1924, César Porto em 1925, e Herlander Ribeiro e Carlos Santos em 1926. Quanto à metodologia, após a revisão da bibliografia sobre a temática, foca-se prioritariamente o olhar na análise crítica de "fontes bibliográficas primárias" (textos políticos e textos literários) e em dinâmicas políticas, dado que a recepção da Revolução de Outubro em "fontes primárias hemerográficas" portuguesas já teve uma vasta divulgação5.

Utiliza-se um referencial teórico devedor das problemáticas da história das ideias e da história política, para justificar a coerência da estrutura formal e da argumentação ao longo do artigo. O objectivo principal é contribuir para aumentar o conhecimento crítico sobre o impacto político-ideológico que a Revolução de Outubro teve em Portugal, entre 1917 e 1926, principalmente no campo anarquista e anarcossindicalista, donde saíram os militantes intelectuais e operários que lançaram as bases da organização comunista. Como conclusão geral, verifica-se um forte confronto de políticas de memória (comunismo, anticomunismo) e, nas obras literárias dos primeiros viajantes portugueses, divulgam-se aspectos relevantes das novas vivências comunistas pós-revolucionárias (símbolos, política, educação, espiritualidade, sociedade, economia ou costumes), o que configura importantes registos históricos para a comparação civilizacional.

1. A inquietação do diplomata Jaime Batalha Reis

A recepção imediata em Portugal da Revolução Russa de 25 de outubro de 1917 -7 de novembro, no calendário gregoriano ocidental, que é o calendário juliano corrigido- foi noticiada de forma confusa, alimentada através da contrainformação das agências noticiosas francesas e inglesas, pelos principais jornais de Lisboa, do Porto, de Coimbra e de outras cidades portuguesas, e por diversos jornais ligados a grupos e partidos políticos republicanos e monárquicos. Um tema já estudado, como se afirmou anteriormente, mostrando essa recepção na imprensa portuguesa alguma surpresa e incompreensão em face do desenvolvimento de um processo de ruptura civilizacional dentro da "outra Europa", de que falou Fernand Braudel: "A outra Europa, também ela de desenvolvimento tardio, tão tardio como a América, mas situada no próprio continente europeu, portanto colada ao Ocidente, é a Rússia, a antiga Moscóvia [...], cujo prestígio se deve sem dúvida ao facto de ser o país da grande experiência revolucionária, mas também, cada vez mais, ao facto de ter indubitavelmente realizado, num tempo recorde, a sua Revolução industrial"6.

No diversificado espaço geográfico e etnocultural imperial russo, iniciou-se, nos finais de 1917, uma revolução portadora de um mito de fundação, que se constituirá em mito político de salvação ou, para os opositores, em contramito político de perdição; moldada pela visão ideológica de Lenine sobre o marxismo e a revolução que está expressa principalmente nos seus textos Que fazer? (março de 1902), As tarefas do proletariado na nossa revolução [Teses de Abril] (abril de 1917) e O Estado e a Revolução (agosto de 1917). Aí se valorizavam o messianismo político, o partido de revolucionários profissionais, o centralismo democrático, o aparelho organizativo, o espírito de disciplina, a revolução violenta, a ditadura do proletariado, a revolução social ou o ideal comunista como milenarismo laico, numa demarcação, dentro das esquerdas, em face do anarquismo, do socialismo democrático e da social-democracia.

O leninismo exprimiu a reinterpretação do marxismo na Rússia, sociedade dominantemente agrária e em vias de industrialização, onde a religião cristã ortodoxa detinha uma importante função simbólica agregadora da consciência nacional. O representante diplomático português no Império Russo em 1917 era Jaime Batalha Reis, um republicano de matriz demossocialista, e a Legação de Portugal como as outras estava localizada em Petrogrado7. Foi ele que redigiu os primeiros telegramas oficiais enviados ao Governo Português sobre o acontecimento revolucionário8. No dia 13 de outubro de 1917, noticiava a declaração de guerra do Soviete de Petrogrado, presidido por Trotsky, ao último Governo de Kerensky, constituído a 7 de outubro9, e, a 8 de novembro de 1917, comunicava a primeira informação sobre a revolução ocorrida em Petrogrado no dia 25 de outubro de 1917: "Petrogrado todos serviços e instituições públicas em poder Bolcheviques Ministro Negócios Estrangeiros preso. Destino desconhecido presidente do Conselho Ministros Governo provisório desaparecido. Diz-se duvidosamente tropas marcham sobre S. Petersburgo tentar restabelecer a ordem Governo provisório. Palácio de Inverno bombardeado por fortalezas e cruzadores barricadas combatentes sangrentos nas ruas dia e noite"10. No telegrama de 18 de novembro de 1917, o diplomata português identificava os principais líderes bolcheviques e as bases das novas políticas:

"Governo Bolchevique parcialmente constituído sob a presidência do notório Lenine e Trotsky judeu alemão ministro dos Negócios Estrangeiros. Todos funcionários dos N. E. e outros ministros recusam servir com ministro bolchevique. Programa governo Bolchevique imediatamente paz com a Alemanha abolição direito de propriedade imediata divisão terras por mujiques fábricas dirigidas por operários bancos nacionalizados todas as nacionalidades da Rússia independentes entretanto 7 governos diferentes estão neste momento em vias de formação dos quais 4 em S. Petersburgo"11.

Por meio do telegrama diplomático de 21 de novembro de 1917, Jaime Batalha Reis expandia a informação sobre o domínio militar bolchevique:

"Revolução em Moscovo luta durante oito dias entre bolcheviques e tropas do Governo provisório cidade bombardeada Kremlin duas vezes tomado e perdido catedral histórica e outros edifícios arruinados ruas ardendo saqueada a cidade mais de [...] mortos. Bolcheviques dominam Moscovo como S. Petersburgo. General Kaledin ataca todos os cossacos proclama-se ditador territórios Don e sul da Rússia. Guerra civil em toda a Rússia. Enquanto tropas russas assim trabalham realização dos planos da Alemanha exército alemão diminuindo conserva-se imóvel fronteira"12.

Os telegramas diplomáticos seguintes davam a conhecer as diligências diplomáticas russas junto de todas as embaixadas e legações para o imediato armistício e o início das negociações de paz. No dia 7 de dezembro de 1917, informava que "Acabou a guerra [Primeira Guerra Mundial] na Rússia" e, no dia 20 de dezembro de 1917, que foi "assinada a Convenção Armistício entre a Rússia e potências Centrais até 14 de janeiro"13. Entretanto, importantes áreas do antigo Império Russo declaravam a independência: Ucrânia, Estónia, Finlândia, Moldávia e Letónia. Concluiu Martin Gilbert que o "poder da Rússia de fazer a guerra, até então o braço oriental dos Aliados, estava destruído [...]. Com a capacidade bélica da Rússia reduzida a zero"14. A situação do corpo diplomático ocidental complicou-se com o avanço do processo revolucionário. No dia 30 de dezembro de 1917, Jaime Batalha Reis comunicou:

"Foram nacionalizados e reunidos ao banco do Estado em poder dos bolcheviques todos os bancos particulares tomados seus depósitos e cofres a seus cargos. Todos bancos fechados transacções paradas fome crescente em Petrogrado. Lojas casas assaltadas por soldados e operários. Vivo com minha família há pelo menos seis meses em perigo de vida permanente agravada por falta de dinheiro. Tenho tido fome e frio terei de partir inopinadamente com dificuldade. Suplico a V. Ex.ª [Sidónio Pais, Presidente da República, Chefe do Governo e Ministro dos Negócios Estrangeiros] leia meu telegrama último sobre assunto não respondido e mande pôr urgentemente à minha ordem Provincial National Bank Londres pelo menos mil libras esterlinas extraordinárias. Sinto-me abandonado"15.

Após a decisão da retirada de Petrogrado de todas as embaixadas e legações dos países aliados, o que movimentaria mais de quinhentas pessoas, Jaime Batalha Reis seguiu o itinerário estabelecido, conforme escreveu no relatório de abandono da Rússia, com ida para a estação ferroviária Finlândia em Petrogrado (28 de fevereiro de 1918), saída do porto marítimo de Murmansk (27 de abril de 1918) e chegada a Newcastle (4 de maio de 1918)16.

2. Confronto de visões políticas e ideológicas

A Revolução Russa de Outubro de 1917 corporizou no momento fundador os "dez dias que abalaram o mundo", segundo o título do livro mediático e comprometido do repórter de guerra norte-americano John Reed17, testemunha dos acontecimentos de Petrogrado Vermelho. Publicado nos Estados Unidos da América em 1919 e na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1923, Lenine, no prefácio à edição americana, escreveu uma mensagem revolucionária legitimadora e redentorista:

"Li com imenso interesse e a mesma atenção, até ao fim, o livro de John Reed. Do fundo do coração, aconselho a sua leitura aos operários de todos os países. Desejaria que esse livro circulasse por milhões de exemplares e fosse traduzido para todas as línguas, porque traça um quadro exacto e extraordinariamente vivo de acontecimentos de enorme importância para o conhecimento da revolução proletária, da ditadura do proletariado. Essas questões são, nos nossos dias, objecto de discussão geral, mas, antes de aceitar ou rejeitar as ideias que representam, é indispensável compreender todo o significado do partido que se deve tomar. O livro de John Reed ajudará, sem dúvida, a fazer luz sobre este problema do movimento operário universal"18.

Para José Ortega y Gasset, essa revolução era paradoxal: "O que é inconcebível e anacrónico é que um comunista de 1917 se lance a fazer uma revolução que é na sua forma idêntica a todas as que houve antes e em que não se corrijam no mais mínimo os defeitos e erros das antigas"19. Após o triunfo da Revolução de Outubro, iniciou-se o projecto utópico de criação de uma civilização proletária e comunista alternativa à civilização burguesa e democrática, que estava anunciada desde 1848, no Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels:

"Anda um espectro pela Europa -o espectro do Comunismo. Todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro, o papa e o tsar, Metternich e Guizot, radicais franceses e polícias alemães [...]. Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!"21.

A Revolução de Outubro, divulgada como maximalismo (revolução levada ao máximo), alimentou, no ano de 1918 e nos princípios de 1919, uma vaga revolucionária europeia (Baviera, Hungria, França, Itália ou Polónia)21, e seduziu em Portugal militantes do campo ideológico sindicalista revolucionário, anarquista e anarcossindicalista, dada a fraqueza do campo ideológico socialista, acreditando alguns na imagem mítica transmitida pelos vencedores sobre o poder soberano dos sovietes, que a dinâmica política havia de subalternizar em relação à lógica de poder do partido comunista e das estruturas estaduais hierarquizadas. Nesse processo de sedução política e estética, alguns sindicalistas revolucionários e anarcossindicalistas criaram, em maio de 1919, a Federação Maximalista Portuguesa e iniciariam uma viragem para o comunismo22, por vezes de forma equívoca (casos de Manuel Ribeiro ou de José Carlos Rates, que repudiaram o comunismo na segunda metade de 1925), fundando, em março de 1921, o Partido Comunista Português (PCP): "O processo de demarcação ideológica com os anarquistas e com a CGT [Confederação Geral do Trabalho] faz sair do Partido muitos destes aderentes da primeira hora. Mas, a partir de 1923, o PCP já se pretende mais um partido, no sentido tradicional da palavra, e menos um grupo ideológico e de propaganda"23.

A Revolução de Outubro teve um significativo impacto na política e na sociedade portuguesas, com destaque para o mundo associativo operário e popular. Assistiu-se a um debate entre socialistas, anarquistas, anarcossindicalistas, sindicalistas revolucionários e os primeiros comunistas24. Um exemplo paradigmático desse entusiasmo ocorreu na classe metalúrgica, na qual se destacaram os dirigentes do Sindicato Único das Classes Metalúrgicas, António Peixe e Raul Batista, que aderiram ao ideal comunista. Durante algum tempo, as instalações desse sindicato estiveram abertas durante o dia e a noite para a organização de cursos de propaganda ideológica do marxismo e do bolchevismo25. Nos finais de fevereiro de 1920, decorreu na sede desse sindicato uma sessão de propaganda "Pelo Bolchevismo", que se prolongou durante seis horas consecutivas26.

A primeira tribuna portuguesa divulgadora da Revolução de Outubro, apesar de assinalar a deficiente informação, foi a revista anarquista A Sementeira, "publicação mensal ilustrada - crítica e sociologia", publicada em Lisboa e dirigida por Hilário Marques27. Aí pode ler-se várias advertências sobre o risco do jacobinismo, do estadualismo, do terror revolucionário ou da limitação à dinâmica dos sovietes. Como também sobre a insuficiência das condições educacionais, técnicas e industriais, que podiam constituir obstáculos ao desenvolvimento do novo regime político. Em dezembro de 1917, no artigo "O momento russo", faz-se uma pergunta essencial, para além do "aparato exterior da Revolução": "E qual é a extensão, a profundidade, o movimento íntimo? Até onde vai nela a acção popular?"28.

Em abril de 1918, essa revista divulgou a conferência de propaganda bolchevista realizada em Genebra pelo socialista russo Holzman -em viagem de missionação revolucionária pela Inglaterra, França e Suíça29- e, no mês seguinte, surgiu o depoimento do socialista suíço Fritz Platten, narrando com euforia a viagem que tinha feito à Rússia comunista em janeiro e fevereiro de 191830. Ao entusiasmo inicial de janeiro de 1918, quando se afirmava que a revolução social russa "abre um período glorioso de revoluções sociais e inicia uma nova era, a era socialista"31, seguiram-se a desilusão e a resistência ideológica, registada em junho seguinte:

"A revolução socialista russa não é certamente o non plus ultra das revoluções, e nós, se vivêssemos na Rússia, faríamos, como os anarquistas russos, oposição ao governo maximalista e a todos os jacobinismos, mesmo socialistas, procurando contribuir para o alargamento das liberdades ganhas [...]. Mas, se não confiamos na capacidade educativa do Estado, nas ditaduras iluminadas e fautores de progresso, nos governos que preparam... a emancipação das massas, isto é, se somos anarquistas, força nos é aceitar a necessidade da revolução"32.

O aparecimento em 23 de fevereiro de 1919 do jornal diário anarcossindicalista A Batalha, "porta-voz da organização operária portuguesa" (redactor principal, Alexandre Vieira), potenciou a propaganda bolchevista em Portugal33. O periódico abriu a nova secção "A revolução social na Rússia", em 25 de fevereiro de 1919, para publicitar documentos dos revolucionários russos que circulavam na imprensa internacional. O primeiro documento foi o "Apelo ao Proletariado", manifesto escrito pelo escritor Maksim Gorky (ou Maxim Gorki), dirigido aos trabalhadores de todo o mundo, datado de Petrogrado, em 1 de dezembro de 1918. Gorki afirmava ter sido opositor até há pouco tempo do novo Governo dos Sovietes, que cometera destruições e violências inúteis, mas reconhecia a importância do processo para a "felicidade do trabalho livre, na fraternidade dos povos", e para a imagem revolucionária da Rússia, visto terem sido "os primeiros a abrir o caminho para o esmagamento da organização capitalista das sociedades" 34.

Nessa secção do jornal, publicaram-se vários documentos sobre os preliminares da revolução, o primeiro período revolucionário e o pacto fundamental da República dos Sovietes; nos finais de abril de 1919, era divulgado o artigo de Trotsky, "Novo Estado Russo"35. Também Manuel Ribeiro, na sua secção "Na linha de fogo"36, publicou artigos apologéticos sobre a legislação soviética em relação ao matrimónio37 e sobre as realizações económicas e a obra dos sovietes38. Por sua vez, os socialistas portugueses, após saudarem a luta dos trabalhadores russos por melhores condições de vida, exprimiram uma posição cautelosa: "Na República: avançados; no Bolchevismo: conservadores! Duma ou outra maneira -sempre socialistas. Ninguém se canse em rebuscar nesta nossa atitude uma dualidade de princípios que não existe!"39. A primeira tomada de posição oficial da Confederação Geral do Trabalho (de orientação anarcossindicalista) de apoio à Revolução de Outubro surgiu em 15 de fevereiro de 1920, o que é um facto ideológico relevante no debate interno do anarquismo e do anarcossindicalismo40.

Essa propaganda adquiriu novas qualidades com o jornal Bandeira Vermelha, "semanário comunista" (director, Manuel Ribeiro), órgão da Federação Maximalista Portuguesa, que foi publicado entre outubro de 1919 e junho de 1921, e depois com o semanário O Comunista, "órgão do Partido Comunista Português" (redactor principal-director, Manuel Ribeiro), a partir de outubro de 1921. O primeiro jornal consubstanciou um espaço de divulgação de tópicos do bolchevismo: novas tendências sociais, objectivos da revolução, política de alianças sociais, revolução imediata, revolução ibérica, organismo político extrassindical, frente única ou sindicalismo41. No segundo jornal, já se tratava de construir em Portugal um Partido Comunista, dotando-o de uma estrutura enraizada nos movimentos sociais operários (Lisboa e Porto) e camponeses (Évora e Beja), daí a dominância de artigos sobre organização interna, relação entre o partido e os sindicatos, meios de propaganda, conteúdos ideológico-políticos (ditadura do proletariado, frente única, aliança operária-camponesa)42.

Nesse campo político, debateu-se a revolução social imediata, mas não havia a percepção clara do significado da Revolução de Outubro, nem se constituía a União do Proletariado Revolucionário, nem a construção do Partido Comunista Português seria um processo pacífico. Manuel Ribeiro, fundador da Federação Maximalista Portuguesa e do Partido Comunista Português, respondendo, em setembro de 1920, ao oficial do Exército Liberato Pinto, comandante da Guarda Nacional Republicana (Chefe do Governo republicano entre 30 de novembro de 1920 e 2 de março de 1921), a propósito da repressão policial contra os grevistas dos Caminhos de Ferro do Estado, afirmou:

"Suponho que não será tão falho de inteligência que vá imaginar que a Revolução Social na Europa terá neste país a sua eclosão. A revolução ocidental será inglesa ou francesa. E, quando ela vier, suponhamos da Inglaterra, de que é que lhe servirão as metralhadoras e as baionetas de que o senhor quixotescamente está enchendo Portugal? Acaso é tão imbecil que ignore que Portugal é um país enormemente deficitário, [...] dependendo política, económica e financeiramente do auxílio da Grã-Bretanha, da qual foi sempre um feudo? [...] Admite-se que na França e na Inglaterra se tomem certas precauções, porque a Revolução tem ali os seus pontos vulneráveis. Mas em Portugal!..."43.

Em abril de 1919, José Carlos Rates, também simpatizante do bolchevismo, tinha escrito algo de semelhante:

"É desnecessário e inútil o movimento insurrecional porque: 1.º A estabilização do regime socialista em Portugal é impossível quando não seja um reflexo da revolução socialista mundial; 2.º O triunfo do proletariado na Espanha e na Inglaterra coloca a burguesia nacional na situação de capitular sem condições, anulada de facto a ideia de resistência. Sendo esta a situação e não outra, como pode o governo, este ou outros, impedir a nossa acção, se não saímos do terreno da legalidade?"44.

Outro importante meio de circulação dos ideais comunistas foi a edição de livros de autores portugueses e de traduções de autores estrangeiros. Quanto aos primeiros, deve destacar-se Eduardo Metzner45 e José Carlos Rates46; quanto aos segundos, saliente-se Lev Trotsky, Henriette Roland, Étienne Antonelli e Émile Vandervelde, sendo o deste último um relato da missão do Partido Socialista Belga à Rússia em maio e junho de 1917, em que defendeu as posições bolchevistas47. A Constituição Russa de 1 de julho de 1918 apareceu publicada nas obras de Metzner, A Verdade acerca da Revolução Russa, e de Trotsky, A República dos Sovietes. No campo político republicano, durante a segunda metade da I República (1919-1926), constituíram-se novos partidos políticos, uns moderados, outros radicais, mas só o programa político actualizado de 1925 do Partido Republicano Radical (fundado em 1923), inscreveu a necessidade de estabelecer relações diplomáticas com a URSS, na forma de "reconhecimento dos Sovietes"48.

O ideário comunista do novo regime russo motivou o aparecimento de uma literatura crítica. Circunstância agravada a partir do I Congresso de março de 1919 da III Internacional (Komintern, Internacional Comunista), quando Lenine, no discurso de encerramento (7 de março de 1919), concluiu: "O movimento em favor dos Sovietes estende-se cada vez mais longe, não só nos países da Europa Oriental, mas também nos da Europa Ocidental [...]. A vitória da revolução proletária está assegurada no mundo inteiro: a constituição da República Soviética Internacional está em marcha!"49. Ideia mítica reforçada por Lenine perante uma multidão, nas comemorações em Moscovo do dia 1 de maio de 1919, conforme o citou Martin Gilbert: "Hoje a classe trabalhadora libertada está a celebrar abertamente e em liberdade o seu aniversário -não só na Rússia Soviética mas também na Hungria Soviética e na Baviera Soviética"; mas, observa de seguida Martin Gilbert que a "verdade é que em Munique, nesse dia, não houve comemorações mas sim ferozes combates de rua"50.

Para corporizar essa lógica de revolução mundial será criada a III Internacional, promovendo a partir de Moscovo partidos comunistas nacionais; por outro lado, "em conformidade com a lógica dos bolchevistas, revoluções proletárias deveriam inevitavelmente ocorrer nos Estados participantes na Primeira Guerra Mundial, e esta guerra deveria ser transformada de imperialista em civil"51. Lenine, chefe profético, que se pode inserir dentro do mito do Salvador no modelo de Moisés tipificado por Raoul Girardet52, líder do Partido Comunista (bolchevique) e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo53, Trotsky, chefe do Exército Vermelho e Comissário dos Negócios Estrangeiros, Kamenev, casado com a irmã de Trotsky e vice-presidente do Conselho dos Comissários do Povo e do Conselho do Trabalho e da Defesa, Estaline, Comissário das Nacionalidades, Zinoviev, presidente da III Internacional, e Bukharin, economista político, eram os protagonistas políticos russos mais relevantes.

O "perigo do comunismo" constituiu um referente dos discursos ideológicos das direitas portuguesas, que procuravam uma solução para o problema da ordem pública nos anos 20-30 do século XX, decorrente da crise do Estado liberal, vindo a confluir no sincretismo nacionalista, católico, autoritário, colonial e corporativo da ditadura do "Estado Novo" (Salazarismo)54. No manifesto "À Nação", de 20 de março de 1921, da Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira, movimento político que congregava personalidades das direitas republicanas, monárquicas e católicas, coloca-se assim a geopolítica contemporânea:

"A guerra e o problema russo dividiram o mundo em dois campos distintos e opostos. Dum lado, a ordem, do outro lado, a anarquia. Dum lado, a reivindicação da autoridade imperial da velha Europa dos séculos XIV e XV; do outro, a revolução, desencadeada por messianismo sacrílego que já começa a fundar-se na própria tormenta que provocou. Entre tradição e revolução não há partidos nem estados intermédios. Entre tradição e revolução -há um abismo"55.

Um exemplo da propaganda anticomunista é o pequeno opúsculo de António Cabreira -secretário perpétuo da Academia das Ciências de Lisboa-, O que é o "Bolchevismo". Diálogo popular oferecido aos Soldados Portugueses. Foi encomendado pelo Governo, presidido pelo major Alfredo de Sá Cardoso (dirigente do Partido Republicano Português), e distribuído massivamente nas unidades militares. Representou um instrumento de formação da mentalidade anticomunista, apelando aos valores das sociedades europeias ocidentais (tradição histórica, moral cristã, família tradicional ou propriedade privada). Ao longo de sete páginas, a narrativa é constituída por um diálogo entre Pedro (faz perguntas) e Paulo (dá respostas), no qual se denunciava o bolchevismo enquanto "conjunto de todos os crimes que o homem tem inventado!"56, salientando-se a negação do direito à vida (morte dos opositores), do direito de propriedade (nacionalização das terras, das casas ou dos papéis de crédito) e dos princípios da moral cristã (honra e família). Após divulgar que o bolchevismo tinha feito a ruína da Rússia e promovido o terror, exortava a fazer "guerra de morte às ideias desses bandidos e dando a ler este papel aos teus companheiros"57. A promoção do medo em face do bolchevismo exprime-se de forma radical neste pequeno diálogo:

" - Então eles tentaram contra a Honra e a Família?! - Da forma mais miserável. Não admitindo o direito de propriedade, nos outros, negam ao marido o direito à posse da esposa e ao pai o dever de proteger as filhas. E, assim, dispuseram de todas as mulheres novas para a satisfação dos seus instintos bestiais. Desmancharam todos os lares, ficando as mulheres constituindo um verdadeiro rebanho às ordens da comunidade, dos machos, que é como quem diz, daqueles animais ferozes que, por um erro da natureza, têm figura de homens"58.

Novo exemplo da mesma natureza anticomunista, mas mais complexo, percorre o livro O Bolchevismo na Rússia, de autoria do republicano histórico conservador Francisco Manuel Homem Cristo. Nesse livro, como no opúsculo anterior, partilha-se as mesmas conclusões quanto ao impacto negativo da governação comunista. O ataque à interligação do poder central forte (czarismo) e da fé (religião cristã ortodoxa) era apresentado como dois elementos centrais da estratégia revolucionária, visto ter sido esse o laço identitário essencial que tinha dado unidade política e moral ao Império Russo. O autor apresenta a lógica bolchevique da necessidade da guerra civil para afirmação do poder, exercendo o terror, o despotismo militar, a censura, a abolição dos direitos individuais e das liberdades públicas ou as expropriações e nacionalizações, que provocaram a ruína económica, financeira e social da Rússia59: "A Rússia é um calvário da humanidade, tamanho e tão cruel que nem Jesus o imaginou assim negro e monstruoso. Abaixo o bolchevismo, portugueses! Unamos todos os nossos esforços, ponhamos em campo todas as nossas energias para salvar Portugal"60.

Diagnosticando uma crise profunda em Portugal, diante do perigo comunista universal, Homem Cristo sugeria que a nação se organizasse em sólidas instituições, fora da lógica dos partidos políticos, que "deram a toda a nação o exemplo funesto da mais espantosa falta de civismo", recusando a "idólatra e abjecta mania dos messias" salvadores dos governos e dos povos, para o que seria necessário a Liga de Educação Nacional: "A acção da Liga exercer-se-ia, sobretudo, por uma grande propaganda, que esclareça, que oriente, que ensine e moralize. Propaganda feita pelo folheto, a revista, o jornal, a conferência, a palestra, a conversa, o teatro, o desenho, enfim por todos os meios de manifestação do pensamento"61.

Inserido nessa campanha pública anticomunista refira-se também o opúsculo Na Rússia Vermelha, escrito por Damião do Rio, dentro da visão ideológica tradicionalista contrarrevolucionária, propagandeada pelo movimento político e cultural monárquico do Integralismo Lusitano, chefiado pelo intelectual António Sardinha62. No balanço de dois anos de bolchevismo (1917-1919), o autor enumera sangrentas batalhas, milhares de mortos, caótica situação económica e financeira, falta de artigos de primeira necessidade, doenças epidémicas ou supressão das liberdades políticas, de imprensa e de reunião, concluindo que a "ditadura do proletariado transformou-se na ditadura 'contra' o proletariado, contra os camponeses, contra o povo inteiro. A bandeira vermelha, arvorada actualmente na Rússia, mais que emblema do socialismo, simboliza o sangue, que corre a mares"63.

3. Imagens da nova Rússia comunista: versões dos primeiros viajantes

O operário comunista José Carlos Rates foi o primeiro português a visitar a Rússia comunista, após a fase da guerra civil e do comunismo de guerra (1917-1921). A sua actividade política começou como dirigente sindicalista revolucionário, participando nos Congressos Sindicalistas portugueses de 1909, 1911, 1914 e 1919. Aderiu ao ideal comunista em 1920 e pertenceu à Comissão Organizadora dos Trabalhos para a Constituição do Partido Comunista Português, fundado em março de 1921. Eleito Secretário-geral da Comissão Central do Partido Comunista Português (secção da Internacional Comunista) no I Congresso, em novembro de 1923, iniciou uma viragem ideológica para a direita nos finais de 1925, entrando para redactor do diário O Século, de Lisboa, jornal mítico da propaganda republicana desde 1880 (ano das comemorações do III Centenário da Morte de Luís de Camões), que será comprado em 1924 por vários capitalistas da Associação Comercial de Lisboa e transformado, sob a direcção de Henrique Trindade Coelho, num dos periódicos que mais contribuiu nos anos de 1925-1926 para a crítica radical do regime político da I República e para o apoio ao movimento conspirativo civil e militar que se manifestou no golpe militar de 28 de maio de 1926, abrindo o caminho à longa ditadura do "Estado Novo".

José Carlos Rates foi expulso do Partido Comunista Português no mês de outubro de 1925 -Rodrigues Loureiro será nomeado Secretário-geral interino da Comissão Central-, em virtude de ter aceitado ser jornalista no diário "burguês" O Século, contrariando o que estava disposto na primeira das 21 condições de admissão dos partidos comunistas na III Internacional, aprovadas no seu II Congresso (julho de 1920)64. Saudou a Ditadura Militar e filiou-se em julho de 1931 na União Nacional, que será o partido único do "Estado Novo". Na carta de adesão à União Nacional, publicada no Diário da Manhã, jornal oficial do novo regime autoritário, escreveu: "Aceito pois as responsabilidades da filiação [na União Nacional] e com ela as da Ditadura". Ao terminar a carta, reafirmava a sua crítica antiga ao sistema oligárquico de partidos políticos da I República e apresentava algumas advertências aos novos governantes: acatar a autonomia do movimento sindical -"este pode ser o ponto fraco da Ditadura"; manter por tempo mais longo o período de transição revolucionária até se reestruturar os diversos departamentos do Estado (dá o exemplo do trabalho feito por Oliveira Salazar como Ministro das Finanças nesse Ministério); lançar as bases de uma democracia estável, com a adopção da representação proporcional, a regularização das incompatibilidades políticas e das responsabilidades ministeriais, a actualização dos direitos de associação e de reunião, a criação de uma Liga de Extinção do Analfabetismo e das Faculdades Operárias65. Teve um percurso ideológico pouco comum -sindicalismo revolucionário, depois comunismo e, por fim, salazarismo ambíguo. Não será tão radical como o do seu companheiro político Eduardo Frias -anarcossindicalismo, depois comunismo, de seguida nacional-sindicalismo (com seduções nazis) e, por fim, salazarismo comprometido. Apesar de expor factos que lhe desagradaram, não se pode concluir da leitura de A Rússia dos Sovietes, incluindo o texto final "Em terras russas" 66, no qual relata vivências ocorridas durante os dois últimos dias de julho e o mês de agosto de 1924, que aí se encontra a raiz da sua mudança política.

O livro A Rússia dos Sovietes foi dedicado, com a data de fevereiro de 1925, "Aos meus camaradas Jules Humbert Droz67 e Dupuis, soldados infatigáveis da Internacional Comunista e fiéis defensores do leninismo, que, enviados a Portugal, ilustram com o seu saber, a sua experiência e a sua dedicação os trabalhos da Secção Portuguesa", e em "Duas Palavras" escreveu que o "vulto de Lenine se destaca como um sol de primeira grandeza"68. José Carlos Rates visitou a Rússia em missão oficial da Secção Portuguesa da Internacional Comunista, sendo Secretário-geral do Partido Comunista Português, para participar em Moscovo como delegado português no V Congresso da III Internacional. A viagem começou em Lisboa, seguindo até Paris e, depois, Berlim. Daí chegou a Riga e foi de comboio até Moscovo. Passou a fronteira russa a 30 de julho de 1924 e, no dia seguinte, estava em Moscovo, alojando-se no Hotel Lux com as outras delegações internacionais. Transmite uma primeira reflexão de comparação civilizacional: "Eu ficara estonteado com a civilização requintada, com o aspecto monumental de Paris e Berlim. O vestuário mesmo, toda a aparência exterior das populações, é bem mais agradável naquelas duas cidades cosmopolitas do que o que eu haveria de ver depois em Moscovo"69.

Que outras representações civilizacionais sobre a terra, as gentes e o quotidiano observou durante a viagem de Riga até Moscovo, em Moscovo e em Leninegrado? Pela janela da carruagem em andamento, via terrenos cultivados de legumes e cereais, pastos naturais com animais, dezenas de izbas (casas de madeira cobertas de colmo), densas florestas, camponeses descuidados no vestuário mas sorridentes, cuja condição afirma ter melhorado com a Revolução de Outubro, comboios que partiam e chegavam pontualmente. Moscovo "não tem beleza; tem, no entanto, muita originalidade", escreveu José Carlos Rates, referindo as "mil e seiscentas igrejas", muito concorridas aos domingos, e concluía que havia liberdade de culto, apesar de estar pintada a grandes letras, numa praça pública, a frase programática de Karl Marx ("A religião é o ópio do povo"). A URSS tinha transigido com algumas tradições religiosas, fazendo alusão às festividades do dia 6 de Agosto (dia em que as Igrejas Ortodoxas celebravam a "Transfiguração do Senhor"), a que assistiu70.

Transmitiu o intenso movimento de pessoas e a vida comercial activa nas ruas e avenidas de Moscovo, prostituição e mendicidade, reparando na "má conservação da maior parte dos edifícios", sinal da anterior guerra civil. Quanto ao património construído, destacou o Kremlin, "uma cidade dentro de Moscovo", o Grande Teatro, administrado pelo Soviete de Moscovo e destinado só ao teatro clássico e aos autores novos, os teatros, os hotéis e os cinemas geridos por particulares, as enormes fábricas, os Armazéns Universais, na Praça Vermelha, que ocupavam um espaço dez vezes maior do que os Armazéns Grandela de Lisboa, ou a avenida Petrovska, uma das melhores e mais lindas de Moscovo, "com pavimento asfaltado, tem também espaçosos e luxuosos estabelecimentos71".

Ao contrário de Moscovo, Leninegrado era uma bela cidade europeia com semelhanças em relação a Paris e a Berlim, pela largura e comprimento das ruas, e abundância e grandiosidade dos monumentos. Salienta a avenida principal Nevsky e, apesar dos vários edifícios destruídos, ficou admirado com a manutenção dos monumentos a Pedro I, Catarina II, Nicolau II, Alexandre III, e outros, numa cidade que tinha iniciado violentamente a Revolução de Outubro, ao contrário de Moscovo, onde se derrubaram as estátuas de imperadores e de generais. A vida pública era animada por pessoas e actividades como ocorria em Moscovo, referindo edifícios emblemáticos: Fortaleza de S. Pedro e S. Paulo, Palácio de Inverno, Catedral e Museu Hermitage.

Que outros sinais identitários comunicou desse despontar do nacional-comunismo russo? Em primeiro lugar, a emancipação da mulher, depois a "pobreza do vestuário" de Kalinin, Presidente da República, ou os pobres mas audazes soldados-camponeses do Exército Vermelho a contrastarem com um militar da Tcheka (polícia política), "elegantemente vestido, calça preta, à Chantilly, bota alta envernizada, esporas tilintando, pistola à cintura, sobre os cabelos louros um boné encarnado de pala lustrosa", que tinha entrado no comboio em Riga para controlo dos passageiros72. Registou lugares simbólicos do novo imaginário comunista: o Túmulo de Lenine (o cadáver embalsado era a relíquia do novo regime), na Praça Vermelha; a Sede da Internacional Comunista; a Casa dos Sindicatos (antigo Clube da Nobreza); imponentes manifestações de massas e festas militares; saraus culturais; escolas, institutos sociais e sindicatos a funcionarem em antigos conventos e palácios. Anne-Marie Thiesse diagnosticou que, em face desse tempo presente soviético propagandeado como libertador, o tempo passado russo surgia como alienante, tendo ocorrido, nos anos 30-40 do século XX, a bolchevização da tradição popular russa, como por exemplo, do folclore oral, ao lado da invenção bolchevique de uma estética de vanguarda revolucionária legitimadora, destacando o cinema de massas (O Couraçado Potemkin, 1925; Outubro, 1927; Tempestade na Ásia, 1929; Tchapaiev, 1934)73. A reflexão final de José Carlos Rates mostrava evidentes equívocos históricos:

"[...] não há dúvida, na Rússia é o proletariado quem dirige e domina [...]. A minha estadia na Rússia influiu de maneira decisiva para varrer de vez do meu espírito um certo número de ilusões que conservava ainda [...]. Vejo hoje nitidamente que o comunismo nada tem a ganhar com a conquista dos intelectuais que não estejam dispostos a proletarizar-se nos hábitos e na ideologia [...]. Por violento que pareça o espírito de nivelamento que impôs a Revolução russa, ele é absolutamente necessário ao seu triunfo definitivo [...]. As calças coçadas de Zinoviev e o casaco desbotado de Kamenev têm uma influência enorme no prestígio incontestável que exercem o poder soviético e o P.C.R. no povo russo"74.

Na verdade, após a Revolução de Outubro e a guerra civil, o que os comunistas criaram não foi o mítico poder dos sovietes de operários, camponeses, soldados e marinheiros, mas sim uma estrutura de governo e de administração pública centralizada, com um exército de cerca de cinco milhões de homens em 1920, controlado pelo Partido Comunista (bolchevique), evidenciando novos segmentos das elites emergentes (políticos, militares, técnicos, burocratas, intelectuais). Reflectiu a propósito Charles Tilly: "[...] a desmobilização [após a guerra civil] veio assim a constituir uma séria ameaça para todo o sistema de governação comunista. Os comunistas resolveram esse problema, na medida em que o fizeram, através da substituição da burocracia civil, formada por um elevado número de funcionários pré-revolucionários, pelo Exército; e inseriram também nessa burocracia um Partido Comunista altamente disciplinado, apesar de tacticamente flexível75".

César Porto foi o segundo português a visitar a Rússia comunista e conheceu algumas partes de outras Repúblicas soviéticas, como a Geórgia. Mostra uma atitude tolerante em face das intenções ideológicas do regime e simpatia pela pedagogia e organização escolar soviéticas. Democrata, republicano, com ligações ao anarcossindicalismo, sem nunca ter aderido ao ideal comunista, participou nos Congressos Pedagógicos portugueses de 1908 e 1909 promovidos pela Liga Nacional de Instrução e foi um activo dirigente associativo das organizações de professores, com presença em congressos internacionais sobre educação. Será opositor à Ditadura Militar (1926-1932), vindo a ser preso logo em 1927, e à ditadura do "Estado Novo" desde 1933. Figura grande da pedagogia portuguesa da primeira metade do século XX, leccionou as disciplinas de português e sociologia, tendo formação em antropologia e história, e foi director das escolas-oficinas 1 e 2. Dinamizou o movimento da Escola Nova em Portugal, seduzido pelo ideário pedagógico de Johann Heinrich Pestalozzi, que propunha a articulação da formação moral e intelectual com a formação de trabalho manual e de educação física -era o self-government dentro de uma escola-oficina para a formação integral da juventude.

No início do livro A Rússia, Hoje e Amanhã, o autor definiu a sua posição: "Se somos contra o sovietismo, nada nos impedirá de admitir, entre outras mil conjecturas, que a maioria dos cidadãos é desditosa; se somos pró, podemos afirmar, afora certa falta de bom senso, que são todos afortunados, dum modo irrepreensível"76. César Porto pretendeu, de forma independente, escrever sobre a revolução e a transformação soviéticas, em particular sobre o ensino e a pedagogia. Referindo-se à obra A Rússia dos Sovietes, de José Carlos Rates, afirmou: "[...] até à data em que parti, apenas um português -e esse, operário- tinha ousado tratar de perto com a Rússia revolucionária"77. Esteve na Rússia em agosto-setembro de 1925 a convite da Federação Pan-Russa dos Trabalhadores de Ensino e foi integrado num grupo de catorze enviados ocidentais da Internacional de Ensino, que tinha a sede em Bruxelas: um português, cinco franceses, quatro alemães, dois luxemburgueses, um belga e um italiano. Ao contrário de José Carlos Rates, chegou primeiro a Leninegrado, instalando-se no sumptuoso Hotel Europa, depois visitou Moscovo e conheceu partes de Saratov (margens do rio Volga) e de Tblisi (Geórgia). Esse livro é o primeiro grande guia português sobre algumas mudanças ocorridas na cultura, na vida social ou no território do novo regime comunista.

César Porto reconheceu a acção renovadora dos processos de ensino e aprendizagem que presenciou e a preocupação das autoridades soviéticas com o combate ao analfabetismo e pela elevação do nível cultural e profissional dos operários e camponeses. Nas escolas onde esteve, observou um ensino teórico-prático dos jovens para a sua formação cidadã integral, dentro da perspectiva utilitarista, que defendia, e comunicou "o desenvolvimento da instrução e a espantosa criação de instituições educativas, depois da revolução de outubro". Entusiasmado, chegou a afirmar: "Esta criançada soviética é realmente feliz"78. Criticou quer a visão ideológica dogmática da educação de classe, na defesa da hegemonia operária e camponesa, reduzindo a liberdade de pensamento, quer a excessiva autonomia dada aos alunos, enfraquecendo a liderança dos professores, que não deviam ser déspotas, mas não podiam abdicar da liderança de ensinar a instrução pública e a educação cívica. Dentre as instituições educativas ou profissionais que conheceu, destacou a Aldeia das Crianças (arredores de Leninegrado), a Casa Central da Mãe e da Criança (Moscovo), a Cidade Vermelha Infantil, "Escola de revolucionários" (Saratov), o Palácio do Trabalho (Leninegrado) e a Casa Central dos Trabalhadores do Ensino (Tbilisi).

Na área da investigação científica, assinalou o Instituto Biológico e as Faculdades Operárias, e, no plano social, referiu as Casas de Repouso, compartilhadas por intelectuais e classes populares, comunicando que o "interesse pelo camponês e pelo operário, é sincero, é positivo, na Rússia" e que as "massas têm benefícios abundantes, que desconhecem noutros países"79. Em Leninegrado, também valorizou o Palácio do Inverno, o Museu da Revolução ou o Museu Hermitage; em Moscovo, salientou o Kremlin, o Túmulo de Lenine ou o Museu Kustary. A concluir o seu depoimento, César Porto formulou uma advertência crítica: "[...] a sociedade soviética -que não é a justiça completa nem uma organização perfeita, que será amanhã excedida nesses ou noutros sentidos- é obrigada todavia a adquirir, mais que nenhuma existente, compreensão da vida social (se quiser subsistir)"80.

Os republicanos democratas, Herlander Ribeiro e Carlos Santos, foram os dois viajantes seguintes à Rússia comunista, inseridos numa excursão promovida pela agência Derutra, aí permanecendo nos meses de agosto-setembro de 1926, tendo escrito livros reflexivos: o primeiro, as Crónicas da Rússia dos Soviets81, que estavam dispersas em artigos publicados no periódico Diário de Lisboa; o segundo, Como Eu Vi a Rússia82. Nota-se alguns aspectos comuns descritos anteriormente por José Carlos Rates e César Porto, quer em Leninegrado, quer em Moscovo, quanto à cultura política, ao comportamento das pessoas, ao urbanismo e ao património edificado.

O jornalista Herlander Ribeiro destacou em Leninegrado o Hotel Europa ("belo hotel") e o antigo Palácio de Catarina (Catarina, a Grande), de estilo artístico rococó, residência de verão dos Czares, a cerca de 25 quilómetros da cidade, transformado em sanatório para crianças, filhas de operários; em Moscovo, salientou o Grande Hotel, a Praça da Revolução, com um mercado de legumes, frutas e flores, o Túmulo de Lenine e a existência de livros dos autores portugueses Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão na biblioteca da repartição do Comissariado da Instrução Pública. Observou que, em Leninegrado e Moscovo, o serviço de condução de eléctricos era feito por mulheres, como o de agulheiros83, sinais de emancipação feminina, e espantou-se com o comboio que utilizou: "[...] o comboio em que viajei é um esplêndido expresso, com bons restaurantes e wagons-leitos limpos"84.

Carlos Santos, professor de história no Liceu Rodrigues de Freitas (cidade do Porto), é mais interrogativo sobre os ambientes vividos. Denunciou a intolerância política, a falta de liberdade de pensamento ou o desprezo pela recuperação de cidades (como Leninegrado), mas valorizou a obra pedagógica, a política de emancipação da mulher pelo trabalho e a tendência para o igualitarismo social. Contrapõe a alegria da vida pública em Moscovo (com marcas arquitectónicas de orientalismo) à tristeza de Leninegrado, comunicando as novas funções de alguns monumentos históricos: por exemplo, o Palácio de Inverno (residência dos Imperadores desde Pedro I) estava transformado em museu. Quanto à "alma russa", descreveu-a como "fatalista e resignada até certo ponto", mas "brutal e em reacção desmedida, se a medida dos seus sofrimentos for ultrapassada"85. Concluiu que o regime era uma "nova espécie de autocracia", visto que a "URSS é, de facto, uma união soviética, mas está longe de ser uma república socialista. Os três lemas liberais e democráticos -liberdade, igualdade e fraternidade- faltam quase por completo nas novas instituições da Rússia, como primam pela ausência na sua maior parte as bases em que um racional socialismo devia assentar"86.

Conclusão

O artigo pretende contribuir para o aumento do conhecimento historiográfico por meio de uma nova síntese sobre as representações políticas da Revolução Russa de Outubro de 1917 e sobre os primórdios da Rússia comunista, divulgados em Portugal entre 1917 e 1926, a partir, fundamentalmente, de três tipos de fontes: telegramas diplomáticos enviados pelo representante português no Império Russo (Jaime Batalha Reis); "fontes primárias bibliográficas" (textos políticos e textos literários); artigos políticos publicados na imprensa anarquista e anarcossindicalista para justificar a sedução de alguns militantes operários pelo "maximalismo" russo e a progressiva adesão de alguns ao "sovietismo" (comunismo), sendo exemplos maiores os de Manuel Ribeiro e de José Carlos Rates. Se a recepção da Revolução de Outubro na imprensa portuguesa já foi estudada, salientando-se o pioneirismo de César Oliveira, este artigo coloca-se no campo de estudo da primeira recepção diplomática desses acontecimentos revolucionários, da guerra de propaganda entre comunistas e anticomunistas, da dinâmica político-ideológica conflitual entre o anarquismo, o anarcossindicalismo e o comunismo, interpretado inicialmente como "maximalismo", e das representações transmitidas pelos primeiros viajantes políticos e intelectuais portugueses.

A utilização dos telegramas diplomáticos enviados das embaixadas e legações dos países aliados presentes em Petrogrado para os respectivos Ministérios dos Negócios Estrangeiros permite definir uma linha de investigação para o estudo comparado e transnacional das informações transmitidas num momento de grande tensão revolucionária, que decorreu entre outubro e dezembro de 1917. Da parte portuguesa, Jaime Batalha Reis deu um contributo de vivência pessoal e de caracterização dos acontecimentos. Encontram-se nos registos de memória que produziram os quatro primeiros viajantes portugueses à Rússia comunista várias representações civilizacionais, que configuram um meio de observação crítica para mostrar vínculos de politização da memória, num momento de confronto ideológico-político entre a democracia liberal, o fascismo e o comunismo. Apesar da filiação comunista, José Carlos Rates não produziu só uma apologia política do que presenciou na Rússia comunista em 1924, anotando traços da nova civilização emergente sem ocultar situações que lhe desagradaram. O pedagogo César Porto destacou o novo modelo utilitarista de ensino-aprendizagem (teórico-prático). Herlander Ribeiro e Carlos Santos forneceram visões panorâmicas sobre aspectos do território, da sociedade e da cultura, por vezes com um fino olhar analítico. O uso internacional desse tipo de memorialismo abre outra importante linha de investigação de história comparada sobre o contacto e a comparação civilizacionais e os usos do presente vivido e representado.

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*O presente artigo é resultado de uma investigação independente do autor, que não solicitou financiamento para a sua realização.

1Marc Ferro, A Revolução Russa de 1917 (Lisboa: Dom Quixote, 1972); E. H. Carr, Historia de la Rusia Soviética. La Revolución Bolchevista (1917-1923). Volume I. La conquista y organización del poder (Madrid: Alianza, 1985).

2Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos. Breve história do século XX, 1914-1991 (Lisboa: Presença, 1996), 64.

3Ralf Dahrendorf, Reflexões sobre a Revolução na Europa (Lisboa: Gradiva, 1993), 44.

4René Rémond, Introdução à História do nosso Tempo. Do Antigo Regime aos nossos dias (Lisboa: Gradiva, 2003), 331.

5César Oliveira, A Revolução Russa na Imprensa Portuguesa da Época (Lisboa: Diabril, 1976); Paulo J. A. Guinote, A Revolução Russa na Imprensa Portuguesa. 1917-1918. <https://umbigoaoquadrado.files.wordpress.com/2007/11/revrussia.pdf>; Pedro Soares Ferreira, Entre o terror e a esperança. A Revolução Russa na sociedade portuguesa, 1917-1921 (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011); Marcos Nunes de Vilhena, Receção e Perceção da Revolução Russa na Crise do Sistema Demoliberal Português. Uma Análise de Imprensa (Lisboa: ISCTE-IUL, 2013).

6Fernand Braudel, Gramática das Civilizações (Lisboa: Teorema, 1989), 475.

7Essa cidade capital teve a seguinte evolução de nome: São Petersburgo (1703-1914), Petrogrado (1914-1924), Leninegrado (1924-1991) e novamente São Petersburgo (1991). Nos finais de outubro de 1917, a capital mudou para Moscovo.

8Joaquim Palminha Silva, Jaime Batalha Reis na Rússia dos Sovietes ou Dez Dias que Abalaram um Diplomata Português (Porto: Afrontamento, 1984),144-183

9Os telegramas diplomáticos têm a data do calendário juliano russo (menos treze dias do que o calendário juliano reformado ou gregoriano ocidental). Em 1918, o governo russo adoptou o calendário ocidental na parte oeste e, em 1920, na parte este.

10Silva, Jaime Batalha Reis, 144, 152-153

11Silva, Jaime Batalha Reis, 157-158.

12Silva, Jaime Batalha Reis, 160-161

13Silva, Jaime Batalha Reis, 173, 178.

14Martin Gilbert, A Primeira Guerra Mundial (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007), 555, 560.

15Silva, Jaime Batalha Reis, 182-183.

16João Medina, As Conferências do Casino e o Socialismo em Portugal (Lisboa: Dom Quixote, 1984), 443-466.

17ohn Reed, Dez Dias que Abalaram o Mundo, traduzido por A. Dias Gomes e H. S. N. (Mem Martins/Sintra: Europa-América, 1976 (1919)).

18Reed, Dez Dias que Abalaram, 5.

19José Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas, traduzido por Artur Guerra (Lisboa: Relógio d'Água, 1997 (1930)), 99.

20Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto do Partido Comunista, traduzido por José Barata-Moura e Francisco Melo (Lisboa: "Avante!", 1997 (1848)), 35, 73

21Jean Carpentier e François Lebrun, História da Europa (Lisboa: Estampa, 1993), 384-387

22José Pacheco Pereira, Questões sobre o Movimento Operário Português e a Revolução Russa (Porto: Edição do Autor, 1971).

23José Pacheco Pereira, "Contribuição para a história do Partido Comunista Português na I República (1921-1926)". Análise Social n.º 67-69 (1981): 706-707.

24Maria Filomena Mónica, O Movimento Socialista em Portugal (1875-1934) (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, 1985), 127-146; João Freire, Anarquistas e Operários. Ideologia, ofício e práticas sociais: o anarquismo e o operariado em Portugal, 1900-1940 (Porto: Afrontamento, 1992), 332-337; Joana Dias Pereira, Sindicalismo Revolucionário. A História de uma "Idéa" (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011), 117-159; Carlos Aberto Cunha, "Comunismo", em Dicionário de História de Portugal. Volume VII. Suplemento A/E, coordenado por António Barreto e Maria Filomena Mónica (Porto/Lisboa: Figueirinhas, 1999), 387-388; João Arsénio Nunes, "Comunismo", em Dicionário de História da I República e do Republicanismo. Volume I: A-E, coordenado por Maria Fernanda Rollo (Lisboa: Assembleia da República/Centenário da República, 2013), 821-829.

25Miriam Halpern Pereira, A Primeira República. Na fronteira do liberalismo e da democracia (Lisboa: Gradiva, 2016), 121

26"Pelo Bolchevismo!...", Bandeira Vermelha, 1 de março, 1920, 1-2.

27João Freire, "A Sementeira, do arsenalista Hilário Marques", Análise Social n.º 67-69 (1981): 767-826

28"O momento russo", A Sementeira, dezembro, 1917, 370.

29"A revolução social russa. Um correio maximalista", A Sementeira, abril, 1918, 49-50.

30"A revolução russa. Depoimento dum socialista suíço", A Sementeira, maio, 1918, 65-66.

31"A nova grande revolução", A Sementeira, janeiro, 1918, 1

32"A queda da Rússia", A Sementeira, junho, 1918, 81.

33Jacinto Baptista, "Surgindo vem ao longe a nova aurora...". Para a história do diário sindicalista "A Batalha" (1919-1927) (Venda-Nova: Bertrand, 1977).

34Máximo Gorki, "Apelo ao Proletariado", A Batalha, 25 de fevereiro, 1919, 3.

35Leão Trotsky, "Novo Estado Russo", A Batalha, 29 de abril, 1919, 2.

36Todos os artigos dessa secção do jornal A Batalha foram editados em Manuel Ribeiro, Na Linha de Fogo. Crónicas subversivas (Lisboa: Empresa Editora Popular, 1920).

37Manuel Ribeiro, "Na linha de fogo. Bolchevismo. Uma calúnia que se desfaz. O amor livre obrigatório", A Batalha, 23 de março, 1919, 1

38Manuel Ribeiro, "Na linha de fogo. Um ano de trabalho sovietista. A obra do Soviete Superior de Economia Social", A Batalha, 27 de março, 1919, 1.

39"Ao Surgir", A Comuna, 30 de abril, 1919, 1

40António Ventura, "Os primeiros contactos. Portugal e a Rússia soviética". História n.º 30 (1981): 44-46.

41João G. P. Quintela, Para a história do movimento comunista em Portugal: 1. A construção do Partido (1.º período, 1919-1929) (Porto: Afrontamento, 1976), 88-153.

42Quintela, Para a história, 154-293.

43M.R. [Manuel Ribeiro], "Carta aberta ao sr. Liberato Pinto", Bandeira Vermelha, 26 de setembro, 1920, 1.

44J. (José) Carlos Rates, "O perigo bolxevista (sic)", A Batalha, 7 de abril, 1919, 1.

45Ed. (Eduardo) Metzner, A Verdade acerca da Revolução Russa. Notas e impressões. Factos-Documentos (Lisboa: Empresa Editora Popular, 1919).

46J. (José) Carlos Rates, A Ditadura do Proletariado (Lisboa: "A Batalha", 1920); J. (josé) Carlos Rates, A Rússia dos Sovietes. As teorias revolucionárias - Como se faz a revolução - Os homens e os factos - A vida económica e social - Aspectos da Rússia (Lisboa: Guimarães & C.ª, 1925).

47Leão Trotsky, A República dos Sovietes. Sua organização e objectivo, traduzido por Eduardo Metzner (Lisboa: Empresa Editora Popular, 1919), com três edições no mesmo ano; Henriette Roland, A Rússia Nova. Um ano de ditadura proletária, com introdução de Perfeito de Carvalho (Lisboa: Empresa Editora Popular, 1919); Étienne Antonelli, A Rússia Bolchevista. A doutrina - Os homens - A propriedade - O regime industrial - Política interna e externa - Documentos oficiais, traduzido por Manuel Ribeiro (Lisboa: Arte & Vida, 1919), com 2.ª edição em 1921; Émile Vandervelde, Três Aspectos da Revolução Russa, traduzido por Campos Lima (Lisboa: Spartacus, 1925).

48Ernesto Castro Leal, Partidos e Programas. O campo partidário republicano português (1910-1926) (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008), 93.

49Manifestos, Teses e Resoluções dos Quatro Primeiros Congressos da Internacional Comunista (1919-1923). Volume 1 (Lisboa: Slemes, 1976), 74.

50Martin Gilbert, História do Século XX. Volume 2 (1914-1925) (Lisboa: Dom Quixote/"Expresso", 2013), 43.

51José Milhazes, Rússia e Europa: uma parte do todo (Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016), 40.

52Raoul Girardet, Mitos e Mitologias Políticas (São Paulo: Companhia das Letras, 1987), 78-80

53A herança política de Lenine foi também apropriada por Gorbachev dentro do processo político de legitimação da perestroika soviética (1985-1991): "Recorrendo a Lenine, uma fonte ideológica da perestroika. (...) As obras de Lenine e os seus ideais de socialismo continuam a ser para nós uma inexaurível fonte de pensamento dialéctico criativo, riqueza teórica e sagacidade política. A sua própria imagem é um exemplo imortal de sublime força moral, de uma versátil e ampla cultura espiritual e de desinteressada devoção à causa do povo e do socialismo. Lenine vive nas mentes e corações de milhões de pessoas (...). As obras de Lenine dos últimos anos da sua vida despertaram uma atenção particular (...). Hoje temos uma melhor compreensão das últimas obras de Lenine, que em essência constituíram o seu legado político, e compreendemos com mais clareza porque é que essas obras apareceram", em Mikhail Gorbachev, Perestroika: novo pensamento para o nosso país e para o mundo (Mem Martins/Sintra: Publicações Europa-América, 1987), 34-35.

54Manuel Braga da Cruz, O Partido e o Estado no Salazarismo (Lisboa: Presença, 1988), 48-76; Ernesto Castro Leal, Nação e Nacionalismos. A Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira e as origens do Estado Novo (1918-1938) (Lisboa: Cosmos, 1999), 167-276.

55Leal, Nação e Nacionalismos, 462.

56António Cabreira, O que é o "Bolchevismo". Diálogo popular oferecido aos soldados portugueses (Lisboa: Liberty, 1919), 3.

57Cabreira, O que é o "Bolchevismo", 7.

58Cabreira, O que é o "Bolchevismo", 6

59Homem Cristo, O Bolchevismo na Rússia (Aveiro: Edição do Autor, 1919), 45-47.

60Cristo, O Bolchevismo na Rússia, 64.

61Cristo, O Bolchevismo na Rússia, 61-62. Destaque do documento original.

62Manuel Braga da Cruz, "O integralismo lusitano nas origens do salazarismo". Análise Social n.º 70 (1982): 137-182; Ana Isabel Sardinha Desvignes, António Sardinha (1887-1925): um intelectual no século (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2006).

63Damião do Rio, Na Rússia Vermelha (Mangualde: Edição de Henrique Luís Ferreira, 1920), 3-5.

64Ao terminar a primeira dessas 21 condições, afirma-se esta obrigação dos comunistas: "Nas colunas da imprensa, nas reuniões públicas, nos sindicatos, nas cooperativas, em todo o lado aonde os partidários da III Internacional tiverem acesso, deverão denunciar sistemática e implacavelmente a burguesia, mas também os seus cúmplices, os reformistas de todas as tendência", em Manifestos, Teses e Resoluções, 90.

65"Uma adesão à União Nacional", Diário da Manhã, 16 de julho, 1931, 1.

66Rates, A Rússia dos Sovietes, 237-254.

67Jules Humbert Droz, delegado da III Internacional, fez um discurso no I Congresso do Partido Comunista Português, realizado em Lisboa nos dias 11-12 de novembro de 1923. Afirmou: "Brevemente a Rússia dos Sovietes vai deixar de ser a fortaleza isolada do proletariado revolucionário. O proletariado alemão, reduzido a um estado miserável crescente, prepara o seu levantamento contra os magnates industriais e os generais do antigo regime. A Revolução Alemã é uma questão de semanas, não irá além de 1924 (...). O vosso partido tem também em Portugal uma grande tarefa a levar a cabo. Deveis intensificar a vossa propaganda para convencer os camaradas anarco-sindicalistas e os operários reformistas (alusão aos filiados no Partido Socialista Português), da necessidade de aplicar os métodos comunistas (...). Este primeiro congresso do vosso partido, no qual verifico com prazer, um importante número de camponeses, é um acontecimento na vida política de Portugal. É o nascimento de uma Secção da Internacional Comunista", em César Oliveira, O Primeiro Congresso do Partido Comunista Português (Lisboa: Seara Nova, 1975), 64, 65, 67. .

68Rates, A Rússia dos Sovietes, 7

69Rates, A Rússia dos Sovietes, 237.

70Rates, A Rússia dos Sovietes, 241-242

71Rates, A Rússia dos Sovietes, 248.

72Rates, A Rússia dos Sovietes, 238.

73Anne-Marie Thiesse, A Criação das Identidades Nacionais. Europa, séculos XVIII-XX (Lisboa: Temas e Debates, 2000), 268-275.

74Rates, A Rússia dos Sovietes, 252-253.

75Charles Tilly, As Revoluções Europeias, 1492-1992 (Lisboa: Presença, 1996), 267.

76César Porto, A Rússia, Hoje e Amanhã. Uma excursão ao país dos sovietes (Lisboa: Livraria Peninsular Editora de José da Silva Oliveira, 1929), 7.

77Porto, A Rússia, Hoje e Amanhã, V-VI.

78Porto, A Rússia, Hoje e Amanhã, 43.

79Porto, A Rússia, Hoje e Amanhã, 307.

80Porto, A Rússia, Hoje e Amanhã, 310.

81Herlander Ribeiro, Crónicas da Rússia dos Soviets (Lisboa: Edição do Autor, 1927).

82Carlos Santos, Como Eu Vi a Rússia (Porto: Livraria Civilização Editora, 1927).

83Ribeiro, Crónicas da Rússia, 109

84Ribeiro, Crónicas da Rússia, 191.

85Santos, Como Eu Vi a Rússia, 291.

86Santos, Como Eu Vi a Rússia, 501.

Recebido: 25 de Maio de 2016; Aceito: 24 de Outubro de 2016

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